Informativo 154

Page 1

INFORMATIVO DO CONSELHO REGIONAL DE QUÍMICA DA 5a REGIÃO JULHO A DEZEMBRO DE 2020 - ANO XXIV- Nº154

A CIÊNCIA POR TRÁS DAS TATUAGENS

A Química no tratamento oncológico

Cosméticos deverão ter rótulo em português

Prêmio Nobel 2020


CIÊNCIA DOS ALIMENTOS

pg. 3

Conheça a química por trás de uma das sobremesas mais apreciadas no verão.

SAÚDE

pg. 4

A ciência da quimioterapia, um dos tratamentos mais utilizados contra o câncer.

COLORINDO A PELE

pg. 6

PALAVRA DO PRESIDENTE

Cor e Química: a ciência das tatuagens.

RDC 432/2020

pg. 8

Produtos cosméticos deverão ter rótulo escrito em português.

SUTENTABILIDADE

pg.9

Pesquisador consegue produzir biodiesel com hidróxido de lítio.

PRÊMIO NOBEL

pg.10

Nobel de Química vai para dupla de pesquisadoras por criação de método de edição do genoma.

Expediente Presidente Paulo Roberto Bello Fallavena Vice-presidente Estevão Segalla Secretário Renato Evangelista Tesoureiro Mauro Ibias Costa Assessoria de Comunicação do CRQ-V assecom@crqv.org.br Jornalista responsável Louise Gigante Redação e Editoração Gráfica Louise Gigante EDIÇÃO ONLINE INFORMATIVO CRQ-V AV. ITAQUI, 45 - CEP 90460-140 PORTO ALEGRE/RS FONE/FAX: 51-3330 5659 WWW.CRQV.ORG.BR 2

PAULO ROBERTO BELLO FALLAVENA

“O ano de e 2020 foi cheio de emoções. A vinda de um vírus extremamente polêmico e perigoso. Vírus este que transformou a nossa vida em uma enorme confusão: home office, máscaras de proteção, álcool gel, confinamento, etc. Com isso, muitos paradigmas de normalidade foram quebrados e muitas coisas novas surgiram da necessidade de se continuar a trabalhar e a produzir. No CRQ-V não foi diferente. Muitos colaboradores ficaram em teletrabalho, alguns fizerem rodízio e outros não deixaram de comparecer um dia sequer. A nossa missão de proteger a sociedade foi cumprida. Nossas atividades principais foram cumpridas, como as reuniões plenárias, onde os processos oriundos da fiscalização e de outras solicitações são analisados, discutidos e votados. Algumas mudanças foram necessárias para que esse objetivo fosse alcançado, tais como a virtualização dos processos e das próprias reuniões. Modernização que resultou em agilidade nos resultados e maior visibilidade de todo o processo aos conselheiros. Modificações estruturais foram feitas para a adequação do Conselho a essa nova realidade, onde a valorização do atendimento aos profissionais e às empresas foi a tônica. Muito ainda temos a fazer e esperamos que o ano de 2021 não seja tão problemático como o ano que se encerra, afinal, já sabemos como lidar com a pandemia. Desejamos a todos os colaboradores, conselheiros e profissionais, muito boas festas e um ano de 2021 repleto de realizações. Estes são os meus votos, em nome de toda a equipe do Conselho Regional de Química da 5ª Região. “

