Jornal tabloide Universo IPA #5

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Ano 5 | Edição 5 | Dezembro de 2011 | Versão TABLOIDE

Curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodista do IPA | http://universoipa.metodistadosul.edu.br

Pescaria que ainda resiste

FOTO DE GUILHERME NETO

página 35

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escaria artesanal é uma atividade ligada às comunidades do litoral e àquelas localizadas à beira de rios e lagos. A pesca vem há muito tempo passando por gerações. Com o passar das décadas, foi se aperfeiçoando com o uso de grandes navios pesqueiros que carregam toneladas de peixes. Porém, a pesca artesanal, realizada pelas comunidades, onde a maioria dos habitantes ribeirinhos ainda vive do ofício, herança deixada por pais e avós pescadores, resiste, sustentada por histórias de pescadores.

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caderno

“Tem que ter o desejo de ser líder” página 16

O que as

chinesas têm?

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onsumidor brasileiro nunca esteve acostumado a comprar um carro completo com preço justo. Esse é o argumento das montadoras chinesas para conquistarem o mercado nacional. Um segmento calejado de carros populares, sem itens de segurança e conforto. Até 2008, boa parte da população nunca tinha ouvido falar nos nomes Chery, Lifan e Chana, primeiras montadoras do país mais populoso do mundo a aportarem por aqui.

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Geral

Um jornal plural ■■ Michele Limeira

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diversidade de temas marca mais uma edição do jornal Universo IPA, produzido pelos alunos do 2º semestre do curso de Jornalismo, do Centro Universitário Metodista, do IPA. A sala de redação é a disciplina de Projeto Experimental II. A definição das pautas, a redação e a edição dos textos ocorrem no ambiente de aprendizagem. O resultado está nas páginas a seguir, em reportagens como a que abre a edição, produzida por Anselmo Cunha – “Do outro lado da linha”, sobre a realidade dos trabalhadores de telesserviços que, além de, muitas vezes ao dia, ouvirem respostas desagradáveis dos clientes, ainda sofrem pressão das empresas contratantes para que alcancem as metas esperadas. A reportagem de capa chama a atenção para uma profissão antiga e cheia de histórias para contar, a de pescador. “Pescaria que ainda resiste”, do aluno Guilherme Neto, fundamenta-se em depoimentos de pescadores que sobrevivem há anos da pesca e, hoje, sofrem com o poluição que afeta os rios e lagos gaúchos. Na editoria de Geral, você pode conferir a reportagem de Rodrigo Gil, sobre as marcas chinesas de automóveis e os impactos no mercado brasileira. Em Comportamento, a futura jornalista Andréia Lopes escreve sobre as mulheres e ouve depoimentos sobre “as boazinhas e as poderosas”. Ainda nesta linha, a estudante Letícia Pusti não poupa esforços para tentar traduzir um pouco sobre o que significa ser “fã”, na reportagem “Elas são fãs”. Sugere-se ainda a leitura das reportagens “Benefícios que vão além do tatame”, da dedicada aluna Emili Pereira, e a matéria da estudante Jane Silveira, que também, com muito cuidado, apresenta os principais atributos de um bom jogo de capoeira. A edição do jornal traz também um caderno especial sobre cultura e comunicação, o ‘Caderno E’, apresentando temas atuais e tendências, como o surgimento das rádios webs e o trabalho desenvolvido pelas rádios comunitárias. As reportagens apontam caminhos para a democratização da comunicação, assim como outras matérias do caderno indicam manifestações plurais de cultura que convivem em harmonia na sociedade. Cinema, música, cobertura jornalística e publicidade estão entre as pautas que podem ser conferidas. Leia, curta, comente!

IPA - Instituto Porto Alegre da Igreja Metodista conselho superior de administração - consad

Presidente: Paulo Roberto Lima Bruhn Vice-presidente: Carlos Alberto Ribeiro Simões Junior Secretário: Nelson Custódio Fer Conselheiros: Henrique de Mesquita Barbosa Corrêa, Osvaldo Elias de Almeida, Maria Flávia Kovalski, Augusto Campos de Rezende e Eric de Oliveira Santos Conselheiros suplentes: Jairo Werner Junior e Ronald da Silva Lima

reitor:

Roberto Pontes da Fonseca

Jornal elaborado por estudantes do 2º semestre do curso de Jornalismo IPA coordenação do curso de jornalismo

Mariceia Benetti professores(as)

Lisete Ghiggi, Michele Limeira e Renata Stoduto. projeto experimental ii e produção e planejamento editorial e gráfico ii editora-chefe: Michele Limeira ajor - agência experimental de jornalismo

• arte-final e diagramação: Carlos Tiburski • revisão: Lisete Ghiggi e Michele Limeira endereço ajor: Rua Joaquim Pedro Salgado, 80, Rio Branco - Porto Alegre/RS CEP: 90420-060 • contato: 51 3316.1269 e ajor@metodistadosul.edu.br impressão: Zero Hora (1.000 exemplares)

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Millôr Fernandes (ou quando gestos valem mais que palavras)

■■ Jorge Sant’Ana

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s pessoas lembram muito das palavras de Millôr e com razão. Este artigo é para lembrar seus gestos, tão grandes quanto seus pensamentos. O ano é 1982. O cenário são as primeiras eleições diretas para Governador depois de um longo período de Ditadura Militar. Millôr Fernandes desfruta de um dos espaços mais prestigiados da mídia nacional: duas páginas da revista Veja nas quais escreve e desenha o que quiser (ou quase, como se verá). Não titubeia ao apoiar explicitamente em seu espaço o candidato da esquerda ao governo do Rio de Janeiro, Leonel Brizola. Victor Civita, fundador da editora Abril e dono da Veja, o chama para conversar. Elogia Millôr, o define como o maior jornalista brasileiro e pede (não ordena) que cesse o apoio a Brizola até as eleições, alegando que a revista pretende ser isenta (anos mais tarde, ao comentar o episódio, Millôr diria que a revista fizera matérias de apoio a Antônio Carlos Magalhães na época). O empresário insiste para que Millôr silencie em troca da permanência na revista. Millôr não cede e com isso abre mão de um dos maiores salários da imprensa nacional em nome da independência editorial. “Jornalismo é oposição, o resto é armazém de secos e mo-

lhados”. 1964, Ditadura recém sa e nunca nos tiraram, e com o instaurada. Millôr é proprietá- medo, que é humano”. A publirio de uma revista quinzenal cação é apreendida. Millôr prechamada Pif-Paf, anos mais tende ser mais radical ainda na tarde considerada pelo Serviço edição seguinte, mas é dissuade Informações do Exército o dido por seus colegas e por isso marco inicial da imprensa al- abandona o jornal. ternativa no Brasil. No oitavo Antes disso, Millôr teve uma número, a última página con- crônica sua censurada pelo regitinha a seguinte frase: “Adver- me militar no Pasquim. Intitutência: se o governo continuar lava-se “Legalizemos a Banana” deixando que circule esta revis- e encerrava assim: “Em Jacareta, com toda sua irreverência e paguá, existe um cemitério só crítica, dentro em breve estare- de bananas. Foi fundado em mos caindo numa democracia”. 1833 pelo padre negro, do ZaiO número seguinte não foi às re, Regias Aminta, que trouxe bancas, o governo não permi- para o Brasil a manga-espada, a tiu. Millôr - ou o regime mili- fruta-de-conde e o aipim-mantar - fecha a revista. teiga. A banana não foi ele quem Ano: 1975, AI-5, auge da trouxe. Aliás, a banana só foi repressão política. Veículo: introduzida no país inteiro há jornal O Pasquim, publicação muito pouco tempo”. que revolucionou a linguagem Com tantos exemplos de jornalística e fez críticas aos bravura em tempos difíceis e costumes e ao governo na época prejuízos profissionais decorde maior censura e arbítrio dos rentes dessa sua postura con“anos de chumbo”. Anunciado o testadora, Millôr poderia ter fim da censura prévia ao jornal, exigido do governo uma indeMillôr escreve o seguinte edito- nização financeira, como fizerial: “Agora O Pasquim passa a ram alguns de seus colegas e circular sem censura. Mas sem muitos ex-guerrilheiros. Sobre censura não quer dizer com li- isso, Millôr declarou: “A luta arberdade... num país em que o mada não deu certo e eles agojudiciário brinca de justiça sem ra pedem indenização? Então o mínimo dos direitos que é o eles não estavam fazendo uma habeas corpus... este jornal, só, rebelião, estavam fazendo um pobre, sem qualquer cobertura investimento”. – política, militar ou econômica Luis Fernando Verissimo o – e que tem como único objeti- definiu como “um gênio com vo a crítica aos poderosos, não princípios, meu ídolo, Millôr pode se considerar livre. Mas Fernandes”. Meu também. Milcontinuaremos a trabalhar, com lôr morreu em 27 de março de a liberdade interior, que é nos- 2012, aos 88 anos.


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Do outro lado da linha

Abusos nas empresas e condições precárias de trabalho fazem parte da realidade de profissionais de telesserviços

FOTO: ISTOCKPHOTO

cem, o sindicato procura a direção ou a gerência da empresa, a fim de verificar o ocorrido e negociar com a empresa de forma que os abusos não voltem a acontecer. Mesmo assim, Trindade afirma que muitas vezes é preciso até recorrer ao Ministério do Trabalho, o que pode piorar a situação do profissional de telesserviço. Procurada pela reportagem, a empresa onde K.M. trabalha não quis se manifestar sobre o ocorrido.

O trabalho como deve ser feito

➜➜ Lesões por esforço repetitivo e abusos profissionais estão entre os problemas enfrentados por profissionais de telesserviços ■■ Anselmo Cunha

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ão é raro ver consumidores insatisfeitos com serviços de telemarketing no país. A lentidão no atendimento e a burocracia desqualificam a função e estressam clientes que precisam das ligações para entrar em contato com empresas e serviços. Devido à tensão gerada pela repetição de dados e as trocas de setores, o que leva um longo tempo de espera na linha, os clientes perdem a paciência e brigam com os operadores, sem saber que estes, muitas vezes, são tão vítimas quanto o cliente. De acordo com a Associação Brasileira de Telemarketing, entre 2007 e 2010, o setor cresceu 350% e a estimativa é que continue a crescer 10% ao ano. Por ser uma alternativa cada vez mais explorada pelas empresas para manter o relacionamento com o cliente, os profissionais de telesserviços são cada vez

mais procurados no país. O mer- clientes, porém ela sofre com cado amplo e uma oportunidade um problema muito comum na de iniciar a carreira no merca- profissão: a tendinite, uma dodo de trabalho atraem milhares ença causada por esforços repede pessoas às empresas que têm titivos. Em virtude das várias centrais de telesserviços. horas ininterruptas de digitaE foi justamente o mercado ção, o problema torna-se reem desenvolvicorrente entre mento que chaprofissionais mou a atenção “Tenho tendinite, do ramo e alda operadora de gumas empreque começou telemarketing, sas negam-se a K.M., que não devido à digitação. ajudar os funserá identifica- Eu nunca reclamei cionários que da na matéria. desenvolvem disso para ninguém, Ela sent iu-se a doença. “Teat ra ída pela nho tendinite, porque quem pr of i ssão enque começou reclama é mandado devido à digiquanto estava à procura de seu tação. Eu nunca para rua” pr i mei r o emreclamei disso prego. Ao analisar as propos- para ninguém, porque quem tas de trabalho e ver que estava reclama é mandado para rua”, apta começou a procurar traba- relata K.M. lho no telemarketing. A situação de K.M. não é um Atualmente K.M. já atua há caso isolado. O Sindicato dos dois anos como profissional de Empregados em Empresas de telesserviços e afirma jamais ter Assessoramento, Perícias, Intido dificuldades em relação aos formações e Pesquisas e de Fun-

dações Estaduais do Rio Grande do Sul (SEMAPI-RS), empresa que atua como sindicato dos profissionais de telesserviços, envia cerca de 700 recursos por mês ao Ministério do Trabalho com reclamações dos profissionais cadastrados. Destes, a maioria, 80%, é de profissionais de telemarketing. Segundo o diretor do setor privado do SEMAPI-RS, Luiz Trindade, os motivos que levam os profissionais de telesserviços a procurar o sindicato são reclamações de não cumprimento de direitos, condições precárias de trabalho e abuso de poder. Trindade relata que há casos em que o empregado não tem direito nem de ir ao banheiro sem ser pressionado a voltar ao trabalho. “Há empresas onde o trabalhador só pode ir ao banheiro acompanhado até a porta pelo seu supervisor que fica marcando o tempo no relógio”, relata Luiz. Toda vez que abusos aconte-

Os problemas das empresas que têm setor de telesserviços podem ser superados com a busca do bem-estar do funcionário para fazê-lo alcançar suas metas. Para tanto, cobrança e pressão devem ser substituídas por trabalhos motivacionais e até mesmo premiações aos profissionais que se destacam no mês. Os funcionários podem receber, além da premiação em dinheiro por alcançar a produção estabelecida, produtos como eletrodomésticos e até brindes, como doces, para incentivar pequenas metas alcançadas. As dicas são do supervisor de setor de tele-atendimento, Filipe Chagas. As metas variam por empresa e período. Em tempos mais rentáveis, elas seriam adaptadas à situação, e o mesmo aconteceria em ocasiões onde há diminuições nas vendas. “Existe uma meta geral estipulada que é divida pelos operadores, de acordo com a sua carteira. Além dela, há metas paras as rotinas de trabalho, pois o controle fica mais fácil e a possibilidade de atingi-la é mais tangível”, explica o supervisor. Além disso, o funcionário que não alcançar as metas não pode ser punido. A única punição cabível é o não recebimento da premiação pelo alcance do número de vendas previamente estabelecido.


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Geral

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Educação ou punição no trânsito? Porto Alegre tem 46 pardais eletrônicos que ajudam na fiscalização do trânsito FOTO: DIVULGAÇÃO

➜➜ Fiscais da EPTC (uniforme azul) devem atuar na orientação e fiscalização do trânsito ■■ Jessica Imhoff

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trânsito de veículos em Porto Alegre, de u n s tempos pra cá, vem aumentando cada vez mais. E com ele crescem também as infrações e a dor de cabeça para muitos condutores, principalmente quando recebem notificações de multas. Há 20 anos como taxista no trânsito de Porto Alegre, Bruno Goulart, não concorda com as multas e acredita que são desnecessárias. “Os agentes de trânsito deveriam ajudar a melhorar a situação e reeducar os motoristas, pois muitos não lembram das leis, e acabam cometendo infrações, pois não sabem que as mesmas existem”, acredita. E critica: “é muito fácil pegar a caneta e aplicar a multa, pois não é do bolso deles que vai sair

o dinheiro para quitá-la”. Rio Branco e Bela vista, é taO secretário municipal de refa complicada. Ele é responTrânsito, Vanderlei Luís Ca- sável pela parte da Área Azul ppellari, há 30 anos traba- e afirmou que aplica cerca de lhando na área, explica que 70 multas por dia. “Os motoris“os agentes de trânsito ser- tas são imprudentes, muitos favem para orientar e fiscalizar lam no celular, não usam cinto a circulação na cidade, para de segurança e não dão sinais uma maior segurança de todos”. Segundo ele, o agente somente aplica a multa quando “As autuações dos um motorista não cumpre as equipamentos leis de trânsito. Cappellari esclarece que os agentes devem eletrônicos são ficar sempre à vista dos moacompanhadas pela toristas. “Eles não são remufoto da infração”. nerados para ficar escondidos, por isso estão sempre à vista dos que querem e dos que não de alerta. Aplicamos a multa querem vê-los”. e, muitas vezes, eles revidam Fiscalizar o trânsito de Por- com xingamentos e agressões. to Alegre, para o agente Robson Acham que estão com a razão. Andrade, há dois anos na pro- Estamos ali para fazer nosso pafissão, atuando nos arredores pel e não para ouvir insultos de dos bairros Moinho de Vento, péssimos motoristas”, desabafa.

Para ajudar na fiscalização, meter a mesma infração depois além dos agentes de trânsito a de ser multado. É uma questão capital gaúcha conta com equi- de lógica, ninguém quer pagar pamentos eletrônicos. Confor- pelos seus atos, e com isso vai me o secretário de Trânsito, pensar antes de agir”. Porto Alegre tem um total de 46 pardais eletrônicos e os cruMultas zamentos mais movimentados já contam com 41 câmeras de Segundo o secretário de monitoramento, controladas Trânsito Vanderlei Luís Cappel­ em tempo real pelos agentes lari, “o dinheiro arrecadado é da Empresa Pública de Trans- projetado em ações de educaporte e Circulação (EPTC). As ção para o trânsito, sinalização, multas aos motoristas também câmeras de monitoramento, resão aplicadas por meio dos par- ajustes no Detran, fornecimendais e registros das câmeras. O to de material para implantação secretário garante precisão nas e manutenção de mobiliário multas: “As autuações dos equi- urbano”. pamentos eletrônicos são acomO cidadão, ao receber a notipanhadas pela foto da infração. ficação de autuação de infração Os equipamentos são aferidos de trânsito, poderá apresentar pelo Inmetro”. defesa na Central de AtendiO motorista Henrique Sar- mento ao Cidadão da EPTC mento é a favor dos agentes de – Av. Érico Veríssimo, 100, Tetrânsito. “O condutor não vai co- lefone: 118.


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Por uma Porto Alegre mais verde Vereador de Porto Alegre e movimento ambientalista caminham juntos pela preservação do meio ambiente FOTO: RICARDO STRICHER/ PMPA (DIVULGAÇÃO)

■■ Guilherme Sampaio

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orto Alegre tem mais de 1,3 milhões de árvores, segunda dados da prefeitura. Destacam-se na arborização da capital gaúcha os chamados túneis verdes. São áreas urbanas em que as árvores formam naturalmente túneis vegetais por meio da união das copas. Atualmente, foram declarados 18 logradouros como Área de Uso Especial. Um projeto de lei tramita na Câmara de Porto Alegre, desde 2006, e pretende declarar mais de 70 vias como Área de Uso Especial. A proposição do vereador Beto Moesch (PP) estabelece que no lugar de toda árvore removida do local seja plantada outra. Dentre essas 70 vias públicas, que poderão ser declaradas patrimônio ambiental, estão as ruas Mariante, Casemiro de Abreu, Dona Laura e Gonçalo de Carvalho. E entre as mesmas, 18 já foram declaradas Área de Uso Especial, como é o caso da rua Gonçalo de Carvalho. Segundo o vereador Moesch, Porto Alegre ganha mais visibilidade, em relação ao turismo, com a preservação dos túneis verdes. “A Capital já ganhou notoriedade em função da rua Gonçalo de Carvalho, primeira via da cidade declarada Área de Uso Especial, por meio de decreto publicado em 2006, em meu mandato como secretário municipal do Meio Ambiente. Hoje, ela é considerada a rua “mais bonita do mundo” ➜➜ Foto da vista superior da Rua Gonçalo de Carvalho, por diversos blogs nacionais e a primeira via pública considerada Patrimônio Ambiental na América Latina internacionais, justamente pela riqueza de sua arborização. Além disso, muitos taxistas trônico aparece uma frase abaixo alimentar espécies da fauna, conConscientização relatam que visitantes de fora do e-mail que diz: “Antes de im- ter os ventos, combater alagamendo município pedem para seBaseando-se em números, a primir pense em seu compromisso tos, embelezar as vias e regular o rem levados a conhecer nos- quantidade de árvores na capital com o Meio Ambiente”. O verea- microclima. Nas cidades, as áreas sos túneis verdes. Prova disso equivale a aproximadamente ao dor Moesch explica que “o plantio sem vegetação chegam a ter, no é que esses logradouros foram número de habitantes, tendo em e a preservação das árvores são mínimo, 10ºC a mais do que as incluídos no roteiro da Linha média uma árvore por pessoa. As a melhor forma de amenizar as re­giões vegetadas. A esse fenômeTurismo da Prefeitura Muni- pessoas são “conscientizadas” to- mudanças climáticas nos centros no dá-se o nome de Ilhas de Calor. cipal”, observa o vereador, pa- dos os dias em relação à impor- urbanos. Além disso, a arboriza- Porém, mesmo sendo conscientira justificar a importância da tância das árvores. Até mesmo ao ção contribui para evitar a polui- zadas e informadas, ainda faltam proposição. trocar mensagens pelo correio ele- ção atmosférica e sonora, abrigar e ações de preservação.

O blogueiro, representante do Movimento Amigos da Rua Gonçalo de Carvalho e sócio benemérito da Associação dos Moradores e Amigos do Bairro Independência, Cesar Cárdia, acredita que as pessoas pouco fazem para defender seu patrimônio. “Infelizmente vivemos uma era da omissão em muitas questões que envolvem a cidadania. A grande maioria da população pouco faz para defender seus direitos e para defender o meio ambiente”. Segu ndo a publ ic it á r ia Maiara Nascimento, as pessoas deveriam ser por si próprias mais solidárias com o meio ambiente para depois se tornarem participativas e aceitarem melhores as campanhas publicitárias. “Imagino que as pessoas deveriam ser mais solidárias, por si próprias, fazendo cada uma a sua parte, pois assim seria maior a aceitação das campanhas publicitárias de preservação. Acredito também que o governo deveria aumentar os projetos de educação ambiental nas escolas da capital.”

Você sabia?  Uma árvore absorve 60% da água que nela cai.  Porto Alegre é pioneira em tutelar e proteger túneis verdes, processo que se iniciou em 2006. Atualmente, existem 15 vias declaradas, por decreto, como Áreas de Uso Especial em função da riqueza de vegetação. Uma delas é a rua Gonçalo de Carvalho.  Um projeto de lei que tramita na Câmara de Vereadores de Porto Alegre pretende declarar Área de Uso Especial cerca de 70 ruas e avenidas que possuem túneis verdes. A proposta autoriza eventuais remoções, desde que ocorra plantio compensatório na região de origem.


