GROTESCO, TÃO GROTESCO...

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GROTESCO Tão Grotesco...

CRISTINA PAPE 2015


Sumário

1- Etimologia da palavra Grotesco 2- Origem e caminhos do estilo Grotesco 3- O Grotesco e suas transformações 3.1 – Grifo 4- Grotesco e arabescos 5 – É o Grotesco Maneirista? 6 – O Grotesco na WEB 7 – Romantismo, Grotesco e Sublime 8 – Imagens do Grotesco 8.1 – Pinturas 8.2- Realidade 8.3 – Teatro 8.4 – Cinema 8.5 – Artes visuais contemporânea


GROTESCO Tão grotesco...

“Nada mais grotesco do que dois americanos se congratulando por serem heterossexuais. Isto só acontece nos Estados Unidos. Nunca vi dois italianos se congratulando por gostarem de mulheres. Para eles, isso é normal.” Gore Vidal


1 - ETIMOLOGIA DA PALAVRA “GROTESCO” ê/ adjetivo substantivo masculino 1. 1. art.plást diz-se de ou cada um dos ornamentos que representam objetos, plantas, animais e seres humanos ou fantásticos, reunidos em cercaduras, medalhões e frisos que envolvem os painéis centrais de composições decorativas realizadas em estuques e especialmente em afrescos; brutesco, grutesco. 2. 2. p.ext. art.plást diz-se de, ou estilo artístico ou obra desenvolvida a partir de tais ornamentos.

2 – ORIGEM E CAMINHOS DO ESTILO GROTESCO Grotesco deriva do latim grotto que significa gruta galeria escura, ou pequena caverna. Grottesco ou grottesca é a palavra cunhada no Renascimento, século XV, para nomear os murais e afrescos descobertos no Domus Aurea, palácio onde viveu Nero, Imperador de Roma, durante escavações sob as Termas de Trajano ( fig 1). Inicialmente a palavra só se referia ao local, quase uma gruta, de fato, e aos poucos foi ganhando valor por causa das formas dos afrescos e tornou-se o que se entende como bizarro ou estranho.


Fig 1 – Ruínas da Domus Aurea, em Roma.

Fig 2 – Domus Aurea, interior Domus Aurea foi construída entre 64 – 68 a.C. no centro de Roma. Durante séculos a Domus Aurea ficou escondida sob várias construções erguidas após a morte de Nero. As paredes foram despojadas de todo o luxo que continha, como folheados a ouro, pedras semi-preciosas e marfim. Os afrescos que os romanos deixaram na Domus sobreviveram apesar da umidade a que foram expostos. Descobriu-se ali uma rica produção do quarto estilo de Pompéia, opulento e rebuscado. São inúmeros afrescos com figuras mitologicas e fantásticas, irreais junto com emaranhados de galhos, gavinhas, extremamente ornamentado, o que curiosamente espanta, porque o Renascimento italiano era bastante cheio de ornamentos e sequer havia um prenúncio do que depois seria o estilo Barroco, este sim, cheio de excessos, na Europa católica com sede em Roma. ( fig 3, 4 , 5 ). Causaram grande estranheza certamente nos circulos renascentistas ligados às artes em geral, porque os canônes estéticos eram muito diferentes. Tavez não se sabendo que termo usar para defini-los, trataram-os como grotescos, vindos de grottto, em italiano. O local , a situação geográfica e arquitetônica deram nome ao que no Renascimento tardio tornou-se um estilo nas artes, quase paralelo ao Maneirismo.


Há quem afirme ser o Maneirismo grotesco, mas o estilo Grotesco certamente não se propunha a ser maneirista. A proposta estética era muito diferente.

Fig 3. Domus Aurea - afresco


Fig 4. Domus Aurea. Afresco

Fig 5 – Afrescos nas paredes de Domus Aurea.


Imagens obtidas em: http://www.romewise.com/domus-aurea.html

Fig 6 – mapa das construções em Roma: Termas de Trajano e Domus Aurea de Nero.

3 - GROTESCO E SUAS TRANSFORMAÇÕES No século XV foram descobertas as ruínas do palácio de Nero, por conta de um acidente casual( um jovem caiu numa fenda sobre o palácio e quando foi resgatado, descobriram a construção). Naquela sociedade contemporanea a Nero, as deidades, os seres mitologicos faziam parte da vida dos habitantes e eram representadas em afrescos nas paredes. A explicação do mundo era plural np sentido que haviam vários deuses, que carregavam em si as características humanas e sobre humanas. São inúmeras figuras fantásticas nestes afrescos, misturando seres reais com outros mitológicos e dentre todas as figuras pesquisadas, escolhemos o Grifo, para conversar um pouco sobre a incorporação dos ornamentos


encontrados na Domus Aurea às artes a partir do Renascimento italiano e identificar as transformações que o termo grotesco carrega.

