Metamorfose de Kafka

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A METAMORFOSE DE KAFKA


Ficha Técnica Título: A metamorfose de Kafka Autor: Cristiana Valente Raquel Turma: 10º CTLH Data: 11 de dezembro 2019 Obra: Metamorfose Autor: Franz Kafka

Professor: José Manuel Brás Ferreira Disciplina: Literatura Portuguesa Escola: Agrupamento de Escolas Dr. Ramiro Salgado Local: Torre de Moncorvo



Índice 1. Introdução……………………………………………………………………………………………………………….………………………..6 2. Franz Kafka………..…………………………………………………………………………………………………..………………………….8 3. Metamorfose………………………………………………………..………………………………………………………….……….…….10 4. Narrador – 5. Espaço – 6. Tempo………..…………………….……………………………………………………………………..12 7. Personagens…………….…………………………………………………………………………….…………………………………...….13 8. Obra……………………………………………………………..……………………………………………………………..……..…………..14 9. As metamorfoses……………………………………………………………….…………………………….……………………………..38

10. A metamorfose de Gregor………………………………..……………………………………………………….…………………..40 11. A metamorfose da família…………………………………..………………………………………………………….……………..42 12. A metamorfose da casa……………………………………………………………………………………………………………….…43 13. A divisão da história……………………………………………..……………………………………………………………….……...45

14. O real peso das mudanças…………………………………………………………….…………………………………….……..…46 15. Conclusão…………………………………………………………………………………..…………….…………………………………..52 16. Opinião………………………………………………………………………………………………………………………………………...55 Bibliografia…………………………………………………………………………………………………………………………………….…..58


https://pt.wikipedia.org/wiki/A_Metamorfose


1. INTRODUÇÃO

A personagem principal desta história é Gregório, um homem comum, um trabalhador,

como muitos, em um labor que não satisfazia a sua felicidade, mas que muito servia para ajudar a sua

família que certo dia se transformou num inseto gigante. É o homem despido da sua humanidade. É a reflexão sobre a hipocrisia e as várias máscaras usadas pelo ser humano.


https://geekness.com.br/antofagica-traz-um-novo-olhar-sobre-a-metamorfose-de-kafka/


2. Franz Kafka Nasceu em 1883, em Praga (Império Austro-Húngaro), numa família da média burguesia judia de expressão alemã. Tendo concluído os estudos jurídicos com o título de Doutor em Direito em 1906, começou dois

anos

depois

a

revelar

os

seus

primeiros

textos

em

revistas

literárias. Publicou em vida sete pequenos livros, três deles antologias de textos e contos. A 3 de junho de 1924, não resistindo à tuberculose que havia contraído

em

1917,

morreu

num

sanatório

em

Kierling,

a

poucos

quilómetros de Viena, deixando três romances fragmentários que seriam publicados postumamente pelo seu amigo e testamenteiro Max Brod: O

Processo (1925), O Castelo (1926) e América (1927). A sua obra, centrada no homem solitário moderno, refém de uma vida absurda, tornar-se-ia uma das mais influentes do mundo literário do século XX.


https://pt.wikipedia.org/wiki/Franz_Kafka


3. Metamorfose A Metamorfose é a obra de referência de Franz Kafka. Apesar do texto ter sido feito em 1912 e concluído em apenas 20 dias, ele só foi publicado no ano de 1915. Note-se que a obra foi escrita dois anos antes do inicio da 1ª Guerra Mundial num ambiente de crises existenciais, religiosas, sociais e politicas. A novela foi escrita originalmente em alemão e conta a história do caixeiroviajante Gregor, que um dia acorda metamorfoseado num enorme inseto. No início de 1912, Kafka havia escrito à esposa Felice Bauer contando que a inspiração para a história veio num dia qualquer, quando ele estava deitado tranquilamente em sua cama, apenas pensando em coisas aleatórias. Naquele momento ocioso foi que Gregor Samsa, o protagonista, materializou-se em sua mente.



4. NARRADOR Omnisciente – A ligação do narrador ao protagonista perdura até

ao momento da

morte deste, quando o narrador se desprende de Gregor e passa o enfoque para a sua família.