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Economia

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O que as chinesas têm? Montadoras investem pesado no Brasil e mudam o mercado automobilístico nacional

FOTO: RODRIGO GIL

■■ Rodrigo Gil

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consumidor brasileiro nunca esteve acostumado a comprar um carro completo com preço justo. Esse é o argumento das montadoras chinesas para conquistarem o mercado nacional. Um segmento calejado de carros populares, sem itens de segurança e conforto. Até 2008, boa parte da população nunca tinha ouvido falar nos nomes Chery, Lifan e Chana, primeiras montadoras do país mais populoso do mundo a aportarem por aqui. Porém, o baixo preço, somado aos belos pacotes de opcionais, fizeram com que o consumidor não só ouvisse, mas se interessasse por elas. O “grand finale” veio em 18 de março de 2011, quando a JAC Motors iniciou oficialmente as atividades no Brasil. Representada no país pelo grupo SHC, do empresário Sérgio Habib, a marca chegou revolucionando o mercado automobilístico nacional. Seis anos de garantia, 50 concessionárias em todo o país, um centro de distribuição de peças, carros completos e preço competitivo. Esse é o conjunto se acostumou a fazer? A gente Motors, Effa, Lifan, Chana, que fez da JAC Motors uma das reduz a margem de lucro para o Chery e outras marcas imporprincipais montadoras chine- consumidor ter a sua vantagem. tadas da China mudaram o mersas em solo tupiniquim. Nós viemos para o Brasil para cado de automotores no Brasil. Os números podem não im- provar que nós podemos ven- As montadoras tradicionais, copressionar. Cerca de 2% dos der um carro bom, com preço mo Fiat, GM, Renault e Ford, carros vendidos hoje, no Brasil, bom, sem repassar para o consu- tiveram que se adaptar às musão chineses. Em Porto Alegre, midor essa quantidade absurda danças. Houve um reajuste nos de impostos preços praticados pelas montaa JAC conta que pagamos”, doras nacionais. Quem sai gacom duas concessionárias, “O consumidor nada afirma Gauto. nhando? O consumidor! Sobre uma na aveÉ apostan- essa adaptação, Gauto destaca: mais quer que uma nida Sertório do nessa van- “teoricamente, a gente manteve concorrência justa” tagem para o um preço nosso, e baixamos os e outra na avenida Ipiranga. consumidor preços da concorrência, para o O diretor da marca na capital que o diretor vê chances para consumidor ter opções também. gaúcha, Lourenço Gauto, justi- a JAC e todas as chinesas cres- Teve muita gente que comprou fica que os preços não são bai- cerem. “Eu sou diretor da JAC, outras marcas, com um proxos, são justos. As tarifas são mas eu sou consumidor também. duto muito melhor do que nos as mesmas praticadas em qual- O consumidor nada mais quer últimos seis meses, pode ter quer outro importado, a diferen- que uma concorrência justa. Ele certeza”. ça está na margem de lucro. “O quer preço pra produto que vaRicardo e Juliana Campbell que a gente faz de melhor que le”, completa. moram em Gramado e vieram Assim, de mancinho, JAC a Porto Alegre para comprar o o mercado brasileiro ainda não

➜➜ J3 da JAC completo sai da concessionária custando R$ 39.900 primeiro carro importado, um “Por um preço interessante eu J3 da JAC. Os dois são unâni- optei por apostar em um veícumes ao afirmar que o motivo na lo completo com vários acessóescolha por um chinês foi o pre- rios. Sei que têm defeitos, mas ço. A garantia também atratiu, os nossos carros nacionais tammas foi no test-drive que o casal bém são cheios de defeitos, e decidiu. “O que a gente consta- as pessoas mantêm ainda aquetou do carro é o oposto do que la fidelidade que nem sempre é todo mundo falava. Todos falavam mal, “Por um preço interessante e o que se vê eu optei por apostar em é que a China um veículo completo com dominando o mercado” . vários acessórios” O casal, que não usa o carro para fazer correspondida”, avalia Ricardo. viagens longas, também menMarketing! Essa é a palavraciona outras prioridades na -chave para a indústria chinesa. compra: serviço de manuten- A JAC Motors é um exemplo ção, conforto e qualidade. Para disso. Foram investidos, apenas Ricardo, não existem mais car- em mídia, R$ 400 milhões. A ros ruins e o marketing em tor- marca escolheu um garoto-prono desses veículos é grandioso. paganda de peso, em todos os


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sentidos. O apresentador Fausto Silva é a cara da JAC no Brasil. Os seis anos de garantia é outra ação de marketing exclusiva que deu certo no país. “Quando a importadora traz o carro pra cá, ele vem com três anos de garantia. Nós exigimos, pra vender o carro no Brasil, mais três. Eles concordaram. Então, a gente iniciou anunciando esse carro com três anos de garantia, antes de abrir as lojas. Quando abrimos, para concorrência não ficar sabendo, anunciamos, no mesmo dia, os seis anos de garantia”, conta Gauto.

Dura realidade

outro aspecto. “Não existe uma barreira chamada impostos. O que existe é a mão de ferro do governo totalitário que anda por um viés mais político do que econômico”, afirma. O processo de produção no país oriental começa quando uma empresa estrangeira resolve iniciar as atividades no país. Para isso, ela precisa nacionalizar a produção, e por parte do governo são exigidos a abertura de ensino e know-how para a população chinesa. Assim, algum tempo depois, a China começa a produzir e exportar os seus próprios produtos, e que, para o administrador, “não são de mesmo nível de qualidade do que aquelas marcas consagradas”, afirma Rafael. Assim a China aterrissa no Brasil, com carros que geram comentários, dúvidas, mas dispõem de longa garantia, que saem de fábrica com freios ABS, air-bags, ar-condicionado, direção hidráulica, vidros e travas elétricos, tudo por um preço muito atraente. A Chery trouxe o QQ para ser o carro mais barato do país. E foi, durante dois meses, antes de sofrer um reajuste de R$ 1 mil. Mesmo assim, o carro que ostenta o título de mais barato do Brasil, atual-

“Não são da mesma qualidade do que aquelas marcas consagradas” mente, é o Fiat Mille. Porém, ele não entrega nem a metade dos itens que os chineses trazem de fábrica. Nem com opcionais é possível deixar o brasileiro parecido com o importado. Mas, colocando ar-condicionado e um pacote de opcionais o Mille passa dos R$ 30 mil, enquanto o QQ, com tudo e mais um pouco, parte de R$ 23.990. Essa é a receita. Carros completos, preços baixos, garantia longa, peças baratas. Os chineses chegaram e estão incomodando.

Economia

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Com isso, o governo espera- “Quando se anunciou a mediva um aumento nas vendas de da federal, eu fiz uma avaliacarros nacionais e que as fábri- ção de custo-benefício. Então, cas brasileiras não tivessem de fazendo esse cálculo entendi recorrer a demissões. Porém, que valeria muito a pena. O o aumento foi amplamente aumento é compreensível. Eu debatido por parte dos impor- acho que o governo tem que tadores e, até mesmo, consumi- se preocupar, realmente incendores. Assim, através de uma tivar as fábricas a virem para liminar, os ministros do Supre- cá. Mas o aumento do IPI vai mo Tribunal Federal suspende- dar mais conforto às empresas ram, no dia 20 de outubro, o nacionais, e elas vão continuar aumento do IPI para carros que vendendo carros de média quanão fossem fabricados no Bra- lidade”, afirma Ricardo. sil, Mercosul e México. ContuCom ou sem aumento de IPI, do, durante o período em que a participação das montadoras o aumento do IPI vigorou, o chinesas no mercado brasileiefeito foi o oposto ao espera- ro ainda é pequena, mas elas do. Montadoras como JAC Mo- estão investindo pesado para tors anunciaram que não iriam mudarem esse cenário. A JAC alterar os preços de seus veí- anunciou que vai construir sua culos. Lourenço Gauto revelou fábrica no Brasil, gerando emque as vendas da JAC em Por- pregos e diminuindo, ainda to Alegre não diminuíram, pe- mais, os custos. Lourenço Gaulo contrário, aumentaram. “Na to diz que “a JAC está disposta a minha opinião, atualmente, o gastar U$ 600 milhões, já palaIPI está ajudando. A gente du- vreado com os chineses”, e que plicou as vendas desde que o a fábrica deve ser inaugurada governo anunciou o aumento. em 2014. O aumento do IPI foi Vendíamos cinco carros por contestado no STF pelo Demodia. Hoje, estamos vendendo cratas e, de acordo com o Suprena faixa de 10”, afirma o dire- mo Tribunal Federal, só poderá tor da JAC Porto Alegre. Co- vigorar após encerrar o prazo mo exemplo do aumento nas de 90 dias, a partir do dia 15 vendas estão Ricardo e Juliana, de dezembro de 2011. que foram garantir o seu carro antes de um possível aumento.

Contudo, a propaganda das marcas chinesas obscurece a verdade que existe nos preços. A China está conquistando o mercado mundial ao oferecer produtos que custam menos que as Aumento de IPI marcas tradicionais. E muitos se perguntam: como? A resposta Para aquecer as vendas de é simples: mão de obra barata. carros nacionais e garantir A realidade na China é bem os milhares de empregos de diferente da existente em outros brasileiros, o governo federal países. Existe muito dinheiro anunciou, no dia 16 de setemno país, diversos cidadãos deibro de 2011, uma medida que xaram a zona da miséria, mas, eleva as taxas do Imposto somesmo assim, o trabalhador bre Produto Industrializado chinês é mal remunerado. Lá, (IPI) em 30 pontos percenturecebe-se em torno de U$ 1 por ais para veículos importados. hora trabalhada. Na vida urbana, os salários ficam próximos de U$ 80 mensais. Enquanto que no meio rural, a situação é ainda pior. O administrador e professor universitário, Rafael Barbosa, explica que o maior custo de qualquer organização refere-se à mão de obra. Portanto, para ele, “países em que há oferta abundante de pessoas dispostas e precisando de trabalho a um custo menor, relativamente aos demais países, tornam-se naturalmente atrativos para as organizações. Com isso, consegue-se diminuir o valor dos carros desde o momento em que eles são produzidos”, destaca Rafael. Outro aspecto importante refere-se ao nível educacional dos chineses, que é muito baixo. Eles não estão acostumados com direitos humanos e trabalhistas. Devido ao seu sistema político comunista totalitário, o professor explica que a China se torna atrativa, também, por ➜➜ Juliana e Ricardo aproveitaram a redução do IPI para garantir a compra do primeiro carro importado do casal

FOTO: RODRIGO GIL


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Geral

PORTO ALEGRE, DEZEMBRO DE 2011 Jornal do curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodista do IPA

Um grande desafio: como tornar o exército atrativo para os jovens? Com o desinteresse dos jovens em se alistar, a instituição tenta retomar o seu destaque no contexto político do país DIVULGAÇÃO: HTTP://SAOCARLOSAGORA.COM.BR

➜➜ Novas estratégias federais incluem a possível profissionalização do exército brasileiro ■■ Pedro Guterres

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s grandes mudanças políticas e econômicas das últimas décadas fizeram com que o país passasse de terceiro mundo a uma força emergente no cenário global. Porém, como ficou a instituição que mandou no estado brasileiro em tempos obscuros, como os de ditadura militar? O Exército continua sendo parte importante do governo federal e tem a função de defender a nação de possíveis inimigos externos. Contudo, pontos ligados às Forças Armadas ainda geram certa polêmica. Um deles é o alistamento obrigatório aos 18 anos, que é tema de divergência entre os jovens. Um exemplo disso é o estudante Lucas Pedroso Dalpiaz,18 anos. Para ele, o Exército é um ano perdido, no qual o jovem ganha pouco para

trabalhar muito. Um bom exemplo que mostra o contrário é o de Paulo Cajá Santos, 18: “Eu sempre tive o sonho de entrar no Exército. Têm muitas coisas que eu admiro nesta instituição, a hierarquia, a organização e a importância para com o país”. Ainda nesta linha de pensamento, André Pedroso Dalpiaz, 18, irmão gêmeo de Lucas, mostra estar muito empolgado com a possibilidade de seguir carreira militar. “Acho uma ótima opção de vida, seguindo a carreira militar sei que posso ter um futuro próspero, poderei fazer o que gosto e ganhar um salário que considero legal para hoje em dia”. O Exército trabalha com estratégias para continuar sendo forte e atrativo para os jovens, é o que afirma o oficial do Comando Militar do Sul, em Porto Alegre, tenente Silvio Jorge

Martin. “O Exército vem tratando isso com cuidado. É fato que nos últimos anos cada vez menos jovens querem ingressar na instituição, só que há outra coisa óbvia, o Exército não pode ficar sem gente, então estamos fazendo um trabalho para que isso possa mudar. Para se ter uma idéia, por ano, entram no Exército cerca de 80 mil jovens, o que corresponde a apenas 1,2% dos que se alistam em todo país”. Hoje, se um jovem tem um determinado porte físico ou característica intelectual, pode ingressar no Centro de Preparação de Oficiais da Reserva (CPOR). Lá vai ter um preparo técnico e profissional. Isso quer dizer que esse jovem ganhará muito em seu currículo, usando a experiência para o resto da vida. A Escola de Sargento das Armas (ESA) também é uma ótima opção, mas a partir daí é necessário

fazer uma prova caso o candidato queira entrar. “Sem falar na Escola Superior de Guerra para quem quer ser oficial de carreira”, observa o tenente.

Novidades O tenente Silvio Jorge Martin explica que haverá uma mudança importante no Exército, que beneficiará os jovens. Em 2010, o governo federal aprovou “A Nova Estratégia de Defesa”. O novo plano prevê que as forças armadas incorporem cerca de 30 mil homens até o final do ano de 2012. A grande notícia em relação a este ponto é que poderá haver a profissionalização do Exército, assim como fazem as grandes potências militares. Outro ponto que muitos jovens têm interesse em saber é como anda a estrutura do Exército, porque, historicamente,

o Brasil não tem tradição em guerras, o que coloca em xeque os equipamentos utilizados nos dias atuais. Segundo o tenente Silvio Martin, as Forças Armadas estão sempre em renovação, e por isso estão bem aparelhadas. “Um exemplo é que o Brasil comprou, em 2011, 250 tanques de guerra da Alemanha”. Porém, ele deixa claro: “Nosso objetivo agora é proteger nossas riquezas naturais como o pré-sal e a Amazônia, que são de importância vital para o país, e não sermos a maior potência militar do mundo, porém temos que ter um equipamento adequado à tecnologia dos tempos de hoje”. Além dos tanques alemães, o Brasil está investindo na Aeronáutica, com o primeiro avião não tripulado da América Latina, e na Marinha, com os novos equipamentos para proteger o vasto litoral brasileiro.


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Na hora do embarque

Comportamento

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O Universo IPA dá dicas e conselhos sobre o processo de preparação para o intercâmbio ■■ Vinícius de Lima Moresco

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uem nunca pensou em morar fora do Brasil, conhecer a Europa, os Estados Unidos, o Canadá ou a Austrália? Pois bem, o intercâmbio é o desejo de jovens que cursam o Ensino Superior ou até mesmo que já se formaram. Aprimorar o domínio de uma segunda língua, seja ela o inglês ou o espanhol, no exterior, é o objetivo principal. Países como Inglaterra, Canadá, EUA e República Dominicana estão entre os roteiros mais desejados de quem quer vivenciar a experiência, como relata o chefe de gabinete, Guilherme Metodisch, que passou dois anos e meio na Califórnia – EUA: “Além da fluência no inglês, o intercâmbio me proporcionou experiência de vida, responsabilidade e muitas amizades novas”. Os destinos mais procurados pelos brasileiros são Canadá, Inglaterra (cuja nova regulamentação dificulta o trabalho para estrangeiros), ou Irlanda. “Quando fui escolher o local do meu intercâmbio, estava em dúvida entre Austrália, Dublin ou Canadá. Fui a uma palestra sobre a Austrália, mas só falavam em festa e sabia que ia me perder. Então, entre Dublin e Canadá, escolhi Dublin somente por ser na Europa”, conta Igor Mello Silveira, que estuda e tra-

balha na Irlanda. Porém, não é somente de alegrias a preparação que cerca uma viagem de intercâmbio. Checar documentos necessários, estudar os costumes e a história do país de destino, preparar roteiros e traçar planos são passos fundamentais para quem deseja se dar bem nesta aventura Existem inúmeros progra- ➜➜ O Intercambista Igor Mello Silveira em Dublin, Irlanda, cidade onde mora e estuda desde fevereiro mas de intercâmbios oferecidos por agências de viagens, e entre os mais procurados estão será fundamental na hora de fa- é ter disponibilidade, flexibilida- mais recomendado é a biciclecursos de idiomas e combinados, zer viagens pelo país escolhido. de, maturidade, tolerância com ta. Além de ser uma forma de trabalho remunerado e estágios, É preciso também checar com as diferenças, motivação e von- locomoção saudável também é além de cursos de férias para a companhia aérea qual é o pe- tade de aprender” , relata Carla muito bem aceito pelas culturas alunos de menor idade. so máximo de bagagens, como Mussoi, diretora da agência de européias. Depois de tudo garantido e a quantidade de volumes líqui- intercâmbio World Study. checado, é hora de providenciar dos permitidos (saiba mais em Contrapeso o visto, um processo que pode www.infraero.gov.br). Outra Onde morar demorar. Dependendo do pa- dica é incluir na bagagem de Um tempo fora do país, viís de destino, o trâmite é mais mão uma muda de roupa, para A moradia também é um fa- vendo sob sua própria responcomplicado ou até mesmo mais ser usado em caso de extravio tor muito importante a ser de- sabilidade, além do domínio de difícil. Alguns consulados en- das malas. Uma boa pedida é cidido ainda no Brasil. Mais um segundo idioma, é considecontram-se somente em outros levar uma lembrança e cartões aconchegante, as casas de fa- rado como diferencial por muiestados, como, por exemplo, o postais do Brasil para a famí- mílias normalmente são indi- tos empreendedores na hora de consulado do Canadá (Brasília lia anfitriã. cadas para quem procura uma contratar um candidato. e São Paulo) ou dos EUA (Rio Um conselho muito eficaz total imersão na cultura local. “Eu avalio o intercâmbio code Janeiro, Brasília, Recife e é não levar todas suas econo- Além de que o jovem pode, em mo um investimento de longo São Paulo). mias em dinheiro “vivo”. Utili- alguns casos, cuidar das crian- prazo. Quem normalmente se Após estar com o visto em ze recursos como o Visa Travel ças da casa e descolar uma frusta são os jovens que vêem mãos, é preciso começar a Money e cartões de crédito in- grana para se manter. Hostel o intercâmbio como um invespensar o que levar na viagem. ternacionais. Veja outras dicas ou albergues são opções para timento de curtíssimo prazo, do É nesta hora que o estudo so- no quadro abaixo. quem não tem problema com tipo, “vou, volto e um monte de bre o local de destino entra em “O real objetivo do programa privacidade e deseja adquirir empresas estará me aguardanação.O aconselhado é que os de intercâmbio deve ser o de vi- novas amizades de todos os do de portas abertas”. Isso não jovens levem todos os tipos de venciar uma experiência inter- cantos do mundo, uma mescla vai acontecer”, afirma o consulroupa, mas respeitando as tradi- cultural, conviver com outras de culturas. Casa de estudan- tor de carreiras Max Gehringer, ções e os costumes locais. Inter- culturas, entender suas diferen- tes é a opção mais desejada, po- em entrevista à revista Planeta cambistas já rodados dão a dica ças e especificidades. Os requisi- rém mais cara. Apartamentos Intercâmbio. de levar uma mala pequena, que tos para se fazer um intercâmbio onde moram jovens de diverDa mesma maneira, é precisos países é o meio mais con- so avaliar o que será mais profortável e privativo de se alojar, dutivo no seu futuro. Começar mas o aconselhado é que não a trabalhar ou fazer intercâmbio se juntem pessoas da mesma é a frequente dúvida dos jovens Ingerir bebidas alcoólicas isso não é tolerado e pode em demasia ou usar lhe trazer sérios problemas. nacionalidade, para evitar a recém formados. Nessa hora, é drogas, além de crime,  É importante saber comunicação na língua natal. necessário colocar na balança pode gerar deportação. controlar as festas. Escolher uma moradia perto suas pretensões futuras e pen Fast food é prático, barato Não se deve esquecer da escola é essencial para quem sar que um intercâmbio pode gae rápido, mas pode causar que o motivo principal danos à sua saúde. que leva o jovem a deseja economizar dinheiro du- rantir garante fluência em uma  Não tente usar o “jeitinho fazer o intercâmbio: é rante o intercâmbio. Países eu- segunda língua, fator cada vez brasileiro” para obter aprender ou aprimorar ropeus contam com um ótimo mais exigido por quem contravantagens. No exterior outra língua. serviço de metrô, todavia o ta jovens.

Dicas para melhorar seu intercâmbio  Respeite as pessoas e as regras do local onde ficará.  Não gaste tempo conversando com brasileiros, até mesmo pelas redes sociais. O propósito é aprimorar seu conhecimento em outra língua.  Cuidado com os excessos.


