ENEM - Redação

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Redação

UNIDADE 1 Texto e suas teorias Unidade linguística de sentido completo, cuja função é estabelecer a comunicação entre seu produtor e o seu(s) destinatário(s).

verbais (imagens e símbolos são utilizados na confecção) e híbridos (associação entre palavras e imagens). No plano do conteúdo, são divididos em literários (ou artísticos) e não literários (ou técnicos). Vale ressaltar sempre que quanto mais se conhece diferentes textos, mais fácil será o trabalho de interpretação, vital para uma boa nota na prova do Enem. Competências para um bom texto

O texto se caracteriza pela textualidade, que faz com que um texto seja realmente texto e não apenas soma de frases. Os principais fatores de textualidade são: contextualização, intencionalidade, coesão e coerência. Contextualização: refere-se à expectativa em relação ao texto e à antecipação ao leitor do assunto de que o texto vai tratar. Nesse sentido, cabe observação ao local e à data de publicação de um texto, ao autor do texto, título do texto, imagens do texto. Intencionalidade: refere-se ao objetivo do texto. Nesse sentido, é importante observar os elementos linguísticos que sinalizam a intencionalidade no próprio corpo do texto. Coesão: é a conexão, ligação, harmonia entre os elementos de um texto. Percebemos tal definição quando lemos um texto e verificamos que as palavras, as frases e os parágrafos estão entrelaçados, um dando continuidade ao outro. Os elementos de coesão determinam a transição de ideias entre as frases e os parágrafos. Coerência: refere-se ao estabelecimento de um sentido para o texto e à relação harmônica entre as idéias apresentadas em um texto. Assim, a coerência engloba a forma e o conteúdo do texto, remetendo à seqüência ordenada das opiniões ou fatos expostos de forma coerente, sem contradições ao que se afirma para os interlocutores. Importante lembrar: Os gêneros textuais são realizações lingüísticas concretas definidas por propriedades sociocomunicativas representando, assim, infinitas possibilidades. A tradição escolar trabalha com a tipologia textual (tipos de textos definidos por propriedades linguísticas), apresentando, normalmente, a descrição, a narração e a dissertação. O Enem solicita que o candidato produza um texto DISSERTATIVO, nosso alvo de análise e estudo.

FIQUE LIGADO NO ENEM! Texto é uma unidade linguística, logo, se constrói através da linguagem. Como já vimos na apostila de ‘Linguagens, Códigos e suas tecnologias’ há diferentes níveis de linguagens que variam de acordo com o objetivo do sistema de comunicação. Observamos os textos quanto à forma e quanto ao conteúdo. Quanto à forma, os textos podem ser classificados como verbais (construídos com palavras, no sentido estrito do termo); não

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Para alcançar a nota máxima na prova de Redação do Enem, é preciso dominar as seguintes competências: Competência I: Demonstrar domínio da norma padrão da língua escrita Competência II: Compreender a proposta de redação e aplicar conceitos das várias áreas de conhecimento para desenvolver o tema, dentro dos limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo. Competência III: Selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista. Competência IV: Demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para a construção da argumentação. Competência V: Elaborar proposta de intervenção para o problema abordado, respeitando os direitos humanos.

UNIDADE 2 Linguagem e bagagem Linguagem impessoal O texto dissertativo deve ser escrito, via de regra, na terceira pessoa. Dito de outro modo, os pronomes “eu”, “meu” ou “minha” jamais deverão ser utilizados, bem como formas verbais que contenham em sua estrutura a desinência número-pessoal da primeira pessoa: “acredito”, “acho”, “devo”, “quero”. Pessoalidade x Impessoalidade Uma primeira distinção que se pode estabelecer acerca dos usos da linguagem diz respeito ao grau de intervenção do autor no texto. Esse aspecto pode ser verificado no nível morfológico, de acordo com o uso de duas classes gramaticais. Obviamente, sendo a 1ª pessoa (do singular ou do plural) a “pessoa que fala” – isto é, o emissor -, sempre que ela aparece em um texto, pode-se perceber a presença do autor. Por isso, denominamos a linguagem empregada de pessoal. Se, ao contrário, a 1ª pessoa está ausente e o autor utiliza apenas a 3ª pessoa, a linguagem do texto é impessoal. Dito de outro modo, será pessoal todo texto eu utilizar, mesmo que apenas um vez, um pronome ou verbo em 1ª pessoa. Linguagem pessoal é diferente de conteúdo opinativo. Existe uma confusão bastante frequente entre alunos que começam a lidar com a modalidade dissertativa. Para

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Redação muitos, parece contraditório que o autor defenda uma opinião, um ponto de vista, mas o faça com uma linguagem impessoal. Para desfazer essa dúvida, vale lembrar que linguagem diz respeito à forma, isto é, ao modo de organizar o discurso, enquanto opinião remete ao conteúdo, isto é, àquilo que se diz. Trata-se, a rigor, de dimensões distintas. De forma didática, pode-se afirmar que o conteúdo de um texto pode ser opinativo ou factual. Ele é opinativo quando o autor do texto apresenta uma visão da realidade, sujeita a discussão, uma vez que parte de sua subjetividade – e a subjetividade humana é bastante diversificada. O conteúdo do texto é factual quando o autor apresenta dados objetivos da realidade, sem sugerir seu ponto de vista. Trata-se daquilo que se convencionou chamar de imparcialidade. Examine o quadro a seguir: Conteúdo

Linguagem

Fato Opinião Impessoal Esta cadeira é Esta cadeira branca. confortável. Pessoal

é

Eu me sento Eu acho esta nesta cadeira cadeira quase todos confortável. os sábados.

