GRUPO 2 RIO DE JANEIRO CLÁUDIO ALVES PORTO JÚNIOR JOSÉ CARLOS ORTIZ JUNIOR MARIANA MARCIAL GOMES RAFAEL DA SILVA PACHECO RAFAEL DO NASCIMENTO PINHEIRO
TRABALHO DE CAMPO
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GRUPO 2 RIO DE JANEIRO
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REALIZAÇÃO FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ VICE-PRESIDÊNCIA DE AMBIENTE, PROMOÇÃO E ATENÇÃO À SAÚDE CENTRO DE ESTUDOS E PESQUISAS EM EMERGÊNCIAS E DESASTRES EM SAÚDE ESCOLA NACIONAL DE SAÚDE PÚBLICA ESCOLA POLITÉCNICA DE SAÚDE JOAQUIM VENÂNCIO UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE ESTUDOS DE SAÚDE COLETIVA PROGRAMA DE FORMAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS EM VIGILÂNCIA EM SAÚDE E AMBIENTE UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE FACULDADE DE FARMÁCIA DEPARTAMENTO DE FARMÁCIA E ADMINISTRAÇÃO FARMACÊUTICA PREFEITURA DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO SECRETARIA MUNICIPAL DE CONSERVAÇÃO E SERVIÇOS PÚBLICOS SUBSECRETARIA DE DEFESA CIVIL APOIO MINISTÉRIO DA INTEGRAÇÃO NACIONAL SECRETARIA NACIONAL DE DEFESA CIVIL DEPARTAMENTO DE MINIMIZAÇÃO DE DESASTRES
TRABALHO DE CAMPO
GRUPO 2 RIO DE JANEIRO
VERSÃO EM AVALIAÇÃO
ORGANIZADORES CARLOS MACHADO DE FREITAS E VÂNIA ROCHA REVISÃO TÉCNICA MARCELO ABELHEIRA E VÂNIA ROCHA PROGRAMAÇÃO VISUAL PRISCILA FREIRE PROFESSORES TUTORES MARCELO ABELHEIRA E SUELI SCOTELARO PORTO
FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE PREFEITURA DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO
CLÁUDIO ALVES PORTO JÚNIOR JOSÉ CARLOS ORTIZ JUNIOR MARIANA MARCIAL GOMES RAFAEL DA SILVA PACHECO RAFAEL DO NASCIMENTO PINHEIRO
AGENTES LOCAIS EM DESASTRES NATURAIS: Avaliação de Risco de Desastres Naturais na Comunidade Monte Sinai
Rio de Janeiro 2013
CLÁUDIO ALVES PORTO JÚNIOR JOSÉ CARLOS ORTIZ JÚNIOR MARIANA MARCIAL GOMES RAFAEL DA SILVA PACHECO RAFAEL DO NASCIMENTO PINHEIRO
AGENTES LOCAIS EM DESASTRES NATURAIS: Avaliação de Risco de Desastres Naturais na Comunidade Monte Sinai
Trabalho de Campo apresentado como requisito parcial para conclusão do curso Agentes Locais em Desastres Naturais: defesa civil e saúde na redução de riscos. Tutor: Marcelo Abelheira
Rio de Janeiro 2013
SUMÁRIO
1
INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 04
2
OBJETIVOS ........................................................................................................... 05
2,1
OBJETIVO GERAL ................................................................................................
2.2
OBJETIVOS ESPECÍFICOS ................................................................................... 05
3
METODOLOGIA ..................................................................................................
4
05
05
RECONHECIMENTO DAS CONDIÇÕES DE VIDA E SITUAÇÃO DE SAÚDE ....................................................................................................................
06
4.1
LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA DO TERRITÓRIO ........................................... 06
4.2
HISTÓRICO DE OCUPAÇÃO DO TERRITÓRIO ...............................................
07
4.3
DISTRIBUIÇÃO TERRITORIAL DA ESTRUTURA DA POPULAÇÃO ...........
08
4.4
RECURSOS AMBIENTAIS E DO ESPAÇO CONSTRUÍDO .............................. 08
4.4.1 Clima Predominante ..............................................................................................
08
4.4.2 Temperatura e Pluviometria ................................................................................. 09 4.4.3 Espaço Natural .......................................................................................................
10
4.4.4 Espaço Construído de uso comum ........................................................................ 11 4.5
RECURSOS SOCIAIS, POLÍTICOS E CULTURAIS ...........................................
13
4.5.1 Escolas ..................................................................................................................... 13 4.5.2 Rede de Saúde ........................................................................................................
13
4.5.3 Entidades Civis ....................................................................................................... 15 4.6
RECURSOS DA ESTRUTURA SANITÁRIA DO TERRITÓRIO .......................
15
4.6.1 Água ........................................................................................................................
15
4.6.2 Esgoto ......................................................................................................................
16
4.6.3 Coleta de Lixo ......................................................................................................... 18 4.7
SAÚDE E DEFESA CIVIL NO TERRITÓRIO .....................................................
20
4.7.1 Defesa Civil .............................................................................................................
20
4.7.2 Saúde .......................................................................................................................
21
5
FATORES DE RISCO ..........................................................................................
21
6
POTENCIALIDADES ........................................................................................... 24
7 7.1
O AGENTE DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE NAS ETAPAS DE UM PLANO DE GESTÃO DE RISCO DE DESASTRES 24 ................................................................................................................................... REDUÇÃO DE RISCO ........................................................................................... 24
7.1.1 Prevenção ................................................................................................................ 24 7.1.2 Mitigação ................................................................................................................
25
7.1.3 Preparação .............................................................................................................. 25 7.2
MANEJO DO DESASTRE .....................................................................................
26
7.2.1 Alerta ....................................................................................................................... 26 7.2.1 Resposta ..................................................................................................................
26
7.3
RECUPERAÇÃO ....................................................................................................
28
7.3.1 Reabilitação ............................................................................................................
28
7.3.2 Reconstrução ..........................................................................................................
28
8
SUGESTÕES .......................................................................................................... 28
9
CONCLUSÃO ........................................................................................................
