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Sociologia

SOCIOLOGIA UNIDADE 1 A RELAÇÂO HOMEM, NATUREZA, TRABALHO E SOCIEDADE O homem é um ser natural, isto é, um ser que faz parte integrante da natureza; não se poderia conceber o conjunto da natureza sem ela inserir a espécie humana. Ao mesmo tempo em que se constitui em ser natural, o homem diferencia-se da natureza, que é, como diz Marx (1984, p. 111), “o corpo inorgânico do homem”; para sobreviver, ele precisa com ela se relacionar, já que dela provêm as condições que lhe permitem se perpetuar enquanto espécie. Não se pode, portanto, conceber o homem sem a natureza e nem a natureza sem o homem. Na busca das condições para a sua sobrevivência, o ser humano – assim como outros animais – atua sobre a natureza e, por meio desta interação, satisfaz suas necessidades. No entanto, diferentemente de outros animais, o homem não se limita ao imediatismo das situações com que se depara; ele ultrapassa limites, já que produz universalmente (para além de sua sobrevivência pessoal e de sua prole), não se restringindo às necessidades que se revelam no aqui e agora. A ação humana não é apenas biologicamente determinada, mas se dá principalmente pela incorporação de experiências e conhecimentos produzidos e transmitidos de geração a geração. A transmissão dessas experiências e conhecimentos – por meio da educação e da cultura – permite que a nova geração não volte ao ponto de partida da que a precedeu. A atuação do homem diferencia-se da do animal porque, ao alterar a natureza por meio da sua ação, ele a torna humanizada. Ao mesmo tempo, o homem altera a si próprio por intermédio dessa interação; ele vai se construindo, vai se diferenciando cada vez mais das outras espécies animais. A interação homem-natureza é um processo permanente de mútua transformação: esse é o processo de produção da existência humana. É o processo de produção da existência humana porque o ser humano vai se modificando, alterando aquilo que é necessário à sua sobrevivência. Velhas necessidades adquirem características diferentes; até mesmo as necessidades consideradas básicas – por exemplo, a alimentação – refletem as mudanças ocorridas no homem; os hábitos e necessidades alimentares são hoje muito diferentes do que foram em outros momentos. A alteração, no entanto, não se limita à transformação de velhas necessidades: o homem cria novas necessidades, que passam a ser tão fundamentais quanto as chamadas necessidades básicas à sua sobrevivência. É o processo de produção da existência humana porque o homem não só cria artefatos, instrumentos, como também desenvolve ideias (conhecimentos, valores, crenças) e mecanismos para a sua elaboração (desenvolvimento do raciocínio, planejamento...). A

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criação de instrumentos, a formulação de ideias e formas específicas de elaborá-los – características identificadas como eminentemente humanas – são fruto da interação homem-natureza. Por mais sofisticadas que possam parecer as ideias são produtos que exprimem as relações que o homem estabelece com a natureza na qual se insere. É o processo da produção da existência humana porque cada interação reflete uma natureza modificada, pois nela se inserem criações antes inexistentes, e reflete, também, um homem já modificado, pois suas necessidades, condições e caminhos para satisfazê-las são outros que foram construídos pelo próprio homem. É nesse processo que o homem adquire consciência de que está transformando a natureza para adaptá-la a suas necessidades, característica que vai diferenciá-lo: a ação humana, ao contrário da de outros animais, é intencional e planejada; em outras palavras, o homem sabe que sabe. O processo de produção da existência humana é um processo social. O ser humano não vive isoladamente, ao contrário, depende de outros para sobreviver. Há interdependência dos seres humanos em todas as formas da atividade humana; quaisquer que sejam as suas necessidades – da produção de bens à elaboração de conhecimentos, costumes, valores –, elas são criadas, atendidas e transformadas a partir da organização e do estabelecimento de relações entre os homens. Na base de todas as relações humanas, determinando e condicionando a vida, está o trabalho – uma atividade humana intencional, que envolve formas de organização, objetivando a produção dos bens necessários à vida humana. Essa organização implica uma dada maneira de dividir o trabalho necessário à sociedade e é determinada pelo nível técnico e pelos meios existentes para o trabalho, ao mesmo tempo em que os condiciona. A forma de organizar o trabalho determina também a relação entre os homens, inclusive quanto à propriedade dos instrumentos e matérias utilizados e à apropriação do produto do trabalho. As relações de trabalho – a forma de dividi-lo, organizálo –, ao lado do nível técnico dos instrumentos de trabalho, dos meios disponíveis para a produção de bens materiais, compõem a base econômica de uma dada sociedade. É essa base econômica que determina as formas políticas, jurídicas e o conjunto das ideias que existem em cada sociedade. É a transformação dessa base econômica, a partir dessas contradições que ela mesma engendra, que leva à transformação de toda a sociedade, implicando um novo modo de produção e uma nova forma de organização política e social. Por exemplo, nas sociedades tribais (comuns), o grupo social organizava-se por sexo e idade para produzir os bens necessários à sua sobrevivência. Às mulheres e crianças cabiam determinadas tarefas, e aos homens, outras. Essa primeira divisão do trabalho, além de garantir a sobrevivência do grupo, gerou um conjunto de instrumentos, técnicas, valores, costumes, crenças, conhecimentos, organização familiar etc. A propriedade dos instrumentos de trabalho, bem como a propriedade do produto do trabalho (a caça, o peixe etc.), era de toda a comunidade. A transmissão das técnicas, valores,

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Ciências Humanas e suas Tecnologias conhecimentos etc. era feita, basicamente, por meio da comunicação oral e do contato pessoal, diferentemente do que ocorre atualmente. Já na Grécia Antiga, por volta de 800 a.C., o comércio, fundado na exportação e importação agrícola e artesanal, é a base da atividade econômica, e há um nível técnico de produção desenvolvido ao lado de uma organização política na forma de cidades-Estado. Nessa sociedade, além da divisão do trabalho cidadecampo, ocorre uma divisão entre os produtores de bens e os donos da produção: os produtores não detêm a propriedade da terra, nem os instrumentos de trabalho, nem o próprio produto do seu trabalho; são, em sua maioria, eles mesmos, propriedade de outros homens. Nessa sociedade, as relações estabelecidas entre os homens são desiguais: alguns vivem do produto do trabalho de outros, e a produção de conhecimento é desenvolvida por aqueles que não executam o trabalho manual. As ideias, como um dos produtos da existência humana, sofrem as mesmas determinações históricas. As ideias são a expressão das relações e atividades reais do homem, estabelecidas no processo de produção da sua existência. Elas são a representação daquilo que o homem faz, da sua maneira de viver, da forma como se relaciona com outros homens, do mundo que o circunda e das suas próprias necessidades. Marx e Engels afirmam: A produção de ideias, de representações e da consciência está em primeiro lugar direta e intimamente ligada à atividade material e ao comércio material dos homens; é a linguagem da vida real (...). Não é a consciência que determina a vida, mas sim a vida que determina a consciência. (1980, p. 25-26)

Isso não significa que o homem crie suas representações mecanicamente: aquilo que o homem faz, acredita, conhece e pensa sobre interferência também das ideias (representações) anteriormente elaboradas; ao mesmo tempo, as novas representações geram transformações na produção da sua existência. O desenvolvimento do homem e da sua história não depende de um único fator. Ele ocorre a partir das necessidades materiais; estas, bem como a forma de satisfazê-las, a forma de se relacionar para tal, as próprias ideias, o próprio homem e a natureza que o circunda, são interdependentes, formando uma rede de referências recíprocas. Daí decorre ser esse um processo de transformação infinito, em que o próprio homem se produz. Nesse processo do desenvolvimento humano multideterminado, que envolve inter-relações e interferências recíprocas entre ideias e condições materiais, a base econômica será o determinante fundamental. Tais condições econômicas, em sociedades baseadas na propriedade privada, resultam em grupos com interesses conflitantes, com possibilidades diferentes no interior da sociedade, ou seja, resultam num conflito entre classes. Em qualquer sociedade onde existam relações que envolvam interesses antagônicos, as ideias refletem essas diferenças. E, embora acabem por predominar aquelas que representam os interesses do grupo dominante, a possibilidade mesma de se produzir ideias que representam a realidade do ponto de vista de outro grupo

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reflete a possibilidade de transformação que está presente na própria sociedade. Portanto, é de se esperar que, num dado momento, existam representações diferentes e antagônicas do mundo. Por exemplo, hoje, tanto as ideias políticas que pretendem conservar as condições existentes quanto as que pretendem transformá-las correspondem a interesses específicos às várias classes sociais. Dentre as ideias que o homem produz, parte delas constitui o conhecimento referente ao mundo. O conhecimento humano, em suas diferentes formas (senso comum, científico, teológico, filosófico, estético etc.), exprime as condições materiais de um dado momento histórico. (ANDERY, Maria Amalia...et al. Para compreender a ciência: uma perspectiva histórica. Rio de Janeiro: Garamond, 2014. pp. 9-15)

FIQUE LIGADO NO ENEM! • Há interdependência dos seres humanos em todas as formas da atividade humana; quaisquer que sejam as suas necessidades – da produção de bens à elaboração de conhecimentos, costumes, valores -, elas são criadas, atendidas e transformadas a partir da organização e do estabelecimento de relações entre os homens. • As relações de trabalho – a forma de dividi-lo, organizá-lo –, ao lado do nível técnico dos instrumentos de trabalho, dos meios disponíveis para a produção de bens materiais, compõem a base econômica de uma dada sociedade. É essa base econômica que determina as formas políticas, jurídicas e o conjunto das ideias que existem em cada sociedade. • As ideias, como um dos produtos da existência humana, sofrem as mesmas determinações históricas. As ideias são a expressão das relações e atividades reais do homem, estabelecidas no processo de produção da sua existência. Elas são a representação daquilo que o homem faz, da sua maneira de viver, da forma como se relaciona com outros homens, do mundo que o circunda e das suas próprias necessidades. • O desenvolvimento do homem e da sua história não depende de um único fator. Ele ocorre a partir das necessidades materiais; estas, bem como a forma de satisfazê-las, a forma de se relacionar para tal, as próprias ideias, o próprio homem e a natureza que o circunda, são interdependentes, formando uma rede de referências recíprocas. Daí decorre ser esse um processo de transformação infinito, em que o próprio homem se produz.