FIQUE LIGADO NO ENEM! Existe a possibilidade de ser utilizada a primeira pessoa do plural (nós), contudo esse subterfúgio só deve ser empregado quando estivermos diante de um contexto mais humanístico, em que a inclusão genérica do enunciador seja bem-vinda. É o que acontece em muitas provas do Enem, que por apresentar muitas vezes um caráter nitidamente social, acaba fazendo com que o aluno se sinta à vontade para redigir estruturas como “Devemos buscar, então, os meios adequados para diminuir tamanho flagelo social.” ‘Bagagem’ - Conhecimento de mundo Imagine que alguém lhe desse a seguinte tarefa: “Escreva!” Não restam dúvidas de que mesmo o mais típico redator teria dificuldades em cumpri-la. Mas por quê? Ora, porque se trata de uma atividade vazia, sem objetivo, natural apenas para pessoas com dons artísticos. O resto de nós normalmente precisa de um mínimo de estímulo para escrever. E considerando que toda escrita acaba sendo um ato de comunicação, o fator que pode nos levar a querer redigir um texto é a necessidade de nos comunicarmos. Dito de outro modo, escrever pressupõe ter o que dizer. Na vida cotidiana, se não temos uma mensagem a transmitir ou uma ideia a defender, podemos permanecer calados. Na situação do vestibular ou do Enem, porém, mesmo que não queiramos escrever, ou seja, mesmo que não tenhamos uma necessidade evidente de comunicação, precisamos produzir uma dissertação. Trata-se de uma exigência, da qual não podemos fugir, sob pena de não passarmos para o curso almejado. Às vezes, damos sorte

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de “cair” um tema que nos interessa, sobre o qual tenhamos lido ou conversado em uma reunião familiar. Nesse caso, nossa redação provavelmente será interessante, porque temos informações úteis e bons argumentos. Enfim, já refletimos sobre o assunto. Ocorre que, como o vestibular é uma situação decisiva, não podemos ficar dependendo da sorte. Precisamos nos preparar para qualquer eventualidade. Traduzindo: precisamos discutir, refletir e escrever sobre tudo o que possa ser cobrado pela Banca. Assim,qualquer que seja o tema, teremos o que dizer, teremos uma mensagem a transmitir. Por esse raciocínio, não fica difícil concluir que um bom redator – assim como um bom leitor – precisa estar “antenado”. O conhecimento de mundo torna as pessoas interessantes, e são essas pessoas normalmente as melhores redatoras. Afinal, gostamos de ler textos que nos tragam algo novo. Então, por que não levamos algo novo ao nosso leitor? Parece simples, mas infelizmente não é essa a realidade do vestibular. Por isso, nossa tarefa, a partir de hoje, será a de mantermos um contato ativo com o mundo que nos cerca, lendo as últimas notícias, pensando sobre seus significados, relacionando-as com nossa experiência de vida e com as ciências estudadas no colégio.

UNIDADE 3 Coerência e Coesão COERÊNCIA O estudo da coerência trata da análise da compatibilidade semântica entre as partes de um texto, seja o texto verbal, seja o texto não verbal. Um texto é dito coerente quando não contém contradições e trata inteiro do mesmo assunto (estabelece-se ligação entre os significados das partes do texto: podemos dizer que a relação entre coesão e sintaxe é a mesma que a entre coerência e semântica) ou quando as mudanças de assunto seguem uma progressão lógica (construída pela coesão). Um texto deve ser compatível semanticamente com seu contexto e também não deve contradizer a si. Ao estudo da coerência interessa saber com o que cada trecho do texto guarda relação semântica, o que cria a divisão seguinte do estudo da coerência: Coerência externa A coerência externa de um texto é constituída pelas relações semânticas entre o texto e seu contexto. Um texto é externamente coerente quando as ideias nele apresentadas não contradizem a história, as estatísticas correntes, as ciências da época e outras formas de representação ou estudo da realidade da época do texto. O texto é dito externamente incoerente quando alguma de suas afirmações contradiz a realidade da época do texto. A incoerência externa pode ser causada por diversas razões sendo comuns as causadas por desconhecimento sobre o assunto e as causadas por generalizações apressadas, já que esses raciocínios parecem corretos ao autor. Observe as seguintes frases incoerentes:


Redação  O homem já chegou a Marte. Nela, o desconhecimento, pelo autor, do assunto tratado o levou à construção da frase que contradiz a realidade, ou seja, uma frase com uma incoerência externa. Observe que muitas incoerências podem ser construídas pelo mal uso de recurso gramatical por simples que ele seja. A frase anterior se torna coerente se for modificada da seguinte maneira:  O homem nunca chegou a Marte. Coerência interna Trata da compatibilidade semântica entre os termos de um mesmo texto. Um texto é dito internamente coerente quando as suas ideias não se contradizem. A coerência interna se estabelece não só das relações semânticas de um texto, mas também da constância lexical (uso de palavras pertencentes sempre a um mesmo nível de linguagem) e sintática (uso de estruturas também sempre condizentes com o nível de linguagem exigido). Alguns exemplos:  Para se manter a coerência, é necessário saber a que termo cada um dos outros termos do período se relacionam assim como se deve saber o significado correto de cada termo utilizado. São exemplo de frases que apresentam incoerências sintático-semânticas as frases a seguir: A cabra é muito larga. Também é exemplo desse tipo de incoerência a frase a seguir: “É bom, mas pode ser ruim”.