3.1 - GRIFO Grifo é uma criatura lendária com cabeça e asas de águia e corpo de leão. Faz seu ninho onde põe seus ovos de ouro. Sabe-se que segundo as lendas, possui senso de justiça apurado, valoriza as artes e a inteligência, e domina os céus e o ar. O Grifo falava sobre a justiça e sobre um ser difícil de ser domado e estava presente nas culturas dos Assírios, dos gregos, persas e dos romanos antigos, dentre tantos outros povos.

Fig 7- Grifo de palácio Assírio. C. 650 aC. Imagem obtida em: http://www.artehistoria.com/v2/contextos/225.htm


Fig 8 - Grifo c. Sec. XIV a.C.Descoberto em 1903 no sitio arqueológico de Hagia Triada, em Creta. Imagem obtida em : http://elpasiego.foroactivo.com/t40-bestiario-medieval


A presença do Grifo durante a Idade Média românica e gótica é vista em inúmeros capiteis de igrejas e catedrais além de serem representadas em várias iluminuras de ambos os períodos (figs 9 e 10).

Fig. 9 – Grifo num capital de igreja românica na Espanha. Imagem obtida em : https://mitologiahelenica.wordpress.com/category/outros/ A presença desta figura mitológica durante toda a Idade Média, desde 600 DC até o fim do Gótico parece ter sido bastante comum, ainda que a Igreja cristã fosse dominante, sem nos esquecermos entretanto de que a Europa sofreu várias invasões e esteve sob domínios de várias culturas. Afirmar que houve a permanência de signos e símbolos antigos nesta Europa medieval exige que se aprofunde a pesquisa. Considero interessante levantar as questões para pesquisas futuras.


Fig. 10- Grifo de uma iluminura românica. Imagem obtida em : http://iluminura.blogs.sapo.pt/31652.html


Fig 11- Grifo numa iluminura gótica.


Fig 12 – grifo numa iluminura gótica. Imagem obtida em : https://mitologiahelenica.wordpress.com/category/outros/

Mas se a imagem do grifo, um dos inúmeros exemplos que poderia citar, presente no cotidiano e principalmente dentro da Igreja, porque ele e outros seres foram considerados grotescos no contexto renascentista?

4 – GROTESCO E ARABESCOS Também sabemos hoje que o grotesco não se apoiava somente nas figuras mitológicas mas principalmente no emaranhado de formas vegetais com animais misturadas em arabescos. Chamou a atenção na época das escavações nas Termas de Trajano, o fato das figuras nos afrescos serem misturas de humanos com animais, o que não era comum na Itália renascentista, muito embora conhecidas, como sabemos. A presença de arabescos também foram considerados grotescos, talvez pelo excesso de floreio, mas se observarmos uma tela do renascimento de Rafael ( fig 13) como “ Ascenção de Cristo”, podemos


afirmar que ele foi , naquela tela, um pintor do grotesco. A estrutura da pintura é cheia de voltas e revoltas. Francamente, não há possibilidade de esgotar ou sequer aprofundar aqui o tema, mas certamente a partir das informações da história da arte ocidental, alguma coisa poderá fazer sentido. Vejamos.

Botticelli pode ser considerado grotesco em algumas pinturas e é vasto o número de artistas do Renascimento que em algum momento fizeram uma obra grotesca.

Fig. 13. Botticelli. Nascimento da Vênus. Sec. XIV


Fig 14 – Rafael Sanzio. Ascenção de Cristo. Sec. XV A composição desta pintura é associada às formas de construção pictóricas emcontradas no palácio de Nero.


Fig 15 - Baixo relevo de Michelangelo. Se houve um corte nas imagens produzidas, podemos no entanto afirmar que a aceitação do ornamento foi grande durante o Renascimento, vide este abixo relevo de Michelangelo. Um emaranhado sem começo e fim. Uma estrutura circular.


Fig 15- Pinturichio. Anunciação. Sec XV.


Em 1566 , Cornelius produzia desenhos e gravuras grotescas( fig. 16).

