Jornal tabloide Universo IPA #6

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Curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodista do IPA | http://universoipa.metodistadosul.edu.br

Ano 6 | Edição 6 | Dezembro de 2012 | Versão TABLOIDE

A realidade e as projeções do aeroporto Salgado Filho para 2014

Foto: Leonardo Souza

Ponto de partida e chegada de milhares de pessoas, o aeroporto internacional Salgado Filho de Porto Alegre passa por obras e melhorias. Faltando pouco menos de dois anos para a Copa do Mundo de 2014, as obras no aeroporto têm etapas concluídas e outras em andamento.

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Cais do Porto e os impactos ambientais

Foto: Jéssica Teles

página 9 Foto: Marcelo noms

A morte da Cidade Baixa?

As obras de revitalização do Cais do Porto têm o objetivo de transformar uma parte esquecida e danificada do Centro Histórico Cultural de Porto Alegre em um conjunto de lazer e um novo ponto de encontro dos gaúchos.

Você combina uma cervejinha com os amigos, se arruma todo e sai pra balada. De repente chega na entrada do barzinho em que se encontraria com o pessoal e dá de cara com a porta. É o que vem ocorrendo, depois das duas horas da manhã, nos bares do bairro Cidade Baixa.

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O Código Penal brasileiro já tem mais de 70 anos. Foi decretado em 1940. Com a mudança de cultura, de hábitos e a modernização da sociedade – em diversos aspectos, urge também a alteração do Código. O decreto foi revisado e a proposta deve ser votada ainda em 2012 pelo Congresso Nacional.

Da fotografia analógica para a digital

Da síndrome ao bem-estar

A década de noventa marca o início de um novo momento na história da fotografia. Em 1990, foi lançada a primeira máquina digital disponível comercialmente.

Sem motivo aparente, você sente medo de que algo de ruim aconteça? Têm medo de perder o controle sobre si? Esses sintomas podem ser sinais da Síndrome do Pânico.

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Aborto é direito ou crime?


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Opinião

Nós e o Brasil ■■ Texto coletivo O ano de 2012 foi marcado por diversos acontecimentos políticos. Foram julgamentos sem fim, condenações inesperadas, eleições municipais e discursos inflamados em torno da privatização de espaços públicos, mascarados atrás de um simples mascote. Houve o surgimento de um novo herói nacional, que atende pelo nome Joaquim Barbosa e que, ao condenar políticos considerados imunes, foi muito além das expectativas que qualquer brasileiro alimentava, em um país rotulado de corrupto. São fatos relevantes e que, com certeza, entram para a nossa história. São as experiências de um povo que vive hoje a consciência de que só chegará a ser o tão sonhado ‘primeiro mundo’ quando se livrar destes inconvenientes culturais. E é nessa realidade que nós, acadêmicos de jornalismo, preparamos esta edição do Jornal Universo IPA. O jornal aqui apresentado aos leitores é o resultado de um trabalho longo, de produção. Não é fácil para os estudantes prepararem uma reportagem que fará parte de um jornal, afinal de contas esses materiais são os primeiros registros de uma carreira que se inicia. Esta edição, produzida inteiramente por estudantes de jornalismo, retrata através das mais variadas editorias assuntos de interesse coletivo. Abordamos desde temas regionais como o acampamento farroupilha na Copa do Mundo 2014, os impactos ambientais que a reestruturação do Cais do Porto pode gerar, as obras no aeroporto Salgado Filho e as restrições definidas pela prefeitura para funcionamento de bares no bairro Cidade Baixa. Passamos pela cultura, através da arte de rua, comum a todos os centros urbanos. Tratamos também de temas polêmicos como a legalização do aborto e assuntos delicados como a síndrome do pânico e a inclusão de pessoas com deficiência. Não deixamos de tocar em assuntos que estão em voga, como educação ambiental, tecnologia, fotografia digital, intercâmbio e a incrível relação entre a realidade e ficção produzida pelas novelas. Fatos políticos como o aniversário de 18 anos do plano Real e a visão da política pelos olhos dos populistas também são contemplados. E como todo jornal que se presa o esporte não poderia ficar de fora, contudo, o enfoque saiu dos campos e entrou na área da psicologia. Após a conclusão do jornal tivemos em comum a certeza que sim é possível, no campo acadêmico, realizar um jornal de qualidade e diversificado, produzidos totalmente por alunos de jornalismo. Esperamos que a leitura desta edição seja um prazerosa. E terminamos mais um semestre com a sensação de missão cumprida!

IPA - Instituto Porto Alegre da Igreja Metodista conselho superior de administração - consad

Presidente: Paulo Roberto Lima Bruhn Vice-presidente: Carlos Alberto Ribeiro Simões Junior Secretário: Nelson Custódio Fer Conselheiros: Henrique de Mesquita Barbosa Corrêa, Osvaldo Elias de Almeida, Maria Flávia Kovalski, Augusto Campos de Rezende e Eric de Oliveira Santos Conselheiros suplentes: Jairo Werner Junior e Ronald da Silva Lima

reitor:

Roberto Pontes da Fonseca

Jornal elaborado por estudantes do 2º semestre do curso de Jornalismo IPA coordenação do curso de jornalismo

Mariceia Benetti professores(as)

Lisete Ghiggi, Michele Limeira e Renata Stoduto. projeto experimental ii e produção e planejamento editorial e gráfico ii editora-chefe: Michele Limeira ajor - agência experimental de jornalismo

• arte-final e diagramação: Carlos Tiburski • revisão: Lisete Ghiggi e Michele Limeira endereço ajor: Rua Joaquim Pedro Salgado, 80, Rio Branco - Porto Alegre/RS CEP: 90420-060 • contato: 51 3316.1269 e ajor@metodistadosul.edu.br impressão: Zero Hora (1.000 exemplares)

Porto Alegre, dezembro de 2012 Jornal do curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodista do IPA

Toda hora é hora do rush

■■ Renato Araújo ■■ Fernanda Cadore

N

ão importa o horário que tenhas que te locomover pela cidade, o trânsito de Porto Alegre chegou a um estado caótico. Há poucos anos isso ocorria apenas na tal hora do rush, hoje o engarrafamento é em qualquer momento. Porto Alegre está rumando para ser uma São Paulo no quesito trânsito. A enxurrada de incentivos para compra de carro teve consequências terríveis para o trânsito de nossa cidade. Quem não

tinha condições de comprar um carro agora tem um, e quem já tinha tem dois. Daqui a algum tempo será impossível de transitar sem ficar horas em um trânsito estressante. Obras para solucionar este problema não são apresentadas, por mais que o trânsito perturbe a todos que moram aqui. Em ano de eleição só se ouviu as mesmas promessas de sempre, mas nada de prático para amenizar a situação do tráfego. Se continuarmos nesse ritmo a cidade irá parar. Seja na Ipiranga, na Borges ou na Oswaldo, os engarrafamentos não perdoam

nenhuma via de grande circulação. Há dez anos era possível fazer o trajeto do Menino Deus até a Tristeza, na zona sul, em pouco mais de quinze minutos. Seja aeromóvel, ferry boat, ou corredor de ônibus em via expressa, algo tem que ser feito para que Porto Alegre não se torne insuportável. Além de aturar uma rotina cansativa de trabalho, temos que suportar horas em um engarrafamento, sabendo que era possível percorrer esse mesmo trecho em menos da metade do tempo que se ocupa hoje. É triste, qual será o destino de nossa cidade?

Reciclem nossos árbitros, por um futebol melhor ■■ Giovani Gafforelli ■■ Luciana Teló Piccoli ■■ Fredo Tarasuk

É

impressionante que no país do futebol, em vésperas de Copa do Mundo, a arbitragem brasileira seja tão desqualificada. Não nos parece que a preocupação da CBF com os juízes seja muito grande, afinal, o próprio presidente da instituição máxima do futebol brasileiro, José Maria Marin, já foi flagrado pelas câmeras do canal ESPN roubando uma medalha da Copa São Paulo de Futebol Júnior. Todos os anos ocorrem erros que acabam sendo determinantes no rumo dos campeonatos. No Campeonato Brasileiro 2012 não está sendo diferente. Entre os times favorecidos encontram-se Santos, Internacional e Flamengo. Entre os prejudicados estão times

como Vasco, Atlético MG e Palmeiras. Na 28ª rodada do Campeonato Brasileiro os erros foram grosseiros, prejudicando os times da Ponte Preta, do Sport e do Grêmio. Os dois árbitros dos jogos Atlético MG x Sport e Fluminense x Ponte Preta, Flávio Guerra e Nielson Nogueira Dias, respectivamente, foram afastados do quadro de árbitros da CBF e deverão passar por processo de reciclagem devendo retornar somente após estarem aptos novamente. Em 2005 foi descoberto um esquema de manipulação de resultados que teve como grande favorecido o time do Corinthians. O responsável pela “lavança” foi o então árbitro Edílson Pereira de Carvalho que prejudicou o resultado de onze jogos dando o título ao time paulista. Por mais que os erros já ve-

nham de um longo período o futebol brasileiro ainda necessita de uma reformulação política para que os times não sejam prejudicados por decisões que fiquem fora das quatro linhas. Já não basta a corrupção do congresso ainda temos de conviver com a “roubalheira” na nossa maior paixão. A solução? Talvez a profissiona lização da a rbit ragem com a criação de órgão para regulamentar a profissão, qualificando sempre estes profissionais; alteração no calendário, como, por exemplo, quando houver jogos da Seleção do Brasil não devem ocorrer jogos no campeonato. Essas são medidas que se forem criadas podem ser a solução para que o Campeonato Brasileiro seja mais parelho. Aí sim, poderemos ter a arbitragem que o nosso futebol pentacampeão mundial merece.


Porto Alegre, dezembro de 2012 Jornal do curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodista do IPA

Geral

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A realidade e as projeções do aeroporto Salgado Filho para 2014 Aeroporto de Porto Alegre passa por mudanças, entre elas o aumento da pista e da capacidade e a implantação do novo sistema anti-neblina Foto: Leonardo Souza

■■ Renan Agostini ■■ Leonardo Souza

P

onto de partida e chegada de milhares de pessoas, o aeroporto internacional Salgado Filho de Porto Alegre passa por obras e melhorias. Faltando pouco menos de dois anos para a Copa do Mundo de 2014, as obras no aeroporto têm etapas concluídas e outras em andamento. Para dar conta das demandas do mundial, o aeroporto terá que aumentar a pista de pouso e decolagem (PPD); implementar um novo sistema anti-neblina e reformar os terminais de passageiros e de cargas. Atingir essas metas é o desafio da Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero). Na avaliação da Infraero, o andamento das obras é satisfatório. A administração da empresa garante que os passageiros não sofrerão nenhum tipo de transtorno, pois as obras serão realizadas à noite, turno de menor frequência de pessoas. As obras no aeroporto dos gaúchos já estão 26% concluídas, incluindo a elaboração de projetos, licitações e as obras propriamente ditas, conforme informa a Infraero. Os projetos incluem um novo terminal

de cargas e as ampliações da pista de pouso e decolagem, do pátio para aeronaves e do terminal de passageiros, além do sistema anti-neblina. De acordo com a empresa, o governo federal irá desembolsar aproximadamente R$ 717 milhões. Os valores fazem parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) da Copa no Brasil. O terminal de cargas terá uma ampliação significativa. O espaço físico do pátio do novo Terminal de Carga Aérea (TECA) comportará até quatro Boeing 747 ao mesmo tempo. O investimento será em torno de R$ 100 milhões. A pista de pousos também será ampliada. Hoje o aeroporto tem uma pista de pousos e decolagens de 2.280 metros e aumentará para 3.200 ➜➜ Mesmo com reformas, o aeroporto Salgado Filho segue funcionando normalmente metros, 920 metros mais, segundo dados da Infraero. A nova pista vai permitir o pouso e a Filho tem o movimento mé- 43% e chegue a 17,2 milhões e a esses é dada prioridade de decolagem de aviões de grande dio diário de 174 aeronaves de em 2014. passarem à frente. Com isso, os porte, tanto para transporte de vôos regulares, ligando Porto Sobre a demanda de vôos voos sairão no horário e a infrapassageiros como para cargas. Alegre direta ou indiretamen- que o aeroporto receberá du- estrutura será capaz de suprir a Segundo a Infraero, a pista é in- te a todas as capitais do País, rante o Mundial, o funcionário demanda”, projeta. dispensável para a instalação do às cidades do interior dos es- da Infraero, André Luís OliveiSegundo André Oliveira, equipamento anti-neblina. tados do Sul e São Paulo, além ra, 39, afirma que no embarque além das obras que já estão em de linhas internacionais com ocorrerá a priorização dos vôos andamento, o aeroporto necesvôos diretos aos países do Co- que já estão em processo de fe- sitará aumentar os funcionários Capacidade do ne Sul. A capacidade do ae- chamento, ou seja, na hora do da empresa, seja da Infraero ou aeroporto irá roporto hoje é de 12 milhões embarque. “Devido à grande terceirizados, pois haverá maior aumentar passageiros/ano. A projeção movimentação, há uma chama- movimentação de passageiros e, Hoje, conforme dados da da Infraero é de que com as re- da de passageiros desses voos é inevitável, um maior número Infraero, o aeroporto Salgado formas a capacidade aumente que estão em fase de conclusão de colaboradores.