UNIDADE 2 O CAPITALISMO E O NASCIMENTO DA SOCIOLOGIA A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL Entre os séculos XVIII e XIX, teremos a Revolução Industrial, momento em que a indústria têxtil inova-se com o tear a vapor; este possibilita uma série de outros inventos, que facilitam a mecanização das máquinas,


Sociologia influindo decisivamente no surgimento, juntamente com a burguesia, de uma nova classe social: os trabalhadores, classe composta pelos camponeses sem terra e artesãos sem suas antigas máquinas manuais. Esta nova classe (os trabalhadores) não terá outro recurso para sobreviver senão vender sua capacidade de trabalho à burguesia, em troca de um salário. Assim, a numerosa classe trabalhadora passa a constituir a classe dos despossuídos. A relação de classes que passa a existir, entre a burguesia e os trabalhadores, é orientada por um contrato, o que permite, por sua vez, a idéia de que o capitalismo é uma sociedade com “liberdade econômica” e “democracia política”, isto é, com a idéia de contrato podemos afirmar que o trabalhador é “livre” para escolher um emprego qualquer e o empresário é “livre” para empregar quem desejar. Esta aparente sociedade democrática torna-se, ao contrário do Feudalismo, uma organização social extremamente dinâmica e movimentada; a própria noção de tempo é alterada: “tempo é dinheiro”. A visão de mundo torna-se individualizada e competitiva: “cada um por si e Deus por todos”. Nasce a idéia moderna de progresso; aparecem novos inventos: a locomotiva, a energia elétrica, o telégrafo, o microscópio, etc. Surgem também novas ciências como a Física e a Química modernas, que orientam o aumento da produção industrial. Nas cidades, a cada dia, surgem novas escolas, bibliotecas, teatros, jornais e revistas. Tudo isso faz nascer um espírito de otimismo, pelo qual as pessoas começam a achar que, finalmente, o Homem encontrou o caminho da civilização, do progresso permanente, da fartura e da riqueza. Na realidade, o capitalismo trouxe progresso e riqueza apenas para algumas pessoas, pois as indústrias desenvolviam-se de tal modo que seus proprietários (burgueses ou empresários) ficavam riquíssimos e poderosos, no entanto, a classe trabalhadora (que fabricava todos os bens) recebia um salário miserável. A cidade e a indústria trouxeram a esperança de uma vida melhor; os trabalhadores, contudo, perceberam rapidamente que a cidade e a indústria eram, na realidade, as correntes da mais nova forma de exploração: A Sociedade Capitalista. PROBLEMAS E CAPITALISMO

CONFLITOS

GERADOS

PELO

Ao entrarmos no século XX, o mundo torna-se, em grande parte de sua extensão, uma empresa capitalista. E, como já vimos, o capitalismo nasceu da decadência do feudalismo, na Europa, e em apenas cem anos espalhou-se por outras regiões do globo terrestre. Será com esse novo modo de viver que irão surgir milhares de novos problemas sociais, isto é, nunca vividos por alguém antes. E quais eram esses novos problemas sociais que o capitalismo trouxe? Podemos enumerar alguns: favelas, poluição, migração desordenada, doenças por excesso de trabalho, neuroses, suicídio, cortiços, prostituição, violência, criminalidade...

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Tais problemas não existiam no feudalismo, quer dizer, os problemas sociais no feudalismo (que existiam em grande quantidade) eram diferentes. Os problemas enumerados acima são característicos do capitalismo, isto é, aparecem quando a vida torna-se urbanizada e industrializada. Os trabalhadores, que sofriam as maiores conseqüências desses problemas, não eram uma massa inerte; ao contrário, sempre reagiram, lutando contra esses problemas sociais e contra a exploração a que estavam submetidos. Aos poucos, grupos de trabalhadores começaram a organizar-se em sindicatos, passando a exigir a criação de novas leis que os protegessem e, enfim, começaram a lutar com todas as armas de que dispunham. Todos esses conflitos e problemas sociais fizeram com que várias pessoas começassem a preocupar-se com a sociedade. Pensadores começaram a estudar o capitalismo, tentando entendê-lo ou buscando alternativas para solucionar os problemas e conflitos dessa nova sociedade. NASCIMENTO DA SOCIOLOGIA O homem e a sociedade passam a ser preocupação científica: surgem novos discursos e um novo saber sobre o social. Nascem, assim, a Antropologia, a Economia Política, e a Sociologia, fazendo com que as Ciências Humanas ganhassem uma nova dimensão. Agora podemos perceber que a ciência sociológica não foi fundada por uma só pessoa, mas é fruto de determinada situação histórica em que vários pensadores se destacam. Com a sociedade se industrializando e tornando suas relações mais complexas, o social passa a ser objeto de estudo para pessoas como Montesquieu (1689-1755) e Rousseau (1712-1778); o primeiro tenta explicar a origem das instituições políticas e escreve sobre a divisão de poderes no Estado. O segundo, sendo um dos precursores da Enciclopédia (textos que reuniam todo o conhecimento científico da época), reelabora aspectos da organização social que serviriam de bases ideológicas para a Revolução Francesa (1789). Será, porém, com Herbert Spencer (1820-1903), Augusto Comte (1798-1857) e Émile Durkheim (18581917) que a Sociologia encontrará seus principais teóricos, sendo que os dois últimos são os principais responsáveis pelo desenvolvimento da corrente sociológica conhecida pelo nome de Positivismo. Os teóricos da Sociologia viveram numa época de grandes conflitos sociais, e isso, de certa forma, influiu para que a Sociologia tivesse, inicialmente, uma nítida preocupação com o restabelecimento da ordem social. Para Augusto Comte, por exemplo, a tarefa da Sociologia era muito clara: deveria ensinar as pessoas a aceitarem a ordem social existente. Porém, a Sociologia nem sempre seguiu um caminho conservador: com o passar dos anos, sociólogos passam a incorporar em suas análises as concepções de um historiador, filósofo e economista alemão chamado Karl Marx (1818-1883). Marx, assim como seu colaborador direto, Engels (1820-1903), não teve a preocupação de declarar-se

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Ciências Humanas e suas Tecnologias sociólogo ou especialista em qualquer outra área. Ao desenvolver sua teoria, o materialismo histórico, a preocupação de Marx e Engels era a de entender a sociedade capitalista de forma crítica, utilizando-se dos recursos de outras ciências, como a Filosofia, a Economia e a História.

uma visão filosófica do mundo. Sustentavam que era preciso partir do método experimental e da observação da realidade empírica. É a partir deste esforço que surgiu a sociologia. • O que os estudiosos da sociologia desejavam é que esta nova ciência abarcasse todos os fenômenos sociais, incluindo a ordem econômica, política e cultural em um único conjunto que pudesse ser estudado com o auxílio do método experimental.

DA FILOSOFIA À SOCIOLOGIA A Sociologia é uma ciência que surge apenas no século XIX. Seu surgimento recente poderia nos dar a ingênua impressão de que até aquela época os intelectuais não estavam preocupados com a reflexão sobre a vida social e coletiva. No entanto, naquele momento histórico, as questões que diziam respeito ao que hoje chamamos de “sociedade” eram pensadas sob a ótica da filosofia, particularmente da filosofia política. Ao aplicar os princípios da ciência aos estudos dos fenômenos sociais, os intelectuais mudaram a maneira de explicar a própria vida social. Na visão dos fundadores da Sociologia, os fenômenos que caracterizavam a modernidade, seja no aspecto econômico, político ou cultural, não podiam mais ser explicados a partir de uma visão filosófica do mundo. Sustentavam que era preciso partir do método experimental e da observação da realidade empírica. É a partir deste esforço que surgiu a sociologia. Diante do quadro de transformações da modernidade, a sociologia retoma os temas da filosofia política, mas busca substituir as questões tradicionais desta forma de pensamento por um novo olhar sobre o mundo humano. Com o surgimento da sociologia, as questões da filosofia política são retomadas e ampliadas, pois ela opera um deslocamento tanto no objeto quanto no método da reflexão política. Não se trata mais de se referir apenas aos fenômenos do poder político, como se fazia até então. O pensamento deveria deslocar-se para além da “pólis” ou mesmo do “Estado”, como fizeram os autores da filosofia até aquele momento. O que os estudiosos da sociologia desejavam é que esta nova ciência abarcasse todos os fenômenos sociais, incluindo a ordem econômica, política e cultural em um único conjunto que pudesse ser estudado com o auxílio do método experimental. É desta forma que nasce a “ciência” do “social”.