5. ESPAÇO A maior parte da história passa-se no quarto de Gregor.

6. TEMPO A contagem do tempo é feito em horas, dias, semanas, mas nunca é dada uma data precisa. A época da história não é possível de estabelecer.


7. PERSONAGENS •

Gregor Samsa: É o protagonista, o epicentro, aquele que tem a sua conduta alterada no decorrer da história. Um caixeiro viajante que trabalha ininterruptamente, não tem muitos amigos. Pressionado pelo emprego, apenas se mantém no cargo porque é o único que pode sustentar a família. No inicio, transforma-se num inseto monstruoso, por conta disso passa por diversos problemas como a rejeição da sua família.

Grete Samsa: Irmã de Gregor, uma jovem dócil que não sofre de preconceitos. Esta é a única que tem uma relação direta com ele, mesmo após a sua transformação. Adorava violino e tocava muito bem, mas a família não tinha dinheiro para pagar os seus estudos. Durante a metamorfose ela tem um emprego de vendedora.

Sr. Samsa: Pai de Gregor. Recusava e odiava o seu filho em forma de inseto. Era muito preconceituoso e não trabalhava pois tinha problemas na coluna.

Sra. Samsa: Mãe de Gregor. Tinha nojo do seu filho em forma de inseto mas continuava a ama-lo.

Os três inquilinos: Alugam um quarto na casa dos Samsa após a transformação de Gregor.

Gerente do escritório: Chantageava Gregor por causa da dívida da família, obrigando-o a trabalhar loucamente.

Empregada: Interagia poucas vezes com Gregor, menosprezava-o. Foi quem descobriu que Gregor havia morrido.


8. OBRA Gregor é um caixeiro-viajante, que não gosta do seu trabalho e muito menos do seu chefe. No entanto, uma dívida da família obriga-o a manter o trabalho e sustentar os seus pais e a sua irmã mais nova. Até que um dia Gregor acorda atrasado para apanhar o comboio e vê-se metamorfoseado num inseto gigante. A sua primeira preocupação não é o facto de se ter transformado num animal repugnante, mas sim de estar atrasado para o trabalho e não conseguir sair da cama devido à sua nova forma. A sua luta para se levantar é angustiante e torna-se ainda pior quando o gerente da firma vai até sua casa por causa do atraso. O que se segue é a luta de Gregor para acalmar o gerente e a sua família, enquanto se tenta levantar da cama e abrir a porta do quarto. A preocupação da sua família é um misto de considerações sobre a sua saúde e uma tensão que envolve a presença do gerente e a ameaça de Gregor perder o emprego. Mesmo sendo um inseto gigante, Gregor não se preocupa muito com o que se transformou, mas em convencer o gerente de que está tudo bem. Ele tenta convencer a todos que sofreu um pequeno contratempo, mas que agora já está pronto para ir trabalhar. Nesse meio-tempo a sua voz transforma-se em ruídos.


Sem se conseguir comunicar com Gregor, a família fica ainda mais preocupada e chama um médico e um marceneiro para destrancar o quarto. Antes mesmo da chegada da ajuda, Gregor consegue abrir a porta e vai logo de encontro ao gerente para dar uma explicação sobre o seu atraso sem se importar com a sua estranha aparência. A visão de Gregor assusta a todos, o gerente foge devagar, sua mãe quase desmaia. O único que toma alguma atitude é seu pai que, sacudindo uma bengala, expulsa Gregor de volta para o quarto. A vida de Gregor passa a ser no quarto, sua irmã alimenta-o e mantém o quarto limpo por algum tempo. No começo ele distrai-se ouvindo a conversa da família, que quase sempre fala sobre ele ou a situação financeira. Este é um tema que o preocupa muito e ele só se acalma quando descobre que o pai ainda tem alguma reserva de dinheiro. Toda a família que antes era sustentada por Gregor começa a trabalhar. Com o tempo, Gregor aprende a andar melhor com as suas novas "pernas finas" e começa a ziguezaguear pelo quarto. Andar pelas paredes e pelo teto passa ser uma das atividades prediletas dele. A irmã repara nisso pois por mais que ele fique escondido quando ela entra no quarto, consegue perceber os "passeios" do irmão por conta do rastro que ele deixa no caminho.