O novo sistema anti-neblina Devido aos diversos problemas com atrasos e cancelamentos de vôos em razão da neblina em Porto Alegre, a Infraero decidiu investir em um sistema anti-neblina, chamado ILS (sistema de pouso por instrumentos, na sigla em inglês) de categoria 2, composto por vários equipamentos. Os elementos necessários para se ter condições de funcionamento são o sistema de luzes de aproximação na pista; as luzes da linha central da pista e o alargamento do acostamento. Após instalado, o sistema vai melhorar a iluminação da pista e permitir a sincronização entre a aeronave e o solo, facilitando a aproximação e aterrissagem em dias de neblina. As obras começaram em agosto de 2010 e a expectativa de conclusão é novembro de 2013. A Infraero está confiante que com o novo sistema anti-neblina o maior problema atual do aeroporto seja sanado. O empresário financeiro, Giovanni Cataldi, 35 anos, que viaja freqüentemente a negócios, reforça que o grande problema do aeroporto são as condições de pouso e decolagem. “No quesito atendimento, praça de alimentação e estrutura em geral, está tudo bem, o que mais dificulta são as condições climáticas de Porto Alegre, que atrapalham muito os voos, mas diante deste novo sistema os problemas serão menos frequentes”, projeta.


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Geral

Porto Alegre, dezembro de 2012 Jornal do curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodista do IPA

A chama que aquecerá 2014 O Acampamento Farroupilha Extraordinário irá expor a cultura gaúcha aos turistas durante a Copa de 2014 Fotos: Luiz Antunes

■■ Giovani Gafforelli ■■ Luiz Antunes

for sede de jogos. O enfoque é voltado para que o turista possa conhecer a diversidade cultural m 2014, não vai haver do Estado. O assessor da Secretaria da somente Copa do Mundo em Porto Alegre. Em Cultura de Porto Alegre, Geraljulho, ocorrerá o início do Angeloni, informa que ainda do Acampamento Farroupilha não estão previstos custos para Extraordinário, no Parque da o futuro evento. Uma referênHarmonia, de Porto Alegre. A cia é o atual Acampamento Fariniciativa já é lei municipal e roupilha, realizado anualmente, tem por objetivo expor a cultu- e que custa em torno de R$ 2 ra tradicionalista do Rio Gran- milhões. As atrações do acamde do Sul ao turista que vier pamento devem ser definidas, à cidade durante a Copa do segundo a Secretaria Municipal de Cultura, a partir dos melhoMundo. As secretarias de Cultura e res projetos culturais apresenTurismo de Porto Alegre, em tados pelos piquetes. Os responsáveis por centros conjunto com o Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG), or- de tradições gaúchas (CTGs) e ➜➜ Tradicional “costelão” é atração no acampamento do parque Maurício Sirotski Sobrinho ganizarão em julho de 2014 o piquetes comemoram a novidaAcampamento Farroupilha Ex- de e estão entusiasmados com traordinário. A ideia é montar a possibilidade de poder mos- rista poderá aprender no Acam- Saudade, Clóvis Morais, acre- sentarem nos piquetes para toum mini-acampamento, com trar a cultura dos gaúchos pa- pamento Extraordinário hábitos dita que o entendimento do tu- marem um bom chimarrão e aproximadamente 10% do ta- ra o mundo. O patrão do CTG típicos do Rio Grande do Sul. rista com os gaúchos se dará comerem uma boa carne, tomanho normal e apenas durante Armada Grande, de Viamão, “Por exemplo, o significado da através do tradicional churras- dos serão mais iguais do que o período em que Porto Alegre Armando Coelho, diz que o tu- bombacha que usamos tradicio- co e do chimarrão, linguagem imaginam”. nalmente para montar a cavalo, que o assador do Pago da Sauo lenço vermelho representan- dade considera universal. Curiosidade Visitante do evento há mais do a luta dos farrapos até as famosas gineteadas, onde o ginete de 40 anos, Julio César Correa O local onde o acampamento deve permanecer montado no Lima, natural de Porto Alegre, se localiza, Parque da Harmocavalo mal domado. A ginete- também concorda com a ante- nia, foi construído pelo engeada serve como demonstração cipação das comemorações do nheiro Curt Alfredo Guilherme do estilo de vida dos antepas- 20 de Setembro para julho. “Os Zimmermann e foi inaugurado gaúchos estão se preparando no dia 4 de setembro de 1982. sados”, afirma Coelho. O churrasco deve ser uma para receber outras nações e é Em 1987, ocorreu o primeiro das atrações principais do importante mudar a data tradi- Acampamento Farroupilha da Acampamento. A intenção é cional para levar um pouco da história do Parque da Harmonia, conquistar os turistas com o cultura ‘’gaudéria’’ para os es- logo foi batizado oficialmente prato típico do Rio Grande do trangeiros na Copa do Mundo”. de Parque Maurício Sirotski SoEm relação ao ‘’jeito’’ gaú- brinho. Antigamente eram gruSul. O patrão Armando Coelho diz que o churrasco é mais que cho de ser, Júlio Lima acredita pos de amigos que se reuniam apenas uma culinária: “une to- que os estrangeiros serão rece- e construíam seus piquetes pa➜➜ Carreteiro é preparado para os visitantes do piquete Pago dos ao redor do fogo”. O fun- bidos com muita cordialidade ra comer o churrasco e manter da Saudade. Segundo prato mais tradicional do Rio Grande do Sul, cionário do Piquete Pago da e hospitalidade. “Quando eles a tradição. pode ser feito a partir das sobras do churrasco

E

Chimarrão

Trajes

Dança

O “mate”, como é chamado pelos gaúchos, é um dos principais símbolos tradicionalistas do Rio Grande do Sul. O ato de tomar, reúne gaúchos do interior até a capital. Com a ajuda de uma cuia, uma bomba, a erva e água morna, a festa está armada.

O traje de um gaúcho é composto por chapéu, lenço, camisa branca, colete, rebenque, guaiaca, tirador, bombacha, botas Lenço: O lenço tradicional é o vermelho farroupilha, usado em homenagem aos heróis farroupilhas. Existem também o lenço branco dos chimangos e o verde dos republicanos.

As danças típicas do Rio Grande do Sul são variações de danças de salão, que ocorriam no centro europeu. Da valsa surgiu o xote, logo a mazurca, depois vaneira, vaneirão, chamamé, chimarrita e outras.


Porto Alegre, dezembro de 2012 Jornal do curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodista do IPA

A morte da Cidade Baixa?

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Geral

Fotos: Marcelo noms

Decreto municipal limita horário de bares e restaurantes na Cidade Baixa ■■ Frederico Tarasuk ■■ Marcelo Noms

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ocê combina uma cervejinha com os amigos, se arruma todo e sai pra balada. De repente chega na entrada do barzinho em que se encontraria com o pessoal e dá de cara com a porta. É o que vem ocorrendo, depois das duas horas da manhã, nos bares do bairro Cidade Baixa (CB). O decreto 17.766, que entrou em vigor em 7 de agosto de 2012, estipula o horário de funcionamento de todos bares e restaurantes do bairro mais boêmio de Porto Alegre. O assunto causa polêmica e acalora uma discussão entre moradores, comerciantes e habitués do bairro. Há opiniões divididas, pois é aclamado por uns e considerado injusto por outros. O secretário de Produção, Indústria e Comércio do município, Omar Ferri Júnior, explica que a maior parte das reclamações de moradores do bairro são referentes à perturbação do sossego, venda de bebidas alcoólicas em copos plásticos, o que

resulta em lixo acumulado nas ruas, e aglomerações nas vias públicas. Além de estabelecimentos funcionando como casas noturnas sem alvará para a atividade ou com alvará em desacordo. Segundo ele, é competência da Brigada Militar coibir os casos de perturbação do sossego e a Secretaria Municipal da Produção, Indústria e Comércio ➜➜ Rua General Lima e Silva, um dos pontos mais frequentados na Cidade Baixa, registra baixo movimento (Smic) só pode agir se o incômodo estiver dentro de algum Nelson avalia que o cum- a Smic para regularizar a situ- do Bar Pinguim, Jaimir Seibez, estabelecimento. Do lado dos moradores, há primento do decreto é positivo, ação ou se negaram a fazer as comemora o aumento no movimuita reclamação sobre atos mas que mais ações devem ser adequações. Com as ações inte- mento que trouxe mais clientes de vandalismo cometido pelos realizadas no bairro: “a questão gradas, em 2012, foram mais de para o estabelecimento e tem frequentadores do bairro. Nel- do trânsito ainda é muito com- mil vistorias, 180 notificações uma expectativa positiva para son Santos, 28, morador da rua plicada, há muitos flanelinhas e 115 autuações. O secretário o próximo verão. Segundo o dono do Bar BeGeneral Lima e Silva, reclama trabalhando de forma irregular.” Omar Ferri destaca que os índiAntes do decreto, foi criada, ces de criminalidade no bairro verly Hills, Jacinto Luis Aires principalmente de filas duplas feitas pelos motoristas e da insa- em novembro de 2011, uma diminuíram cerca de 30% desde Soares, o impacto foi negativo, lubridade das ruas: “Já tive pro- ação por parte da prefeitura a implantação do novo decreto, pois houve demissões em funblemas duas vezes com pessoas denominada Operação Sossego, e houve uma significante dimi- ção do limite no horário de funque urinam na porta do meu pré- quando a situação entre morado- nuição na média de ocorrências cionamento, que antes era até as dio”. Apesar de ter ocorrido uma res, empresários e frequentado- no trânsito de 25 para sete nos 6 horas: “É muito triste ser impedido de trabalhar por conta convocação da prefeitura para res da CB era tensa. A Smic e a finais de semana. Sobre o decreto a opinião de tantas burocracias.” uma reunião que avaliou a regu- Vigilância Sanitária chegaram O impasse segue entre modos proprietários de alguns dos a notificar 90 estabelecimentos, lamentação permanente do decreto, no dia primeiro de agosto, autuaram 80 e interditaram ou- mais frequentados bares da CB. radores, comerciantes e órgãos Santos não sabia da situação até tros 23. De todos, apenas quatro Confrontaram-se, mostrando de públicos, mas uma coisa é certa: o documento ser assinado e di- continuam fechados porque os forma clara as divergências. O o bairro mais boêmio da cidade empresários ou não procuraram responsável pela administração não pode morrer. vulgado na imprensa.

