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MARIA FIRMINA DOS REIS
from Revue Cultive n° 14
by Cultive
nasceu em São Luís do Maranhão, em 11 de março de 1822 . Morreu ano dia 11 de novembro de 1917 em Guimarães, no mesmo estado. Ela é considerada a primeira romancista do Brasil. Por ser mulata, Firmina dos Reis não pôde frequentar a escola pública. Ela recebeu sua educação principalmente de sua tia e tio Sotero dos Reis. Tornou-se instrutora e fundou a primeira Escola Mista do Maranhão, que foi fechada logo após sua inauguração.
Juventude e família
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Maria Firmina dos Reis nasceu na Ilha de São Luís, no Maranhão, em 11 de março de 1822, sendo batizada somente no dia 21 de dezembro de 1825, em virtude de uma enfermidade nos primeiros anos de vida. Segundo o registro, Maria Firmina foi batizada na freguesia de Nossa Senhora da Vitória, em São Luís do Maranhão. Seus padrinhos o capitão de milícias João Nogueira de Souza, e Nossa Senhora dos Remédios, nem sua paternidade, nem a data do nascimento foram informado Em 25 de junho de 1847, visando a inscrição no concurso público da cadeira de primeiras letras da vila de São José de Guimarães, então apenas possível para a idade mínima de 25 anos, Maria Firmina solicitou nova certidão de justificação de batismo, na qual informou a data de nascimento como 11 de março de 1822, e o nome de sua mãe, Leonor Felipa, mulata forra, sendo o processo concluído em 13 de julho desse ano.
Leonor Felipa havia sido escrava do comendador Caetano José Teixeira, falecido em 1819, grande comerciante e proprietário de terras na vila de São José de Guimarães, proprietário de uma companhia comercial com avultadas transações no fim do Tanto o registro de batismo como a certidão de 1847 são omissas em relação ao nome do pai de Maria Firmina, o qual apenas é declarado no seu registro de óbito, datado de 17 de novembro de 1917, com o nome de João Pedro Esteves. João Pedro Esteves, homem de posses, era sócio do antigo dono da mãe de Maria Firmina, a escrava Leonor Felipa.
Segundo algumas fontes, seria prima do escritor maranhense Francisco Sotero dos Reis por parte da mãe, embora se desconheça com que fundamento e em que grau.
Em 1830, mudou-se com a família para a vila de São José de Guimarães, no continente. Viveu parte de sua vida na casa de uma tia materna mais bem situada economicamente. Em 1847, concorreu à cadeira de Instrução Primária nessa localidade e, sendo aprovada, ali mesmo exerceu a profissão, como professora de primeiras letras, de 1847 a 1881. Maria Firmina dos Reis nunca se casou.
Carreira
Em 1859, publicou o romance “Úrsula” considerado o primeiro romance de uma autora do Brasil. Em 1887, publicou na Revista Maranhense o conto «A Escrava», no qual se descreve uma participante ativa da causa abolicionista.
Aos 54 anos de idade e 34 de magistério oficial, anos antes de se aposentar, Maria Firmina fundou, em Maçaricó, a poucos quilômetros de Guimarães, uma aula mista e gratuita para alunos que não podiam pagar: conduzia as aulas num barracão em propriedade de um senhor de engenho, à qual se dirigia toda manhã subindo num carro de boi. Lá, lecionava às filhas deste, aos alunos que levava consigo e a outros que se juntavam. A acadêmica Norma Telles classificou a iniciativa de Maria Firmina como «um experimento ousado para a época». Essa ação inovadora vai ao encontro das lutas das feministas brasileiras do final do século XIX que desejam a igualdade de ensino para meninas.
Maria Firmina dos Reis participou da vida intelectual maranhense: colaborou na imprensa local, publicou livros, participou de antologias, e, além disso, também foi musicista e compositora. A auto-
ra era abolicionista: ao ser admitida no magistério, aos 22 anos de idade, sua mãe queria que fosse de palanquim receber a nomeação, mas a autora optou por ir a pé, dizendo a sua mãe: «Negro não é animal para se andar montado nele.». Chegou também a escrever um «Hino da Abolição dos Escravos».
Descreveu-se, em 1863, como tendo «uma compleição débil, e acanhada» e, por conta disso, «não poderia deixar de ser uma criatura frágil, tímida, e por consequência, melancólica».Os que a conheceram, quando tinha cerca de 85 anos, descreveram-na como sendo pequena, parda, de rosto arredondado, olhos escuros, cabelos crespos e grisalhos presos na altura da nuca. Uma antiga aluna caracterizou-a como uma professora enérgica, que falava baixo, não aplicava castigos corporais, nem ralhava, preferindo aconselhar. Era reservada, mas acessível, sendo estimada pelos alunos e pela população da vila: toda passeata de moradores de Guimarães parava em sua porta, ao que davam vivas e ela agradecia com um discurso improvisado.
Morte
Maria Firmina dos Reis morreu, cega e pobre, aos 95 anos, na casa de uma ex-escrava, Mariazinha, mãe de um dos seus filhos de criação. É a única mulher dentre os bustos da Praça do Pantheon, que homenageiam importantes escritores maranhenses, em São Luís. «Meteram-me a mim e a mais trezentos companheiros de infortúnio e de cativeiro no estreito e infecto porão de um navio. Trinta dias de cruéis tormentos e de falta absoluta de tudo quanto é mais necessário à vida passamos nessa sepultura até que abordamos as praias brasileiras. Para caber a mercadoria humana no porão, fomos amarrados em pé e, para que não houvesse receio de revolta, acorrentados como animais ferozes das nossas matas, que se levam para recreio dos potentados da Europa.» Maria Firmina dos Reis, Úrsula.

No prólogo da obra, a autora afirma saber que "pouco vale este romance, porque escrito por uma mulher, e mulher brasileira, de educação acanhada e sem o trato e conversação dos homens ilustrados." Por trás dessa declaração de modéstia, a escritora revelou sua condição social: o fato de não ter estudado na Europa, nem dominar outros idiomas, como era comum entre os homens educados de sua época, por si só indicava o lugar que ocupava na sociedade em que nasceu. É desse lugar intermediário, mais próximo da pobreza que da riqueza, que Maria Firmina corajosamente levantou sua voz através do que chamou "mesquinho e humilde livro". E, mesmo sabendo do “indiferentismo glacial de uns” e do “riso mofador de outros”, desafiou: “ainda assim o dou a lume”.