10 minute read
SHIFT, MINDSET, AWARENESS E REBOOT HÁ LUGAR PARA MOÇAMBIQUE NUM FUTURO ECO-FRIENDLY?
PEDRO CATIVELOS,
DIRECTOR EXECUTIVO DA MEDIA4DEVELOPMENT EXECUTIVE DIRECTOR OF MEDIA4DEVELOPMENT
SHIFT, MINDSET, AWARENESS AND REBOOT. IS THERE A PLACE FOR MOZAMBIQUE IN AN ECO-FRIENDLY FUTURE?
Dizem-nos as notícias que a esperança com que se iniciou o ano, em Moçambique, de assistir, em 2021, ao arranque em força da construção do projecto de gás natural da Total na Província de Cabo Delgado, o maior investimento privado alguma vez feito no continente africano (23 mil milhões de dólares), se esfumou. Na melhor das hipóteses, por um ano. No pior dos cenários por dois, ou mais anos. No cenário de pesadelo absoluto, até sempre. Haverá no que aconteceu, com o abandono da operação por “motivos de força maior” por parte da petrolífera, algumas lições. O panorama global, com a pandemia, alterou-se ou, para utilizar a linguagem dos ‘mental coach’ de agora, o ‘mindset’ global sofreu um ‘shift’, criou-se um novo ‘awareness’ e o ‘chip’ fez um ‘reboot’. Ou seja: a transição energética que havia já iniciado no final da década passada, acelerou nos últimos 16 meses como nunca antes e as prioridades dos grandes investidores cambiaram. As maiores exploradoras de recursos, nomeadamente petrolíferos, T he news tells us that the high hopes that were there at the beginning of the year, of Mozambique witnessing in 2021 the grand start of the building works of Total's natural gas project in the Cabo Delgado Province, the largest private investment ever made in the African continent ($ 23 billion), have faded away. For at least a year and maybe for two or more years, in the worst-case scenario and even forever, in a scenario of an absolute nightmare. Some lessons will be learned from this, from what happened to make this oil company abandon its operations for "reasons of force majeure". The global scenario changed with the pandemic or, to use the language of 'mind coaches', the global 'mindset' has undergone a 'shift', a new 'awareness' has been generated and the 'chip' has been 'rebooted'. In other words: the energy transition which began at the end of the last decade, accelerated in the last 16 months as it never had done so before and the priorities of major investors have changed. The major explorers of resources, particularly oil resources, are investing
investem como nunca na mudança energética e aí, o gás é fundamental, enquanto fonte de energia de transição para as tão aguardadas renováveis. A este respeito, importa salientar que a Total é, de todas as 'majors' do oil & gas, a que mais investe neste novo cenário (aposta no gás mas com foco e investimento próximo dos de 2 mil milhões de dólares por ano em energia solar, eólica e geotermal), fiel amigo do Tratado de Paris e completamente eco-friendly. Claro que nem tudo são rosas (orgânicas) a este respeito e, sabe-se, a grande aposta nas "energias limpas" tem um lado sujo pouco falado e menos amigo do ambiente. Mas conquistaram a boa vontade, pouco exigente por vezes, da grande opinião pública movida a social media, ao contrário dos combustíveis fósseis que caíram em desgraça. ‘Unfollow’. Voltando a Moçambique, ainda assim, as esperanças permanecem intactas, um factor essencial numa economia como a de um país na qual, em larga medida, a expectativa é o combustível do crescimento. Com uma das maiores reservas de gás natural no mundo, a terceira, Moçambique é incontornável nas duas, três décadas que nos separam da nova era energética, que já começou e que irá desembocar num futuro próximo de emissões de CO2 net zero. Ou seja, os projectos de gás não estão em risco mas o cenário não é, de todo, animador no imediato. A Área 1 da Bacia do Rovuma foi adiada pela Total até que a zona de Palma e a Península de Afungi estejam seguras, por uma força governamental ou, como tem sido sugerido, com a segurança a ser totalmente absorvida pela multinacional francesa, com a chancela da presidência de Macron (que recebeu, em Maio, o presidente Nyusi em Paris); e a Área 4, outro grande investimento na casa dos 22 mil milhões de dólares, levado a cabo por um consórcio encabeçado pela norte-americana ExxonMobil e onde figuram várias empresas, entre as quais a portuguesa Galp foi adiado por, pelo menos dois anos, o que leva todas as previsões de exploração e exportação de gás moçambicano a passarem de 2024 para dois anos mais tarde. Haverá, ainda assim, e já a partir do próximo ano, uma pequena unidade flutuante (em comparação com as outras duas) que irá entrar em funcionamento, operada pela italiana ENI. Efeito imediato na economia nacional? O ritmo do crescimento do PIB, que se esperava na casa dos 4% a 5% já a partir de 2021 impelido pelo início das obras de construção das unidades de liquefacção vai, de acordo com as previsões do FMI, quedar-se por uns tímidos 1,6% este ano. Um pequeno passo após um ano pandémico em que o mundo dará, em termos de criação de riqueza, um grande salto face a 2020. Se a dimensão da oportunidade justifica a demora, a perigosidade da exposição de toda uma economia que produz apenas 14 mil milhões de dólares ao ano, face a tão avultados investimentos é bem real. Têm sido more than ever in gas which is fundamental here in the transition to the long-awaited renewable energies. In this regard, it is worth mentioning that Total, one of the largest oil and gas companies, is investing more in this new scenario (focusing on gas but investing close to U.S. $ 2 billion per year in solar, wind and geothermal energy), a devoted friend of the Treaty of Paris and completely eco-friendly. Of course, its not all (organic) roses in this respect and, as is common knowledge, the major bet on 'clean energies' has a dark side that is not often talked about, which is less environmentally friendly. They have won the goodwill, not always very demanding, of a large chunk of public opinion powered by social media, contrary to fossil fuels that have fallen from grace. 