Amarte - 1 de 07 de Outubro 2018

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“Os artistas são o parente pobre do orçamento de Estado” Entrevista a Gonçalo Madeira | pág.6

Domingo, 7 de outubro de 2018 | n.º1 | 1,20€

LICE está em exibição em Lisboa, de 6 a 12 de Outubro, no atelier Natália Gromicho, no Chiado pág.3

Reportagem | págs.4 e 5

Crónica | pág.8 Portugal, o país em que a cultura vale (quase) zero

De olhar e chorar por mais “Num espaço fechado, pequeno e longe dos olhos do mundo, Natália Gromicho dá asas à sua imaginação e deixa que o pincel trace a história que tem para contar.”

Comentário | pág.7 Para onde a criatividade nos levar “Mais do que um espaço para uma exposição de arte, é a sua casa de criação. É ali mesmo que os cavaletes, as telas e os pincéis dançam ao som da imaginação e da vontade de Natália.”

“Até podíamos ter todo o dinheiro do mundo, mas enquanto o verdadeiro problema da cultura em Portugal não se alterar, a situação em geral não irá melhorar.”


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Editorial Ama a Arte, é o conceito por detrás do nome AMARTE. Cada edição foca-se num evento relacionado com arte e cultura, expondo aos seus leitores todos os detalhes do mesmo. Dos organizadores ao público, todos têm uma voz nesta publicação. O intuito deste jornal é dar visibilidade ao mundo das artes, que é atualmente alvo de alguma controvérsia. Não queremos apenas publicitar alguém ou o seu projeto profissional, queremos sim dar resposta a todas as curiosidades dos nossos leitores, para que sintam que ficam realmente a conhecer o artista e toda a organização que está por detrás do evento, cuja importância é, muitas vezes, subestimada.

A edição inaugural [deste jornal] tem como tema central a Lisbon International Contemporary Exhibition, uma exposição que já conta com 5 edições, organizada pela artista Natália Gromicho e por Gonçalo Madeira, organizador do evento e curador de arte. Os leitores poderão encontrar mais à frente uma reportagem, entrevistas, uma crónica e ainda um comentário ao evento em questão. A escolha deste evento é óbvia se pensarmos no propósito do jornal: difundir o interesse por todo o tipo de arte. Expositor de rua com propaganda ao evento

“Não queremos apenas publicitar alguém ou o seu p r o j e t o profissional, queremos sim dar resposta a todas as Equipa do jornal Amarte

curiosidades dos nossos leitores ”

Ficha Técnica: Inês Ribeiro Joana Bettencourt Madalena Guerra Maria Castanheira


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Lisbon International Contemporary Exhibition LICE - Lisbon International Contemporary Exhibition, a exposição organizada por Gonçalo Madeira e Natália Gromicho, que decorre entre 6 e 12 de outubro, na galeria de nome próprio da artista, conta já com 5 edições. Ao convidarem vários artistas internacionais, de diversas partes do mundo, dão a conhecer ao público português um novo leque de nomes e variedades artísticas. Esta diversidade cultural e de pensamento é também uma mais valia para todos os artistas, pois têm a oportunidade de partilhar experiências, interesses e planos futuros. A exposição contou com cerca de 30 obras de artistas vindos de

diversos países, desde a Malásia ao Peru, passando pelo Paquistão ou até pela Eslováquia. A fusão de diferentes culturas é evidente. Gonçalo Madeira, responsável pela organização do evento, explicou pormenorizadamente o critério de seleção dos artistas e Natália Gromicho disponibilizou algum tempo para conversar e contar um pouco da sua história. Numa tarde agradável de outono foram várias as conversas e interesses partilhados naquela galeria, que conta com várias obras que lhe dão forma e vida.

Conheça Natália Gromicho - Como surgiu a ideia de fazer esta exposição com tantos artistas internacionais? N: Reuni amigos, eu viajo muito, conheço muita gente de fora e então convido-os para expor na minha galeria. Começou assim, mas depois foi aumentando e cada vez está a aparecer mais gente. - Quais são as suas fontes de inspiração? Conhecer os Rolling Stones, por exemplo? N: Ganhar um concurso internacional foi muito marcante. Uma população inteira concorreu com um desenho do logotipo dos Rolling Stones e ninguém conseguiu. Eu por acaso consegui. Gostei muito, tinha 20 anos e foi o melhor que me aconteceu. Aconteceu qualquer coisa… e nunca mais fui a mesma. - Que dificuldades enfrentou, ao longo da sua carreira profissional? N: Fui censurada muitas vezes. Não aconteceu só em Serralves, a mim já me aconteceu muitas vezes, mas já passou, eu tinha 20 anos, era muito novinha. - Qual é a sua opinião quanto à cultura em Portugal? N: Está a andar. - Sabemos que já fez mais de 100 exposições, em algumas das melhores galerias do mundo, há alguma que possa destacar.? N: Londres, porque eu adoro Londres [risos]. - Acha importante a internacionalização dos artistas? N: É muito importante. A mistura de culturas. Aqui, por exemplo, há imensa gente de diversos países. - Por fim gostaríamos de lhe fazer uma questão tão simples quanto: Quem é a Natália? N: Uma miúda tímida que sabe pintar, sou autodidata, estive em Belas Artes mas não gostei, saí.

