POEMA
MARÍLIA, NOS TEUS OLHOS BULIÇOSOS Manuel Maria Barbosa du Bocage (1765-1805)
Ficha Técnica Título: Marília, nos teus olhos buliçosos
Autor: Cristiana Valente Raquel Turma: 10º CTLH Data: 19 de junho 2020 Obra: Sonetos Autor: Manuel Maria Barbosa du Bocage
Professor: José Manuel Brás Ferreira Disciplina: Literatura Portuguesa Escola: Agrupamento de Escolas Dr. Ramiro Salgado Local: Torre de Moncorvo
Manuel Maria Barbosa du Bocage (1765-1805)
https://pt.wikipedia.org/wiki/Manuel_Maria_Barbosa_du_Bocage#/media/Ficheiro:Manuel_Maria_Barbosa_du_Bocage.jpg
índice 1. Tema e assunto do soneto………………………………………………………………………….8 2. Estrutura Interna do Soneto……………………………………………………………10-11-12-13 3. Interlocutor do Sujeito Poético e Estrutura Sintática em que surge………………………14 4. Retrato da Mulher………………………………………………………………………………......15
5. Relação entre o Espaço e o Estado de Espírito/Sentimentos do Sujeito Poético…......16 6. Efeitos de sentido produzidos pelas referências Mitológicas………………………………17 7. Importância do Último Terceto na Compreensão do Sentido Global do Texto……….18 8. Recursos Estilísticos ao Serviço do Desenvolvimento do Tema e Respetiva Expressividade……………………………………………………………………………………….19 9. Influências Clássicas e Pré-Românticas…………………………………………………….......20 10. Conclusão……………………………………………………………………………………………21
Bibliografia………………………………………………………………………………………………..22
http://letradosueg.blogspot.com/2016/01/poesia-de-bocage.html
POEMA Marília, nos teus olhos buliçosos Os Amores gentis seu facho acendem; A teus lábios, voando, os ares fendem Terníssimos desejos sequiosos. Teus cabelos subtis e luminosos Mil vistas cegam, mil vontades prendem; E em arte aos de Minerva se não rendem
Teus alvos, curtos dedos melindrosos. Reside em teus costumes a candura, Mora a firmeza no teu peito amante, A razão com teus risos se mistura. És dos Céus o composto mais brilhante; Deram-se as mãos Virtude e Formosura, Para criar tua alma e teu semblante.
Monumento de Bocage em SetĂşbal (estĂĄtua) https://pt.wikipedia.org/wiki/Manuel_Maria_Barbosa_du_Bocage#/media/Ficheiro:Barbosa_Setubal.jpg
1. Tema e Assunto do Soneto
Tema: Exaltação da mulher - Amor
Assunto: Bocage inspira-se na mulher amada, Marília, para exaltar a sua beleza e exprimir o seu amor.
2. Estrutura Interna do Soneto Marília, nos teus olhos buliçosos Os Amores gentis seu facho acendem, A teus lábios, voando, os ares fendem Terníssimos desejos sequiosos. Primeira estrofe constituída pela primeira quadra. Os dois primeiros versos remetem para a expressividade a que os olhos estão habitualmente associados, daí que se diga que são “o espelho da alma”. Os olhos adquirem um papel principal no processo de enamoramento, tal como estes versos deixam desde logo antever. A ideia de que o amor e o desejo carnal penetra no indivíduo através dos olhos está aqui patente.
Nos outros versos Bocage implora desejoso pelos lábios da sua amada.
Teus cabelos subtis e luminosos Mil vistas cegam, mil vontades prendem; E em arte aos de Minerva se não rendem Teus alvos, curtos dedos melindrosos.
Segunda estrofe constituída pela segunda quadra. Nos dois primeiros versos destaca-se o brilho que caracteriza os cabelos, bem como o facto de se assemelharem a correntes de amor que, apesar de subtis, prendem “mil
vontades”. Nos outros versos Bocage alude à deusa Minerva como forma de superiorizar Marília.
Reside em teus costumes a candura, Mora a firmeza no teu peito amante, A razão com teus risos se mistura.
Terceira estrofe constituída pelo primeiro terceto.
Bocage após proceder à caracterização física de Marília detém-se na psicológica. Exalta a candura, a razão e a firmeza que mora no seu “peito amante”, dando pois a entender que se trata de uma pessoa constante e fiel, o que vem contrastar com a imagem da mulher volúvel e traidora, que transmite em tantos outros passos dos seus poemas.
Marília mistura os risos de pureza e de amante.
És dos Céus o composto mais brilhante; Deram-se as mãos Virtude e Formosura, Para criar tua alma e teu semblante. Quarta estrofe constituída pelo último terceto.
O sujeito poético sublinha a ideia de perfeição e excelência dada pelo termo “composto”, utilizado uma única vez com este significado, referido a Marília, “És dos Céus o composto mais brilhante” Os outros versos, correspondentes à última estrofe do soneto, funcionam como uma síntese das qualidades anteriormente enumeradas: as físicas (olhos, lábios, cabelos, dedos), apontadas nas quadras, e as morais (candura, firmeza, razão), no primeiro terceto.
Termina assim a composição com o entrelaçamento da “Virtude e Formosura”, originando, pois, o “composto mais brilhante”, designando, muito provavelmente, o Sol.
