Nosso objetivo é evoluir e simplificar – acordo ortográfico de 1990

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Nosso objetivo é evoluir e simplificar – Acordo Ortográfico de 1990 Antes de mais, desejo que não me chamem utópico. Pelo facto de eu reconhecer e desejar que o mundo poderia ser melhor se os homens assim o quisessem, e que não é porque todos vivem pelas tradições, pela cultura vigente, por registos atávicos, tudo isto controlando e hipnotizando a mente de quase toda a gente, de que a afirmação de uso geral “isso é utópico”, que se possa forçosamente afirmar que é realmente utópico… ou será mais conveniente para a maioria manter o “status quo” fazer tal afirmação quando alguém quer ver, e desejar ir, mais além para um mundo melhor. A linguagem é apenas um meio de as pessoas se comunicarem enquanto corpos biológicos que vivem numa atmosfera (sem atmosfera não haveria sons), uma vez que neste estado não controlam outros meios de comunicação mais evoluídos, que não necessitem de uma linguagem, como por exemplo a transmissão direta do pensamento. Enquanto este impedimento existe, não devemos fazer da aprendizagem da linguagem, da sua correta aplicação com um conjunto de regras (e igual número de exceções) inventadas pelos homens, o objetivo fundamental da nossa vida, e nisso gastar parte significativa das nossas energias que seria muito mais racional gastar no que é essencial para a nossa evolução. O objetivo fundamental da nossa vida é a reprodução e a evolução, esta sendo intelectual e moral. Para a reprodução precisamos de saúde e de meios para tornar a prole autossuficiente. Para este efeito, na economia em que vivemos, precisamos de conseguir algum dinheiro, de um abrigo para proteger a família, de um transporte que desloque de forma segura a família, todos estes meios, e eventualmente mais alguns de acordo com a visão de cada um, com o objetivo final de tornar a prole autossuficiente e o decurso da vida agradável, tendo o cuidado de no decurso desta missão não prejudicar ninguém em meu benefício, tendo em conta que todos temos o mesmo objetivo, os mesmos deveres e direitos. Mas o objetivo de evoluir intelectualmente e moralmente é o nosso objetivo fundamental enquanto entidade independente, o indivíduo, o nosso eu, a nossa alma. Tendo este objetivo como meta, gastar neurónios numa linguagem complicada é desperdiçar neurónios com prejuízo do que é fundamental: o conhecimento do universo, o conhecimento da vida, das suas leis, o conhecimento do cosmos, o conhecimento do todo. Esta tarefa é sofisticada, gasta muitos séculos de aprendizagem e investigação científica nos diversos domínios, que cada um tem que fazer, tem que testar e tem que dominar, esforçando-se por seguir o caminho para atingir a iluminação (conhecimento). Eis o grande objetivo. A língua portuguesa, assim como as outras línguas do planeta, é uma manifestação da nossa vaidade, do nosso orgulho, da nossa opulência e é uma manifestação de independência relativamente aos outros povos, pois que geralmente os vemos como possíveis inimigos. É assim, uma manifestação de desunião, de afastamento dos outros, de falta de fraternidade, de egoísmo, de competição, ao contrário do desejável na missão mais importante que seria: união, colaboração, fraternidade, esforço comum de evolução, porque a união facilita a tarefa, divide esta em partes que cada um pode trabalhar em detalhe transmitindo a todos as suas descobertas (e vice versa) e assim, como fruto do esforço conjunto, todos, mais depressa, podem chegar à iluminação. Como todos sabemos, o português teve a sua origem na língua galaico-português, descendente do latim vulgar falado pelos conquistadores romanos, com influências das línguas de diversos povos que chegaram à península ibérica. Esta língua original considerase formada no séc. 8. Foi língua culta fora dos reinos da Galiza e de Portugal, nos reinos vizinhos de Leão e Castela, tanto que o rei castelhano Afonso 10 escreveu as suas Cantigas de Santa Maria em galaico-português.