➜➜ Rua da República, repleta de bares apresenta boa iluminação à noite

➜➜ Flanelinhas atuam de forma irregular à noite, conforme denunciam moradores


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Geral

Porto Alegre, dezembro de 2012 Jornal do curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodista do IPA

Cais do Porto e os impactos ambientais Fotos: Jéssica Teles

■■ Jéssica Teles ■■ Lizandra Otero

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s obras de revitalização do Cais do Porto têm o objetivo de transformar uma parte esquecida e danificada do Centro Histórico Cultural de Porto Alegre em um conjunto de lazer e um novo ponto de encontro dos gaúchos. Um dos pontos a ser estudado é o impacto ambiental que será causado com o início das obras. Alguns engenheiros já foram consultados e dizem que se forem utilizadas formas sustentáveis não ocorrerá dano algum ao meio ambiente. As obras estão previstas para iniciarem logo após as eleições deste ano, mas já deveriam ter começado há algum tempo. Enquanto isso, aguarda-se até que tudo realmente saia do papel. A restauração do cais Mauá era um dos projetos idealizados para a Copa do Mundo de 2014, mas apenas parte do projeto estará pronta até esta data. A prefeitura de Porto Alegre ainda não tem certeza da data concreta para a conclusão das obras de revitalização do cais, já que o início atrasou. Há quem diga que as obras nem sairão do papel, outras pessoas afirmam que só começarão em janeiro de 2013 e que logo após as eleições o projeto terá início. Independente do calendário a ser seguido, uma das preocupações é com os impactos ambientas que serão causados pelas obras.

“O cais é um ponto fixo e a área em que se encontra é pouco arborizada, o que se tem de vegetação é fora do cais, nas ruas e nas calçadas” Engenheiros, arquitetos e especialistas analisam como a obra irá transformar o local e seus arredores. Conforme o engenheiro ambiental e coordenador do Gabinete de Assuntos

Especiais da prefeitura, Edemar Tutikian, produtos que utilizam menos energia e são biodegradáveis estão dentre os materiais usados no projeto. O projeto de revitalização

O Cais do Porto hoje

➜➜ O cais abriga exposições populares, tais como a Bienal do Mercosul e feiras latino-americanas

E o futuro Cais do Porto

O novo Cais do Porto contará com centro de eventos e áreas verdes, visando a sustentabilidade do meio ambiente. Além disso, os aramazéns irão servir de centro comercial, serão reformados e ganharão nova pintura.

Foto: divulgação PMPA

O atual Cais do Porto é uma área que conta com os armazéns abandonados, entretanto, é bastante frequentado. Um dos lugares preferidos dos gaúchos para tirar fotos, curtir o pôr- do-sol e tomar um chimarrão ao fim de tarde. Os navios que se encontram no cais, tornam a paisagem náutica, um lugar encantador.

do cais irá contar com centros comerciais, haverá áreas de lazer e hoteis, o que irá permitir maior integração entre os cidadãos porto-alegrenses. Tutikian afirma que será instalada uma

área denominada “Rampa Verde”, visando à sustentabilidade e consciência com o meio ambiente. As rampas também permitirão acesso a alguns locais do porto. Segundo o arquiteto da coordenação do Gabinete de Planejamento Estratégico da prefeitura, Glênio Viana Bohrer, a área em que o cais do porto se encontra é fixa e não apresenta tanta vegetação, portanto, o impacto não será grande. Apesar disso, estão sendo tomadas medidas para que não haja poluição no lago Guaíba e no ambiente ao redor. Já o engenheiro Edemar Tutikian afirmou que está sendo feito o possível para que não haja nenhum problema com relação à área. “O cais é um ponto fixo e a área em que se encontra é pouco arborizada, o que se tem de vegetação é fora do cais. Nas ruas e nas calçadas”, disse o engenheiro e um dos coordenadores do projeto para Revitalização do Cais. O que a maioria da população não sabe é que as obras só ocorrerão e se concretizarão porque a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) assinou um termo de compromisso, autorizando a concessão da área portuária ao governo do Rio Grande do Sul. Com o termo assinado o projeto poderá ser entregue em quatro anos e seis meses. O que não se tem certeza ainda é de quando o projeto irá começar e sair definitivamente do papel.

➜➜ Após a reestruturação contará com pequenas plantações e áreas de lazer


Porto Alegre, dezembro de 2012 Jornal do curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodista do IPA

Meio Ambiente

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Educação ambiental: um conceito a ser aprofundado Além de recilagem de lixo e preservação, a educação ambiental abrange a vida como um todo Jefferson pietroski/fundação gaia

■■ Renato Araújo

A

temática ambiental é predominante nos dias de hoje e tornou as palavras sustentabilidade e educação ambiental (EA) conhecidas. No entanto, esses conceitos sofrem desgaste, na medida em que incorporados ao senso comum. Para aprofundar o conhecimento sobre educação ambiental nada como uma boa conversa com o educador ambiental da Fundação Gaia, Alexandre Freitas, em seu escritório. No local, ele orquestrou um jardim na sacada de um prédio comercial em frente ao parque Farroupilha. “A sensação é de uma continuidade entre o jardim e o parque”, relata Alexandre com orgulho de seu trabalho como jardineiro. Há mais de 20 anos trabalhando com educação ambiental, Alexandre prefere chamar seu tra- ➜➜ Rincão Gaia - Sede Rural da Fundação Gaia, área degradada recuperada pelo ecologista José Lutzenberger balho de educação ecológica. E essa mudança de termo não é meramente formal, pois língua e a cultura, que são de- cação ambiental tenha obrigato- colas, em datas pontuais, como para Freitas “o ambiental pa- rivados da interação das pes- riamente de ser transdisciplinar na Semana do Meio Ambiente. A ex-bolsista da pesquisa de rece uma coisa muito preser- soas com o ambiente em que tem impedido que esta disciplina seja considerada importante. Isabel, Márcia Prochnow, pervacionista, trabalha muito com elas vivem. Devido ao tema da educa- cebe que o dia-a-dia do eduPor isso o pensamento mais o ambiente físico, e o ecológicador ambiental nas escolas é co, uma noção mais atualizada atual do que seja a ecologia é ao mesmo tempo gratificante do que é ecologia, ela é com- essa maneira sistêmica e holoe muito cansativo. Prestes a se pletamente holográfica.” Exis- gráfica de ver as coisas. Esse é formar em Biologia, Márcia lida te ecologia de tudo, porque tudo o motivo pelo qual Freitas precom a rotina árdua das escolas está relacionado com tudo, essa fere o termo educação ecológica, públicas da capital. Para a futuque é uma educação que leva a é a ideia de holográfico. O conra bióloga a prática da educação ceito apresentado por Freitas é perceber isso, como diria o fíambiental exige a vivência do a proposta de aprofundamento sico e escritor austríaco Fritjof educador, sendo ele ao mesmo Capra: “tu és alfabetizado na da educação ecológica. tempo um autor e um atuante Segundo o educador, a eco- vida”. É uma questão de ver a no processo de aprendizagem. logia é entendida não só como vida de maneira mais holística Não existe uma fórmula de se ção ambiental ser transdisciuma questão de preservar os ou holográfica. No âmbito acadêmico a dis- plinar, por se ocupar de várias promover a educação ambiental seres vivos, se pensava antes nas florestas, nas plantas e nos cussão sobre a educação am- disciplinas, muitos pesquisa- (ou ecológica) afirma o educaanimal. O ponto fundamental biental segue o impasse sobre dores, educadores ambientais dor Alexandre Freitas, cada insda educação ecológica não é qual lugar ela deve ocupar no e ambientalistas, sempre foram tituição tem sua metodologia. A a questão dos seres vivos, é a currículo do ensino. Para a pro- contra a se instituir uma disci- Fundação Gaia, onde Alexandre questão do sistema como um fessora adjunta do Programa de plina única de EA, atitude que atua, é uma entidade que realiza todo, que inclui tudo, inclusi- Pós-Graduação e da Faculdade para Isabel deixou a EA em um um trabalho continuado de 15 ve, o que existe de imaterial faz de Educação da PUCRS, Isabel “não lugar”, sendo apenas trata- anos focado em educação ecolóparte do ambiente. Há ainda a Carvalho, a ideia de que a edu- da de forma superficial nas es- gica com fundamentação teórica

“Quando a gente passa a perceber esse tipo de coisa , temos que olhar para a vida com reverência”

própria, na qual em sua criação teve a consultoria da pesquisadora Isabel Carvalho. A educação ambiental, ou mais precisamente ecológica, ao invés de adotar um já batido discurso alarmista, o qual nos coloca em um estado de culpa, deve ser introduzida na vida das pessoas de forma alegre, possibilitando com que possamos nós mesmos perceber a maravilha que é a manutenção da vida em nosso planeta. É assim que Freitas atua no Rincão Gaia, sede rural da Fundação Gaia, por meio do prazer os visitantes entram em contato com os ideais ecológicos. Mais que entender como a natureza funciona Freitas pensa que temos de ter uma admiração por ela. Como dizia José Lutzenberger: “quando a gente passa a perceber esse tipo de coisa, temos que olhar pra vida com reverência”.


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Política

No caminho dos populistas ■■ Gabriel Guidotti ■■ Érik Pastoris

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opulismo é um tipo de governo onde o presidente é marcado por seu carisma e por suas ações governamentais à população de massa. No Brasil, o fenômeno populista teve início na década de 1930, quando Getúlio Vargas assumiu o governo, inaugurando o Estado Novo. Nas demais nações latino-americanas, foi representado em diversos países como a Argentina, de Juan Perón; o Equador, de José Maria Velasco; e a Colômbia, de

Gustavo Rojas Pinilla. Em 1945, o Estado Novo chegou ao fim, mas a política populista de Getúlio teria continuidade em 1950, na segunda fase da Era Vargas. Durante quase 20 anos (1945-1964), a ideologia, sob o comando de diversos presidentes, trouxe conquistas significativas ao Estado brasileiro. “Populismo é um governo onde um líder político fala diretamente com a população, sem maiores delongas, seja ela rica, pobre ou uma instituição”, expli-

Porto Alegre, dezembro de 2012 Jornal do curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodista do IPA

Movimento político se destacou por presidentes paternalistas que viam no povo sua maior fonte de poder ca o professor de história, Saul Chervenski. No Brasil, além de Getúlio, outros mandatários tiveram participação significativa no período: Eurico Gaspar Dutra, Juscelino Kubitschek, João Goulart e, anos mais tarde, Luís Inácio Lula da Silva. De acordo com o jornalista André Haar, os populistas tinham preocupação com o trabalho - com o trabalhador. Ele afirma que alguns especialistas acreditam no populismo como um termo para designar um mandatário que usa a política com intenção de enganar o povo, de não cumprir com as promessas. “Não vejo, por exemplo, que Lula não tenha cumprido diversas de suas promessas, mas de fato, acredito que somente num futuro poderemos concluir e fa-

zer uma análise mais precisa”. O historiador Saul Chervenski destaca que, no populismo, o líder exalta suas façanhas por meio de muita propaganda pessoal e, geralmente, costuma ser carismático. Entretanto, na maioria das vezes eles tomam para si o controle de tudo, desrespeitando seus aliados políticos, soando como prepotente e arrogante por seus atos. Chervenski ainda afirma que vivemos uma nova era do Populismo, a qual começou no momento em que Lula iniciou a sua carreira política. “Conhecedor dos problemas do povo ele destinava os seus comícios para as classes oprimidas e, desde então, ele se diferencia de outros populistas como Jango e Vargas,

pois ele representa a face do brasileiro trabalhador”. O período populista teve sua importância na história do país, sendo marcado por fatos que mudaram a vida dos brasileiros, em virtude das diversas melhorias implantadas. A política era governar tratando o povo como um só, sem distinção de raça, cor, poder aquisitivo, faixa etária ou grau de instrução. E assim, nas mãos de presidentes paternalistas, a história do Brasil se construiu. Vindos das mais diferentes classes e segmentos sociais, os populistas marcaram toda uma era da política brasileira, valorizando o trabalho dos mais pobres da população e influenciando um movimento que permanece até os dias atuais. Fotos: Divulgação

Vargas (1951- 1954)

Gaspar Dutra (1946-1951)

Primeiro presidente populista brasileiro. De acordo com o historiador Lúcio Schneider, Getúlio Vargas, do PTB (Partido Trabalhista Brasileiro), era uma personalidade de caráter temperamental, que direcionou suas políticas públicas ao povo, discutindo o benefício das classes menos favorecidas. Após oito anos de Estado Novo, seria deposto em 1945, retornando em 1950 em uma eleição democrática a qual conquistou 48% dos votos. De início moderado, admitindo a participação de diversos partidos no poder, “o estadista primou pela identificação ao nacionalismo, com a Criação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE), da Petrobrás”, diz Schneider.