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Quando a responsabilidade chega mais cedo O índice de adolescentes grávidas diminuiu em Porto Alevgre, mas a gravidez na adolescência ainda é um desafio a ser superado

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ARQUIVO PESSOAL

■■ Ana Paula Scheffer

m Porto Alegre, diminuiu o índice de mães jovens com menos de 17 anos, conforme os dados da Equipe de Vigilância de Eventos Vitais, Doenças e Agravos não Transmissíveis, da Secretaria Municipal de Saúde, que pesquisou entre os anos de 2000 a 2010. Os dados apontam que em 2000 engravidavam por ano 2.285 e em 2010 o número diminuiu para 1.299, em casos de mães entre 10 e 17 anos, consideradas adolescentes. A gravidez na adolescência, apesar de ter diminuído, continua sendo um desafio a ser superado. A surpresa do exame positivo numa fase da vida em que a menina não está madura o suficiente para ser mãe é impactante. As mães das adolescentes são as que mais procuram atendimento de psicólogos nos Postos de Saúde e Hospitais. A psicóloga Regiane Larréa Pereira aponta que no início do tratamento psicológico a ado- ➜➜ Karina Monteiro, mãe de Luiz Henrique, supera os desafios da maternidade na adolescência lescente pode ter várias reações de acordo com o grau de maturidade e consciência da situ- pai iria assumir. Com o passar sidera-se uma mãe dedicada e que se tem que cuidar e amar. ação atual, podendo variar de do tempo “as preocupações fo- atenciosa que jamais deixou O primeiro sorriso, os primeiros uma rejeição e negação da gra- ram diminuindo” e Karina não de lutar pelos seus objetivos e passos, a primeira palavra, o prividez, negligenciando os cuida- deixou de ter o apoio da família. por isso não abandonou os es- meiro “mamãe”. Não tem como dos pré-natais, até sentimentos “Foi um grande choque, princi- tudos. Hoje, no quarto semes- dizer que eu não amo ser mãe”, de maior aceitação da gestação. palmente para a minha mãe. Nos tre de Direito, Karina consegue diz Karina. Já Kianne Teixeira, tam“De qualquer forma, a gravidez primeiros dias foi complicado, conciliar filho, estudo e trabana adolescência sempre será um depois a minha família come- lho. Mesmo não sendo uma ta- bém mãe aos 16 anos, não tesofrimento e precisará de uma çou a aceitar o fato, e hoje Luiz refa fácil, ela garante que todo ve a mesma sorte que Karina, boa rede de apoio para que a Henrique é o xodó de todos”, o esforço é válido para o futu- precisou abandonar seus estuadolescente possa ter condições afirma Karina. ro de Luiz Henrique, a fim de dos, após sete meses de gestade vivenciar a maternidade e diA estudante em nenhum mo- que ele tenha uma vida boa e ção, para dedicar-se à gravidez. Ela conta que receber a notícia e minuir os riscos ao bebê”, diz mento sentiu-se incapaz de cui- estável. dar da criança, mas afirma que “Me sinto muito abençoada repassá-la aos seus pais não foi Regiane. A estudante de Direito, Kari- teve muito medo de criá-lo so- pelo filho que tenho, saudável e uma tarefa fácil. O seu pai ficou na Monteiro, mãe de Luiz Hen- zinha, principalmente por não esperto. Quando o vi, depois do muito chateado e não manteve rique, conta que ao receber a estar junto com o pai do bebê. parto, foi como se a minha vida o contato por muito tempo, mas notícia, aos 16 anos, foi com- No início da gravidez, ela não mudasse da água para o vinho, com o apoio da mãe, conseguiu plicado. Surgiram várias per- teve o apoio do pai e o maior como se fosse só ele que exis- superar o “baque”. “Quando descobri que estava guntas principalmente da mãe medo era que Luiz Henrique não tisse para mim. E saber que eu da adolescente. Ela queria saber tivesse o afeto e o acompanha- dei a luz de parto normal, toda grávida, foi um choque, estava sobre tudo, como tinha ocorrido, mento paterno. uma força para nascer uma pes- com três meses de gestação e Karina, mesmo jovem, con- soa de dentro de mim, alguém três meses de namoro. Me via porque ela não se cuidou e se o

em um beco sem saída e sempre pensei: na minha primeira transa, não vai acontecer nada. Fizemos sem camisinha, achei que não teria nenhum problema, mas agi errado. Se não estiver usando camisinha e outras precauções o risco de engravidar é muito grande”, afirma Kianne. A primeira reação que teve foi pensar: “como permitiu que acontecesse e como seria uma criança cuidando de outra?”. Mas a calma para Kianne foi o essencial para pensar que não seria tão complicado assim. Abandonar a vida de antes, de balada, sem compromissos, foi o que mais fez diferença na vida dela, porque em um dia tinha liberdade para fazer o que queria e no outro, o dever era cuidar de uma criança, principalmente, sem experiência. Era tudo novo e “assustador”. “No início foram mil maravilhas, era tudo novidade, depois que a ficha foi caindo não era tão bom assim, pensava: ‘cadê minha liberdade? Me via presa tão nova com uma criança que não era um boneco, mas sim uma pessoa”, relata Kianne. Hoje Ryan, seu filho, tem três anos e, ela, aos 19 anos, está esperando outro filho. Novamente terá que se dedicar, mas agora em dobro, e garante que não se arrepende. A vida continua e para tudo há solução. Casada, conta com o apoio do marido que trabalha e é um ótimo pai. “Cresci bastante. Penso que na vida nem tudo são flores, mas também não são espinhos. “Hoje dou graças a Deus por ter meu filho. Ele veio cedo, mas é meu maior tesouro”, finaliza a adolescente. Duas histórias com destinos diferentes, mas com resultados positivos: as mães assumiram seus filhos. Karine não precisou abandonar suas tarefas. Já Kianne abriu mão de seus estudos para poder se dedicar ao filho.


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Comportamento 11 FOTO

Boazinhas e poderosas

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O papel de cada uma nos relacionamentos modernos ■■ Andréia Lopes

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m tempos de baladas repletas de rostos bonitos o que se vê são pessoas que entram e saem sozinhas. O problema não é encontrar companhia para “ficar”, com corpo definido e ótimo desempenho sexual. A grande missão está em encontrar alguém disposto a passear de mãos dadas, freqüentar almoços de família, ir ao cinema, tomar um sorvete, sem que isto acabe necessariamente em transa. No meio de tanta evolução, a humanidade deixou de lado coisas simples como “encantar o outro”. Almeja-se ter um bom trabalho, conquistar um diploma, comprar automóvel, apartamento, fazer pós no exterior. E por conta disso os sentimentos tornaram-se superficiais, ficaram para segundo plano. Analisando os papéis de mulheres boazinhas e poderosas nas relações amorosas e como os homens encaram e valorizam as duas personalidades, é possível entender o quanto o comportamento das mulheres contribui para o sucesso ou fracasso dos relacionamentos.

O que dizem os homens Para o consultor de empresas, Jorge Aiub Maluf, casado há 32 anos, a questão é: “Se as mulheres desejam construir um relacionamento estável e duradouro, é preciso entender que os homens valorizam mais as mulheres que representam um verdadeiro desafio e não as que simplesmente concordam com tudo o que eles pensam, o que define mulheres boazinhas”. Segundo Maluf, o que atrai os homens é o mistério, pois faz com que sejam mais criativos na arte da conquista. E acrescenta:

“Nenhum homem quer ter ao seu lado alguém totalmente dependente, que não tenha um posicionamento a respeito das coisas”. Aos 58 anos, ele acredita que o segredo dos relacionamentos de sucesso está em fazer concessões sem violentar suas próprias vontades, colocar-se no lugar do outro, viver em harmonia e verdade. E completa dizendo que “ser casado com uma mulher poderosa possui algo que as boazinhas não têm: sabedoria”. Quem também compartilha a opinião é o professor José Altair Lopes da Silva, 41. Questionado sobre qual tipo de mulher os homens gostam, ele responde sem dúvidas: “Para casar, as poderosas”. E revela: “Com as boazinhas o homem se sente dominante e superior, mas é cansativo, já com as poderosas ele se sente muito bem protegido e pode ter uma relação mais de igual para igual, uma companheira para todas as horas”. Aos 37 anos, o Analista de Sistemas, André Palacios, conhece os encantos de mulheres boazinhas e poderosas. Para ele, a melhor companhia depende do momento e dos objetivos do homem. Contrapondo a determinação, objetividade e audácia das poderosas e o fascínio da conquista que elas despertam, André fala sobre a companhia carinhosa, o amor e compreensão que se tem ao lado da mulher boazinha, que por muitas vezes apresenta-se como um porto seguro. “As boazinhas, eventualmente, no afã de agradar, não manifestam tudo que pensam e nos levam a deduzir o que estão pensando, o que geralmente os homens não fazem bem, podendo prejudicar a relação”, avalia considerando o lado negativo de relacionar-se com elas.

E as mulheres? As mulheres casadas conquistaram seus pares com malícia ou doçura? Qual o segredo para manter a chama do amor acesa em seus parceiros? Viver junto requer mesmo uma reconquista diária? A autônoma Heliege Silveira responde que sim. Aos 25 anos de casada ela fala sobre os elogios que recebe do marido, da forma como a respeita, das coisas que faz para agradar e, principalmente, da maneira como a ajuda a encarar a vida de forma segura, preocupado com tudo que diz respeito a ela. Qual será o seu segredo? A característica que mantém este homem fascinado por todos esses anos? Será Eliege boazinha ou poderosa? Ela revela: “Tenho um pouco de boazinha, mas prevalece a poderosa”. Aos 40 anos, uma Relações Públicas, que prefere não se identificar, afirma que apesar da aparência de boazinha sente-se poderosa: “Me sinto referência em vários aspectos para muitas pessoas. E os homens tendem a se sentir intimidados comigo”. Mesmo enfrentando o desgaste de 13 anos de relacionamento, a profissional sente-se valorizada

por seu parceiro que, além de cozinhar, também lhe escreve poesias. Atitudes provam que o amor prevalece, mesmo com duros golpes do tempo, e como uma velha máquina, necessita de óleo nas engrenagens para funcionar sem ruídos. “Acho que deveria me mostrar mais dependente emocionalmente, pois como sou o lado mais forte, acabo assumindo alguns papéis que considero ser do parceiro. Mulher independente em tudo assusta”, conclui a relações públicas.

Solteiras As solteiras trazem um quarto ângulo de visão sobre o assunto. A primeira a falar é uma advogada de 28 anos, que se considera boazinha, mas nem por isto sente-se prejudicada nos relacionamento: “Os homens me vêem como uma mulher interessante e me tratam com respeito e admiração”. Para ela, o motivo pelo qual os relacionamentos não seguem adiante nos dias atuais está na falta de companheirismo, nos compromissos da vida moderna e na ausência de sentimentos verdadeiros. Nathália Arriera Corrêa é Agente de Vendas, tem 20 anos, e ainda não fez a radical definição entre ser boazinha e poderosa. Por ser brincalhona, acaba levando a vida de uma forma mais tranquila e acredita que este seu jeito “leve” de ser é que

sempre fez com que fosse respeita ela em seus relacionamentos, “tanto em amizades como em namoros”, acrescenta. Nathy, como é conhecida, afirma estar sempre disposta a ouvir, é flexível, o que em sua opinião conta bastante. E finaliza dizendo: “Penso que, hoje em dia, é tão mais fácil ser sozinho, não dar satisfação a ninguém. As pessoas estão cada vez mais independentes. Quando se sentem sozinhos ficam com alguém sem compromisso e parece estar tudo resolvido. Então, é difícil achar alguém que queira se juntar com outra pessoa se sozinho é tudo tão simples”.

Opinião de especialista

Os relatos não traçam um mapa de sucesso sentimental, mas servem de norte para obter uma visão geral sobre relacionamentos. Na avaliação da psicóloga Eliane Mello Silveira, é importante deixar claro que homens e mulheres não escolhem viver juntos para disputar alguma coisa, mas para construir e vencer juntos e, para que isso aconteça, em algum momento, alguém tem que ceder. Analisando o tema, de acordo com a psicologia, Eliane explica: “Cabe a ambos o papel de conhecer e desenvolver-se, desempenhando parcerias, demonstrando um ao outro o que realmente desejam no relacionamento, não sendo nem tão poderosos nem bonzinhos, adequando-se aos papéis necessários dentro da relação conjugal, sabendo onde, como e quando sobressair ou desenvolver-se, zelando pela união conforme hábitos e cultura familiar.” Ao final, descobrimos que não existem mulheres boazinhas e poderosas. O que há são pessoas com personalidades diferentes, dispostas a viver relacionamentos com intensidade e velocidade distintas. O essencial é encontrar o equilíbrio. Por mais modernos que sejam os tempos, algumas situações simplesmente não mudam. O importante é não se deixar levar pelos falsos valores que a sociedade quer que você acredite.


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caderno

A internet democratiza a arena da crítica de cinema, antes restrita às publicações impressas e a poucos jornalistas especializados

Acesso ilimitado à crítica

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Cinema ao alcance de todos!

A manipulação da imagem sob a perspectiva da publicidade

Projeto da Prefeitura de Porto Alegre ajuda comunidades carentes a manifestarem a paixão pelo audiovisual

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Uma nova tendência na área da comunicação

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Ao contrário das rádios difusoras, as rádios web buscam um público qualificado e atuam numa área que sofre constantes evoluções tecnológicas FOTO: BRUNO MOURA

■■ Bruno Moura

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a evolução tecnológica, o meio radiofônico busca seu espaço. As rádios web conquistam lugar no competitivo mundo da comunicação. As rádios web são transmissões de áudio via internet, através do uso da tecnologia de streaming. Qualquer pessoa pode montar a sua própria rádio web, caracterizada como uma ferramenta democrática e nova tendência na área da comunicação. Inúmeras rádios web acolhem públicos segmentados, como é o caso da Rádio Putzgrila. De acordo com o músico e apresentador do programa Digestivo, Rafael Cony “a Rádio Putzgrila é focada em rock e suas vertentes”. Esta segmen- ➜➜ Pedro Fonseca entrevistando Nenung, ex-integrante da banda Barata Oriental, durante o programa Rocker, pela Rádio Web Putzgrila tação com as rádios web, “cujo objetivo é cativar um público que tem uma relação ou afini- encontramos é a falta de equi- público segmentado. “A rádio das rádios web. Uma vez que que agente vai receber esse áudade com a proposta da rádio”. pamento, que é muito caro“, re- web se apresenta como novida- estão ali por simpatia à progra- dio é que está mudando”, opina Pedro Fonseca, radialista e vela Pedro. de no sentido da distribuição, mação, também podem opinar o professor. fundador da Rádio Putzgrila Muitas das iniciativas de rá- pois barateia os custos para a e reclamar através de canais conta que a ideia de criar a rá- dios webs surgem nos cursos realização de uma transmissão disponíveis na internet como Como ter a minha dio surgiu duuniversitários. de áudio, embora não tenha o o Facebook e o Twitter. Rafael rádio web? rante o curso N o C e n t r o mesmo potencial de audiência Cony comenta que “a segmende tecnólogo “A rádio web é uma Universitário massiva que uma emissora de tação faz com que se tenha um Se qualquer um pode montar em Rádio, da contato direto com a rapaziada sua própria rádio web, como fanova tendência e Metodista do rádio tem”, explica Militão. Ulbra. Era um Ipa, os alunos Apesar dos elevados custos, pelas redes sociais”. Para ele, zer? Pedro Fonseca alerta: “Pra mesmo as difusoras cont a m com a rádio web pode ser encara- a rádio não é feita só de mú- montar uma rádio é caro. Equit rabalho de disponibilizam um a Rádio IPA, da como uma forma de negó- sica, mas também de informa- pamento de rádio é muito caro”, conclusão que resultou numa canal para audição c uja m e t a é cio rentável. O maior exemplo ção. Muitas vezes os próprios mas esclarece que basta acessar das ma is copropiciar um disso é a Agência Rádioweb, ouvintes atuam como colabora- o site Google e pesquisar “code seus programas n he c id a s rá ambiente ide- com 10 anos de história, que dores, ao alertar os apresentado- mo fazer uma rádio web”. Na d ios web de al para os es- trabalha com venda de matérias res sobre notícias que merecem pesquisa é possível ter os pripor streaming” Porto Alegre. tudantes das produzidas para outras emisso- divulgação. meiros passos e através de um Pedro conta que o projeto ha- áreas de Comunicação e Mú- ras de rádio. Criada em 23 de O professor Militão acredita teste é possível saber se a rádio via surgido em 2007, mas que sica aprimor conhecimentos, e agosto de 2001, em Porto Ale- que “estamos em um novo perí- terá futuro ou não. Se sim, aí casó em 2008 a ideia foi levada a praticar a produção de progra- gre, numa época em que a in- odo onde há uma grande ofer- be ao criador decidir se vai insério. Inicialmente a programa- mas e comerciais. Os trabalhos ternet ainda era muito lenta, a ta de conteúdo”. A informação vestir em servidores, estrutura ção era feita entre amigos, de dos alunos são disponibiliza- agência surgiu com o propósito através do áudio tem a tendência e equipamento. forma a preencher a grade que dos na Rádio Web do Centro de funcionar como rádio web e de permanecer, pois as pessoas A rádio web é uma nova tenera ao vivo. Pedro esclarece que Universitário, sob a supervi- disponibilizar conteúdo. Neste tendem a fazer muitas coisas e dência e mesmo as difusoras até então a programação não era são do professor Militão Ri- aspecto, pode-se considerar a só conseguem assimilar a infor- disponibilizam um canal para 24 horas e que o objetivo era cardo. Para ele as rádios web rádio web como um novo ni- mação dessa forma. Uma pessoa audição de seus programas por investir no público que ouvia o possuem uma audiência baixa, cho de mercado. que dirige não vai conseguir ler streaming. Enquanto o mundo gênero rock’n roll. Atualmente, porém qualificada, se compao noticiário ao mesmo tempo, muda e as mídias fazem o posa rádio conta com uma progra- rada com as rádios difusoras mas conseguirá ficar informa- sível para se adaptar, a rádio A segmentação mação variada e colaboradores que são poucas e com grande da através do rádio sem se atra- web se mostra como uma nova do público que se juntaram para manter a audiência. Portanto, possuem palhar na direção. “Sempre vai tendência que vem para ficar e rádio e quitar as despesas bási- um tipo de programação esO público segmentado par- haver espaço para a transmissão talvez, quem sabe, substituir as cas. “A maior dificuldade que pecializada para determinado ticipa também da programação da informação por áudio. Como rádios frequência.


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A manipulação da imagem sob a perspectiva da publicidade Cada vez mais comuns no meio publicitário, os programas de edição e manipulação de imagem causam polêmica e dividem opiniões FOTO DIOGO BAIGORRA

■■ Diogo Baigorra

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mpla mente ut i l izados em diversas áreas profissionais, sobretudo na publicidade, os softwares de edição e manipulação de imagem vieram para ficar. Suas vantagens são muitas: poupam tempo do fotógrafo, permitem correções de erros que passaram despercebidos na hora em que a foto foi tirada, recuperam imagens envelhecidas, entre outras. Em contrapartida, o uso de tais programas levanta uma série de questões éticas e a indagação: até que ponto pode-se manipular uma imagem? ➜➜ Para Aline, o trabalho do photodesigner é uma forma de arte que possibilita maior criatividade à publicidade A resposta para essa pergunta depende do contexto. No jornalismo, por exemplo, o có- para não se exagerar. “Eu acho A insistência por parte do perfume e teve que transformar digo de ética da Federação Na- que é possível utilizar os pro- cliente para que sua campanha todo o design da embalagem, cional dos Jornalistas (Fenaj) gramas para corrigir pequenos apresente uma estética perfeita pois o cliente exigia uma emnão permite que a imagem seja defeitos próprios da captura da conforme os padrões ociden- balagem elegante. “E então nós manipulada, pois a fotografia imagem, mas sem que isso al- tais é outro problema. Aline mudamos todo o desenho da jornalística deve passar a maior tere ou violente o modelo em conta que certa vez pegou a embalagem para que ela ficasveracidade possível. Na publici- si“, afirma ele. campanha publicitária de um se linda e maravilhosa”, condade, contudo, o uso desses softwares de edição e manipulação de imagem é comum. “Eu acho que hoje precisa haver manipulação, porque cada vez mais a imagem é valorizada. Ela conta Os softwares mais utilizados para se tratar ou criar imagens e fotografias dividem-se em quatro categorias: softwares de edição, softwares de manipulação, softwares bitmaps muito para todo mundo. Então e softwares vetoriais. esse desejo de tentar atingir a perfeição na foto é válido”, ar Os programas de edição são utilizados para se editar a imagem. Entende-se por gumenta a photodesigner Aline edição a correção de pequenos defeitos, como brilho, contraste, luminosidade e Silva de Freitas. ajuste de cor. A edição só pode ser feita através dos programas bitmaps. Um ponto de controvérsia  Com programas de manipulação é possível movimentar elementos e reconstruir toda relacionado ao assunto refereuma realidade, inserindo novos elementos ou excluindo elementos existentes na -se às questões éticas da maimagem original. A manipulação pode ser feita tanto com programas vetoriais quanto nipulação. Há campanhas que com bitmaps. manipulam a fotografia exces Os softwares vetoriais são voltados para o desenho. Neles é possível trabalhar sivamente e acabam descaractecom centenas de elementos separadas em camadas que podem ser manipulados rizando o modelo ou o produto. livremente. Os mais usados são o Ilustrator e o Corel Drawn (que é mais utilizado Segundo o professor de ética do no Brasil). Também existe um que é voltado especificadamente para a geração de curso de Publicidade e Propaimagem para a web, o Fireworks. ganda do IPA, doutor Norberto  Os softwares bitmaps, por sua vez, são mais adequados para o tratamento de Garin, a manipulação e edição imagens. Os mais utilizados são o Photoshop e o Corel Photo Paint. Com esses da imagem são importantes paprogramas se trabalha em cima de uma imagem (fotografia), para corrigir defeitos que ra o processo criativo publiciela possa apresentar. FONTE: COORDENADOR DO CURSO DE PRODUÇÃO GRÁFICA E MULTIMÍDIA DO SENAC-RS, FRANZ FIGUEROA tário, mas deve haver cuidado

Os softwares mais usados

tou. De acordo com ela, quem visse a propaganda nunca iria identificar que ela se referia ao mesmo perfume, mas o cliente havia exigido isso e eles tinham que obedecer. “É o cliente que manda no trabalho. Nós não temos muita liberdade para dizer o que achamos que seja certo fazer. Tu tens que fazer, e fazer bem feito”, alega. Um bom diálogo entre as parte é sempre o melhor caminho, acredita Garin. “Os contratantes têm que ser convencidos de que alterar demasiadamente a imagem de uma pessoa vai, ao invés de melhorar a sua publicidade, causar críticas por parte da população”. Para ele, fabricações feitas em cima de modelos ferem a ética profissional. Nos dias atuais, é possível identificar manipulações mal feitas com muita facilidade. Isso se deve, em grande parte, aos avanços tecnológicos e digitais de hoje. “A Internet é uma boa ferramenta para alertar as pessoas contra propagandas enganosas”, argumenta o coordenador do curso de Produção Gráfica e Multimídia do Senac-RS, Franz Figueroa. Formado em análise de sistemas e mestre em computação gráfica, ele acredita que hoje as pessoas não aceitam a artificialidade descarada das propagandas e anúncios publicitários. Franz cita um exemplo com a atriz Julia Roberts. Depois de fotografada na rua, suas fotos foram comparadas com as da campanha da Lancôme proibida de ser veiculada devido ao excesso de tratamento fotográfico. No anúncio, a atriz norte americana aparecia com uma pele extremamente alisada e sem textura alguma, características que só são alcançadas através da manipulação digital. De acordo com dados do Conselho de Autorregulamen-


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FOTOS MANIPULADAS: CEDIDA PELA M1 ENGENHARIA DE IMAGEM

Acesse http://www.youtube.com/watch?v=hibyAJOSW8U e veja como os programas de manipulação e edição de imagem são capazes de transformar as pessoas. tação Publicitária (Conar), na França e na Inglaterra tornou-se obrigatório informar o uso da manipulação em campanhas publicitárias. Na maioria dos outros países a advertência fica a cargo dos anunciantes e das agências. No Brasil, o Projeto de Lei 704/11, proposto pelo depu-

tado Carlos Humberto Manato (PDT-ES), está sendo analisado pela Câmara. A proposta obriga que anunciantes e publicações informem quando a fotografia tiver sido editada, retocada ou passado por qualquer processo de manipulação estética. Conforme o projeto, a imagem que

sofreu manipulação deverá vir De qualquer modo, desde acompanhada do seguinte tex- 1990 existe a lei federal que to em tamanho visível: “Foto- condena a publicidade engagrafia retocada para modificar nosa. Em tese, ela proíbe toda a aparência física de uma pes- propaganda abusiva ou enganosoa”. O não cumprimento da re- sa, afirmando que a publicidagra, segundo o projeto, resultará de deve ser feita de forma que o em uma multa de até 50% o cus- consumidor rapidamente a idento do anún cio. tifique como tal. Mesmo assim,

a lei 8078 não aborda especificadamente a questão da manipulação da imagem, visto que na época em que foi elaborada os avanços digitais e tecnológicos não eram tão sofisticados, o que impossibilitava que se manipulasse a imagem da maneira como hoje.