E assim poderia ter continuado até aos dias de hoje, com as alterações próprias do tempo, não fosse a vaidade e o orgulho do rei Dinis que por volta de 1297, com a conclusão da reconquista, o rei para vincar a sua separação de Castela forçou algumas alterações que iriam acentuar a diferenciação com o castelhano. Depois com os descobrimentos portugueses, esta língua espalhou-se pelo mundo nos séculos 15 e 16 até aos dias de hoje. Apesar disso a língua continua muito próxima do castelhano e ainda bem. Eu não tenho essa noção, separatista do resto da humanidade, de nacionalismo, de pátria e de língua pátria. Nós somos todos iguais. Os nossos genes têm a mesma raiz comum e nada justifica esta agressão entre regiões e seus povos. Os nacionalismos só têm servido para dar desgraça à humanidade, guerras e mais guerras, mortes e mais mortes. Na época atual, e aqui à nossa beira, veja-se por exemplo o caso da florescente Jugoslávia e no que deu com esse estúpido conceito de nacionalismo e religiosidade dogmática. E na Irlanda, na Catalunha, no País Basco, etc., uma verdadeira vergonha civilizacional e com tantos milhares de mortes. Eu acho que o ideal seria que todo o planeta fosse um único país com um governo central na ONU, que não privilegiasse ninguém, que não fosse corrupto, que fosse racional na proteção do planeta e de toda a sua vida, e tivesse uma única língua. Não tendo sido isso possível, pelo menos, a península ibérica poderia ter uma única língua e ser um único país – o País Ibérico. Na economia em que nos encontramos, e que eu rejeito porque é opressora de mais de 99% da população do planeta e concentra a riqueza em menos de 1% da população, sendo que estes através dos media de que são donos e dos jornalistas que lhes servem os interesses, acentuam exageradamente benefícios neste tipo de economia, em detrimento de alternativas mais colaboracionistas e fraternas, de uso correto dos recursos do planeta segundo as necessidades de cada região, de uma forma ética e moral, e não dominadora e egoísta como infelizmente se vê. A existir, esse País Ibérico, no sistema em que vivemos, teria muito mais influência na Europa em particular e no planeta em geral. Assim, muito provavelmente, a decisão vaidosa de poder do rei Afonso Henriques só gerou um país, que nesta economia competitiva, não é respeitado por ninguém. E já disse, não me chamem utópico. O vosso ideal só vigora porque, reconheço, somos muito imperfeitos, egoístas e opulentos (queremos ser mais ricos que o vizinho – onde estará esse conceito religioso de Cristianismo?). E as religiões, talvez com exceção do budismo, com a ligação íntima ao poder temporal e aos economicamente poderosos de todos os tempos não ajudou nada a alterar esta triste situação, muito pelo contrário. Foi, e é, em nome das religiões que mais se matou, sendo que tudo que se diz nas religiões é invenção dos homens, geralmente com intensões muito pouco nobres. Para dar um exemplo, na religião católica, criaram-se os dogmas que conhecemos e que a ciência já demonstrou que são falsos: Assim, e tendo sempre em conta a ciência, Deus (teologicamente) não pode ser uma trindade; Jesus não pode ser parte de Deus ou Deus; Jesus não pode ter ressuscitado; Jesus não pode ter subido para fora da atmosfera terrestre; Maria não pode ser mãe de Deus; Maria não podia ser virgem - neste dogma, a razão que está por trás é até caricata; quando os primeiros cristãos quiseram convencer os judeus que Jesus era o que eles achavam de “o Messias prometido”, toca a pedir a tradução do anunciado em Elias acerca da vinda do Messias. O tradutor enganou-se e traduziu “mulher jovem” por “mulher virgem”; isto causou enorme embaraço porque Jesus tinha (dos mesmos pais) mais 4 irmãos e pelo menos duas irmãs. Toca a inventar que estes irmãos eram “parentes”. E porque Maria passou (por invenção dos homens) a ser mãe de Deus, toca a decretar, bem perto de nós, em 1950, que Maria também subiu na atmosfera com o corpo carnal. Queriam estes dogmáticos que as pessoas ignorassem que a 10Km de altitude, além de outras razões técnicas, a temperatura é de cerca de 50º negativos. E, para mim uma das consequências mais graves, ao decretarem em 325 no 1º concílio de Niceia (atual İznik, Turquia) o trinitarismo (santíssima trindade), deram motivo para surgir em 610 o Islamismo para repor o conceito de Deus único (indivisível).