Gonçalo Madeira e Natália Gromicho

- Até agora tem corrido muito bem. N: Sim, acho que sim.


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De olhar e chorar por mais REPORTAGEM por Inês Ribeiro É no Espaço Chiado, na parte histórica da cidade de Lisboa, que um dos grandes tesouros da arte portuguesa se encontra escondido. Num espaço fechado, pequeno e longe dos olhos do mundo, Natália Gromicho dá asas à sua imaginação e deixa que o pincel trace a história que tem para contar. É no Atelier Natália Gromicho que se realiza, todos os anos, a Lisbon International Contemporary Exhibition. Sempre prático, simpático e com um sorriso no rosto, Gonçalo Madeira, organizador do evento, mostrou-se disponível para partilhar a história do mesmo. Através de risos e curiosidades, o curador de arte deu a conhecer detalhadamente cada canto do atelier. Nostálgico, expôs a história de como começou a trabalhar com Natália Gromicho e o caminho percorrido por ambos desde então. Foi em 1999 que Natália participou no concurso que viria a alterar drasticamente a maneira como olha para o mundo. Apaixonada pela arte e por cada uma das suas áreas, Natália mostrou-se muito sorridente ao lembrar o momento em que lhe foi atribuído o prémio “Best Rolling Stone Alternative Logo”, pela Rádio Comercial. “Tinha

Yoky Yu

Algumas das obras da exposição e o convívio entre as pessoas presentes

20 anos e foi o melhor que me aconteceu. Aconteceu qualquer coisa… e nunca mais fui a mesma.” Foram estas as palavras sonhadoras e pensativas da artista quando o tema foi abordado. Falou ainda das suas viagens pelo mundo, dos países e continentes que visitou, dos amigos que fez e contactos que estabeleceu, o que disse ser crucial para a criação da LICE. “Reuni amigos, conheci muita gente de fora, e então convidei-os para exporem aqui no atelier. Começou assim.” Contemporary Exhibition (LICE). Este ano não foi exceção. Pela 5ª vez consecutiva, o atelier abriu portas a artistas de todo o mundo que se reuniram com o intuito de celebrar a arte e a cultura internacional. Numa tarde de sábado, a 6 de outubro, pelas 15h, mergulhou-se num mar de quadros, esculturas, estruturas de ferro e fotografia que deixou todos boquiabertos.

Carlo Benocci

Annie Decamp

No seio de uma atmosfera social e descontraída, houve a oportunidade de conversar não só com os impulsionadores deste projeto, mas com todos os artistas convidados presentes na exibição. Entre vinho, cocktails e degustações, estes reuniram-se e conheceram-se, conversando e partilhando histórias. Todos os anos é convidada para o evento uma equipa de catering que tenta, em cada edição, reproduzir pratos típicos de um dos países presentes no evento. Este ano a escolha recaiu sobre o Peru. Entre batatas bravas; saladas de quinoa; Pulpo Al Olivo, uma receita de polvo e azeitona; e Chicha Morada, uma bebida feita à base de milho roxo peruano e canela, a equipa presenteou o público com os sabores mais caricatos e deliciosos da região. Deste modo, a conversa e o ambiente proporcionados pelo espaço acolhedor e pessoal e por uma atmosfera amigável e caseira, permitiram conhecer um pouco melhor todos os artistas. Dentro do leque de convidados podiam encontrar-se nomes como Yoky Yu, Carlo Benocci, Annie Decamp, Leloluce, Olivia Moelo, Carmen Sasieta, Vorden e Chong Kok Choon. Estes artistas, provenientes de todos os cantos do mundo, encontraram-se ali e, entre si,