FIQUE LIGADO NO ENEM! • Os conflitos e problemas sociais resultantes das novas relações de produção fizeram com que várias pessoas começassem a preocupar-se com a sociedade. Pensadores começaram a estudar o capitalismo, tentando entendê-lo ou buscando alternativas para solucionar os problemas e conflitos dessa nova sociedade. • Como os primeiros teóricos da Sociologia viveram numa época de grandes conflitos sociais, isso, de certa forma, influiu para que a Sociologia tivesse, inicialmente, uma nítida preocupação com o restabelecimento da ordem social. • Na visão dos fundadores da Sociologia, os fenômenos que caracterizavam a modernidade, seja no aspecto econômico, político ou cultural, não podiam mais ser explicados a partir de

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UNIDADE 3 AUGUSTO COMTE Com o surgimento do método científico, os intelectuais do século XIX dispunham de um instrumento radicalmente novo para entender a sociedade e enfrentar os dilemas que o mundo trazia. A ciência da sociedade tinha pela frente três questões essenciais para a compreensão das transformações sociais que apontamos anteriormente: 1) identificar quais as causas destas transformações; 2) apontar as características da sociedade moderna; 3) discutir o que fazer diante dos problemas sociais. Foi para responder a este conjunto de questões que, em 1830, Augusto Comte apresentou, em seu livro Curso de Filosofia Positiva, a ideia de fundar uma “Física Social” que seria um saber encarregado de aplicar o método científico para o estudo da sociedade. Com uma ciência que nos mostrasse as leis de funcionamento da sociedade, haveria como enfrentar os problemas do mundo moderno, pois a tarefa da ciência era, justamente, “prever para prover”.

Augusto Comte (1798-1857)

Em 1839, Augusto Comte alterou o nome desta ciência para “sociologia” (do latim “socius” e do grego “logos” que significa estudo do social), nome que perdura até hoje. Augusto Comte é considerado, comumente, como o fundador da sociologia, razão pela qual o estudo de seu pensamento é o ponto de partida para o entendimento histórico desta disciplina. Comte também é conhecido por ter dedicado os anos finais da sua vida à organização da “religião da humanidade” para a qual escreveu até um catecismo: o “Catecismo Positivista”. Em sua igreja ou religião, a deusa razão ocupava o lugar da crença em divindades; grandes pensadores, o lugar dos santos; bem como havia festas religiosas e determinações sobre a organização dos templos. Esta doutrina filosófica exerceu enorme influência no Brasil que adotou o lema deste pensador em sua bandeira nacional: “ordem e progresso”.


Sociologia Apesar da característica religiosa da fase final de sua vida, Augusto Comte pode ser considerado um dos mais destacados representantes do movimento iluminista, ou seja, daquela concepção de que a razão (ou a ciência) deve ocupar o lugar da religião na organização da sociedade. Entre as influências diretas que Comte recebeu do Iluminismo é importante lembrar a importância de Condorcet (1743-1794). Em sua principal obra, “Esboço de um quadro histórico dos progressos do espírito humano”, este pensador sustenta que assim como Galileu aplicou o método matemático ao estudo da realidade física, a precisão do cálculo deveria também ser estendida ao estudo dos fenômenos sociais. A ideia de aplicar os métodos das ciências da natureza para o estudo da sociedade receberia um impulso ainda maior com Saint Simon (1760-1825), de quem Augusto Comte foi colaborador entre os anos 1817 e 1824. Um dos primeiros escritores a pensar a realidade da sociedade industrial, Saint Simon, retomou a ideia básica de Condorcet, no sentido de aplicar as descobertas do método científico ao estudo dos fatos morais (sociais), com a intenção de torná-la uma ciência positiva”: “Não há duas ordens de coisas, há apenas uma: é a ordem física”, dizia este pensador. Para Saint Simon, a sociedade moderna modificou o mundo feudal, baseado na aliança entre o poder espiritual (igreja) e o poder temporal (militar). A reorganização da sociedade moderna exigia a união entre a ciência positiva (novo poder espiritual) e os empresários (novo poder temporal), visando o pleno desenvolvimento e equilíbrio do mundo industrial nascente. Desta maneira, o mundo dos conflitos militares da sociedade medieval seria substituído pela união pacífica de todos na sociedade industrial. Foi retomando e desenvolvendo estas ideias que Augusto Comte é considerado fundador do positivismo. Em seu sentido amplo (filosófico), o positivismo está relacionado a um forte sentimento antimetafísico que postula que as formas de conhecimento não científicas (ou que não são passíveis de demonstração empírica) são destituídas de significado. Em um sentido restrito (sociológico), o positivismo significa uma determinada maneira de entender o uso do método científico na sociologia: trata-se da noção de que a sociologia deve adotar os métodos das ciências da natureza. A dimensão filosófica diz respeito à ciência em geral, enquanto a dimensão sociológica diz respeito à ciência sociológica em particular. FILOSOFIA POSITIVISTA Em sua acepção filosófica, o positivismo traduz-se pela famosa “Lei dos três estados” (ou estágios), pela qual Comte enuncia sua concepção de ciência. No “Curso de Filosofia Positiva” é o próprio autor que afirma ter descoberto uma “lei fundamental” que explica o desenvolvimento da inteligência humana em suas diversas esferas de atividades. De acordo com ele: “essa lei consiste em que cada uma de nossas concepções principais, cada ramo de nossos conhecimentos, passa sucessivamente por três estados históricos diferentes: estado teológico ou fictício, estado metafísico ou abstrato,

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estado científico ou positivo” (COMTE, 1978, p.4). Em cada uma destas fases, o homem tem diferentes formas de explicar os fenômenos da realidade. Vejamos como isto ocorre. 1) Estado teológico: “No estado teológico, o espírito humano [...] apresenta os fenômenos como produzidos pela ação direta e continua de agentes sobrenaturais mais ou menos numerosos, cuja intervenção arbitrária explica todas as anomalias existentes no universo” (p. 4). Nesta etapa já se percebe que os fenômenos são explicados através de “causas”, mas elas são atribuídas à divindade. Em obra posterior, Comte vai dividir o estágio teológico nas seguintes subfases. a) Fetichismo: o homem confere vida, ação e poderes sobrenaturais aos seres inanimados e aos animais. b) Politeísmo: o homem atribui às diversas potências sobrenaturais, ou deuses, certos traços da natureza humana (motivações, vícios e virtudes, etc.); c) Monoteísmo: quando se desenvolve a crença em um deus único. 2) Estado metafísico: Nesta etapa predomina o conhecimento filosófico e, especialmente a metafísica, com a sua busca pelas causas primeiras e pela essência dos entes:

No estado metafísico, que no fundo nada mais é do que uma simples modificação geral do primeiro, os agentes sobrenaturais são substituídos por forças abstratas, verdadeiras entidades (abstrações personificadas) inerentes aos diversos seres do mundo, e concebidos como capazes de engendrar por elas próprias todos os fenômenos observados, cuja explicação consiste, então, em determinar para cada um uma entidade correspondente (p.4). 3) Estado positivo ou científico: Nesta fase, o conhecimento científico substituiu a filosofia e sua busca pela origem e destino do universo. O papel da ciência é determinar as leis que explicam a ocorrência e existência de todos os fenômenos observáveis: Enfim, no estado positivo, o espírito humano, reconhecendo a impossibilidade de obter noções absolutas, renuncia a procurar a origem e o destino do universo, a conhecer as causas íntimas dos fenômenos, para preocupar-se unicamente em descobrir, graças ao uso bem combinado do raciocínio e da observação, suas leis efetivas, a saber, suas relações invariáveis de sucessão e de similitude (p.4). O que este esquema deixa claro é que, do ponto de vista filosófico, o positivismo sustenta que a ciência é a única explicação razoável e legítima para a realidade. A religião e a filosofia são etapas transitórias na evolução do saber humano e serão substituídas pelo avanço do conhecimento científico. Para a visão positivista, formas de conhecimento que não estejam fundamentadas no método experimental da ciência são destituídas de significado, pois não são passíveis de confirmação ou refutação. Daí advém o caráter cientificista e radicalmente antimetafísico do positivismo.