FIQUE LIGADO NO ENEM! Numa dissertação, a incoerência interna também pode ocorrer quando há mistura de níveis de linguagem. Um exemplo de incoerência freqüente é o uso de marcas de oralidade (que são os erros gramaticais originados da língua falada) ao longo de texto que segue a norma culta formal. Lembre-se: a mescla de diferentes tipos de linguagem denota ausência de coerência. Coesão A coesão e a coerência estão intimamente ligadas. Se a segunda é responsável pela parte do conteúdo, pode-se dizer que a primeira se responsabiliza pelo plano formal do texto. Sem dúvida alguma, é impossível um texto produzir sentido sem que haja algum tipo de ligação entre suas partes, logo, a coesão é vital para uma produção, já que é responsável pelas conexões existentes entre palavras, orações, frases, parágrafos e partes maiores de um texto. Os recursos de coesão são inúmeros: pronomes, advérbios, sinônimos, epítetos, metonímias, frases de apoio, termos-síntese, entre outros. Esses termos contribuem para um melhor entendimento do texto. Vejamos alguns deles:

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Alguns marcadores de Coesão Anáfora: Elementos de substituição que remetem a um termo já mencionado (remissão para trás). “A advogada estava certa da culpa de sua cliente. Apesar disso, esta tinha direito a defesa, e aquela faria de tudo para garanti-lo”. • ISSO retoma o predicado anterior: “estava certa da...”. • ESTA retoma “cliente”. • AQUELA retoma “advogada”. • O retoma “direito a defesa”. Catáfora: Elementos de substituição que remetem a um termo que ainda será mencionado (remissão para frente). “Embora ele não tivesse recursos disponíveis, o político mantinha firme seu propósito: aumentar a qualidade de vida de todos, pobres e ricos, negros e brancos, alfabetizados e iletrados”. • ELE antecipa “político”. • PROPÓSITO antecipa a oração seguinte “aumentar a...”. • TODOS antecipa a enumeração que o segue “pobres e ricos, negros...”. Sinonímia: Elementos de substituição que guardam traços semânticos comuns com o referente. “Vi uma garotinha correndo em minha direção segurando uma espécie de embrulho. Quando se aproximou, a menina me deu um abraço e deixou o pacote caído no chão.” • MENINA substitui “uma garotinha” • PACOTE substitui “uma espécie de embrulho” Conectivos Toda palavra ou expressão que se refere a coisas passadas no texto, ou mesmo as que ainda virão, são elementos conectores. Os termos a que eles se referem podem ser chamdos de referentes. Muita atenção, pois, com os conectores. Eis os mais importantes:

Conectivo

Relação de sentido

Exemplo:

Porque, pois, como, por isso, já que, visto que, uma vez que

Causa

Os bancários fizeram greve porque desejavam aumento de salário.

Mas, porém, todavia, contudo, entretanto, embora, ainda que, mesmo que, apesar de

Contradição / Oposição

Apesar de o aluno estar com febre alta, foi à aula.

Condição

Os bancários só receberão aumento se fizerem greve.

Se, caso, contanto que, dado que, desde que, a menos que, a não ser que

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E, também, além de, não só,nem

.Ontem, hoje, amanhã, antes, depois, cedo, tarde, primeiramente, em seguida, a seguir, finalmente, quando, sempre, nunca,

Logo, dessa forma, portanto, assim, então

Principalmente, sobretudo

Por exemplo, seja, isto é

ou

Segundo, conforme, assim como, do que, tanto (ou tão) quanto

Além de encontrar uma estrada Adição movimentada, o motorista pegou chuva no caminho. Quando alcançarmos as metas da empresa, Tempo seremos premiados com viagens para o exterior. Sempre estudei muito durante o curso e fiz vários Conclusão estágios; por isso, consegui uma vaga de trainee. Dedicar-se a um curso de graduação é essencial para quem almeja ascensão e, Prioridade/ relevância principalment e, para quem quer ingressar em programas de mestrado. A geração canguru, isto é, a geração de filhos que retardam a saída da casa Esclarecimento materna, tem se mostrado cada vez mais resistente ao casamento.

Comparação/ semelhança

O curso de direito está tão concorrido quanto os cursos de áreas da saúde.

Elipse: Omissão de um elemento que repetiria o referente (troca por zero - Ø). “Os convidados chegaram atrasados para o jantar, porque Ø não foram avisados de que os noivos resolveram antecipar Ø para as 18 horas.” As ELIPSES substituem “os convidados” e “o jantar”

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Paralelismo: consiste em criar uma sequência de frases com estrutura idêntica. É a simetria da frase. O princípio do paralelismo é facilitar a leitura do enunciado e proporcionar clareza à expressão. O paralelismo pode ser sintático e semântico.

FIQUE LIGADO NO ENEM! Enquanto a COESÃO, se preocupa com a superfície textual (FORMA), a COERÊNCIA discute os significados expressos pelo texto (CONTEÚDO). Um texto coeso não é necessariamente coerente e vice-versa. No entanto, os dois aspectos tendem a estar ligados. EX 1: “O dia está chuvoso, pois ontem encontrei vários amigos no cinema, ainda que esse fato contrariasse as pesquisas apresentadas pela imprensa” (texto COESO, mas sem COERÊNCIA). EX 2: “Crise financeira. Aumento no valor do dólar. Diminuição das importações” (texto COERENTE, mas sem COESÃO).

