2 acordo ortográfico de 1990 – adote o, fica mais simples

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Acordo Ortográfico de 1990 – adote-o, fica mais simples Há um segredo para tornar um povo culto - é quando se tornam as coisas mais simples. O verdadeiro doutor e conhecedor não é aquele que enche o quadro de fórmulas complexas, opulento e vaidoso de ninguém perceber nada, ou quando se criam regras cheias de exceções, mas sim aquele que fala de coisas complexas numa linguagem tão simples que todos o entendem e só usa regras sem exceções; este sim é um verdadeiro conhecedor e humilde no seu conhecimento. Este foi o objetivo que Einstein tentou pretendendo criar uma teoria do tudo que formulasse o mundo macroscópico e microscópico debaixo das mesmas leis, o que infelizmente, devido ao nosso atraso continua a não ser possível. É precisamente um atraso semelhante de cultura e civilização das pessoas que tem impedido a uniformização da língua portuguesa, o mesmo acontecendo nas outras línguas e povos. Quando Stephen Hawking publicou a “Breve História do Tempo” o editor disse-lhe que por cada fórmula que ele escrevesse no livro reduziria as vendas para metade. E ele escreveu nesse livro sobre assuntos complexos do cosmos, o universo, os buracos negros, os sistemas de estrelas múltiplos, etc. de uma forma tão acessível que podemos afirmar: - Este cientista é um verdadeiro sábio! O AO não me satisfaz completamente; mas é pela razão contrária – o AO peca por não ter ido mais longe, cumprindo as premissas que acima enunciei; precisamente ao contrário dos antiacordo que defendem que tudo devia ficar na mesma. Por há demasiados séculos este assunto estar quase imobilizado é que chegamos à triste situação das divergências já serem tão grandes que chegar já, de imediato, a uma convergência total tornou-se impossível, face às intransigências das partes envolvidas na negociação do acordo e também dos oponentes a tal. E quem são os intransigentes quando é preciso mudar? Os conservadores – eis a lei histórica. Face a esta dificuldade, o AO de 1990 foi o consenso possível à data e ainda hoje continua impossível ir mais longe; veja-se a título de exemplo as dificuldades criadas por Angola ou Moçambique. E curioso, será por serem mais cultos e civilizados ou será precisamente pelo contrário? Mas também é curioso encontrarmos pessoas que são simultaneamente cultas e conservadoras e pessoas com pouca cultura e que são evolucionistas. Eis um grande desafio para os peritos em psicologia. Talvez a resposta esteja no que os orientais chamam o “carma” do ser e que a moderna pesquisa paranormal começa a colocar como hipótese séria. Um amigo meu descreveu-me esta cena vivida na sua casa: - A minha mulher, que é professora de português, há algum tempo que anda pelos cantos da casa a recitar uns palavrões esquisitos. Eu até pensei que seriam os professores de português que estariam a ficar todos tolinhos mas, pelos vistos, não são os professores de português que estão a ficar chonés! Estamos é num país cheio de doutores de português loucos que querem pôr os outros como eles, porque em vez de simplificar para que todos entendam, complicam. E tudo isto condimentado com o seguinte desabafo de uma avó: Uma avó fez este desabafo: Tempo de exames no secundário. Os meus netos pedem-me ajuda para estudar português. Divertimo-nos imenso, confesso. E eu acabei por escrever a redação que eles gostariam de escrever. As palavras são minhas, mas as ideias são todas deles. Aqui ficam, e espero que vocês também se divirtam. E depois de rirmos espero que nós, adultos, façamos alguma coisa para libertar as crianças e os adolescentes deste pesadelo. Teolinda Gersão Redação – Declaração de Amor à Língua Portuguesa