Ela resolve retirar os móveis do quarto de Gregor para que ele possa andar mais livremente. Como os móveis são pesados, ela precisa do auxílio de sua mãe. Gregor fica ansioso com a movimentação no quarto. Retirar os móveis era acabar com o seu resto de humanidade. Ele tenta, então, intervir e sua mãe fica chocada e desmaia com a visão. Ela ainda não tinha visto seu filho após a metamorfose. O pai de Gregor chega a casa e, diante da cena, avança sobre Gregor para o fazer voltar ao quarto. Gregor retorna ao quarto ferido com uma maçã alojada nas suas costas. Com poucos recursos financeiros, a família resolve alugar um dos quartos. Três inquilinos passam a

morar na casa e a "dominar" o ambiente doméstico. Um dia, os inquilinos escutam a irmã de Gregor praticando violino na cozinha e pedem para ela tocar na sala de estar. Nesse mesmo dia a porta do quarto de Gregor ficou aberta e, atraído pela música, ele caminha para a sala de estar, onde os inquilinos o avistam. Eles rompem o contrato de aluguer e ameaçam processar a família. A irmã de Gregor, que até então tentava protegê-lo, passa também a atacá-lo e sugere que a família pense em se livrar dele. Logo depois, Gregor morre de inanição.


https://www.publico.pt/2013/11/27/local/noticia/refer-vai-repor-carris-roubados-na-linha-do-tua-1614055


"As coisas que nos assustam são em maior número do que as que efetivamente fazem mal, e afligimo-nos mais pelas aparências do que pelos fatos reais." Sêneca


O real parece nĂŁo fazer sentido perante as aparĂŞncias

https://aarontap.com/post/107517204704/illustration-of-gregor-samsa-metamorphosis


“Quando Gregor Samsa despertou, certa manhã, de um sonho agitado viu que se transformara, durante o sono, numa espécie monstruosa de

insecto.”

(p. 9)

A novela do escritor Kafka inicia-se de forma incisiva, em que o

protagonista da história - Gregor Samsa - encontra-se metamorfoseado num inseto gigante. Dessa forma, o início da novela já é o clímax, o que a torna

extremamente

profunda. O que se pretende mostrar é a verdadeira face humana e esta parece

demonstrar-se somente nos momentos de conflito. Essa célebre frase de abertura do livro pode passar a impressão de ser uma obra de ficção científica, mas não é. Trata-se de um romance, que difere da maioria, uma vez que começa pelo clímax e vai-se desenrolando.


http://temas.folha.uol.com.br/metamorfose/primeiro-capitulo/


"Estarei agora menos sensível?" p.55

Ao estar metamorfoseado em inseto, Gregor Samsa não é visto como de facto é, mas sim por aquilo que aparenta ser, isto é, um monstro, o qual todos tinham de suportar. Embora, continuasse sendo o mesmo Gregor, perante os outros isso não importava, pois o que viam era um inseto gigante. O próprio protagonista chega, logo no início a questionar-se sobre a sua

essência.


https://www.oslivros.com.br/autor/franz-kafka/


"Não desejavam, certamente, que Gregor morresse de fome, mas talvez preferissem nada saber a respeito das suas refeições, excepto por ouvir dizer, pois não tinham coragem de vê-lo; era possível, também, que, a fim de lhes diminuir o desgosto, a irmã se esforçasse por poupar aos pais as menores contrariedades. Gregor devia compreender que também eles tinham o seu quinhão de infortúnio.“ p.57


Gregor Samsa, era visto como um peso para a família, a qual deveria suportar. Kafka, mostra-nos aqui a realidade da sociedade, sobretudo, capitalista que restringe o valor do ser humano ao que produz e às aparências, uma vez que, quando