O antes e o depois da manipulação Campanha publicitária do Sebrae/RS, baseada em histórias verdadeiras de micro e pequenas empresas que tiveram sucesso a partir de consultorias, cursos e seminários do Sebrae. Criada pela agência Matriz, fotografada por Molinos e Lima Studio e manipulada pela M1.

Campanha publicitária da “A mais Bela Gaúcha 2011”. O conceito da campanha é: “Para nós é natural ser bonito”. As imagens associam a beleza da mulher gaúcha com a beleza natural das paisagens do Rio Grande do Sul. A peça publicitária contou com um cuidado artesanal, onde trabalhou-se volume, textura, forma e detalhe. O objetivo era manter a naturalidade, mas trazer um visual mais artístico, o que inclui o tom dourado das imagens.


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“Tem que ter o desejo de ser líder” Pensar na profissão de jornalista para além da bancada do telejornal, fora da sala de redação de um grande veículo, transpôr o alcance da rádio comercial e transformar a realidade através dos microfones de uma rádio comunitária é um cenário possível para jornalistas que se identificam com a causa do local onde vivem FOTOS: ACERVO RÁDIO IPANEMA COMUNITÁRIA

➜➜ Através da Rádio Ipanema Comunitária os moradores se organizam e lutam por melhores condições de vida ■■ Jucinara Schena

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uita gente amanhece e anoitece sob os embalos das rádios comercias e desconhece o esforço de anônimos que trabalham em comunidades espalhadas pelo Brasil para fazer um jornalismo diferente, sem lucro, em um cenário onde o jornalista é visto como líder que atua através dos microfones de uma rádio comunitária. “Ele tem que ter uma característica de liderança. Tem que ter o desejo de ser líder”, é o que acredita a professora universitária do curso de Comunicação Social da PUCRS, Beatriz Dornelles, ao defender as características que diferenciam um jornalista de veículo comunitário. Ela, que tem doutorado em Jornalismo do Interior pela Universidade de São Paulo (USP) e pós-doutorado em Comunicação, há 20 anos trabalha com jornalismo comunitário, uma

área de atuação do jornalismo, diferente da praticada comercialmente. “O jornalismo comunitário é uma ação comunicativa da comunidade visando tornar público as ações feitas ali”, destaca. Esta é a veia jornalística à qual pertence o responsável pela Rádio Ipanema Comunitária, Doraci Engel. Formado em Jornalismo pela PUCRS e especialista em Teoria da Comunicação, fundou a rádio em 2002, juntamente com outros moradores do bairro Ipanema, Zona Sul de Porto Alegre, para chamar atenção da comunidade em prol da preservação do patrimônio histórico, ambiental e cultural do bairro, um movimento chamado SOS Ipanema. A instantaneidade da rádio serviu como forma de mobilizar a população para as atividades que aconteciam. Como o ideal era que o veículo se firmasse, o grupo conseguiu, após seguir os rigorosos requisitos do Ministé-

“Ele tem que ter uma característica de liderança, ele vai falar em nome da comunidade. É sondado, é procurado para ajudar” rio das Comunicações (MC), a legalizar a, já batizada, Rádio Ipanema Comunitária 87,9 FM. A outorga da rádio pelo MC se deu em 2005 e desde 2007 a rádio está no ar com uma programação 24 horas por dia, feita pelos próprios moradores e alcançada com o sinal de 25 watts de potência (máximo permitido por lei para rádios comunitárias) em todos os lares do bairro Ipanema e até redondezas. Desde então, com a colaboração ativa de pessoas do bairro que se dispõem a participar e a

entender um pouco mais sobre jornalismo comunitário, a rádio desenvolve uma programação voltada para a conscientização e mobilização, informa, oferece entretenimento e presta serviço de utilidade pública. O motivo social pelo qual ela foi fundada embasa os objetivos da rádio até hoje. “Fomos o único veículo a cobrir as atividades e envolver os moradores no movimento de Defesa da Orla do Guaíba, contra o megaempreendimento imobiliário que se pretendia no Pontal do Estaleiro, em 2009”, lembra Doraci, ilustrando o poder da Rádio. “A rádio é uma entidade comunitária que conta atualmente com cerca de 50 associados ativos, com um Conselho Comunitário formado por 10 entidades representativas da região e mais duas dezenas de voluntários – moradores que produzem e apresentam programas na emissora”, conta Doraci. Ele ex-

plica que qualquer pessoa, grupo ou entidade que resida ou atue na área de cobertura da emissora pode propor programas. As propostas são avaliadas pelo Conselho de Associados da emissora com base nas disposições legais do serviço de radiodifusão comunitária e nas diretrizes de programação. O ator Alexsandro Fraga é um dos comunicadores da Rádio Ipanema Comunitária desde 2009. Após participar de oficinas oferecidas pela rádio na Escola Estadual Odila Gay da Fonseca, Alexsandro e seu colega de oficina, Bruno Grassi, propuseram um programa voltado para a cultura pop japonesa chamado Otaku Desu, que vai ao ar todas as sextas-feiras, das 18h às 19h. Ida Feijó é outra moradora que tem seu espaço na rádio. Ela, que é economista por profissão, começou seu trabalho no controle financeiro do veículo e desde 2009 apresenta o programa Alô Vizinho. “É um


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programa que busca apresentar ao bairro quem somos e todas as histórias interessantes e curiosas que mostram a vida de cada um de nós”, comenta Ida, que atualmente dedica-se também à graduação em Museologia. Para todos os que produzem programas na Rádio Ipanema Comunitária, Doraci cumpre um papel de orientador. “Desenvolver um serviço de informação jornalística local, que vincule as pessoas com o que acontece a sua volta é um trabalho que só o jornalista profissional pode fazer”, afirma o Doraci, ao relatar como a comunidade é beneficiada com a presença de um especialista na área de comunicação. “Se todas as emissoras comunitárias pudessem dispor do trabalho de um profissional especializado em comunicação comunitária se transformaria a conjuntura da comunicação no Brasil, com benefícios para o desenvolvimento geral da sociedade”, analisa. Para trabalhar na área do jornalismo comunitário é preciso alguns requisitos que a professora Beatriz destaca: “o jornalista deve pertencer à comunidade, porque ele está diretamente envolvido com as questões do seu bairro, ou região onde mora. Depois, o jornalista tem que ter características diferenciadas de quem vai para o mercado de trabalho em jornais comerciais. Tem que ser líder, pois vai falar em nome da

comunidade. “Ele é sondado e procurado para ajudar”. Um detalhe importante para a professora é que o jornalista deve ser isento de partidos. Ser participativo, estar engajado, ser orientador e ter liderança. São as características listadas para o jornalista que pretende trabalhar em um veículo comunitário. Soma-se à missão de “zelar pelos direitos da população e fazer crescer o ambiente de cidadania da região em que ele mora”, conclui Beatriz. “É onde o trabalho do jornalista se torna mais palpável, mais visível”, arremata.

E como uma rádio se mantém? A principal questão quando se fala neste tipo de jornalis- ➜➜ Todas as atividades são desenvolvidas colaborativamente, inclusive as manutenções mo comunitário é relativa ao dinheiro para manutenção da rádio e para a remuneração dos mo luz, aluguel. “Até o pessoal de uma rádio comercial”, conta Universidade profissionais. “A rádio se man- que participou da construção Luiz Alberto Rodrigues, aluno e comunidade tém com doações, veiculações reconhece hoje que a lei foi mal do 7º semestre de Jornalismo no de apoios culturais locais e re- feita e é utópica porque não é A disciplina Comunicação Centro Universitário Metodista centemente com publicidade possível fazer jornalismo co- Comunitária aparece na grade - IPA, que cursou esta discipliinstitucional de alguns órgãos munitário sem ter dinheiro”, curricular de muitas universi- na no semestre passado. “Uma públicos”, explica o jornalista. afirma a professora, e justifi- dades que oferecem curso su- rádio comunitária tem questões Neste ponto a professora decla- ca que a limitação financeira perior em Jornalismo. Ela se bem específicas”, ressalta Luiz ra que a construção da lei de impossibilita as rádios de te- propõe a debater a democrati- Alberto. Para a professora Beoutorga das rádios comunitá- rem um jornalista profissional zação da informação nos veí- atriz, a relação entre academia rias foi extremista, ao limitar trabalhando no veículo. “Não culos de comunicação, como e comunidade não é tão sima forma de conseguir a verba se consegue fazer jornalismo alternativa para promover e ples e pode mascarar um “falso” que o veículo necessita para sem um jornalista. Serão pro- ampliar o debate sobre as rela- jornalismo comunitário. “Por compra e manutenção de equi- duzidos materiais de péssima ções entre comunicação, edu- exemplo, uma universidade pamentos, contratação de pro- qualidade, que não terão o su- cação e comunidade, fazendo colocar os estudantes da discifissionais, compra de móveis, porte da comunidade”, comple- com que os alunos reflitam so- plina de Comunicação Comupagamento de contas fixas co- menta Beatriz. bre esta outra forma de se fa- nitária fazendo um jornal para zer jornalismo. “Talvez pelos uma comunidade não é comumeus compromissos eu nunca nicação comunitária, seria um tenha pensado realmente em jornal acadêmico, pois foge trabalhar em um veículo co- de todas as características. As munitário. Mas eu acho que é pessoas não se envolvem e isuma atividade que todo jorna- to não é comunitário do ponto lista deveria passar, vivenciar de vista conceitual”, explica a essa relação, por ser diferente professora.

➜➜ Doraci (à direita) entre os jovens na Oficina de Rádio propovida pela Ipanema Comunitária

Rádio Ipanema Comunitária Frequência 87.9 Mhz FM Potência 25 watts Fundada em 2002 Está no ar desde 2005 20 programas 24h no ar Site: http://ipanemacomunitaria.com Twitter: @ipanemacom


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Acesso ilimitado à crítica A internet democratiza a arena da crítica de cinema, antes restrita às publicações impressas e a poucos jornalistas especializados FOTO: BERNARDO GOMES

■■ Jorge Sant´Ana

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círculo da crítica de cinema sempre foi muito restrito. Até há bem pouco tempo, raros eram os veículos de comunicação que exibiam em seus próprios expedientes um crítico de cinema. Eis que veio a Internet e garotos que praticamente nasceram em frente a uma tela de TV e, se pode dizer, foram alimentados por ela (de informações), tomaram para si a tarefa de traduzir o que viam nas telas de cinema. Nada mais lógico, pois dominavam essa linguagem desde que se entendem por gente. Resultado: bem ao estilo norte-americano propagado ➜➜ Pedro Henrique acredita que as redes sociais são ferramentas democráticas por Hollywood (não por acaso) do “faça você mesmo”, tomapalha. Independentemente da fícil que muita gente gosta de be agora nas redes sociais, nos Blogueiros ram de assalto a Internet com qualidade, muitos textos de ci- dar para tornar o texto comple- blogs e nos sites. Quando proassociados e suas ideias e impressões sobre nema acabam sendo publicados, xo não é do meu agrado. En- curo um comentário sobre um concorrência a sétima arte beneficiados pela criando uma grande ‘concorrên- fim, acho que, se você procurar filme, vou direto para a Internet. disseminação da produção auE os “críticos de carteirinha”, cia’. Qualquer um que tentar en- bem, vai encontrar pessoas cer- Nem me passa pela cabeça busdiovisual mundial que a própria aqueles que integram a Associa- trar agora terá que penar para tas que você sempre vai ler”. car uma análise alentada de um web lhes provia. ção dos Críticos de Cinema do conseguir ter seu texto lido”. filme num jornal impresso. Isso Duplamente democrática, Rio Grande do Sul (ACCIRS), tem o seu lado positivo: espaço Liberdade de a Internet age de forma a fa- como veem a “concorrência” Expressão ou voz infinito, liberdade, cada um é Guia prático cilitar o acesso às produções que nasce com a Internet e é ali(vez) a quem não dono do seu meio de comunicade sobrevivência nacionais e internacionais ao mentada pelos blogueiros? Dação e seu próprio editor”. tem (tinha) na rede mesmo tempo em que viabiliza niel Feix, crítico de cinema de O que parece ser uma unao exercício e a veiculação da Zero Hora e diretor da ACCIRS, E como o leitor de crítica “No geral, considero mui- nimidade (a democracia da Inprodução crítica dos bloguei- espanta a polêmica: “Acho que de cinema na Internet deve se to positiva essa democratiza- ternet) pode ser sintetizado na ros. Rafael Botelho, legítimo hoje tudo é muito subjetivo. Um orientar diante de tanta diver- ção da crítica de cinema na fala de Pedro Henrique Gomes, representante dessa geração, 17 blog pode não ser lido por nin- sidade? Matheus Pannebecker, web, que dá a oportunidade de 21 anos, igualmente estudante anos, estudante de jornalismo e guém num momento, mas de 20 anos, estudante de jornalis- muitas pessoas trilharem um de jornalismo, há quatro anos crítico de cinema no site www. repente se tornar mania e ter mo (praticamente um requisi- caminho neste meio que, infe- crítico de cinema do site www. filak.com.br, reconhece na re- muito mais influência do que to para ser crítico de cinema lizmente, é complicado em ter- tudoecritica.com.br. Alinhado de mundial de computadores uma coluna na chamada grande na web) e blogueiro, responde: mos de oportunidades nos meios com Juremir, Pedro também uma ferramenta de veiculação mídia. As coisas mudam muito “Como leitor de críticas de ci- de comunicação mais tradicio- festeja a liberdade assegurada de suas críticas que, de outra rapidamente, é difícil definir o nema na Internet, costumo me nais, como rádio e jornal”, ava- pela Internet e ressalta sua funforma, seriam difíceis de di- que é o quê”. Inclusive, segun- focar mais naqueles endereços lia Matheus. damental importância. Ao falar vulgar. Porém, critica os efei- do Feix, já há vários blogueiros que falam sobre cinema conJuremir Machado da Silva, das redes sociais, analisa o patos negativos da democracia democraticamente integrando a temporâneo. Desaprovo a ideia jornalista, faz, em seus espaços pel da própria Internet para o propiciada pela ferramenta: Associação. de que cinema bom é cinema na mídia, críticas social, polí- que faz: “As redes sociais são “A Internet possibilitou um poAinda no terreno da dispu- antigo e que filme comercial tica e cultural. Doutor em Co- potenciais ferramentas demoder de expressão maior, todos ta de espaço entre os próprios não tem conteúdo. Não tenho municação, escritor, intelectual cráticas. Nunca foi tão fácil se falam querendo ser ouvidos e, críticos, Rafael, entusiasta, mas paciência para ficar lendo so- renomado e polemista, Juremir expressar, o que constitui, ao assim como em tudo, opiniões ao mesmo tempo crítico (seria bre movimentos de câmeras ou vê no assunto – comunicação e menos virtualmente, um estado contrárias surgem. O problema um vício do ofício?), do papel termos técnicos, gosto daque- democracia - um prato cheio: “A de democracia social onde tonasce quando não há respeito da rede mundial de computa- les textos que me convencem, Internet, do meu ponto de vis- dos têm voz, opinião. Acredito pela opinião contrária. A Inter- dores, realça sua importância de forma simples e objetiva, a ta, é a salvação da lavoura para que a função da Internet, polinet não criou, mas potenciali- como veículo de publicação assistir a um filme. Também a expressão livre. Tudo aquilo ticamente falando, é essa meszou a falta de respeito com a das críticas, mas pondera que procuro ler textos de lingua- que não tinha - e não tem – mais ma: dar voz aos que não falam opinião alheia”. “apesar de ajudar, também atra- gem fácil. O tom erudito e di- lugar na mídia tradicional ca- – ou não falavam”.


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O incentivo à poesia nas escolas Projeto A Hora da Poesia e o livro Mario visam promover a leitura de poetas brasileiros

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FOTO: JANAÍNA EICKHOF

■■ Janaína Eickhoff

Livro Mário

s poemas são pássaJuntamente com o projeto “A de Armindo Trevisan e TabaHora da Poesia” será lançado o li- jara Ruas. Também terá texros que chegam não se sabe de onde e vro Mario, volume II. A primeira tos de Erico Verissimo, Moacir pousam no livro que edição foi organizada pela CE- Scliar, Antônio Holfeldt, Vinílês”. Assim dizia Mario QuinEE e os poucos exemplares foram cius de Moraes, Carlos Drumtana sobre a poesia. E pensando distribuídos a um número restrito mond, Rui Carlos Ostermann, de pessoas. A segunda edição do Rubem Braga, Lya Luft, Alcy em voos mais altos em relação livro será entregue para a Biblio- Cheuiche, Paulo Sant’Ana, Yveà poesia, o poeta tinha um sonho: levá-la às crianças nas esteca Nacional de Brasília, que fará te Brandalise e da idealizadora colas. Ideia que foi comentada a distribuição para as bibliotecas do projeto, Dulce Helfer. A obra inúmeras vezes para uma granpúblicas do país. No Rio Gran- contém todas as informações sode amiga, a fotógrafa Dulce Helde do sul, a Secretaria da Educa- bre o poeta Mario Quintana, cofer, criadora do projeto “A Hora ção vai beneficiar três mil escolas mo: biografia, bibliografia, fotos com os livros. dos últimos 10 anos de vida do da Poesia”, também responsáO livro conta com a parti- poeta retratas por Dulce, fotos vel pela edição do livro Mario. O projeto pretende criar uma cipação de grandes escritores da infância de Mario, de encongaúchos, amigos e admiradores tros dele com Manuel Bandeihora da poesia nas escolas pado poeta. Os textos principais ra, Vinicius de Moraes e Carlos ra que os professores estudem poesias com as crianças, não ➜➜ Dulce Helfer com fotos que retratou em livro o poeta Mario Quintana e a coordenação da obra serão Drummond. FOTO DE SANDRA RITZEL só as do Mario Quintana, mas de escritores do mundo inteiDe acordo com a fotógrafa ro. “Acho muito importante tu- possibilitar à criança o acesso do que incentiva a literatura. A direto ao poeta. “Através dos Dulce Helfer, a realização do poesia vem para resgatar um exemplos da poesia a criança, projeto é a concretização de um pouco do descaso com a lín- ao ler, vai formando ideais so- sonho, não só de Mario Quintagua portuguesa, ensinando as bre determinado assunto.” Tre- na, mas de muitas outras pessocrianças por meio da poesia”, visan acrescenta que o maior as que esperam que esse modelo diz Dulce. valor que as crianças podem ad- gaúcho seja copiado em todo o Para o escritor e grande ami- quirir com a poesia será o hu- país, pois na área da cultura e go de Mario, Armindo Trevisan, mano, o valor dos sentimentos da educação tudo que é bom de➜➜ Dulce e o poeta num momento de descontração no centro da Capital o projeto “A Hora da Poesia” vai e das emoções. ve ser levado adiante.

