Informativo 129

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Informativo do Conselho Regional de Química Abr-Mai-Jun de 2013 | Ano XVII | N° 129

Dia do Químico

Comemorações em homenagem ao Dia do Químico

Coagulante Orgânico Descoberta de coagulante orgânico auxilia no tratamento de água

Leite

Adulteração do leite no RS

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Índice 03 Dia do Químico Comemorações em homenagem ao Dia do Químico

05 Leite

Adulteração do leite no RS

08 Coagulante orgânico Descoberta de coagulante orgânico auxilia no tratamento de água

09 Premiação

Estudantes da Liberato recebem prêmio internacional

10 Conheça o CRQ-V Confira os conselheiros desta edição

11 Agenda

Expediente Presidente Paulo Roberto Bello Fallavena Vice-presidente: Estevão Segalla Secretário Renato Evangelista Tesoureiro Ricardo Noll Assessoria de Comunicação do CRQ-V assecom@crqv.org.br Jornarlista resp.: Vanessa Valiati Mtb 13018 Diagramação Gustavo Furstenau Redação Carolina Reck Tiragem 3.000 Impressão Gráfica Ideograf INFORMATIVO CRQ-V AV. ITAQUI, 45 - CEP 90460-140 PORTO ALEGRE/RS FONE/FAX: 51-3330 5659 WWW.CRQV.ORG.BR

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Editorial Nesta edição do Informativo trouxemos a cobertura das comemorações do Dia do Químico. Tudo começou com a realização do ”Química na Praça”, evento que reuniu profissionais da área e interessados. O objetivo, além de comemorar a data, era aproximar a ciência do cotidiano da comunidade. Além do CRQ-V, houve a participação do Sindicato das Indústrias Químicas (Sindiquim), Assossiação Brasileira da Química (ABQ-RS), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Braskem e Kresil. Centenas de pessoas passaram pelos estandes para conferir de perto as experiências químicas, banners e a distribuição de brindes na Redenção. No dia 21, as comemorações continuaram pela manhã com a Oficina de Empreendedorismo e Inovação, que ocorreu no Auditório do CRQ-V. Para finalizar houve o tradicional jantar de confraternização, em que a premiação dos Destaques da Química 2013 e a nomeação do novo integrante da Academia Riograndense de Química foram os atrativos. Além disto, este informativo traz informações referentes à adulteração do leite no Rio Grande do Sul, episódio que marcou o mês de maio. Para tal, entrevistamos Sérgio Rerin, profissional que trabalhou por 22 anos no ramo dos laticínios e o químico industrial José Luiz Foschiera, autor do livro ”Indústria de Laticínios: Industrialização do leite, análises e produção de derivados”. Com foco no meio ambiente, apresentamos a aclamada ideia de Marcelo Gosmann: um coagulante orgânico que auxilia no tratamento de água. Seguimos apresentando ao leitor quem são os conselheiros do CRQ-V. O Informativo do CRQ-V segue aberto à colaboração, críticas e sugestões. Envie seu e-mail para assecom@crqv.org.br . Boa leitura!

Números do Conselho

ABR/MAI/JUN Registro Profissional

265

Registro Empresa

75

Fiscalizações

800

Autuações

91

Dica de Livro Pequeno livro das grandes ideias Ciência

A edição Ciência, da coleção Pequeno Livro das Grandes Ideias, de Peter Moore, torna possível que o leitor explore as 50 mais brilhantes mentes científicas e seus feitos. Apresentando ideias que revolucionaram a ciência e a maneira de pensar do homem, a obra garante a reflexão quanto ao avanço civilizatório e ao conhecimento humano. Nomes como o de Eistein, Curie, Galilei e Hertz introduzem o leitor nos assuntos abordados. Em 128 páginas a obra condensa descobertas científicas em uma apresentação cristalina das mentes mais notáveis e das teorias mais importantes.