Números do Conselho JUL - DEZ Vistorias

229

Autuações

44

Registro de Pessoa Física

211

Registro de Pessoa Jurídica

53


CIÊNCIA DOS ALIMENTOS

QUANTA QUÍMICA CABE EM UM POTE DE SORVETE? O verão é a época em que o consumo de sorvetes, picolés e outros alimentos gelados aumenta. Além de refrescante, o sorvete é encontrado nos sabores mais variados, agradando a grande maioria dos paladares. Sua história não tem origem exata, mas alguns registros históricos indicam seu possível surgimento em uma antiga civilização chinesa (cerca de 3.000 a.C), onde foi criado um doce que misturava suco de fruta, mel e neve. Com o tempo, o doce gelado foi se aprimorando e ganhando versões feitas com leite, suco e água. No Brasil, a sobremesa ficou conhecida em 1834, quando dois comerciantes compraram mais de 200 toneladas de gelo vindas do continente norte-americano e começaram a produzir sorvete com frutas brasileiras. Sua distribuição a nível industrial teve início em 1941. No ano seguinte, a primeira indústria brasileira de sorvetes, a U.S. Harkson do Brasil, lançou o “Eski-bom” e logo após, o “Chicabon”. Anos depois, a indústria mudou seu nome para Kibon. Atualmente, o sorvete é composto basicamente por água, açúcar e leite. Aromatizantes também podem ser adicionados para acrescentar cheiro e sabor. Ele é uma emulsão, ou seja, uma combinação de dois líquidos que geralmente não se misturam (as gotículas de gordura do leite estão dispersadas em

uma mistura de água, açúcar e gelo). Para manter sua textura cremosa e seu volume, é necessário incorporar ar à mistura nos estágios iniciais de congelamento. Os componentes são misturados, batidos para a introdução de ar e resfriados lentamente. Algum tempo depois, é necessário bater novamente. Caso os ingredientes sejam apenas misturados e levados ao congelador, o resultado será um picolé. Isto porque a introdução de oxigênio ajuda a promover uma rede de gotículas de gordura, que mantém as bolhas de ar aprisionadas. Durante a fase de resfriamento, a parte aquosa da mistura começa a se transformar em pequenos cristais de gelo. Também podem ser adicionadas as misturas pequenas quantidades de emulsificantes e estabilizantes. Emulsificantes são substâncias principalmente derivadas de gorduras ou ácidos graxos, que modificam as propriedades de superfície de um sólido ou líquido e diminuem a tensão entre os dois componentes. Esta substância produz uma sensação de maior maciez ao paladar. Eles são geralmente ésteres compostos de um final hidrófilo (água) e um final lipofílico (gordura). Os estabilizantes mais utilizados na indústria alimentícia são a carragena, os alginatos, a caseína, a goma guar, a goma jataí, a goma xantana, e a carboximetil celulose sódica. Eles

inibem a formação de grandes cristais de gelo, também produzem suavidade e textura, dando uniformidade ao produto e o tornando resistente ao derretimento. Devido as altas concentrações de sal e açúcar presentes na mistura, ocorre a diminuição da temperatura de fusão da água, ou seja, quando está no sorvete, a água precisa estar a temperaturas abaixo de zero graus para congelar. Isto também ajuda a manter o sorvete cremoso (e não completamente congelado) mesmo recém tirado do refrigerador, permitindo que possa ser consumido de colher. Existem diversos sabores do doce, cada um com a sua particularidade na hora da produção para manter o sabor desejado. Porém, todos possuem a mesma base de produção e conservação. Uma dieta equilibrada pode contar com o consumo de sorvete, desde que sem exageros. Ele possui níveis relevantes de proteínas, açúcares, vitaminas A, B1, B2, cálcio, entre outros minerais essenciais ao corpo humano. Os de sabores frutais são preferíveis por possuírem um nível calórico menor. Esta sobremesa não deve ser consumida em excesso, pois possui um alto nível de gordura e açúcar, o que pode causar obesidade, cárie, entre outros problemas de saúde. Aprecie sem exageros.