Elas comandam as pistas de dança As mulheres já dominam o mercado de trabalho. Agora dominar as baladas e club’s é o novo desafio

➜➜ Dj Sill Guerreiro abrindo os trabalhos no Cine Theatro ■■ Gidiane Oliveira

S

er DJ tornou-se hoje uma profissão inovadora que tem atraído mulheres de todas as idades. Muitas dance-

terias deixaram o preconceito de para mulheres que desejam ser lado e estão apoiando as “DJa- DJ’s. Já foi professor das duas nes” ou “DJs” como muitas pre- DJs destaque 2009 e 2010, Caferem ser denominadas. mila Vargas e Nicole Baldwin. O sucesso é garantido quan“Amo a música, uma vez que do a profissional preocupa-se me envolvi”. Foi essa forma que em mostrar conhecimento mu- a DJ Sill Guerreiro, descreveu sical, explica o DJ Lê Araujo. “O a sua motivação para atuar na preconceito existe sim, mas só área. Ela é residente da casa nodepende delas para conquista- turna Cine Theatro, em Porto rem o respeito dos profissionais. Alegre, e afirma que a profisElas precisam se preocupar são é sua única fonte de renda: mais com o talento do que com “A profissão gera muita publia beleza pessoal”, afirma. cidade, participações em evenO vice-presidente do Sindi- tos, palestras e cursos na área”. cato de DJs do Rio Grande do A DJ acredita que é preciso ter Sul, Lê Araujo, atua há 24 anos um “algo a mais” para obter o na profissão e ministra cursos sucesso na profissão. “Acredi-

to no chamado feeling”. Você dançando ao som de uma mupode aprender a usar o equipa- lher. Ela conta que já passou mento ou até mesmo mixar, mas por situações constrangedoras, ser DJ é uma arte que exige não como, por exemplo, deixar um só contato e energia com as pes- menino “tocar” em uma festa soas, mas sentir a pista, tocar porque dizia que se ela consea música certa na hora certa, e guia, ele também conseguiria. manter uma técnica apurada”. A DJ defende a regulamentaAs mulheres buscam a qua- ção. “Deve se tentar regulamenlificação e as novas tecnolo- tar um valor mínimo a ser pago gias permitem a produção de ao profissional, para evitar que playlists e tracks sem a necessi- alguns sejam prejudicados por dade de um estúdio de gravação, uma galera que desmoraliza o mas mesmo com a especializa- DJ, tocando até de graça ou se ção, as mulheres sofrem precon- oferecendo para tocar por um ceito por parte de alguns DJs. valor absurdo”. Para DJ Sill, anos atrás as pessoas não se imaginavam


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Sucesso o RS fabrica em casa Um mercado que é construído por gaúchos para gaúchos que consomem música revela bandas locais FOTO DE RICARDO DUARTE

■■ Nícolas Andrade

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om princípios no grande sucesso de Teixeirinha, passando pelo estouro do rock e chegando aos dias de hoje, a engrenagem do mercado musical gaúcho não para de funcionar. Governo e mídia investem nos artistas da casa com a certeza de um retorno a curto prazo. Quando um trovador da pequena cidade de Rolante, interior gaúcho, atinge a marca dos 120 milhões de cópias vendidas, pode ser chamado de fenômeno ou simplesmente de Teixeirinha. ➜➜ A interação entre as bandas é outra característica do mercado gaúcho Pois este campeão de vendas é considerado como principal ponto de partida para o suces- tentam resgatar um pouco do cesso? Não. Mas tem todas as so do mercado musical do Rio que se fazia nos anos 80 para rádios regionais de cada micrordar suporte ao mercado naquele região que potencializam as ráGrande do Sul. Nos anos 80, o mercado, até momento. Alguns anos depois dios jovens”. As rádios assumem esse paentão tradicionalista, ganha um surge a Comunidade Nin-Jitsu, som mais pesado. Quando o ro- com um rock mixado com ou- pel de protagonista no mercack nacional começa a se des- tros ritmos que conquistam o do. “Tocar artistas daqui deixa tacar no Brasil, com Legião público. Mas foi o ano de 1996 a rádio com uma identidade Urbana, RPM, entre outras ban- que apresentou um marco no mais local. Colocar o som da das, o Rio Grande do Sul segue mercado gaúcho. Era um baile nossa terra gera empatia com o mesmo caminho e revela ban- que ocuparia duas noites no ve- as pessoas, abrindo um mercadas tão importantes quanto as rão levando o nome de Planeta do de shows para estas bandas com trabalhos relevantes”, diz do centro do país. Surgem aí Atlântida. O festival de Rock promo- o apresentador da Rede Atlânnomes como TNT, Engenheiros do Hawaii, Os Replicantes vido pela rádio Atlântida vem tida, Porã. Para ele, a rádio já e Garotos da Rua. Um pouco justamente para comemorar o toma isso como um diferencial mais tarde começam a se desta- sucesso da emissora no Estado. diante às concorrentes. O mercado segue forte até car os Cascavelletes e Nenhum Para o vocalista da Comunidade de Nós. O público recebe muito Nin-Jitsu, Mano Changes, está os dias atuais, as rádios jovens bem essa transição e começa a aí uma das explicações de mer- continuam surgindo e ganhanidolatrar, além do “Canto Ale- cado para o sucesso da música do força, porém, fatores econôgretense” músicas como “Ami- local. “A Atlântida dá resultado micos possibilitam, hoje, uma pelo alcance na mídia, a ponto maior facilidade para o estado go Punk” e “Era um Garoto”. Após alguns anos, em 1991 de te procurarem e gostarem de manter os artistas aqui. “O poentram em cena Acústicos e ti querendo ver o teu show. É der aquisitivo dos municípios Valvulados e Ultramen. Estes só com ela que tu vais ter su- gaúchos é outro ponto crucial.

No Rio de Janeiro, por exemplo, tem uma cena bacana na capital, mas são poucas cidades do interior que tem poder aquisitivo de ir a um show, então, é sempre o mesmo circuito. Essa é a grande diferença”, disse o também deputado estadual, Mano Changes. Os caminhos do mercado gaúcho têm todos os aspectos de um futuro próspero. Com a ascensão da internet e das bandas independentes, a cena fica muito mais em evidência. Casos de sucesso via internet, como a banda Fresno, que no momento é a banda gaúcha mais reconhecida e mais vendida Rio Grande do Sul a fora, são cada vez mais comuns. A quantidade de shows no interior do estado só aumenta e impulsiona o nascimento de novas bandas. É o caso da banda Vert 360º. Segundo o vocalista, Lucas Benz, é importante entrar no mercado local. “Ser reconhecido aqui será muito gratificante. A galera curtindo é um termômetro pra saber se estaremos bem pra expor isso lá em cima” . Hoje em dia, com a globalização, os estilos do mercado não se restringem apenas ao rock. Bandas de pagode, cantores de funk e duplas sertanejas também têm sua fatia nesse bolo. De qualquer forma, o cantor Mano Changes define como é a cabeça dos músicos locais. “Por mais que toquemos na Europa e em festivais do Brasil, onde a gente se sustenta e se alimenta é sim aqui no Rio Grande do Sul”.

Música obrigatória nas escolas MARCELO BERTANI

Em janeiro de 2011, foi sancionada a Lei nº 13.669 do deputado Mano Changes (PP), que obriga as escolas a fornecer atividades relacionadas à música. A medida visa a interação da nova geração com a cultura musical do estado e país. Em seu texto original, a lei diz que “as escolas deverão oferecer as atividades de forma gratuita e aberta, incluindo equipamento e material didático, bem como uma refeição para os alunos que permanecerem durante os dois turnos na escola”. Os estudantes que desejarem participar desse projeto deverão comprovar seus índices de frequência. O projeto será coordenado e supervisionado pelo Comitê de Educação Integral, formado por profissionais com notoriedade e comprovada participação no segmento da arteeducação, a ser criado pelo Chefe do Poder Executivo. Para o deputado é a chance de manter a música viva dentro do convívio escolar.

A evolução dos discos que fizeram sucesso em diferentes épocas

➜➜ Menina da Gaita Teixeirinha (1979)

➜➜ Noves Fora Nei Lisboa (1984)

➜➜ O Papa é Pop Engenheiros do Hawaii (1986)

➜➜ Pré-Rock’a’Aula Cascavelletes (1989)

➜➜ Aproveite Agora Comunidade Nin -Jitsu (2003)

➜➜ Nada Opera Reação em Cadeia (2009)

➜➜ Fresno Revanche (2010)


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É um longo caminho até o topo se você quer Rock’n’Roll O aumento do número de artistas independentes traz novos desafios para aqueles que sonham em viver da música FOTO: DIVULGAÇÃO

■■ Guilherme Not

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ogador de futebol. Astronauta. Ator. Essas são respostas comuns à pergunta “o que você quer ser quando crescer?”. Mas a nova geração está adicionando outra classe a essa lista: músico. É cada vez maior o número de bandas e artistas independentes que lutam por um espaço no coração do público (e na mídia), e têm o sonho de se tornar rockstars. O fenômeno é ainda mais forte em Porto Alegre, um cenário muito fértil no rock’n’roll. No entanto, quem deseja ser artista profissional deve assumir o desafio de viver da música e enfrentar as dificuldades que ➜➜ Acústicos & Valvulados é uma das bandas mais bem sucedidas do Estado acompanham a carreira. É como canta o AC/DC, uma das maiores bandas de rock do mun- que se gosta. James cita a sua trutura, e a batalha para chamar do: “Eu digo a vocês amigos / banda como exemplo. Segundo a atenção de um público bomé mais difícil do que parece”. ele, “as influências são muitas, a bardeado com diversos tipos de Seja por diversão ou com maioria é do rock clássico. Tudo música e, é claro, conseguir realguma pretensão profissional, o que a gente curte ouvir entra torno financeiro com isso. Essa, a maioria das bandas começa no som, de um jeito ou de ou- sem dúvida, é a maior dificuldada mesma forma – amigos que tro”. O processo de criação po- de para uma banda iniciante. No gostam de música, tocam ins- de ter a participação de todos entanto, para Cezimbra, tudo vatrumentos e se reúnem para pra- os membros do grupo ou a ação le a pena para estar no palco, faticar. Foi mais ou menos assim principal de um deles, como é zendo o que se gosta. Ele afirma com a banda Acústicos & Val- o caso da banda Abeck 7, for- que, apesar da má remuneração vulados, uma das mais conhe- mada por cinco amigos de Por- e da “correria”, todas as dificulcidas do Rio Grande do Sul; a to Alegre: “Geralmente alguém dades são superadas pela satisfadiferença é que os Valvulados da banda tem uma ideia de ba- ção de compor e tocar músicas tinham motivos a mais. “A gen- se musical e traz para o ensaio. próprias. O baixista da Abeck te começou porque todo mundo Então, improvisamos algo com 7 também explica que todos os tava a fim de tocar, ou já toca- a banda inteira até achar uma membros da banda possuem ouva com alguém, mas queríamos melhor maneira de executar a tras atividades profissionais, já uma banda com o nosso esti- música”, explica o baixista da que ainda não é possível viver lo, com a nossa cara. Na época, banda, Roberto Cezimbra. Com somente da música, e que o dicurtíamos basicamente o rocka- a banda Acústicos & Valvula- nheiro ganho com os shows é billy, Stray Cats, anos 50, esse dos o processo é parecido. De investido no próprio grupo. Ele clima. E todo mundo estava a acordo com James, ele compõe é usado na compra de equipafim de festa, das gurias, dos tra- a maioria das músicas e arranjos mentos e no aluguel de estúdios gos, chalaças e afins!”, recorda o na voz e violão, “depois a banda de gravação e ensaio – tudo pabaterista da banda, Paulo James. toda trabalha em cima disso”. ra alcançar o objetivo maior da Após os primeiros ensaios, banda: a gravação do primeiro começa uma das partes mais diCD. Mas, se a banda alcança o Pouca grana, fíceis e importantes da vida de sucesso, tanto musical quanto muito trabalho uma banda: a criação do matemercadológico, a situação muda. rial próprio, que é influenciado Em seguida, começam os É o caso de bandas mais anfortemente pelo tipo de música shows, por vezes sem muita es- tigas e que já possuem seu espa-

ço no mercado fonográfico. “A gente tende a se adaptar a situações diferentes, porque pode rolar uma feira gigante, ou um pub bacana... O importante é o show! Claro que o cachê melhorou desde o começo, mas é o tipo de lance que estabiliza, não muda muito depois que atinge um certo valor”, afirma Paulo James.

Originalidade é fator decisivo para o sucesso O cenário de grande crescimento musical e fácil acesso ao conteúdo produzido pelos grupos, especialmente através da internet, também apresenta um desafio para as bandas independentes. Como se destacar em meio a uma multidão de artistas buscando a atenção de gravadoras e do público e que, por vezes, usam os mesmos meios de mídia, e da mesma forma? Para o diretor artístico da gravadora e produtora Marquise 51, Lucas Hanke, o diferencial está justamente na originalidade. “Nós trabalhamos com rock, gênero

que tem um público muito mais exigente e que sabe o que quer ouvir. Então procuramos sempre bandas que sejam autenticas, com boas letras, atitude, personalidade e que tenham os pés no chão”, ressalta. O baterista Paulo James também considera que a autenticidade é um fator decisivo. “Se a banda faz um som de verdade, acredita naquilo, já é meio caminho andado. Não dá pra aguentar banda que fica seguindo moda, correndo atrás de fórmula de sucesso, e esse tipo de coisa”. Além disso, James fala sobre a importância da banda ter uma boa química, e não só habilidade musical. Para ele, “uma banda funciona quando ‘bate’, quando tu ouves e o som impressiona. Não adianta só competência, fazer bem feito, o lado técnico da história. E muito menos só a imagem, ou número de views [acessos no Youtube], etc. Isso é o legal da coisa toda: o desafio de fazer uma música soar bem, de fazer tudo casar, de fazer um show funcionar, de entreter o público”.


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Cinema ao alcance de todos!

Projeto da Prefeitura de Porto Alegre ajuda comunidades carentes a manifestarem a paixão pelo audiovisual FOTO: DIVULGAÇÃO

■■ Paloma Rodrigues

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ma mulher perde tudo quando o marido a troca por outra mais jovem e precisa lutar para conseguir reestabelecer sua vida. Enquanto isso, um diretor azarado cria o plano perfeito para finalmente derrotar seu rival e ganhar o reconhecimento que sempre sonhou. Um rapaz apaixonado pede dicas de sedução a personagens de filmes. Uma mulher descobre o amor enquanto foge de um perigoso assassino. Todas estas histórias e muitas outras são o resultado da Oficina de Realização em Cine Vídeo Digital, promovida pela Prefeitura de Porto Alegre, em parceria com o CineBancários. Voltado para o público carente, o projeto de Descentralização Cultural, realizado pela prefeitura, oferece cursos gratuitos ➜➜ O resultado da oficina foi exibido na sala P.F. Gastal, na Usina do Gasômetro dos mais diversos estilos, sem nenhum custo: de artes circenses até fotografia; de dança a tudante de publicidade, concor- muito profundo de cinema, nem recebe da Prefeitura. Em 2011, teatro. da com Alexandre dizendo que muita didática, pois com frequ- o projeto contou com R$ 6 mil, A oficina de cinema teve iní- apesar do bom manual didáti- ência as aulas eram desviadas destinados ao professor. O macio em 2005, sempre entre os co feito pelo professor, existem para assuntos paralelos”, disse terial utilizado em aula, como meses de abril e novembro. “A poucos recursos para as aulas ela. O professor não quis dar projetor e computadores, é lioficina foi pensada com o ob- práticas. entrevista sobre o assunto. mitado e fica a cargo do Cijetivo de dar acesso a qualquer “O maior ponto fraco é o curNem todos os alunos concor- neBancários. Porém não são pessoa, mesmo os que não ti- so não oferecer absolutamente dam com Liana. Alguns citam fornecidos materiais de gravavessem noção nenhuma de ví- nenhum material. Outro proble- como ponto positivo os conhe- ção ou edição. Para o professor, deo. Mas para nossa surpresa a ma, mas que não é exatamente cimentos do professor, forma- a falta de materiais não é um procura foi grande também por um empecilho, é um claro des- do em jornalismo pela PUCRS problema, pois o que importa é pessoas que tinham conheci- nivelamento da turma em rela- e mestre em Comunicação, In- o talento e a dedicação do aluno. mento e até trabalham na área”, ção à intimidade/expectativas dústria e Criatividade no AuJá Ricardo Hubba, bancário diz Silvio Leal, um dos orga- sobre o conteúdo”, diz o escri- diovisual Iberoamericano, pela da Caixa Econômica Federal, se nizadores da Descentralização. tor e músico Juliano Moreira. Universidad Internacional de indigna com a falta de recursos Apesar da pouca divulgação, “O ponto forte é a atmosfera de Andalucia, Espanha. Ronaldo da oficina, mas também acredio curso atraiu um público gran- aprendizado que, por ter prazos Ruduit, que já deu aulas Uni- ta que a carga horária poderia de, cerca de 90 alunos. Mas, e cronogramas, acaba criando versidade de Santa Cruz do Sul, sofrer algumas alterações. “A devido às dificuldades apre- um comprometimento nosso em no Centro Universitário do Vale Prefeitura não forneceu sequer sentadas durante o curso, ape- concluir o filme para o curso”, do Taquari e no Senac-RS, tra- uma caneta ou lápis para os alunas 30% chegaram até o final. completa. balhou na área de publicidade, nos. A apostila também não foi Para o estudante e crítico de ciLiana Vargas Fernandes diz como produtor de comerciais fornecida. E a carga horária de nema, Alexandre Morosso Gui- que gostou muito da oportuni- para rádio e TV. “O professor cada sábado é muito extensa, os lhão, um dos pontos fracos da dade que a Prefeitura está ofere- é um excelente conhecedor do alunos quase dormem em sala Oficina “é que a Secretaria de cendo, mas que ficou frustrada ramo audiovisual, um profissio- de aula”, completa. Cultura deveria investir mais com a organização. “Não tínha- nal com muita experiência, esComo ponto forte, os alunos no projeto, pois praticamen- mos nenhuma disponibilidade tá nos passando aulas que estão entrevistados citam a oportute não contamos com equipa- de equipamentos e esperava sendo um grande aprendizado nidade que normalmente não mentos nas aulas e a estrutura mais do ministrante, que ape- para nós”, diz Alexandre. teriam. “Em Porto Alegre são que nos disponibilizam é muito sar de entender de técnica, não O motivo de tanta escassez poucos, quase raros, os cursos limitada”. Jackeline Cruz, es- parecia ter um conhecimento é a falta de verba que a Oficina que oferecem a oportunidade

do aluno colocar em pratica o que é aprendido em sala de aula”, diz Jackeline. Além de incomuns, também são caros. A produtora Cena UM, que oferece cursos na área, tem preços que variam entre R$60 e R$300. O crítico de cinema Pablo Villaça oferece em todo o Brasil o curso Teoria, Linguagem e Crítica Cinematográficas. O curso dura uma semana e custa R$ 407,00. O curso de extensão: Análises Críticas no Cinema, oferecido pela UniRitter, sai pelo valor de R$ 500,00. Na PUCRS, o curso superior Tecnológico em Produção Audiovisual, com duração de dois anos e meio, tem uma mensalidade de R$ 2.114,08. O projeto de Descentralização Cultural oferece uma oportunidade única e, segundo Silvio Leal, está apenas começando e as dificuldades serão vencidas. “Pretendemos ampliar o numero de oficinas oferecidas, com possibilidade de ter alguma direto lá na comunidade. Também queremos dar, além ao aprendizado, a formação e encaminhamento do pessoal na área. Talvez realizar um Circuito, festival ou mostra dos materiais produzidos na Cidade, para a cidade”, diz o coordenador. No dia 12 de novembro, os alunos, amigos, familiares e adoradores de cinema se reuniram na Usina do Gasômetro para prestigiar os resultados da oficina. Ao todo, foram seis curtas-metragens, entre eles um documentário. Após a exibição dos filmes, os organizadores da oficina se reuniram ao público para um debate sobre a importância do cinema e de projetos como este. Os filmes produzidos estarão disponíveis, em breve, no site http://descentralpoa.blogspot.com. As inscrições para a Oficina de Realização em Cine Vídeo Digital 2012 começam em março e estarão abertas para todos os interessados a deixar que a magia do cinema entre na sua vida.