Eurico Gaspar Dutra, do PSD (Partido Social Democrático) assumiu o Brasil em um período atribulado após os anos do autoritarismo do Estado Novo. Lúcio Schneider lembra que a primeira iniciativa do novo presidente foi convocar a Assembleia Constituinte, dando origem a Constituição de 1946, que incorporou os direitos trabalhistas do governo de Getúlio no texto legal. O historiador ainda destaca as dificuldades econômicas do período – marcado pela dependência capital estrangeiro. “Neste momento histórico a influência financeira dos Estados Unidos foi decisiva. Os comunistas foram cassados e foi criada a Escola Superior de Guerra, que deu força aos militares”.

Juscelino (1956-1961)

Jango (1961-1964)

O presidente “Bossa Nova” O governo de João Goulart era filiado ao PSD (Partido So- (Jango), do mesmo PTB de Varcial Democrático). Sua gestão gas, começou atribulado pela deu ênfase ao desenvolvimento pressão militar e o Movimento econômico da nação, principal- da Legalidade. Depois de muimente na indústria e na urbani- tas reviravoltas, assumiu o carzação. Sob o lema “50 anos em go em 1961, nos braços do povo. 5 de mandato”, inaugurou um Saul Chervenski comenta que plano de metas que privilegiava “Jango, como populista, usava os setores de energia, transporte, muito bem seu carisma peranalimentação e educação. Nesse te as classes. Ele deixava isso sentido, Saul Chervenski afir- claro em seus discursos, onde ma que no governo de Jusceli- abusava de palavras como povo, no, o uso do capital estrangeiro trabalhador e brasileiros além incentivou as multinacionais e de minimizar os seus oponentes ajudou na construção de Brasí- e maximizar, e muito, os seus lia: “Juscelino tinha por objetivo feitos”. Em nível de políticas o desenvolvimentismo e a dívi- públicas, o Brasil iniciou com da externa aumentou considera- efetividade a reforma agrária e velmente. Entretanto, o período tributária, a reorganização do foi marcado por grandes trans- sistema de crédito e limitação formações econômicas”. do capital estrangeiro.

Lula (2002-2010) Em 2002, o principal líder do PT (Partido dos Trabalhadores), Luís Inácio Lula da Silva, se elegia Presidente da República. Resgatando a política paternalista típica dos populistas, Lula, logo nos primeiros anos, atingiu altos índices de aprovação por suas políticas sociais. O jornalista André Haar, nesse contexto, afirma que o governo do petista fez o país acreditar no próprio potencial, com uma linguagem simples – do povo – batendo metas como a diminuição da pobreza e uma distribuição de renda mais igualitária no país. “Lula, mesmo não cumprindo determinadas vontades políticas, e, muitas vezes, rodeado de situações graves como o mensalão, conseguia o apoio popular”.


Economia

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Real completa 18 anos com o desafio de manter a estabilidade econômica Plano que deu equilíbrio à economia do Brasil enfrenta as consequências resultantes da crise internacional

■■ Jair Farias ■■ Fernanda Cadore

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ob olhar desconfiado da população, que via o país colecionar insucessos nas três décadas anteriores com planos econômicos mirabolantes e ineficientes, especialmente no controle da inflação, surgia em julho de 1994 o Plano Real, programa econômico mais bem sucedido da história recente do Brasil. Com o objetivo de estabilizar a economia, o plano atingiu o âmago dos anseios dos brasileiros à época: liquidou a inflação, aumentou o poder de compra e permitiu o investimento em longo prazo. No decorrer de seus 18 anos, resistiu a crises enquanto outras economias do mundo implodiam. Mas qual é futuro do

real diante de um cenário eco- futuro são positivas, no entannômico mundial cheio de incer- to, a projeção passa por fatores tezas, com crises recorrentes? como transparência, pensar no Que fatores fazem com que a longo prazo, eliminar a corrupeconomia do país não sinta tão ção e acabar com os gargalos fortemente os efeitos da atual por onde jorra dinheiro público. crise que nocauteou países como Espanha e Grécia? De acordo com o economista da Fundação de Economia e Estatística do Rio Grande do Sul (FEE), Antônio Carlos Fraquelli, a posição do Brasil é confortável “É preciso pensar em infraese o real deve se manter em torno trutura e na economia sustenda cotação atual devido à gra- tável do futuro. O Brasil tem o vidade da crise das economias dinheiro. É só decidir melhor avançadas. “Ao contrário das onde aplicá-lo, quem incenticrises anteriores, o país possui var”, afirma. reservas cambiais expressivas, está com a economia estabilizaControle da e com as contas públicas relada inflação tivamente ajustadas”, explica o especialista. Fraquelli entenFantasma que assustava em de que o acionamento das um passado não muito distanreformas – administrati- te – e que por vezes ainda preva, orçamentária, previ- ga alguns sustos –, a inflação denciária e tributária está controlada, segundo Fra– é o meca n ismo quelli. Para o economista, a preque falta para au- ocupação mais recente é com mentar os preços em dólares, incluina pro- do matérias primas valorizateção das pela seca norte-americana, ao r e - que acessam aos preços via Ína l d o s dice Geral de Preços do Merefeitos da cado (IGP-M). De acordo com c r i s e i n - o Banco Central, a previsão da ternacioinflação para este ano é 5,24%. nal. Para a Em 2013, a projeção é 5,54%. jornalista Para quem viveu na época especialida inflação alta, como o apoz a d a e m sentado João Valmor Corrêa, 64 economia anos, o Plano Real foi a tábua Giane Guerra, de salvação do povo que não suas perspectivas para o portava mais a instabilidade da

economia. “A inflação dizimava os salários antes do final do mês. Os preços subiam a todo o momento e não tínhamos poder de compra. Nos supermercados é que sentíamos os efeitos, a remarcação dos preços era frequente e causava um caos no orçamento das famílias”, conta. Nas três décadas anteriores ao real, a inflação acumulada chegou a assustadores 1,1 quatrilhão por cento. No período entre 1994 e 2011, o acumulado foi de 297,03%, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ou seja, uma compra no valor de R$ 10 em 1994 sairia por R$ 39,70 em 2011. Giane Guerra acredita que a política de controle da inflação do governo Dilma Rousseff (PT) tem de passar por alguns ajustes. “A Selic (Sistema Especial de Liquidação e Custódia) é o principal mecanismo que vem sendo usado. É a proposta, abertamente. Mas congelar preços de combustível está prejudicando uma empresa importante para o país, que é a Petrobras. As importações também têm ajudado, pois entram no mercado produtos com preços inferiores. É preciso conter gasto público, mas não vejo essa intenção em curto prazo”, avalia.

“Ao contrário das crises anteriores, o país possui reservas cambiais expressivas, está com a economia estabilizada e com as contas públicas relativamente ajustadas”

Poder de compra e endividamento Um dos principais trunfos do Plano Real e mola propul-

sora da ascensão da classe C, o poder de compra da população, agora reforçado pela política de incentivo ao consumo do governo, sofre questionamentos pelo crescente endividamento das famílias. Exemplos como o da autônoma Beatriz Martinez, 62 anos, são cada vez mais frequentes. “Acabei me empolgando com o acesso fácil ao crédito e hoje estou endividada, tudo o que ganho por mês é para saldar dívidas”, relata. O Brasil vinha de mais de duas décadas de crescimento insuficiente. Quando retomou o ritmo da atividade econômica, houve avanço da renda e do emprego. Com isso, um grande contingente de trabalhadores teve acesso ao consumo, diz Fraquelli. Para o especialista, o governo ofereceu condições de crédito, mas é preciso que a adimplência seja preservada.

Longevidade do plano A transparência da aplicação, medidas em conjunto, atenção ao câmbio, dívida externa, combate à memória inflacionária e o engajamento da sociedade são fatores que contribuíram para a longevidade do Plano Real, de acordo com Giane Guerra. Para o futuro, ações são necessárias para que a economia se mantenha estável. “O real vai bem. A economia brasileira, no entanto, precisa de medidas de longo prazo usando as ferramentas disponíveis e mantendo o equilíbrio no uso delas”, analisa a jornalista.


10 Tecnologia

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Da fotografia analógica para a digital Vinte anos após seu lançamento, a fotografia digital fica mais acessível e popular às pessoas Fotos: Taiane Fagundes

■■ Gabriele Rocha ■■ Taiane Fagundes

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década de noventa marca o início de um novo momento na história da fotografia. Em 1990, foi lançada a primeira máquina digital disponível comercialmente da marca Kodak. Seu uso em fotojornalismo e aplicações profissionais foi impedido por conta do seu custo, mas nasceu com ela a fotografia digital. As máquinas digitais se tornaram produtos de consumo cerca de 10 anos após o seu nascimento e foram tomando o lugar das câmeras analógicas. Fotógrafo profissional há 15 anos, Arley da Cruz, 31 anos, começou a fotografar com a câmera analógica e hoje utiliza a digital, mas observa que processo de fotografar sofreu poucas mudanças. Na sua opinião, a câmera digital só facilitou na rapidez de tirar fotos. Também atuando como fotógrafo pro-

fissional, Guiliano Cecatto, 26 anos, trabalha com câmera SLR e reconhece as vantagens: “Com a fotografia digital é difícil perder uma foto, pois todas podem ser vistas na hora, refeitas e ou manipuladas”. Na avaliação de Arley da Cruz, os avanços estão nos recursos tecnológicos. Uma câmera de filme profissional tinha excelentes recursos que os profissionais utilizavam na hora da foto, mas, só isso não bastava.“Parece que no período analógico o que poderia ser melhorado na câmera estava travado, investíamos mais em lentes e filtros,” lembra. Para ele, com o passar dos anos e com o avanço da tecnologia e a chegada dos equipamentos digitais os recursos melhoraram significativamente. Um exemplo, segundo Arley da Cruz, é o photoshop, fer-

ramenta para manipulação de imagens. O programa é aliado dos profissionais, mas não é de hoje que as imagens são manipuladas. “Mesmo na foto analógica havia manipulação, podíamos mesclar negativos e fazer uma alteração gráfica interessante ou mesmo maldosa. Eu manipulava os níveis de saturação com mais químico ou mais exposição nas fotos”, exemplifica. E empolga-se: “Fotografia significa pintar com a luz e é maravilhoso poder fazer isso com os programas de manipulação atuais”. O fotógrafo Giuliano Cecatto também usa o photoshop, mas apenas para fazer pequenos retoques, nada de montagens ou tratamento de pele. “O bonito é o natural. Esforço-me ao máximo para fazer com que a imagem saia da forma que eu quero no momento do clique.”