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Ciências Humanas e suas Tecnologias SOCIOLOGIA POSITIVISTA Positivismo significa muito mais do que a afirmação da superioridade da ciência sobre os outros saberes. Ele representa também um modelo de ciência, quer dizer, uma concepção específica de como o saber científico deve proceder para explicar a realidade. Para entendermos como este modelo influenciou a dimensão sociológica do pensamento de Augusto Comte, vejamos como ele concebia o histórico da ciência. As ciências não evoluíram todas ao mesmo tempo. Quando a humanidade chegou ao estado positivo, foi necessário que elas de desenvolvessem de acordo com a complexidade de seus objetos, começando pelos mais simples até chegar aos mais complexos. A história das ciências também comporta fases. Segundo Comte (1978, p.9): “já que agora o espírito humano fundou a física celeste; a física terrestre [...]; a física orgânica, seja vegetal, seja animal; resta-lhe, para terminar o sistema das ciências da observação, funda a física social”. Em outros termos, o caminhar da ciência envolve os seguintes passos: Matemática → Astronomia → Física → Química → Biologia → Sociologia

Neste esquema, a sociologia é a última das ciências, aquela que completaria o quadro geral do conhecimento positivo. A sociologia é entendida por Comte de modo amplo, incluindo-se nela todo o conjunto das chamadas ciências humanas, como a filosofia, a história, a moral, a psicologia, a política, a economia, etc. Como a sociologia representa uma continuidade quase natural em relação aos outros tipos de ciência (física, química, biologia, etc.), Comte achava que ela teria que proceder da mesma forma que estas ciências, ou seja, sua função seria estabelecer um sistema completo de leis que explicassem o comportamento dos homens na sociedade: Entendo por Física Social a ciência que tem por objeto próprio ou estudo dos fenômenos sociais, considerados com o mesmo espírito que os fenômenos astronômicos, químicos e fisiológicos, isto é, como submetidos a leis naturais invariáveis, cuja descoberta é o objetivo especial de suas pesquisas [...]. O espírito dessa ciência consiste, sobretudo, em ver, no estudo aprofundado do passado, a verdadeira explicação do presente e a manifestação geral do futuro (COMTE, 1989, p.53). As ciências possuíam a mesma forma de proceder e, cabia à sociologia, ciência ainda em desenvolvimento, adotar o método das ciências já maduras e desenvolvidas. O que Comte propunha era uma “ciência natural da sociedade”. Mais tarde, ao trocar o nome de “Física Social” por “Sociologia”, ele retoma esta ideia: Acredito que devo arriscar, desde agora, este termo novo, sociologia, exatamente equivalente à minha expressão, já introduzida, de física social, a fim de poder designar por um nome único esta parte complementar da filosofia natural que se relaciona com

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o estudo positivo do conjunto das leis fundamentais apropriadas aos fenômenos sociais (COMTE, 1989, p.61). Do ponto de vista metodológico, a sociologia deveria ser dividida em dois campos essenciais: a estática e a dinâmica. a) Estática social: estudo das condições constantes da sociedade ou da ordem; b) Dinâmica social: estudo das leis de desenvolvimento histórico de qualquer sociedade, ou seja, do progresso. Com base nestes dois elementos, Comte fez uma análise da sociedade de seu tempo e concluiu que o problema central das sociedades modernas era a falta de harmonia entre a dimensão da ordem e do progresso. Na sociedade medieval, o poder espiritual da igreja garantia a ordem e a harmonia social, mas faltava o desenvolvimento tecnológico, pois a sociedade era dominada por um espírito guerreiro. Neste tipo de sociedade existia um poder teológico-militar. Com o advento da sociedade moderna, a partir da Revolução Francesa e da Revolução Industrial, a sociedade impulsionou o progresso, mas a ordem social foi abalada por intensas transformações. Era necessário harmonizar estes princípios através de uma revolução espiritual. Na nascente sociedade industrial, a organização social deveria ser dirigida por um novo poder espiritual – os cientistas – e um novo poder temporal: os empresários industriais. Criar as ideias capazes de fundir a ordem com o progresso era a meta do pensamento comtiano. A filosofia positivista e a sociologia positivista estão intimamente ligadas, pois a primeira serve como base epistemológica para a segunda. De acordo com a versão filosófica do positivismo, a única explicação coerente da realidade e dada pela ciência que consiste em explicar a realidade a partir de relações necessárias entre os fenômenos (como fazem as ciências da natureza). É desta premissa que deriva a concepção positivista de sociologia que advoga que cabe à sociologia adotar o método das ciências naturais e verificar quais são as leis que operam na realidade social. Nos anos 20 e 30, os pressupostos do positivismo filosófico foram retomados e ampliados por um grupo de pensadores aglutinados sob a denominação de “Círculo de Viena”, “positivismo lógico” ou “empirismo lógico”. Essencialmente antimetafísicos e defensores de uma ciência radicalmente empirista faziam parte deste grupo autores como Moritz Schlick (1882-1936), Rudolf Carnap (1891-1970), Otto Neurath (1882-1945) e Ernest Nagel (1901-1985), entre outros. Atualmente os pressupostos do positivismo, enquanto postura filosófica, são fortemente questionados pelos autores do chamado “pós-positivismo” como Karl Popper (1902-1994), Thomas Kuhn (19221996), Paul Feyerabend (1924-1994) e Imre Lakatos (1922-1974). No campo da sociologia, a ideia de unidade do método científico (entre ciências naturais e humanas) e a postura de radical neutralidade política da sociologia foram defendidas no decorrer dos anos 60 e 70 do século XX por teóricos como Talcott Parsons (1902-1979) e pelo próprio Karl Popper.


Sociologia Ainda que as ideias de Augusto Comte estejam amplamente superadas, elas lançaram as bases da sociologia. Reunindo as contribuições dos principais pensadores do seu tempo, este autor teve o mérito de propor uma definição e um método para o estudo dos fenômenos sociais que até então ainda não havia sido formulada. É por essa razão que Augusto Comte é considerado como o pai fundador da sociologia. (SELL, Carlos Eduardo. Sociologia Clássica. Marx, Durkheim e Weber. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2013. pp. 21-22; 27-33)

FIQUE LIGADO NO ENEM! • Em seu sentido amplo (filosófico), o positivismo está relacionado a um forte sentimento antimetafísico que postula que as formas de conhecimento não científicas (ou que não são passíveis de demonstração empírica) são destituídas de significado. Em um sentido restrito (sociológico), o positivismo significa uma determinada maneira de entender o uso do método científico na sociologia: trata-se da noção de que a sociologia deve adotar os métodos das ciências da natureza. A dimensão filosófica diz respeito à ciência em geral, enquanto a dimensão sociológica diz respeito à ciência sociológica em particular. • O que este esquema deixa claro é que, do ponto de vista filosófico, o positivismo sustenta que a ciência é a única explicação razoável e legítima para a realidade. A religião e a filosofia são etapas transitórias na evolução do saber humano e serão substituídas pelo avanço do conhecimento científico. • Comte fez uma análise da sociedade de seu tempo e concluiu que o problema central das sociedades modernas era a falta de harmonia entre a dimensão da ordem e do progresso. Com o advento da sociedade moderna, a partir da Revolução Francesa e da Revolução Industrial, a sociedade impulsionou o progresso, mas a ordem social foi abalada por intensas transformações. Era necessário harmonizar estes princípios através de uma revolução espiritual. Na nascente sociedade industrial, a organização social deveria ser dirigida por um novo poder espiritual – os cientistas – e um novo poder temporal: os empresários industriais. Criar as ideias capazes de fundir a ordem com o progresso era a meta do pensamento comtiano. • De acordo com a versão filosófica do positivismo, a única explicação coerente da realidade e dada pela ciência que consiste em explicar a realidade a partir de relações necessárias entre os fenômenos (como fazem as ciências da natureza). É desta premissa que deriva a concepção positivista de sociologia que advoga que cabe à sociologia adotar o método das ciências naturais e verificar quais são as leis que operam na realidade social.

UNIDADE 4 KARL MARX

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A CRÍTICA DE MARX AO IDEALISMO HEGELIANO Marx fez uma crítica radical do idealismo hegeliano, na qual afirma que Hegel inverte a relação entre o que é determinante – a realidade material – e o que é determinado – as representações e conceitos acerca dessa realidade. A filosofia idealista seria, assim, uma grande mistificação que pretende entender o mundo real, concreto, como manifestação de uma Razão absoluta. Contrapondo sua filosofia ao idealismo de Hegel, Marx afirma: Os pressupostos com os quais começamos não são arbitrários, nem dogmas, são pressupostos reais dos quais só é possível abstrair na imaginação. Os nossos pressupostos são os indivíduos reais, a sua ação e as suas condições materiais de vida. Marx, Karl. Ideologia Alemã.

Marx procurou, portanto, compreender a história real dos homens em sociedade a partir das condições materiais nas quais eles vivem. Essa visão da história foi chamada posteriormente, por seu companheiro de estudos Friedrich Engels, materialismo histórico. VISÃO MATERIALISTA DA HISTÓRIA De acordo com o pensamento de Marx, os homens não podem ser pensados de forma abstrata, como na filosofia de Hegel, nem de forma isolada, como nas filosofias de Feuerbach, de Proudhon e de tantos outros que Marx criticou, como Schopenhauer e Kierkegaard. Para Marx, não existe o indivíduo formado fora das relações sociais. Ele enfatiza esse ponto ao afirmar: “A essência humana (...) é o conjunto das relações sociais”. Isso significa que a forma como os indivíduos se comportam, agem, sentem e pensam se vincula com a forma como se dão as relações sociais. Essas relações sociais, por seu lado, são determinadas pela forma de produção da vida material, ou seja, pela maneira como os homens trabalham e produzem os meios necessários para a sustentação material das sociedades. Em seu livro Ideologia Alemã, Marx desenvolve essa reflexão dizendo: O modo pelo qual os homens produzem os seus meios de vida depende inicialmente da constituição mesma dos meios de vida encontrados aí e a ser produzidos. Este modo da produção não deve ser considerado só o segundo aspecto de ser a reprodução da existência física dos indivíduos. Ele já é uma maneira determinada de atividade desses indivíduos, uma maneira determinada de manifestar em sua vida, um modo de vida determinado. Os indivíduos são assim como manifestam a sua vida. O que eles são coincide, portanto, com a sua produção, tanto com o que produzem quanto também com o como produzem. Portanto, o que os indivíduos são depende das condições materiais da sua produção. Esse é um ponto fundamental da filosofia de Marx. Ao falar da produção material da vida, ele não se refere

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Ciências Humanas e suas Tecnologias apenas à produção das inúmeras coisas necessárias á manutenção física dos indivíduos. Ele está considerando também o fato de que, ao produzirem todas essas coisas, os homens constroem a si mesmos como indivíduos. Isso ocorre porque, segundo Marx, “o modo de produção da vida material condiciona o processo geral de vida social, política e espiritual”.