"normal", era Gregor o responsável pelo provimento da família. Contudo, ao metamorfosear-se em inseto, tornou-se impossibilitado de sustentar a sua família, assim, como Gregor não os pode sustentar, perde o seu valor. A metamorfose de Gregor evidencia que as relações sociais são pautadas pelos interesses, pois, embora o protagonista seja uma pessoa altruísta, preocupada com o bem estar da família, ele passa a ser excluído pela mesma, dado que o que os interessava em Gregor não é possível naquela situação. Essa exclusão gera um sentimento de solidão em Gregor, a qual alimenta o seu sentimento de impotência e tristeza e, por conseguinte, diversos problemas psicológicos (típicos do homem

contemporâneo). Assim sendo, o que importa são os resultados, ou seja, somente relações que possam trazer benefícios são necessárias, de tal maneira que uma relação que traga apenas custo é vista como um peso que deve ser jogado fora na primeira oportunidade. Aquele inseto gigantesco, o qual Gregor acreditava que ainda fosse ele, para a família não passava de um peso que tinha que suportar.


"Ele compreendeu que o seu aspecto ainda causava repulsa à pobre menina; que seria sempre assim – e

que ela precisava de resistir violentamente ao impulso de fugir, logo que lançava o olhar sobre a parte mais fina do seu corpo, mal encoberta pelo

sofá. A fim de poupar à irmã tal visão, pôs o lençol sobre as costas, arrastou-o até ao sofá – tarefa que lhe ocupou algumas horas, e estendeu-o de tal modo, que a irmã nada pudesse ver sob o sofá, mesmo que se abaixasse.“ p.68


O próprio Gregor vê-se como um peso e sente-se na obrigação de poupar os outros daquela visão asquerosa que possuía, como se os sentimentos que o constitui não estivessem no mesmo lugar. Embora, fosse ele que estivesse naquela situação e, portanto, devesse receber ajuda para atravessar o infortúnio, no entanto, acontecia o contrário, ele deveria esconder-se para não assustar a sua família. Essa repulsa que a família tinha ao seu aspeto representava a repulsa àquela condição que nada poderia oferecer além de trabalho. O medo já começara a transforma-se em ódio, já que, à medida que o tempo passava, a família entendia que, naquele estado, Gregor era um peso desnecessário. Aliás, aquilo não era Gregor, não possuía sentimentos, causava pânico e colocava em choque a tranquilidade da família. Assim, aquela criatura asquerosa só poderia ser tratada da mesma forma que se aparentava. Era necessário medidas violentas para provocar o entendimento de Gregor.


“…Gregor, atónito ante o enorme tamanho das solas dos seus sapatos, teve o cuidado de permanecer

imóvel, pois sabia que, desde o primeiro dia da sua metamorfose, o pai alimentava a opinião de que se deveria adoptar, com respeito a ele, uma atitude de máxima severidade.“ p.85


Esse ódio que a família passa a nutrir por Gregor é simbolicamente condensado na maçã que o pai lhe atira. O inseto monstruoso merecia aquele ódio, pois para a família, naquele estado, Gregor era desprovido de virtudes. Gregor acreditava

ser sua a obrigação de cuidar da família - e a família agia como se fosse - de tal maneira que a única virtude que ele possuía era garantir os proventos e, assim, quando metamorfoseado Gregor perde a sua única virtude, sendo merecedor do ódio da família. Para a família, apenas importava o trabalho, uma vez que agora (sem Gregor) deveriam cuidar dos seus proventos, facto que lhes custava enorme energia. Pois ainda, tinha o "pesado" inseto gigantesco, o qual lhes consumia o resto da energia. Portanto, seria uma injustiça por parte de Gregor exigir mais do que faziam. Ora, ele mesmo deixou-os naquela situação de exaustão. Curioso é, que Gregor

sozinho conseguia prover tudo que a família precisava, tendo que aguentar um trabalho que não suportava, mas, ainda assim, não reclamara da família. Agora, deveria receber de bom grado tudo o que a sua família fazia por ele.