O fenômeno Instagram Instagram é um aplicativo gratuito para smartphones que tem como função tirar fotos, escolher filtros e compartilhar o resultado nas redes sociais. Além dos efeitos, é possível seguir outros usuários na própria rede do aplicativo para visualizar, curtir e comentar nas imagens postadas. Usuária do Instagram desde janeiro de 2012, a estudante de design gráfico, Maria Clara de Oliveira, afirma que no começo, quando estava conhecendo o aplicativo, se considerava um pouco viciada, mas depois de um tempo isso diminuiu. É um aplicativo feito para quem gosta de fotografar, mas que deve ser usado com moderação.

Popularização da fotografia: desafio aos profissionais Com a grande variedade de Istagram (aplicativo usado em modelos, marcas e com preços smarthfones. Ver box a seguir) mais acessíveis a fotografia vai incentiva a fotografia. O pessoficando popular e se torna um al tira muita foto de tudo”, diz elemento essencial na vida das Arley, que encara o fator como pessoas. É o que conta a estu- uma motivação, pois agora predante de ciências biológicas, cisa fazer melhor para convenThayse Macário, que usa um cer de que seu trabalho é bom. equipamento digital semi-pro- “Nossa vida é escrita e lida em fissional. O interesse por foto- postagens de 140 caracteres, fografia veio com o objetivo de tos são compartilhadas. É mais deixar registrados momentos fácil, não tem erros de portuespeciais da sua vida. Por ser guês, é mais bonito e estimulam estudante de biologia e ter uma sentimentos”, explica Giuliano. Com o mercado cada vez proximidade com a natureza, a fotografia começou a ser vista mais concorrido, o profissional também como uma opção de tem que saber como ganhar descarreira profissional com o ob- taque. “O problema é que existe jetivo de fotografar elementos muita gente entrando no mercacomo plantas e animais. “Fico do e oferecendo seus serviços emocionada com cada foto que por preços baixíssimos. Atratiro, seja de animais ou até mes- palha quem já está no mercado, mo de pessoas, como os meus mas começo é assim. Nada que amigos, festas de aniversário. A um pouquinho de nome, alguemoção acontece, pois essas fo- mas referências, uma conversa tos que tirei me lembram mo- com o cliente e principalmente mentos que eu vivi, lugares onde um belo portfólio não resolvam”, eu estava”, conta Thayse, que conta Giuliano. Para um fotógrafo, buscar costuma compartilhar as fotos com os amigos em redes sociais. aperfeiçoamento é essencial. Aplicativos de internet, sites “Eu sou estudante de fotografia, e redes sociais também contri- pois no dia que eu achar que já buem com a popularização da sei tudo sobre a fotografia deixei fotografia. “É bom ver como o de ser fotógrafo”, acredita Arley.

➜➜ Thayse Macário, estudante de Biologia, tem a fotografia como hobby


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Tecnologia 11

Governo na palma da mão do cidadão

Foto: Charline Bicca

Site para acesso a serviços públicos através de dispositivos móveis tem cada vez mais recursos

■■ Charline Bicca ■■ Thamires Rosa

de maior contato com o cidadão, o governo do Rio Grande do Sul têm buscado criar aplim levantamento re- cativos para que o serviço checente feito pelo ins- gue de forma rápida ao público. O RS Móvel, criado pela Set it uto de pesqu isa Ipsos Marplan cons- cretaria de Comunicação e Intatou que o Brasil tem mais de clusão Digital, da Companhia 200 milhões de celulares, des- de Processamento de Dados do tes 30% têm acesso à internet RS (Procergs), permite o acesso e 10% são smartphones. A ten- a diversos serviços do Governo, dência é que em até três anos a assim como denúncias em temcomparação vire: os smarts de- po real através de dispositivos vem passar para mais de 50% móveis. É o que fez o funciodos telefones ativos, assim co- nário público, Roberto Silveira, mo o acesso à internet pelos mó- 48 anos, quando precisou locaveis cruzará a barreira dos 60% lizar uma clínica que atendesde fones habilitados. Pensando se pelo IPE. Como havia já usado o site nesse crescimento e em busca decidiu utilizá-lo e em instantes conseguiu as informações que a precisava.“Estava m t af or a l p com pressa e na um a nto c im e EL é s V e Ó r c rua, não tinha ouRS M ra o a pa os d d a tra forma de proo r t a e pr e p m a qu r a a s p s , curar, o site me o ínuo do p c ont es t a o ajudou muito, d s i ç os r g ão v ó r e s s o consegui loe us . c er s s e a r t r calizar uma e f o a of e

U

as pa r a p li a r e nto m i v t os ol p r oj e senv s e o d o Em es t ã 014, d os 2 a ç ão a C op t n pla i a de a im s , gu o pa ra c i t rís s. os t u l a do u s n p ont e co i t a is p s o h

clínica perto de onde eu estava criar um site disponível para o e no mesmo dia consegui mar- maior número de dispositivos car o exame, foi rápido e fácil”, móveis e que permita acesso complementa. De acordo com o rápido e fácil com informausuário, o que diferencia o apli- ções resumidas e totalmente cativo é encontrar muitas infor- em software livre, o RS Móvel mações em uma mesma página, foi elaborado depois de ampla sem precisar fazer uma busca pesquisa. A Procergs consultou em toda a internet. “Abri o apli- mais de 170 sites nacionais e incativo e lá estava a lista de ser- ternacionais. Quando o trabalho viços”, salienta Roberto. iniciou, em 2011, não existia no Agilidade de informação é Brasil plataforma semelhante. o que mais chama a atenção Os exemplos seguidos foram de dos usuários. O advogado Fa- programas criados nos goverbio Ramos tem o site como um nos de Barack Obama, nos EUA, dos mais utilizados. Ele acessa e Ângela Merkel, na Alemanha. o serviço para informações do A especialista em inteligência trânsito, por exemplo. “Posso competitiva, Cristine Silva, exver como está o trânsito em vá- plica que a pesquisa foi embarios sites na internet, mas optei sada por uma lista pré-existente pelo RS Móvel pela facilidade e que pontuava entre outros itens confiabilidade das informações, a aplicabilidade e os níveis de como saber onde está a blitz da informação. “Nosso foco é semBalada Segura, por exemplo”, pre olhar do cidadão”, completa. comenta Fábio. A gerente do projeto, Carín Elisabeth Horst, explica que a principal exigência para a criaCriação do ção do aplicativo apresentada à aplicativo Procergs foi o desenvolvimenTendo como maior desafio to total em software livre. Com

a pesquisa em mãos e as referências bem sucedidas de outras plataformas semelhantes, os analistas buscaram a interatividade e o diálogo em tempo real. Para o andamento do processo, foram realizados testes e parcerias com a Divisão de Tecnologia e Infraestrutura, nos setores de Desenvolvimento Econômico e Social, de Trânsito e de Governadoria de outros poderes. “Esta é uma iniciativa simples e de grande impacto. Em uma semana a solução estava disponível”, explica a Carín Horst. Na avaliação da pesquisadora da Procergs, Cristine Silva, o RS Móvel é estratégico e uma ferramenta para desburocratização, comunicação e ampliação do acesso aos serviços públicos, ou seja, da radicalização democrática clara e direta. “No Brasil o RS foi pioneiro no uso do móbile, mas isso muda toda hora e hoje já têm outros estados usando esse formato, como ao Amazonas”, explica.

e am

Como utilizar Em dispositivos móveis como smartphones, tablets e celulares ou em computadores com acesso a internet é só acessar o link: http://m.rs.gov.br/ e encontrar todos os serviços disponíveis como, por exemplo, denúncias para a Polícia Civil, enviando fotos e vídeos que serão recebidos na mesma hora ou encontrar locais de atendimento pelo Instituto de Previdência do Estado (IPE).


12 Turismo

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Do outro lado do mundo

Fotos: Arquivo PessoaL

Estudantes aproveitam viagens ao exterior para aperfeiçoar idiomas estrangeiros ■■ Danglar Duarte

Q

uem nunca sonhou em viajar para fora do país, em busca de aprender uma nova cultura, fazer um curso, trabalhar, conhecer lugares diferentes, enfim, buscar uma nova oportunidade e, quem sabe, até ficar morando? É o que fizeram as amigas Paula Lopes e Nádia Lima. Professoras formadas, as duas, que se conheceram durante o curso superior de letras - habilitação em língua inglesa da FAPA, sempre tiveram o sonho de reforçar o que aprenderam na faculdade fora do país. Com um sonho desses, depois de consultar uma agência e saber o destino, Dublin, o jeito era arregaçar as mangas e buscar um emprego para conseguir o valor necessário, R$ 14 mil. Nádia e Paula trabalharam por quatro anos em escolas municipais de Guaí­ ba. E como as escolas ficavam

próximas, elas percorriam todo o caminho conversando. Terminado os quatro anos, com os R$ 7 mil da agência pagos e os outros R$ 7 mil exigidos pela agência, na conta, era começar a arrumar as malas e partir. Antes da viagem, para se despedirem dos parentes e amigos, elas decidiram fazer uma grande festa. Para a surpresa de- ➜➜ Paula Lópes e Nádia Lima em frente ao Museu do Louvre, em Paris las, receberam muitas homenagens dos pais, dos amigos da faculdade e dos que fizeram ao de. Em Dublin, Paula e Nádia, ses, aprenderam a pronunciar longo da vida. Dublin é um lugar ficaram por duas semanas na corretamente a língua, tiraram maravilhoso com uma arquite- casa de uma família seleciona- as dúvidas, além de trazerem tura rica em prédios antigos e da pela agência, após foram pa- na bagagem um belo currículo, novos, onde neva e, também, lu- ra o apartamento que dividiam a fim de conseguir melhores gar onde é cultuado o dia de São com colegas do curso de inglês oportunidades aqui no BraPatrício, cultuado na língua in- onde estudaram por seis me- sil. Os outros seis meses foram aproveitados para glesa de San Patrick. conhecer lugares como No dia de São Patría exposição dos artiscio, todos se vestem de tas do museu de cera de verde e fazem festas paMadame Tussauds, a cira comemorar o famoso Nádia Lima nemas e parques. Tamsanto do trevinho ver-

“Conhecer outro país é uma experiência incrível!”

bém trabalharam como babás nesses seis meses para, antes de voltarem, fazerem um tour. Elas conheceram: Ibiza, Barcelona, Edinburgo, Atenas, Roma, Milão, Paris, Amisterdan, Bruxelas, Londres e a romântica Veneza. Após dois meses da viagem, elas já sonham fazer uma nova, mas agora com destinos diferentes. Já deram até uma pista: México ou Nova York.

E que tal saber o que elas têm a dizer sobre a viagem?

Nádia Lima: “Conhecer outro país é uma experiência incrível. Dublin não foi diferente, lá eu melhorei meu inglês, através do curso e também conheci pessoas de várias partes do mundo, com algumas a experiência de conviver foi tão gratificante, que me despertaram o desejo de conhecer seu lugar de origem como o Japão e o México”.

Paula Lopes: “Considero essa viagem como algo muito importante em minha vida. Fui para aprender e conhecer algo novo e diferente do que vivi no Brasil. O curso de inglês foi maravilhoso, me ajudou a melhorar significativamente meu inglês, conheci pessoas legais de várias culturas, dividi apartamento com alguns e aprendi a me virar sozinha, pois estava longe da minha família. Os lugares que visitamos são incríveis, os que mais gostei foram Veneza, Edinburgo e as praias paradisíacas de Ibiza.