Fig 16- Litogravura de Cornelius. 1566

5 – É GROTESCO OU MANEIRISTA? No sec. XV foram considerados estranhos os desenhos da Domus Aurea, mas por outro lado, não teria esta descoberta assustadora aberto caminhos para saírem do rigor do Renascimento? Mais uma pergunta especulativa. Mais ainda depois, aos críticos do Maneirismo que viam aquele período histórico – o final do Renascimento- como a decadência e aberração dos cânones renascentistas. O termo grotesco passou a ser usado com significado pejorativo. Maneirismo = grotesco, mas esta lógica não diz que A = B; B= C, logo, A= C. As pinturas encontradas na Domus Aurea e a aceitação de que o Maneirismo era decadente para uma história que acreditava em ciclos, acabaram por impulsionar o surgimento de um novo estilo que se espalharia pelo restante da Europa, levando com ele a palavra grotesco como algo bizarro ou ridículo. O termo foi absorvido pelo francês (na época com a grafia crotesque) em 1526 e, no inglês (grotesque) por volta de 1560. Em português é usada a partir de 1548 aproximadamente. Grandes maneiristas eram Parmigianino e Bronzino. Suas pinturas faziam crítica ferrenha ao que o Renascimento cunhava como perfeito e portanto


receberam a alcunha de grotescas, pinturas de péssimo gosto ( fig 17), mas decerto estavam longe do groteco que mostramos em Rafael.

Fig 17 – Parmigianino. “ la Madonna del cullo longo”. 1534-40 A imagem de La Madonna del cullo longo carrega uma forte crítica ao Renascimento: o corpo da Madona é disforme, o pescoço extremamente longo, o anjo mostra as pernas em atitude sensual, há um aglomerado de figuras do lado esquerdo e o pergaminho está nas mãos de uma figura pequenina e quase sem notoriedade ao fundo do lado direito da cena. Uma enorme coluna talvez dórica, aludindo à Grecia e Roma, destaca-se sem sentido na cena, serindo talvez para acentuar o longo pescoço da Madonna. Grotesco poder-se-ia dizer que sim, uma vez que a perna sensual do anjo e o joelho da madona ocupam lugares de honra na cena, ou seja, o primeiro e o segundo planos. Esta construção jamais teria lugar no Renascimento italiano. Situamos então o surgimento da palavara grotesco no fim do Renascimento e durante o Maneirismo. Já havia se tornado comum e corrente esta nova palavra e novo significado. Não havia necessidade de criar seres estapafúrdios, meio homem, meio cavalo. O Maneirismo se encarregou de fornecer um solo rico e que Leonardo da Vinci também participau deste movimento em direção ao grotesco. O que podemos dizer é que as pinturas originais romanas da Domus Aurea ficaram lá atrás, no tempo e, agora o bizarro, o estranho e disforme eram colocados para o público ver. Mas o que este bizarro agora?


Nao mais os arabescos, não mais os seres plurais. Agora sim começa a aprecer o risível e a dúvida estética. É belo? Não é belo? O que é? Um caminho na direção do real? Mais dúvidas. No que consiste esse estilo a que se chama Grotesco? Poderia Leonardo da Vinci ser considerado um pintor grotesco? Sim, mas somente em parte de sua produção e ele contribuiu para a aceitação deste novo significado.

São figuras supostamente de pessoas comuns, entretanto risíveis pelos padrões estéticos da época.

Fig 18- Leonardo da Vinci executou desenhos chamados “ Cabeças grotescas”( fig 18 e 19).

O próprio ser humano já era portador do belo e do feio em si. O grotesco destaca a ambos na mesma figura.


Fig 19 – Leonardo da Vinci. Cabeças grotescas

Fig 20 – “ Parábola dos cegos”. Brueghel, o velho. C. 1560

Brueghel, com a pintura absurda do cego que guia outros cegos, mostra-nos elementos comuns aos teóricos do grotesco, como uma categoria que apresenta um hibridismo entre opostos, o riso desarticulado. Um cego guiando outros cegos só pode ser uma denúncia do absurdo a que pode chegar a vida em sociedade ou mesmo na individualidade. O destino é o abismo. Há neste momento um esboço sobre o coletivo e o individual.


Um cego guia outros cegos, um indivíduo guia um grupo tão iguais entre si e portadores das individualidades da cegueira.

Fig 21- Guisepe Arcimboldo, sec. XVI.