3


SAÚDE

QUIMIOTERAPIA: a importância da Química no tratamento oncológico O mês de outubro traz consigo uma importante lembrança para a saúde: a prevenção contra o Câncer de Mama, que acomete homens e mulheres de diversas faixas etárias ao redor do mundo. Durante o “Outubro Rosa” este assunto - importante durante o ano inteiro - torna-se pauta mais evidente em todas as áreas. O Câncer define-se como um conjunto de mais de 100 doenças que possuem um crescimento desordenado de células que invadem tecidos e órgãos. Por sua rápida multiplicação e crescimento, essas células têm a tendência de serem agressivas e incontroláveis, formando tumores que podem espalhar-se pelo organismo. Dentre os tipos da doença, o Câncer de Mama é um dos mais comuns e possui um tratamento eficaz e seguro, se detectado cedo. Segundo a Organização Mundial de Saúde, a doença atinge cerca de 2,1 milhões de mulheres e homens ao redor do mundo. Seu tratamento pode ser feito através de quimioterapia, cirurgia, radioterapia ou, ainda, transplante de medula óssea. Na quimioterapia utilizam-se medicamentos para combater a doença e existem seis tipos disponíveis para tratamento: via oral, intravenosa, intramuscular, subcutânea, 4

intratecal (aplicada no líquido da espinha dorsal) e tópica (pomada ou líquido para a pele). A quimioterapia intravenosa é a mais utilizada ao redor do mundo. Sua aplicação geralmente é indolor (sente-se apenas a “picada” da agulha no momento) e feita em sessões previamente agendadas. Quando aplicada ao tratamento contra o câncer, a quimioterapia é composta por agentes químicos chamados de antineolplásicos que destroem o tumor e/ou células malignas evitando ou inibindo o crescimento delas. A médica oncologista, residente no hospital Moinhos de Vento, Daniela Dornelles Rosa explica que a quimioterapia é a principal forma de se combater o Câncer de Mama e que a única diferença entre a oral e a venosa é com relação à rapidez da chegada do medicamento ao sangue. “Quando aplicado na veia, o medicamento chega um pouco mais rápido no sangue. Na versão oral, o sangue é atingido da mesma maneira, porém, um pouco mais devagar”, explica. Os remédios administrados na quimioterapia têm como alvo células em diferentes processos de formação, por isso, é importante compreender esse desenvolvimento para que se escolha o melhor protocolo para o tratamento. As células cancerígenas

têm a tendência de se multiplicar mais rápido que as saudáveis, tornando-as alvo ideal para os fármacos. Segundo Daniela, a ação química de cada medicamento nas células cancerígenas depende da classe a qual ele pertence. “Alguns quimioterápicos dependem da fase em que a célula está no ciclo celular. Por exemplo, existem remédios que são específicos para a fase de multiplicação da célula, a chamada mitose, enquanto outros não dependem dessa fase e podem agir em qualquer momento do crescimento e multiplicação celular”, acrescenta. Existem mais de 100 quimioterápicos que podem ser utilizados contra o câncer. Seja de forma isolada ou em combinação com outros tratamentos, esses remédios possuem formas distintas de administração, levando em consideração sua classe. Os agentes alquilantes trabalham impedindo que a célula se reproduza, danificando seu DNA. Eles são utilizados em todas as fases do ciclo celular e atuam em diversos tipos de tratamentos contra o câncer, como o de pulmão, mama e ovário. Por causar danos ao DNA, estes agentes podem afetar células da medula óssea, podendo levar (em casos raros) à leucemia – geralmente ocorre de 5 a 10 anos após o tratamento. Exem-


SAÚDE plos destes agentes: Altretamina; Busulfan; Oxaliplatina; Tiotepa, entre outros. Os antimetabólitos afetam tanto o DNA quanto o RNA, substituindo os blocos de construção normais de DNA e RNA. A fase em que estes agentes provocam danos as células é no momento da cópia dos cromossomos celulares. Eles são utilizados para tratar leucemias, câncer de mama, ovário, trato intestinal e outros. Exemplos: 5-fluorouracil (5-FU); Capecitabina; Fludarabina; Pemetrexede, etc. Os antibióticos antitumorais alteram o DNA das células evitando seu crescimento e multiplicação. As antraciclinas são antibióticos antitumorais que interferem nas enzimas envolvidas no processo de cópia do DNA durante o ciclo celular. Exemplos de antraciclinas: Daunorrubicina; Epirrubicina, entre outros. Caso administrados em doses elevadas, esses medicamentos podem provocar danos irreversíveis ao coração, por isso, são estabelecidos limites de dosagem. Alguns exemplos de antibióticos antitumorais que não são antraciclinas: Actinomicina-D; Mitoxantrona, entre outros. Os inibidores da topoisomerase interferem nas enzimas chamadas topoisomerases, que dividem os filamentos de DNA para que possam ser copiados. São utilizados para tratar leucemias, câncer de pulmão, etc. Alguns exemplos são: Topotecano; Irinotecano; Etoposido; Teniposido, entre outros. Os inibidores mitóticos derivam de produtos naturais, como as plantas. Sua ação impede que as células se dividam, porém, podem danificá-las em qualquer fase celular. São