Dia do Químico

Dia do Químico No dia 21 de junho ocorreu o jantar-baile em come-

Química na Praça Em comemoração ao Dia do Químico, o CRQ-V e as

moração ao Dia do Químico, promovido pelo CRQ-V e empresas e instituições ligadas à área se reuniram Sindicato das Indústrias Químicas do RS (Sindiquim). O no Parque Redenção. O objetivo do evento foi atrair evento aconteceu no Restaurante Panorama (Prédio 40 a atenção do público para a importância da ciência. da PUCRS), e contou com a presença de profissionais da Além do CRQ-V, participaram o Sindicato das Indústrias área. Neste foi realizada a premiação dos Destaques da Químicas (Sindiquim), Assossiação Brasileira da Química Química, que visa homenagear profissionais e entida- (ABQ-RS), Universidade Federal do Rio Grande do Sul des que se sobressaem na prestação de serviços para a (UFRGS), Braskem e Kresil. química e sociedade. Os prêmios de Destaque Sustentabilidade e Destaque Industrial foram atribuídos, respectivamente, ao MK Química e Tintas Kresil. Também foi premiado Eduardo Mc Mannis, como Profissional Destaque. Por fim, a Academia Riograndense de Química escolheu seu novo acadêmico, o professor Dimitrios Samios. 2013

Palestra

QUÍMICA NA PRAÇA

Também no dia 21, o CRQ-V e ABQ-RS realizaram oficina gratuita de empreendedorismo e inovação, ministrada pelo administrador Bruno Peroni.

Dia do Químico 18 D E JUNHO

Nesta foram abordados temas como o novo empreendedorismo, gestão de empresas e novos negócios, como tirar uma ideia do papel e novas oportunidades na área da Química.

Mateus Bruxel /Carolina Reck

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Novo Acadêmico Durante a cerimônia realizada no jantar em comemoração ao Dia do Químico, a Academia Riograndense de Química nomeou seu novo acadêmico, Dimitrios Samios. O objetivo da Academia é divulgar a Química, reunindo cidadãos que se destacam pela aplicação do conhecimento na ciência, pesquisas ou pela sua atuação no meio social. Atualmente a ARQ é composta pelos seguintes profissionais: Ayrton Figueiredo Martins, Carlos Rodolfo Wolf, Flávio Lewgoy, Ione Maluf Baibich, Jair Foscarini, Jairton Dupont, Nelson Gonçalves Calafate, Paulo Saffer, Paulo Vellinho, Regina Cánovas Teixeira, Sandra Mara Einloft e tem como presidente de honra o vice-presidente do CRQ-V, Estevão Segalla.

Dimitrios Samios Dimitrios Samios possui graduação em Química pela Universidade Nacional de Atenas (1974), doutorado em Química - Universitat Bielefeld (1979), bolsista DAAD e Pós-doutorado pela University of Utah, EUA(1983), bolsista Fulbright e pelo Centro de Pesquisas Interdisciplinares - ZIF (1985-1986) Alemanha via DFG. Atualmente é professor titular de Fïsico-química da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Tem experiência na área de Química, com ênfase em Química Analítica e Físicoquímica de sólidos e líquidos complexos. Atua principalmente nos seguintes temas: Interações 4

moleculares de forças fracas. Sistemas macro e supramoleculares complexos sintéticos, biológicos e oriundos de fontes renováveis. Líquidos: solventes simples, combustíveis e biocombustíveis e seus produtos de processamento. Materiais sólidos: polímeros semicristalinos e amorfos, termoplásticos e termorrígidos. Estudos de caracterização (estado sólido e liquido) via técnicas de caracterização estrutural, (Microscopia ótica, Eletrônica, SAXS, WAXS ), dinâmica, espectroscópica e termodinâmica ( light scattering, condutividade, impedância, DMTA, DSC, TGA, RMN, FTIR, UV-VIS).

Dimitrios Samius e presidente honorário da Academia, Estevão Segalla


A adulteração do leite no Rio Grande do Sul: Como a química influenciou o processo e que medidas são necessárias para que cessem as fraudes no mercado dos laticínios.