29
REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 30 ANEXOS ................................................................................................................. 31
4
1 INTRODUÇÃO
O presente trabalho é o resultado de um processo de formação de quadros para lidar com a questão dos desastres naturais. Os participantes são agentes que atuam diretamente nos territórios fazendo o intercâmbio entre a população e os serviços de saúde e/ou de defesa civil. No caso dos agentes da cidade do Rio de Janeiro, são Agentes de Vigilância em Saúde. A relevância desse trabalho se justifica pelo reconhecimento dos danos que os desastres de causas naturais vêm causando às populações de todo o mundo. Com tanto conhecimento acumulado e tantos outros em permanente produção, não cabe mais um conjunto de respostas desarticuladas e essencialmente reativas à ocorrência dos desastrares e suas consequências. As pessoas sempre estarão sujeitas a ocorrência de algum tipo de desastre natural. Evitar ou diminuir o impacto dos desastres é o grande desafio. O meio de enfrentamento deste desafio começa pelo conhecimento dos fatores de risco (vulnerabilidade + ameaças) implicados na dinâmica do território para, a partir daí, desencadear ações com a finalidade de controlá-los, ou seja, diminuir as vulnerabilidades e aumentar a resiliência das comunidades frente a estes tipos de desastres. Prevenir, enfrentar e recuperar os danos e prejuízos causados por eventos adversos nas comunidades vulneráveis pressupõe um olhar atento para o passado, para o presente e para o futuro. Só assim poder-se-á atuar de forma planejada e efetiva. Na proposta pedagógica de avaliação de risco de desastres naturais de um território da cidade do Rio de Janeiro, concretizado neste trabalho através da investigação feita na Comunidade Monte Sinai, foi identificado como ameaça o deslizamento de encosta. As intervenções inadequadas do homem nas encostas configuram-se em agentes que vêm contribuindo gradativamente para a formação de instabilidades cada vez maiores das encostas da cidade como um todo e no território estudado especificamente. Desta forma, o presente trabalho não só representa o fim de um processo de formação, mas também o início de um novo olhar, de uma nova prática que, com a devida sensibilização, vai se instalar na prática dos agentes participantes, espalhar-se entre outros e salvar muitas vidas.
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2 OBJETIVOS
2.1 OBJETIVO GERAL
Fazer um diagnóstico das condições de vida, da situação de saúde da população e do ambiente da comunidade Monte Sinai a fim de sugerir ações propositivas em defesa civil e saúde para redução de riscos de desastres naturais neste território.
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
- Conhecer o território e a população do território (Comunidade Monte Sinai); - Identificar as ameaças e as condições de vulnerabilidade a serem enfrentadas; - Identificar as potencialidades locais.
3 METODOLOGIA
Para realização dos objetivos propostos, e considerando as dimensões estratégicas para planejamento em vigilância em saúde, o trinômio informação-decisão-ação, a principal atividade de investigação realizada foi a visita em campo. Contudo, para um maior aprofundamento e compreensão da realidade investigada, também foram coletados dados secundários, informações oficiais, buscada literatura de apoio e foi feita a revisão do material didático do curso. Os instrumentos utilizados em campo foram: - questionário fechado, para obter a percepção da população e identificar questões relevantes sobre as condições de vida e a situação de saúde no território (anexo 1); - roteiro de observação do ambiente natural e construído do território (anexo 2); - mapeamento artesanal - com auxílio de bases cartográficas disponibilizadas pela prefeitura do Rio de Janeiro e aplicativos disponíveis na internet como o Google Earth e o Google Maps. - produção de imagens (fotografia). A avaliação de risco foi realizada em seis encontros, em dias de quartas-feiras, nos meses de junho e julho de 2013, divididos da seguinte forma: - um encontro para planejamento e construção dos instrumentos de observação e coleta de dados (roteiro de observação e questionário);
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- duas idas a campo para aplicação dos instrumentos, observação in loco, realização de registros fotográficos e interação com o ambiente pesquisado; - três encontros para sistematização, análise e preparação do relatório final e da apresentação.
4 RECONHECIMENTO DAS CONDIÇÕES DE VIDA E SITUAÇÃO DE SAÚDE
4.1 LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA DO TERRITÓRIO
A comunidade Monte Sinai localiza-se no bairro da Pavuna. Este bairro, junto com os bairros Acari, Barros Filho, Coelho Neto, Costa Barros e Parque Columbia, compõem a área atendida pela XXV Região Administrativa (XXV R.A.), que fica sediada no bairro da Pavuna. Todas estas localidades e divisões político-administrativa fazem parte da área de Planejamento 3.3, zona norte da cidade do Rio de Janeiro. A comunidade propriamente dita não faz fronteira com outros municípios. Contudo, o bairro onde está inserida (Pavuna) faz limite com os municípios de Nilópolis, São João de Meriti e Duque de Caxias.
Mapa 1: Cidade do Rio de Janeiro dividida por suas dez Áreas Programáticas (AP)
Mapa 2: Bairro da Pavuna identificado no conjunto de bairros que compõem a AP 3.3
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Mapa 3: Área de abrangência da CF Epitácio S. Reis destacada no bairro da Pavuna e indicação dos municípios fronteiriços da região.
Mapa 4: Comunidade Monte Sinai destacada no mapa das equipes de saúde da família que compõem a área de abrangência da CF Epitácio S. Reis.
Mapa 5: Comunidade Monte Sinai. O contorne externo equivale ao setor censitário (IBGE) 330455705300281
4.2 HISTÓRICO DE OCUPAÇÃO DO TERRITÓRIO
As informações que temos sobre o processo de ocupação da comunidade Monte Sinai foram obtidas em conversa informal com um dos fundadores da mesma, o sr. Branco. Havia a intenção de uma entrevista para tratar especificamente da história da comunidade e, como se pôde perceber durante a conversa, de várias outras dos bairros do entorno também. Porém,
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não foi possível realizar tal entrevista, pois o informante citado faleceu antes da oportunidade de um segundo encontro. Das informações obtidas, foi relatado que um grupo formado alguns anos atrás identificava terrenos vazios ou propriedades sem uso e assentava famílias nesses lugares. Segundo nosso informante, o processo da comunidade Monte Sinai seguiu este mesmo padrão, tendo sido fundada há cerca de doze anos. O terreno ocupado, apesar de possuir proprietário, não era utilizado. Sendo assim, uma vez identificado, um grupo de famílias foram levadas para o local para o primeiro momento da ocupação. Para regularizar a situação dos moradores depois de assentados ou pelo menos evitar que fossem expulsos do local, o grupo contava com o apoio de alguns políticos (vereadores e deputados) e de ocupantes de cargos estratégicos no governo municipal e estadual. Foi citado, inclusive, a participação de uma juíza. Somente após a fixação das pessoas é que se tentava obter as condições mínimas necessárias para permanência no local: abastecimento de água, esgoto, fornecimento de energia elétrica e calçamento das ruas. Enquanto se buscava tais benefícios, a população ocupante ia adequando o espaço no sistema de mutirões.