“Quem, naquela família assoberbada pelo trabalho e pela fadiga, tinha tempo para atender a Gregor, excepto quanto às suas necessidades mais prementes? As verbas da casa eram cada vez mais reduzidas.“ p.95

O tratamento que recebia, assim como o isolamento fazia Gregor entristecer e perder energia, pois já não era fácil estar naquela situação e ainda ser tratado da

forma como aparentava não fazia sentido para ele, já que continuava o mesmo Gregor Samsa por dentro. Pensava, como poderia ser tratado como um monstro se ainda sentia as mesmas coisas.


https://nomeumundo.com/2017/09/11/resenha-a-metamorfose-franz-kafka/


“Dar-se-ia o caso de ele não passar de um animal, embora a música o emocionasse tanto?“ p.110

Gregor

em

nenhum

momento

foi

visto

como

um

ser

com

sentimentos e que precisava de ajuda, todos ao seu redor só conseguiam ver o superficial. É preciso coragem para ter uma relação verdadeira e

profunda. Mas, acima de tudo, Gregor Samsa perdera o seu valor. Não o valor que faz dele quem é, mas o valor simbólico que a sua família o atribuía e que se restringia a sustentá-los. Esse traço, tem sido transversal nas sociedades e nisso reside a

genialidade de Kafka. As relações são pautadas em resultados, esforçar-se por alguém está fora de questão. A sua família é incapaz de colocar-se em seu lugar, logo ele, que até ali carregava o peso da família sozinho, era visto com um fardo insuportável.


https://study.com/academy/lesson/what-does-the-violin-symbolize-in-the-metamorphosis.html


"Não me referirei ao nome de meu irmão, ao falar desse monstro que aí está; o que quero, é dizer simplesmente que precisamos descobrir um meio de livrar-nos dele. Fizemos tudo o que é humanamente possível para cuidar dele, para enfrentar a situação. Acho que ninguém poderá censurar-nos, o mínimo que seja, para tomarmos tal decisão.“ p.115


É de reconhecer que ter alguém naquela situação era difícil, contudo, os relacionamentos trazem peso, esforço e o que nos permite carregá-los é o amor e este não existia em relação a Gregor.

Além

disso,

a exclusão e a culpa que impunham a Gregor foram pouco a pouco tornando-o mais impotente, triste, achavam.

sentindo-se o monstro que todos


"... então, contra a sua vontade, a cabeça pendeulhe para o chão, e o seu último e débil suspiro passou-lhe pelas narinas.“ p.122

Diante disso, só restara um fim, a morte, que representou uma libertação para sua família. A causa da morte? Uma maçã podre que carregara no seu dorso, que o fazia pesado, embora estivesse vazio. Uma maçã que representava o ódio que sua família lhe nutria. Uma maçã que o levava ao chão, como um inseto. Uma maça do pecado.


http://www.naveliteratura.com/2018/05/a-metamorfose-franz-kafka.html


9. AS METAMORFOSES

Graรงa Morais https://www.wook.pt/livro/metamorfoses-agustina-bessa-luis/199611


A novela de Kafka começa de uma forma direta. O clímax do enredo é apresentado logo de início e tudo o que ocorre na história é desdobramento desse primeiro acontecimento. Todos os factos que se seguem estão de pleno acordo com a transformação de Gregor. Ao ter como ponto de partida a metamorfose de Gregor, a novela de Kafka

trata ainda de outras transformações. Toda a família de Gregor era dependente do seu trabalho, porém, com a nova situação, eles são obrigados a trabalhar. O espaço familiar vai ser transformando à margem de Gregor, que passa a ficar confinado ao seu quarto. No princípio, ele fica totalmente excluído, até que a família passa a deixar uma porta aberta para que ele possa assistir de longe aos rituais familiares. Esses rituais são um dos focos da narrativa e a forma como eles se mantém com uma certa naturalidade, apesar de algumas mudanças, reforça a verossimilhança. A família continua a jantar junta toda a noite, mesmo que agora se faça de

forma mais silenciosa.


10. A METAMORFOSE DE GREGOR É a reação de Gregor, ao continuar agindo naturalmente, que nos leva a aceitar mais facilmente o facto dele se ter transformado em um inseto gigante. As suas maiores preocupações são com o trabalho e com a família. Gregor parece não se incomodar com o facto de se ter transformado

em um inseto, mas sim de estar atrasado para o trabalho e a ameaça de perder o seu emprego. Como as suas preocupações continuam sendo as de uma pessoa normal, a sua transformação em inseto é amenizada.


http://www.aescotilha.com.br/literatura/ponto-virgula/metamorfose-de-kafka-faz-cem-anos-e-ainda-diz-muito-sobre-nossa-vida/