Só na região sul de França - norte da Itália, cerca de 1 milhão de Valdenses foram mortos em nome de Deus. Os reis católicos (Espanha) por volta de 1500 mandaram exterminar os povos nativos da América latina por estes se negarem a converterem-se ao catolicismo; e a chacina foi tão grande que os poucos sobreviventes que eram de regiões remotas e montanhosas, com pouco contacto com as áreas cultas, não sabiam (e os seus descendentes não sabem) a história nem do seu passado nem das suas civilizações autóctones da América latina. E estes erros dogmáticos, e as suas graves consequências que dão origem à falta de amor universal, existem na maioria das outras religiões. Pensemos, apenas como exemplo, no caso do Islamismo que segue os mesmos dogmas. Em vários campos se veem estes comportamentos ligados a tradições caducas e isentas de rigor de análise científica e de falta de amor pelas diversas formas de vida indo ao ponto de muitos terem diversão e prazer com o sofrimento de outros animais. E igualmente grave (eu não escrevi mais grave, escrevi igualmente), muitos homens têm prazer em fazer sofrer e matar o animal (que também é animal), o homem. E é neste mundo tão compartimentado, baseado em tantas tradições sem qualquer fundamento ético, moral ou científico, que prosperam tantos sensos comuns que nada têm de fraternidade, e respeito um pelos outros. Pelo contrário, acentuam o domínio, a escravatura dos outros e a guerra; e deram, e continuam a dar, origem a tanto egoísmo e separação, com o consequente isolamento e surgimento de tantas línguas. Uma área em que posso mostrar um exemplo de conservadorismo irracional, e tradição caduca, apesar do alto nível cultural das pessoas que manifestam este conservadorismo e tradição, só porque é tradição, é por parte dos músicos de música clássica e verifica-se acerca de alguns instrumentos musicais. Só como exemplo vejamos o caso do piano. O piano é o instrumento que num ambiente de pouca tecnologia no decurso dos séculos 18 e 19 se conseguiu construir e adotar. É um instrumento demasiado grande e pesado para o que faz; a tecnologia que então se conhecia para fazer vibrar as cordas era insuficiente, resultando num som aceitável e agradável nas notas médias, mas num som cheio de harmónicos indesejáveis nos graves e som de martelo demasiado saliente nas notas agudas; desafina-se com facilidade, tem mobilidade muito reduzida e peso absurdo, não tem possibilidade de baixar o volume com abafador sem alterar o timbre, ou seja uma série de imperfeições. Com a chegada nos fins do século 20 dos computadores miniatura, com os seus CPUs e memórias de alto desempenho, é possível desde o início do séc. 21 imitar o melhor piano clássico na perfeição em todas as características (até na sensibilidade ao toque das teclas), e até corrigi-lo nas imperfeições que o clássico tem, e tudo isso é possível com os modernos teclados eletrónicos. Adicionalmente, estes são capazes de imitar na perfeição todos os demais instrumentos existentes, sintetizar novos sons e uma panaceia de elevadas características como reverberações de diferentes compartimentos, sequenciação completa de partituras podendo dar ao compositor uma amostra real de como a sua obra vai soar, etc., etc.. E tudo isto dentro de uma caixa de menores dimensões, facilmente transportável e por um preço muito mais acessível. Porém um pianista clássico recusa-se a tocar num piano eletrónico. E não dá para perceber a razão, porque num teste cego, com cortina preta, com todos os parâmetros corretamente afinados, ninguém consegue distinguir qual piano está a tocar atrás da cortina.

Quando eu estava a fazer engenharia no Porto, o meu pai que tinha apenas a terceira classe feita com as regras do AO de 1911, resolveu escrever-me uma carta. Quando a li, fiquei surpreendido com a quantidade do que naquele momento eu, que fui ensinado para tal, chamei de erros. Mas passados uns minutos de surpresa e analisando o que estava por trás dos “erros” verifiquei que afinal as regras dos outros é que poderiam estar mal e o meu pai ter toda a razão. O meu pai era a pessoa mais inteligente na minha terra. Sabia tratar com destreza de toda a documentação com os diversos setores do estado, justiça, conservatória, finanças, etc.