UNIDADE 4 Estrutura dissertativa Dissertação Dissertar é, por meio da organização de palavras, frases e textos, apresentar ideias, desenvolver raciocínio, analisar contextos, dados e fatos. Neste momento temos a oportunidade de discutir, argumentar e defender o que pensamos utilizando-se da fundamentação, justificação, explicação, persuasão e de provas. A elaboração de textos dissertativos requer domínio da modalidade escrita da língua, desde a questão ortográfica ao uso de um vocabulário preciso e de construções sintáticas organizadas, além de conhecimento do assunto que se vai abordar e posição crítica (pessoal) diante desse assunto. Tal atividade desenvolve o gosto de pensar e escrever o que pensa, de questionar o mundo, de procurar entender e transformar a realidade. Objetivo Já sabemos que a redação solicitada pelo Enem é uma dissertação: por meio dela o redator faz um julgamento crítico de algum aspecto da realidade, com a intenção de apresentar e defender uma proposta de intervenção sobre uma situação-problema, favorecendo a promoção dos direitos humanos. Com isso a Banca quer avaliar a capacidade do candidato refletir e explorar os seus conhecimentos para ensaiar uma resposta sustentável diante de uma situação que ainda não tem solução definitiva. Por meio da dissertação, tornamo-nos parte ativa do diálogo social. Nela assumimos e defendemos nossa visão de mundo – nossas interpretações, nossas posições e nosso julgamento. É como se a realidade fosse o paciente, e nós, o médico: cria-se a expectativa de que o texto fará um


Redação diagnóstico que sintetize e explique todo um quadro de sintomas que reclamam providências. Para atingir os objetivos de um texto desse tipo, portanto, não basta fazer um conjunto de considerações generalizantes: é preciso assumir uma posição. Isso é confirmado textualmente em documentos oficiais: Na dissertação, o enunciador apresenta explicitamente sua opinião, valendo-se do recurso dos argumentos de apoio para comprovar suas hipóteses e tese e assegurar o desenvolvimento de seu projeto de texto. Como alcançá-lo Há várias maneiras de conceber o projeto de um texto dissertativo para atingir esse resultado. Mas desde a Antiguidade uma forma de estruturação vem se impondo: a que se convencionou chamar de estrutura ortodoxa da dissertação. Trata-se da organização do texto em três partes bem definidas, cada uma delas desempenho um papel específico: introdução, desenvolvimento e conclusão. Essa estrutura tem três grandes vantagens:  É um modelo consagrado, que vem sendo aperfeiçoado desde a Retórica clássica. Na Roma antiga, era comum os oradores organizarem seus discursos em uma introdução (chamada de exordium), um desenvolvimento (que tinha duas partes: narrativo e confirmativo) e uma conclusão (conhecida como peroratio). Seguir esse modelo, portanto, é dar demonstração de familiaridade com uma linhagem de pensamento muito relevante em nossa cultura.  Normalmente, as dissertações que as bancas divulgam como exemplos de textos bem escritos seguem a estrutura ortodoxa. Sua utilização, portanto, embora não valha como garantia de sucesso, ao menos mostra que o enunciador já teve contato co textos considerados exemplares.  Organizar ideias e apresentá-las numa progressão coerente não é tarefa simples. A estrutura ortodoxa configura inegavelmente, um modo eficiente de promover essa organização. Por tudo isso, é conveniente valer-se das prerrogativas da estrutura ortodoxa. Trata-se de uma maneira segura de dar organização a textos dissertativos. Espera-se que uma dissertação:  Comece com uma introdução em que se apresente o tema posto em debate. Já procurando conseguir a adesão do interlocutor à proposta do enunciador;  Prossiga com um desenvolvimento em que as concepções sugeridas na introdução sejam expandidas e comentadas;  Encerre-se com uma conclusão em que as informações apresentadas no desenvolvimento sejam enfeixadas em torno da proposta de intervenção prenunciada na introdução.

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UNIDADE 5 Primeiros procedimentos Interpretação da proposta de tema de redação É preciso ressaltar, antes de tudo, que a primeira etapa talvez seja a mais importante de todas. Isso porque se o candidato não tiver conseguido apreender na totalidade aquilo que a banca colocou em discussão, sempre será aplicado algum tipo de penalidade. Essa “falha” do vestibulando é o que chamamos de fuga ao tema. A fuga pode ser total ou parcial: no primeiro caso, a redação é anulada, pois não há possibilidade de corrigir um texto que explana sobre um assunto completamente diferente do solicitado; e no segundo as possibilidades de erros são inúmeras, com penalidades variando, adequando-se ao problema apresentado. Para não cometer erros: Dê atenção total a cada uma das palavras que compõem o tema. Se aqueles foram os textos escolhidos, é porque a composição deles - logo, suas palavras – apresentação com precisão a temática selecionada. Assim, observe a inter-relação entre eles, não deixando escapar nenhum dos sentidos apresentados. Muito cuidado para não confundir tema e assunto. A falta de distinção pode levar o aluno a uma falha bastante grave. O assunto pode ser uma referência genérica ou um fato específico; o que o diferencia do tema é que este último é uma discussão direcionada, construída a partir do assunto escolhido. Exemplo: Assunto: Torcedora gremista ofende o jogador do Santos. Possível tema: O que deve ser feito para exterminar o preconceito racial? De modo geral, os vestibulares costumam trazer 03 formas de apresentar uma discussão temática:  Proposta compreendida a partir de um texto-base e/ou uma frase-tema.  Proposta compreendida a partir de uma coletânea de textos, que dialogam entre si.  Observação: nos dois primeiros casos, nem sempre a frase-tema não está explícita e deve ser inferida pelo candidato com base nos textos da coletânea.  Proposta compreendida a partir de texto não-verbal ou de texto híbrido. Utilizando as coletâneas Como vimos, o ato de redigir é antecedido pelo de leitura. Com o material fornecido pela banca, o aluno terá seu raciocínio bem norteado, sem se perder nos inúmeros caminhos que lhe ocorrem ao ler o tema. Ao mesmo tempo, ele deverá exercer sua capacidade de absorver o conteúdo apresentado, adaptando-o a seu projeto de texto, como que numa atividade de reciclagem criativa.

