EVENTO CULTIVE Paulo Pontes A ARTE DAS COISAS SABIDAS
Paulo Vieira
Paulo Pontes extraido do livro : Paulo Pontes : a arte das coisas AUTOR: Paulo Vieira
"Meus amigos, boa noite. O negócio é o seguinte..." "Conta o professor Elpídio Navarro que foi assim que começou a carreira teatral do garoto Vicente de Paula de Holanda Pontes, num dia qualquer do ano de 1956. Naquele ano, o Teatro do Estudante da Paraíba estreara a peça Beata Maria do Egito, de Raquel de Queiroz e, como era de praxe na estreia, alguém, quer do elenco, quer convidado, deveria fazer um discurso de apresentação do espetáculo para a plateia. Naquele dia, o velho teatro Santa Roza, em João Pessoa, estava lotado. Nas coxias o elenco discutia quem, dentre eles, deveria fazer o discurso de apresentação. O certo é que, tímidos, ninguém se dispunha. Foi quando apareceu o garoto magricela insistindo para que fosse ele, não outro, o orador. O professor Elpídio Navarro, na época diretor do Teatro do Estudante da Paraíba, diz que aquele rapazinho oferecido, vivia bisbilhotando em volta do grupo teatral e era considerado um chato, metediço ou, como se diz 44
Revue Cultive - Genève
Paulo Vieira é convidado especial do Salão Internacional do Livro e da Cultura de Genebra Cultive. Ele estará presente na mesa redonda que irá homenagear o grande dramaturgo Paulo Pontes. Paulo Vieira relata alguns detalhes da vida e a obra do dramaturgo no livro Paulo Pontes : a arte das coisas.
na Paraíba, intrometido. Vê-se que o garoto não era bem visto. Foi quando, por pura sacanagem juvenil, resolveram, um pouco também para livrar-se daquele chato de galocha, metê-lo no fogo: já que ele insistia tanto, concederam ao magricela a graça de apresentar ao público o espetáculo que ora estreava. O moço, decidido, atravessou a coxia e, no palco, fez a sua oração. O que o pessoal do Teatro do Estudante da Paraíba não esperava era que, dez minutos depois, a plateia aplaudisse o garoto desajeitado com tão grande entusiasmo que, eles próprios, antes desconfiados, fizessem fila nas coxias para abraçar aquele fenômeno de magreza e intromissão. Aquele fenômeno de magreza intromissão foi também um fenômeno de capacidade de resistência, física e cultural de alguém que, nascido literalmente pobre, soube enfrentar os desafios de uma vida interioranamente medíocre e transformar a falta de perspectiva num projeto de vida... João Pontes, seu pai, no livro que escreveu biografando a vida de Paulo Pontes, disse que Paulo, quando criança, era um garoto triste, introvertido, um tanto desligado do mundo e, às vezes, até esquecido; mas, quando adolescente, passou a ser extrovertido, comunicativo, adquiriu inclusive uma enorme capacidade de relacionamento social... Paulo Pontes, em criança, era tímido. Sobre os pés tortos via o mundo pela moldura de uma janela, e