Adicionalmente era engenhoso em encontrar soluções para o que lhe ia, de vez em quando, dificultando a vida. Então, o que é meu pai usou na referida carta? Usou o que passo a descrever: Para o efeito consideremos uma nova convenção e o seguinte alfabeto: cada letra tem um único som. Assim, tenho que acrescentar algumas letras ao nosso alfabeto e nenhuma palavra é acentuada, tal como no inglês. Algumas letras têm uns apêndices que lhe dão um único som – atenção, não são acentos. Acrescento que esta ideia não é novidade; esta ideia apareceu na língua checa onde a ortografia foi racionalizada primeiro por Jan Hus no século 14 e depois no século 19 por Josef Dobrovsky e está hoje em pleno uso ao escrever checo e também foi adotada por Zamenhof ao inventar o Esperanto. http://www.aprender-tcheco.com/alfabeto-pronuncia-tcheco.html https://pt.wikipedia.org/wiki/Esperanto: a – tem apenas o som como a “a” em amor; á – tem o som do primeiro “a” em cara (não é uma letra acentuada, é uma nova letra); é – como em Eva; ê – como em pera (fruta); e – como o segundo “e” de este; ô – como o primeiro “o” de tolo; ó – como o primeiro “o” de objeto; s – tem sempre o som como em sapo; rr – como em rato e r – como em cara; c – como em cara; g – sempre como em gato; etc., etc… julgo que se entende a ideia. Então vamos lá escrever com esta nova convenção: U izérsitu istáva a marxár nu terréiru éisteriôr a pásu rápidu cuándu pasôu um rrátu ce curria muintu i fujirám tôdus em debándáda. Pronto, já dá para explicar a ideia. Como podemos ver, não há duas maneiras diferentes de ler cada palavra e o som que sai daqui é português indiscutivelmente; se o som de cada palavra estivesse normalizado ninguém daria erros. Mais, se alguém desconhecesse o som normalizado, essa pessoa escreveria com o seu sotaque e todos saberíamos de onde a pessoa era. E programar um computador para falar e entender português era extremamente simples – digo eu que sou engenheiro programador de programas de computador para calcular e desenhar navios por este meio tecnológico. Durante o período do português arcaico, cada copista escrevia a mesma palavra como bem entendia. Elis de Almeida Cardoso colecionou as seguintes variantes da palavra igreja: ygreja, eygreya, eygleyga, eigreia, eygreia, eygreyga, igleja, igreia, igreja e ygriga. Desde o séc. 16 até o começo do 20 predominou uma escrita etimológica, uma grafia que permitia facilmente descobrir o passado histórico da palavra. Era um tempo em que os cidadãos escolarizados sabiam grego e latim, de forma que não estranhavam nada essas grafias. Assim em: 1576 - Duarte Nunes de Leão publicou a sua Orthographia da Lingoa Portuguesa. 1633 - Álvaro Ferreira de Vera publicou a Ortographia ou Arte para Escrever Certo na Lingua Portuguesa. 1746 - Luiz António Verney publicou O Verdadeiro Método de Estudar, opondo-se à grafia etimológica. Com isso, o ph, ch, th e o y começaram a alternar com letras que lhes correspondiam de forma mais simples. Mas só em, 1904 - O assunto passou às mãos de um especialista. Em Lisboa, Gonçalves Viana, que era foneticista e lexicólogo, publicou a sua Ortografia Nacional, vindo a exercer uma grande influência nos anos seguintes. Seu trabalho trazia uma proposta de simplificação ortográfica, de que resultou a pretendida “expulsão” dos dígrafos th, ph, ch, rh e y. As consoantes dobradas, como tt, ll, etc. também desapareceram, exceto rr e ss. 1907 - A Academia Brasileira de Letras começou a simplificar a escrita nas suas publicações.


