Annual report

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Economia circular para um futuro sustentável Como a forma de produção pode influenciar a sustentabilidade dos negócios

Carlos Ohde


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Sumário

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A Manufatura do futuro já começou a acontecer e ela tem potencial de reduzir o impacto no meio ambiente, criar empregos e riqueza ao mesmo tempo.

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O meio ambiente já não suporta a pressão dos métodos convencionais de produção

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As vantagens do novo modelo

Bom para o planeta e para a sociedade

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O caminho não é a conscientização universal, mas a criação de um novo ecossistema industrial guiada por líderes com visão e capacidade.

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Economia circular não é apenas reciclagem e o Brasil é um ótimo laboratório


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A Manufatura do futuro já começou a acontecer e ela tem potencial de reduzir o impacto no meio ambiente, criar empregos e riqueza ao mesmo tempo. Imagine um modelo de negócio capaz de reduzir a necessidade de extração de matéria prima, reduzir a quantidade de energia e água necessárias para produzir e, ao mesmo tempo criar empregos em diferentes níveis de capacitação. Isso já existe e tem grandes chances de se tornar o novo modelo global de produção e consumo. A Economia Circular é um conceito que ganha força a cada ano. O termo foi inicialmente usado na década de 80 para contrastar com o modelo de economia linear “extração-manufatura-uso-descarte”, em que a matéria prima é utilizada e descartada, sem preocupação com os impactos. No modelo circular existem ciclos de reutilização de produtos, peças e matéria prima. Razões para adotar uma forma diferente de produzir e consumir não faltam; estima-se hoje, que para atender a demanda atual de produtos e serviços sejam necessários cerca de 1,6 planetas terra. Ou seja, estamos usando uma espécie de cheque especial de recursos naturais. Não bastasse isso, até 2030 a população mundial deve crescer e cerca de 3 bilhões de pessoas deverão ingressar na classe média, passando a consumir produtos e serviços de uma forma mais intensa. Para expandir o mercado consumidor, sem alterar o modelo, seriam necessários 2 planetas.

*Em 2015, para atender a demanda atual da população mundial 2015

*Em 2030, para atender a demanda de uma população maior e com maior poder de compra 2015

Pessoas na classe média: 1,8 bilhão

É necessário 1,6 planetas Terra

Pessoas na classe média: 4,9 bilhão

Serão necessários 2 planetas se não alterarmos o modelo

Sob essa perspectiva, a mudança de modelo não é somente desejável, mas passa a ser indispensável para que empresas, governos e sociedade continuem a atender suas necessidades. *International Energy Outlook 2011”, EUA Energy Information Administration.‑


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O meio ambiente já não suporta a pressão dos métodos convencionais de produção O modelo convencional evoluiu a partir de premissas que consideravam matéria prima de baixo custo e abundante. Avanços nos processos de extração fizeram com que as commodities tivessem seus preços reduzidos ao longo do século passado. Já no início desse século a curva se inverteu e o valor das commodities passou por um aumento significativo mostrando tanto uma pressão pela maior demanda como a escassez de alguns recursos. O impacto ambiental é uma análise complexa que deve levar em conta não só o consumo de recursos, mas também a utilização de substâncias perigosas que afetem outros sistemas, como a poluição em rios, ar e destruição da camada de ozônio, entre outros problemas. O maior foco de atenção nos últimos anos tem sido a mudança climática, muito impactada pela emissão de gases de efeito estufa. Por sua vez, grande parte dessas emissões estão relacionadas com a produção de energia. De toda energia gerada globalmente, 82% vem de combustíveis fósseis, não renováveis e geradores de gases do efeito estufa.

Qual o impacto do atual sistema de produção? Existe alguma maneira de diminuir esse impacto?


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Estima-se que para a produção de bens de consumo, 75% da energia utilizada seja gasta na produção da matéria prima e apenas 25% para a manufatura*. Ou seja, reduzir a quantidade de matéria prima é uma ótima saída para reduzir os impactos.

Produção Industrial Extração de matéria prima

Manufatura

¾ da energia e emissões são gastas no preparo da matéria prima ... e ¾ dos empregos são gerados na indústria da manufatura A indústria da reciclagem tem evoluído significativamente, mas ainda faltam condições para que os materiais reciclados atinjam os requisitos técnicos de materiais virgens. Não é apenas uma questão de processo de reciclagem, mas principalmente de design de produtos e processos. *Dados da Ellen MacArthur Foundation – em sua publicação Towards the circular Economy/2013.