'Unfollow'. Returning to Mozambique, nonetheless, hopes remain intact, an essential factor in an economy of a country where, to a large extent, expectations fuel growth. With the third largest reserves of natural gas in the world, Mozambique shall play a leading role in the coming two to three decades leading up to the new energy age, which has already begun and which will lead to net-zero CO2 emissions in the near future. In other words, gas projects are not at risk, but the scenario is not at all encouraging in the immediate future. Area 1 of the Rovuma Basin has been postponed by Total until the areas of Palma and the Afungi Peninsula are safe,with the suggested intervention of government forces, with the security being fully ensured by the French multinational, with the seal of approval of Macron's presidency (who received President Nyusi in Paris last May). As for Area 4, another major investment of about U.S. $ 22 billion, by a consortium headed by the North American company ExxonMobil and which includes several companies, among which the Portuguese company Galp, has been postponed for at least two years, thus extending all the forecasts for the exploration and export of Mozambican gas from 2024 to two years later. Next year, nonetheless, the Italian company ENI will start operations of a small floating unit, similar to the other two. What will be the immediate effect on the national economy? According to the IMF’s forecasts, the pace of GDP growth, which was expected to be around 4% to 5% as of 2021, driven by the start of construction works on the liquefaction units will, slow down and to a timid 1.6% this year. A small step after a year of pandemic when the world will take a big leap forward in terms of wealth creation when compared to 2020. The size and the opportunity may justify the delay, but the danger of exposing an entire economy that generates only 14 billion dollars a year to such large investments, is very real. There have been countless debates on this topic for years. Overexposure is a real danger, not just for public accounts, but even more so for other economic sectors, from agriculture to industry, the foundations of the country's economy, to trade. One of these is the sector that contributes most to national GDP, just over 20%, accounting for 14% of its annual growth. The
inúmeros os debates sobre este tema, de há anos para cá. A sobreexposição é um perigo real, mais do que para as contas públicas, para outros sectores económicos. Da agricultura à indústria que são as bases da economia do país (para além do comércio). Uma é o sector que mais contribui para o PIB nacional, pouco acima dos 20%, sendo responsável por 14% do seu crescimento anual. A outra, é enganadoramente contributiva, alavancada pelas extractivas (essencialmente o carvão) e o alumínio, a segunda maior fonte de exportação, a seguir à matéria-prima extraída pela Vale, na província de Tete. Ambos poluentes. Claro que, também a Vale, a segunda maior mineradora do mundo que está de saída do país no final de 2021, quer deixar o carvão porque ganhou má fama no novo ‘mundo verde’. Chegarão investidores chineses ou, mais certamente, indianos, em representação de duas economias que são, actualmente, as maiores consumidoras deste combustível "sujo" no mundo. Sendo realista, Moçambique terá ganho tempo para continuar a desenvolver a economia real e perdido espaço para errar. Porque tem de desenvolver a agricultura (e programas como o Sustenta do ministro do sector, Celso Correia, estão a tentar fazê-lo), capacitar jovens empreendedores, captar investimento para a agro-indústria, desenvolver infra-estruturas e uma melhor rede logística. Claro que nada disto se faz sem dinheiro. Mas tenta-se, e não falta financiamento externo do Banco Mundial, do Banco Africano de Desenvolvimento ou de algumas das principais instituições multilaterais que moldaram os seus alinhamentos para as novas expectativas dos mercados. A paragem do mega-projecto da Total só vem, de resto, mostrar o que já sabíamos porque o Covid-19 nos mostrou brutalmente – o mundo pode mudar a qualquer altura e quem está preparado para lidar com o imprevisto estará, à partida, mais capacitado a resistir, primeiro, e a liderar depois. Moçambique, quero acreditar, pode ser um desses casos e, mesmo sem um ‘coach’, acreditar que é possível. Basta acreditar e ser positivo. Basta? Não, mas é um começo. l other is deceptively contributory, leveraged mainly by coal and and aluminium extraction, the secondlargest source of exports, after the raw material extracted by Vale, in the province of Tete. Both pollutants. Of course, Vale, the second-largest mining company in the world that is leaving the country at the end of 2021, wants to give up coal because it has gained a bad reputation in the new 'green world'. Chinese or, most likely, Indian investors will arrive, representing two economies that are currently the largest consumers of the world’s 'dirty' fuel. Realistically speaking, Mozambique should have saved some time to keep developing the real economy, reducing the margin of error. It has to develop agriculture and programs such as Sustenta, by the sector’s minister, Celso Correia, are trying to do so by training young entrepreneurs, attracting investment for the agroindustry and developing infrastructures and a better logistical network. Of course, none of this can be done without money and there is no shortage of external financing from the World Bank, the African Development Bank or some of the main multilateral institutions , all of which are now aligned to meet the new expectations of the markets. The interruption of Total's megaproject has shown us how Covid-19 has changed the world in a brutal way and that those prepared to deal with the unexpected will be far more likely to resist at first and then to lead later. I believe this will be the case with Mozambique and that, even without a coach, it is possible. We just have to believe and be positive. Is that enough? No, but it’s a good start. l