1911 - Primeira Reforma Ortográfica: tentativa de uniformizar e simplificar a escrita de algumas formas gráficas, mas que não foi extensiva ao Brasil. 1915 - A Academia Brasileira de Letras resolveu harmonizar a ortografia com a portuguesa, aprovando o projeto de Silva Ramos, que ajustou a reforma brasileira aos padrões da reforma portuguesa de 1911. 1919 - Curiosamente, a Academia Brasileira de Letras revogou a sua resolução de 1915, e tudo voltou a ser como antes. 1931 - Brasil e Portugal aprovaram o primeiro Acordo Ortográfico, que levou em conta as propostas de Gonçalves Viana. 1934 - A Constituição brasileira de 1934 anulou essa decisão, revertendo o quadro ortográfico às decisões da Constituição de 1891. 1938 – O Brasil voltou à reforma de 1931. 1943 - Convenção ortográfica entre Brasil e Portugal, publicando-se o Formulário Ortográfico de 1943. 1945 - Surgiu um novo Acordo Ortográfico, que se tornou lei em Portugal. O governo brasileiro não ratificou esse Acordo, e assim os brasileiros continuaram a regular-se pela ortografia anterior. 1947 – Em Portugal entrou em vigor o AO de 1945. 1971 - O Brasil promulgou através de um decreto algumas alterações no Acordo de 1943, reduzindo as divergências ortográficas com Portugal. 1973 - Portugal promulgou as alterações, reduzindo as divergências ortográficas com o Brasil. 1975 - A Academia das Ciências de Lisboa e a Academia Brasileira de Letras elaboraram novo projeto de acordo que não foi aprovado oficialmente. 1986 - Nasceu a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). O presidente do Brasil José Sarney promoveu no Rio de Janeiro um encontro dos sete países de Língua Portuguesa – Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe. 1990 - Por convocação da Academia das Ciências de Lisboa, as academias de Portugal e Brasil elaboraram a base do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, assinado em 16 de dezembro de 1990, em Lisboa. 1996 - Passados seis anos, o Acordo tinha sido formalmente ratificado apenas por três Estados membros: Portugal, Brasil e Cabo Verde. Com isso, seguia vigente no Brasil o Acordo Luso-Brasileiro de 1943 e em Portugal o de 1945. 2009 – O Brasil decidiu pôr o Acordo em prática. 2010 - Portugal decidiu pôr em prática o Acordo a partir de 2010 2015 – O Acordo entra em vigor em Portugal em 13 maio de 2015. 2016 – O Acordo entra em vigor no Brasil em 1 de janeiro de 2016. O AO de 1911 A primeira reforma ortográfica, em Portugal em 1911 e que se manteve até 1947, tal como no atual AO de 1990, também sofreu várias contestações. Foi nesta reforma de 1911 que vimos por exemplo estas alterações: pharmacia – farmácia, diphthongo - ditongo, syntaxe - sintaxe, theologia - teologia, chimica – quimica, walsa – valsa, typo – tipo, lyra – lira, abbade – abade, abstrahir – abstrair, abysmo – abismo, acceder – aceder, accudir – acudir, addiar – adiar, adeante – adiante, aggregar – agregar, aldèa – aldeia, alumno – aluno, alli – ali, anno – ano, antipathico – antipatico, apathia – apatia, appendix – apendice, assignar – assinar, azues – azuis, Sarah – Sara, rajah – rajá, hontem – ontem, hir – ir, çapato – sapato, çarça – sarça, egual – igual, edade – idade, peior – pior, leial - leal, etc. Depois de 1911 escrevia-se: escrever-se hão (escrever-se-ão), alimentar-se há (alimentarse-á), freqùentemente, etc. Saliente-se que aquele “hão” e “há” sendo formas do verbo haver estavam perfeitamente corretas. Ora, enquanto não se abolir a letra h no início das palavras, que com ela começam, e que nos dias atuais não faz falta nenhuma porque o