A cultura da economia linear tem raízes profundas em todas as camadas. Nossos processos de design de produtos, manufatura, fiscais, tributários, legais, financeiros e o próprio comportamento do consumidor evoluíram a partir das premissas de recursos infinitos. A mudança agora precisa acontecer em várias frentes para realizar seu grande potencial.

Modelo Linear

X

Modelo Circular Sinctronics

dos recursos naturais 1 Extração

1

Logística Reversa

2 Produção

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3 Uso

Produção

4 Descarte final

Uso


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As vantagens do novo modelo O modelo de economia circular defende a reutilização de produtos, peças e matérias primas, em ciclos contínuos, sem o descarte no meio ambiente. A primeira vantagem evidente é a criação de valor na economia. Produtos que eram descartados ou deixados de lado passam a ter um valor, seja por seu conteúdo de matéria prima, peças ou por suas características funcionais.

Reciclagem Remanufatura Reuso

Extração de matéria prima

Manufatura

Logística

Venda

Uso

Descarte

Logística Reversa

Voltando ao exemplo de uso de energia na produção, se diminuímos a necessidade de extração de matéria prima, diminuímos também parte dos 75% da energia que são gastos nessa fase produtiva. Com a economia de energia são reduzidas também as emissões de gases.

Quando tratamos da criação de empregos, a estimativa é invertida: 25% dos empregos são gerados na extração, enquanto 75% dos empregos são gerados na manufatura. O modelo circular pressupõe novas fases de manufatura, tais como a remanufatura o reparo e a reciclagem. São áreas de mão de obra intensiva e com grande potencial de criação de empregos. E aqui temos outro benefício claro, a criação de empregos em diversos níveis de capacitação.


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Bom para o planeta e para a sociedade Em nossa experiência com uma fábrica modelo de reciclagem criamos oportunidades desde operadores para a desmontagem de equipamentos até engenheiros altamente especializados em materiais. A criação de empregos é uma peça fundamental. Nenhum modelo se sustenta sem oferecer à sociedade condições básicas de renda, saúde, educação. Diferente da reciclagem tradicional, a economia circular pressupõe a utilização de tecnologia de ponta. Desde o seu conceito, os produtos precisam ser concebidos com a reutilização em mente. Além das tradicionais preocupações com design, características funcionais, qualidade e custos, agregam-se requisitos de uso de materiais reciclados, recicláveis, não perigosos, possibilidade de fácil desmontagem e reaproveitamento de peças e matéria prima. É o que se costuma chamar de design for environment e design for recycling. Esse modelo regenerativo pode parecer uma grande inovação para a indústria, mas é só olhar para o lado e perceber que ele existe há milênios. A natureza é regenerativa, não existe o conceito de lixo. As sobras de um sistema servem como input para outros, de maneira contínua e infinita. A árvore apodrecida é um nutriente para novas plantas que são nutrientes para organismos, que são nutrientes para outras formas de vida, e assim por diante. Além dos conceitos da economia circular, outras tecnologias surgem em paralelo com imenso potencial de redução de danos ao meio ambiente. Um dos grandes exemplos é a impressão em 3D que deve reduzir significativamente a quantidade de materiais utilizados na manufatura. O que surgiu como uma tecnologia com um nicho definido para a fabricação de protótipos e pequenas peças, hoje aponta como uma tendência irreversível na manufatura de equipamentos.


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O caminho não é a conscientização universal, mas a criação de um novo ecossistema industrial guiada por líderes com visão e capacidade. Em um mundo ideal, os consumidores, preocupados com o futuro, deveriam comprar usando critérios de sustentabilidade. No entanto, as análises sobre o que é mais sustentável são complexas até para especialistas e seria utópico embasar a mudança em uma consciência global de sustentabilidade. A saída é fazer com que as opções sustentáveis sejam também as mais vantajosas em termos de qualidade, custos e funcionalidades. Se o modelo circular é tão promissor, o que faz com que ele não seja implantado imediatamente? As raízes do modelo linear são profundas e vão desde o conceito dos produtos até a cultura dos consumidores, passando pelo processo produtivo e pelo arcabouço fiscal e tributário definido pelos governos em uma realidade diferente. Da mesma forma que o modelo atual permeia toda a sociedade, as inovações necessárias ao novo modelo necessitam do apoio de líderes em todas as áreas.