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Redação Com frequência, porém, os candidatos confundem uso com cópia ou citação literal. Para não cometer tal erro e utilizar a coletânea de modo adequado é importante observar que a leitura dos textos presentes na coletânea deve ser uma oportunidade para:  Mapear o campo de debate, para identificar as principais correntes em disputa: os temas selecionados pelas provas envolvem problemas que geram polêmica na sociedade. Por trás das teses e dos argumentos conflitantes, há interesses e visões de mundo distintas. A leitura da coletânea, articulada ao repertório do candidato, deve ser suficiente para que ele possa ter uma noção razoável dos interesses em jogo, dos setores da sociedade implicados no debate e dos valores defendidos em cada um deles.  Identificar argumentos e possibilidades de contra argumentar: esse mapeamento dos setores sociais permitirá tomar ciência de alguns dos principais argumentos utilizados por cada uma das correntes ideológicas na defesa de suas teses. Isso também deve servir como estímulo para o candidato formular possíveis refutações, os contra argumentos.  Reconhecer pontos a ressalvar: ao entrar em contato com os argumentos apresentados na defesa do posicionamento contrário ao seu, o candidato deve avaliar a conveniência de fazer ressalvas, ou seja, admitir a validade de algum argumento contrário para depois considerá-lo menos relevante que seus argumentos pessoais.  Questionar-se, enriquecendo, aprofundando e solidificando o posicionamento explicitado na tese defendida: as três etapas anteriores devem servir de estímulo à reflexão crítica, propiciando maior densidade e personalidade à dissertação. A solidez de uma argumentação está diretamente relacionada ao seu grau de adesão à cidadania e aos valores morais. Listagens O candidato deve elencar em uma folha de rascunho toda e qualquer referência que tiver acerca do tema abordado, sem restrição, tudo o que vier na cabeça, referências, exemplos, ideias, argumentos. Assim, torna-se mais fácil visualizar suas impressões acerca da temática. Organização e seleção das ideias Listada suas impressões sobre a temática é hora de selecionar as melhores ideias, organizadas e associadas entre si, de modo que haja a máxima coerência possível. Roteiro Último momento pré-produção de texto. Cabe aqui a organizar do ‘esqueleto’ do texto, uma vez que já se tem a tese sobre o tema, é hora de planejar as primeiras linhas da introdução, a ordem de apresentação dos argumentos para chegar-se à conclusão, ou seja, ao fechamento das ideias e a reafirmação da tese anteriormente apresentada.

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FIQUE LIGADO NO ENEM! Somente depois de observadas essas quatro etapas é que o candidato deverá começar a escrever. É importante lembrar que quanto mais tempo for investido no planejamento do texto, menos tempo será gasto na produção propriamente dita. Isso porque um texto bem planejado “flui”, a ‘escritura progride’ muito mais do que aquele feito “na hora” ­ em que o aluno acaba “empacando”, ou seja, parando o processo por inúmeras vezes.

UNIDADE 6 Introdução Quais são os objetivos de uma introdução? Um exame mais cuidadoso da própria palavra pode colaborar para a compreensão do que se pretende com uma introdução. Eis o que traz o dicionário eletrônico Houaiss sobre esse termo: introdução: palavra formda a partir do verbo latinducere “levar, transportar, puxar sem descontinuidade: conduzir”, e do prefixo intro-, derivado do advérbio latino intro “dentro (especialmente de casa)”,(com verbos que denotam movimento, como é o caso de conduzir), levar “para dentro, para o interior” (...). Entende-se que introduzir, na origem, era “levar para dentro de casa”, apresentar, “mostrar os cômodos do edifício”. No nosso caso, é conduzir para o interior do texto, dando pistas sobre a sua organização, a sua orientação geral. O objetivo pretendido é que o leitor “sinta-se em casa”, de forma que ele consiga identificar o tema em discussão e obter uma pista para prever a proposta do enunciador. Além disso, convém que a introdução seja capaz de atiçar a curiosidade, de atrair o leitor, fazê-lo imaginar, de antemão, os possíveis “caminhos” de argumentação, antevendo a “linha’ a que o enunciador irá se filiar, o percurso argumentativo do texto. Como atrair a atenção? Para compreender o papel da introdução de um texto dissertativo, vamos compará-la ao trailer de um filme. A função de um trailer é atrair o público para o filme, e para isso é preciso criar expectativas, despertar a curiosidade. Um trailer de sucesso mostra, em poucos minutos, elementos do enredo suficientes para dar uma noção sobre os conflitos que irão prender a atenção do espectador – dificilmente o público se sentirá atraído se não tiver pelo menos uma noção do gênero da película. Para atrair, então, é necessário mostrar aquilo que se julga importante e atraente. Mas é preciso cuidado para não mostrar demais, pois, se o trailer “entregar o fim do filme”, surtirá o efeito oposto: ao invés de criar expectativas, destruirá todo o suspense, afastando o espectador. Para manter o mistério e prender a atenção, é preciso esconder o desfecho.


Redação Atrair, então, é o resultado de um jogo sutil entre mostrar e esconder. Isso vale tanto para um trailer como para a introdução do texto dissertativo. O que a introdução deve mostrar: Uma introdução deve mostrar o suficiente para situar o leitor levando-o a prosseguir na leitura. Para isso, esperase que ela contenha, pelo menos, os dois elementos já mencionados: 1. A explicitação do tema, demonstrando que o enunciador apreendeu a questão posta em debate. 2.

A especificação da visão de mundo a ser exposta no texto ou, no mínimo, uma pista sobre a intervenção que será proposta.

