3 minute read
INOVAÇÃO E DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO
Por isso, temos de encontrar alternativas para os nossos milhares de clientes - o nosso objetivo é que todos os nossos bairros tenham energia com zero emissões de carbono".
Dada a tempestade não-tão-perfeita da crise energética, Castanheira e os seus colegas estão atualmente a utilizar a plataforma EMB3Rs para encontrar potenciais fontes de calor residual que possam corresponder às suas necessidades energéticas, e também para identificar oportunidades para novos sistemas de aquecimento urbano. O sistema de aquecimento e arrefecimento urbano da Climaespaço no Parque das Nações, em Lisboa, sempre dependeu exclusivamente do gás natural para o seu fornecimento de energia.
Uma combinação de diferentes fontes de energia
Por uma questão de simplicidade, Castanheira considera que o ideal seria um único fornecedor de calor excedente para abastecer os utilizadores finais. No entanto, considera que uma combinação de diferentes fontes de energia é mais realista.
"Para eliminar as emissões de dióxido de carbono, os sistemas vão ter de se tornar mais complexos e tirar partido do calor residual e das energias renováveis que existem [nas proximidades] - já não podemos utilizar apenas uma única fonte de energia", afirma.
O "intermediário" entre o fornecedor de energia e o utilizador final
Esta procura de fontes de energia e, ao mesmo tempo, de fornecimento de energia, faz com que os proprietários das redes de aquecimento urbano se tornem "intermediários" entre os fornecedores de energia e os utilizadores finais. E, de acordo com Daniel Møller Sneum, da unidade de investigação de Economia da Energia e Modelos Matemáticos da Universidade Técnica da Dinamarca e parceiro do projecto EMB3Rs, este papel traz um desafio fundamental - o equilíbrio dos contratos.
No que diz respeito ao calor excedente, a maioria dos fornecedores considera esta fonte de energia como um subproduto que não gera receitas significativas. Além disso, é muitas vezes fornecido gratuitamente para, por exemplo, aumentar as credenciais ecológicas de uma empresa. "Tenho observado que confiança é a motivação principal para a participação neste tipo de acordos [de calor residual]", diz Sneum.
Ao mesmo tempo, o aquecimento pode ser fornecido por muitas outras fontes para além do aquecimento urbano, como bombas de calor e gás natural, o que significa que o utilizador final pode mudar o fornecimento se necessário. Isto contrasta fortemente com a eletricidade, onde não existe uma verdadeira concorrência.
Incerteza na oferta e na procura
"Tudo isto coloca o aquecimento urbano numa posição de risco, uma vez que se trata de um investimento a longo prazo em infra-estruturas que apresenta incertezas tanto a nível da oferta como da procura", afirma Sneum. "Continuaremos a ter o fornecedor de calor excedente no próximo ano? Poderá o utilizador final optar por um fornecimento alternativo no próximo ano?"
Com isto em mente, Sneum acredita que as empresas de aquecimento urbano terão de equilibrar cuidadosamente os contratos tanto com os fornecedores de energia, como com os utilizadores finais. Concordando com Castanheira, Sneum salienta que uma combinação de diversas fontes - que podem incluir calor residual, bem como energia solar térmica, geotérmica, entre outras - será fundamental para garantir que a rede de aquecimento urbano tem um fornecimento contínuo de calor, aliviar os receios de investimento a longo prazo e reduzir os custos para os clientes.
Sneum defende também que regiões com redes de aquecimento urbano beneficiariam de consultores locais com conhecimentos especializados para apoiar e promover a tecnologia junto dos utilizadores finais. "Precisamos de um impulso entre os decisores locais e de uma cadeia de fornecimento de profissionais, e depois as redes podem germinar a partir daí", afirma. "Os decisores terão sempre de ser locais, ao passo que os profissionais podem inicialmente vir de fora, até que se desenvolva uma cadeia de fornecimento local.
energia poderão encorajar investimento
Uma empresa que não é alheia ao calor residual é a CIMPOR-Indústria de Cimentos, o maior fabricante de cimento em Portugal. De acordo com Paulo Rocha, Diretor de Inovação e Sustentabilidade da CIMPOR, o calor residual na fábrica de produção de cimento em Souselas já é recuperado a partir dos gases libertados pelo forno da fábrica para secar os combustíveis derivados de resíduos utilizados durante as operações.
No entanto, o prazo de retorno de investimento de uma década para investimentos futuros para a exploração de outras fontes de recuperação de calor residual tem impedido o seu desenvolvimento.