4.3 DISTRIBUIÇÃO TERRITORIAL DA ESTRUTURA DA POPULAÇÃO - População total: 227 (IBGE/Censo 2010) – 274 (ESF/CF Epitácio S. Reis) - Famílias: 84 (ESF/CF Epitácio S. Reis) - Domicílios particulares e coletivos: 88 (IBGE/Censo 2010/Sinopse por setores) - População por gênero: 112 homens; 115 mulheres (IBGE) - População por faixa etária: S/I - População por escolaridade: Não deu tempo para conseguir dados oficiais de toda a população local. Entretanto, dos sete entrevistados, dois informaram serem analfabetos. A estratificação da taxa de alfabetização por setor censitário (IBGE/Censo 2010) do território aponta a comunidade Monte Sinai como a que possui a menor taxa de alfabetização (92%). Além disso, nenhum dos entrevistados possuía o Ensino Fundamental completo. - Dos grupos vulneráveis, são 20 idosos, 4 gestantes e 1 portador de necessidades especiais.
4.4 RECURSOS AMBIENTAIS E DO ESPAÇO CONSTRUÍDO
4.4.1 Clima Predominante
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Clima Tropical litorâneo, com chuvas abundantes no verão, que é muito quente e invernos com diminuição no regime de chuvas e temperaturas mais frias. Um exemplo de temperatura baixa registrada, recentemente, na cidade do Rio foi de 7°C durante o inverno de 2011. A temperatura média anual é 20ºC e o índice pluviométrico fica entre 1.000 a 1.500 milímetros anuais. (Defesa Civil – Rio)
4.4.2 Temperatura e Pluviometria A temperatura média da Cidade do Rio de Janeiro varia entre 20 e 30ºC. Não foi encontrado pelo grupo relato de desastres naturais cuja causa seja a temperatura da cidade.
Temperatura Média Máxima e Mínima na Cidade do Rio de Janeiro por mês no ano de 2012 40,00
⁰C
30,00 20,00
TempMaximaMedia (⁰C)
10,00
TempMinimaMedia (⁰C)
0,00 jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez Gráfico 1: Fonte: Instituto Nacional de Meteorologia (INMET). Estação Rio de Janeiro - RJ (OMM: 83743)
Segundo os dados pluviométricos dos últimos 10 anos coletados no sistema Alerta Rio, o período de maior intensidade de chuvas registrado na estação mais próxima do território estudado (Estação Anchieta) são os meses de novembro a fevereiro.
MÉDIA DOS ÍNDICES PLUVIOMÉTRICOS (2003 - 2012) ESTAÇÃO ANCHIETA 250,0 200,0
216,7
100,0 50,0 0,0
172,2
151,9
150,0 108,9
131,1
120,3
100,4 58,7
37,3
45,0
25,8
50,1
JAN FEV MAR ABRIL MAIO JUN JUL AGOST SET OUT NOV DEZ Gráfico 2: FONTE: Site Alerta Rio. Disponível em: <http://www0.rio.rj.gov.br/alertario/>. Acesso em: 10 de julho de 2013.
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4.4.3 Espaço Natural A comunidade ocupa um dos lados de uma elevação de terra, ou seja, encontra-se numa encosta (Foto 1 e 2). O meio encontrado para fixação das residências foi o corte do barranco (talude de corte) gerando, assim, plataformas usadas como apoio para o estabelecimento dos imóveis (Foto 3). Outro elemento importante é a ausência da vegetação nativa. A vegetação tem papel fundamental na estabilidade da encosta. As raízes das plantas seguram a terra e as folhas e copas das árvores reduzem o impacto das chuvas sobre o solo. Além disso, ela reduz o tempo de escoamento das águas pela superfície da área, reduzindo os processos de erosão (MÁXIMO, 2006). A vegetação predominante na comunidade Monte Sinai é composta por touceiras de mato e, na parte alta de um setor da encosta, de bananeiras (Foto 4). Algumas cicatrizes de deslizamento de encosta foram identificadas (Foto 5).
Foto 1: Vista da parte alta da comunidade.
Foto 2: vista da parte baixa da comunidade
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Foto 3: cortes no barranco para construção de moradias
Foto 4: vegetação predominante, mato e bananeiras em alguns pontos altos da encosta
Foto 5: cicatriz de deslizamento no barranco
4.4.4 Espaço Construído de uso comum O uso predominante do solo é de residências. Essas construções apresentam uma densidade regular das habitações. A comunidade possui ainda três comércios (Foto 6). e um espaço destinado ao funcionamento de uma associação de moradores.
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Quanto às condições das moradias, foram identificados imóveis permanentes, semiprecários e precários, sendo esta última a condição da maioria das construções (Fotos 7 e 8).
Foto 6: comércio local
Foto 7: Tipo de imóvel predominante: precário
Foto 8: Moradia precária cravada na encosta
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4.5 RECURSOS SOCIAIS, POLÍTICOS E CULTURAIS
4.5.1 Escolas Foram localizadas oito escolas no território, sete municipais e uma particular (Mapa 6). Não foram encontradas escolas estaduais ou federais. Também não foram identificadas escolas fora do território que fossem próximas a comunidade Monte Sinai.
Mapa 6: Escolas localizadas no território da CF Epitácio S. Reis. Em rosa as municipais, em laranja a particular e o polígono amarelo marca a comunidade.
4.5.2 Rede de Saúde Existe apenas uma unidade de saúde no território, a CF Epitácio S. Reis. Para os fins deste trabalho, outras unidades também foram identificadas. Algumas por estarem próximas da comunidade estudada e outras por terem sido apontadas pelas pessoas entrevistadas como sendo unidades de saúde que são procuradas pela população local (Mapas 7 e 8). - CEMAP Instituto de Ortopedia e Fisioterapia Rua mercúrio, 35, sobrado, Pavuna - CF Epitácio Soares Reis Rua Chrisóstomo Pimentel de Oliveira, s/n, Pavuna - CF Manoel Fernandes de Araújo - Seu Neco Rua Laudo de Camargo, s/n, Pavuna - Clinica Médica Odontológica São Lázaro Ltda Rua Laudo de Camargo, 50, Pavuna - CMS Portus e Quitanda Rua Jorge Nogueira, s/n, Costa Barros
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- Hospital Municipal Ronaldo Gazolla Av. Pastor Martin Luther King, 10976, Acari - UPA Costa Barros Est. Botafogo, s/n, Costa Barros - UPA 24 h. Marechal Hermes Rua Xavier Curado, s/n, Marechal Hermes - UPA 24 h. Ricardo de Albuquerque Est. Marechal Alencastro, s/n, Ricardo de Albuquerque - Hospital Estadual Getúlio Vargas Av. Lobo Júnior, 2293, Penha Circular
Mapa 7: Distribuição espacial das unidades de saúde mais próximas da Com. Monte Sinai e de outras procuradas pela população local.