Além disso, para melhor atrair a atenção do leitor, é conveniente que a introdução também ressalte a relevância da questão posta em debate, relacionando-a ao universo cultural do público. Não é comum que alguém se interesse por um assunto com o qual não tenha nenhuma relação. Ao contrário, o leitor estará mais disposto a dedicar a sua atenção a um texto se puder identificar nele elementos de sua vivência, sobretudo se tiver noção dos possíveis riscos e/ou vantagens para a vida de sua comunidade implicados na polêmica. Em outras palavras, temos interesses pelos assuntos que, de alguma forma, dizem respeito a nós, enquanto indivíduos inseridos em uma sociedade. Isso faz com que as introduções frequentemente incluam o terceiro elemento, a seguir: 3.

Uma relação da questão com o repertório de conhecimentos do público, ou seja, uma contextualização do problema, situando-o em um universo mais amplo ou particularizando-o em alguma situação concreta de conhecimento geral.

O que a introdução deve esconder: Deve ocultar pelo menos algum argumento significativo, garantindo que o leitor, à medida que prossegue na leitura, perceba um acréscimo na carga de informação transmitida. Se todas as ideias importantes forem apresentadas na introdução, o texto tenderá à redundância, ou seja, à mera repetição, traindo a expectativa do leitor. Assim como um filme deve revelar algo de surpreendente, evitando criar a impressão de que tudo era previsível, o texto precisa surpreender o leitor, oferecendo-lhe informações novas. Algumas estratégias de introdução Do que foi até aqui, depreende-se facilmente que não existe uma “receita infalível” de boa introdução. Há, entretanto algumas estratégias bastante eficazes, perceptíveis tanto em textos de autores consagrados quanto em muitas redações consideradas exemplares pelas Bancas examinadoras. Essas estratégias podem ser resumidas em quatro tipos de introdução: clássica (ou por contextualização), questionadora ( ou por interrogação), provocativa (ou pela transgressão) e insinuante (ou pela sugestão das figuras).

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Sejam elas empregadas isoladamente ou combinadas, em geral dão resultado. Introdução clássica por contextualização Consiste em situar a questão sob debate no interior de um universo mais amplo, do ponto de vista histórico, geográfico ou ideológico. A intenção é criar um painel no qual a questão se enquadre, relacionando-a com o repertório de conhecimentos do leitor, para enfatizar a importância do tema. Os dados que formulam esse contexto podem ser diversos tipos, compondo, por exemplo: Um percurso histórico; Uma enumeração de exemplos concretos; Uma apresentação de dado(s) estatístico(s); Uma definição de termos implicados no problema; Um resumo das teses em circulação. A contextualização também pode ser conseguida com a exposição de dados geográficos, formando, por exemplo, um painel que explore semelhanças e contrastes entre diversas regiões do país ou do mundo. Introdução questionadora Consiste em lançar interrogações a respeito da questão que será analisada e respondida no percurso textual. As perguntas delimitam o tema e podem servir para antecipar quais serão os passos seguidos pelo enunciador na sequência do texto, situando o leitor. Note-se que essa estratégia é válida para conquistar a atenção do leitor desde que as perguntas formuladas admitam uma resposta fundamental por uma argumentação consistente. Introdução provocativa Consiste em atacar opiniões difundidas no senso comum, por meio de afirmações de impacto. O sucesso dessa estratégia depende, evidentemente, da argumentação que a sucede: a postura contestatória pode ser eficiente para atrair o leitor, mas exigirá esforço redobrado na sustentação de uma proposta de intervenção que não pode afrontar os direitos humanos. INTRODUÇÃO INSINUANTE (PELA SUGESTÃO DAS FIGURAS) Consiste em sensibilizar o leitor para a questão, por meio da breve narração de um caso particular ilustrativo, de comparações ou de citações que sirvam como motivação para a discussão do tema e para a leitura. a) Exploração da comparação (analogia/metáfora); b) Citação ou alusão motivadora. o efeito de sensibilização do leitor pode ser conseguido também por meio de uma narrativa sintética de algum caso exemplar.

UNIDADE 7 Desenvolvimento Conceito e estrutura O desenvolvimento constitui a maior parte do texto dissertativo, e é nele que a introdução se expande. Sua