O

s acontecimentos relacionados à produção e distribuição de leite no Rio Grande do Sul foram marcados pelas fraudes, que tinham como objetivo aumentar o rendimento do produto, alcançando assim maior lucro. Estes fatos desencadearam, no dia oito de maio, a operação Leite Compensado, que ocorreu em diversas cidades do estado. De acordo com o Ministério Público Estadual (MP), os transportadores lucravam 10% a mais do que os 7% já pagos sobre o preço do leite cru, em média R$ 0,95 por litro. Dados do MP revelam também que apenas em Ibirubá, Guaporé e Horizontina, durante um ano, empresários transportaram cerca de 100 milhões de litros de leite com suspeita de adulteração. Conforme o depoimento do químico industrial José Luiz Foschiera, o leite é considerado uma emulsão de glóbulos graxos, estabilizados por substâncias albuminóides num soro que contém em solução: um açúcar (a lactose), matérias protéicas, sais minerais e orgânicos, e pequena quantidade de vários produtos, tais como; lecitina, uréia, aminoácidos, ácido cítrico, ácido láctico, ácido acético, álcool, lactocromo, vitaminas, enzimas, entre outros. Em sua composição, a soma das quantidades dos componentes, com exceção da água, é chamada de extrato seco total (EST). A percentagem de extrato seco é indispensável para se julgar a integridade do leite. Tabela 1 – Média dos principais componentes químicos do leite

Água

87,5%

Gordura

3,6%

Proteínas

3,6%

Lactose (açucares)

4,6%

Sais minerais (cinzas) Sólidos dissolvidos

0,7%

As fraudes preocupam consumidores e autoridades, que convivem há anos com diferentes irregularidades nas empresas de laticínios. No processo de adulteração deste ano, a intenção dos fraudadores foi aumentar o volume do leite com a adição de água. O rendimento que é alcançado chega a até 10% de acréscimo no volume total. Considerando que com isto o extrato seco ficaria abaixo dos padrões normais, o produto não seria aprovado por testes como crioscopia ou análise de densidade. Assim, fraudadores recorreram a adição de outras substâncias, capazes de mascarar o excesso de água. ”A formulação utilizando uréia, que não é totalmente pura (possui quantidade de formol), por exemplo, serve para deixar os índices de densidade e crioscopia iguais ao de leite normal”, explica Foschiera. A composição química do leite varia conforme o animal da qual proveio. As densidades divergem, mas a variação não é grande devido ao principal componente do leite, a água. Para um leite integral in natura, são consideradas normais densidades entre 1.028 g/L e 1.033 g/L, e para um leite pasteurizado, entre 1.031 g/L e 1.035 g/L. As densidades do leite que são apresentadas fora deste intervalo podem ser derivadas de fraudes. Sérgio Rerin, profissional que trabalhou no ramo de laticínios por 22 anos, confirma que a 20ºC o leite deveria ter a densidade ao redor de 1.031 g/L. “A densidade da água é igual a 1 (1.000 g/L), quando adicionada ao leite, diminui a densidade deste, que vai se aproximar de 1”, complementa. Nas fraudes ocorridas neste ano, inicialmente foram encontradas duas fórmulas de adulteração. Uma delas continha uréia e água de poço. Na outra havia uréia, água de poço, bicarbonato e açúcar. Além destas, posteriormente foi descoberto outro procedimento, em que o sal foi adicionado. A adição destes produtos que constavam nas fórmulas de adulteração tinha como objetivo mascarar o acréscimo de água e consequentemente a diluição do leite, que diminui o extrato seco (proteína, gordura, carboidratos). ”A uréia é fonte de nitrogênio, o que compensa a diminuição deste, que se encontra no leite de forma natural por meio das proteínas. O bicarbonato diminui a acidez. Já o açúcar serve para compensar a perda de carboidratos naturais do leite que ocorre na diluição”, afirma Foschiera. Rerin comunica que a água dilui a lactose (açúcar natural do leite) e a adição de açucar sacarose compensa esta diminuição, disfarçando a fraude. 5