Mapa 8: Distância da comunidade Monte Sinai das unidades de saúde frequentadas pela população local.
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4.5.3 Entidades Civis Não houve tempo hábil para um levantamento minucioso das entidades civis do território, bem como do entorno. Foi identificada uma quantidade considerável de instituições religiosas em relação ao pouco de tempo de pesquisa (Mapa 9). Quando for dado prosseguimento à pesquisa de campo, será verificada a existência de ONGs, associações de moradores, sindicatos, creches, clubes, igrejas, movimentos sociais e outros.
Mapa 9: Entidades civis. Identificadas igrejas e um clube no território.
4.6 RECURSOS DA ESTRUTURA SANITÁRIA DO TERRITÓRIO
4.6.1 Água Segundo o IBGE (Censo 2010), 100% dos domicílios da comunidade Monte Sinai contam com abastecimento de água da rede pública (Mapa 10). Contudo, verificou-se que a água é obtida através de ligações clandestinas e, das entrevistas realizadas, dois moradores informaram que possuem apenas um ponto de água na entrada de casa. (Fotos 9, 10 e 11)
Mapa 10: Abastecimento de água por setor censitário (IBGE/Censo 2010)
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Foto 9: Ligação de água clandestina.
Foto 10: Caixa d’água sem tampa coberta com tela fornecida pela prefeitura.
Foto 11: Água para consumo armazenada em baldes. Foram encontrados focos de mosquitos no local.
4.6.2 Esgoto Segundo o IBGE (Censo 2010), menos de 10% dos imóveis da comunidade não contam com esgotamento sanitário (Mapa 11). Nas entrevistas aplicadas, dois residentes declararam usar sumidouros. Todos os outros declararam que seus imóveis estavam ligados à rede de
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esgoto. Todavia, constatou-se que o que foi declarado como rede de esgoto trata-se na verdade de uma canalização irregular com despejo na rede de coleta de águas pluviais da ferrovia localizada em frente a parte baixa da comunidade (Mapa 12 e Foto 12). Também foram identificados alguns imóveis sem nenhum tipo de canalização da água utilizada sendo, esta água, despejada diretamente no solo. Um agravante desses casos é que esses imóveis estão na parte alta da comunidade, propiciando o escoamento da água por toda a comunidade morro a baixo (Foto 13).
Mapa 11: Domicílios com esgotamento sanitário da área de abrangência da CF Epitácio S. Reis por setor censitário.
Mapa 12: Fluxo do esgoto da comunidade até seu destino na linha de trem.
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Foto 12: Esgoto desaguando na rede de coleta de águas pluviais da rede ferroviária
Foto 13: Esgoto a céu aberto em casa da parte alta da comunidade.
4.6.3 Coleta de Lixo De acordo com o censo 2010 (IBGE), cerca de 100% dos imóveis da comunidade contam com coleta de lixo (Mapa 13). Porém, tanto nas entrevistas quanto nas observações foi constatado que não há coleta de lixo no local. Além dos acúmulos de lixo em diversos pontos internos da comunidade, em sua maioria, o lixo é depositado nas extremidades da mesma (Mapa 14), ou seja, na entrada superior (Foto 14) e na inferior (Fotos 15 e 16). Quanto a esta última, que fica na parte baixa e de frente para a linha do trem, o lixo é acumulado na beira da linha férrea. Ainda sobre o lixo acumulado na parte baixa, segundo relatos, a empresa responsável pela coleta do lixo da cidade (COMLURB), de tempos em tempos, envia uma pá mecânica para recolher o lixo acumulado no local. Durante esse procedimento, uma parte do lixo é jogada dentro do espaço da rede ferroviária. Quando o lixo demora a ser recolhido, ele costuma ser queimado.
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Mapa 13: Porcentagem de domicílios com coleta de lixo por setor censitário da área de abrangência da CF. Epitácio S. Reis.
Mapa 14: Pontos de despejo de lixo da comunidade Monte Sinai.
Foto 14: Local de depósito de lixo na entrada superior da comunidade.
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Foto 15: Queima de lixo na parte inferior da comunidade Monte Sinai
Foto 16: Despejo de lixo na parte inferior da com. Monte Sinai
4.7 – SAÚDE E DEFESA CIVIL NO TERRITÓRIO
4.7.1 Defesa Civil A Defesa Civil municipal do Rio de Janeiro não possui unidades distribuídas de forma capilarizada na cidade. Este setor é centralizado e desloca-se de acordo com as demandas. No que tange a profissionais capacitados em ações de defesa civil nos diversos territórios da cidade, o que se tem são os NUDECs. Os NUDECs fazem parte do Sistema de Alerta e Alarme Comunitário para Chuvas Fortes (Sistema A2C2) da cidade do Rio de Janeiro. Seu objetivo é capacitar, cadastrar e equipar todos os Agentes Comunitários de Saúde (ACS) para atuar na prevenção, no Sistema A2C2 e na resposta visando a redução de desastres. Além dos ACS, o Sistema A2C2 também envolve a Defesa Civil Municipal, o Sistema alerta Rio, o Centro de Operações Rio, as lideranças comunitárias, grupos de voluntários e outros órgãos públicos.
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Em conversa com alguns ACS que atuam no território, percebeu-se a necessidade de uma continuidade na formação dessa categoria nas ações de defesa civil. A ACS que atende especificamente a comunidade Monte Sinai, ao ser questionada, chegou a relatar que não participou da formação, informação corrigida por seus colegas de trabalho.
4.7.2 Saúde A saúde está presente no território através de uma unidade de atenção primária à saúde: a Clínica da Família Epitácio Soares Reis. Nesta unidade, além da organização e ações características da atenção primária, existe uma equipe de Agentes de Vigilância em Saúde (AVS) integrada. As duas categorias de agentes de saúde presentes no local (AVS e ACS) possuem em comum o caráter promotor e preventivo da saúde, cada um dentro do seu campo de ação. Se, por um lado, os ACS receberam alguma formação em defesa civil, por outro, é uma das atribuições da vigilância em saúde a atuação em desastres, em todas as etapas de sua gestão. Um problema identificado é que a ACS responsável pela área da comunidade pouco tem conseguido estar presente no local devido ao déficit de trabalhadores na clínica da família, obrigando-a a ficar mais tempo na unidade. Por sua vez, os AVS da clínica da família não possuem nenhum tipo de capacitação em desastres naturais. Estes, devido a sua trajetória histórica no campo da saúde, ainda são muito focados nas ações de prevenção e controle da dengue. A Secretaria de Saúde do Rio de Janeiro está promovendo uma formação técnica em vigilância em saúde para os AVS, mas é um processo lento e apenas uma pequena parcela (150 AVS, do universo de mais de 2.000) já concluiu a formação técnica. E outra pequena parcela (150 AVS) está com sua formação em curso.