Karl Marx (1818-1883)

Compreende-se aí a importância que Marx deu a análise do trabalho. Ele reconhece o trabalho como atividade fundamental do ser humano, e analisa os fatores que o tornaram uma atividade massacrante e alienada no capitalismo. Essa demonstração se desenvolve em vários textos, mas de forma mais rigorosa em O Capital, livro em que expõe a lógica do modo de produção capitalista, no qual a força de trabalho e transformada em uma mercadoria como outra qualquer, paga pelo salário; por outro lado, é a única mercadoria que produz valor, ou seja que reproduz o capital. Marx também estende o desenvolvimento históricosocial como decorrente das transformações ocorridas no modo de produção. Nessa análise, ele se vale dos princípios da dialética, mas como afirma o posfácio da segunda edição de O Capital, “meu método dialético não só difere do hegeliano, mas é também a sua antítese direta”. Marx reconhece o mérito de Hegel por ter sido o primeiro a expor as formas gerais da dialética, mas alega que é preciso desmitificá-la, expondo o seu núcleo racional. Na concepção hegeliana, a dialética se torna instrumento de legitimação da realidade existente. Já no pensamento de Marx a dialética leva ao entendimento da possibilidade de negação dessa realidade “porque apreende cada forma existente no fluxo do movimento, portanto também com seu lado transitório”. Ou seja, a dialética em Marx permite compreender a história em seu movimento, em que cada etapa é vista não como algo estático e definitivo, mas como algo transitório, que pode ser transformado pela ação humana. De acordo com Marx, as grandes transformações históricas se deram primeiramente no campo da economia, causadas por contradições geradas no interior do próprio modo de produção. Diferentemente de Hegel, no entanto Marx não concebe uma história que anda sozinha, guiada por uma Razão ou um Espírito, mas sim uma história feita pelos homens, que interferem no processo histórico e podem, dessa forma, transformar a realidade social, sobretudo se alterarem seu modo de produção.

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Modo de produção é a maneira como se organiza a produção material em um dado estágio de desenvolvimento social. Essa maneira depende do desenvolvimento das forças produtivas (a força de trabalho humano e os meios de produção, tais como máquinas, ferramentas etc.) e da forma das relações de produção. Embora a definição dos modos e produção seja um aspecto complexo na obra de Marx e entre os seus comentadores, temos no livro Ideologia Alemã a exposição dos seguintes modos de produção dominantes em cada época: o comunismo primitivo, o escravismo na Antiguidade, o feudalismo na Idade Média e o capitalismo na Idade Moderna. Ele afirma que a passagem de um modo de produção a outro se dá no momento em que o nível de desenvolvimento das forças produtivas entra em contradição com as relações sociais de produção. Quando isso ocorre, há um sufocamento da produção em virtude da inadequação das relações nas quais ela se dá. Nesse momento, surgem as possibilidades objetivas de transformação desse modo de produção. Cabe à classe social que possui um caráter revolucionário naquele momento intervir através de ações concretas, práticas, para que essas transformações ocorram. Foi o que aconteceu, por exemplo, na passagem do feudalismo ao capitalismo, através das revoluções burguesas. Marx sintetiza essa análise na afirmação de que a luta de classes é o motor da história, isto é, a luta de classes faz a história se mover. Por isso, no Manifesto Comunista (1848), escrito em parceria com Engels, Marx afirma: A história de todas as sociedades que existiram até nossos dias tem sido a história das lutas de classes. Homem livre e escravo, patrício e plebeu, senhor e servo, mestre de corporação e aprendiz; numa palavra, opressores e oprimidos, em constante oposição, tem vivido numa guerra ininterrupta, ora franca, ora disfarçada; uma guerra que terminou sempre, ou por uma transformação revolucionária da sociedade inteira, ou pela destruição das duas classes em luta. De acordo com Marx, o capitalismo também criou uma classe revolucionária que, em virtude de suas condições de existência, deve se organizar para, no momento oportuno, fazer a revolução social rumo ao socialismo. Essa classe revolucionária é o proletariado. A filosofia de Marx influenciou o mundo contemporâneo, em termos teóricos e práticos, inspirando correntes filosóficas, movimentos operários e revoluções. No entanto, quase 150 anos após a publicação de suas obras, grande parte de seu pensamento ainda não foi plenamente compreendida, sendo objeto de muitos estudos e discussões. (COTRIM, Gilberto: Fundamentos da filosofia: história e grandes temas. São Paulo: Editora Saraiva. 2002. pp.200-202)

MARX E OS MODOS DE PRODUÇÃO O conceito de modo de produção ocupa um lugar central na teoria da História e nas concepções econômicas


Sociologia de Karl Marx. [...] Marx identifica o modo de produção com a estrutura (ou infraestrutura) da sociedade, que seria o conjunto das relações de produção. Em outros escritos, porém, o modo de produção é definido como as relações de produção mais as forças produtivas. De qualquer modo, as primeiras estão intimamente relacionadas com as segundas, formando um todo orgânico que está na base da sociedade. É sobre essa base, diz Marx, que se ergue a cultura, a organização política e as ideologias (inclusive as religiões) dessa sociedade. Existem, assim, dois níveis na concepção marxista da sociedade: o da infraestrutura (relações de produção e forças produtivas) e o da superestrutura (Estado, Igreja, cultura, etc.) Na produção social da própria vida, os homens estabelecem relações determinadas, necessárias e independentes da sua vontade. Essas relações de produção correspondem a uma determinada etapa do desenvolvimento das suas forças produtivas materiais. A totalidade dessas relações de produção forma a estrutura econômica da sociedade. Essa estrutura é a base real sobre a qual se levanta uma superestrutura jurídica e política e à qual correspondem formas sociais determinadas de consciência. O modo de produção da vida material condiciona o processo de vida social, política e espiritual. Ou seja, não é a consciência dos homens que determina o seu ser, mas, ao contrário, é o seu ser social que determina sua consciência. Em determinada etapa de seu desenvolvimento, as forças produtivas entram em contradição com as relações de produção existentes. Essas relações – o regime de propriedade, por exemplo –, que antes eram formas de desenvolvimento das forças produtivas, transformam-se em seu maior obstáculo. Sobrevém, então, uma época de revolução social. Mas uma formação social nunca desaparece antes que estejam desenvolvidas todas as suas forças produtivas. E novas relações de produção mais adiantadas não substituem as antigas antes que suas condições materiais de existência tenham sido geradas no próprio seio da velha sociedade. (Adaptado de: Marx, Karl: Para a crítica da economia política. In: Marx. São Paulo: Abril Cultural. 1978. pp.129-130)

UM NOVO MODO DE PRODUÇÃO? Marx tinha em alta conta os feitos econômicos e culturais da burguesia e acreditava que o capitalismo tinha ainda muito fôlego para estimular o desenvolvimento das forças produtivas. Mas considerava que, em algum momento, esse avanço da tecnologia e das formas de organização do trabalho entraria em choque com as relações de produção capitalista, tal como ocorrera sob o feudalismo. Nesse momento, pensava ele, ocorreria uma revolução nos países capitalistas mais desenvolvidos que colocaria o proletariado, ou classe operária, no poder. A partir de então, o capitalismo seria substituído pelo socialismo, um novo modo de produção. MARX E A CRÍTICA AO CAPITALISMO