Vou chumbar a Língua Portuguesa, quase toda a turma vai chumbar, mas a gente está tão farta que já nem se importa. As aulas de português são um massacre. A professora? Coitada, até é simpática, o que a mandam ensinar é que não se aguenta. Por exemplo, isto: No ano passado, quando se dizia “ele está em casa”, ”em casa” era o complemento circunstancial de lugar. Agora é o predicativo do sujeito. ”O Quim está na retrete”: “na retrete” é o predicativo do sujeito, tal e qual como se disséssemos “ela é bonita”. Bonita é uma característica dela, mas “na retrete” é característica dele? Meu Deus, a setôra também acha que não, mas passou a predicativo do sujeito, e agora o Quim que se dane, com a retrete colada ao rabo. No ano passado havia complementos circunstanciais de tempo, modo, lugar etc., conforme se precisava. Mas agora desapareceram e só há o desgraçado de um “complemento oblíquo”. Julgávamos que era o simplex a funcionar: Pronto, é tudo “complemento oblíquo”, já está. Simples, não é? Mas qual, não há simplex nenhum, o que há é um complicómetro a complicar tudo de uma ponta a outra: há por exemplo verbos transitivos diretos e indiretos, ou diretos e indiretos ao mesmo tempo, há verbos de estado e verbos de evento, e os verbos de evento podem ser instantâneos ou prolongados, almoçar por exemplo é um verbo de evento prolongado (um bom almoço deve ter aperitivos, vários pratos e muitas sobremesas). E há verbos epistémicos, percetivos, psicológicos e outros, há o tema e o rema, e deve haver coerência e relevância do tema com o rema; há o determinante e o modificador, o determinante possessivo pode ocorrer no modificador apositivo e as locuções coordenativas podem ocorrer em locuções contínuas correlativas. Estão a ver? E isto é só o princípio. Se eu disser: Algumas árvores secaram, ”algumas” é um quantificativo existencial, e a progressão temática de um texto pode ocorrer pela conversão do rema em tema do enunciado seguinte e assim sucessivamente. No ano passado se disséssemos “O Zé não foi ao Porto”, era uma frase declarativa negativa. Agora a predicação apresenta um elemento de polaridade, e o enunciado é de polaridade negativa. No ano passado, se disséssemos “A rapariga entrou em casa. Abriu a janela”, o sujeito de “abriu a janela” era ela, subentendido. Agora o sujeito é nulo. Porquê, se sabemos que continua a ser ela? Que aconteceu à pobre da rapariga? Evaporou-se no espaço? A professora também anda aflita. Pelos vistos no ano passado ensinou coisas erradas, mas não foi culpa dela se agora mudaram tudo, embora a autora da gramática deste ano seja a mesma que fez a gramática do ano passado. Mas quem faz as gramáticas pode dizer ou desdizer o que quiser, quem chumba nos exames somos nós. É uma chatice. Ainda só estou no sétimo ano, sou bom aluno em tudo exceto em português, que odeio, vou ser cientista e astronauta, e tenho de gramar até ao 12º estas coisas que me recuso a aprender, porque as acho demasiado parvas. Por exemplo, o que acham de adjetivalização deverbal e deadjetival, pronomes com valor anafórico, catafórico ou deítico, classes e subclasses do modificador, signo linguístico, hiperonímia, hiponímia, holonímia, meronímia, modalidade epistémica, apreciativa e deôntica, discurso e interdiscurso, texto, cotexto, intertexto, hipotexto, metatatexto, prototexto, macroestruturas e microestruturas textuais, implicação e implicaturas conversacionais? Pois vou ter de decorar um dicionário inteirinho de palavrões assim. Palavrões por palavrões, eu sei dos bons, dos que ajudam a cuspir a raiva. Mas estes palavrões só são para esquecer. Dão um trabalhão e depois não servem para nada, é sempre a mesma tralha, para não dizer outra palavra (a começar por m, com 5 letras e a acabar em “rda”, isso mesmo, claro.) Mas eu estou farto. Farto até de dar erros, porque me põem na frente frases cheias deles, exceto uma, para eu escolher a que está certa. Mesmo sem querer, às vezes memorizo com os olhos o que está errado, por exemplo: haviam duas flores no jardim. Ou: a gente vamos à rua. Puseramme erros desses na frente tantas vezes que já quase me parecem certos. Deve ser por isso que os ministros também os dizem na televisão. E também já não suporto respostas de cruzinhas, parece o totoloto. Embora às vezes até se acerte ao calhas. Livros não se lê nenhum, só nos dão notícias de jornais e reportagens, ou pedaços de novelas. Parem de nos chatear. Nascemos curiosos e inteligentes, mas conseguem pôr-nos a detestar ler, detestar livros, detestar tudo. As redações também são sempre sobre temas chatos, com um