5 FATORES DE RISCO
A Comunidade Monte Sinai foi instalada de forma desordenada em um plano inclinado (encosta) de um bairro que possui um dos mais baixos Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) da Cidade do Rio de Janeiro, o bairro da Pavuna1. 1
O Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) é obtido pela média aritmética simples de três índices, referentes às dimensões Longevidade (IDHM - Longevidade), Educação (IDHM-Educação) e Renda (IDHM-Renda).
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O IDH da Pavuna, no ano de 2000, era de 0,790, o 99º melhor da cidade do Rio de Janeiro (ranking por bairro ou grupo de bairros). Dos 160 bairros da cidade, somente 33 bairros apresentaram IDH inferior ao da Pavuna. O período de novembro a fevereiro é o de maior precipitação pluviométrica, segundo os índices dos últimos dez anos medidos na estação mais próxima do território (Anchieta). A chuva é o único evento físico com potencial de gerar um desastre natural na comunidade Monte Sinai. E o deslizamento de terra é a ameaça/perigo ao qual a comunidade está exposta devido a sua vulnerabilidade associada com a presença do evento físico citado. A população residente é composta por pessoas pobres, de baixa escolaridade e vivem em condições bem precárias. Pela análise dos questionários aplicados, pôde-se perceber que as fontes de renda são oriundas de atividades informais e, em alguns casos, desenvolvidas dentro da própria comunidade (bicos de pedreiro, pequenos comércios, transporte escolar e aluguéis de casas dentro da própria comunidade). As construções foram feitas em taludes escavados com grande probabilidade de deslizamento em alguns pontos. Além dos cortes na encosta para construção, novos cortes/escavações continuam sendo feitos para aumentar os terrenos das casas. O tipo de vegetação predominante é o mato e bananeiras, em uma das partes altas. Além de o mato não ser suficiente para contribuir na prevenção de deslizamentos, as bananeiras, por acumular grande quantidade de água, facilitam o deslocamento de massa. Apesar da maior parte da água utilizada ser drenada para a parte baixa da comunidade, mesmo que de forma irregular, ainda assim, na parte alta, há esgoto a céu aberto que, segundo relatos, por vezes se apresenta tão intenso que escorre por toda a comunidade. Em diversos pontos foram verificados não só lixo jogado, mas também entulhos. Tratase de uma combinação perigosa, pois lixo e entulhos não dão “liga” ao solo, facilitando deslizamentos. As ruas são todas de barro, não há nenhum trecho asfaltado ou com qualquer outro tipo de calçamento. A comunidade se organiza em torno de uma rua principal, estreita, que foi rasgada na encosta, e algumas poucas laterais. Essa rua principal é mais baixa do que suas laterais fazendo com que tenha a mesma configuração de uma grande vala. A tendência é de que essa rua vá se aprofundando cada vez mais, pois, a cada chuva, grande quantidade de terra é deslocada. A terra deslocada em dias de chuva gera outro transtorno. Ela se deposita na pista que corre na parte baixa da comunidade formando um leque de terra na pista (Fotos 17 e 18). Depois de seco, essa terra/barro fica bem fina favorecendo derrapagens pelos carros
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passantes. Tivemos diversos relatos de acidentes, seja pelo desvio dessa terra, seja por derrapagem de veículo. Sair do local também não é uma tarefa fácil. A inclinação do terreno somada a irregularidade do chão torna a mobilidade local algo muito difícil. Uma senhora declarou ter caído mais de uma vez por conta dessa combinação. Não houve relato de crime organizado ou tráfico de drogas dentro da comunidade. Contudo, a mesma encontra-se cercada por um conjunto de favelas das mais perigosas (Chico Mendes/Chapadão, Portus-Quitanda, Lagartixa, Pedreira, Caminho do Job). Por fim, a percepção de risco por parte da população é quase inexistente. Mesmo o grupo de pesquisa tendo apontado para situações evidentes de perigo, tais situações não foram reconhecidas pela população residente. No máximo, reconhece-se o perigo de escorregar na única via de acesso e saída da comunidade.
Foto 17: Terra/barro avançando na rua após chuvas. Vista da entrada da comunidade (parte baixa).
Foto 18: Detalhe da terra deslocada cobrindo logradouro.
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6 POTENCIALIDADES
As potencialidades existentes na dinâmica da comunidade contribuem para aumentar a resiliência local. Apesar de poucas, algumas podem ser relacionadas: - A Igreja de Santo Antônio, próxima ao local, possui uma rotina de doação de cestas básicas pra população local, - A indústria Apolo, localizada ao lado da CF Epitácio S. Reis, oferece cursos profissionalizantes; - A região é cuidada por uma unidade de Atenção Primária à Saúde (CF Epitácio S. Reis), o que significa a existência de um ACS responsável pelo acompanhamento das famílias residentes. E tal ACS tem formação mínima em ações de Defesa Civil por meio do programa dos NUDECs; - Apesar de ainda muito focado na questão da dengue, a comunidade conta com a presença constante de um agente de vigilância em saúde, que tende a ser cada vez mais qualificado e, assim, aumentar sua capacidade de avaliar riscos e criar formas de intervenção com vistas à proteção da população. - O serviço de envio mensagem de alerta de tempestades via SMS prestado pela Defesa Civil da Cidade do Rio de Janeiro, apesar de não ser especificamente voltado para a localidade estudada, atende a todos os interessados, bastando apenas se cadastrar (gratuitamente). Sendo assim, é também uma potencialidade a ser utilizada pela população local, já que permite o conhecimento precoce da ocorrência de chuvas fortes.
7 O AGENTE DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE NAS ETAPAS DE UM PLANO DE GESTÃO DE RISCO DE DESASTRES
7.1 REDUÇÃO DE RISCO
7.1.1 Prevenção
A prevenção é o principal meio para a redução dos riscos de desastres. Ela envolve basicamente políticas públicas e sociais que visem a melhoria das condições de vida e infraestrutura de toda a sociedade e, com isso, reduzir ou eliminar os fatores de risco e os impactos sobre a saúde.