sua substituição pelo socialismo. Segundo ele, o valor de um bem é determinado pela quantidade de trabalho socialmente necessário para a sua produção. Assim o lucro não se realiza no momento da troca de mercadorias, mas sim na produção dessas mercadorias. Isso acontece porque os trabalhadores não recebem o valor correspondente a seu trabalho, mas só o necessário para sua sobrevivência. O valor da força de trabalho de um assalariado, como de toda mercadoria, é estabelecido pelo tempo de trabalho necessário para produzir os bens destinados a garantir a sobrevivência do trabalhador. Isso se expressa em alimentos, moradia, tempo para descansar, etc. O valor de todos esses bens consumidos pelo operário diariamente é o valor de sua força de trabalho. Suponhamos que um operário trabalhe oito horas por dia na produção de sapatos, Para repor sua força de trabalho, ele precisa alimentar-se e descansar. Suponhamos ainda que o valor dos bens consumidos por ele para repor suas energias em um dia seja igual ao valor produzido por ele em seis horas de trabalho na produção de sapatos. Para garantir sua sobrevivência, portanto, bastaria a ele trabalhar seis horas por dia, mas ele trabalha mais duas horas na fábrica do patrão. Essas duas horas a mais representam o que Marx chamava de sobretrabalho (ou trabalho excedente), e é delas que sai o lucro do patrão na forma inicial de mais-valia. Desse modo, na análise de Marx, a mais-valia consiste na diferença entre o valor (expresso em horas de trabalho) incorporado a um bem e o pagamento do trabalho necessário para sua reposição (o salário). A essência do capitalismo seria a apropriação privada (isto é, pelo capitalista) dessa mais-valia, que dá origem ao lucro. No escravismo e no feudalismo, a classe dominante se apropriava do fruto do trabalho, consumindo-o. No capitalismo, a classe dominante apropria-se de mais-valia (ou lucro), mas não a consome totalmente. Boa parte dela é investida e reinvestida na produção. A esse investimento permanente se dá o nome de acumulação de capital. Por capital, entende-se o dinheiro, a mercadoria ou os meios de produção – ou uma combinação dos três – aplicados de tal forma que levem aos trabalhadores assalariados a produzir mercadorias e mais-valia. Ou seja, não é todo tipo de dinheiro que funciona como capital. Só é capital aquele dinheiro (ou meios de produção) empregado de tal modo que produza mais-valia por meio do trabalho assalariado. Ainda segundo Marx, o capitalismo, diferentemente dos modos de produção anteriores, não funciona para que as coisas fiquem sempre do mesmo jeito. Por sua própria natureza, ele precisa crescer, acumular e reinvestir parte da mais-valia na produção, aumentando sempre o lucro e a produtividade. Ou seja, as forças produtivas devem estar em permanente desenvolvimento. (OLIVEIRA, Pérsio Santos de. Introdução à Sociologia. São Paulo: Editora Ática, 2011. pp. 157-158)

AS CLASSES SOCIAIS

Em seu livro O Capital, Marx procurou mostrar as contradições internas do capitalismo e a inevitabilidade de

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Ciências Humanas e suas Tecnologias Para Marx, o capitalismo organiza-se de modo a dar origem a duas classes sociais: os empresários (ou burgueses) e os trabalhadores (ou proletários). Uma pessoa é considerada como pertencente à classe dos empresários quando possui capital, isto é, quando é proprietária dos meios de produção e compradora de força de trabalho. Nesse sentido, os empresários seriam os donos das indústrias, das grandes fazendas, dos bancos ou do grande comércio. Por outro lado, uma pessoa é considerada como pertencente à classe trabalhadora quando não tem nada, a não ser sua capacidade de trabalhar (forca de trabalho), que vende ao empresário em troca de um salário. Nesse sentido, os trabalhadores seriam os operários, os camponeses, bancários, balconistas, auxiliares de escritório, empregadas domésticas, professores, secretárias etc. Estas duas classes, segundo Marx, relacionam-se de modo a criar um conflito. Como? Estudando a lei da mais-valia, percebemos que os empresários exploram os trabalhadores, não lhes pagando tudo aquilo que produziram. Assim, ao receberem um salário baixo, os trabalhadores são condenados a se alimentarem mal, a se vestirem mal, a morar em péssimas condições e ter uma saúde deficiente. E para tentar mudar tal modo de vida é preciso que os trabalhadores organizem-se no bairro, nas escolas e fábricas, exigindo dos empresários, ou do Estado, o direito a uma vida digna. No entanto, aumentar o salário ou dar condições de vida digna ao trabalhador implica diminuir o lucro. Como o empresário não quer perder seus privilégios surge daí um conflito social: Empresários lutando por mais lucro contra trabalhadores lutando por uma vida melhor, é o que Marx define por luta de classes. Marx realizou uma pesquisa numa fábrica de cerâmica da Inglaterra, em 1860, e colheu alguns dados que demonstram que vários operários começaram a trabalhar aos 7 e 8 anos de idade, num horário que se estendia das 6 da manhã às 9 horas da noite, isto é, 15 horas de trabalho diário para uma criança. Outra pesquisa realizada em 1862 demonstra que, de 19 operários, 6 contraíram doenças devido ao excesso de trabalho. Marx atribuiu aos trabalhadores a condição de classe revolucionária, quer dizer, aquela classe que pode contribuir para a construção de uma nova sociedade sem exploradores nem explorados, por sua capacidade de se organizar e de lutar por seus direitos. Entretanto, esta classe revolucionária não é homogênea; sociólogos contemporâneos afirmam que no interior da classe trabalhadora existem diversas divisões que podem dificultar a união dos trabalhadores em função de uma luta em comum. Estas diferenças culturais na classe trabalhadora são originadas por profissões diferentes, pela cor ou pelo sexo. Por exemplo, os valores e problemas da mulher que é, ao mesmo tempo, mãe, dona de casa e trabalhadora são diferentes dos do homem. Um operário qualificado e possuidor de casa própria pode ter um comportamento social e político diferente de um operário não qualificado, residente numa favela. Um trabalhador negro, por sua vez, além de ser explorado em seu emprego, sofre o problema de

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discriminação racial. Uma adolescente, por outro lado, é obrigada a obedecer a seu chefe no escritório, a seu pai em casa e, muitas vezes, até o seu namorado. Todas essas situações de vida são muito diferentes entre si, e, por isso, quando tentamos fazer uma referência à classe trabalhadora em seu comportamento cultural e político, temos que levar em consideração algumas dessas diferenças. Um outro exemplo: enquanto que para os trabalhadores da cidade é importante lutar por saneamento básico (rede de água, esgoto, limpeza pública), para os trabalhadores do campo o mais importante pode ser a reforma agrária (divisão de terras, acesso aos implementos agrícolas etc.). Assim, ao afirmarmos que a classe trabalhadora é revolucionária, temos que admitir que essa classe só pode mudar a sociedade na multiplicidade de sua prática social. A ORIGEM DOS PROBLEMAS SOCIAIS Para o Materialismo Histórico, no capitalismo, a origem dos problemas sociais não é o resultado de uma crise moral (caso patológico ou anomia) como afirmava Durkheim. Ao contrário, Marx demonstra que se existe desemprego, favelas ou criminalidade, é porque a forma pela qual as pessoas trabalham no capitalismo gera formas de exploração da classe empresarial sobre a classe trabalhadora. A partir daí, percebemos que será analisando as formas distintas de organização do trabalho (economia) que descobriremos o real funcionamento de uma sociedade. Assim, se o compromisso do Positivismo é a manutenção e preservação da sociedade capitalista, o compromisso do Materialismo Histórico será realizar uma crítica radical dessa sociedade, ressaltando suas contradições e concluindo que a sociedade é um fenômeno transitório, isto é, possível de ser transformado. Para Marx, a mudança social, ou seja, a Revolução poderá surgir no momento em que a classe trabalhadora possa organizar-se e lutar para a criação de uma nova sociedade: o Socialismo. Portanto, segundo o marxismo, a superação dos problemas sociais no capitalismo não se dá, como pensava Durkheim, através da ciência, mas sim, através da luta política. Essa superação dos problemas sociais não é, no entanto, uma tarefa fácil. A classe dos empresários utiliza-se de formas específicas de dominação para impedir a organização e luta dos trabalhadores por seus direitos. Essas formas de dominação nós resumiremos em: o papel do Estado e da ideologia. O ESTADO Marx não desenvolveu aquilo que poderíamos chamar de uma Teoria do Estado. Sobre o que vem a ser Estado em nossa sociedade, Marx fez apenas algumas referências. Dentre essas, entende que o Estado é a instituição que tem mais poder sobre os indivíduos, isto é, a partir do monopólio que o Estado tem dos meios de violência ele pode controlar a vida das pessoas. Mas o que significa o monopólio dos meios de violência?


Sociologia Significa ter o controle quase que absoluto dos armamentos e do corpo repressivo (polícia). Esses meios de violência, segundo os positivistas, visam assegurar o bom desenvolvimento social. Ao contrário, para Marx, isso é apenas um pretexto, pois, na realidade, o Estado seria um instrumento político dos empresários para controlarem os trabalhadores. Em outras palavras, a classe dos empresários, para subjugar os trabalhadores, precisa, às vezes, utilizar-se da violência, mas, para que a classe trabalhadora aceite a violência sem se revoltar, é preciso que ela apareça como algo natural, isto é, como uma lei da sociedade, dando a impressão de que sofre os efeitos da violência somente a pessoa que romper com a ordem das leis sociais. Isso legitima uma violência organizada pelo Estado que diz existir para manter a ordem social, sendo, na verdade, instrumento de dominação da classe trabalhadora. Esta visão sobre o Estado, no entanto, foi alterada nos dias de hoje a partir dos estudos de alguns sociólogos contemporâneos. Dentre estes sociólogos que continuariam a obra de Marx, no que diz respeito ao estudo do Estado, podemos citar dois: Antonio Gramsci e Nicos Poulantzas.