utilizados para diversos tipos de câncer e podem provocar problemas neurológicos dependendo da dose administrada. Exemplos: Docetaxel; Paclitaxel; Vinorelbine, etc. Os corticosteróides (esteróides) são utilizados como parte do tratamento oncológico, bem como outras doenças. No câncer, eles são considerados quimioterápicos e podem ser utilizados para prevenir reações alérgicas e enjôos provenientes dos quimioterápicos. Exemplos: Prednisona; Dexametasona, entre outros. Existem medicamentos que agem de maneira diferente e não se encaixam nas categorias acima. Exemplo: L-asparaginase. Por agir matando as células malignas do organismo, a quimioterapia afeta, também, células saudáveis. Dos muitos efeitos adversos que podem acompanhar o tratamento, os mais comuns são a queda de cabelo, dores no corpo, cansaço e enjoo. Segundo Daniela, as células do couro cabeludo se multiplicam rapidamente e é neste tipo de célula que a quimioterapia age de forma mais rápida, tendo como consequência a queda dos fios. “Outras células afetadas são as das mucosas da boca e trato digestivo, o que resulta na chamada ‘mucosite’, que pode causar enjoo, dificuldade de se alimentar e, consequentemente, fraqueza no paciente”, complementa. De acordo com a médica, existe uma separação popular na quimioterapia que a divide em “branca” e “vermelha”. Esta divisão deve-se à coloração que os tipos de medicamentos têm e são vistos a olho nu, durante a aplicação

no paciente. A quimioterapia vermelha (antraciclinas, como a doxorrubicina e epirrubicina) e a quimioterapia branca (taxanos, como o paclitaxel e docetaxel) possuem mecanismos diferentes e geralmente são usados sequencialmente. Fatores externos como tabagismo, álcool e alimentação não costumam interferir no efeito direto da quimioterapia na célula maligna. “Estes hábitos costumam interferir de outras maneiras, por exemplo, pacientes que fumam têm maior dificuldade de cicatrização, menor vascularização de alguns órgãos importantes que podem aumentar um pouco os efeitos adversos”, explica Daniela. Com relação ao álcool, a situação é semelhante, “o consumo excessivo de bebidas alcoólicas tem um efeito hormonal no organismo e pode não ser indicado para pacientes que estão em tratamento ativo. Além disso, o álcool estressa o fígado, local onde o organismo metaboliza substâncias tóxicas”, complementa. A Química, mais uma vez, se prova essencial para a medicina e para a saúde humana, permitindo que tratamentos modernos e complexos sejam possíveis, melhorando o campo como um todo. Em todos os meses do ano, cuide de sua saúde, com exames de rotina, visitas a especialistas e mantendo um ritmo saudável de vida, alimentação e exercícios. A vida é o nosso principal elemento.

5


COLORINDO A PELE

As cores possuem o poder de mudar completamente a estética de um ambiente, uma roupa, o cabelo e, claro, a pele. Flores, palavras, animais e muitas cores: assim estão os braços, pernas, costas e demais partes do corpo de muitas pessoas. As tatuagens popularizaram nas últimas décadas como forma de afirmação de estilo, personalidade ou para trazer alguma mudança estética no corpo.