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O trajeto da notícia no jornal impresso

FOTO: JEFERSON FERREIRA

O comércio do jornal impresso segue elevado. Os leitores pouco conhecem sobre a logística e venda dos periódicos ■■ Jeferson Ferreira

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caminho de um jornal até a mão do leitor é uma obra de arte. A produção do jornal em si passa pela impressão, o encarte, a distribuição e a venda ao leitor. O jornal impresso segue na luta diária contra os demais meios de comunicação de massa com o empenho de muitos trabalhadores responsáveis pela logística e as vendas dos exemplares. O que a maioria dos leitores não conhece é o árduo trajeto percorrido pela notícia até chegar à mão do leitor, o que exige uma boa estrutura de logística. E que muitas pessoas ganham a vida com o jornal, sem serem jornalistas, editores ou chefes de redações. O jornal que chega diariamente ao leitor depende de uma complexa estrutura de distribuição e venda. A definição do que será publicado no jornal do dia seguinte é feita no dia anterior, em uma reunião de pauta das editorias. Geralmente, por volta das 23h, o jornal está praticamente pronto, faltando somente a impressão e a montagem. A partir desta decisão inicia-se o processo para finalizá-lo e deixá-lo pronto para ser entregue no dia seguinte. O repórter tem a função de sair a campo, atrás das fontes e buscar suas informações para montar sua pauta. Assim que ele tiver a certeza de estar com apura-

ções suficientes para finalizar a matéria, dirige-se à redação e finaliza a pauta. O editor, por sua vez, está sempre em comunicação com o repórter, a fim de estar a par da reportagem, pois a responsabilidade da publicação da notícia é do editor. Assim que todas as matérias forem finalizadas, editadas, diagramadas, creditadas, inicia-se o proces-

so para impressão e montagem do jornal. De acordo com o secretário de Logística da maior empresa de jornal impresso da região sul do Brasil, a RBS, Renan Linhares, o segredo para tudo ocorrer conforme o planejado é manter o controle sobre máquinas e funcionários. “Trabalhamos com uma alta demanda

de jornais para impressão; brinco com o pessoal que é preciso t rês ol hos, u m para cuidar das máquinas, outro dos caminhões, e, principalmente, outro do relógio”, afirma. Para Linhares, a atenção dos trabalhadores é indispensável no parque gráfico, local onde são efetuadas as impressões e montagens dos jornais. “A tecnologia auxilia na impressão e na montagem dos jornais, mas precisamos da capacidade humana para o transporte e distribuição corretos d o j o r n a l ”, explica. Trabalham no Parque Gráf ico Jay me Sirotsky, localizado na zona norte da capital, 115 trabalhadores. As impressoras são capazes de imprimir 75 mil exemplares por hora, ou 21 jornais completos por segundo. O jor na l sa i do Parque Gráfico pronto, montado e encartado. Começa neste momento o trajeto da notícia. Colocados em caminhões, os jornais transitam até os Centros de Distribuições (CD´s), ou, Offices. Nestes locais, que em Porto Alegre são mais de trinta, é efetuada a entrega aos assinantes, aos vendedores, e aos proprietários de bancas de revistas. Para fora da região Sul, o jornal chega via transporte aéreo. Segundo Linhares, todo o processo é elaborado antes das 5 horas, os caminhões começam a deixar os CD´s exatamente às

5h15. A distribuição é efetuada por bairros a partir das 5h30, desta forma, os entregadores fazem que com que o jornal chegue às mãos do leitor. Os exemplares não vendidos também são aproveitados. O secretário de Logística explica que a cada dois dias são recolhidos nos pontos de venda e distribuição. Chamam-se encalhos e são reutilizados em novas impressões.

O papel do jornaleiro Paulo Roberto Ramos, vendedor há 6 anos, trata seus jornais como produtos e conta: “Chego às 5 horas, bato meu cartão, pego meu jornal e me desloco até meu ponto de venda, a Kombi sai com a rota pronta, as 6 horas já estou começando a fazer minhas vendas”. Paulo trabalha na região central de Porto Alegre, próximo ao viaduto Loureiro da Silva. Com uma comissão de 15% sobre cada venda e com uma média de 280 jornais vendidos por dia, se diz realizado com a função e com o trabalho prestado a uma empresa conhecida.

Jornal nas bancas Outro meio de levar o jornal ao leitor é a venda em bancas de revistas e jornais. As bancas são regulamentadas pela Prefeitura. O proprietário Sergio Deli, 56 anos, inclui-se nas bancas cadastradas e agora com controle da prefeitura. Ele vende jornais há mais de duas décadas. Diariamente, abre a banca às 5 horas e os jornais chegam às 5h30. Para Deli, acordar cedo todos os dias é motivo de alegria. “É uma honra, uma alegria enorme, a leitura é algo que deve ser cultivada por todas as pessoas, e o jornal é conhecimento. Só pelo fato de estarmos lendo, já adquirimos algum tipo de conhecimento”, relata. Atualmente, são vendidos, em Porto Alegre, jornais de mais de 30 empresas diferentes. O número de vendas cresce anualmente. Somente assim o jornal impresso irá manter-se vivo, sem o tormento das edições online.


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O futebol vai além das quatro linhas Programas de televisão e rádio disponibilizam boa parte do tempo para informações sobre o futebol. Internet e jornais também não ficam atrás. Mesmo sendo uma prática jornalística ativa em todo o território brasileiro, existem diferenças maiores do que se imagina FOTO: MARIANA DE FONTOURA

➜➜ Christiane Matos e Vagner Martins (esquerda) conversam durante a palestra do jornalista Jader Rocha para o curso “Futebol e Jornalismo”, na PUCRS em 2010 ■■ Gabriel Telles Ferreira

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futebol está consolidado como o esporte que mais move paixões no Brasil. Por causa disso, a imprensa brasileira disponibiliza um espaço considerável nos veículos para noticiar informações das rodadas, dos clubes e do dia-a-dia de treinamentos, pois

me a importância do clube. No Rio Grande do Sul, a dupla Grêmio e Inter tem setor dentro das empresas para fornecer informações e coberturas completas do dia-a-dia e das partidas. Segundo Vagner Martins, repórter da Rádio e TV Bandeirantes de Porto Alegre, o interesse público gerou a necessidade de colocar jornalistas trabalhando

“Entendo que aqui no RS se faz um jornalismo mais sério. Talvez por uma questão cultural” - Vagner Martins existe interesse público. Ainda ativamente no Estádio Beiraassim, é diferente de região para -Rio e no Estádio Olímpico. “O região, por motivos, como a cul- jornalismo esportivo aqui no tura de cada estado e o número Rio Grande do Sul tem o seu de clubes que mais atraem tor- principal foco no futebol. Pelo cedores. Corinthians e Flamen- fato de a dupla Gre-Nal ser muigo, por exemplo, são os que têm to forte e despertar um interesse maior torcida do país, segundo o público, a cobertura é intensa. Instituto Ibope Media divulgou, Os principais espaços em TV, no dia 4 de outubro de 2011, o rádio, jornal e Internet são deque gera uma maior atenção nos dicados ao futebol”, explica ele. noticiários de todo o Brasil. Nos outros estados, o volume A abordagem varia confor- de trabalho é tão grande quanto

no RS. Em São Paulo, existem muitos clubes em evidência no cenário do futebol, como Corinthians, Santos e São Paulo. Como a demanda é grande, os jornalistas fazem a cobertura de todos os clubes, sem “setorização”, como no Sul. Mas a forma de exposição de todos os conteúdos também varia. Para Vagner Martins, aqui temos um ponto de vista mais técnico e profissional do futebol e menos “humorístico”, como podemos observar nos programas nacionais, como Globo Esporte (Rede Globo) e o Jogo Aberto (TV Bandeirantes). “Entendo que aqui no RS se faz um jornalismo mais sério. Talvez por uma questão cultural. Vou citar um exemplo: atrás das goleiras do Beira-Rio e do Olímpico você não vê um profissional com o microfone na mão, comemorando um gol. Algo que ocorre com freqüência no Rio de Janeiro, Goiânia e Salvador”, conta. Outro fator de cuidado para

os jornalistas é lidar com o sentimentalismo e a paixão exagerada, presentes constantemente no meio. Christiane Matos, setorista do Internacional no jornal Diário Gaúcho, conta que nunca recebeu ofensas ou algum tipo de agressão verbal por parte de torcedores, mas as reclamações são corriqueiras: “É comum recebermos telefone-

chances de visibilidade nos veículos. “Minha principal dica é gostar de esporte. Não adianta trabalhar na área se não gostar do que faz. É importante também estudar o assunto (jogos, adversários, tabelas, classificação) e estar sempre muito bem informado”, analisa. Já Vagner Martins explica que é necessário aliar competência, determi-

“Minha principal dica é gostar de esporte e estar sempre muito bem informado” - Christiane Mattos mas de torcedores reclamando nação e vontade para conseguir de pouco espaço no jornal para chegar ao destino desejado. o clube, ou até mesmo discor- “Antes de tudo é preciso querer! dando de uma matéria”. Depois você tem que provar que Muitos estudantes, ao in- quer. Este é o começo. É precigressarem no curso de jorna- so trabalhar e mostrar qualidade lismo, já têm em mente seguir em tudo que você for fazer. Ouo caminho na área de esportes. tra dica: Se você quer trabalhar Christiane Matos e Vagner Mar- em jornal, leia muito a parte de tins dão dicas aos interessados e esportes. Se você quer o rádio, avaliam que é necessário gostar ouça tudo. Se a opção for TV, previamente do assunto e de- veja tudo. Observe o trabalho dicar tempo e atenção para ter dos bons profissionais”, conclui.


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Assista online: é o fim das locadoras? Os antes disputados espaços, hoje sofrem com a falta de público, o que pode ajudar a extinguir o mercado de homevídeo REPRODUÇÃO: RAFAEL BOTELHO

■■ Rafael Botelho

C

hegando no Brasil no início de setembro de 2011, a empresa americana de locações online Netflix acabou chamando com rapidez a atenção de adeptos por evidenciar o crescimento de um ramo até então despercebido. A empresa americana entra em um mercado que está praticamente consolidado no Brasil com cada vez mais interessados em assistir filme online, o que coloca em xeque todo antigo mercado de homevídeo. Os números comprovam o risco que as locadoras enfretam: se no início de 2003 haviam 12 mil locadoras, hoje existem apenas 8 mil em todo país, segundo a União Brasileira de Vídeo. O serviço de locadora online, que disponibiliza um variado acervo para o usuário desde que pague uma quantia fixa por mês, impõe-se como um dos principais fatores para a gradual que- ➜➜ Página inicial do site Netflix, sistema americano de locações online que chegou no Brasil recentemente da dos antigos estabelecimentos. A disponibilidade de ter acesso ao serviço sem deslocar-se à lo- com videocassete. A pirataria locadora de Porto Alegre que maior problema das locadoras cadora atraiu bastante a atenção já surgia como principal ini- tenta sobreviver ao inconstan- é a grande variedade de opções de consumidores que utilizam a migo nesta época, tornando-se te mercado. “É bastante compli- de “lazer em casa” que as pessointernet. “Tendo uma velocida- crucial no mercado a partir do cado. Eles foram responsáveis as têm acesso. O tempo que era de de internet boa já basta para momento em que bastava ter um pela redução do número de lo- destinado a ver filmes hoje está alugar filmes online. Mais práti- computador e acesso à internet cadoras em, acredito que 50%. dividido em muitas outras atividades”, fala co do que ir em uma locadora e com velocidade moderada pa- No caso da ter que brigar por um lançamen- ra poder baixar qualquer filme E O Vídeo Maurício “Uma velocidade de to de um filme. É tudo na hora”, tanto visando o comércio ilegal Levou, conJá tendo afirma Lauro Antonio, adepto quanto para consumo próprio. A seguimos internet boa já basta demasiados concorrência aumenta quando a criar um niproblemas, do novo sistema. para alugar filmes a s locado Porém, ainda existem aque- TV por assinatura, que já con- cho no merles consumidores que resistem corria com as locadoras, começa c a d o c o m online. É mais prático ras também enfrentam às mudanças: “Se eu vou numa a disponibilizar e também locar um público do que ir em uma locadora, eu posso dizer que te- filmes sem que o consumidor específico os estúdios locadora e ter que nho um filme nas minhas mãos, precise sair de casa. cujos filmes de produenquanto a internet não possiAs locadoras revidaram a dificilmente ção de fi lbrigar por um mes, que ao bilita isso. O virtual é só uma este múltiplo ataque de várias são achados lançamento de filme. representação, e isso me inco- formas, algumas se transfor- de outra forsofrer com u ma c r i se moda. É por isso que eu con- maram em lan houses, outras ma se não na É tudo na hora” interna detinuo indo à locadora”, conta criaram promoções, serviços de locadora. Os Giordano Gil, estudante de ci- atendimento a domicílio, tudo canais pagos, a pirataria e as lo- vido à pirataria acabaram pronema e consumidor ávido de lo- para trazer os clientes de volta. cadoras virtuais, trabalham ba- curando o mercado digital para Mesmo assim, eles dificil- sicamente com “blockbusters”, tentar contornar o problema. cadoras “de tijolos”, como ele mesmo gosta de se intitular. mente iriam retornar por já esta- explica Trilho. Quando os estúdios estão elaO mercado de homevídeo te- rem adaptado às novas formas de A diversificação das opções borando um filme, o mercado ve uma história conturbada des- locação, aponta Maurício Trilho, de lazer dificultam ainda mais de locações online já está plade o início, nos anos 90, ainda funcionário da E o Vídeo Levou, a situação das locadoras. “O nejado, ao contrario do merca-

do de locações, que sofre pela falta de abrangência. A internet, grande responsável pelo problema, pode ser a única solução para as locadoras. O uso de redes sociais tanto para divulgar os lançamentos como também para vender DVDs e demais produtos relacionados ao cinema se tornou a chance de sobrevida das locadoras. Fato confirmado por Marcelo, ao informar que 30% do total de vendas e locações provêm da internet. O atendente acredita que “a distribuição online certamente será o futuro. No entanto, ressalta que esta distribuição será dos blockbusters. “A grande produção de cinema no mundo inteiro e o crescimento na procura de filmes que dificilmente conseguem exposição nos cinemas serão um grande espaço a ser explorado pelas tradicionais locadoras”.


26 Comportamento

Eles são fãs

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Admiradores de bandas, obras literárias, músicos e escritores assumem, cada vez mais, a posição de porta-vozes de seus ídolos FOTO: LAY VENANCIO

➜➜ Fãs se reúnem em diversos pontos do país para homenagear o trabalho de seus ídolos, como o grupo de jovens paulistas que se manifesta para pedir a presença da banda no país ■■ Letícia Pusti

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eunidos em grupos ou mesmo solitários, fãs incorporam as mensagens passadas por seus ídolos em atividades que, além de homenageá-los, disseminam os ideais inseridos em seus trabalhos. Livros, desenhos, músicas... Muitos desses meios de expressão são vistos pelas pessoas como maneiras de contar histórias e, em diversos casos, causam a sensação de conforto e compreensão. Porém, para muitas outras, isso vai além. Quando as histórias por trás das melodias, imagens e palavras ultrapassam a linha do simples gostar, passam a fazer parte da construção de caráter e opinião

de milhares de pessoas, os en- ra Maria Fernanda Castro, 19. volvidos tornam-se fãs. “Os livros falam muito sobre a “Agora me aceito do jeito amizade, nossas escolhas, inseque sou”, é o que diz Ana Cris- guranças e mesmo preconceito. tina dos Santos, 15 anos, sobre Não há como não crescer como o papel que os ídolos exercem pessoa depois de conhecer esna sua vida e na formação da se mundo fantástico criado pesua personalidade. Os fãs da sa- la J.K. [Rowling, a autora dos ga de Harry Potter também são livros]”, completa. exemplo disso. Encarada pelos De fato, na história uma das não leitores como uma história personagens principais lida com de magia, as aventuras do bruxo aqueles que se acham superiores transformaram vidas sem utili- por serem de famílias puramenzar feitiços. “É muito mais do te bruxas, o que serve como reque uma aventura. Trata-se de flexo da sociedade. Ainda assim, vidas, experiências boas, expe- é possível extrair muito mais da riências ruins; nossa capacida- história que se desenvolveu em de de lutar por nossos objetivos sete livros. “Harry Potter desenmesmo quando tudo está con- volveu e expandiu minha criatra nós, e sobre a nossa forçam tividade, quem gosta de ler não que está em pequenas coisas, co- tem dificuldade em bolar hismo as lembranças”, diz a leito- tórias e escrever redações. Na-

quelas páginas são transmitidas infinitas mensagens aos leitores, aprendemos com elas”, conta a também fã da série, Camila de Cássia Araújo, 16.

Fãs conscientes Já em um contexto socialmente mais crítico, músicas e bandas possuem maior fluência. Entrevistas, letras, melodias bem trabalhadas e até mesmo a vida pessoal dos músicos atingem e conquistam um maior e mais receptivo público. Os fãs antigos ou novos, por sua vez, tornam-se porta-vozes de suas idéias. Como é o caso da banda norte-americana My Chemical Romance. “Nunca permitam que a mí-

dia diga como seu corpo deve ser. Vocês são lindos do jeito que vocês são. Continuem lindos, mantenham isso feio”, proferiu Gerard Way, vocalista do grupo, ao receber um prêmio promovido pela revista que havia criticado um dos integrantes da banda por sua aparência. Foi o suficiente para abrir os olhos de muitos que ainda não haviam percebido a mensagem por trás do mais recente álbum da banda, Danger Days, The True Lives of The Fabulous Killjoys, mensagem que conquistou uma nova multidão de fãs e preencheu os fãs antigos de orgulho. “O último álbum da banda [Danger Days] veio com mensagens contestadoras contra o sistema alienado em que vivemos,


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Comportamento 27 FOTO: @DOITLOUDPE

mas ao longo da carreira deles foram incontáveis mensagens para as pessoas não desistirem facilmente diante das adversidades que surgem em suas vidas, que não se sintam confortáveis na posição de vítimas. Qualquer psicólogo ou líder religioso poderia passar a mesma mensagem, mas não com a mesma hostilidade e paixão que eles passam”, explica a fã do grupo, Camila Souza. Para a psicóloga Jéssica de Araújo, o comportamento de considerar-se fã e conseguir captar tantas mensagens se deve à necessidade de compartilhar valores. “As pessoas, em especial os jovens, buscam algo significante para sentirem-se parte de algo. E quando o artista ou a história incorpora elementos que tragam alguma forma de identificação, seja em crenças, valores, seja em sentimentos, faz com que a sensação de estar sozinho diminua”, diz. E completa: “Traz o conforto que todos precisam para não haver a sensação de deslocamento na sociedade e, em muitos casos, na própria vida”. Certamente, compartilhar de gostos e opiniões é uma necessidade natural que ganha força quando se trata de algo tão singular mesmo quando partilhado entre milhares de pessoas. É o que reforça a fã da banda My Chemical Romance, Victória Agostinho, 17: “Não há nada mais divertido do que encontrar

pessoas que gostam da mesma coisa que você e poder conversar sobre isso. É confortável; é como encontrar um lugar para você e sentir que você faz parte de algo realmente bom”. E são o conforto e as inspirações em comum que mobilizam os fãs a mostrarem aos ídolos e ao mundo não apenas o amor pelos trabalhos e pelas personalidades em si, mas também a importância das composições (musicais, literárias, artísticas em seus diversos modos) que mudaram milhares de vidas.

Trabalho coletivo É cada vez mais comum grupos de fãs se reunirem para realizar atividades sociais. Para eles, é a melhor forma de prestigiar o trabalho realizado e disseminar as ideias do ídolo. Principalmen- ➜➜ Fãs de My Chemical Romance utilizam do lema “Art is the weapon” (Arte é a arma) para te quando estes carregam tadisseminar pelo Brasil, através de trabalhos artísticos, as ideias compartilhadas pela banda manho significado a ponto de modificar ações sociais. “É comum as pessoas terem ma a psicóloga. como ídolos aqueles que têm alTarefas como doar sangue ou go a acrescentar e os quais se promover festas a caráter e bepode tomar como exemplo. So- neficentes ocorrem periodicamado a isso, há o fato de as pes- mente no país e no mundo. Sem soas sentirem a necessidade de nunca deixar de lado a confraestar próximas ao objeto ado- ternização e, é claro, a admirado, em fazer parte do mundo ração, os fãs unem seus ideais deles. Planejar um encontro em e a espera do reconhecimenque se supõe que o ídolo senti- to não apenas do seu trabalho, ria orgulho do fã, adicionado a mas do trabalho do ídolo, patodo aquele conjunto de ideais ra, quem sabe, assim conquiscomuns faz com que o fã sinta tar, aos poucos, uma sociedade ➜➜ Fãs interpretam personagens de obras admiradas mais próximo e completo”, afir- mais consciente.

FOTO: YUU

FOTO: @DOITLOUDRJ

➜➜ Jovens admiradoras organizam movimento para chamar a atenção da banda e pedir shows no Brasil


28 Comportamento

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FOTOS DE EMILI NITSKE PEREIRA

Benefícios que vão além do tatame Conhecido como uma arte marcial que não tem competição, o Aikido traz benefícios tanto para o corpo quanto para a mente ■■ Emili Nitske Pereira

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ntes da criação do Ai- mo frequência ideal, treinar cinkido, o fundador Mo- co vezes por semana, segundo rihei Ueshiba insistia o presidente da Associação RS em sempre vencer as Aikikai, Christian Sant’Anna, suas disputas. Após a morte do que já treina há vinte anos e pai, em um momento de pro- afirma que “o Aikido torna o funda tristeza, percebeu que era corpo mais saudável”. Trazendo inútil insistir sempre na vitória, mudanças que também benefipois em algum momento da vi- ciam a vida do aikidoka (prada seria derrotado. Surge, então, ticante) fora do dojo (local de na década de 1940, o Aikido, prática), Marcelo Vargas, que arte marcial moderna repleta treina desde maio de 2002, cide preceitos como harmonia e ta alguns exemplos: melhora o cooperação e que não permite sistema respiratório e cardíaco, competições, pois vão contra os ajuda no equilíbrio emocional, princípios de Morihei. Conhe- combate a monotonia, melhora cedor de técnicas ancestrais da a concentração e promove a intradição dos Samurais, Morihei tegração entre as pessoas. “No agregou aos treinos a busca da início, buscava saber fazer as espiritualidade e do autoconhe- técnicas e graduar nas faixas, cimento, bem como os valores mas com o passar do tempo fui dos Samurais: humildade, hon- descobrindo que tudo aquilo que ra, honestidade, entre outros. eu aprendia no tatame também Uma atividade física que traz servia para minha vida fora do benefícios tanto para o corpo Aikido”, conta. quanto para a mente, o Aikido pode ser praticado por mulheEquilíbrio e res e homens de todas as idades harmonia que buscam melhorar o condicionamento físico ou combater Já Wilson Rangel, 41 anos, o estresse. É recomendável, co- sempre quis praticar alguma

arte marcial, mas achava que Com pouca coordenação cornão tinha mais idade para is- poral e com medo de se machuso. Depois de conhecer o Aiki- car, devido aos rolamentos e as do através de amigos percebeu quedas que acontecem durante que poderia praticar tranquila- o treino, a doutoranda em Direimente. Treinando desde julho de to do Trabalho, Valkiria Sarturi, 2009, já percebeu alguns bene- 33, aceitou o desafio de treinar fícios que a prática trouxe para Aikido para conseguir vencer a o seu dia-a-dia, com relação ao própria limitação que, segundo aspecto físico. “Treinando você ela, ficou visível desde o primeidesenvolve a mobilidade, a fle- ro treino. “Acho que a vontade xibilidade e o equilíbrio, como de vencer os meus próprios litambém a resistência”. Cair e le- mites e provar para mim mesma vantar muitas vezes exige bas- que conseguiria foi importante tante do condicionamento físico no início”, afirma Valkiria, que do aikidoka. “No Aikido se fala em dezembro completa quatro muito em ‘círculo’ e ‘centro’, isto anos de treinos. Os movimené, sua energia está em seu centro tos, tanto de ataque quanto de e o seu círculo é o seu espaço, e defesa, são determinados pela você define se este espaço poderá intensidade ou força de quem ser invadido ou não. Na vida fora realiza o ataque (uke), ou seja, do dojo não deixa de ser diferen- se o uke for com muita força te, permitimos que pessoas que em direção ao nage (aquele que gostamos entrem no nosso círcu- aplica a técnica) poderá receber lo, assim como repelimos quem uma resposta ao seu ataque com não gostamos por alguma razão. a mesma intensidade. Os moviEntretanto, devemos aprender a mentos tendem a se tornar mais administrar as situações evitan- vigorosos, conforme a graduado conflitos e buscando harmo- ção dos praticantes, pois como nizar o convívio nos diversos explica Sant’Anna, o Aikido é ambientes”, explica Rongue. uma arte marcial de cooperação,

em que, na prática, busca-se a interação e a harmonia entre os que treinam. Mas isso não quer dizer que os treinos não possam ser cheios de energia, pois “para encontrar a paz o homem tem de estar preparado para a guerra”.