Antonio Gramsci (1891-1937)

Nicos Poulantzas (1936-1979)

Para esses sociólogos, o Estado está a serviço dos interesses da classe empresarial; no entanto, estudando vários movimentos sociais, é possível perceber que nem sempre o Estado é um órgão de violência organizada contra a classe trabalhadora. Existem momentos históricos em que o Estado pode aparecer como o representante da classe trabalhadora. Como isso é possível? Devemos levar em consideração que o atual aparelho de Estado da sociedade capitalista é um órgão extremamente complexo e nem sempre é possível defender os interesses da classe empresarial, pois, no momento em que a classe trabalhadora se organiza dentro dos movimentos populares (na luta política), passa a ser forte e, através da pressão, acaba abrindo espaços de participação dentro do

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Estado, obrigando este a levar em consideração os interesses das classes exploradas contra os exploradores. Uma coisa, porém, é certa: se a classe trabalhadora não se organiza e não pressiona os órgãos estatais, estes nunca estarão a serviço do povo. A IDEOLOGIA Também é uma forma de dominação e controle sobre os trabalhadores, só que se apresenta de forma mais eficiente que a ação do Estado. Para entender o que seja ideologia, é importante, em primeiro lugar, saber que as pessoas, quando travam relações entre si através do trabalho, pensam e refletem, criando representações simbólicas (pensamentos, idéias). Aquilo que as pessoas pensam sobre a forma de como elas trabalham influi para que entendam sua própria vida social. Antonio Gramsci afirmava que a forma mais elaborada de pensar recebe o nome de Filosofia. A filosofia capitalista, no entanto, desenvolve-se através de poucas pessoas (os intelectuais), pois requer conhecimentos adquiridos numa educação especializada a que poucos têm acesso. Ao lado da filosofia temos o senso comum, que nada mais é do que o conjunto de pensamentos e conclusões sobre a vida feitos pelas pessoas comuns, feitos por nós. Só que na forma mais simplificada. Tais pensamentos e conclusões são a forma de pensar presente no povo. No seu conjunto, a filosofia capitalista (como elaboração de pensamento) e o senso comum (como a difusão do pensamento na sua forma mais simples) formam a estrutura ideológica da nossa sociedade. Em resumo: podemos definir a ideologia como sendo a elaboração do pensamento através da filosofia e sua difusão através do senso comum, a partir da forma de como os homens se relacionam no trabalho. Assim, quando afirmamos que existe uma dominação através da ideologia, queremos dizer que as pessoas que elaboram direta ou indiretamente a filosofia capitalista preocupam-se em transmitir uma visão de mundo acrítica e passiva, para que seja aceita a exploração como sendo algo natural, que sempre existiu e sempre existirá. Em nossa sociedade atual podemos afirmar que as fontes, isto é, os instrumentos para impor a ideologia são: a escola, os meios de comunicação de massa, clubes, entidades assistenciais, seitas e alguns setores da religião. Assim, para Marx, os empresários utilizam-se tanto do Estado quanto da ideologia para controlar os trabalhadores, isto é, para explorá-los sem que eles percebam. (MEKSENAS, Paulo. Aprendendo Sociologia. A paixão de conhecer a vida. São Paulo: Edições Loyola, 1985. pp. 84-90)

O ESTADO COMO PRODUTO E INSTRUMENTO DE CONTROLE DA CLASSE DOMINANTE

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Ciências Humanas e suas Tecnologias Para os filósofos alemães Karl Marx e Friedrich Engels, a sociedade humana primitiva era uma sociedade sem classes e sem estado. Nessa sociedade pré-civilizada, as funções administrativas eram exercidas pelo conjunto dos membros da comunidade (clã, tribo etc.). Num determinado estágio do desenvolvimento histórico das sociedades humanas, certas funções administrativas, antes exercidas pelo conjunto da comunidade, tornaram-se privativas de um grupo separado de pessoas que detinha força para impor normas e organização à vida coletiva. Teria sido através desse núcleo de pessoas que se desenvolveu o Estado.

Friedrich Engels (1820-895)

Assim, para Marx e Engels, o Estado nem sempre existiu. Durante milênios, inúmeras sociedades teriam vivido sem ele. O Estado surgiu quando, num certo estágio de desenvolvimento econômico, também surgiram as desigualdades de classes e os conflitos entre explorados e exploradores. O papel do Estado é amortecer o choque desses conflitos, evitando uma luta direta entre as classes antagônicas. Mas conforme escreveu Engels: Como o Estado nasceu da necessidade de conter o antagonismo das classes, e como, ao mesmo tempo, nasceu em meio ao conflito delas, é, por regra geral, o Estado da classe mais poderosa, da classe dominante, classe que, por intermédio dele, se converte em classe politicamente dominante e adquire novos meios para a repressão e exploração da classe oprimida. Assim, o Estado antigo foi, sobretudo, o Estado dos senhores de escravos para manter os escravos subjugados; o Estado feudal foi o órgão de que se valeu a nobreza para manter a sujeição dos servos e camponeses dependentes; e o moderno Estado representativo é o instrumento de que se serve o capital para explorar o trabalho assalariado. Entretanto, por exceção, há períodos em que as lutas de classes se equilibram de tal modo que o poder do Estado, como mediador aparente, adquire certa independência momentânea em face das classes. ENGELS, F. A origem da família, da propriedade privada e do Estado, p. 193-94

Em resumo, podemos dizer que Marx e Engels rejeitam, de modo geral, a teoria do Estado como simples mediador da luta de classes. Em vez disso, concebem o Estado atuando geralmente como um instrumento do domínio de classe. Na sociedade capitalista, por exemplo, o domínio de classe identifica-se diretamente com a “proteção da

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propriedade privada” dos que possuem, contrariando os interesses daqueles que nada têm. Proteger a propriedade privada capitalista implica preservar as relações sociais, as normas jurídicas, enfim, a segurança dos proprietários burgueses. Essa concepção do Estado como instrumento de dominação de uma classe sobre a outra estabelece, portanto, uma relação entre as condições materiais de existência de determinada sociedade e a forma de Estado que ela adota. Ou seja, o Estado é determinado pela estrutura social de modo a atender às demandas específicas de uma dada forma de sociabilidade, garantindo que essa forma se mantenha. Isso significa que o Estado só é necessário devido ao “caráter anti-social desta vida civil”. Ou seja, o Estado existe para administrar os problemas causados pela forma anti-social (desigual, excludente) da sociedade civil. E ele só poderia deixar de existir quando a sociedade não fosse mais dividida em classes antagônicas. Assim, Marx diferenciou-se de todos os outros autores anteriores porque sua crítica ao Estado não visava atingir uma ou outra forma de Estado, mas a essência mesma do Estado, de qualquer Estado: o Estado se origina exatamente das insuficiências de uma sociedade em realizar em si mesma, de forma concreta, os ideais universalistas, ou seja, em garantir em sua dinâmica a igualdade de condições sociais. Ele nasce da desigualdade para manter a desigualdade. (COTRIM, Gilberto: “Fundamentos da filosofia: história e grandes temas”. São Paulo: Editora Saraiva. 2002. pp. 307-308)

FIQUE LIGADO NO ENEM! • Marx afirma que a passagem de um modo de produção a outro se dá no momento em que o nível de desenvolvimento das forças produtivas entra em contradição com as relações sociais de produção. Essas relações – o regime de propriedade, por exemplo –, que antes eram formas de desenvolvimento das forças produtivas, transformam-se em seu maior obstáculo. Sobrevém, então, uma época de revolução social. • O modo de produção da vida material condiciona o processo de vida social, política e espiritual. Ou seja, não é a consciência dos homens que determina o seu ser, mas, ao contrário, é o seu ser social que determina sua consciência. • O modo de produção é composto pelas relações de produção mais as forças produtivas. É sobre essa base, diz Marx, que se ergue a cultura, a organização política e as ideologias (inclusive as religiões) dessa sociedade. Existem, assim, dois níveis na concepção marxista da sociedade: o da infraestrutura (relações de produção e forças produtivas) e o da superestrutura (Estado, Igreja, cultura, etc.) • Segundo ele, o valor de um bem é determinado pela quantidade de trabalho socialmente necessário para a sua produção. Assim o lucro não se realiza no momento da troca de mercadorias, mas sim na produção dessas mercadorias. Isso acontece porque os trabalhadores não recebem o valor correspondente a seu trabalho, mas só o necessário para sua sobrevivência.


Sociologia • Na análise de Marx, a mais-valia consiste na diferença entre o valor (expresso em horas de trabalho) incorporado a um bem e o pagamento do trabalho necessário para sua reposição (o salário). A essência do capitalismo seria a apropriação privada (isto é, pelo capitalista) dessa mais-valia, que dá origem ao lucro. • Marx e Engels rejeitam, de modo geral, a teoria do Estado como simples mediador da luta de classes. Em vez disso, concebem o Estado atuando geralmente como um instrumento do domínio de classe. Na sociedade capitalista, por exemplo, o domínio de classe identifica-se diretamente com a “proteção da propriedade privada” dos que possuem, contrariando os interesses daqueles que nada têm.

UNIDADE 5 ÉMILE DURKHEIM Caberia à sociologia, segundo Durkheim, a apreensão e o estudo sistemático das realidades sociais dos indivíduos. Para tanto, o sociólogo deveria utilizar das mesmas ferramentas utilizadas pelas ciências anteriores: o método científico e a observação empírica. Essa era uma das principais preocupações de Durkheim: estabelecer as fundações e as formas de estudo da sociologia.