ORIGEM

6

Existem provas arqueológicas que afirmam o início da história das tatuagens ainda entre os 4000 e 2000 a.C. no Egito, na Polinésia, Filipinas, Indonésia e Nova Zelândia (os populares “maori”). Neste período, os rituais religiosos envolviam tatuagens. De lá para cá, muitos povos aderiram ao uso dos traços na pele nos mais diferentes sentidos, tornando-se, atualmente, algo comum e diversificado. O termo tatuagem (do francês tatouage e do inglês tattoo) tem origem em línguas polinésias e foi “criado” de maneira inusitada. Um capitão, chamado James Cook escreveu em seu diário a palavra “tattow” - também conhecida como “tatau” – denominar o som reproduzido durante a tatua-

gem, onde utilizavam ossos bem finos como agulhas e um martelo para pressionar e introduzir a tinta na pele. Com a circulação dos marinheiros pelo mundo, o termo se popularizou e ganhou variações. As aplicações foram ganhando versões modernas, até o que se conhece hoje. No ano de 1891, foi desenvolvido por Samuel O’Reilly o primeiro aparelho elétrico para a produção das tatuagens. De lá para cá, os aparelhos ganharam novas versões, cores, tamanhos, formas de descarte, etc. e tornaram-se mais acessíveis ao mercado.

A QUÍMICA DA TATUAGEM

As tatuagens podem ser permanentes (feitas com agulhas) ou temporárias (geralmente feitas com henna). As tatuagens feitas com henna, muito vistas no verão, são temporárias, podem ser feitas por qualquer faixa etária (diferente das permanentes) e têm em sua composição Lausona ou IUPAC: 2-hidroxi-1,4-naftoquinona. Além do uso em desenhos tatuados na pele, este produto é utilizado para colorir sobrancelhas, cabelos e até couro. Apesar de acessíveis e de fácil aplicação,

o uso de henna na pele deve ser observado e feito com cuidado. O principal cuidado está em observar os compostos dos produtos. Pesquisadores da Universidade Federal de Goiás, em Goiânia, descobriram que a henna pode causar alergias aos usuários. Isto deve-se ao fato de que quase todas as marcas testadas no estudo informaram ser 100% naturais em suas embalagens e não cumpriram o prometido. Em nota, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) informou que “na declaração de produtos registrados na Anvisa, os componentes são seguros”, porém, ainda na nota informaram que se “identificadas na fórmula substâncias que não foram apresentadas à Anvisa e havendo a comprovação de irregularidade por análise fiscal, a empresa responsável pelo produto poderá sofrer sanções”. Segundo Renato Ivan de Ávila, doutor em ciências da saúde – pesquisador que testou durante quatro anos os produtos – informou ao G1 que as marcas testadas apresentaram uma substância conhecida como PPD (parafenilenodiamina), utilizado para fixar a tinta na pele e pelos. Ainda de acordo com o pesquisa-


COLORINDO A PELE dor, as amostras ficaram em contato com células humanas, durante 24h e apresentaram mudanças, que indicavam alergias. Atualmente, a legislação brasileira permite o uso dessa substância desde que represente até 6% da fórmula (quantidade considerada segura). É importante ressaltar que a henna, desde que com a composição química corrta e com a aplicação adequada, não costuma trazer riscos ao organismo. As tintas chamadas permanentes têm, em sua maioria, uma base de pigmentos derivados de sais de metais de transição – elemento cujo átomo possui um subnível d incompleto ou que possa vir a formar cátions com um subnível d incompleto. Isso possibilita a formação de compostos coloridos no mínimo em um de seus níveis de oxidação. Além dos pigmentos, as tintas para tatuagem no Brasil também são compostas por substâncias solventes e emolientes, como a água deionizada, surfactante não iônico, glicerina e propilenoglicol. Cada pigmento possui seu código internacional, podendo o mesmo ser utilizado por diversas marcas. O branco, por exemplo, é conhecido no mercado como C. I 77891. Os pigmentos são compostos tanto de sais e metais inorgânicos – como o mercúrio (vermelho), cromo (verde), manganês (lilás), cobalto (azul), cádmio (amarelo) – quando de preparações orgânicas – como o sândalo (vermelho) e o pau-brasil