Além da detectada este ano existem muitos outros tipos de fraudes na indústria de laticínios. Todas visam o lucro à custa dos consumidores, que podem ter a saúde prejudicada. As fraudes mais comuns são as de reconstituintes, de conservantes e as que mudam o pH da matéria prima. Na de reconstituintes são repostos os sólidos perdidos quando acrescida água ao leite. A de mudança do pH consiste em alterar o estado de acidez, medida em dornic (D), da matéria prima. Normalmente a acidez é considerada entre 14D e 18D (1,4g a 1,8g de ácido láctico / L de leite). ”Se o leite chega ácido (acima de 18D), é necessário alcalinizá-lo (valor próximo de 14D e 18D). Para isto, aqueles que fraudam adicionam soda caustica ou bicarbonato, sendo a primeira mais violenta na funcionalidade e para a saúde dos consumidores”, explana Rerin. No caso de implementar bicarbonato à fórmula, devido a sua potência ser inferior a da soda cáustica, são necessárias grandes quantidades, que algumas vezes formam aglomerados no leite. A fraude do conservante aumenta o tempo de prateleira do produto. ”Utilizam formol e amoníaco (agem principalmente sobre pH), peróxido de hidrogênio (água oxigenada), entre outros. O formol elimina a flora, assim como o peróxido, e não há decomposição de lactose, o que garante maior durabilidade do produto”, expõe. Estudos da Organização Mundial da Saúde revelam que a longo prazo o uso de elementos como o formol pode ser potencialmente nocivo para os consumidores, sendo responsável pelo desenvolvimento de câncer. Estes danos provém de fraudes e acidentes que alteram as concentrações normais do produto. Um exemplo claro de imprevisto foi o caso do Toddynho (2011)*, em que 29 pessoas foram prejudicadas por falha no processo de higienização do aparelho de envasamento. Nesse caso, um dos laudos analisados pelo Laboratório Central (Lacen) mostrou que o pH de um dos lotes afetados era de 13,3, alcalino. Este valor é equivalente à acidez de produtos de limpeza, como soda cáustica e água sanitária. Com esta alteração, consumidores do Rio Grande do Sul sofreram queimaduras, irritações e feridas na mucosa da boca e no sistema digestivo. Para que sejam evitadas as adulterações existem sistemas de fiscalização por parte dos órgãos de Controle. Foschiera ressalta que a fiscalização geralmente é realizada na indústria de transformação do leite in natura e por meio da coleta de amostras dos produtos disponíveis em estabelecimentos comerciais, como mercados. 6

O recolhimento do leite, nos produtores, ocorre por meio das chamadas Linhas de Leite. Neste processo um único transportador tem um número de produtores que lhe entregam o produto previamente resfriado (4ºC). Diversas linhas atendem a um município ou região. Os proprietários das linhas entregam o leite nos postos de resfriamento, ou diretamente nas indústrias, dependendo da distância e normas das empresas compradoras. Antes do carregamento, no estabelecimento do produtor é realizado um teste qualitativo, para verificar se o leite está em condições de ser carregado (teste do alizarol). Antes do descarregamento é realizada uma bateria de testes físico-químicos que avaliam integridade, a adição de conservantes e detectam fraudes no leite. ”Quanto à integridade do leite, são feitas análises de acidez, densidade, crioscopia, teor de gordura e determinação do extrato seco. Quanto à adição de conservantes existem diversas análises, tais como a de bicarbonato de sódio, formol, ácido bórico, bicromato de potássio, ácido salicílico e peróxido de hidrogênio. E de fraude: amido, urina, sacarose”, esclarece Foschiera. Um dos métodos comuns é a crioscopia, processo físico-químico que tem a propriedade de medir o ponto de congelamento de soluções. Variando de acordo com a composição química, cada composto possui um ponto de congelamento específico. A faixa de temperatura de congelamento aceitável para o leite in natura varia entre –0,550 ºC e –0,530 ºC. Em contraponto, a temperatura de congelamento da água é de 0,0 ºC. Pontos de congela-


