Santa Clara de Assis: Discípula perfeita de São Francisco Sta. Clara de Assis (clarissas de Derio, Espanha)
Sua piedosa mãe, rezando diante de um crucifixo pelo bom êxito de sua entrada no mundo, ouviu uma voz que lhe disse: “Não temas, darás ao mundo uma luz que tornará mais clara a própria luz. Por isso, chamarás Clara à menina”. Veio ela à luz em 11 de julho de 1193. Seus pais eram de família nobre e cavalheiresca e donos de grande fortuna. Desde tenra infância, causava admiração por suas virtudes, gostava da oração e desprezava os bens deste mundo. Jovem de grande formosura, de cabelos dourados e traços puros, muito cedo consagrou a Deus sua virgindade, desejosa de entregar-se por inteiro à Beleza infinita. Aos 16 anos, ouviu diversas vezes as pregações de São Francisco. A exemplo de Nossa Senhora, Clara meditava em seu coração as palavras incisivas do jovem pregador e não tardou a compreender que estava chamada a imitá-lo na santa vida que ele levava. Resolveu, então, tudo abandonar para seguir aquela testemunha viva de Deus.
Sta. Clara de Assis (clarissas de Derio, Espanha)
Seus pais, porém, tinham outros planos… Começou então para ela uma árdua batalha de palavras e atitudes para convencê-los a aceitar uma decisão já tomada e irrevogável.
No domingo de Ramos de 1212, Clara se lançou numa aventura tão heroica que, a não ser inspirada pelo Espírito de Deus, faria tremer o mais audacioso dos Cruzados. Subtraindo-se à vigilância dos pais, acompanhada por uma parenta, foi ela confiar sua vocação ao bispo Guido, e seu porvir a um novo pai: São Francisco, o qual se tornou seu guia espiritual. Diante da imagem de Santa Maria dos Anjos, a jovem renunciou ao mundo por amor ao Menino Jesus, posto numa pobre manjedoura. Cobriu-se de uma túnica de lã e cingiu-se de uma corda, à maneira dos frades franciscanos, aos quais entregou suas luxuosas vestes. O próprio São Francisco cortou sua cabeleira de ouro, e ela cobriu a cabeça com um véu negro, calçou sandálias de madeira e pronunciou os votos. Inconformados, seu pai e alguns parentes quiseram arrancá-la à força do Convento. Ela se pôs junto do altar e retirou o véu negro, mostrando-lhes a cabeça raspada, sinal do seu definitivo adeus ao mundo. A inconformidade da família cresceu quando sua irmã Inês, por força das orações de Clara, foi juntar-se a ela. Doze homens fortes e bem armados, comandados pelo tio 1
Monaldo, receberam ordens do pai para trazer Inês de volta, ainda que por meios violentos. Diante daquela demonstração de força, as freiras de Santo Ângelo decidiram deixar a jovem partir. Esta, porém, disposta a tudo, reagiu tenazmente à pretensão paterna. Arrastada pelos cabelos por um dos esbirros e espancada com brutalidade, ela gritava, pedindo socorro a Clara. A Santa rezava, invocando ajuda de Deus. De súbito, o corpo da moça torna-se pesado e rígido como um compacto bloco de pedra. Os doze robustos homens esforçam-se por arrastá-la. Tomado de fúria, o tio tenta esmagar-lhe a cabeça com suas luvas de ferro, mas fica com o braço paralisado no ar. Clara, então, aproxima-se, toma sua irmã toda esfolada, semimorta, e a reconduz ao convento. Perplexos, os agentes da prepotência paterna se retiram. A partir deste fato, a família não mais pôs obstáculos à vocação das filhas. Anos depois, outra irmã, Beatriz, foi juntar-se a elas no Convento de Santo Ângelo. Finalmente, Santa Clara teve a consolação de ver sua mãe e muitas outras damas da cidade entrarem pela via de santificação aberta por ela, nas pegadas de São Francisco. São Francisco escreveu uma “Regra de Vida” para as freiras, que se resumia na prática da Pobreza Evangélica. Em 1215, obteve para elas a aprovação do Papa Inocêncio III. Nessa ocasião, Clara, por ordem expressa do Santo Fundador, aceitou o encargo de Abadessa. Estava fundada a Ordem das Clarissas. Com a morte do seu pai, Clara herdou uma grande fortuna, da qual nada reteve para o convento. Distribuiu-a totalmente aos pobres. O Papa Gregório IX procurou fazê-la aceitar para si e para o convento alguns bens temporais, argumentando que podia, para esse fim, desligá-la do voto de pobreza. Ela respondeu: “Santo Padre, desligai-me dos meus pecados, mas não da obrigação de seguir Jesus Cristo!”. Durante os últimos anos viveu de cama, doente. Levou uma vida de pobreza heroica e oração constante. Em seu leito de morte, teve a graça insigne de receber a visita do Papa Inocêncio IV, acompanhado de seus cardeais. Expirou dizendo: “Senhor, eu te glorifico por me teres criado”. Foi a 11 de agosto de 1253, aos 60 anos de idade. Seu corpo permanece intacto e está exposto na Igreja de santa Clara em Assis. Expirou dizendo: “Senhor, eu te glorifico por me teres criado”. SANTA CLARA (soneto de Dom Marcos Barbosa,ob) Clara, que das Clarissas foi a mãe, / iluminou Assis com São Francisco / que a transplantou da casa para o claustro, / tornando-a da Pobreza o próprio símbolo. Em vão os pais tentaram arrebatá-la /para salvar a honra da nobreza, / que por um burguês feito mendigo / fora roubada em seu maior tesouro. Porém voltaram todos cabisbaixos, / vendo-a, tirado o véu, sem os cabelos, / ouro que sobre o altar ela ofertara. Mas, no dia em que Assis é invadida, / Clara detém a tropa, erguendo o sol / do Corpo do Senhor por sobre os muros.
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