certo formato e um número certo de palavras. Só agora é que estou a escrever o que me apetece, porque já sei que de qualquer maneira vou ter zero. E pronto, que se lixe, acabei a redação. Vou deitar a gramática na retrete, e quando a setôra me perguntar: “Ó João, onde está a tua gramática?” Respondo: “Está nula e subentendida na retrete, setôra, enfiei-a no predicativo do sujeito.” João Abelhudo, 8º ano, turma C (setôra, sem ofensa para si, que até é simpática). ______ No defesa do caminho da simplicidade que eu procuro, tinha dificuldade em perceber porque os antiacordo são tão avessos. Recentemente, ao ler o acordo oficial que se encontra em vários sítios, nomeadamente em, http://www.priberam.pt/docs/AcOrtog90.pdf , descubro que é muitíssimo mais fácil perceber o acordo de uma forma simplificada como está neste sítio, https://pt.scribd.com/doc/311358697/Acordo-Ortografico , e desta forma verificar aquilo que tantas vezes afirmo – o acordo não alterou nada de muito significativo. Acontece que tal conclusão não é visível se primeiramente se olhar o acordo pelo primeiro sítio. E isso acontece porque infelizmente os doutores do acordo, descubro, são finalmente da mesma tendência pedante, opulenta e vaidosa que os doutores antiacordo, porque também usam e abusam de linguagem que quase ninguém entende, como por exemplo: - “Oscilam entre a prolação e o emudecimento, flexões rizotónicas, representado nos antropónimos, vocábulos anoxítonos, pronomes clíticos, o trema sinal de diérese, o hífen na ênclise e na tmese, pronominais enclíticas, quando em próclise, etc., etc., etc.” E o raio que os parta a todos. Tudo isto podia e devia ser dito numa linguagem acessível. Como podemos esperar que a nossa juventude goste de português se continuarmos a insistir em usar tal tipo de linguagem na aprendizagem do português? Claro que assim, tal tarefa será impossível, repito, impossível. O primeiro segredo para que qualquer disciplina seja aceite pelo aluno e lhe seja atraente é que a linguagem usada nos livros escolares e pelos professores seja uma linguagem do dia-a-dia, comum, acessível, simples. Eis o segredo no ensino da geografia, da história, da matemática, etc. e, claro está, do português. Se querem usar tal linguagem erudita, sinónimo de complexa, usemna apenas, repito, apenas, na formação superior em português, e mesmo assim com muito tempero de simplicidade. Uma vez estive a ouvir um político a falar de desenvolvimento regional durante três minutos – pois não percebi nada do que ele queria dizer. Ora se eu, que tenho formação superior em engenharia, não percebi, como poderemos esperar que o povo simples e humilde perceba? O atraso cultural, a iliteracia que tanto nos castiga deve-se a estes senhores, a este comportamento opulento e vaidoso. Então, nivelar por cima é levar a informação à compreensão de todos; e isso só se consegue com regras e linguagem acessível, falada e/ou escrita. Estou mesmo convicto que o AO, apesar de imperfeito e incompleto, com o passar dos anos, com o intercâmbio e leitura de obras de diferentes autores de ambos os lados, com uma maior aproximação turística, comercial e industrial e com a emigração e imigração, o português vai aumentar de vocabulário e de fonética e vai continuar como é da natureza das coisas. Todos sabemos que a fonética do séc. 15 não era nada igual á do séc. 21, e a fonética dos Açores não é igual à do Minho. Nada que o tempo e os meios audiovisuais do nosso tempo não estejam já a resolver e a mudar. (Nota: escrevo 15 e 21 porque é legal, mais fácil, racional para programar os computadores e telefones inteligentes e a numeração romana não tem interesse prático para a população, exceto para especialistas em assuntos antigos).


História dos Acordos Ortográficos e factos curiosos Incentivo os que estão contra o AO de 1990 a serem mais evolucionistas e menos conservadores, embora de acordo com o princípio budista “segue o caminho do meio”, ou a voz do povo português “nem 8 nem 80”, ambas as tendências sejam necessárias para que a evolução se faça de forma progressiva e não por saltos bruscos que poderiam quebrar a harmonia do universo em que vivemos. Os que estudam o comportamento do cérebro descobriram: - As crianças quando aprendem a ler, fazem-no letra a letra, sílaba a sílaba. Mas depois de se ler muito, o cérebro, inconscientemente, muda de tática e passa a ler cada palavra como um todo de uma só vez. Reparem no texto seguinte, espalhado pela Internet e pelos e-mails que nos enviam, que é uma curiosidade interessante do ponto de vista científico e verifiquem, principalmente aqueles que leem muito, que conseguem lê-lo na perfeição o que desmonta argumentos radicais contra o AO: No texto abaixo, não leia como as