mento próximos ao da água indicam a adição da mesma ao leite e, consequentemente, fraude. Outros dos testes comuns é o de alizarol, que oferece uma faixa consideravelmente grande do pH do produto, facilitando o conhecimento quanto a este ser alcalino ou não. ”Algumas vezes o teste de alizarol é substituído pelo ‘licor de plataforma’. Este é uma solução de hidróxido de sódio, que muda a coloração da amostra de leite para rosa a partir de 18D”, informa Rerin. Para que este cenário seja revertido, e as fraudes nas indústrias de laticínios deixem de ocorrer, é necessária uma mudança na cultura de produção e maior investimento em profissionais especializados. ”De nada adianta fazer uma análise se não souber interpretar o resultado. Para isto são necessários profissionais da área da química, que a partir do resultado podem tomar as decisões cabíveis para cada caso. Na propriedade rural, por exemplo, o mais importante é ter animais sadios, e um processo de ordenha e resfriamento seguindo os padrões de higiene”, exemplifica Foschiera, que acredita que uma solução seria a presença de químicos em todas empresas de laticínios, postos de resfriamento e inclusive órgãos de Fiscalização dos Produtos. Um exemplo a ser seguido é o europeu, que apresenta forte ramo cooperativo. A Dinamarca, por exemplo, abastece diariamente a Copenhagen com cerca de um milhão de litros de leite. Produtores se reúnem e decidem criar uma cooperativa nova, todos se empenham em atender uma demanda alta de qualidade. ”Criam a

nova cooperativa. Todos assinam contrato. Se um deles abandonar, os três, cinco ou dez mil litros que produz farão falta. Pode desistir, mas precisa indicar outro produtor que preencha a sua parte da demanda. Isto impõe fidelidade, interesse e compromisso do produtor”, adverte Rerin. É necessário forte investimento em educação e incentivo do governo para que a cultura da indústria de laticínios mude positivamente e as adulterações visando o lucro sejam inexistentes. ”Precisamos desta mudança, incentivar o pequeno produtor a produzir mais, como ocorre em Copenhagen. É fundamental um estimulo para a consciência do produtor, seja por meio de cursos, aumento de salários, incentivos. O patrimônio de uma indústria não é o material desta, é o produtor de leite”, reitera Rerin. *informações publicadas na revista online Veja, datadas em 12 de Agosto de 2011 (http://veja.abril.com.br/noticia/economia/caso-toddynho-custara-r-420-mil-a-pepsico)

Esclarecimento a respeito da adulteração do leite no RS Os últimos acontecimentos ocorridos nas indústrias de leite, conforme vem sendo acompanhado pela mídia, traz a necessidade de esclarecimentos quanto à presença de profissionais da química nestes locais. O decreto lei 85877/81, no artigo 2º, cita claramente que: ”são privativos do químico:... produção de produtos industriais derivados de matéria-prima de origem animal, vegetal ou mineral...”. Portanto, seria de se esperar que todas as indústrias de laticínios tivessem em seus quadros profissionais da química. No entanto, uma decisão do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, de 2006, obriga a indústria a ter um médico veterinário e torna facultativa a presença de um profissional da química. Mesmo respeitando a referida decisão judicial, o Conselho Regional de Química do Rio Grande do Sul mantém a convicção de que são os químicos os profissionais preparados para realizar as análises físico-químicas e pela produção dos produtos derivados do leite. A sua falta pode ter contribuído para os fatos ocorridos, assim como para outros possíveis problemas que venham a acontecer no futuro. Este texto foi publicado no jornal Zero Hora, como resposta aos acontecimentos referentes ao episodio de adulteração do leite no Rio Grande do Sul.

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Descoberta de coagulante orgânico auxilia no tratamento de águas