Combate ao estresse Toda a prática de atividade física ajuda a pessoa a manter uma boa harmonia entre o corpo e a mente. “É a velha máxima: ‘mente sana in corpore sano’, ou seja, mente sã em corpo são”, explica Valkiria, para ela o Aikido a ajuda a extravasar as energias acumuladas durante o dia, se o treino ocorrer à noite, ou a começar o dia bem disposta, caso o treino seja durante a manhã. Entretanto, a oficial de justiça, Luciane Canella, 35, tem a sensação de relaxamento após os treinos, como se fosse após uma sessão de meditação. Treinando há apenas três meses, Luciane já conhecia as artes marciais, como o Taekwondo


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Comportamento 29

desde pequena, por meio do irmão que também a apresentou ao Aikido.

Relacionamento interpessoal “Costumo dizer que o Aikido não prepara lutadores, mas líderes e pessoas de bem, essenciais para o desenvolvimento da nossa sociedade”, afirma Sant’Anna. Ele acredita que as pessoas ficam mais seguras e confiantes com a prática, convivendo melhor umas com as outras. O Aikido, para Valkiria, ajuda na concentração e reforça algo que preza muito: “ser humilde e me relacionar com respeito e alegria com o maior número de pessoas possível”. A prática também ajuda a encarar momentos de pressão e angústia com mais naturalidade e com a consciência de que tudo é uma fase, e que na vida “podemos cair e levantar a qualquer momento. Seja qual for o motivo que tenha causado isso, teremos que levantar e seguir em frente quantas vezes for preciso”.

O significado ➜➜ Sensei Christian Sant’Anna (à esquerda) avalia alunos durante exame de graduação de faixa A palavra Aikido, na sua tradução direta do japonês para o português, significa “O caminho da harmonia com a energia vital”, mas como explica Sant’Anna é difícil aproximar para a nossa língua uma perfeita definição para o Aikido. Luciane define como um exercício que visa além de resultados físicos, uma arte que ensina a perseverar diante das dificuldades. Já

Rongue explica que o Aikido é um Budo, uma arte marcial excelente para a defesa pessoal e uma filosofia de vida, “que serve para, além de vencer oponentes, vencer a si mesmo, superar suas dificuldades, seus medos e anseios”. Ao concordar com Sant’Anna, Valkiria também acredita ser difícil definir algo, pois se pressupõe que tenha um conhecimento

Murihei Ueshiba, o fundador

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orihei Ueshiba nasceu em Tanabe, no Japão, em 14 de dezembro de 1883. Estudou diversos conceitos e técnicas de artes marciais nas diferentes escolas de Jiu-Jitsu existentes no Japão. Em 1922, a prática de Morihei começou a adquirir um caráter mais espiritual, levando-o a se libertar das práticas convencionais e a desenvolver

➜➜ Alunos do Dojo Central durante a abertura do exame de graduação de faixa

um estilo próprio. Em 1935, se tornou famoso em todo o mundo das artes marciais, devido à criação “da união do espírito, da mente e do corpo”, previamente chamada de aiki-budô. Aos 70 anos, sua técnica fluia de sua imensidão espiritual, em contraste com a ferocidade e força física que o caracterizava. Em 1967,

aconteceu a cerimônia do início da construção do Hombu Dojo, em Tóquio. Em janeiro de 1968, uma comemoração foi realizada em razão da conclusão da obra, e Morihei falou sobre a importância da essência das técnicas do aikido. Mesmo parecendo estar com saúde impecável, veio a falecer em 26 de abril de 1969.

mais profundo a respeito daquilo que se pretende definir. Para Valkiria, Aikido é uma arte marcial que conecta as pessoas e o que lhe chama a atenção é a “mistura dos mundos”, em um mesmo treino estão reunidos médicos, advogados, taxistas, seguranças, todos em busca de uma integração, de uma harmonia. Wilson concorda com Marcelo ao afirmar que “a única pessoa

que devo superar é a mim mesmo”, e afirma que para ele, o Aikido é além de uma arte marcial, é uma arte que faz com que as pessoas se unam e troquem experiências sem a necessidade de haver competição. Resumindo, Sant’Anna define o Aikido como “uma ferramenta que pode ser utilizada pelo praticante na sua vida, transpondo as paredes do Dojo”.

Associação RS Aikikai

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Associação RS Aikikai foi fundada em 1998 pelo Sensei (professor) Christian Sant’Anna, com o objetivo de preservar e difundir os princípios do Aikido. É filiada à Aikido Sansuikai International, organização que permite à Associação RS Aikikai estar ligada ao Hombu Dojo, organização sede mundial do Aikido, localizada em Tóquio, no Japão.

Em Porto Alegre a Associação tem sua sede e Dojo Central, na avenida Cristovão Colombo, mas pode-se treinar em outras filiais, como na Academia Práxis, e em outras cidades, como Pelotas, São Leopoldo e Vitória da Conquista (BA). Atualmente, Sensei Christian possui quarto nível de faixa preta e conta com mais de 50 alunos sob a sua tutela e dos instrutores da associação.


30 Saúde

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Projeto Amigo traz melhorias às ruas da Capital

Destinado à saúde, defesa e bem-estar dos animais, o projeto Bicho Amigo prevê ações de proteção FOTO: LUCIANO LANES / PMPA

➜➜ Ônibus adaptado funciona como clínica veterinária ambulante ■■ Jéssica Vieira

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Prefeitura de Porto Alegre pretende aumenta r as esterilizações de animais. Pa ra isso, conta com duas unidades móveis que se deslocam até as comunidades para atuar direto na realidade e prevenir problemas. A Unidade Móvel I do Projeto Bicho Amigo, inaugurada em agosto de 2011, funciona como clínica itinerante para esterilizar animais e educação em saúde, da Secretaria Especial dos Direitos Animais (SEDA). Já a unidade móvel II, inaugurada em março de 2011, serve para

apanhar os animais nas vilas atendida pelo projeto), Santa populares, e levá-los até a clí- Terezinha, Bernardino Silveinica de esterilização, onde é ra Amorim e nos loteamentos feita a castração, esterilização Arco Íris e Bela Vista. e implantação de microchips. O Projeto Bicho Amigo Depois o animal é devolvido executa ações como o conà comunidade. trole reprodutivo de animais O ônibus, doado pela Asso- domésticos e educação para ciação dos Transportadores de guarda responsável e em saúPassageiros de Porto Alegre de ambiental, é operacionali(ATP), é uma clínica itineran- zado por meio das unidades te para esterilização de animais móveis I e II. de rua. A coordenação das atiEntre os meses de julho e ouvidades está a cargo de uma tubro, a equipe do projeto Bicho equipe multidisciplinar, com Amigo Unidade Móvel II casparceria da Faculdade de Vete- trou 1.098 animais domésticos rinária, da Universidade Federal em bairros e vilas, em procesdo Rio Grande do Sul (UFRGS). so de remanejamento e transOs atendimentos acontecem nas ferência, como as vilas Dique vilas Chocolatão (primeira a ser e Nazaré.

A coordenadora Maria de Lourdes dos Santos Sprenger, da Coordenadoria Multidisciplinar de Políticas Públicas para Animais Domésticos, afirma que “o projeto vai ajudar a população reduzindo os nascimentos de animais indesejados”. Ela acredita que ao reduzir a população reduzem-se os maus-tratos, devido a casos de ataques e mordeduras.” E ainda através do Projeto Bicho Amigo estão programadas três mil esterilizações em clínica licitada e no Canil Municipal. Com o projeto, a Prefeitura irá gastar anualmente R$ 230 mil, diz Maria de Lourdes.

Experiência A comerciária Romilda Richter d’a Silva Ami, de 34 anos, tem uma cachorra chamada “Mel”, com quem passeia todos os dias, dá carinho, e leva para tomar banho. Ela comenta que realmente vale a pena mandar castrar o seu cão ou gato. “Sou totalmente a favor da castração, pois com ela os nossos pets não sofrem com o cio, têm muito menos probabilidades de obter algum tipo de câncer, gravidez psicológica, depressão etc”. Segundo ela, a castração é favorável tanto para o animal quanto para o seu dono que não vê seu bichinho sofrer com o cio.

A droga que desafia a medicina e a sociedade O pouco tempo de internação e a falta de um acompanhamento psicológico acabam prejudicando a recuperação ■■ Emmanuel Garcia

O

mundo está sempre em evolução e os traficantes não ficaram para trás. Criaram uma droga poderosa, capaz de viciar na primeira dose, formando um exército de viciados, que vendem seu corpo, roubam, matam tudo para satisfazer a abstinência. O crack é feito com a mistura de uma pasta à base da cocaína, adicionado de bicarbonato de sódio e água. A mistura é levada a 100ºc

e após a evaporação, obtem-se o produto final. Porém, é comum que traficantes adicionem outras substâncias como cal, cimento, querosene, ácido sulfúrico, com o intuito de aumentar o lucro visto que os produtos têm um valor menor que a pasta de coca. O problema enfrentado pela medicina é que a droga tem um poder muito grande: ataca o sistema nervoso de tal forma que deixa o usuário fora da realidade, com alucinações e mania de perseguição.

Segundo o médico Paulo Paim que atende usuários no Pronto Socorro Cruz Vermelha, com sede na avenida Independência, em Porto Alegre, são frequentes as queixas de familiares sobre a venda de todo o patrimônio da família pelos usuários. De acordo com Paim, outro caso que também desafia a medicina são os filhos de mães que usaram a droga na gestação. “Esses bebês sofrem uma abstinência muito forte ao nascer e possuem incontáveis

problemas, desde má formação de órgãos até a falta deles. Mas os casos mais graves são os que apresentam problemas cardíacos ou cerebrais”, explica. Paulo Paim também alerta que o tempo de internação em vagas contratadas pela prefeitura junto ao Sistema Único de Saúde (SUS), é muito curto e serve apenas para desintoxicar. Para o médico, o tempo máximo de internação é de 27 dias e neste período não se consegue efetuar o acompanhamento

psicológico do dependente, que é indispensável. Paim acredita que o dependente pode se livrar do vício, mas, na sua opinião, “isto só ocorrerá caso ele não venha utilizar quaisquer substância psicoativa novamente”. Particularmente, ele inclui o álcool como a porta de entrada para todas as outras drogas, e sempre aconselha que o dependente sempre vá aos grupos de autoajuda”, pois o isolamento às vezes o empurra para a drogadição.


Saúde 31

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Os homens também podem ser vítimas do câncer de mama

FOTO DE PUMAIRA CORONEL

Os tumores nas mamas não são uma triste exclusividade feminina, homens sofrem com isso e precisam fazer o autoexame ■■ Pumaira Coronel

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câncer mamário ocupa a segunda posição das doenças mais comuns no mundo. No Brasil, o Rio Grande do Sul está em segundo lugar no ranking de incidência da neoplasia, perdendo apenas para o Rio de Janeiro. Porém, não é uma doença que atinge apenas mulheres. Apesar de raros casos, o câncer de mama masculino existe e aflige um homem para cada mil mulheres. O relato da doença em homens é muito pouco conhecido, e corresponde a cerca de 1% de todos os casos de câncer de mama no país. Em razão da raridade, existem poucos estudos e publicações sobre o assunto, o que acaba causando um certo preconceito entre os homens

em relação à doença. Foi um desconforto atípico que levou o empresário Antônio da Rosa, 71 anos, ao médico. “Um dia passei mal do estômago e fui ao meu médico de confiança. Na consulta, ele me perguntou se nada mais me incomodava. Eu disse que tinha um carocinho no meu mamilo havia um bom tempo. Ele não doía, não incomodava, não coçava. Só sentia quando eu apalpava”, lembra. Após a retirada do nódulo para a biópsia, ele recebeu o diagnóstico: Câncer de Mama. O mastologista Cassio Fernando Paganini, residente do Hospital Santa Rita, do Complexo Hospitalar Santa Casa, explica que as manifestações dos tumores são as mesmas, tanto na mulher quanto no homem, e na maioria das vezes o tumor

se manifesta como nódulo. Assim como as mulheres, os homens devem fazer o exame de ➜➜ Médicos indicam autoexame como técnica de prevenção toque. Dificilmente a doença é diagnosticada precocemente, pois somente quando o paciente bão e perfume. Existem ainda mama), retirada dos gânglios da sente o nódulo, decide procurar evidencias em relação à expo- região axilar, além de sessões atendimento clínico. sição à gasolina e também em de quimioterapia e radioterapia. Em relação ao diagnósti- homens que trabalham em emDe acordo com especialistas, co, Cassio diz que “como no presas de fumo. a única forma de reverter esse homem a glândula mamária é “Assim como as mulheres, quadro é a prevenção. E, para apenas um resquício de tecido, muitos homens estão predispos- isso, a melhor ferramenta é o não é indicado o exame de ma- tos a ter câncer de mama devido autoexame. Segundo dados do mografia, apenas exames de aos fatores de risco normalmen- INCA, a identificação tardia do imagem, como ecografia e ul- te associados ao excesso de es- tumor nas mamas chega a redutrassonografia e o autoexame”. trógenos (hormônio feminino) zir em 50% as chances de cura Alguns estudos apontam que ou diminuição de andrógenos da doença. Diante de qualquer a maior frequência de casos de (hormônio masculino)”, explica alteração na mama é importante câncer de mama masculino es- o mastologista Cassio Paganini. consultar o seu médico de contá associada à atividade ocupaOs tratamentos oferecidos fiança ou um médico mastolocional como exposição a altas aos homens com câncer de ma- gista, já que em estágio precoce, temperaturas, como é o caso dos ma são os mesmos utilizados nas o câncer de mama, tanto em hotrabalhadores na indústria quí- mulheres e incluem: mastec- mens quanto em mulheres, tem mica voltada à produção de sa- tomia radical (retirada total da 90% de chances de cura.

Como encarar o câncer ■■ Victória Duarte

O

câncer é uma doença que choca e assusta os pacientes. A professora aposentada, Marisete Prates, 53, está em tratamento contra um carcinoma da mama esquerda, mais conhecido como câncer de mama. Ela revela que, no momento da descoberta, levou um susto e por isso não conseguiu aceitar, ficando muito abalada. Quando assimilou de fato a doença, pensou que iria morrer, principalmente pela falta de conhecimento sobre o câncer de mama. A partir

desse momento, decidiu buscar mais informações, além de recursos clínicos e espirituais. Para conseguir encarar as dificuldades da doença e o longo e, na maioria das vezes, sofrido tratamento, o doente necessita do maior apoio possível de familiares, amigos e fé nas crenças. Mariste conta que desde o início quis se curar, pois acredita que, se estava passando por isso, era capaz de suportar as dificuldades até a sua recuperação. “Afinal de contas, eu precisava viver, não só por mim, mas por todos aqueles que querem

Em pleno século XXI, infelizmente, a doença ainda gera grande impacto FOTO DE VICTÓRIA DUARTE

me ver bem e fazem sempre de tudo para isso ocorrer”. “Para o paciente é fundamental a aceitação da doença, pois só assim conseguirá de fato digerir tudo o que está acontecendo em sua vida, proporcionando a si a oportunidade de encarar de cara limpa a doença e colocando para fora seu amor próprio”, diz a psicóloga Laura Porto Alegre. A oncologista Helena Andrade explica que o acompanhamento psicológico é mais do que necessário, pois muitos pacientes não aguentam sozinhos, e isso acaba prejudicando o tratamento. ➜➜ Pacientes expõem sentimentos no “Mural dos Cataventos”


32 Esportes

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Respeito, gingado e ritmo são atributos do bom jogo de capoeira Para chegar à corda preta exige-se dedicação, tempo e vivência nas rodas de capoeira e projetos, o que pode levar, em média, 15 anos FOTOS DE JANE SILVEIRA

■■ Jane Silveira

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m jogo alegre e envolvente onde os participantes têm que saber tocar os instrumentos, acompanhar a música e jogar no ritmo com agilidade, destreza e respeito com seu adversário. É assim que é jogada a capoeira, uma arte que em 2008 foi reconhecida como patrimônio cultural pelo Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Para quem está em dúvida entre qual modalidade vai escolher entre: dançar, lutar ou tocar um instrumento, a capoeira é uma opção que reúne todas em ➜➜ Segundo praticantes, a capoeira proporciona disciplina e benefícios físicos uma só atividade, e ainda é cultura. Foi esse conjunto de benefícios que ajudou a estudante de mina a sua inclusão no currículo e da mente. Lucio explica que Sistemas de Informação, Ingrid escolar, segundo a lei nº 10.639. “dentro da roda tem que haver Louise Panizze Rodrigues, 20 Silveira define a capoeira co- respeito. Se fala muito na capoanos, que já pratica há dez me- mo luta, dança, esporte, cultu- eira o termo ‘marcar’, e para isso ses, na hora de optar entre uma ra e defesa. tem que ter limite, saber até aonatividade física. “Além dos beFormado em Educação Físi- de tu podes avançar e ter o connefícios físicos, a capoeira traz ca, professor de Capoeira e Jiu- trole do teu corpo”. E cita um disciplina e o conhecimento -jítsu, Roberto Ávila, 48 anos, ou exemplo: “se eu der uma ponda história da modalidade, que Mestre Tucano, como é conheci- teira na boca do meu adversário considero fascinante”, conta. do, pratica capoeira há 31 anos. sem finalizar, eu sei que podeEla diz que já nota benefícios Ele compartilha da mesma ideia ria ter acertado e ele não teve em seu corpo como a flexibili- de Silveira e acrescenta: “A defi- condições de defender-se, mas dade e a agilidade. nição padrão é tudo: dança, fol- eu tive domínio do meu pé que O presidente da capoeira em clore, luta, música, esporte, mas chegou lá perto e voltou. Porém, Encruzilhada do Sul e funcio- para mim é principalmente um quando se sai do jogo e partenário público, Pedro Lucio Sil- jogo de ataque e defesa”. Mes- -se para uma agressão é porque veira, 46, começou a praticar a tre Tucano começou a praticar faltou argumento”. modalidade há 7 anos. “A capo- a modalidade em busca da deeira auxilia os jovens que que- fesa pessoal e relata: “assisti toA evolução do rem fazer algum esporte e não do o crescimento da capoeira no aluno e o jogo têm condições. É barato, pois é Rio Grande do Sul”. Já inserida preciso apenas o espaço”, afir- em academias até fora do BraPara chegar ao nível de ma Silveira, para justificar por sil. Tucano conta que seu gru- mestre exigi-se tempo. Tucaque levou a capoeira ao muni- po tem integrantes trabalhando no lembra que o caminho é de cípio, em 2004. Ele conta que a na Espanha, Irlanda, Uruguai e dedicação, persistência, além capoeira foi o meio encontrado Argentina. deidentificação e vivência nas para chegar às escolas e divulPedro Lucio relata que o en- rodas de capoeira e projetos, o gar o projeto de conscientização sino da capoeira inclui a apli- que pode levar em média 15 negra do qual. Além disso, ela cação de todos os golpes, jogo anos. A graduação da capoeira também faz parte da educação, da capoeira dentro da roda, sem se dá através das cordas que o como está previsto no Estatuto nunca a acertar o adversário, aluno adquire durante o treinada Igualdade Racial que deter- mantendo domínio do corpo mento e que são amarradas na

cintura da roupa típica – o abadá. sica é apenas uma ponte para cheNo iníciom, o batizado - even- gar aos resultados, mas depende to em que os alunos trocam de do cuidado de cada um para percorda, acontece a cada ano de manecer com saúde”. Praticado treinamento, em média, mas o crianças, jovens e adultos o protempo tende a aumentar. Con- fessor ressalta que não há contra forme a graduação maior será o indicações e “qualquer pessoa potempo de treinamento. O grau de fazer capoeira. Se aprendeu a de aprendizado, indicado pelas andar já pode praticar”. cordas, deve-se ao interesse de Lucio aborda outro benefícada aluno, mas Silveira ressal- cio da capoeira: “quem faz cata: “não é somente a corda, mas poeira está numa roda de alegria. sim o conhecimento da cultura Enquanto as pessoas cantam e da capoeira que eu considero o aprendem a tocar instrumentos, mais importante”. praticam um esporte. É a única Tucano afirma que a capoeira atividade que consegue unir tudo é uma arte de muita coordenação isso e proporcionar um exercício motora. “Já treinei várias lutas, físico”. Um elemento importante mas a capoeira é a mais difícil, que ajuda a conduzir o ritmo do pois é a única que se ataca em mo- jogo de capoeira são as músicas vimento e ainda envolve música e tocadas e cantadas durante a roda. acrobacia”. Segundo o professor, Atualmente a maioria é contemé esse conjunto que faz o capo- porânea, mas antes suas origens eirista ter facilidade em qualquer eram da religião africana, samba esporte. Como em qualquer ati- de roda e colheitas. vidade, o cuidado com a alimentação é um fator que auxilia em Reconhecimento maiores resultados para quem e espaço procura saúde e resultados estéticos. “Não basta apenas praticar No Brasil a capoeira já foi uma atividade se não tiver uma considerada crime, e foi vista na dieta balanceada. A atividade fí- época da escravidão como uma


Esportes 33

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arma, pois era uma forma dos escravos se organizarem para fugas. Com o tempo a maneira agressiva como era vista a capoeira foi sendo modificada. “A capoeira já foi muito marginalizada e temos que reverter isso. Mostrar o que é a capoeira: cultura, dança, esporte e, por último uma luta, só quando tu tens que usá-la para se defender”, explica Silveira. Os dois nomes históricos que contribuíram para a evolução e reconhecimento da capoeira foram os mestres Bimba e Pastinha. A capoeira só passou a ser reconhecida quando o mestre Bimba começou a dar aula em academias. Foi ele quem

criou a capoeira regional, que é uma mistura de outras lutas que foram aperfeiçoadas dentro da capoeira. Já o mestre Pastinha se dedicou à capoeira de angola que tem um jogo baixo e mais lento, porém mais perigoso por ser esquivado e disfarçado. Esta modalidade era praticada pelos povos africanos. Roberto observa que a procura pela capoeira nas academias diminuiu, mas os projetos e escolinhas estão em alta. Nos anos 80, a capoeira era dada em academias, mas a academia está limitada ao público adulto. Para ele, atualmente, a prática é incentivada nas escolas e em projetos sociais.