crianças, não se concentre nas letras mas sim nas palavras como um todo. Afaste-se um pouco do ecran e deixe deslizar o olhar sobre as palavras: De aorcdo com uma peqsiusa de uma uinrvesriddae ignlsea, não ipotmra em qaul oderm as lteras de uma plravaa etãso; a úncia csioa ipmotratne é que a piremria e útmlia ltreas etejasm no lgaur crteo. O rseto pdoe ser uma baçguna ttaol, que vcoê adina cneosuge ler sem pobrlmeas. Itso é poqrue nós, os que têm pácrtia de lerutia, não lmeos cdaa ltera isladoa, mas a plravaa cmoo um tdoo. Asism, os atniarocdo airfamm que as lrtaes mdaus fzeam fatla praa arbir as vgoias atneireors e que o potruêugs pssaa a não ser ptoruêugs com o AO de 1990. Sreá que etse txteo, com um aestpo eratshno, dmesnorta que eãsto taotlemtne eagndaos uma vez que eãtso a ler pfreieatnemte com a psãçoio das ltears tarcoads? Certamente está admirado como conseguiu ler. No texto seguinte, também interessante, deixe que a sua mente leia corretamente o que está escrito. 35T3 P3QU3N0 T3XTO 53RV3 4P3N45 P4R4 M05TR4R COMO NO554 C4B3Ç4 CONS3GU3 F4Z3R CO1545 1MPR3551ON4ANT35! R3P4R3 N155O! NO COM3ÇO 35T4V4 M415 COMPL1C4DO, M45 N3ST4 L1NH4 SU4 M3NT3 V41 D3C1FR4NDO O CÓD1GO QU453 4UTOM4T1C4M3NT3, S3M PR3C1S4R P3N54R MU1TO, C3RTO? POD3 F1C4R B3M ORGULHO5O D155O! SU4 C4P4C1D4D3 M3R3C3 P4R4BÉN5! O que aconteceu aqui é que trocamos o E por 3, o S por 5, o A por 4, o I por 1. Ou seja o nosso cérebro aceita facilmente outras grafias que sejam semelhantes. Nos trabalhos que se iniciaram em 1988 para o AO de 1990, face à intransigência das partes em negociação, chegou-se em alguns pontos a dupla grafia. Por exemplo: - Passou a ser aceite dupla acentuação, como em sinônimo e sinónimo; - As letras mudas eliminam-se, ou não, de acordo com a pronúncia em cada país – pronuncia-se a letra, escreve-se; não se pronuncia, não se escreve, e ambas as formas são legais. Face a à prova científica, acima referida, em que o cérebro é capaz de ler com quase tudo trocado, fica evidente que, ter letras mudas ou não, ou ter ou não ter este ou aquelo acento, não tem importância nenhuma.


Assim, devemos deixar ao cuidado dos peritos a manutenção do trabalho de uniformização que várias comissões, arduamente, têm vindo a fazer desde 1885. Para cimentar estes conceitos aqui vai um resumo da história desses trabalhos desde 1885. Até ao início do séc. 20, tanto Portugal como o Brasil, seguiam uma ortografia que, por regra, se baseava nos étimos latino ou grego para escrever cada palavra: Phosphoro (fósforo), lyrio (lírio), orthographia (ortografia), phleugma (fleuma), exhausto(exausto), estylo (estilo), prompto (pronto), diphthongo (ditongo), psalmo (salmo), etc. Numa Bíblia comprada em 1936, isto é, antes do AO de 1945 retirei palavras para mostrar: veiu - veio (verbo vir); judéa – judeia; logar – lugar; pae – pai; Nazareth - Nazaré; propheta profeta; aquelle – aquele; prégando – pregando; penitencia – penitência; proximo – próximo; fallou – falou; pharmacia – farmácia; apparelhae – aparelhai; endireitae – endireitai; pelle – pele; elle – ele; peccado – pecado; fructo – fruto; arvore – árvore; ha de – há-de (curiosa esta; antes não havia exceção no verbo haver como passou a haver depois de 1945); celleiro – celeiro; jámais – jamais; apparecer – aparecer; estrella – estrela; vinde-m’o – vinde-mo; adoral-o – adorálo; offerta - oferta; Egypto – Egipto; illudido – iludido; anno – ano; annunciado – anunciado; etc., etc. Em 1885 tinha-se tentado fazer as Bases da Ortografia Portuguesa mas sem sucesso. A Reforma Ortográfica de 1911 foi a primeira tentativa de normalização e simplificação da escrita da língua portuguesa em Portugal. Depois da implantação da república em 1910, o novo governo, para alargar a escolaridade e combater o analfabetismo, quis estabelecer uma ortografia simplificada a usar nas publicações oficiais e no ensino. As bases da Reforma Ortográfica, inspiradas nas propostas de 1885, foram oficializadas em 1911. O não envolvimento brasileiro na reforma portuguesa teve o efeito contrário ficando os dois países com ortografias completamente diferentes: Portugal com uma ortografia reformada, o Brasil com a velha ortografia de base etimológica. Aqui chamo a atenção que quem evoluiu foi Portugal e o Brasil manteve-se conservador, precisamente ao contrário do que afirmam os antiacordo do AO de 1990, o atual. Após