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epois de sofrerem fragmentação e posterior extração aquosa, as cascas de acácia negra são fontes de moléculas designadas de flavonóides, ou genericamente especificadas como sendo polifenóis. Estes estão presentes em diversos vegetais, encontrando-se em diferentes substratos, desde o lenho até as cascas que revestem o caule. Inicialmente, estas moléculas eram utilizadas nos processos de curtimento. Após a década de 1990 se iniciaram no Brasil pesquisas nessa linha de desenvolvimento. A ideia era voltada para o tratamento de efluentes e alguns ensaios em água potável. Em 1999, a Brazilian Wattle Extracts (BWE) Indústrias Químicas deu entrada em dois inventos referentes às mudanças químicas nas estruturas dos polifenóis. O objetivo era os adequar para o uso em estações de tratamento de água potável, as chamadas Estações de Tratamento de Água (ETA). De acordo com o químico industrial e pesquisador Marcelo Gosmann, para que fosse alcançado um resultado do coagulante no tratamento de águas foi necessário um estudo, que se iniciou em 1995. A sua empresa, Chemiche Welt Tecnologia Industrial, na sociedade com o químico industrial Fernando Willrichm, foi contratada com o fim de alcançar esta meta. O resultado superou expectativas, e a novidade foi a obtenção de um coagulante orgânico que possuí baixa concentração de polifenóis. O alcance dos coagulantes se dá por meio do processo de fragmentação e extração aquosa do polifenóis. Eles são estruturas retiradas das cascas ou lenho de árvores e parte das matérias primas necessárias para a obtenção do coagulante. Por sua vez, são intituladas genericamente como coagulantes orgânicos as substâncias químicas que possuem a característica de clarificar a água bruta. Fragmentar os substratos aumenta a área de contato entre estes e a água, garantindo a eficiência no processo de extração. Os polifenóis são extraídos destas estruturas fragmentadas com a adição de água, devido à elevada solubilidade deste solvente, decorrente das inúmeras ligações do tipo ponte de hidrogênio que se efetivam. 8

A inovação trouxe diversos aspectos positivos. As contribuições principais se resumem à produção de um coagulante economicamente mais competitivo, ao custo ambiental e à alta qualidade do produto, que é superior aos até então apresentados. ”Os vegetais que possuem a característica de apresentarem elevados teores de polifenóis, industrialmente viáveis no ponto de vista econômico, têm abundância e facilidade de cultivo no Brasil. Estes aspectos associados a um manejo florestal adequado proporcionam uma fonte sustentável e renovável de matéria-prima para aplicação em ETAs”, revela Gosmann. A BWE recebeu pela ideia uma aplicação inédita no país, o Prêmio Expressão Ecológica do ano de 2004. A empresa teve uma iniciativa original na área de saneamento e no tratamento de diversos ciclos de águas e suas soluções, com produtos orgânicos e de fontes renováveis. Em 2011 o projeto da BWE foi aprovado e aplicado na cidade de Novo Hamburgo, onde a Companhia Municipal de Saneamento (COMUSA) fornece mensalmente 1,7 bilhões de litros de água para cerca de 300 mil habitantes. Tradicionalmente é utilizado o sal sulfato de alumínio na produção de água potável. Este, ao se ionizar gera íons de alumínio e sulfatos. O íon alumínio, em forma de hidróxido, provoca a clarificação da água bruta, processo que ocorre com a reação deste coagulante inorgânico com a alcalinidade do meio. Isto abaixa o pH da água tratada, o que faz com que a água necessite de uma correção de pH por meio de alcalinizantes, como a soda barrilha, hidróxido de sódio ou cal. Como explica Gosmann, o coagulante orgânico desenvolvido para o fim da potabilidade de água não altera o pH desta quando tratada, e dispensa, assim, o uso de alcalinizantes. Também não incorpora sais neste processo ou no lodo gerado. No processo de clarificação da água é totalmente biodegradável, isento de sais e íons metálicos, o que contribui na diminuição do impacto ambiental. Sua base de síntese vem de fontes renováveis e de reflorestamento.


Outro ponto positivo é que o uso deste coagulante reduz os metais normalmente contidos na água bruta, melhorando a qualidade da água tratada. A utilização de um produto que não incorpore sais e íons metálicos estabelece uma vantagem técnica e operacional. ”Outra questão quanto aos coagulantes inorgânicos é que estes proporcionam maior dificuldade na disposição do lodo gerado, em que a concentração de metais se limita a aplicação destes lodos na agricultura. A BWE tem experiência, em diversas empresas, em que o lodo gerado com o coagulante orgânico, após estudo agronômico, teve a sua liberação em culturas agrículas”,adiciona Gosmann, apontando outro dos benefícios de sua descoberta.