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Nesta fase, o AVS poderia/deveria contribuir com ações de vigilância em saúde em seu sentido amplo. Ou seja, com um processo permanente de monitoramento das condições de vida e saúde da população do seu território de ação. Tal atividade poderia se materializa num mapa de risco do território de atuação.
7.1.2 Mitigação
A mitigação envolve as ações de saúde para minimizar os fatores de riscos já existentes. Nesta fase do processo o AVS deve identificar as condições ambientais (inclinação do terreno, lugares de alagamento, tipo de vegetação, erosão etc.), sanitárias (despejo do esgoto, abastecimento de água e coleta de lixo), o perfil epidemiológico da população (doenças crônicas, doenças que possam ser agravadas em casos de desastres), a identificação dos grupos mais vulneráveis (crianças, idosos, gestantes, portadores de necessidades especiais) e o grau de percepção daquela população quantos aos riscos de desastres na comunidade. A comunidade Monte Sinai, como já apontado anteriormente, apresenta precárias condições de saúde. Segundo a ACS da região, a comunidade possui 26 hipertensos, 5 diabéticos e apresentou 2 casos de hepatite A. Durante as entrevistas, foi encontrado um caso de tuberculose com abandono de tratamento e outros tipos de doenças, possivelmente causados pelas condições sanitárias do local, como verminose e escabiose. A percepção de risco por parte da população é quase inexistente. Mesmo o grupo de pesquisa tendo apontado para situações evidentes de perigo, tais situações não foram reconhecidas pela população residente. No máximo, reconhece-se o perigo de escorregar na única via de acesso e saída da comunidade. De posse destas informações, os AVS podem atuar para aumentar a resiliência da população local, através da comunicação, informação e educação em saúde, voltado para minimizar os riscos causados pelas condições existentes na própria localidade.
7.1.3 Preparação
A preparação visa assegurar antecipadamente uma resposta adequada em caso de desastres, é nesta fase que entra a preparação da população local para saber como agir em caso de desastre. O AVS, a partir do seu conhecimento do território, poderia ajudar na identificação de possíveis pontos de apoio na localidade. Poderia também, identificar pessoas chaves, como
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moradores antigos, ou que exerçam alguma liderança na comunidade. Uma vez identificadas, essas pessoas serviriam como importantes interlocutores de referência no seio da comunidade. Contido nesta etapa, está uma abordagem específica das ações de vigilância já desenvolvidas: a identificação e análise das condições de vulnerabilidade e fatores de risco voltado para os desastres naturais. A manutenção de um canal de comunicação permanente onde estejam contempladas abordagens sobre a possibilidade de desastres e os procedimentos a serem adotados por todos. Tais ações comunicativo-educativas devem ser intensificadas em épocas de maior risco, no caso da comunidade Monte Sinai no período que vai de outubro a março, por coincidir com o período de maior ocorrência de chuvas.
7.2 MANEJO DO DESASTRE
7.2.1 Alerta
As ações educativas e de comunicação fazem parte de todas as etapas da gestão de risco. Contudo, elas vão modificando o tipo de abordagem e os conhecimentos trabalhados de acordo com o momento em que elas acontecem. No caso do momento de alerta, cabe estabelecer ações de educação e medidas de comunicação de alerta à população, aos gestores e aos profissionais. A Cidade do Rio de Janeiro conta com sirenes (alarme sonoro) que estão sendo implantadas nas comunidades que possuem o Sistema de Alerta e Alarme Comunitário para Chuvas Fortes. Além deste sistema, a Defesa Civil também oferece um serviço gratuito de envio de mensagens SMS para os celulares dos ACS e dos demais integrantes do Sistema A2C2. O AVS, direta ou indiretamente, está envolvido nessa relação defesa civil-atenção primária-lideranças comunitárias na medida em que está sendo integrado às equipes de saúde da família. Auxiliar na remoção dos moradores, principalmente a dos grupos mais vulneráveis (idosos, pessoas com necessidades especiais e gestantes).
7.2.2 Resposta
A fase de resposta ocorre no pós desastre, e tem por finalidade salvar vidas, reduzir o sofrimento humano e diminuir as perdas materiais. Deve ser planejada antes da ocorrência de
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um desastre, pois o sucesso destas ações dependerá da capacidade de resposta durante a ocorrência dos desastres. Diversas são as atividades passíveis de serem executadas pelos agentes de saúde na fase de resposta: - acompanhar as ações de busca e resgate, contribuindo com seu conhecimento da geografia do território e da população residente; - contribuir nas ações de vigilância epidemiológica, ambiental e sanitária voltadas para situações de desastres; - desenvolver ações educativas com temáticas relevantes ao momento de resposta (desinfecção de água, alimento e ambientes; forma de se prevenir de doenças etc.); - intensificar ações de monitoramento e controle de vetores; - orientar e, quando for o caso, executar ações de saneamento ambiental; - auxiliar na distribuição e separação de roupas e na organização e acomodação das famílias; - ajudar a garantir a distribuição de alimentos e água segura. Questões importantes nesta etapa: a) Água A água é vital para a sobrevivência das pessoas e, por isso, nos desastres, a provisão de água segura é uma das prioridades a se resolverem. b) Saneamento A qualidade do ambiente onde habitam as pessoas afetadas pelo desastre tem um papel crucial em seu estado de saúde. As principais ações para evitar uma deterioração maior e procurar a melhoria gradual desse hábitat são a disposição apropriada de resíduos sólidos. Os resíduos sólidos resultam de uma combinação de lixo doméstico, cadáveres de animais e outra série de resíduos cuja acumulação incide diretamente na aparição e propagação de doenças transmitidas por vetores. c) Controle de vetores A deterioração das condições ambientais facilita a proliferação de vetores responsáveis pela transmissão de doenças. Isso exige a aplicação de medidas específicas e, muitas vezes simples, para manter esses vetores em um nível suficientemente baixo para prevenir riscos para a saúde humana.
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7.3 RECUPERAÇÃO
7.3.1 Reabilitação
Nesta fase que ocorre o retorno dos serviços como abastecimento de água, coleta de lixo, fornecimento de energia e também os serviços de assistência e vigilância a saúde. Existem muitas doenças que surgem em função das condições geradas pelos desastres, assim como acidentes com animais peçonhentos. Das doenças, destacam-se as de veiculação hídrica (leptospirose, hepatite A e doenças gastrointestinais). É nesta fase que o AVS deve intensificar as ações, inclusive através da realização de mutirões, nas áreas afetadas para monitoramento e controle de vetores, hospedeiros, animais peçonhentos e saneamento ambiental. Além disso, dar continuidade às atividades de informação, comunicação e educação em saúde para tentar minimizar a ocorrência e/ ou os danos causados por estas doenças.
