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PAULO VIEIRA
from Revue Cultive n° 14
by Cultive
A ARTE DAS COISAS SABIDAS
Paulo Vieira Paulo Vieira é convidado especial do Salão Internacional do Livro e da Cultura de Genebra Cultive. Ele estará presente na mesa redonda que irá homenagear o grande dramaturgo Paulo Pontes. Paulo Vieira relata alguns detalhes da vida e a obra do dramaturgo no livro Paulo Pontes : a arte das coisas.
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Paulo Pontes extraido do livro : Paulo Pontes : a arte das coisas
AUTOR: Paulo Vieira
"Meus amigos, boa noite. O negócio é o seguinte..." "Conta o professor Elpídio Navarro que foi assim que começou a carreira teatral do garoto Vicente de Paula de Holanda Pontes, num dia qualquer do ano de 1956. Naquele ano, o Teatro do Estudante da Paraíba estreara a peça Beata Maria do Egito, de Raquel de Queiroz e, como era de praxe na estreia, alguém, quer do elenco, quer convidado, deveria fazer um discurso de apresentação do espetáculo para a plateia. Naquele dia, o velho teatro Santa Roza, em João Pessoa, estava lotado. Nas coxias o elenco discutia quem, dentre eles, deveria fazer o discurso de apresentação. O certo é que, tímidos, ninguém se dispunha. Foi quando apareceu o garoto magricela insistindo para que fosse ele, não outro, o orador. O professor Elpídio Navarro, na época diretor do Teatro do Estudante da Paraíba, diz que aquele rapazinho oferecido, vivia bisbilhotando em volta do grupo teatral e era considerado um chato, metediço ou, como se diz na Paraíba, intrometido. Vê-se que o garoto não era bem visto. Foi quando, por pura sacanagem juvenil, resolveram, um pouco também para livrar-se daquele chato de galocha, metê-lo no fogo: já que ele insistia tanto, concederam ao magricela a graça de apresentar ao público o espetáculo que ora estreava. O moço, decidido, atravessou a coxia e, no palco, fez a sua oração. O que o pessoal do Teatro do Estudante da Paraíba não esperava era que, dez minutos depois, a plateia aplaudisse o garoto desajeitado com tão grande entusiasmo que, eles próprios, antes desconfiados, fizessem fila nas coxias para abraçar aquele fenômeno de magreza e intromissão.
Aquele fenômeno de magreza intromissão foi também um fenômeno de capacidade de resistência, física e cultural de alguém que, nascido literalmente pobre, soube enfrentar os desafios de uma vida interioranamente medíocre e transformar a falta de perspectiva num projeto de vida...
João Pontes, seu pai, no livro que escreveu biografando a vida de Paulo Pontes, disse que Paulo, quando criança, era um garoto triste, introvertido, um tanto desligado do mundo e, às vezes, até esquecido; mas, quando adolescente, passou a ser extrovertido, comunicativo, adquiriu inclusive uma enorme capacidade de relacionamento social... Paulo Pontes, em criança, era tímido. Sobre os pés tortos via o mundo pela moldura de uma janela, e
o quadro que via era a paisagem da pobreza sobre a Serra da Borborema, no interior da Paraíba, na cidade de Campina Grande, onde nascera, no dia 8 de novembro de 1940. Filho de João Pontes Barbosa, soldado da então Força Policial da Paraíba, e de Laís Carvalho de Ho- landa, enfermeira. Por força de necessidade, no ano de 1941/2, a família transferiu-se para a cidade de Mamanguape, na Paraíba e, posteriormente, foi morar em João Pessoa onde Paulo Pontes cresceu e descobriu o mundo. O mundo real, vivido nas ruas da capital, e o mundo virtual, vivido sobre as tábuas do palco do Santa Roza. Antes, a família morara um tempo na cidade de Rio Tinto, próxima a Mamanguape, onde o pai conseguira emprego para si e sua mulher, no hospital da única fábrica existente no lugar. "
Cronologia
1940 - Nasce Vicente de Paulo de Holanda Pontes, no dia 8 de novembro, na maternidade do Hospital Pedro I, em Campina Grande, Pb. Filho de João Pontes Barbosa e Laís Carvalho de Holanda.
1949 - Morando em João Pessoa, já frequentava a Biblioteca Pública do Estado, onde lia os seus primeiros livros.
1951 - Escreve uma carta ao Diário Carioca, do Rio de Janeiro, na qual faz um apelo para que todos os brasileiros se integrassem na Cruzada de Combate ao Câncer, empreendida pelo médico paraibano Napoleão Laureano, vítima da doença. Napoleão Laureano o havia operado anos antes de um defeito nos pés.
1956 - A sua primeira participação no teatro foi como orador, na estreia da peça A Beata Maria do Egipto, de Raquel de Queiroz, pelo Teatro do Estudante da Paraíba.
1958 - Primeira viagem ao Rio num avião da FAB. A passagem fora conseguida por seu pai. 1959 - Começa a trabalhar na Rádio Tabajara da Paraíba, em João Pessoa.
1961 - Conflitos de terra provocam morte de camponeses em Mari, Pb. Paulo Pontes e Wladimir de Carvalho vão fazer a cobertura jornalística. Paulo, em cima de um caixote, põe-se a dis- cursar na praça de Mari. 1962 - Recebe o prêmio de jornalismo em parceria com Jório Machado, por uma reportagem sobre Campina Grande, Campina dos 7 instrumentos. O concurso era patrocinado pela Varig e or- ganizado pelo jornal Correio da Paraíba. - Cria, escreve e apresenta o programa Rodízio, na Rádio Tabajara da Paraíba. O programa monopolizava diariamente o horário do meio-dia. Suas histórias e personagens começavam a ser comentadas na cidade. - Assume o cargo de Diretor Artístico da Rádio Tabajara. - Hospitalizado para uma operação no pulmão, recebe a visita de Oduvaldo Vianna Filho, que excursionava pelo Nordeste apre- sentando espetáculos pelo Centro Popular de Cultura.