(vermelho). Isto explica as possíveis reações alérgicas na pele, que dependem da qualidade da tinta e da pessoa tatuada. As tintas de tatuagem são geralmente obtidas através da suspensão de um corante num líquido apropriado (água, glicerina, álcool ou uma mistura). São muitas as variedades nas composições dos corantes, mas, para serem registrados e comercializados de forma legal no Brasil, precisam atender às normas da Anvisa. Assim como a henna, a tatuagem permanente também é utilizada na Estética de outra maneira: na micropigmentação de sobrancelha e labial. A micropigmentação é uma maquiagem definitiva, feita com um dermófrago (espécie de caneta com agulha na ponta). Através desta agulha, o pigmento é inserido na pele, com intensidade, cor e formato definido pela técnica usada. Além da sobrancelha, olhos e lábios, estrias, manchas e falhas em tonalidade da pele (como no caso de reconstrução de aréolas nos seios) podem ter seu aspecto melhorado com a micropigmentação. Por possuir diversas substâncias químicas em sua composição, as tatuagens podem não ser tão bem toleradas por alguns tipos de pele. Podem ocorrer reações alérgicas como a dermatite de contato alérgica e liquenóide, reações fotoinduzidas (após a exposição solar) e a rejeição do organismo ao pigmento (reação granulomatosa). Com o avanço da Química, Biotecnologia e Cosmética, a in-

dústria de pigmentos voltados para a pele produz tintas cada vez menos agressivas ao organismo, reduzindo o número de reações e tornando as pinturas mais saudáveis. Antes de optar por se tatuar ou fazer uma micropigmentação, é importante procurar saber as procedências do produto como sua composição e registro.

INOVAÇÃO

Com o avanço da tecnologia, novas tendências despontam no campo das tatuagens. Exemplo disso são as tintas fluorescentes e a remoção de tattoo a laser. As chamadas “tintas fluorescentes” são quase imperceptíveis à luz do dia, por serem feitas com compostos específicos que reagem apenas quando expostas à luz negra (ultravioleta) e adquirem caráter fluorescente. Neste método de tatuagem, são utilizadas pequenas esferas de acrílico (polimetilacrilato) onde são aprisionados compostos orgânicos dos grupos espiroxazinos e espiropiranos (aromáticos de cadeias longas que apresentam cores intensas em contato com à radiação UV). Outra inovação, possibilitada com o avanço da tecnologia, é a remoção de tatuagens com laser. Os desenhos, antes definitivos e sem perspectiva de retirada, hoje podem ser minimizados na pele. O aparelho quebra a tinta em pequenas partículas que são absorvidas pelo organismo e eliminadas pelo fígado. Quanto maior a profundidade do desenho na pele, mais complicado será este processo.


COLORINDO A PELE São necessárias (geralmente) no mínimo cinco sessões para apagar uma tatuagem sem muita profundidade e com linhas finas. Apesar de demorado, dolorido e, por vezes, não completamente satisfatório, o tratamento a laser traz mais liberdade e pos-

sibilidade de não sofrer com o arrependimento. Gravar a pele é um procedimento sério, que depende da especialização do profissional, da qualidade do produto e do cuidado do cliente, para que se tenha um resultado satisfatório e que

não agrida à saúde. A Química evolui a cada dia, para tornar os produtos mais seguros, duradouros e sustentáveis, melhorando diversos setores de nossa sociedade.