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Da síndrome ao bem-estar

Saúde 13 Foto: Cristine Loureiro

Sem motivo aparente, você sente medo que algo de ruim aconteça? Têm medo de perder o controle sobre si? Sudorese nas mãos? Tremor nas pernas? Esses sintomas podem ser sinais da Síndrome do Pânico ■■ Cristine Kleinert Loureiro ■■ Luciana Teló Piccoli

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síndrome do pânico é O psicólogo explica que é funum tipo de transtorno damental que o paciente tenha de ansiedade e a cau- controle da respiração, relaxe, sa é desconhecida. Os maneje imagens mentais e consintomas normalmente são ta- siga perder o medo. A hipnoquicardia, sudorese nas mãos e se é uma técnica que pode ser no corpo, enjoos, visão turva e aprendida e praticada em casa tremor nas pernas. Conforme o pelo paciente, conforme explipsicólogo Benomy Silberfarb, ca Benomy. Ele observa que a os sintomas surgem para avi- hipnose é um tratamento para sar que o corpo está em perigo fins de relaxamento e não para e emitir aviso para fugir da situ- regressão. “A hipnose é 100% ação. O psicólogo explica que o consciente. Não existe cura patranstorno é incurável, mas com ra a ansiedade, o que existe é tratamento não causa riscos físi- o controle. Através da hipnose cos, apesar de os pacientes pro- podemos encontrar o caminho curarem os hospitais com medo certo para auto-controlar a ande enfartar, pois a sensação é siedade, a Síndrome do Pânico e demais causas que afligem as idêntica a um enfarto. Os pacientes, em tratamento, pessoas que convivem com espreferem não se identificar, mas te mal”, explica o profissional. Conforme a paciente, E.M, aceitam falar sobre as dificuldaempresária, 42, o medo de mordes enfrentadas. A advogada, de 28 anos, A.F, afirma que perdeu rer, enfartar e deixar as pessoas o controle várias vezes por não ainda fazem parte de sua vida, saber lidar com os sintomas. “O mas não são mais constantes. medo que eu sentia aumentava Ainda em tratamento, a paciente cada vez mais. Tenho medo de se auto-monitora com as técnialguma coisa que não sei o que cas que aprendeu durante as sesé”, conta. O medo e a inseguran- sões para controlar a ansiedade. ça cresciam a cada dia, lembra “Todos temos medo, mas têm de a advogada. A decisão de pro- ser adequado e não catastrófico curar ajuda surgiu quando es- como eu tinha. O meu psicólogo ➜➜ Psicólogo Benomy Silberfarb em uma de suas palestras gratuitas no shopping Bourbon Country tava andando pelo shopping e une hipnose com a terapia e isso demonstra as técnicas de hipnose cognitiva e relaxamento, que também são usadas em consultas teve a sensação de que estava me deixa mais segura, porque a pacientes com Síndrome do Pânico enfartando. Naquele momento, hoje eu tenho controle da situÉ o que aconteceu com a emocional, relata que se sentia que vê os outros melhores que resolveu procurar um cardio- ação”, afirma. Uma das causas da Síndro- a si próprias, e faz com que as estudante universitária de bio- mal, vulnerável em relação ao logista. O profissional indicou que a paciente procurasse um me do Pânico é o estresse. O mesmas vejam o mundo sendo logia, S.D, 20. Ela conta que le- namorado e com a família, senespecialista da área psicológi- psicólogo Benomy afirma que ameaçado pelo futuro. Para elas, vava uma vida normal, porém tia que os outros eram melhores ca. Atualmente, está em trata- o estresse é o estado crônico da o futuro está distante e muitas teve uma grande transformação que ela, porém, hoje afirma com mento e faz sessões de hipnose ansiedade. Ele produz hormô- vezes acabam se iludindo, cain- que mudou tudo. O lado profis- segurança que está confiante e nios como o cortisol, que faz do em uma cilada chamada de- sional foi prejudicado e sentia que aprendeu ter controle das sicognitiva. O método de hipnose cog- baixar a imunidade das pessoas pressão. As consequências são vontade de largar tudo o que fa- tuações que regem sua vida. E nitiva inicia com o teste de afetadas pela síndrome do pâni- falta de auto-estima, de confian- zia, principalmente os estudos, recomenda: “quando temos algo avaliação de sensibilidade do co, transformando o mundo em ça e, com isso, acabam deixan- pelo simples fato de ter medo e de errado em nossas vidas depaciente, e tem como objeti- uma ameaça. A depressão, se- do de fazer aquilo que gostam não conseguir chegar até o fi- vemos procurar um especialista vo conhecer se o paciente tem gundo ele, também é uma alia- e desistem dos seus ideais e das nal. Insegurança? Medo? De tu- no assunto para que possamos do um pouco. Quanto ao lado nos sentir melhores”. facilidade de entrar em transe. da e parceira da pessoa ansiosa suas perspectivas de vida.


14 Comportamento

Porto Alegre, dezembro de 2012 Jornal do curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodista do IPA

Sua vida na TV? De acordo com professores, pesquisadores e admiradores, por não serem fatos reais, mas sim apenas uma representação da vida em que vivemos, as obras de ficção despertam mais interesse no público, funcionando como uma ferramenta para fugir da realidade.

■■ Felipe Valli ■■ Edye

O

clima noturno predomina. Com a maioria das pessoas já em casa, descansando de um dia árduo de trabalho, as principais emissoras de televisão preparam o seu horário nobre. Dentre os ingredientes, prevalecem alguns noticiários e várias telenovelas. Das 18h até as 23h não existe intervalo, levando em conta que alguns canais colocam suas novelas durante os telejornais da concorrência. Na principal emissora do Brasil, abrindo a faixa nobre, o enredo é simples e melosamente

A inspiração para criar as cenas, muitas vezes, vem daqu i lo que está na boca do povo. “Pelo que já ouvi de várias palestras com roteiristas, eles procuram buscar no murmurinho das ruas o que está sendo motivo de conversas por parte da sociedade. E eis aí o tema”, afirma a doutora em Comunicação Maria Aparecida Baccega, pesquisadora do Núcleo de Pesquisa em Telenovela da Universidade São Paulo (USP). O sociólogo Max Marcel explica que muitas vezes o autor parte de situações reais e cria, em cima, uma obra de ficção. “Outras vezes estas situações reais se encaixam em obras de ficção que o público recebe desde a infância, como os contos de fadas, por Coragem, exemplo”, afirma. Na sua avaque con- liação, a ficção permite tudo: seguiu ba- “As pessoas podem sonhar, sute r o Ibope perar suas frustrações e limites”. O sociólogo acredita que o da final da Copa do Mundo no gosto pela ficção se explica porque a realidade humana é mais México.

romântico, muitas vezes num ambiente de época ou regional. Na sequencia, o espectador recebe um produto geralmente cômico e que possa atingir a família inteira. É a partir das 21h, horário que a criançada deveria estar sendo preparada para dormir, que as famílias esquecem os deveres e estacionam na frente da TV para assistir as tramas que também envolvem dramas com pitadas de sexo e violência, levando a audiência a picos iguais ao atingido pela novela Irmãos

dura e decepcionante e a ficção traz um remédio para esta questão. “A m o c i n h a pobrezinha pode se casar com o príncipe, pode ser amada pelo príncipe. Isso é ficção. Se voltarmos na Idade Média, o príncipe jamais casa com a mocinha se ela não for da nobreza também. A realidade é diferente”, argumenta. O estudante Airan Albino concorda. Para ele, a novela pode ser uma fuga da realidade: “Às vezes, a realidade de algumas pessoas não está muito boa e a novela é uma fuga”. Airan completa dizendo que a televisão é um momento de lazer, desfrutado pelas pessoas após passar várias horas trabalhando em dois ou três empregos. Além de remédio para as dificuldades do dia a dia, a novela também interfere na identidade dos brasileiros. De acordo com Baccega, “as telenovelas são produtos culturais de extrema importância. Colaboram, inclusive, para a constituição da identidade nacional”.

“As pessoas podem sonhar, superar suas frustrações e limites”.

Novelas de maior repercução nas redes sociais 1° Lugar

2° Lugar

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Porto Alegre, dezembro de 2012 Jornal do curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodista do IPA

Comportamento 15

Aborto é direito ou crime?

Pelas modificações propostas no Código Penal, o aborto continuaria a ser crime, mas com pena reduzida de até cinco para no máximo dois anos de cadeia

Foto: Arquivo Pessoal

■■ André Freitas ■■ Marilia Cancelli

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Código Penal brasileiro já tem mais de 70 anos. Foi decretado em 1940. Com a mudança de cultura, de hábitos e a modernização da sociedade – em diversos aspectos -, urge também a alteração do Código. O decreto foi revisado e a proposta deve ser votada ainda em 2012 pelo Congresso Nacional. Algumas modificações propostas no novo texto estão causando alvoroço. Entre elas, a mudança no tópico que trata sobre aborto. Pela proposição, o aborto continuaria a ser crime, mas com pena reduzida de ➜➜ Nanda: “amo a minha filha completamente” até cinco para no máximo dois anos de cadeia. E poderia ser admitido em mais casos: se a a questão financeira é um dos de, ela acrescenta: “a mãe é do- cabacinho, sem orientação, pas- o Ministério da Saúde, uma em na do seu corpo, mas não é dona sou o dia em jejum. No mesmo cada sete mulheres brasileiras gravidez for resultado do uso de principais condicionantes”. Nanda não é a única que pen- do corpo de seu filho ou filha. dia, foi atendida em uma mater- já fez aborto. A operação, getécnicas de reprodução assistida sem consentimento; quando sa assim. A descriminalização e Todas as pessoas que existem e nidade pública. Para ela, foi uma ralmente realizada em clínicas o feto tiver anomalias graves e legalização do aborto é pauta de se dizem donas do próprio cor- péssima experiência, ninguém sem controle, pode resultar em incuráveis que inviabilizem a diversos movimentos mundiais. po o são porque antes seus pais chegava perto para perguntar se mortes. As complicações e os vida fora do útero – desde que Militante da causa, a jornalista lhes deram o direito de nascer”. estava bem. Por diversas vezes, procedimentos não acabados leFlavia considera que o de- ouviu enfermeiras dizerem: ‘na vam muitas mulheres aos hospiatestadas por dois médicos; e, o Flavia Alli, defende a descrimiponto mais polêmico, por vonta- nalização e legalização do aborto, bate do aborto trata sobre uma hora que ela fez, não chorou e tais. A médica e diretora da ONG de da mãe, até a 12ª semana de mas ressalta que o mesmo “não necessidade humana colocada nem gritou, e a criança que ela brasileira Ações Afirmativas em gravidez, se um médico ou psi- deve ser a primeira opção a ser na sociedade que vivemos, ao carrega nem pode se defender. Direito e Saúde (AADS), Leicólogo constatar que a mulher trabalhada quando a mulher de- pé que Vanessa acusa de irres- Deveria aguentar a dor calada’. la Adesse, afirma que, segundo não tem condições psicológicas cide. Ela deve ter a opção de es- ponsáveis os pais que não que- “Não nasci para ser mãe e não os dados do Banco de Dados do colher se pode e quer levar a rem encarregar-se dos filhos, tenho condições de criar”, re- Sistema Único de Saúde (DAde arcar com a maternidade. Fernanda Lima, 24, anos, es- gravidez adiante conforme suas de uma cultura desleixada que sume. Sobre a decisão de abor- TASUS), os abortamentos intudante universitária, ao desco- condições econômicas e sociais”. nos levou a banalizar o que é tar, Clarisse acredita que cada completos são responsáveis por No outro extremo de pen- importante para esconder infi- mulher tem um motivo. “Não cerca de 230 mil internações por brir que estava grávida, decidiu, junto ao companheiro, que iria samentos está a cristã Vanes- delidades, escândalos e vergo- sinta-se culpada, pois quem vai ano só na rede pública. Para a obstetra Márcia*, interromper a gravidez. Por uma sa Reis, 26 anos, que coloca o nhas. Tudo isso sendo colocado falar mal nem vai cuidar, nem série de questões, acabou de- aborto no mesmo patamar que à frente do direito a viver, que vai dar de comer. Ninguém sen- “aborto não deveria ser tema de te prazer em abortar, sente a ne- polícia, porque é uma questão morando demais para procurar o homicídio doloso, pois con- essa menina ou menino tem. Clarisse*, de 19 anos, é sol- cessidade de que precisa fazer”. de saúde pública”. Na opinião da uma clínica e quando o fez já sidera que as únicas coisas que O aborto no Brasil é uma médica, o impacto mais grave estava com cerca de 16 semanas diferenciam o adulto e o feto são teira e sem filhos, realizou um de gestação. Por isso, a clínica tempo e nutrição. Sobre liberda- aborto tomando chá de arruda e realidade clandestina. Segundo da criminalização recai sobre as mulheres com pior situação negou-se a realizar o procedisócio-econômica. “Elas correm mento. Nanda é mãe de Clara, maior risco de sofrerem sérias de um ano, e conta: “Hoje amo consequências para a saúde ou a minha filha completamente, Como é hoje – O aborto só é permitido em casos de risco de vida para a mãe, em até a morte decorrente da prátiindiscutivelmente, mas foi um casos de estupro ou de fetos anencéfalos, segundo o Art. 128 do Código Penal - Decreto ca do aborto ilegal, pois nessas amor construído, não nascido Lei 2848/40. condições geralmente é realizaem mim desde o momento da Como ficaria – Caso as alterações do Código Penal sejam aprovadas, além do já permitido, passa a admitir se a gravidez for resultado do uso de técnicas de reprodução do de forma insegura e precáconcepção”. Mas mantém sua assistida sem consentimento; quando o feto tiver anomalias graves e incuráveis que ria”, explica. posição: “Certamente teria reinviabilizem a vida fora do útero – desde que atestadas por dois médicos; e por vontade alizado aborto se ele fosse leda mãe, até a 12ª semana de gravidez, se um médico ou psicólogo constatar que a mulher * Os nomes foram trocados galizado, mas, principalmente, não tem condições psicológicas de arcar com a maternidade. para preservar as identidades se fosse provido pelo SUS, pois