1963 - Trabalha na Campanha de Educação Popular, CEPLAR, organismo criado pelo governo Pedro Gondim, a exemplo do Movimento de Cultura Popular, criado no Recife pelo governo Miguel Arraes. Esses organizações tinham como meta promover a educação, a alfabetização popular. O MCP do Recife tinha entre seus membros o professor Paulo Freire, criador de um revolucionário método de alfabetização de adultos. O MCP foi a fonte de onde nasceu o CPC e todos os movimentos semelhantes.
1964 - Março: Na condição de participante da CEPLAR, viaja ao Rio de Janeiro para participar de reunião no CPC. - 1o de abril: O golpe militar derruba o Presidente João Goulart. Paulo Pontes se sente impedido de voltar à Paraíba. - Dezembro: Juntamente com Vianinha, Armando Costa, Ferreira Gullar, Tereza Aragão, Pichin Plá, Denoy de Oliveira e João das Neves, cria o grupo Opinião. A estreia acontece com o show Opinião, escrito por Paulo Pontes, Vianinha e Armando Costa.
1967 - Cisão no grupo Opinião, provocando a saída de Paulo Pontes, Vianinha e Armando Costa. - Paulo Pontes volta à Paraíba. Cria o Teatro de Arena da Paraíba. - Escreve Paraí-bê-a-bá. 1968 - Janeiro, 29: Paraí-bê-a-bá estreia no Rio de Janeiro, no Teatro Nacional de Comédia, representando a Paraíba no IV Festival Nacional de Teatro do Estudante.
- Fevereiro, 16: Paraí-bê-a-bá estreia em João Pessoa, no Teatro Santa Roza, com Ednaldo do Egypto à frente do elenco. Direção de Elpídio Navarro e Rubens Teixeira. - Através de Nádia Maria, recebe convite de Almeida Castro para compor a equipe de criação da TV Tupi. Paulo Pontes indicou Vianinha e Armando Costa para juntos formarem a nova equipe. - Na TV Tupi cria o programa Bibi - Série Especial. Juntamente com Vianinha, escreve os textos do programa.
1969 - Escreve e estreia o show Brasileiro, Profissão Esperança, inspirado na vida, nos textos e na música de Antonio Maria e Dolores Duran. O show é dirigido por Bibi Ferreira, com quem Paulo Pontes se casa. 1975 - Escreve o show Opinião 75. - Dezembro: Estreia Gota D'água, escrito em parceria com Chi- co Buarque. Com Bibi Ferreira, Oswaldo Loureiro, Luiz Linhares, Roberto Bonfim nos papéis principais. Direção musical de Dory Caymmi e direção geral de Gianni Ratto. 1976 - Fevereiro: Participa do I Festival de Arte de Areia, Paraíba, onde ministra curso sobre dramaturgia brasileira. - Dezembro, 27: Morre no Rio de Janeiro, no Hospital Samaritano, às 11:30 h., vítima de câncer no estômago. - Dezembro, 28: Enterrado no Cemitério São Francisco Xavier, no Caju, às 9:00 h., na quadra 55. Na noite do seu sepultamento foi lida em cena aberta, em todos os teatros do Rio, uma carta de condolências da classe teatral. - 1977 - Fevereiro, 8: No Teatro Carlos Gomes, Rio, a classe teatral se reúne para uma homenagem a Paulo Pontes, apresentando trechos de suas peças, shows e artigos. O ator Ednaldo do Egypto apresenta um trecho de Paraí-bê-a-bá.
1971 - Escreve Um Edifício Chamado 200. O título dessa peça era inicialmente Barata Ribeiro 200, mas por pressão dos mora- dores do condomínio - e da censura federal - Paulo mudou o título.
1972 - Recebe o prêmio de “Autor Revelação” em São Paulo, pelo texto Um Edifício Chamado 200. - Escreve Check-up. - Escreve Dr. Fausto da Silva. - Agosto, 15: juntamente com Flávio Rangel, traduz O Homem de la Mancha, de Dale Wasserman, que estreia no Teatro Muni- cipal de Santo André, São Paulo, com a direção de Flávio Rangel. As letras originais são de Joe Darion, músicas de Mitch Leigh. Na versão brasileira as letras são de Chico Buarque e Ruy Guerra, e a direção musical de Murilo Alvarenga. Paulo Autran e Bibi Ferreira faziam os papéis centrais.
1973 - Prêmio “Governador do Estado da Guanabara” pela peça Check-up. - Escreve com Alfredo Zemma a peça Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
1974 - Julho, 16: Morre no Rio de Janeiro Oduvaldo Vianna Filho. Paulo Pontes escreveu na ocasião: “Só consigo vislumbrar, num relance, a ideia de que, diante de tanta coisa que ele ainda tinha por fazer, teria sido preferível, para mim que conheci tão bem todas as suas ilimitadas possibilidades, que, em 1974, o pulmão doente, em vez do dele, ainda fosse o meu” (programa da peça Rasga Coração, de Vianinha. Rio de Janeiro, 1980). 1981 - A Associação Carioca de Empresários Teatrais, a ACET, cria o “Prêmio Paulo Pontes”, para homenagear os melhores profissionais do ramo, em todas as categorias da atividade teatral. ( extraído do livro: Paulo Pontes A Arte das Coisas Sabidas do escritor paraibano Paulo Vieira)