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discutiram a arte e a vida. Alguns falaram das suas vidas pessoais, dos seus objetivos, inspirações e a origem da paixão pela arte, outros limitaram-se a sorrir e dizer que só a exercem por gosto. Yoky sempre adorou desenhar e descobriu que queria ser pintora quando terminou a sua licenciatura nos Estados Unidos e regressou à China. Tornou-se numa Life Coach e voltou a pintar, começando a investir cada vez mais e mais no seu sonho. Admitiu só ter enviado o currículo por diversão, porque não acreditava que a sua arte fosse boa o suficiente. A LICE foi a sua primeira exposição no estrangeiro e espera, no futuro, conseguir voltar a expor em Lisboa, preferencialmente numa exposição só sua. “Acho que sou uma life-artist. Também estou ligada à música, pinto, viajo, escrevo no meu blog e dou workshops de autoconhecimento e auto-progresso. Acredito mesmo que é para isso que cá estou, para fazer parte deste mundo artístico.” Carlo, italiano, é músico - utiliza a música como uma maneira mais profunda de se expressar, de fazer com que os outros consigam compreender o que lhe preenche a alma. Nos seus quadros encontramse claros indícios provenientes deste outro mundo artístico que o fascina, admitindo sentir-se inspirado pela música para pintar. Outro exemplo totalmente diferente viaja para Portugal, vinda dos Estados Unidos, e pinta tribos sulamericanas. Annie, ex-designer de jóias, mostra-se fascinada pelo mundo índio e pelas origens da população americana num todo. Diz ter crescido sempre em contacto com a cultura índia e ter-se apaixonado pela mesma, ao longo dos anos. Lucie Legrand ou Leloluce, como é conhecida, foi convidada pela organização do evento a participar e exerce a arte porque se sente feliz a fazê-lo. Pinta

há cerca de 12 anos e vai estar a expor no Louvre durante todo o outono, começando agora, em Outubro. Disse ter vontade de conhecer pessoas e de as levar até Paris, para a exposição. “Adoro cores, a minha motivação é fazer as pessoas sorrir e sentirem-se alegres. Sempre que pinto estou e sou feliz, farto-me de rir e divirto-me imenso em frente à tela. E é isso que quero fazer, partilhar a felicidade com o público - é disso que vivo.” Olivia, francesa e com um gosto peculiar por pintar bonecas partidas, decidiu dar vida às suas pinturas e trazê-las para o plano tridimensional: esculturas que se baseassem nas suas pinturas, de modo a retratar a violência e os maus-tratos infantis. Com um certo nervosismo, mas uma simpatia incomparável, admitiu estar muito surpreendida e feliz com a LICE. “É bastante interessante, principalmente por estarem presentes estilos tão diferentes.” Carmen Sasieta, a artista peruana, no meio de muitos risos e palavras calorosas sobre Lisboa, admitiu estar muito ansiosa por conhecer outros artistas, diz ser importante para que se possa ter uma mente sempre aberta. Só começou a pintar quando as filhas terminaram a universidade e desde então ninguém a para. “Quero pintar até morrer, é o que mais me alegra e relaxa.” Por outro lado, mais tímido e reservado, o artista eslovaco, Vorden, foi muito limitado nas suas palavras, dizendo apenas que considera o sol de Portugal muito importante para os artistas e para a imaginação de cada

Leloluce

um. Realistas, estes últimos dois, partilham uma ligação e admiram muito o trabalho um do outro. Para Chong Kok Choon, fotógrafo malaio, expor na Europa foi uma oportunidade que não conseguiu recusar. “Os colecionadores de arte na Malásia são muito conservadores e ficam-se sempre pela escultura ou pintura. O que nós queremos é abrir horizontes ao mercado da fotografia.”

Vorden

Artista francesa, Olivia Moelo, com a sua obra, uma boneca gigante

A equipa de catering, que esteve de serviço todo o evento

Carmen Sasieta


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“Os artistas são o parente pobre do orçamento de estado” ENTREVISTA A GONÇALO MADEIRA por Joana Bettencourt

Tivemos a oportunidade de entrevistar o coordenador da exposição, Gonçalo Madeira, Curador. E: Quais são os critérios de construção da exposição? Existe alguma linha condutora entre as peças e os artistas? Gonçalo Madeira: A escolha é feita através do envio de portfólios, abrimos uma candidatura a todo o mundo. Recebemos em média entre 300 a 500 portfólios. O nosso objetivo é selecionar obras plásticas diferentes, tentar sempre ter uma instalação, uma escultura, pintura, fotografia, e ter assim estas quatro expressões aqui presentes. Depois queremos também ter representados vários lugares do mundo. A Malásia é um dos países mais distantes que está presente na exposição, mas tivemos também já um artista de Tonga, perto da Nova Zelândia. Assim, o objetivo é trazer a Lisboa culturas diferentes. Este ano recebemos 18 artistas. O propósito de fazermos a exposição aqui, no atelier da Natália, é devido à sala ser mais intimista. Preferimos estar num lugar mais acolhedor, mais pequeno, e assim conseguimos estar em contacto com cada pessoa que nos visita, e explicar-lhes o que estamos aqui a fazer. E: Sabemos que já organiza o evento há 5 edições. Como surgiu a ideia do evento? GM: A Natália foi convidada para um evento que acontece todos os anos no Lx Factory, o “Open Day”. O objetivo era pintar quadros grandes, com cerca de 2 metros e meio por 2 metros, e para um artista isto é um