O que diz a legislação brasileira


16 Comportamento

A importância do esporte para pessoas com deficiência

Porto Alegre, dezembro de 2012 Jornal do curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodista do IPA

FOTO: DIVULGAÇÃO IATE CLUBE GUAIBA

Muitos são os benefícios proporcionados pelo esporte, entre eles a autoestima e a autoconfiança ■■ MATEUS ÍTOR CHARÃO

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A escolha de uma modalidade esportiva pode depender em grande parte das oportunidades que são oferecidas às pessoas com deficiência, de suas limitações, da facilidade nos meios de locomoção e de transporte, de profissionais preparados para atendê-los, entre outros fatores. A jornalista recém-formada, Daiane Fagundes Bochi, que é cadeirante, encontrou uma alternativa para começar a pra- ➜➜ Barco com vela adaptada é usado por pessoas com deficiência praticarem o esporte ticar esporte. “Comecei a me interessar quando fiz amizade com o instrutor Anderson Pai- “O esporte é muito importante ralímpico possa crescer muito para a prática de modalidades xão, do Iate Clube Guaíba, que e acredito que tudo é possível, no Brasil: “o governo federal paradesportivas. Acredito que trabalha com um projeto de ve- mesmo dentro das minhas limi- tem viabilizado recursos fi- para 2014 o Brasil já terá um la adaptada. Tive a oportunida- tações, para realizar aquilo que nanceiros bem expressivos pa- aumento expressivo no númede de andar num bote e poder desejo fazer ou praticar”, expli- ra o desenvolvimento do esporte ro de pessoas com deficiência sentir a sensação de liberdade ca Daiane. Segundo o professor em geral, incluindo o adapta- praticantes de atividade física e emoção, fazendo um esporte de Educação Física e Fisiotera- do. Além disso, as associações e esportes”. Diante disso, pode-se dizer que proporciona a melhoria do pia do IPA, Marcelo Morganti de pessoas com deficiência e Sant’Anna, “todas as pessoas as federações esportivas estão que a inclusão social das pesmeu bem estar”. No aspecto psicológico, o es- têm o direito de trabalhar, de ter captando estes recursos atra- soas com deficiência significa porte melhora a autoconfiança e seu espaço de lazer, de buscar vés da elaboração de projetos torná-las participantes ativos e a autoestima, tornando as pes- seu desenvolvimento profissio- sociais, divulgando e buscan- assegurando o respeito aos seus soas mais otimistas e seguras nal e humano, enfim, de buscar do a participação das pessoas direitos como cidadãos. para alcançarem seus objetivos. a sua felicidade”. E o esporte Divulgação: Iate Clube Guaíba pode ser o caminho para isso. FOTO: MATEUS ÍTOR CHARÃO Um exemplo sobre a importância do esporte para as pessoas com deficiência é o resultado obtido pelo Brasil nas últimas Paralimpíadas, realizadas em Londres. Nos jogos, o país conseguiu um recorde histórico no quadro geral de medalhas ocupando a sétima colocação no ranking mundial e conquistando 21 medalhas de ouro, quatorze de prata, oito de bronze totalizando 43 medalhas no quadro geral. ➜➜ Luis Fernando Silveira, Rafael Rossoni, Anderson Paixão, Roni Silva, O professor Marcelo Mor- Alexsandro Bittencourt, Éder Renato e Rafael Pereira Corrza, ganti acredita que o esporte pa- parceiros no Iate Clube em busca da inclusão ➜➜ O instrutor Anderson Paixão em passeio de bote com Daiane Bochi

á muitos anos as pessoas com deficiência lutam para garantir o direito de viver com igualdade na sociedade. O esporte aparece como uma grande opção. A prática de atividade física por pessoas que têm algum tipo de deficiência, seja ela visual, auditiva, mental ou física, pode proporcionar, dentre os benefícios, a oportunidade de testar limites e potencialidades. Também pode prevenir doenças paralelas à deficiência e promover a integração social do indivíduo. “Quando temos uma deficiência, em muitos momentos nos sentimos bloqueados por nossos limites, mas o esporte nos mostra que eles não são tão graves assim, pois acabamos fazendo coisas que nunca imaginamos que poderíamos fazer”, comenta a estudante de Direito, Rute Mello, portadora de deficiência visual, Miss Deficiente Visual Destaque 2012 e praticante de barco com vela adaptada.


Esportes 17

Porto Alegre, dezembro de 2012 Jornal do curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodista do IPA

O equilíbrio entre o corpo e a mente

Experiências em clubes gaúchos como Inter e Grêmio demonstram a importância do trabalho psicológico dentro e fora de campo

Fotos: Roberto Valle

■■ Roberto Valle

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om a maior profissionalização dos clubes de futebol, cresce o número de itens que são levados em consideração para a preparação dos atletas, um deles é o trabalho psicológico realizado com os jogadores. Grêmio e Internacional utilizam o auxílio de psicólogos desde as categorias de base para orientar os jovens dentro e fora de campo, esse auxílio pode ser decisivo para momentos importantes da carreira, como transação envolvendo grandes valores financeiros, problemas extra-campo e até mesmo em jogos difíceis. No Grêmio, há quase dez ➜➜ Goleiro Marcelo Grohe: “qualquer desequilíbrio pode fazer a diferença” anos o goleiro Marcelo Grohe recebeu apoio de profissionais especializados, que ficam a dis- psicólogo contrato pelo clube. quanto no lado pessoal”, afirposição dos atletas nas divisões O goleiro Muriel, oriundo da ma o goleiro. de base. O novo camisa um tri- base colorada, destaca a imMuriel já passou por situcolor ressalta a importância des- portância deste trabalho para ações adversas na carreira, no se trabalho com os garotos. “A os jovens recém chegados ao começo, considerado uma grancompetitividade no futebol mo- clube. “Ajuda principalmen- de promessa, foi emprestado paderno é enorme e trabalhar o as- te os mais jovens, alguns que ra vários clubes para adquirir pecto psicológico é importante. vem de fora e moram, às vezes, experiência, o último deles a Hoje é importante ter atenção na concentração ou com outros Portuguesa no ano de 2010, reem todas as áreas que envolvem companheiros. É uma pessoa tornando para o Inter em 2011, o esporte, e qualquer desequi- que dá um suporte para os ga- quando se firmou como titular líbrio pode fazer a diferença. E rotos entenderem algumas coi- da equipe principal. Mas nenhufalo desequilíbrio dentro e fo- sas, aprenderem a se conhecer ma dessas idas e vindas tirou ra de campo”, afirma Grohe. para ter um desempenho me- a vontade de vencer do arqueiApós a saída de Victor, nego- lhor tanto no lado profissional ro colorado, que contou com o ciado com o Atlético Mineiro, Marcelo Grohe tornou-se titular absoluto da meta gremista, porém o jovem goleiro afirma que desde 2006 vem se preparando para esta oportunidade. “Na final do Gauchão de 2006, eu tinha 19 anos, era muito jovem e estava diante do maior clássico do estado e me preparei muito emocionalmente para os dois jogos”, completa o jogador.

apoio da família para superar o seu maior problema até agora na carreira, em 2008, quando um surto de hepatite A contaminou o Beira-rio e o tirou dos gramados por mais de um mês. Para o ex-jogador e auxiliar técnico, Emerson da Rosa, o controle emocional é primordial na formação de um atleta. Segundo Emerson, os jogadores em começo de carreira estão muito expostos às “armadilhas” do futebol. O auxiliar gremista afirma também que uma equi-

Suporte familiar como “fortaleza mental” No lado colorado, a situação é a mesma, jovens atletas das categorias de bases recebem auxílio constante de um ➜➜ Muriel conta com o apoio da família para superar desafios que a carreira apresenta

pe de alto nível deve sempre ter suporte psicológico. “Importante o trabalho psicológico para manter o grupo motivado. São muitos compromissos e a parte psicológica precisa estar presente na hora em que o cansaço físico bater”, enfatiza. Segundo Muriel, para a sua posição o atleta necessita de um reforço mental, pois qualquer erro pode ser prejudicial à equipe, e o fator psicológico é que forma um time bem estruturado e vencedor. “Grande parte da força de uma equipe é mental. É um jogo coletivo então é importante ter a consciência e a fortaleza mental em campo para trabalhar como time e ajudar os companheiros. Para o goleiro, que é o meu caso, é também fundamental porque precisamos estar sempre em um nível alto de concentração, já que precisamos estar prontos e preparados para o próximo lance”, finaliza. Para a psicóloga Ana Hertzog Ramos, o acompanhamento feito por profissionais da psicologia com os jovens atletas é essencial para orientar e acolher estes jogadores, sendo que muitos são garotos de, em média, 13 ou 14 anos, oriundos de famílias humildes. “É importante para fazer com que ele entenda o porquê de estar ali. Também serve como espaço de escuta, alguns precisam de orientação vocacional, bem como para sentirem-se acolhidos”, constata a psicóloga. Com a profissionalização cada vez mais avançada e atenta aos passos dos futuros craques, Grêmio e Internacional seguem formando jogadores de qualidade, além de manter o suporte necessário para os atletas profissionais seguirem com um rendimento de alto nível, que poderá render muitos títulos e milhões de reais aos cofres dos clubes. Grandes goleiros e pratas da casa, Marcelo Grohe e Muriel são exemplos deste trabalho psicológico que passa muitas vezes despercebido por milhares de torcedores.