7.3.2 Reconstrução
É a fase de reconstrução da infraestrutura física e o funcionamento definitivo dos serviços. É também o momento mais oportuno para realizar uma avaliação de todo o processo, apontando os erros e acertos, para se construir medidas mais eficazes para a redução de riscos futuros.
8 SUGESTÕES
- Faz-se necessário a avaliação de um profissional da área de engenharia, arquitetra ou urbanismo para avaliar a melhor solução para as vias de trânsito da comunidade Monte Sinai. As leituras realizadas pelo grupo indicam que o asfaltamento talvez não seja a melhor solução no caso estudado sendo, talvez, a escadaria a melhor opção para a circulação, entrada e saída do local; - É importante que a Defesa Civil mantenha um trabalho contínuo de capacitação dos ACS. A formação inicial é importante, contudo, a falta de contato com o tema tende a fazer com que o mesmo caia no esquecimento e, numa necessidade, não se tenha desses trabalhadores a resposta esperada;
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- O desenvolvimento da capacidade do AVS em ações de vigilância em saúde através da formação técnica é fundamental. No entanto, a formação que vem sendo oferecida não é parte de uma política de formação de trabalhadores do SUS institucionalizada. Essa característica possibilita que o processo de formação seja interrompido a qualquer momento, antes de todos os AVS se formarem; - A instalação de uma sirene seria muito útil na comunidade Monte Sinai. Porém, a sirene apresenta sua melhor utilização no contexto do sistema A2C2 e, nesse sentido, cabe uma avaliação anterior que indique as condições preliminares a serem atendidas para sua implantação; - Pelos levantamentos feitos, seria interessante a presença do poder público municipal, talvez da Secretaria de Desenvolvimento Social (SMDS), para buscar uma estratégia que contribua para o aumento da escolaridade da população local;
9 CONCLUSÃO
A Comunidade Monte Sinai é uma ocupação que apresenta um alto risco para ocorrência de desastres naturais, especificamente o deslizamento de terra. As vulnerabilidades são muitas e de muitos tipos (sociais, econômicas, pessoais, ambientais, sanitárias). O evento físico disparador, as chuvas fortes, é presente e, devido às mudanças climáticas que vimos testemunhando, imprevisível. Ficou claro que é necessário desenvolver ferramentas e metodologias de análise e diagnóstico para avaliação de risco de desastres nos territórios. Tais ferramentas devem sair da academia e ser incorporadas no arsenal de conhecimentos dos diferentes tipos de agentes que atuam territorializados. A experiência adquirida no exercício proposto, e materializada nesse relatório, certamente vai modificar o ver e o agir de cada um dos participantes. Muito poderia ter sido acrescentado, mas o tempo curto não favoreceu. Entretanto, vai ser mais fácil dar continuidade do ponto em que parou do que “deixar pra lá”.
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REFERÊNCIAS Defesa Civil da Cidade do Rio de Janeiro. Disponível em: <http://www.formulariosonline.com.br/sitedc/index.php?option=com_content&view=article& id=89&Itemid=61>. Acesso em 15 jun. 2013. Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (ENSP). Centro de Conhecimento em Saúde Pública e Desastres. Disponível em: <http://andromeda.ensp.fiocruz.br/desastres/>. Acesso em: 17 jul. 2013. IBGE. Censo 2010. Sinopse por setores. Disponível em : <http://www.censo2010.ibge.gov.br/sinopseporsetores/?nivel=st>. Acesso em: 20 jul. 2013 Instituto Nacional de Meteorologia (INMET). Banco de Dados Meteorológicos para Ensino e Pesquisa (BDMEP). Disponível em: <http://www.inmet.gov.br/projetos/rede/pesquisa/>. Acesso em: 15 jun. 2013. MÁXIMO, Amanda Carolina. Uma análise do risco nas ocupações urbanas de encostas. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo). Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 2006. Material didático utilizado no curso
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ANEXOS
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ANEXO 1 Reconhecimento do território: ambiente natural e construído 1. Topografia/forma do terreno: ( ) área de baixada; ( ) área alta – cume de morro; ( ) encosta; ( ) margem de rio/canal; ( ) outros __________________________________________________________________________ Descrição – comentários – problemas: ___________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ 2. Uso predominante do solo: ( ) residencial; industrial; ( ) comercial e serviços; ( ) agrícola; ( ) área com vegetação natural. Descrição – comentários – problemas: ___________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ 3. Densidade das habitações – proximidade e espaço entre as construções: ( ) baixa; ( ) regular; ( ) elevada. Descrição – comentários – problemas: ___________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ 4. Condições de moradia: ( ) precária; ( ) semiprecária; ( ) permanente Descrição – comentários – problemas: ___________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ 5. Abastecimento de água (rede encanada): ( ) regular; ( ) irregular; ( ) clandestino; ( ) uso de fontes; ( ) poços; ( ) bicas; ( ) riachos. Descrição – comentários – problemas: ___________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ 6. Sistema de esgoto (para onde vai a água utilizada): ( ) rede oficial; ( ) fossa séptica; ( ) a céu aberto; ( ) outra ___________________________________________________________________________________ Descrição – comentários – problemas: ___________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ 7. Condições da pavimentação e da drenagem das ruas: ( ) precária; ( ) adequada; ( ) inexistente Descrição – comentários – problemas: ___________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ 8. Coleta de lixo: ( ) regular; ( ) irregular; ( ) acumulado em locais. Descrição – comentários – problemas: ___________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ 9. Existência de recursos sociais: ( ) escolas; ( ) farmácias; ( ) transporte público; ( ) unidade de saúde; ( ) outros serviços públicos ____________________________________________________________________ Descrição – comentários – problemas: ___________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ 10. locais de encontro da população de hábitos cotidianos: ( ) espaços de lazer; ( ) campo de futebol; ( ) clube; ( ) culto religioso; ( ); vendinhas e bares; ( ) outros _________________________________________________ Descrição – comentários – problemas: ___________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ 11. Existência, no território ou no entorno, de atividades produtivas (indústrias, plantações), de comércio (mercados, shoppings), de circulação (estradas, grandes avenidas) que influenciam decisivamente nas condições de vida e situação de saúde local. Descrição – comentários – problemas: ___________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________ 12. Ocupação de encosta por meio de talude de corte: ( ) sim; ( ) não Descrição – comentários – problemas: ___________________________________________________________