O entrevistado, Gonçalo Madeira desafio enorme. Só que o estúdio que ela tinha era um apartamento onde não conseguia conceber quadros deste tamanho. Na altura encontrámos este sítio que nos pareceu nobre demais para ser apenas um atelier. Também a partir de uma das nossas viagens a Miami, tivemos uma experiência num centro comercial, onde cada loja é o atelier de um artista que estava aberto até à noite. Assim surgiu esta ideia. Isto só funciona cerca de duas vezes por ano, em que nós tiramos tudo do espaço e isto torna-se numa galeria. Normalmente o que se vê é um cavalete, as tintas e a Natália a pintar, sendo que até há vestígios no chão [apontando para os mesmos]. Devido à Natália ter viajado tanto e ter feito tantos amigos no estrangeiro, um dos objetivos foi tentar trazer novos conhecimentos e novas culturas a Lisboa. Por tudo isto, mais do que vender, o objetivo é promover o trabalho dos artistas e apresentá-los a Lisboa. E: Desde a primeira edição, acha que a adesão do público tem vindo a aumentar? GM: Poderia dizer que correu sempre tudo bem, mas a verdade é que houve uma altura há cerca de dois anos atrás, em que as coisas

não correram da melhor forma… Recentemente conseguimos aceder ao circuito Mupis em Lisboa e aumentar a nossa divulgação, sendo a adesão externa bastante maior. Percebemos que quando fazemos estas campanhas de publicidade, o resultado é muito positivo junto das pessoas que vêm de fora. Este ano esperamos que seja o ano com mais visitas. E: Na sua opinião, qual é a situação atual da cultura em Portugal? E relativamente ao facto de o último orçamento de Estado não ter disponibilizado nem 1% à cultura…qual a sua perspetiva sobre isto? GM: Os artistas são o parente pobre do orçamento de estado, sejam eles parte das artes plásticas ou performativas. Há uma comparação que a Natália costuma usar: o que se investe no futebol, por exemplo, é uma enormidade. E a cultura? A Natália, que é com quem eu trabalho há mais tempo, antes de ter começado a ter trabalho lá fora, foi bater a imensas portas e todos nos disseram que não. E porquê? Nesta área é tudo muito fechado. O dinheiro que existe vai sempre para os mesmos, para “os grandes”. O dinheiro não é do Estado, é nosso.


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E, por isso mesmo, penso que os artistas devem ser empreendedores, agarrar e investir o seu dinheiro. Não podemos estar sempre à espera que exista uma identidade chamada Estado que vai dar a solução. Não pode ser. Em relação à situação da arte na atualidade, acho que estamos a passar uma fase muito boa. Lisboa é uma cidade que está na moda. Para terem uma ideia, esta exposição tem dezoito artistas, a nossa primeira teve 11 ou 12 e foi muito difícil arranjá-los porque não queriam, ninguém conhecia Lisboa. Hoje beneficiamos bastante do turismo. As pessoas estão maravilhadas, a exposição foi só

um motivo para virem cá. As obras dos artistas são influenciadas pelos países onde estes passam. É uma evolução. E é isso que os artistas devem levar, não só vir mostrar o trabalho deles mas também tentarem aproveitar o que Lisboa tem para dar. Acredito no que Fernando Pessoa diz: que os portugueses não seriam gloriosos pelos descobrimentos mas sim pelo mundo intelectual e das artes. O quinto império. Todas as cidades que eu visitei, gostei muito de visitar mas chego aqui (Lisboa) e é tudo muito melhor. Estamos muito melhor do que há uns 3 ou 4 anos, porque hoje em dia estamos a discutir 1%, mas antes nós não

tínhamos nada, nem ministro da cultura havia, só um secretário, e a coisa estava a ir por um caminho péssimo por isso acho que enquanto continuarmos assim e houver mais galerias a expor a arte portuguesa, estamos num bom caminho.