RDC 432/2020

Produtos cosméticos deverão ter rótulo escrito em português Os cosméticos são apreciados por todas as idades, classes sociais e raças ao redor do mundo inteiro. São diversos produtos destinados as mais diferentes finalidades com composições químicas distintas e de nomenclaturas específicas. Essa grande quantidade de compostos pode confundir na hora da leitura, principalmente se escrita em outro idioma. Para facilitar a compreensão do consumidor e tornar o uso destes produtos mais adequado, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) definiu novas regras para a rotulagem dos produtos. Segundo a agência, a descrição da composição química de itens de higiene pessoal, cosméticos e perfumes deverá constar em língua portuguesa na rotulagem. A medida, que valerá a partir de 2021 é obrigatória e foi estabelecida na Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) 432/2020, que foi publicada no Diário Oficial da União no dia 05 de novembro deste ano. A norma define que a composição química escrita em português deverá estar presente no rótulo original do produto, em uma etiqueta complementar, mas que mantenha a integridade das cores e material utilizado na confecção e impedindo que 8

seja retirada ou violada. Além disso, a Resolução mantém obrigatório o uso da Nomenclatura Internacional de Ingredientes Cosméticos (International Nomenclature of Cosmetic Ingredients – INCI) – sistema de códigos criado para padronizar os ingredientes rotulados nos produtos cosméticos. A RDC 432/2020 atende a uma decisão judicial que tem relação com uma Ação Civil Pública (0028713-35.2008.4.02.5101/RJ) avaliada pelo Tribunal Regional Federal da 2ª Região do Rio de Janeiro e o descumprimento de suas regras constitui infração sanitária sujeita à penalidades, além de sanções civis ou penais. Para a descrição das substâncias químicas na língua portuguesa, as empresas devem utilizar a Denominação Comum Brasileira atualizada ou outra referência de indicação da Anvisa. Caso a substância não esteja descrita nessa na DCN ou em alguma outra referência indicada pela Agência, ela é considerada “sem tradução para a língua portuguesa”, devendo as empresas, então, traduzi-la. Para adaptar-se às regras, as empresas terão um prazo de 12 meses (até 05 de novembro de 2021) e os produtos fabricados antes da vigência da resolução poderão ser comercializados até o fim de seus prazos de validade.


SUSTENTABILIDADE

Pesquisador consegue produzir biodiesel com hidróxido de lítio Um professor e pesquisador do campo da Química de Vitória (ES) descobriu que é possível produzir biodiesel com o hidróxido de lítio reaproveitado de baterias de aparelhos eletrônicos e pilhas. A descoberta pode tornar o processo de produção do combustível ainda mais sustentável, já que o componente pode ser obtido em materiais descartados e sem finalidade de uso. Quem coordena a pesquisa é o professor do Centro Universitário FAESA, Gilberto Maia de Brito, que já vem buscando formas sustentáveis de produzir biodiesel há quase 10 anos. O professor explica que a descoberta é inovadora, pois apresenta uma forma alternativa de produzir o biodiesel, o que não existia até a publicação da sua pesquisa. “Pegamos este hidróxido de lítio, que é um reagente químico, e misturamos com catalisadores que já são usados para fabricar biodiesel. Esta mistura não alterou a qualidade do produto. A síntese e o rendimento foram muito bons”. Ele detalha que, para produzir o biodiesel, é necessária uma reação química que exige uma estrutura de laboratório. A matéria-prima pode ser óleo vegetal ou gordura animal. O óleo é misturado com álcool (etanol ou metanol) e, em seguida, com o catalisador – hi-

dróxido de potássio junto com o hidróxido de lítio. O resultado desta mistura é o biodiesel e um subproduto, o glicerol. O projeto segue a linha verde. Por isso, usa óleo residual de frituras para a produção do combustível. Além disso, a adição do hidróxido de lítio no processo também tem a sustentabilidade como objetivo. “Pensamos em empregar o hidróxido de lítio como uma alternativa para esse elemento químico que é descartado junto com materiais eletrônicos. O descarte é feito em grandes quantidades e de maneira muito inadequada na maioria das vezes. Esta será uma forma de diminuir o impacto sobre o meio ambiente”, ponderou Brito. O próximo passo da pesquisa é tentar utilizar o lítio das baterias para produzir o biocombustível. O projeto já está aprovado, e o intuito é desenvolver uma nova metodologia, completamente sustentável, para extrair o lítio das baterias e usar na síntese do biodiesel. “Não há trabalhos usando lítio para sintetizar biodiesel, então é uma novidade. O primeiro passo foi usar o lítio em forma de hidróxido. Agora vamos testar o uso do lítio. Que funciona nós já sabemos, então é um trabalho que promete bastante”, finaliza. FONTE: Conselho Federal de Química 9