português não tem nenhuma palavra aspirada (ao contrário de outras línguas que têm palavras aspiradas e onde, então, o “h” faz todo o sentido), então aquele “hão”, e palavras do mesmo verbo, deveriam continuar a escrever-se com “h” (haja racionalismo e apenas regras). Também em 1911 foram suprimidas consoantes mudas, como por ex.: auctor – autor, resttricto – restrito, producto – produto, proncto – pronto, presuncção – presunção, anecdota – anedota, damno – dano, assimnar – assinar, fructo – fruto, scena – cena, sciência – ciência, scetro – cetro, scisão – cisão, scisma – cisma, etc. Nessa altura fez-se a seguinte recomendação: “Na escrita será indispensável recorrer-se ao competente VOCABULÁRIO, pois os casos duvidosos para os indoutos, são milhares.” O latim não tinha acentos. Do decurso das modificações da ortografia das palavras da língua portuguesa, foi-se entendendo que faria sentido acentuar certas palavras. Assim começou a surgir a acentuação das palavras que foi ficando complexa, cheia de regras e exceções. Assim, foi no AO de 1911 que se determinou o célebre caso do “para”, que não tinha qualquer acento anteriormente: - “Diferençar-se hão pelo acento agudo os seguintes vocábulos: pára, verbo, de para, preposição; pélo, péla, de pêlo substantivo, e de pelo, pela (per lo, per la, per o, per a); pólo, substantivo, de polo (forma antiquada, em vez de pelo); e pelo circunflexo, pêra, de pera, forma antiga e popular da proposição para; quê, de que, átono (que não tem acento tónico); cômo, verbo, de como, partícula. Pelo acento agudo se diferençará a forma do pretérito, louvámos, da do presente, louvamos. - As formas verbais dêem, lêem, vêem, crêem (de dar, ler, ver, crer) receberão o acento circunflexo, ficando assim distintas de outras como te(e)m, ve(e)m, de ter, vir.”, etc. Foi também nessa altura que se tentou normalizar o uso do hífen, com inúmeras regras e exceções que ainda hoje apesar de algumas simplificações, que entretanto aconteceram, continua muito complicado. O AO de 1945 Como poderemos ver, o AO de 1945 reforça o de 1911 mantendo a mesma característica de ter muitas regras e muitas exceções: A letra h: - Palavras devido à etimologia com h mantêm-se: haver, hélice, hera, hoje, hora, humano, etc. - Devido à tradição mantêm-se em: húmido, humor. - Devido ao uso perde o h: Herva – erva, herbanário – ervanário; mas se a pessoa for erudita mantem-se o h: herbanário. - Se a palavra tem h mas tem um prefixo antes, perde o h: desarmonia, desumano, exaurir, inábil, lobisomem, reabilitar, reaver, uma vez que se escreve conforme regras e exceções anteriores: harmonia, humano, haurir, hábil, etc. - Mas perde o h (apesar de ser o verbo haver) e ganha um hífen adicional: amá-lo hei – amá-lo-ei, amá-lo hia - amá-lo-ia, dir-se há - dir-se-á, falar-nos hemos - falar-nos-emos, etc. - Mantem-se, no entanto em: anti-higiénico, contra-haste, pré-história, sobre-humano, etc. - Mantem-se em: Baruch, Loth, Moloch, etc., mas perde em: Joseph - José, Nazareth Nazaré; Judith – Judite, etc. A propósito da distinção no uso entre ch e x, g e j, s, ss, c, ç e x, a situação é tão complicada que está lá este comentário:


“Dada a homofonia existente entre certas consoantes, nem sempre permite fácil diferenciação de todos os casos em que se deve empregar uma consoante, e a consulta do vocabulário ou do dicionário irão ensinando.” Ou seja, é preciso memorizar a escrita das palavras face à ausência de regras lógicas. Troca de ç por s: çafio - safio, çapato – sapato, çaloio – saloio, etc. Troca de x por s: juxtapor - justapor, juxtalinear - justalinear, mixto - misto, sixtino - sistino, sixto – sisto, etc. Troca de z por s: Bizcaia – Biscaia, Cádiz – Cádis, etc. E continuando a complicação temos a dificuldade de distinção entre s, x e z: - “S” que vale “z” - aceso, analisar, anestesia, artesão, asa, asilo, Baltasar, besouro, etc. - “X” que vale “z” - exalar, exemplo, exibir, exorbitar, exuberante, inexacto, inexorável, etc. - Apesar de estar entre vogais, como no primeiro caso, continua-se a usar o “z” - abalizado, alfazema, Arcozelo, autorizar, azar, azedo, azo, baliza, bazar, beleza, buzina, búzio, etc., E novamente o caso das letras mudas que também existiam e deixaram de existir: O c das sequências cç e ct, e o p das sequências pç e pt, ora se eliminam, ora se conservam. Assim: - Eliminam-se em: aflicção - aflição, aflicto - aflito, auctor - autor, conducção - condução, conductor - condutor, diccionário - dicionário, dístricto - distrito, dictame - ditame, equinóccio - equinócio, extincção - extinção, víctima - vítima, victórìa – vitória, etc. absorpção - absorção, assumpção - assunção, assumpto - assunto, captivar - cativar, captivo - cativo, descripção - descrição, excerpto - excerto, presumpção - presunção, promptidão - prontidão, prompto - pronto, etc. - Conservam-se nos casos em que são proferidas: compacto, convicção, convicto, ficção, fricção, friccionar, pacto, etc.; adepto, apto, erupção, eucalipto, inepto, núpcias, rapto; etc. - Conservam-se nos casos em que só se proferem em Portugal ou só no Brasil: caracteres, coarctar, contacto, dicção, facto (c geralmente proferido em Portugal e mudo no Brasil), jacto, tactear, tacto, tecto (c por vezes proferido no Brasil), etc. assumptível, assumptivo, ceptro, corrupção, corrupto, corruptor, peremptório (p interior geralmente proferido no Brasil, mas predominantemente mudo em Portugal), sumptuário, sumptuoso, etc. - Conservam-se devido à tradição ortográfica: acção, activo, actor, afectuoso, arquitectura, colecção, colectivo, contracção, correcção, defectivo, direcção, director, electricidade, espectáculo, espectral, facção, faccioso, flectir, etc. acepção, adopção, adoptar, adoptivo, baptismo, Baptista, baptizar, concepção, decepção, excepção, excepcional, exceptuar, imperceptível, intercepção, interceptar, Neptuno, recepção, etc. - Conservam-se quando devem harmonizar-se graficamente com formas afins: abjecto, como abjecção; abstracto, como abstracção; acta e acto, como acção ou activo; adopto, adoptas, como adoptar, afecto, como afectivo ou afectuoso, etc.