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Redação função principal consiste em defender a visão de mundo do enunciador, explicitada ou sugerida no primeiro parágrafo do texto. Vale ressaltar que o desenvolvimento é a parte mais importante da dissertação, pois é nele que surgem os principais recursos argumentativos – justamente aqueles que vão ser responsáveis pelo convencimento do leitor. Os Parágrafos na Dissertação Escolar Parágrafo-padrão é uma unidade de composição constituída por um ou mais de um período, em que se desenvolve determinada ideia central, ou nuclear, a que se agregam outras, secundárias, intimamente relacionadas pelo sentido e logicamente decorrentes dela. Nas dissertações, os parágrafos são estruturados a partir de uma ideia que normalmente é apresentada em sua introdução, desenvolvida e reforçada por uma conclusão. Muito comum nos textos de natureza dissertativa, que trabalham com ideias e exigem maior rigor e objetividade na composição, o parágrafo-padrão apresente a seguinte estrutura:  introdução - também denominada tópico frasal, é constituída de uma ou duas frases curtas, que expressam, de maneira sintética, a ideia principal do parágrafo, definindo seu objetivo;  desenvolvimento - corresponde a uma ampliação do tópico frasal, com apresentação de ideias secundárias que o fundamentam ou esclarecem;  conclusão - nem sempre presente, especialmente nos parágrafos mais curtos e simples, a conclusão retoma a ideia central, levando em consideração os diversos aspectos selecionados no desenvolvimento. Tópico frasal A ideia central do parágrafo é enunciada através do período denominado tópico frasal (também chamado de frase-síntese ou período tópico). Esse período orienta ou governa o resto do parágrafo; dele nascem outros períodos secundários ou periféricos; ele vai ser o roteiro do escritor na construção do parágrafo; ele é o período mestre, que contém a frase-chave. Como o enunciado da tese, que dirige a atenção do leitor diretamente para o tema central, o tópico frasal ajuda o leitor a agarrar o fio da meada do raciocínio do escritor; como a tese, o tópico frasal introduz o assunto e o aspecto desse assunto, ou a ideia central com o potencial de gerar ideias-filhote; o tópico frasal é enunciação argumentável,  afirmação ou negação que leva o leitor a esperar mais do escritor (uma explicação, uma prova, detalhes, exemplos) para completar o parágrafo ou apresentar um raciocínio completo. Assim, o tópico frasal é enunciação, supõe desdobramento ou explicação. A ideia central ou tópico frasal geralmente vem no começo do parágrafo, seguida de outros períodos que explicam ou detalham a ideia central, de variadas maneiras (por enumeração, por descrição, por confronto, por análise, por exemplos, etc.) Argumentação Argumentação é, de modo geral, um conjunto de procedimentos linguísticos utilizado pelo enunciador para  convencer o leitor, obtendo sua adesão.

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Argumentar não é demonstrar A demonstração é a estratégia do método científico moderno. Admitem-se apenas dois tipos de provas: os dados verificáveis pela observação impessoal e as deduções lógicas inegáveis, relações de ideias em que uma necessariamente leva à outra. São provas universais, válidas para toda a humanidade, já que independem das crenças e das disposições do auditório. As conclusões de uma demonstração não admitem contestação, são válidas até que sejam obtidas novas evidências que demonstrem o contrário. A argumentação, por outro lado, toma como ponto de partida as várias crenças e valores que coexistem em uma sociedade. Como vimos, exige que se pressuponha que, apesar da divergência de opiniões, existiam valores comuns entre os participantes de um debate, o que tornaria possível buscar algum grau de sintonia entre as mentes. Enquanto a demonstração parte de ideias evidentes e verificáveis, a argumentação fundamenta-se em um acordo entre o enunciador e seu auditório a respeito do grau de importância desses direitos universais. Eles são priorizados de tal forma que os valores em comum se sobrepõem aos particulares. Em síntese, demonstração e argumentação apresentam alguns traços distintivos:

Demonstração Baseia-se em dados verificáveis e em princípios lógicos Dados articulados por necessidade lógica, sem intervenção do orador

Argumentação Baseia-se em valores sociais, nas crenças e nos interesses. Dados articulados pelo orador segundo sua força persuasiva

Independente do auditório É dirigida ao auditório Prova a verdade de Defende a conveniência ou a descobertas e raciocínios inconveniência de teses e lógico-matemáticos atitudes Conclusões são Conclusões admitem incontestáveis contestação Encerra a polêmica

Realimenta a polêmica

Recursos Argumentativos Citação de autoridade: Caracteriza-se pela citação de um pensamento ou frase de uma autoridade no assunto que está sendo debatido. Entende-se como autoridade o indivíduo que possui algum tipo de especialização no assunto em pauta e é reconhecível pelo homem médio. Há prós e contras na utilização desse tipo de argumento. O seu emprego é positivo quando permite evidenciar capacidade de leitura e reflexão por parte do enunciador, inter-relacionando discursos, a chamada intertextualidade. Por outro lado, pode ser negativo quando o discurso do outro, a autoridade, ganha mais destaque que o pensamento do próprio autor da dissertação. Assim, é necessário equilíbrio e bom senso para que não se perca a marca de autoria do discurso. Comparação: apresentação de dois quadros de realidade diferentes e destaque das características divergentes e


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comuns, no intuito, por exemplo, de demonstrar avanço ou retrocesso em determinado país ou período histórico. Causa-consequência. Esta é uma estratégia que explora o bom-senso do leitor e a capacidade de o escrevente levar à reflexão sobre terminado assunto. O argumento funciona como decorrência de uma informação posta no texto, estabelecendo-se uma relação entre fato motivador (causa) e resultado (consequência). Exemplificação. Este é um tipo de mecanismo, até certo ponto, mais acessível, visto que abre a possibilidade de recorrer a fatos comuns do cotidiano, ou veiculados pela mídia de grande circulação, para retratar uma realidade em que se confirma a opinião defendida no texto. Os cuidados que se deve ter ao usar essa estratégia são: estabelecer coerência entre o exemplo dado e a tese do texto; não utilizar exemplos muito particulares, pois isso tornaria mais difícil a aceitação da tese por parte de outra pessoa que se distancie da sua realidade, e também porque, quando partimos para nossa realidade particular, restringimos a discussão a um ponto de vista limitado, muito apegado às nossas crenças. Isso não é desejável num texto argumentativo, que exercita o pensamento lógico-racional. Dados quantitativos. Apontado como uma das estratégias argumentativas mais confiáveis - por trabalhar com a realidade dos números, a qual é mais dificilmente contestável - o recurso a dados quantitativos pode se constituir da citação de pesquisas que envolvam dados estatísticos e de números, percentuais em sua maioria. Os dados devem estar em consonância com a tese apresentada e devem vir de fonte segura, reconhecida, como as universidades federais e os ministérios do governo.