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Aos poucos, em cada camada da sociedade, surgem early adopters que puxam a fila. Profissionais da comunicação trazem à luz as necessidades de um mundo mais sustentável. Engenheiros e empreendedores despejam sua energia criativa em materiais, métodos e processos. Consumidores buscam por alternativas ao modelo convencional, líderes empresariais buscam maneiras de viabilizar os modelos sustentáveis em larga escala. E assim começa a se formar um ecossistema que tem o potencial de mudar a sociedade, cada um com sua função e importância, todos dependendo entre si. Um dos nosso clientes, a HP do Brasil, utiliza a tecnologia Sinctronics para transformar a matéria cartuchos de tinta descartados em matéria prima para peças de notebooks; impressoras descartadas em novas peças para novas impressoras e os exemplos são muitos, se analisarmos o contexto mundial e as diversas indústrias existentes. Há também, modelos de negócios promissores, tais como a venda de serviços ao invés de produtos. Esse modelo mantém a propriedade com o fabricante que automaticamente passa a se preocupar em estender a vida útil do produto mantendo uma qualidade superior ao invés de fabricar produtos que precisem ser substituídos em curto prazo. A economia circular tem o potencial de criar um mundo mais sustentável e ela precisa de líderes. Líderes em tecnologia, na indústria, na comunicação, no governo e entre os consumidores. Não precisamos convencer 100% da população para adotar critérios sustentáveis na compra de produtos, o que precisamos é transformar os produtos sustentáveis na melhor opção de compra. Poucas pessoas com visão sustentável e capacidade técnica, podem transformar os produtos sustentáveis também nas melhores opções para os consumidores.


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Economia circular não é apenas reciclagem e o Brasil é um ótimo laboratório A economia circular pressupõe o uso de alta tecnologia em todos os elos da cadeia de manufatura, cria inovações, oportunidades de negócios e empregos em diversos níveis de capacitação. É uma abordagem intensiva em mão de obra e com alto índice de formalização. As grandes empresas de manufatura seguem normas rígidas para segurança do trabalho, saúde ocupacional e meio ambiente. Para se ter uma ideia, em nossa fábrica modelo de reciclagem, observamos mais de 1.600 requisitos legais para garantir a operação dentro dos padrões nacionais e internacionais. Além dos direitos previstos em legislação, muitas das empresas de manufatura oferecem planos de carreira, capacitação e incentivos comuns em corporações multinacionais. A combinação de mão de obra intensiva, alta formalização, carga tributária e benefícios cria barreira de custos importante para o avanço da economia circular no Brasil. Essa realidade contrasta com a indústria tradicional de reciclagem, onde a presença da informalidade é bem maior, prejudicando a própria indústria formal. Por características históricas, o Brasil tem o privilégio de deter condições importantes para o desenvolvimento de modelos circulares. Temos aqui ao mesmo tempo um mercado consumidor forte, uma indústria de manufatura forte e uma legislação ambiental forte. Ou seja, os produtos consumidos tem facilidade para voltar ao ambiente de manufatura. Na maioria dos países desenvolvidos a manufatura local é desproporcionalmente menor que o mercado consumidor. Nesse caso, a maioria dos produtos precisaria de uma viagem intercontinental para voltar ao ambiente de manufatura. Essa vantagem, porém, não é permanente nem suficiente. Não é permanente porque outros países se movimentam rapidamente para modelos circulares. Não é suficiente porque o modelo circular não sobrevive submetido às condições fiscais e tributárias do modelo linear. Ainda assim, os benefícios da abordagem circular são evidentes para a sociedade e poderiam ter uma tratativa diferenciada em relação à tributação e burocracia. O desafio para que essa transição aconteça, antes de chegar à mudança de comportamento do consumidor final, está de destravar padrões burocráticos antigos para um modelo produtivo tão revolucionário e transformador. O papel da indústria é facilitar e promover este diálogo para que junto ao governo um caminho mais curto seja traçado e esse modelo de produção aconteça, em fim.   ¢


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