11. A METAMORFOSE DA FAMÍLIA O pai de Gregor continua a passar o seu tempo em casa sentado e dormindo, porém, agora, ele o faz com seu uniforme do trabalho, que em pouco tempo passa a ficar imundo. Cabe à irmã de Gregor o papel da limpeza de seu quarto. Tarefa que no começo ela faz com esmero e prazer, mas que, com o tempo, vai-se tornando um fardo muito pesado. Os rituais familiares só mudam totalmente quando a família aluga um quarto para três inquilinos. Com isso, Gregor volta a ser trancado no seu quarto, mas não é somente ele que fica excluído das áreas comuns. A família também passa a fazer as refeições na cozinha, enquanto os inquilinos ocupam a sala.


12. A METAMORFOSE DA CASA Quanto mais a família passa a ser excluída dos ambientes tradicionais da

casa mais Gregor passa a ser tratado como um animal. A sua desumanização acompanha o movimento da família. O ápice ocorre quando os inquilinos pedem a sua irmã que toque violino na sala de estar para eles e a atividade íntima da irmã passa a ser um entretenimento público para os inquilinos. Neste momento, Gregor é atraído pela música e avança para a sala de estar à vista de todos. Os inquilinos ficam chocados com a imagem do inseto gigante, rompem o contrato e ameaçam processar a família. O ambiente doméstico foi todo metamorfoseado por conta de Gregor e dos inquilinos. O pai de Gregor age no sentido de retomar a posse do seu espaço. Para isso,

ele expulsa os inquilinos e trata Gregor como um animal. A metamorfose está completa, ele não é mais o filho. Pouco depois ele morre de inanição e a família muda de apartamento.


Gregor Samsa é o anti-herói por excelência de

Franz Kafka, um homem que vê o mundo passar ou decorrer à sua volta enquanto se limita a cumprir a sua função.

“Era uma criatura do chefe, sem espinha dorsal nem massa cinzenta”.


13. DIVISÃO DA HISTÓRIA

Esta obra é uma novela, sendo a sua história dividida em 3 fases:

• Na 1ª fase, vemos um Gregor recém-metamorfoseado que se sente dominado

por

conflitos

existenciais

da

condição

de

inseto,

e

observamos também a maneira como é recebido por sua família em sua nova forma.

• Na 2ª fase, percebemos um cotidiano em que Gregor é rejeitado e ameaçado por sua família. • Na 3ª e última fase, assistimos um Gregor abalado, incompreendido e repugnado, psicologicamente fraco e arruinado.


14. O REAL PESO DAS MUDANÇAS O

leitor

é

surpreendido,

logo

no

início

do

texto,

ao

ser

informado que o protagonista foi transformado num inseto. Nada mais surreal do que informar o leitor do clímax da história logo no primeiro parágrafo. O surrealismo foi utilizado para confrontar a sociedade e os seus valores, algo quase inimaginável à época. A novela, assemelha-se à realidade de protagonistas do mundo real que por vezes agonizam na luta para tentar voltar à sua “condição natural”, num conflito claro entre o ser e as imposições sociais. A temática da Metamorfose, fala de um indivíduo isolado do seu meio, despido da sua “humanidade”, determinado pelas condições sociais,

visto por outros como um inseto, num meio que só se aceita quem é igual, do que sobre uma mera transformação genética. Samsa é focado na rotina quando Kafka parecia temê-la.


É o desejo do homem refém da sua condição, como Samsa acabou por se tornar sem que isso fosse um desejo, mas antes o sinal da sua humilhação, da recusa de viver a sua vida, mas a vida e o sonho dos outros. O homem burocrata que no limite deixa de

ser

capaz

de

comunicar.

As

suas

palavras

não

saem

percetíveis, é o som do inseto que os humanos não entendem, tendo ele mesmo desistido de se fazer entender, fechando-se mais e mais, o humano num corpo estranho, mas também mais livre, pode caminhar ligeiro nas suas “patinhas”, esconder-se, trepar paredes,

não ser o caixeiro-viajante que alimenta a família. Está livremente na sua solidão. Metamorfoseado, Gregor Samsa, liberta-se da pressão político-social e o que parece ser um castigo transforma-se em liberdade.