Em casos de aumentar a dosagem do coagulante, não há necessidade de corrigir o pH da água tratada ou realizar pré-alcalinização, como quando os coagulantes são inorgânicos. Os lodos gerados são passiveis de serem dispostos em solo. Pelo aspecto quelante, o coagulante orgânico atua como protetor da corrosão. Bombas e tubulações não são danificadas devido à falta de ação corrosiva. Marcelo Gosmann, profissional que descobriu este inovador coagulante orgânico, resume: ”Todas estas características, além de facilitar a operação de tratamento, proporcionam uma economia de insumos químicos e conferem qualidade diferenciada na água que passa por tratamentos”.

Feira de Ciências na Holanda premia estudantes da Liberato O projeto ”Adoçante Natural da Inulina Extraída da Batata Yacon Polymnia sonchifolia”, da aluna Carolina de Oliveira Trento, e o projeto "Estudo da Estabilidade de Embalagens de Polipropileno Expostas a Freezer e Micro-ondas", de Wagner Thiele Fracassi, ambos com orientação de Maria Angélica Thiele Fracassi, conquistaram medalhas de bronze na International Environment Scientific Project Olympiad (Inespo 2013). O evento aconteceu em Middelburg, Holanda, entre 02 e 06 de junho. O trabalho da estudante Carolina, que foi credenciado na Mostratec 2012, estuda a possibilidade de produzir um adoçante natural que seja adequado para dietas com restrição calórica e glicêmica, a partir das raízes da batata yacon. O experimento baseia-se no fato que se a inulina for extraída de maneira eficiente e econômica em um tubérculo como a batata yacon, com a finalidade de utilização dessa substância na dieta alimentar, pode

Divulgação/Liberato

contribuir para melhoria da saúde pública. Já o projeto do aluno Wagner, tem por objetivo verificar a estabilidade dos recipientes de polipropileno contendo alimentos, quando submetidos a ciclos de congelamentos em freezer, descongelamentos e aquecimentos consecutivos em forno de micro-ondas. Ambos são trabalhos de estudantes da Fundação Escola Técnica Liberato Salzano Vieira da Cunha (Curso Técnico de Química). 9


Conheça o CRQ-V RAFAEL BATISTA ZORTEA

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afael (39) é graduado em Engenharia Química com mestrado em Gestão Ambiental. É doutorando em Análise do Ciclo de Vida e Sustentabilidade no Programa de Pós-Graduação do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da UFRGS. Pretende atuar na área de Desenvolvimento Sustentável e seguir com a vida acadêmica desempenhando o papel de professor. CRQ-V: Como se interessou pela área da química? Rafael Batista Zortea: Todas as crianças pensam em ser jogador de futebol, bombeiro ou policial. Eu sonhava em ser um cientista maluco, como nos desenhos animados. Provavelmente deve ter sido a primeira influência nesta decisão. Todavia, quando eu decidi fazer o vestibular a decisão pela futura carreira acabou se baseando na experiência escolar, ou seja, na minha preferência pelas disciplinas de matemática, química e física. Comparando as possibilidades de cursos verifiquei que a Engenharia Química demandava tais conhecimentos. CRQ-V :Como se tornou Conselheiro? R.B.Z. : Por convite do Presidente do CRQ-V, Paulo Fallavena. CRQ-V : Lembra de algum momento relacionado ao seu trabalho com química que mudou suas expectativas ou influenciou na sua escolha e modo de entender a área? R.B.Z: Lembro que um amigo me perguntou o que fazia um Engenheiro Químico. Depois da minha tentativa de explicar, ele me falou: ”Então tu ajuda a poluir o planeta!”. Conclui que deveria focar meus conhecimentos assimilados durante a faculdade em direção a combater e prevenir a poluição. Hoje o mundo inteiro já possui uma forma diferente de pensar como a indústria atua e a própria indústria já atua também em prol do meio ambiente, mas aquela conversa talvez tenha me auxiliado a me adiantar um pouco a respeito desta ”onda ecológica” pela qual passa a nossa sociedade. 10