árctico e antárctico, como Arcturo; arquitecto, como arquitectura; caquéctico, como caquexia; carácter, como caracteres; colecta, como colectar; contracto, como contracção ou contractivo; correcto, como correcção ou correctivo; dialecto, como dialectal; didáctico, como didactismo, etc. - Mas não há que harmonizar: assunção com assumptivo; assunto, com assumpto, cativo com captor ou captura; dicionário com dicção; vitória com victrice, etc. Ou seja: O argumento de que é para abrir a vogal anterior não é a razão geral (é apenas uma das razões) que está no AO 1945. Como pudemos ver, a eliminação de consoantes mudas já existia antes do atual AO de 1990. Por exemplo, com este acordo, espectador passa a escrever-se espetador, mas continua-se a pronunciar com “e” aberto – “espétador”. Mas já existiam antes do AO de 1990 palavras homógrafas com diferentes pronúncias: pegada (pégada) - uma pegada na areia, pegada - a Maria está pegada com o vizinho; pregar (prégar) - vai pregar aos pagãos, pregar - vai pregar um prego. Em muitos casos, a abertura de uma vogal não era já graficamente marcada: velhote (vélhote), ceguinho (céguinho), regicídio (régicídio), calmaria (cálmaria), maquinista (máquinista). Enfim, depois de todas estas tentativas de acordo já chegamos a simplificações. Ainda faltam muitas outras que os vindouros certamente farão. Mas para já é de aplaudir o esforço feito. Não fiquemos na situação do irracionalismo religioso ou de tradição, ou de orgulhosamente sós e separação ou competição. Para bem de todos nós sejamos colaboracionistas e cooperantes. Na tabela seguinte podemos ver uma comparação de antes de 1911 com depois de 1990. E só temos que concluir que de facto, depois de um século de esforços, as coisas ficaram um pouco mais simples:

Ortografia antes de 1911

Ortografia atual (Acordo de 1990)

Acção Actividade Abbade Abstrahir Abysmo Acceder Accentuar Accomodar Accordar Accrescentar Accudir Accumular Accusar Acquisição Acto Addiar Adeante Adhesão Admittir Affagar Affastar Affeiçoar Affirmar Affligir Aggregar

Ação Atividade Abade Abstrair Abismo Aceder Acentuar Acomodar Acordar Acrescentar Acudir Acumular Acusar Aquisição Ato Adiar Adiante Adesão Admitir Afagar Afastar Afeiçoar Afirmar Afligir Agregar


Aldèa Alhèa Alli Alliança Allusão Alphabeto Alumno Analysar Anecdota Annel Annexo Anniversario Anno Annunciar Anonymo Antipathico Apathia Apoz Apparecer Apparelho Appellido Appendix Appetecer Appetite Applaudir Applicar Appoiar Apprehender Approvar Approximar Aquelle Archaismo Archeologo Architectura Arithmetica Arremetter Arripiar Aspecto Assignar Assignatura Assucar Assumpto Asthma Asylo Atheu Athletismo Athmosphera Atravez Atraz Atropellar Attenção Attender Attingir Attrahir Attribuir Aucthor Augmentar Autographo Azues Bahia