A Metamorfose relata um impasse familiar consequente de uma drástica mudança de vida. Gregor mantinha orgulhosamente o papel de provedor da sua família. Ao tornar-se um inseto, ele passa a ser um foco de problemas, um agente de conflito e mal-estar, um desgraçado causador de infortúnio, basicamente um estorvo que precisa ser eliminado. Kafka declara que a vida simplesmente acontece, independente dos desejos e ambições do homem. O pesadelo integra naturalmente o cotidiano que é frio, formal, tenebroso, real. Kafka também nos mostra que é crucial estarmos devidamente preparados não só para as mudanças em nós mesmos, mas também para as transformações que ocorrem nos outros e tudo que isso advém. É fácil aceitar o facto de que a vida nos traz mudanças, mas na prática é muito complicado. Gregor Samsa é exemplo disso.

A

Metamorfose

demonstra

que,

especialmente

numa

sociedade

capitalista, existe uma linha muito tênue entre indiferença e consideração, entre descrédito e valorização e entre solidão e reconhecimento. Nesta obra, a vida de Gregor resume-se unicamente ao trabalho, ao

cumprimento de uma profissão infeliz, que ele mantém com o único propósito de aliviar a desgraça financeira que pôs a sua família num estado preocupante.


Gregor odeia o que faz, mas ele não se importa, desde que esse sacrifício gere renda suficiente para sustentar a sua família. No entanto, com o passar do tempo, a família de Gregor passa a acreditar que é a obrigação de Gregor sustentá-los. E nada mais que isso. Ao se deparar como inseto (condição obviamente inviável de trabalhar), Gregor começa a notar que o seu mundo está de facto arruinado, uma vez que todos os seus sonhos, valores e aptidões se tornam nulos da noite para o dia. Mesmo inseto, Gregor ainda tenta ver-se como um ser humano solidário,

enquanto

a

sua

família,

diante

da

situação

inesperada,

demonstra sentimentos de repulsa e desconforto, mas a dura realidade vai empurrando-o para o isolamento e a solidão. A metamorfose em Gregor é a pura manifestação da humilhação e do desprezo a partir do momento que não pôde mais ser explorado.


O estilo de Kafka é marcante. Era um autor detalhista, simplista e bastante realista que utilizava poucos adjetivos para

descrever acontecimentos extraordinários que envolvem a narrativa. Com uma linguagem formal e linear conta-nos a vida de um caixeiro viajante igual a tantas outras vidas burocráticas e convida-nos a acompanhar os sentimentos desta personagem, Gregor Samsa, que ao

acordar, surpreendido, vê o seu corpo transformado na forma de inseto. A escrita de kafka inspirou a criação do termo “kafkiano”, usado para descrever momentos em que a burocracia subjuga as pessoas.


https://www.planocritico.com/critica-a-metamorfose-de-franz-kafka-em-manga/


15. CONCLUSÃO Antes da metamorfose ocorrer, Gregor era parasitado pela família, após a metamorfose acontecer, a família é parasitada por ele. Antes Gregor fornecia, depois passou apenas a consumir. Antes Gregor servia como sustentáculo da família, depois só viveu de ser sustentado por ela. Antes ele era tratado como “ele” e depois como “isso”. Da mesma forma que Gregor foi metamorfoseado, o amor e carinho dedicados a ele também se metamorfosearam. A aparência sempre importou no seio da sociedade e no caso de Gregor, valeu-lhe a sua dignidade. Nesta metáfora da metamorfose, Kafka fez uma crítica certeira à

sociedade contemporânea e à sociedade de todos os tempos, os interesses sociais não são emocionais, mas capitalistas.


A Metamorfose demonstra que, especialmente numa sociedade capitalista,

existe

consideração,

entre

uma

linha

descrédito

muito e

tênue

valorização

entre e

indiferença

entre

solidão

e e

reconhecimento. O valor agregado a Gregor dependia estritamente da sua utilidade. Quando virou um inseto aparentemente asqueroso e inútil o seu valor perdeu-se. Quando Gregor não servia mais aos propósitos

capitalistas da família, sua morte foi ansiosamente esperada, como um ideal de libertação. Isolado no seu quarto, excluído pela empresa e ignorado pela família, Gregor Samsa, sentiu, no corpo de um inseto, os reflexos das

atitudes humanas e percebeu o incomodo da submissão social. Além dos conflitos familiares o autor chama a atenção para a imposição do capitalismo quando o protagonista se nega a trabalhar.