Alguns artistas do período renascentista, mas não exatamente representantes do estilo, usaram a mistura de elementos do cotidiano para criar figuras absurdas, tão absurdas quanto as imagens mitológicas. Um exemplo foi Arcimboldo e mais, trabalhava com as frutas e legumes da época da pintura. Seguindo a trilha de da Vinci, Quentin Massys pintou o célebre quadro “ A Duquesa feia” em 1515(fig 22). Senhora extremamente feia segundo os padrões de beleza naquela época e até hoje, podemos arriscar, mas que merecia ser imortalizada numa tela. Teria ela encomendado tal pintura, teria ele desfeito de sua cliente e pintado o que ela nunca quis mostrar?


Fig 22 – A Duquesa feia. 1515

Figuras estranhas, disformes, mas não mais seres fruto da mistura do leão com a águia, mas o homem que é belo e feio ao mesmo tempo. Figuras que podiam estar num gabinetes de curiosidades, misturadas a um crânio de homem ou um feto de bezerro com cinco pernas. Há um longo caminho entre as figuras dos afrescos da Domus Aurea até o que hoje entendemos como grotesco, mas o significado ficou fortalecido como bizarro, estranho, curioso, deformado. Durante o Barroco italiano, como exemplo, observamos o grotesco obvio. E depois que o Barroco se esgota nos países luteranos e calvinistas, o periodo Rocoó se encarregade produzir peças grotescas, sem sombra de dúvida. As porcelans alemães de Meissen são bons exemplos. O grotesco como tema , imagens e conteúdo. Orquestra de macacos, papagaios exótico nos ombros de homens e vasos absuradmente decorados com arabescos e a rocaille – concha em frances- e que é usada profusamente. Longe ficou o afresco da Domus Aurea e ao mesmo tempo, lembrado a cada estilo, seja pela presença graciosa ou pelo profundo mau gosto como a figura 23.


Fig 23 – Zurbarán.

No que diz respeito à historia da Arte, cronologicamente segue-se ao Rococó, o Neoclassicismo, quase numa tentativa de parar o mau gosto, e dizer que algo era grotesco naquela época era denunciar que este objeto não se coadunava com os valores de ordem, nobreza e clareza do período. Não se convivia com o grotesco à maneira do próprio Renascimento. Então, é neste caminho do Grifo pela História da Arte, a ponto dele sumir inclusive, que vamos passar a uma abordagem segundo a obra de Vitor Hugo, texto ícone para entendermos e aprofundarmos o que é o grotesco hoje. Assim esperamos.


6 - O GROTESCO NA WEB

“—Cuando yo uso una palabra —dijo (Humpty Dumpty) en un tono bastante desdeñoso— significa lo que yo decido que signifique, ni más ni menos. —La cuestión es —dijo Alicia— si usted puede hacer que las palabras signifiquen cosas tan diferentes —La cuestión es —dijo Humpty Dumpty— saber quién es el amo, eso es todo” Lewis Carrol, Alicia a través del espejo

“ O Inferno musical”. Bosch. Sec. XV

Procurando por imagens a fim de clarear algumas questões sobre o grotesco, também tive a grata surpresa de encontrar frases primorosas, que ouso reproduzir, mantendo o anonimato de seus autores.


Passa a responsabilidade a ser minha( nota da autora). “O grotesco é a fina arte das esdrúxulas misturas.” “O grotesco é experimentado no sentimento como algo cômico, que muitas vezes causa riso, ou como algo estranho que amedronta e repugna. ”

Com a Ascenção do Neoclassicismo na Europa, ao final do século XVIII, o grotesco passou a ser um termo depreciativo, indesejado, desprezível, quase uma ofensa estética. É com o Romantismo no século XIX, que o grotesco volta a ser apreciado, embora com uma conotação um tanto diferente do original Renascentista. Um exemplo é o livro "Frankenstein" (Frankenstein: or the Modern Prometheus), de 1816, da autora Mary Shelley, que narra a tentativa de um cientista em produzir a vida a partir da junção de várias partes de cadáveres. É uma estória de terror, com um fundamento estético grotesco.