Aldeia Alheia Ali Aliança Alusão Alfabeto Aluno Analisar Anedota Anel Anexo Aniversário Ano Anunciar (pt europeu) (pt brasileiro) Anónimo , Anônimo Antipático Apatia Após Aparecer Aparelho Apelido Apêndice Apetecer Apetite Aplaudir Aplicar Apoiar Apreender Aprovar Aproximar Aquele Arcaísmo Arqueólogo Arquitetura Aritmética Arremeter Arrepiar Aspeto Assinar Assinatura Açúcar Assunto Asma Asilo Ateu Atletismo Atmosfera Através Atrás Atropelar Atenção Atender Atingir Atrair Atribuir Autor Aumentar Autógrafo Azuis Baía


Ballada Baptismo Belleza Bibliotheca Bocca Britannica Bronchite Burguez Cabelleira Cahir Cahos Callar Calligraphia Calumniador Camponez Çapato Cappella Castello Cathalogo Cathedral Catholicismo Cautella Cavallo Chammejante Charavella Chimica Chlorophylla Cholera Chronica Civilisação Christão Coherencia Collar Collecção Colonisação Columna Comprehensão Commercio Communicação Comtudo Craneo Creação Creança Cysne Dansa Deos Diccionário Differente Difficil Diphthongo Direcção (ainda vigente em PT) Ecclesiastico Edade Egreja Electricidade (ainda vigente em PT) Elle/Ella Epocha Escripta Escriptor Escriptorio

Balada Batismo Beleza Biblioteca Boca Britânica Bronquite Burguês Cabeleira Cair Caos Calar Caligrafia Caluniador Camponês Sapato Capela Castelo Catálogo Catedral Catolicismo Cautela Cavalo Chamejante Caravela Química Clorofila Cólera Crónica Civilização Cristão Coerência Colar Coleção Colonização Coluna Compreensão Comércio Comunicação Contudo Crânio Criação Criança Cisne Dança Deus Dicionário Diferente Difícil Ditongo Direção Eclesiástico Idade Igreja Eletricidade Ele/Ela Época Escrita Escritor Escritório


Escriptura Esphera Estadoal Exgottar Exhibição Exhuberante Expectaculo Falla Fructa Geographia Grammatica Guarany Gymnasio Hespanhol Hydraulico Hydrographia Hygiene Ichthyologia Idea Insecto (ainda vigente em Portugal) Immovel Indemne Instrucção Introducção Lyrio Lucta Keratose Kilometro Martyr Mathematica Melancholia Methodo Monarchia Mez Naphtha Objecto (Ainda vigente em PT) Occasião Officio Ophthalmologia Orthodoxia Orthographia Oxygenio Pae Paiz Pateo Patriarchalismo Phantasia Phantasma Pharmacia Phenomeno Philanthropia Philarmonica Philosophia Phorma Phosphoro Photographia Phrase Phthysica Physica Portuguez

Escritura Esfera Estadual Esgotar Exibição Exuberante Espetáculo (Em Portugal ainda se usa “Espectáculo”) Fala Fruta Geografia Gramática Guarani Ginásio Espanhol Hidráulico Hidrografia Higiene Ictiologia Ideia Inseto Imóvel Indene Instrução Introdução Lírio Luta Queratose (pt brasileiro) (pt europeu) Quilômetro , Quilómetro Mártir Matemática Melancolia Método Monarquia Mês Nafta Objeto Ocasião Ofício Oftalmologia Ortodoxia Ortografia (pt brasileiro) (pt europeu) Oxigênio , Oxigénio Pai País Pátio Patriarcalismo Fantasia Fantasma Farmácia (pt brasileiro) (pt europeu) Fenômeno , Fenómeno Filantropia Filarmônica Filosofia Forma Fósforo Fotografia Frase Tísica Física Português


Producto Prognathismo Prohibição Propheta Psalmo Psychologia Redacção (ainda vigente em PT) Rheumatismo Sacco Sahida Scena Sciencia Signal Successo Systema Technico Telegrapho Telephone Theatro Theorya Theologia Thesouro Thorax Triumpho Tupy Tyrannia Typo Typographia Victoria

Tregosa, junho de 2016 Carlos Rodrigues

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