3. Interlocutor do Sujeito Poético e Estrutura Sintática em que surge
◦ Interlocutor do Sujeito Poético – Marília ◦ Estrutura Sintática em que surge – Surge em forma de vocativo que foi o termo pelo qual Bocage escolheu interpelar a sua amada.
4. Retrato da Mulher
◦ Bocage compara a mulher amada com uma criação dos deuses, é a mulher mais pura, mais bela, a mais cobiçada, aquela que tem uns belos olhos irrequietos, uns lábios desejados, uns cabelos luminosos e belos e umas mãos brancas e puras. ◦ Mulher virtuosa, angelical e ao mesmo tempo sedutora.
5. Relação entre o Espaço e o Estado de Espírito/Sentimentos do Sujeito Poético
◦ O sujeito poético sente desejo e amor e por isso está alegre, logo a natureza onde o sol brilha e o céu está limpo estão em harmonia (locus amoenus).
6. Efeitos de sentido produzidos pelas referências Mitológicas
Bocage invocou Minerva, deusa greco-romana da poesia para enaltecer a amada comparando-a / superiorizando-a em relação a esta Deusa. As Deusas eram consideradas perfeitas e inalcançáveis, mas Marília era superior a Minerva. Marília é encarada como um ser frágil, doce e delicado, esplêndido e resplandecente, de qualidades e dons excecionais, o que a torna muito superior às heroínas ou até às próprias divindades da mitologia. Por este motivo, Bocage não se poupa a esforços para enaltecer aquelas que são a sua luz e que por isso constituem a razão da sua existência, recorrendo a adjetivações que engrandecem os seus atributos físicos, comparando-as com deusas e heroínas míticas, mas colocando-as sempre num patamar superior, de tal modo que são as divindades que, por vezes, reverenciam as amadas do poeta.
7. Importância do Último Terceto na Compreensão do Sentido Global do Texto
O último terceto é a síntese conclusiva de todo o poema pois é onde Bocage exalta com maior eloquência os atributos físicos e psicológicos da sua amada e que foi descrevendo ao longo do poema. Compara-a ao “composto mais brilhante”, ao sol, à luz, ao brilho que ilumina a vida dos poetas e ao entrelaçamento entre a “virtude e a formusura”, entre o psicológico e o físico que em Marília são por excelência qualidades superiores que “criam a sua alma e
o seu semblante”, que a fazem ser como ela é. É a chave de ouro ou chave do soneto dedicado à sua amada Marília, o culminar de
todos os elogios e sentimentos.
8. Recursos Estilísticos ao Serviço do Desenvolvimento do Tema e Respetiva Expressividade ◦ Antítese – “Resiste em teus costumes a candura” v.9 “Mora a firmeza no teu peito amante” v.10
Bocage utilizou a antítese para realçar o contraste entre a pureza e o desejo. ◦ Apóstrofe – “Marília, nos teus olhos buliçosos” v.1 O sujeito poético utilizou a apóstrofe para interpelar Marília no seu soneto. ◦ Dupla Adjetivação – “Terníssimos desejos sequiosos” v.4 O poeta utiliza esta dupla adjetivação para informar melhor o leitor sobre os desejos da amada. ◦ Metáfora – “Mil vistas cegam, mil vontades prendem” v.6
“Tens alvos curtos dedos melindrosos” v.8 “És dos Céus o composto mais brilhante” v.12 Bocage escreve de forma indireta vários atributos à sua amada. ◦ Hipérbole – “És dos Céus o composto mais brilhante” v.12 Bocage recorre à hipérbole para enaltecer de forma exagerada a beleza que Marília possuía.
9. Influências Clássicas e Pré-Românticas O poeta Bocage é considerado um pré-romântico. Ainda, influenciado pela cultura clássica, principalmente por Camões, no período conturbado de transição do séc. XVIII, ele coloca nos seus versos sentimentos que exprime com veemência e o liberta das amarras da razão. A dualidade entre sentimento e razão é uma constante na obra de Bocage. É o contraste entre a exuberância do amor e a contenção e frieza racional do iluminismo. Neste soneto estão bem patentes as suas influências pré-românticas na personagem de
Marília que era vista como um ser angelical, mas ao mesmo tempo sedutora e onde o sujeito poético exprime com intensidade os seus sentimentos e a exaltação à sua amada.
10. CONCLUSÃO Bocage é dos poetas portugueses um dos mais reconhecidos pela sua poesia satírica e lírica, onde abordava temas proibidos, como o erotismo, a política, a hipocrisia, a
corrução, a sedução e os amores. Este poema é dedicado à uma das amadas de Bocage por quem o poeta se
enamorou. Marília é talvez o pseudónimo de Maria Margarida Rita Constâncio Alves, sendo apontada como uma das maiores paixões do poeta.
BIBLIOGRAFIA
BOCAGE, Manuel Maria Barbosa Du. Sonetos. Lisboa, Publicações Europa-América. 1999 WIKIPÉDIA. Bocage. 2020. em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Manuel_Maria_Barbosa_du_Bocage PRÉ-ROMANTISMO. 2018. em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Pr%C3%A9-Romantismo
https://www.calendarios.info/bocage-morreu-no-dia-21-12-1805-em-lisboa/