Em cima, da esquerda para a direita: Carlo Benocci, tradutor do artista Chong Kok Choon, Leloluce, Gonçalo Madeira, Chong Kok Choon, Annie Decamp

Para onde a criatividade nos levar COMENTÁRIO por Maria Castanheira O tempo vai passando e, num piscar de olhos, a LICE (Lisbon International Contemporary Exhibition) está já no seu quinto ano em exibição. Pelas ruas do Chiado e espalhados um pouco por toda a cidade, é possível ver os cartazes que fazem a propaganda àquele que é o evento que traz artistas de todo o mundo à capital portuguesa, com o intuito de celebrar as artes. O espaço do evento, localizado no (quase) inabitado centro comercial e cultural do Chiado, apesar de pequeno, é bastante acolhedor e consegue criar a atmosfera e o ambiente necessários para o propósito desta exposição. Como o próprio responsável pela organização, Gonçalo Madeira, afirma, “assim conseguimos estar em contacto com cada pessoa que nos visita”. De facto, pude comprovar isto na primeira pessoa. Num mundo que está repleto de

tecnologia e onde se vão perdendo muitas interações humanas que são substituídas pelo uso do telemóvel, é de louvar entrar num local onde as pessoas estão próximas, as palavras e os risos fluem de forma espontânea, e é constante a partilha de experiências, de arte e de vida, entre os vários artistas que por ali passam. Tudo foi planeado ao mínimo detalhe. O serviço de catering manteve o estômago das pessoas entretido enquanto estas deambulavam pela sala, sempre com o objetivo e a curiosidade de saber mais sobre as obras que ali se encontravam expostas, obras essas que podiam ser fotografias, pinturas e gravuras, ou até uma instalação ou uma e scultura gigante. As palavras impostas foram originalidade e diferenciação. Algo notável foi o facto de todos os artistas serem muito fiéis a si mesmos e, desta forma,

autenticidade era uma das palavras de ordem. Para os mais atentos, era ainda possível ver os vestígios deixados por Natália no chão do seu atelier. Mais do que um espaço para uma exposição de arte, é a sua casa de criação. É ali mesmo que os cavaletes, as telas e os pincéis dançam ao som da imaginação e da vontade de Natália. O atelier tem assim uma história que não é indiferente aos olhos dos que por ali passam. Desta forma, classifico a LICE como especial. Especial pelo conceito inovador que traz, especial pela experiência que proporciona e especial por tudo aquilo que representa. Uma tarde, sem dúvida, muito bem passada e que será, obrigatoriamente, repetida no próximo ano.


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Portugal, o país em que a cultura vale (quase) zero CRÓNICA por Madalena Guerra Embora a promessa de António Costa, para 2019, de um reforço no Orçamento do Estado para a Cultura tenha sido cumprida, ainda está longe de cumprir as exigências do setor: 1% do total do orçamento. À semelhança do que havia acontecido já no orçamento para 2018, realmente houve um aumento neste setor, mas será que é suficiente? A resposta dos contestatários é evidente: não! Mas, na realidade, temos de admitir que estamos num bom caminho e poderá não ser esse o verdadeiro problema da cultura em Portugal. É um facto que os portugueses não vão

ao teatro, nem a espetáculos de música ou dança. Mas porque será? Há vários aspetos a considerar. Por um lado, a escola pública já não tem quaisquer disciplinas que se dirijam para a música, dança, teatro, cinema ou qualquer outro tipo de artes. A não ser EVT (Educação Visual e Tecnológica) que ainda, graças a Deus, sobrevive. Quem quiser que os filhos aprendam qualquer uma das artes mencionadas tem de ir para escolas privadas. Isto significa que só a classe alta da sociedade poderá suportar tais despesas.

Galeria De acordo com o intuito original deste jornal, dar a conhecer aos seus leitores todos os detalhes de um evento relacionado com arte e cultura, expomos neste segmento mais algumas imagens que demonstram o espírito vivido na Lisbon Internacional Contemporary Exhibition. Em cima à esquerda: mesa de apoio da galeria, e local onde cada pessoa podia tirar informações sobre a exposição, os artistas e as obras dos mesmos. Em cima à direita: Redatoras do jornal Amarte à conversa com a artista americana Annie Decamp. Em baixo à esquerda: Visão geral da sala e convívio entre quem estava presente. Em baixo à direita: A artista Natália Gromicho.

Noutra perspetiva, sem apoio financeiro do Estado, os organismos culturais vêem-se obrigados a aumentar o preço de bilheteira, o que, obviamente, não agrada nem apela à pouca audiência que ainda se mostra interessada. Toda esta bola de neve pode ser revertida, com um acréscimo do investimento público. Até poderíamos ter todo o dinheiro do mundo, mas enquanto o verdadeiro problema da cultura em Portugal - falta de interesse da população - não se alterar, a situação em geral não irá melhorar.


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