É uma profunda análise do valor sentimental associado ao interesse visível que as pessoas demonstram ter não por seus semelhantes, mas sim pelos bens materiais e o conforto que proporcionam, evidenciando assim o real desinteresse que a sociedade tem pelas pessoas improdutivas.

Somos importantes enquanto úteis. Quando temos algo a oferecer a nossa importância é facilmente notada. Quando não temos o que oferecer, essa importância simplesmente não existe.


16. OPINIÃO Esta é uma obra que, embora de difícil leitura, me cativou porque permanece atual, porque explora temas característicos da sociedade contemporânea, como a crise existencial, a falta de esperança do ser humano, o pessimismo, a ausência de respostas, a solidão, a impotência e a fuga. Leva-nos a refletir sobre temas como a realidade social contemporânea, o capitalismo selvagem, a opressão burocrática das relações trabalhistas, a vida urbana avassaladora, os conflitos ideológicos, a fragilidade do homem frente aos problemas cotidianos e principalmente a correlação entre utilidade e significância de valores. Kafka demonstra-nos com esta história que a sociedade é hipócrita e que para se ter valor é necessário ser-se útil. Os desempregados, os mendigos, os sem abrigo, os doentes, os incapazes… não são uteis à sociedade, por isso, a sua morte seria uma mais valia. É necessário, como nos indica Kafka, nesta obra, fazer um regate de valores e princípios e, essencialmente, fazer uma critica social para que a sociedade na qual vivemos seja saudável e digna.


Nesta metáfora da metamorfose, Kafka fez uma crítica certeira à sociedade contemporânea e à sociedade de todos os tempos, os interesses sociais não são emocionais, mas capitalistas.



Bibliografia KAFKA, Franz. Metamorfose. Lisboa: Livros do Brasil

WIKIPÉDIA. A Metamorfose. 2019. em: https://pt.wikipedia.org/wiki/A_Metamorfose

CULTURA GENIAL. Livro a Metamorfose de Kafka. 2017-2019. em: https://www.culturagenial.com/livro-a-metamorfose-de-franz-kafka/

VISÃO. A Visão oferece ’A Metamorfose’ de Franz Kafka. 2017. em: http://visao.sapo.pt/lerfazbem/2017-03-29-A-VISAO-oferece-A-Metamorfose-de-Franz-Kafka

OBVIOU-GENIALMENTE LOUCO. A Metamorfose de Kafka e o monstro chamado egoísmo. 2003. em: http://obviousmag.org/genialmente_louco/2016/ametamorfose-de-kafka-e-o-monstro-chamado-egoismo.html

JUSTIFICANDO-MENTES INQUIETAS PENSAM DIREITO. O que a Metamorfose de Kafka pode nos ensinar sobre direitos humanos. 2019. em: http://www.justificando.com/2016/02/16/o-que-a-metamorfose-de-kafka-pode-nos-ensinar-sobre-direitos-humanos/

NAVE LITERATURA. A Metamorfose, Franz Kafka. 2018. em: http://www.naveliteratura.com/2018/05/a-metamorfose-franz-kafka.html

ZUCCOLOTTO, Pedro. Franz Kafka e A Metamorfose nossa de cada dia. 2017. em: https://medium.com/@pedrozuccolotto/franz-kafka-e-a-metamorfose-nossade-cada-dia-feb0a29cab63

MESQUITA, DIOVANE. A metamorfose, de Franz Kafka. 2019. em: https://medium.com/@didi.mesquita59/a-metamorfose-de-franz-kafka-a2a7128c5bac

RIBEIRO, Milton. Os 100 anos do ícone literário A Metamorfose, de Franz Kafka. 2012. em: http://miltonribeiro.sul21.com.br/2012/08/16/os-100-anos-do-iconeliterario-a-metamorfose-de-franz-kafka/




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