FIQUE LIGADO NO ENEM! O uso excessivo de exemplos pode comprometer a qualidade do texto. Muitos alunos acabam recorrendo a esse expediente sem qualquer tipo de interpretação da realidade, atendo-se apenas à exposição dos fatos. O texto perde sua força de convencimento e acaba por incorrer em um problema fundamental: torna-se um texto expositivo. Por último, é importante frisar que os argumentos utilizados devem estar em concordância com a tese defendida, pois visam justificá-la.

UNIDADE 8 Conclusão A conclusão em sentido estrito Do ponto de vista lógico, a conclusão pode ser entendida como uma decorrência natural de um raciocínio anteriormente apresentado; ela não nasce do nada, mas sim de tudo aquilo que se afirmou na introdução e no desenvolvimento. A estrutura silogística ajuda a entender essa definição stricto sensu de conclusão. O silogismo, cuja base é o

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aristotelismo, estrutura-se a partir de duas proposições (chamadas premissas) que originam uma conclusão: Permissa 1: as desigualdades sociais nos países africanos são maiores do que na França. Permissa 2: a Etiópia é um país africano. Conclusão: As desigualdades sociais na Etiópia são maiores do que na França. Nota-se que, neste tipo de raciocínio, a conclusão apenas explícita uma informação que já estava contida nas premissas iniciais. Por isso, no silogismo, a conclusão nunca traz uma ideia nova ao raciocínio; sua função é apenas a de enunciar o que já estava implícito. Objetivos Fazer o leitor perceber que o texto acabou. As possibilidades de indicar o término são inúmeras, mas uma boa dica é começar o parágrafo com uma palavra ou expressão que tenha valor conclusivo. Palavras e expressões denotativas como “desse modo”, “sendo assim”, “portanto”, “então”, “dessa forma” e outras afins, constituem ótimas sugestões. Buscar ser uma decorrência natural daquilo que foi dito ao longo do texto. Em outras palavras, ela deve ser uma espécie de síntese ratificadora da argumentação do enunciador. Uma boa estratégia é tentar parafrasear a tese apresentada na introdução. Por fim, devemos sempre nos preocupar com aquela boa impressão – já mencionada – que devemos causar à banca examinadora. Por isso, no espaço que ainda estiver disponível para a confecção do texto, o aluno deverá, no mínimo, manter (e, se possível elevar) o nível de interesse do leitor. Trata-se de um “algo mais” em relação aos outros candidatos, a ‘marca de autoria’, o que certamente aumentará a sua nota. A conclusão no Enem: Uma proposta de intervenção No Enem, a proposta de redação permite que o enunciador apresente uma sugestão para solucionar o problema ou um dos problemas levantados pela proposta de redação. É claro que é impossível, em cinco ou seis linhas, propor uma solução milagrosa para um problema; por isso, falamos em “proposta de intervenção”, e não simplesmente em “solução”. A sua proposta de solução tem que ser objetiva, ou seja, tem que ser algo que possa ser posto em prática. Além disso, precisa ser algo que tenha a ver com o que você disse ao longo da redação. O examinador quer saber se você, como cidadão, sabe qual o problema existente no tema e qual a sua ideia para amenizá-lo. Não é uma questão de defender ardorosamente determinado ponto de vista. Trata-se de buscar uma ação aplicável na sociedade, mostrando respeito aos valores humanos e considerando a diversidade sociocultural”. 

Relação com a análise – Imagine um texto sobre a criminalidade entre crianças e adolescentes no Brasil. Ao tratar das causas desse grave problema,

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Redação ele aponta para a pobreza e o desemprego. Diz, em síntese, que é por falta de condições econômicas dignas que tantos meninos e jovens tornam-se infratores no país. No final, propõe que a educação pública deve sofrer uma reforma profunda, de modo que haja maior acesso a informações, valores e oportunidades. 

Medidas específicas e realizáveis – Muitas vezes os textos propõem medidas vagas, gerais, que não adicionam muito à discussão, ainda que respeitem os valores humanos e sejam coerentes com a análise empreendida. Exemplo: Quanto ao problema dos menores infratores, alguém poderia propor melhorar a educação e diminuir a pobreza. O.k., todos concordamos com isso. Mas como melhorar a educação, como diminuir a pobreza? É claro que o ENEM não espera que você tenha conhecimento técnico no assunto. Mas vale um esforço para elaborar medidas mais específicas e concretas, como aumento do salário dos professores da rede pública, maior permanência na escola, apoio à prática de atividades esportivas, programas de bolsas que estimulem o jovem a estudar e se preparar para o mercado, aumento do salário mínimo e melhora na infraestrutura e na segurança nas comunidades mais carentes.

Diálogo com o que existe – Por fim, vale lembrar que os temas do ENEM, por serem de interesse público, normalmente são alvo de ampla discussão na sociedade. Já circulam diversos posicionamentos sobre eles, e os governos e a sociedade certamente estão envolvidos em possíveis soluções, ainda que infelizmente elas nem sempre sejam as melhores. Tanto secretarias e ministérios quanto ONGs realizam ações por diversas causas. Discuta, dialogue, mostre interesse em participar da busca pelas melhores soluções.

FIQUE LIGADO NO ENEM! Cuidado com a ‘utopia’ e o discurso panfletário. Uma proposta de intervenção válida, além de visar à promoção dos direitos humanos, deve, mesmo com poucas linhas, manifestar uma visão de mundo que contemple a complexidade e a diversidade social e ideológica do Brasil. Além de evitar o simplismo utópico, convém fugir do enredo ‘panfletário’ daqueles que, em tom taxativo, dizem-se senhores de soluções definitivas, que, entretanto, não foram jamais implementadas. Formulações do tipo “Basta apenas...”, “é só...” e outras do mesmo tom apenas revelam simplismo e uma visão autoritária.

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