7 – ROMANTISMO, GROTESCO E SUBLIME “A fusão entre o grotesco e o sublime é uma das características importantes do Romantismo. “ “No pensamento dos Modernos, o grotesco tem um papel imenso. Aí está por toda a parte; de um lado cria o disforme e o horrível; do outro, o cômico e o bufo. Põe em redor da religião mil superstições originais, ao redor da poesia, mil imaginações pitorescas. É ele que semeia, a mancheias, no ar, na água, na terra, no fogo, estas miríades de seres intermediários que encontramos bem vivos nas tradições populares da Idade Média; é ele que faz girar na sombra a ronda pavorosa do sabá, ele ainda que dá a Satã os cornos, os pés de bode, as asas de morcego.”1( HUGO, Victor. Do Grotesco e do Sublime. p.p. 30-31)

Ao que chamamos de grotesco, já presente em Rafael Sanzio, no sec. XVI, com misturas entre reinos ( animal, vegetal e mineral), agora no Romantismo existe um uso acentuado do mundo obscuro e sinistro ( peixes com pernas, expressões da dor humana, vegetais com ramos em formato de dedos humanos ou animais, etc), mas o que este grotesco nos mostra e 1

HUGO, Victor. Do Grotesco e do Sublime. p.p. 30-31


denuncia é a impossibilidade de separação entre os limites das figuras, na própria figura, como o homem e o animal, o objeto e o homem e principalmente, a impossibilidade de definição clara do que é real e o que é fantástico. Esta representação da realidade provoca no observador sentimentos de angustia diante da alteração das ordenações antes conhecidas e definidas. Existe uma diferença fundamental entre o grotesco e o cômico. Este anula a grandeza e a dignidade da realidade, mas sem colocá-la em dúvida. Ao observador é dada a oportunidade de vivenciar sentimentos de superioridade diante do apresentado ou mais, de cumplicidade com aquele que faz o jogo. Entretanto, o grotesco tira do observador toda a certeza porque juntos são apresentados o cômico e o trágico. Não há mais terreno seguro onde se situar, não há mais trilhas po onde passar em segurança de parâmetros, impedindo-o de rir ou chorar sem remorsos. O riso é angustiado e a dor poderá lhe parecer piegas. Por outro lado, o criador do grotesco destroi as categorias de orientação do mundo: a ordem da natureza já não é clara, o objeto tem seu siginificado alterado, o conceito de personalidade é questionado, a orden histórica do mundo é uma orden própria, altera a noção das leis físicas e por fim, das leis estéticas. Perde-se a noção do que é belo/ feio e do que é comico/trágico Nesta realidade alterada, o criador do grotesco, quando alcança seu objetivo apresenta-nos uma posição outra diante da realidade: seu compromisso come la nos diz que é impossível um mundo harmonico.

O grotesco confunde-nos. Ele foi criado para confundir. Ele denuncia. Ele não é maneirista.


“ A bela fera” Kris Kuksi (contemporáneo)

Durante o Romantismo o teatro combina o deformado com o sublime. Vitor Hugo ( sec XIX) afirma que o grotesco é a parte material do homem e o sublime é a alma. Na verdade há uma separação de entre corpo e alma. O grotesco é a possibilidade de fundir a aparencia do homem que vive em sociedade com o ser que o habita por dentro. É fundir, sobrepor rosto e máscara na imagen, mas é neste momento que o conflito se establece: A máscara de escrevente, funcionario, médico, esposo ou amante aparece de vez em quando no ser humano covarde, humilhado, soberbo, hipócrita, cínico. Eis a esencia do teatro grotesco.

As figuras mitológicas forma substitutidas por um só deus, dual formado pelo corpo e alma e este foi um “ pulo “ importante na representação do que podia ser considrado feio e ao mesmo tempo portador de beleza. Provavelmente , com origem nas pinturas protocristãs, o corpo fugidio e a alma que se salvaria com o sofrimento da carne. Nada mais adequado do que esta máxima para dar aos cristãos insurgentes no Oriente Médio a força para conseguir fazer frente ao domínio romano. Ano zero, Cristo e cristãos nas catacumbas e em Roma, causando perdas para a economia do Imperio Romano. Constantino adota a doutrina cristã como oficial em seu império e assim, aos poucos, o que havia na Domus Aurea vai sendo substituido por figuras do Bom Pastor, da liturgia cristã. O paganismo romano dá lugar ao cristianismo.


Onde podemos encontrar este ser piedoso ?

Existirá este ser humano? Aparentemente a arte chamada de grotesca a partir do sec XV, buscou na hipocrisia dos primeiros anos depois de Cristo sua base. Onde habita este ser que carrega em seus ombros o peso dos homens?


Onde encontramos o homeme que tem ao seu redor outras ovelhas desagrradas. Mas, segundo Lewis Caroll, quem manda? Tudo depende de quem dá as ordens.

Nas catacubas romanas grassam afrescos toscos relatando a epopéia de Cristo, uma vida dedicada à política sob o manto do Bom Senhor.