RAQUEL FIORI DE SOUZA

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aquel (49) é licenciada em Química pela PUCRS, especializada em Ciência e Tecnologia de Alimentos e mestre em Ciências e Tecnologia de Alimentos pela UFRGS. É a diretora do Laboratório Central do Estado (LACEN) e da Fundação Estadual de Produção e Pesquisa em Saúde (FEPPS). No momento é doutoranda em Química Analítica pela UFSM, onde pretende concluir o trabalho com toxicologia de alimentos: Análise de Resíduos de Agrotóxicos e Micotoxinas. CRQ-V: Como se interessou pela área da química? Raquel Fiori de Souza: Meu interesse começou quando ainda era pequena e fazia experiências com o meu kit de química em casa. Estes fatos sempre me entusiasmaram. Decidi seguir um caminho em que pudesse fazer minhas misturas e que as mesmas tivessem um objetivo prático na vida das pessoas. CRQ-V : Como se tornou Conselheiro? R.F.S. : Por meio de minha participação como Diretora de Assuntos Sindicais no Sindicato dos Químicos do RS (SINQUIRS). CRQ-V : Lembra de algum momento relacionado ao seu trabalho com química que mudou suas expectativas ou influenciou na sua escolha e modo de entender a área? R.F.S. : Minhas atividades como analista de alimentos na área de toxicologia me fizeram entender que não basta apenas a bancada de análise, é preciso estar engajada no protocolo social que nos traz estas atividades : a educação ao produtor rural para as boas práticas protegendo a polulação consumidora para que possamos ter grande oferta de alimentos sadios com segurança alimentar. Aessência para quem quer seguir na área da Química : O químico necessita ter curiosidade, gosto pelo estudo e mente aberta para as mudanças rápidas de administração, padroes técnicos e tecnologias.


RICARDO NOLL

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Ricardo (60) é engenheiro Químico e Farmacêutico-Bioquímico, formado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Atua no CRQ-V e Sinquirs e é Engº Químico da Corsan-Cia. Riograndense de Saneamento. CRQ-V: Como se interessou pelo área da química? Ricardo Noll: O interesse na Química surgiu quando comecei a trabalhar na Importadora Delaware, empresa de comércio e importação de produtos químicos e farmacêuticos, aos 17 anos de idade. CRQ-V : Como se tornou Conselheiro? R.N. : Já atuava na Diretoria do Sindicato dos Químicos do RS - Sinquirs, sendo posteriormente eleito para Conselheiro do CRQ-V como representante do Sinquirs. CRQ-V : Lembra de algum momento relacionado ao seu trabalho com química que mudou suas expectativas ou influenciou na sua escolha e modo de entender a área? R.N. : Ainda como estudante, fazia viagens a trabalho para a empresa citada anteriormente, entrando em contato direto com o mundo empresarial químico do Rio Grande do Sul e de outras localidades. Nestas viagens e através do trabalho direto e contato com profissionais químicos estrangeiros, ficou claro o potencial dos químicos brasileiros. Ao contrário da impressão dominante, os químicos de países de 1º mundo não são melhores que os daqui.

Agenda 03 de agosto Curso de Gestão sobre Resíduos Sólidos Serviços de Saúde Informações e inscrições: Telefone: (51) 30726508 E-mail: iapc@iapc.org.br

05 de agosto Curso de Pós-Graduação e Gestão de negócios em chocolateria

Informações e inscrições: www.castelli.edu.br Telefone: (54) 3282-1460 E-mail: relacionamento@castelli.edu.br

13 a 16 de agosto 1º Seminário Internacional de Química Forense

Informações: www.abqrs.com.br/portal/img/siquif/ folder.pd OU www.abqrs.com.br/portal/php/siquif. php

16 de agosto e 06 de setembro Curso de Transporte de Cargas Perigosas Informações e inscrições: Telefone: (51) 30726508 E-mail: iapc@iapc.org.br

21 de agosto Palestra gratuíta:“A importância da Propriedade Intelectual no Processo de Inovação“ Informações e Inscrições: www.abqrs.com.br

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