18 Cultura

Porto Alegre, dezembro de 2012 Jornal do curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodista do IPA

Arte de rua: o palco a céu aberto

Centros urbanos viram cenário de apresentações culturais e reúnem artistas de diferentes estilos ■■ Gisele Gonçalves

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Fotos: Gisele Gonçalves

ntre os ruídos corriqueiros do Centro da Capital, um som chama a atenção de quem circula pela movimentada Esquina Democrática. Logo, os olhares procuram encontrar de onde vêm aqueles miados desesperados, de um suposto felino em apuros. Em seguida, ouvem-se batidas, precedidas de gritos de um homem, que aparentemente surra seu bichano. Os curiosos ras, eventos e outros, e chega a aproximam-se, alguns desconfazer dez apresentações por mês. fiados, outros já sorridentes, em A venda dos apitos, que reproum movimento harmônico, se duzem o miado do gato é parte reúnem em círculo, para assisimportante de sua renda. tirem ao desfecho da história. O Quando questionado sobre a que inicialmente parecia uma possibilidade de trocar de procena de crueldade contra o ga- ➜➜ Homem do gato aproveita evento, como a Expointer 2012, para divulgar seu trabalho fissão, Feliciano explica: “Já fui tinho, logo se transforma num convidado diversas vezes, mas espetáculo de rua, protagonizados por Feliciano Falcão, vul- RS, Rafael Balle, não dispõe com a ajuda de Feliciano para após o início do homem do gato, nenhuma proposta foi tentadogo homem do gato, e o próprio desse levantamento. “Isso de- vender seus apitos. “Na terceira por volta do ano de 1986, que ra e financeiramente à altura do felino, ou pelo menos o que se penderia da sensibilidade do apresentação, ele me disse que Feliciano chega ao Rio Grande que ganho com meus shows e supunha ser um. Adiante, uma produtor cultural, responsável estava cansado e iria parar. En- do Sul, onde vive até hoje. O palestras motivacionais”. Diferente da posição conmelodia disputa a atenção dos pelo cadastro do projeto, pois tão perguntei: “E se eu fizer um artista mantém-se exclusivaandantes do Centro. Não existe na inclusão não há o que de- pouquinho?”. Ali começou o ho- mente de sua arte, além dos es- quistada por Feliciano, Zé da letra, somente os sons do vio- fina o artista como de rua ou mem do gato. Isso ocorreu entre petáculos de rua, cada vez mais folha, com 70 anos, vive das raros, Feliciano faz shows fe- colaborações daqueles que aslão, pandeiro e de um terceiro não, o que aparece no cadas- os anos de 1975 e 1976. instrumento ainda indefinido. tro é a descrição da atividade Aproximadamente dez anos chados, para empresas, em fei- sistem as suas apresentações na ou da peça”, argumenta Rafael. rua. “Há pouco tempo eu moA sonoridade desconhecida narava nas ruas, hoje moro sozida mais é que o som do atrito “É uma coisa implícita, pouco nho em uma pensão no Centro”, dos lábios de um cantor, com objetiva e o sistema não teria relata Zé. a folha de uma árvore. É isso como mapear isso, não tem coO músico profissional comesmo, José da Costa, ou Zé mo ter indicadores”. meçou a tirar o som das folhas da Folha, como é artisticamenArtistas urbanos com nove anos, em São Valente conhecido, produz músicas tim, sua cidade de origem. Zé a partir da folha da árvore de da folha interage com o público João Bolão, mas garante que alFeliciano Falcão é natural de a partir de suas canções, entre cança a sonoridade com qual- Recife, tem 56 anos e atua em clássicos gaúchos, sertanejos e quer folha. Porto Alegre, como o homem do hinos de times de futebol, esArtistas como Feliciano Fal- gato desde 1987. Formado em te último motivo de simultâcão e José da Costa, pertencem artes cênicas pela Escola de Teaneas vaias e aplausos. Porém, ao movimento cultural dos ar- tro Dirceu de Mattos, no Rio de a alegria demonstrada através tistas de rua. Dois artistas, em Janeiro, começa a vida artística da música se transforma num meio a uma multidão de tantos na capital fluminense, apresenolhar triste, quando o assunto outros nomes. Para comprovar tando-se no Largo da Carioca, é sua vida. Zé desabafa: “Poutal teoria, basta circular pelos reduto de artistas no Rio. cas pessoas consideram o que pontos de grande concentração “Eu trabalhava na Festa de faço uma arte, elas não sabem de pessoas, para encontrá-los Nossa Senhora da Penha, fazeno que é cultura, poucas valoriem plena atividade. do mágicas, quando de repente zam”. Contudo, encara a faciEntretanto não existem da- eu vi um cara metendo o pau lidade de tirar som das folhas dos que revelem quantos ar- num gato dentro de uma caixa, como um dom divino e, mestistas de rua atuam em Porto eu fiquei fascinado”, relata Femo com todas as dificuldades, Alegre. A Secretaria de Cul- liciano. “Olhei para o cara e ri afirma que não troca o que faz tura da capital, segundo o ges- com ele”. O artista era Idenílpor nada. tor executivo do Pró Cultura son de São Paulo, que contou ➜➜ Zé da folha e seus inseparáveis instrumentos


Cultura 19

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A arte do

Fotos: Divugalção

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nascimento do grafite na idade contemporânea ocorre em Nova Iorque nos anos 70, em áreas como o Bronx e Brooklyn. Adolescentes residentes destas áreas passam a escrever seus apelidos (tags) e o nome da rua onde moravam nas paredes. “Era puramente demarcação de território”, comenta a professora de artes visuais e pesquisadora do grafite, Luiza Abrantes. O grafite surge de forma paralela ao hip-hop (cultura de periferia), originária dos guetos americanos, que une o RAP (música muito mais falada do que cantada), o break (dança robotizada) e o grafite (arte plástica do movimento cultural) “A street art está sem dúvida ligada à cultura do hip-hop, ligada à cultura suburbana”, diz Luiza.

No Brasil, segundo a pesqui- primeiro momento aplicamsadora, os indícios de pichação, -lhe uma repreensão, seguida vêm desde a época da ditadura por uma detenção no Hospital militar, quando cidadãos des- Espírita psiquiátrico. Após sucessivas intempéries contentes escreviam palavras de ordem e também letras de vividas por Toniolo, que culmimúsicas para protestarem. As- nam no ano de 1982 com sua sim como no país, a pichação em candidatura a deputado estaPorto Alegre começa no trans- dual “barrada arbitrariamente”, segundo ele próprio, inicia na correr da ditadura militar. No auge da ditadura militar, capital o que chamou de “pichaem 1972, o então policial civil ção agressiva”. O precursor da Sérgio José Toniolo, começa a pichação em Porto Alegre passa escrever nos jornais, na colu- a pichar frases ofensivas contra na do leitor, cartas dirigidas à a justiça e a espalhar sua assisegurança pública, contendo natura por toda a cidade. A história é contada no doduras críticas contra o sistema, ao qual ele próprio perten- cumentário, Quem é Toniolo? Para Luiza Abrantes, “Tocia. O conteúdo de suas cartas repercutiu de forma negativa niolo é sem dúvida um grande ante seus superiores, que num marco no grafite da capital”.

➜➜ Pintura de Basquiat, primeira forma de grafite a ser considerada arte ➜➜ Grafiteiro Lucas Vernieri

➜➜ Toniolo é o precursor do grafite na capital

Incentivos e fiscalização A arte de rua, assim como qualquer outra manifestação cultural, é incentivada na capital gaúcha por órgãos ligados à Secretaria Municipal de Cultura ou do Estado. Segundo Rafael Balle, o programa estadual Pró Cultura abrange toda a forma de expressão artística, porém os projetos para serem aprovados precisam ter méritos, relevância cultural e, o principal, público. “Não adianta ter 1% de demanda e querer 50% do bolo”, compara Rafael. Além de financiar os projetos culturais aprovados, o Pró Cultura RS também oferece aos artistas capacitações gratuitas e oficinas de

qualificação. Na capital as apresentações de artistas de rua ocorrem em diferentes espaços públicos, sendo que cada local, segundo a sua natureza, é fiscalizado por um órgão do município. “Se a apresentação for numa Praça ou Parque, o agente fiscalizador será a Secretaria do Meio Ambiente do Município (Smam), porém, se o evento não tiver uma grande estrutura, com cenário e sonorização, não é necessária autorização prévia”, exemplifica o coordenador de Manifestações Públicas da Secretaria de Cultura do Município, Silvio Leal.


20 Cultura

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Grafiteiros ou pichadores? E xistem duas frentes que se encontram num centro de polêmica que envolve o movimento do grafite e a manifestação através da pichação. O grafite é conceituado como arte de rua e tem como objetivo enaltecer espaços públicos, tornando-os verdadeiras galerias de arte a céu aberto. Por outro lado, a pichação não passa de poluição visual e vandalismo contra esses mesmos espaços públicos. O tema é controverso, e identificar aspectos que diferenciem um grafiteiro de um pichador não é o objetivo do artista que pertence a esse movimento. Para Lucas Vernieri ou Lucas Anão, como é conhecido no grafite, é complicado dizer a diferença entre um e outro. “Muitas vezes, o que pensam que é pichação é apenas o início do artista. É a forma dele começar a riscar, buscar sua identidade. Acho que não tem como criminalizar, condenar é muito mais fácil do que trabalhar o problema”, diz Lucas. O começo de Lucas foi pela pichação, em sua adolescência numa época de gangues e torcidas orga-

nizadas. Tempos depois, conheceu o grafite, através do movimento Hip Hop, onde começou a grafitar com o objetivo de se tornar um artista. Para Lucas não há distinção entre o grafite e a pichação. “Eu nunca entendo por que separar as duas coisas. Aprendi a mexer com o spray fazendo pichação, então não gosto de separar e sim de explicar isso tudo”, desabafa Lucas. Segundo a professora Luiza, o grafite sempre se mostrou à margem da sociedade e também do sistema da arte, mesmo quando o americano Jean-Michel Basquiat, primeiro artista do grafite a expor em uma galeria de arte, adentrou e ganhou seu espaço nesse cenário. “Estar à margem não é só não se subordinar às regras do todo, mas também criar as suas próprias regras. Isto fica claro principalmente quando falamos da pichação,

que além de ter suas regras, não é destinada ao público, por isso nem sempre compreendemos os escritos”. Para a pesquisadora, a ideia do artista de rua é de fato parecer um transgressor, e afirma: “a marginalização não me parece um ponto negativo”. Para Lucas, a questão do vandalismo precisa ser estudada e compreendida, pois, segundo ele, “vivemos num mundo onde nos impõem coisas através dos meios de comunicação, e o que levamos ao público nas ruas é livre e isso não tem preço”, acrescenta Lucas. O tema é polêmico, e a lei independente das opiniões é o que prevalece, e no Brasil, a pichação é considerada vandalismo e crime ambiental nos termos do art. 65 da Lei nº 9.605/98 (Lei dos Crimes Ambientais). Entretanto, a lei em 2011 sofre alterações, descriminaliza o ato de grafitar, desde que a manifestação artística tenha como objetivo valorizar o patrimônio público ou privado e, que tenha o consentimento do proprietário no caso de bens privados, e a autorização do órgão competente quando referir-se ao bem público.

“Muitas vezes, o que pensam que é pichação é apenas o início do artista. É a forma dele começar a riscar, buscar sua identidade. Acho que não tem como criminalizar, condenar é muito mais fácil do que trabalhar o problema”, diz Lucas.


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