Sobre o que falamos aqui então? Sobre poder e riquezas. Domínio. A base da doutrina cristã é grotesca, ouso afirmar, a partir de minhas leituras. O Romantismo trouxe à tona o que estava mascarado, aliás, bom exemplo para o tema. Junto ao dinheiro, pelo excesso ou falta, estão todos os comportamentos e atitudes humanas.

En cuanto a la construcción dramática, el grotesco está construido de manera similar al de la tragedia griega. Cuando comienza la intriga, estamos a un paso del desenlace. Y esto es posible pues la acción ha comenzado mucho tiempo atrás y sólo asistimos a la agonía final del “héroe”. Generalmente, un hecho exterior al personaje, sirve como resorte que hace saltar la intriga hacia el desenlace. Si bien el héroe intenta, en el nivel de la intriga, escapar a su destino, la situación es irreparable, pues la disolución familiar, el fracaso, el cansancio, han ido carcomiéndolo poco a poco. Esta inevitabilidad del destino vuelve más trágica su agonía final. ( ESPONDA, 2011)

Os personagens são geralmente nomeados por seus ofícios, como na peça “ Los cornos de don Friollera” ( ICLÁN) e assim há um vinculo estreito entre o personagem e o ser humano, mesclando e confundidndo a individualidade com o papel social. O desejo do indivíduo trocado pelo seu papel social. Acredito que é uma constante esta mescla de papéis até hoje, a exemplo do profesor, figura que aparentemente deve exercer quase um celibato e ter postura pré estabelecida. O mesmo se dá com um médico ou pessoas com importantes papéis sociais. Mas, sem esta postura, como regular uma sociedade de massas formada por pessoas cheias de individualidades? Um paradoxo certamente. Os conflitos estão presentes em cada mínimo detalhe, a cada dia de nossas vidas. Mas a massificação e o papel social também acaba por tirar do indivíduo sua responsablidade, que nunca deveria deixar de existir , porque ele debe fazer escolhas o tempo todo.


Tão comum hoje, numa loja de venda de qualqeur produto de consumo básico, se alguma coisa não funciona, o funcionario dizer imediatamente ao ser questionado: “a culpa não é minha. É da empresa. É do sistema”, sendo este entendido por ele como um simples computador e sem saber que fala uma grande verdade. A culpa é de fato do Sistema. São cenas do nosso grotesco diários e que podem ser transpostas para qualquer linguagem que não seja a simples e confusa realidade em que vivemos.

Bonecos de cordas manejados pelo ser que manda.

8 – IMAGENS DO GROTESCO O grotesco se caracteriza pela mistura e pela indeterminação de limites entre mundos. A pintura, escultura, instalações hoje são talvez em sua maioria grotescos sem se darem conta. Por esta linha de pensamento podemos dizer que se abre uma outra vertente de pesquisas e indagações, então apresento imagens que falam por si, desde o Romantismo até os dias contemporâneos, cronologicamente. Imagens de Goya, de Hogarth, Gabriel Cornellius von Marx, Goya e outros romanticos, seguindo-se imagens fotográficas de autoria anônima, cenas de filmes e peças teatrais, fechando provisoriamente com obras de artes visuais do sec. XXI.


8.1 - PINTURA






8.2 – REALIDADE E SHOW

O quê mais precisa ser dito? Imagens falam mesmo que com suas autorias perdidas ou esquecidas. Aqui reporto-me a Kurt Vonnengut, que irreverente, cria também suas histórias.


Menina com rara doença, que foi transformada em atração de um teatro de realidades e curiosidades.




Se o ser humano assiste a esta realidade como espetáculo, nada melhor do que o espetáculo em si, denunciando nossos paradoxos diários.


8.3 – TEATRO GROTESCO

VIVIANI, Raffaelle. Circo Equestre ( 1922 ) montagem de 2011.




8.4 – CINEMA : CENAS.

O absurdo

O sutil


O óbvio

O grotesco óbvio


Quase porco, quase gente.


8.5 – ARTES VISUAIS CONTEMPORANEA

Nas artes visuais não faltam artistas contemporâneos trabalhando com o grotesco, atacando o Sistema ou romanticamente falando, inserindo-se nele. Cabe a cada um a crítica.


COOK, Monica. Sem titulo. 2011-12


SALVADOV, Arsen. Horrible. 2014


BACON. Figura com Carne. 1954

O que nos mata é o que nos é empurrado garganta a baixo.


Observação: Faltaram as referências bibliográficas, mas confesso que fiquei tão animada com a proposta e o desenvolvimento do trabalho que me perdi. O que me cativou pode ser a minha perdição. Paradoxo.


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