a tentativa falhada, a Academia das Ciências de Lisboa e a Academia Brasileira de Letras encontraram uma ortografia comum fazendo um primeiro Acordo Ortográfico Luso-Brasileiro em 1931 que praticamente adotava a ortografia portuguesa de 1911, iniciando-se um longo processo de convergência das ortografias dos dois países que dura até hoje. Esta reforma da ortografia portuguesa foi profunda e modificou completamente o aspeto da língua escrita, aproximando-o muito do atual. As principais alterações introduzidas foram: - Eliminação de todos os dígrafos de origem grega com substituição por grafemas simples: th substituído por t, ph substituído por f, ch com valor de k substituído por c ou qu de acordo com o contexto e rh substituído por r ou rr de acordo com o contexto; - Eliminação de y substituído por i; - Redução das consoantes dobradas ou geminadas a singelas, com exceção de rr e ss de origem latina, que têm valores específicos em português; - Eliminação de algumas "consoantes mudas" no fim da sílaba gráfica, quando não influenciavam


a pronúncia da vogal que as precedia; - Introdução de numerosa acentuação gráfica, nomeadamente nas palavras proparoxítonas. Contestação à reforma: A adoção desta nova ortografia não se fez sem resistências em Portugal, mas a maior polémica em seu torno deu-se no Brasil. Alguns linguistas defendiam a ortografia etimológica em detrimento da ortografia puramente fonética das palavras. Fernando Pessoa, e outros, também foram contestatários na altura; e repare-se como eles queriam escrever o português: Alexandre Fontes: Vejamos este trecho de Alexandre Fontes, escrito nas vésperas da reforma ortográfica de 1911 (respeitando-se a escrita original do autor): - Imaginem esta palavra phase, escripta assim: fase. Não nos parece uma palavra, parece-nos um esqueleto. Affligimo-nos extraordinariamente, quando pensamos que haveriamos de ser obrigados a escrever assim! Teixeira de Pascoaes: - Na palavra lagryma, a forma da y é lacrymal; estabelece a harmonia entre a sua expressão graphica ou plastica e a sua expressão psychologica; substituindo-lhe o y pelo i é offender as regras da Esthetica. Na palavra abysmo, é a forma do y que lhe dá profundidade, escuridão, mysterio. Escrevel-a com i latino é fechar a boca do abysmo, é transformal-o numa superficie banal. Fernando Pessoa: - Não tenho sentimento nenhum politico ou social. Tenho, porém, num sentido, um alto sentimento patriotico. Minha patria é a lingua portugueza. Nada me pesaria que invadissem ou tomassem Portugal, desde que não me incommodassem pessoalmente, Mas odeio, com odio verdadeiro, com o unico odio que sinto, não quem escreve mal portuguez, não quem não sabe syntaxe, não quem escreve em orthographia simplificada, mas a pagina mal escripta, como pessoa propria, a syntaxe errada, como gente em que se bata, a orthographia sem ipsilon, como escarro directo que me enoja independentemente de quem o cuspisse. Como sabemos, no AO de 1945, que foi como nós aprendemos a ler, simplificou-se ainda mais e o de 1990 seguiu exatamente o mesmo princípio - simplificar. Não vejo nenhum problema. O português, e diga-se que também o inglês e outras línguas, precisam de evoluir e terem apenas regras e nunca exceções. E ainda falta muito para isso. Houve uma tentativa nesse sentido que foi a criação do Esperanto, uma língua artificial que só tem regras e nenhuma exceção. Devia ser ensinado nas escolas de todo o mundo, em vez do inglês, e ser usado como língua universal para que todos os povos se pudessem entender e colaborar; seria um passo para terminar as guerras e entrarmos num mundo evoluído. Já agora, sabem porque morremos? Bem, entre outras, há uma razão que é o esgotamento do corpo físico. Mas há uma outra razão mais escondida: Quem faz as mudanças são, em geral, as pessoas mais jovens que encontram, geralmente, a oposição dos mais velhos que tendem a ser conservadores e travam as mudanças.


Assim, os mais velhos têm que morrer para que desapareçam os obstáculos que as gerações mais novas encontram nas mudanças. Desaparecendo os opositores as mudanças começam a fazer-se paulatinamente e passam a norma. E este ciclo vai-se repetindo ao longo das gerações e assim acontecem as mudanças. Não queiramos pertencer aqueles que são opositores do progresso.


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