PRÊMIO NOBEL

Nobel de Química vai para dupla de pesquisadoras por criação de método de edição do genoma

Em 2011, um encontro em um café na cidade de Porto Rico entre duas pesquisadoras resultou em uma técnica de grande importância para a humanidade e em uma premiação, nove anos depois. O Prêmio Nobel de Química de 2020 foi para o desenvolvimento do método de edição de genoma chamado CRISPR (“Clusteres Regularly Interspaced Short Palindromic Repeats” que em português significa Repetições Palindrômicas Curtas Agrupadas e Regularmente Interespaçadas). A francesa Emmanuelle Charpentier e a norte-americana Jennifer A. Doudna foram as primeiras mulheres da história a ganhar o prêmio (criado em 1901) juntas. A técnica desenvolvida pelas pesquisadoras em 2012 funciona como uma espécie de “tesoura molecular” permitindo editar o código genético de animais, plantas ou micróbios. Considerada revolucionária, essa tecnologia contribui para o desenvolvimento de novas terapias contra o câncer e pode, futuramente, tornar real a cura de diversas doenças hereditárias que possuam herança genética. A ferramenta con10

siste em dois componentes: uma transcrição do CRSIPR que resulta em curtos fragmentos de RNa com capacidade de reconhecer um DNA exógeno específico e tem atuação como um “guia” a um lugar específico no genoma e uma proteína denominada Cas9, que corta o DNA nesse local. Os cientistas, podem, então, controlar onde a proteína vai partir o genoma, inserindo um novo gene neste corte e juntando-o novamente. Em 2015 a técnica ganhou destaque ao ser utilizada pela primeira vez para “cortar e colar” genes de um tipo de células imunitárias envolvidas na proteção do organismo contra diversas doenças como a gripe, ebola, diabetes, HIV e câncer. Segundo a Real Academia de Ciências da Suécia, Charpentier nasceu na França, no ano de 1968 e é bioquímica e microbiologista especializada em vírus. Atua como diretora do Instituto Max Planck de Biologia de Infecções em Berlim – Alemanha. Já Jennifer A. Doudna nasceu nos Estados Unidos, em 1964 e é Ph.D. em Química Biológica e Farmacologia Molecular. Ela atua como professora na Universidade da Califórnia e

como pesquisadora no Howard Hughes Medical Institute. A Academia informou que “esta tecnologia teve um impacto revolucionário nas ciências da vida, está contribuindo para os novos tratamentos para o câncer e pode tornar realidade o sonho de curar doenças hereditárias. Essas tesouras genéticas levaram as ciências da vida para uma nova época e, de muitas maneiras, estão trazendo grandes benefícios para a humanidade”. No anúncio do Prêmio na Suécia, o secretário-geral da Academia Göran Hansson definiu estas descobertas como a “reescrita do código da vida”. O valor dividido entre as premiadas será de 10 milhões de coroas suecas, correspondendo a cerca de R$ 6,3 milhões. Este prêmio é o terceiro Nobel divulgado em 2020, sendo anunciado após o de Medicina e Física. Em 2019, o prêmio de Química foi para três pesquisadores: o norte americano John Goodenough, o britânico Stanley Whittingham e o japonês Akira Yoshino, por sua invenção das baterias de íons de lítio, utilizadas em muitas tecnologias.


11


CONSELHO REGIONAL DE QUÍMICA DA 5ª REGIÃO

A VIDA É NOSSO PRINCIPAL ELEMENTO

Av. Itaqui, 45 Porto Alegre/RS - CEP 90460-140 Av.Itaqui, 45 Fone: (51) 3330-5659 Porto Alegre/RS - CEP 90460-140 www.crqv.org.br Fone/Fax: (51) 3330-5659 facebook.com/crq5regiao instagram.com/crq_v www.crqv.org.br


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.