As cores e seus significados As cores das cordas usadas junto ao abadá indicam qual o nivel de graduação de cada aluno: Crua (branco): corda do primeiro batizado Amarelo: aluno iniciante Laranja: aluno intermediário Azul: monitor Verde: graduado Roxo: instrutor Vinho: professor Marrom: mestrando Preto: mestre Quando são usadas duas cordas, significam os niveis intermediários entre as cordas.

Skate: esporte, radicalismo e saúde

FOTO DE ARQUIVO PESSOAL

Com origem nos EUA, o esporte é praticado por jovens que buscam a adrenalina do esporte radical e saúde ■■ Gabrielle Marques

“O

Skate é uma aventura. E a cada dia aprendo uma manobra diferente”, diz Gilson Gomes, 15 anos, que pratica o esporte há dois. A definição de Gilson resume o que é o skate para muitos: um esporte radical. A prática do esporte surgiu na década de 60, na Califórnia, com surfistas que queriam um divertimento nas ruas, nas épocas de secas ou de maré baixa. Em 1965, começaram os primeiros campeonatos, mas o esporte só foi reconhecido uma década depois. O Circuito Brasileiro de Skate profissional foi inaugurado em 1989, na categoria street style. Hoje, a disputa conta com provas passando por estados como São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Brasília, realizadas pela Confederação Brasileira de Skate (CBSK), fundada

em Curitiba em 1999. A entidade regulamenta as normas e políticas voltadas ao desenvolvimento do skate no território Brasileiro. Em 2000, é fundada em São Paulo a Associação Brasileira de Skate Feminino, por mulheres skatistas, e seu primeiro cir- ➜➜ A modalidade mais conhecida é o skate de rua cuito ocorreu em 2005. Hoje a associação é filiada a CBSK. “Eu acredito que haja ainda um slip tape. A modalidade mais Saúde certo preconceito contra as mu- conhecida é o Street ou Skate lheres que praticam o esporte. de rua, em que os praticantes O sk ate é u m e xc e le n Mas elas são realmente boas, usam a arquitetura da cidade, te exercício aeróbico e ajuda mais focadas que nós homens. por exemplo, bancos, escadas, a tonificar alguns músculos, Acho muito atraente uma mu- corrimãos e calçamento. O principalmente a panturrilha. lher skatista”, diz Luciano Gam- freestyle é uma modalidade on- Mas a maioria do pessoal que bieri, 27, skatista há 7 anos. de o skatista apresenta várias anda de skate gosta do esporEm 2008 e 2009, a Me- manobras em sequência, geral- te simplesmente pelo prazer. ga Rampa chega ao Brasil, mente no chão. No Downhill Essa é uma grande vantagem, no Sambódromo do Anhembi. Slide, o skatista desce uma la- pois a pessoa vai praticar um deira fazendo manobras em al- esporte e cuidar da saúde, sem ta velocidade. As mini-rampas esperar um resultado em troModalidades também são muito utilizadas ca. “Não gosto de academias, O skate é formado por oi- por adeptos do esporte, são po- natação, essas coisas convento partes que são: shape, mesa, pulares em todo o mundo, pois cionais que as pessoas usam amortecedores, rodas, rola- devido a pouca  altura as mano- pra fazer exercícios. O skate é mentos, parafusos, lixas e a bras são executadas com maior a atividade que encontrei para parte opcional, elevador ou facilidade. acabar com meu sedentarismo.

Sem contar que fiz muitos amigos através do esporte”, afirma Luciano. A proteção para quem anda de skate é fundamental. Protetor para os joelhos, cotovelos e capacete são muito importantes. “Já caí muito, quebrei o braço esquerdo ano passado. Mas não deixo de tentar manobras diferentes e arriscadas. Estando com o equipamento de proteção o risco é quase nulo”, conta Juliano Ramos, 23, que pratica o esporte há 13 anos. Em Porto Alegre as pistas mais frequentadas são do Parque Marinha do Brasil e do bairro IAPI.


34 Rural

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Emater apoia comunidades rurais As atividades da Emater estão focadas na extensão rural e em assistência técnica e social FOTO: DIVULGAÇÃO - EMATER/RS

■■ Bruno Marona

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futuro da agricultura familiar no Rio Grande do Sul está em boas mãos. Ao reafirmar seu comprometimento como executora dos programas do governo do Estado, a Associação Rio-Grandense de Empreendimentos de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), apoia o produtor, salientando a importância da extensão rural como alicerce no desenvolvimento das comunidades do campo. Para executar suas atividades, a Emater desenvolve parcerias com outras instituições e prefeituras definindo as carências e necessidades em 492 municípios do RS. “Nossa prioridade é com os mais pobres: negros, índios, pescadores, quilombolas e etc. Participando do desenvolvimento social e econômico das comunidades, conquistamos credibilidade e ampliamos a demanda de trabalho, o que é satisfatório”, explica o médico veterinário da Emater, Fábio Martins Costa. Desde 2010, o serviço de Assistência Técnica e Extensão Rural – ATER, no Rio Grande do Sul, segue aumentando seu ➜➜ Com auxílio da Emater, produtores colocam os produtos à venda em feiras raio de ação. As Frentes Programáticas, criadas em 2008, participar de ganharam solidez e deram um social, evolui novo norte às atividades da ex- d e s d e 1 9 5 5 , feiras e expan“Quando ingressei na empresa em 1981, tensão rural e de assistência com est udos dir minha proutilizávamos um Fusca e uma Moto TT dução”, explica técnica e social. “O reconheci- s o b r e t é c n i a agricultora. mento e a valorização ao traba- cas de plantio, 125cc, para atender a 180 famílias rurais de Já Rosalho realizado, em muitos casos, m a n ejo a d e oito comunidades, promovendo reuniões ne de Marco, proporciona melhorias na edu- quado com a técnicas e dias de campo. Os agricultores também com cação e na saúde das famílias h o r t a , c o m rurais, oferecendo momentos pra e ve nd a desconheciam o que era análise de solo” propriedade culturais, ampliando as redes de alimentos, e m V i a m ã o, de energia elétrica e, até mes- participação das agroindús- Antônio da Patrulha, Flademir se inclui no programa “Rio mo, acelerando a abertura de es- trias, legislação, tributos e etc. Heleno Schimidt. Grande Para Todos”. “Estou há tradas. As pessoas se dedicaram “Quando ingressei na empresa, Desde 2010, a produtora Nel- cinco anos trabalhando com e se empenharam em fazer com em 1981, utilizávamos um Fus- ci Grando, 51 anos, moradora hortifrutigranjeiros e faço parque a agricultura familiar e o ca e uma Moto TT 125cc, para de Viamão, recebe auxílio da te do Organismo Participativo Estado se desenvolvessem, ex- atender a 180 famílias rurais de Emater, através do programa de Avaliação (Opac), que conplica Lino De David, presidente oito comunidades, promoven- Rio Grande Mulher. “Ainda grega agricultores beneficiários do reuniões técnicas e dias de estou no início, trabalho com do selo de produção orgânica, da Emater/RS. A dedicação ao trabalho de campo. Os agricultores desco- ovos orgânicos, fruticultura e expedido pelo Ministério da engenheiros agrônomos, en- nheciam o que era análise de tenho um pomar doméstico. Es- Agricultura, Pecuária e Abasgenheiros agrícolas, veteriná- solo”, avalia o extensionista da tou certificando meus produtos tecimento (Mapa), o qual perrios e assistentes de bem-estar Emater/RS, morador de Santo a pedido da Emater para poder mite a comercialização em todo

território nacional”. A agricultora avalia o auxilio da Emater como essencial, nas explicações sobre melhor ensolação, junção de plantas companheiras e melhor aproveitamento do sistema ecológico de sua propriedade. O fato de o agricultor saber que tem um apoio de técnicos especializados acaba criando confiança e credita a Emater como a única parceira presente no dia a dia do homem do campo. “Mesmo com crises financeiras que já aconteceram, a Emater foi vista como uma instituição confiável, firmando parcerias e criando uma imagem de seriedade em suas ações de apoio ao agricultor familiar gaúcho”, avalia o veterinário, Fábio Martins Costa.


PORTO ALEGRE, DEZEMBRO DE 2011 Jornal do curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodista do IPA

Rural 35

Pescaria que ainda resiste O desafio da pescaria artesanal para sobreviver diante da veloz industrialização reduz o interesse das novas gerações pela pesca FOTO DE GUILHERME NETO

■■ Guilherme Neto

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pescaria artesanal é uma atividade diretamente ligada às comunidades do litoral e também àquelas localizadas à beira de rios e lagos. A pesca vem há muito tempo passando por gerações. Com o passar das décadas, foi se aperfeiçoando com o uso de grandes navios pesqueiros que carregam toneladas de peixes. Porém, a pesca artesanal, promovida nas comunidades onde a maioria dos habitantes ribeirinhos ainda vive do ofício, herança deixada por pais e ➜➜ É possível ver a situação da pesca pelo baixo movimento no transporte de peixes pelas embarcações avós pescadores, resiste, sustentada por histórias de pescadores. para largar as redes eu fica- se acampava em uma ilha que pescadores artesanais o benefíva tecendo e reparando outras, dava uma hora e meia de onde cio-desemprego, no valor de um Bons tempos além de me dedicar ao Marcelo. era entregue o peixe. Por isso, ti- salário mínimo mensal, durante Luis Rosa, 73, pescador des- Quando via o dia já tinha passa- nhamos que sair cedo. Às vezes, o período de defeso de atividade pesqueira para a preservação da de guri, sempre morou em Itapuã do e já estava esperando o Luis nem almoçava”, diz Nei. espécie. No Rio Grande do Sul, o e dedicou toda a vida à pesca ar- chegar para jantar”, conta Bia. Nei, de toda forma, gostava período de defeso chega até cintesanal. “O que temos hoje são O declínio co meses para algumas espécies. as boas lembranças da época de da vida na Praia do Sítio. “PesLuis, no entanto, reconhece “Parece que os peixes resolfartura”, comenta Luis. O que lhe car para mim era bom, porque deixa feliz é recordar os bons me criei nisso daí (na pescaria). que nas últimas décadas a pesca veram ir embora, não querem momentos que passou junto à Pra gente é normal. É o mesmo artesanal vem sofrendo grande mais ser pegos por nós”, brinmulher Maria Beatriz no início que trabalhar com terra ou numa declínio. Ele relata que vários ca Luis, que conta ter desistido da duradoura relação de mais de fazenda, qualquer coisa. É que companheiros de profissão, as- de desenvolver a atividade que 50 anos. Luis perdeu o pai muito você nasceu naquele ramo. Tan- sim como ele, decidiram por se mais gostou na vida por falta cedo e, com a ajuda dos tios, foi to faz você almoçar como não, aposentar ao invés de rumar pa- de peixes. Nei diz que não sapegando os macetes da pescaria. dormir como não, dá no mesmo”. ra o rio todos os dias de manhã be como os poucos pescadores Com o passar dos anos, e atrás dos peixes. Luis acrescen- que restaram no vilarejo conseCom 12 anos já trabalhava praticamente sozinho e aos 17 tinha com a morte do pai, Nei tomou ta: “Está muito difícil hoje em guiram manter suas “chalupas” frente nas redes e tocou a vi- dia. Você sai com a expectativa na água. “Vejo que a chegada sua própria embarcação. Filho de pescador e borda- da como pescador. Foram anos de conseguir uma boa pescaria da tecnologia e a grande devasdeira, Nei também lembra que de muito trabalho, dedicação e e acaba se frustrando. Decidi tação ambiental contribuíram a vida não era fácil naquele tem- rotina dura. Nei conta que nor- me aposentar, pois não estava muito para a redução da ativipo. Não se tinha água nem luz. malmente acordavam às 4h, e mais conseguindo colocar co- dade, pelos menos aqui no Rio O pai, como patrono da família, saíam por volta das 6h. “Não mida na mesa somente com a Grande do Sul”. determinava as tarefas de cada tinha gelo, tinha que ir cedo”, pesca. Teve épocas que a genum de forma a não perderem relembra, explicando (o traba- te passava muito trabalho”. Se- Crimes ambientais tempo nas atividades. E se so- lho era feito pela manhã devido gundo o Ministérios da Pesca, Em outubro de 2006, por brasse um tempinho, seu Iná- à temperatura). As redes eram a pescaria industrial já ocupa exemplo, no Rio dos Sinos em cio dava um jeito de ocupar-lhe. largadas, recolhidas para que 40% do mercado nacional. Nei acredita que a pesca ar- Estância Velha, ocorreu um dos Maria Beatriz e Luis ca- o peixe fosse retirado e, depois saram-se cedo. Luis tinha a largadas novamente, sendo que tesanal está acabando devido à mais graves desastres ambienresponsabilidade de manter a a partir daí era preciso voltar, falta de experiência desta ge- tais da história do Estado. Este família desde os 18 anos, dois descarregar e pesar a primeira ração. “Muitos dos que estão acidente resultou em um crime antes de ter o primeiro filho, o pesca para depois voltar nova- pescando atualmente, pescam ambiental que provocou a morte menino Marcelo. “A vida era mente e recolher o restante das por necessidade e pelo seguro- de mais de um milhão de peidura. Não tinha muito tempo redes. “Às vezes tinha que levar -desemprego. Não tem mais co- xes ao longo do arroio e do rio atingindo também pescadores para me preocupar com o Luis. (o peixe) longe, não tinha pei- mo viver só da pesca”. A Lei nº10.779 de 2003 de outras regiões. ConsideraAcordávamos juntos por volta xaria pertinho. Quando se pesdas 4h30. E enquanto ele saía cava em Palmares, por exemplo, institui que seja destinado a do como a maior tragédia am-

biental dos últimos 40 anos no Rio Grande do Sul, provocou a indignação e uma forte mobilização dos municípios da Bacia, o que resultou na iniciativa de criação do Consórcio Pró-Sinos voltado à recuperação ambiental da Bacia do Rio dos Sinos. A Fepam (Fundação de Proteção Ambiental do RS) divulgou nota contabilizando a morte de 85 toneladas de peixes causada pelo despejo excessivo de esgoto doméstico e industrial sem o tratamento adequado. A análise da água do rio identificou a presença de mercúrio e cromo. Seis empresas da região foram multadas num total de R$ 1 milhão. Na ocasião foi decretada situação de emergência em 24 municípios que compõem as bacias hidrográficas dos rios dos Sinos e Gravataí. Fundado em 16 de agosto de 2006, o Consórico Pró-Sinos desenvolve projetos, capta recursos e pode executar obras, serviços e estudos relacionados ao saneamento básico e ambiental na região de sua abrangência. Um exemplo disso é o Programa de Educação Ambiental do Pró-Sinos, que existe desde a criação do Consórcio. Outro exemplo é a Usina de Reciclagem de Resíduos da Construção Civil, que está sendo implantada em São Leopoldo para atender a região.


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PORTO ALEGRE, DEZEMBRO DE 2011 Jornal do curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodista do IPA

Melhores previsões para o tempo Avanços na meteorologia ampliam a confiança da população nas informações divulgadas na imprensa FOTOS DE MARIA MERCEDES BENDATI

■■ Maria Mercedes Bendati

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e prever o futuro é um exercício de adivinhação, não se pode dizer o mesmo da previsão do tempo. Os meteorologistas são profissionais que garantem, nos dias de hoje, que as previsões de sol ou de chuva tenham cada vez mais um grau elevado de acerto. Saber se vai ter chuva ou sol, se haverá seca ou inundação, necessita de uma base de dados coletados ao longo de muitos anos. A estação meteorológica mantida pelo Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) em Porto Alegre, por exemplo, iniciou o registro de dados em 1909. Solismar Prestes, coordenador do 8º Distrito do INMET (que engloba os estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul), explica que o trabalho da instituição “envolve tudo que é relacionado à meteorologia, desde a instalação de estações meteorológicas, a sua manutenção, a coleta e a formação de banco de dados, e a previsão de tempo e de clima.”

Avanços tecnológicos A confiabilidade da previsão do tempo aumentou nas últimas décadas, em função de melhorias tecnológicas nos instrumentos e também graças à informática. A doutora em Meteorologia, Nísia Krusche, da Fundação Universidade de Rio Grande, ressalta que “a meteorologia atual começa com os satélites e os computadores de grande capacidade, nos anos 70.” O desenvolvimento de modelos matemáticos atmosféricos permitiu a avaliação temporal de um grande números de dados, o que só foi possível com a evolução paralela dos computadores e da sua capacidade de processamento desses dados. Há 20 anos, a previsão do tempo tinha muitas limitações. Como lembra Solismar Prestes:

teorologista. Elton Werb, jornalista do jornal Zero Hora, cita as diversas matérias sobre o tempo já produzidas, sejam eventos climáticos fora do normal, sejam as previsões diárias do tempo. “No site estamos sempre atualizando e vendo o que o pessoal pergunta. No jornal on-line tem um link, em que você vê o tempo em treze cidades do estado, vê a previsão para cinco dias, enfim se vai ter chuva, se vai fazer sol”, explica. Para atender a essa demanda crescente, o jornal Zero Hora lançou uma nova editoria, responsável por acompanhar a previsão do tempo e a repercussão de eventos extremos, como temporais ou uma queda de granizo. Como destaca Elton Werb, editor ➜➜ Na Estação Meteorológica do 8º Distrito de Meteorologia do INMET, em Porto Alegre, Solismar Prestes destaca a importância dos equipamentos utilizados para manter o registro dos dados desde 1909 responsável: “o fato de estarmos criando essa editoria em Zero Hora e ter alguém para tratar do as“Quando comecei a trabalhar, em gação dos dados meteorológicos Hoje, no Brasil, o INMET opera sunto reflete a importância que o 1986, o meteorologista tinha que na imprensa cresceu junto com cerca de 500 estações, muitas de- tema tem para nós”. Em um esler a carta sinótica (um mapa o desenvolvimento tecnológico las totalmente automáticas, onde tado como o Rio Grande do Sul, com os dados meteorológicos), da área. A previsão do tempo, cinco minutos depois da leitura que está sujeito a chuva, vendaval interpretar e fazer os cálculos graças aos satélites e aos com- a informação já está disponível, granizo, temporal, geada e neblimanualmente para a previsão putadores mais potentes, pode para o mundo todo, na página na, acompanhar os boletins metedas próximas 24 horas. Depois, ser ampliada para até cinco dias, da Internet (www.inmet.gov.br). orológicos torna-se fundamental. enviava os dados por telex pa- com um nível de confiabilidaNa televisão, no rádio, jorra Brasília. O boletim da previ- de de 80%, o que é considerado nais ou nos sites, a busca pela Sol ou chuva? são do tempo era datilografado, bom. A disseminação de esta- informação do tempo aumentou e vinham os carros do Correio ções de coleta de dados – como com a confiança da população As previsões do tempo fazem do Povo, Zero Hora, buscar no temperatura do ar, velocidade nos prognósticos. Para traduzir parte do cotidiano das pessoas. final da tarde o texto para os ve- e direção de ventos, umidade e as informações técnicas, o jor- Não por acaso, em um programa ículos de comunicação.” precipitação – foi ampliada em nalista precisa estar preparado e da TVCOM, com o meteoroloO espaço destinado à divul- termos de cobertura geográfica. contar com a assessoria do me- gista Cléo Kuhn, chegam diariamente cerca de 50 perguntas dos leitores de Zero Hora, para pouco mais de dez minutos de duração. E o que surgem são perguntas assim: “tenho o casamento de minha filha no sábado e vou fazer ao ar livre, será que vai chover?”. Ou ainda, “Vai ter granizo na região sul do estado?” Pois saber se vale a pena ir a Torres ou Santa Catarina, ou mesmo ficar em Porto Alegre porque vai chover o fim de semana inteiro, são exemplos práticos da inserção da meteorologia e da previsão do tempo na vida de muitas pessoas. Aliás, já viu a previsão do tempo ➜➜ Equipamentos para medições da intensidade luminosa e evaporação complementam as medidas de temperatura, ventos e precipitação pluviométrica nas estações meteorológicas para amanhã?


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