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ANEXO 2 Questionário para ser aplicado na população residente da Com. Monte Sinai Nome do território Nome do entrevistado 1) Há quanto tempo (anos) mora no local? R1 R2 R3 8. NS/NR 2) Antes de morar aqui no território, onde morou? R1 R2 R3 0. sempre morou 8. NS/NR 3) Como avalia as condições da sua casa, de sua moradia? 1. boas 2. ruins 3. precisando de reparo, reforma ou obras 8. NS/NR 4) Que recursos domésticos dispõem? a. geladeira b. televisão com canais comuns ou parabólica c. TV a cabo ou satélite (Sky, Net...) d. telefone fixo ou celular e.computador f. DVD g. internet discada h. internet em banda larga i. automóvel
SIM
NÃO
NS/NR
5) De onde vem a água utilizada em sua casa e como é armazenada? a. vem da rede encanada da rua b. vem da cacimba, poço artesiano ou de manilha c. vem de riacho ou canal d. tem água encanada dentro de casa e. a água é armazenada em caixa d'água ou cisterna f. a água é armazenada em vasilhas, latas, panelas ou baldes g. compram água de caminhão pipa h.compram água mineral para beber ou cozinhar i. recolhe água da chuva j. outra forma (qual)
SIM
NÃO
NS/NR
6) Como funciona o esgoto em sua casa? a. tem banheiros com vaso sanitário b. o esgoto é ligado a uma rede integrada no território c. tem sistema de fossas com sumidouros d. tem vala de esgoto a céu aberto e. tem despejo em valão f. tem despejo em rio, lagoa ou praia g. usam o quintal ou terrenos baldios
SIM
NÃO
NS/NR
7) Que destino dá ao lixo que produz em sua casa? a. entrega ao caminhão do lixo na porta de casa b. entrega ao gari comunitário c. queima d. joga em terreno baldio ou lixão e. coloca numa caçamba de lixo fixa f.amontoa no meio da rua para ser recolhido g. joga no valão ou rio h. entrega para reciclagem i. separa o lixo orgânico para adubagem/compostagem j. outro destino (qual)
SIM
NÃO
NS/NR
SIM
NÃO
NS/NR
8) Existem animais domésticos na sua residência? Quais? R1 R2 R3 8. NS/NR 9) Em sua casa tem alguém doente? Com quais doenças? R1 R2 R3 0. Ninguém doente ou Nenhuma doença 8. NS/NR 10) Quando as pessoas em sua casa adoecem, onde procuram a assistência médica? a. no posto de saúde local (qual?) b. no hospital municipal ou estadual (qual?) c. em clínica particular (qual?) d. em outro lugar (qual?) i. às vezes não procuram ninguém 11) Como classifica os serviços de assistência à saúde aos moradores daqui do território? 1. atende plenamente as necessidades de saúde dos moradores 2. não atende as necessidades de saúde dos moradores 3. atende as necessidades básicas de saúde dos moradores, mas faltam especialistas 8. NS/NR
12) Identifica no território os seguintes problemas: a. contaminação do ar por poeira b.contaminação do ar pelo trãnsito c. mal cheiro d. contaminação da água de poços, de fontes ou tubulações d'água e; contaminação da água de rios, lagoas ou manguezais f. enchente, deslizamento ou desabamentos causados por chuvas g. infestação de mosquitos h. infestação de moscas, baratas e outros insetos i.presença de ratos j. presença de caramujos africanos
SIM
NÃO
SIM
NÃO
k. presença de animais peçonhentos (escorpião, lacraia, aranha, cobra) l. animais domésticos abandonados pela rua m. mal estado de ruas e calçadas n. falta transporte coletivo ou o que tem é precário o. falta constante de enrgia elétrica p. falta constante d'água q. barulho constante por aparelhos de som 9vendedores, bailes, templos religiosos, festas, bares, vizinhos) r. violência ou falta de segurança pública s. brigas entre vizinhos t. atropelamento de mroadores u. há moradores vivendo em condições muito precárias v. há muitos moradores novos na comunidade w. há rivalidades com comunidades próximas dificultando o livre trânsito dos moradores x. há prostituição de crianças e adolescentes na comunidade y. o lugar tem uma reputação ruim, falam mal daqui z. algum outro problema (qual) 13) Na sua opinião, que recursos precisam melhorar no território? a. os serviços de assistência à saúde b. os serviços de vigilância e educação em saúde c. as escolas d. as creches e. o transporte f. o comércio g. a segurança prública h. a iluminação pública i. as atividades de lazer j. as atividades culturais k. estado das avenidas, estradas, ruas e caminhos l. as praças m. outro (qual) 14) Na sua opinião, qual o problema mais grave do território? R1 R2 8. NR/NS
NS/NR
15) Qual a sua idade (anos)? R1 R2 R3 8. NS/NR 16) Sabe ler e escrever? 1.sim 2. não (vá para Q. 18 e marque NA na Q. 17a.) 8. NS/NR 16a) Estudou até que série, de que curso? 0. nenhuma 1. fundamental incompleto 2. fundamental completo 3. médio incompleto 4. médio completo 5. superior incompleto 6. superior completo 7. NA 8. NS/NR 17) De onde tira o sustento financeiro de sua vida? a. de trabalho remunerado fora da comunidade b. de trabalho remunerado dentro da comunidade c. de aposentadoria d. de outra fonte (quais?) 18) Quantas pessoas, além do sr(a) vivem na sua casa? R1 R2 R3 0. Entrevistado mora só 8. NS/NR 19) Qual pe a renda média mensal de todos os moradores de sua casa? R1 R2 R3 8.NS/NR
20) Diria que as vezes deixa de fazer alguma coisa, de praticar alguma atividade ou mesmo de sair de casa por medo? 1. sim (medo de quê? 2. não 8. NS/NR
SIM
NÃO
Este relatório de campo foi desenvolvido pelo corpo discente como um Trabalho de Conclusão do Curso Agente Locais em Desastres Naturais, um projeto-piloto que visa a formação de multiplicadores em ações de Saúde, Proteção e Defesa Civil. Este material está em validação, por esta razão não pode ser divulgado, copiado, alterado, citado e impresso. A impressão está autorizada somente ao corpo docente e discente. Esta publicação foi desenvolvida em 2013 no Estado Rio de Janeiro, RJ, Brasil. O curso ocorreu entre os meses junho e julho de 2013 na cidade de Petrópolis, RJ, Brasil.