Émile Durkheim (1858-1917)

No entanto, Durkheim acreditava que a principal função da sociologia era o estudo dos fatos sociais. A sociologia deveria se abster de estudar as individualidades dos sujeitos e se debruçar sobre estudos generalistas acerca dos fatos sociais, que são definidos por Durkheim como os aspectos de nossa sociedade que moldam as nossas ações em sociedade, tais como nossa língua, o Estado e a moral. Segundo Durkheim, os fatos sociais possuem três características principais:  São externos ao indivíduo, ou seja, os fatos sociais existem independentemente de nossas vontades individuais,  São de natureza coercitiva, o que quer dizer que eles possuem força para nos “obrigar” a agir de determinada maneira sob a ameaça de punições como o isolamento social, por exemplo, no caso de um comportamento socialmente inaceitável,  São também generalistas, ou seja, atingem a todos sem exceções.

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Para que possamos compreender melhor, peguemos como exemplo a língua que falamos. Ela se constitui um fato social na medida em que nos é externa, existindo independentemente de nossa vontade; é coercitiva, uma vez que a não utilização de uma língua compreensível em um meio social pode acarretar no isolamento social; e é generalista, uma vez que todos os que nascem em um determinado local, acabam por aprender a se comunicar com uma mesma língua ou linguagem. (http://www.mundoeducacao.com/sociologia/emile-durkheim.htm)

A OBJETIVIDADE DO FATO SOCIAL Após a identificação e caracterização dos fatos sociais, Durkheim tentou definir o método de conhecimento da Sociologia. Para o pensador e para os positivistas, o cientista social precisa manter certa distância e neutralidade em relação aos fatos sociais, para resguardar a objetividade da sua análise, ou seja, “a primeira regra e a mais fundamental é considerar os fatos sociais como coisas” (DURKHEIM, p. 15, grifos do autor). O sociólogo precisa deixar de lado suas pré-noções, que são valores e sentimentos pessoais em relação aos acontecimentos a ser estudados, porque podem distorcer a realidade dos fatos. Não pode haver envolvimento afetivo entre o cientista e seu objeto, e a neutralidade exige a não interferência do pesquisador no fato observado. Por isso, o trabalho científico exigia a eliminação de quaisquer riscos de subjetividade e uma atitude de distanciamento. Os fatos sociais deveriam ser encarados como coisas, como objetos que, sendo-lhe exteriores, deveriam ser medidos, observados e comparados, independentemente do que os indivíduos envolvidos pensassem ou declarassem a seu respeito. Todo esse rigor com o método era para garantir o sucesso da Sociologia como ciência, assim como eram as pesquisas das ciências exatas. “É preciso, portanto, considerar os fenômenos sociais em si mesmos, separados dos sujeitos conscientes que os concebem; é preciso estudá-los de fora, como coisas exteriores, pois é nessa qualidade que eles se apresentam a nós. Se essa exterioridade for apenas aparente, a ilusão se dissipará à medida que a ciência avançar e veremos, por assim dizer, o de fora entrar no de dentro. Mas a solução não pode ser preconcebida e, mesmo que eles não tivessem afinal todos os caracteres intrínsecos da coisa, deve-se primeiro tratá-los como se os tivessem. Essa regra aplica-se portanto à realidade social inteira, sem que haja motivos para qualquer exceção. Mesmo os fenômenos que mais parecem consistir em arranjos artificiais devem ser considerados desse ponto de vista. O caráter convencional de uma prática ou de uma instituição jamais deve ser presumido. Aliás, se nos for permitido invocar nossa experiência pessoal, acreditamos poder assegurar que, procedendo dessa maneira, com frequência se terá a satisfação de ver os fatos aparentemente mais arbitrários apresentarem após uma observação mais atenta dos caracteres de constância e de regularidade, sintomas de sua objetividade (DURKHEIM, 2007, p. 28-29, grifos do autor). Para tanto, Durkheim estabelece três regras para o sociólogo estudar os fatos sociais:

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Ciências Humanas e suas Tecnologias 1ª regra: [...] devemos afastar sistematicamente todas as pré-noções [...]”(DURKHEIM, 2007, p. 54); 2ª regra: [...] Nunca tomar como objeto de investigação senão um grupo de fenômenos previamente definidos por certas características exteriores que lhe sejam comuns, e incluir na mesma investigação todos os que correspondem a esta definição [...] (DURKHEIM, 2007, p.57); 3ª regra: “Quando o sociólogo empreende a exploração de uma ordem qualquer de fatos sociais, deve esforçar-se por considerá-los sob um ângulo em que eles se apresentem isolados das suas manifestações individuais [...] (DURKHEIM, 2007, p.65). A SOCIEDADE COMO UM ORGANISMO VIVO: ENTRE A NORMALIDADE E A PATOLOGIA A finalidade dos fatos sociais é estudar e entender a própria sociedade. Como Durkheim tem por base o positivismo e considera a sociedade um organismo vivo, consequentemente, esse “organismo vivo” chamado sociedade possui estados “normais” (saudáveis) e/ou “patológicos” (doentios). “[...] tal como para os indivíduos, a saúde é boa e desejável também às sociedades, ao contrário da doença, que é coisa má e de se evitar. Se encontrarmos um critério, objetivo, inerente aos próprios fatos, que nos permita distinguir cientificamente a saúde da doença nas diferentes ordens de fenômenos sociais, a ciência estará em condições de esclarecer a prática permanecendo fiel ao seu próprio método” (DURKHEIM, 2007, p.69). E complementa: “Chamaremos normais aos fatos que apresentam as formas mais gerais e daremos aos outros o nome de mórbidos ou de patológicos. Se convencionarmos chamar tipo médio ao ser esquemático que resultaria da reunião num todo, numa espécie de individualidade abstrata, das características mais frequentes na espécie com as suas formas mais frequentes, poder-se-á dizer que o tipo normal se confunde com o tipo médio, e que qualquer desvio em relação a este padrão da saúde é um fenômeno mórbido” (DURKHEIM, 2007, p.74). Durkheim considera patológico aquilo que põe em risco a harmonia de uma sociedade, aquilo que se encontra fora dos limites permitidos pela ordem social e pela moral vigente. Os fatos patológicos, como as doenças, são considerados transitórios e excepcionais (COSTA, 1997). (KLEINSCHMITT, Sandra Cristiana. Almanaque de sociologia para vestibular e Enem.Introdução e Conceitos Básicos. São Paulo: OnLine Editora, 2014. pp. 30-31)

A SOCIOLOGIA E O ESTADO “(...) O Estado é um órgão especial, encarregado de elaborar certas representações que valem para a coletividade. Estas representações se distinguem das outras representações coletivas por grau mais alto de consciência e de reflexão (...) O Estado é, para falar com rigor, o órgão mesmo do pensamento social. Nas condições presentes, esse pensamento está voltado para um fim prático (...) O Estado, ao menos em geral, não pensa por pensar, para construir sistemas de doutrinas, e, sim, para dirigir a conduta coletiva”

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Como interpretar esta definição de Estado? Partindo do princípio de que a sociedade capitalista foi concebida por Durkheim como um corpo que, às vezes, fica doente, esse corpo, para funcionar bem, depende de que todas as suas partes estejam funcionando harmonicamente. A responsabilidade de desenvolver o funcionamento harmônico de todas as partes da sociedade cabe ao Estado. Em outras palavras, se a sociedade é o corpo, o estado é o seu cérebro e por isso tem a função de organizar essa sociedade, reelaborando aspectos da consciência coletiva. Durkheim admitia que o Estado é uma instituição que tem o poder de elaborar leis que corrijam os casos patológicos da sociedade. Em resumo: se cabe à sociologia observar, entender e classificar os casos patológicos, procurando criar uma nova moral social, cabe ao Estado colocar em prática os princípios dessa nova moral. Neste contexto, a Sociologia e o Estado complementamse na organização da sociedade para, na prática, evitarem os problemas sociais. Isso levou Durkheim a acreditar que os sociólogos devessem ter uma participação direta dentro do Estado. CONSCIÊNCIA COLETIVA Por esse termo, Durkheim traduz a idéia do que seja o Psíquico Social. Cada indivíduo tem uma “psiqué”, isto é, um jeito de pensar e agir, de entender a vida. Assim, cada um de nós possui uma consciência individual que faz parte de nossa personalidade. Esta, porém, não é a única forma de consciência: existe também aquela formada pelas idéias comuns que estão presentes em todas as consciências individuais de uma sociedade. Essas idéias comuns formam a base para uma consciência de sociedade: uma primeira consciência que determina a nossa conduta e que não é individual, mas social e geral, denominada por Durkheim de Consciência Coletiva. A consciência coletiva é objetiva, isto é, ela não vem de uma só pessoa ou grupo, mas está difusa (espalhada) em toda a sociedade, e, por isso ela é exterior ao indivíduo, quer dizer, a consciência coletiva não é o que um indivíduo pensa, mas é o que a sociedade pensa. Por isso a consciência coletiva age sobre o indivíduo de forma coercitiva, isto é, exerce uma autoridade sobre o modo de como o indivíduo deve agir no seu meio social. Vemos como isso que a consciência individual não determina as ações de um pessoa; ao contrário, será a consciência coletiva que irá impor as regras sociais de uma sociedade; isto, porque, ao nascer, o indivíduo já encontra a sociedade pronta e constituída em suas leis. Assim, o Direito, os costumes, as crenças religiosas, o sistema financeiro não são criados pelo indivíduo, mas pelas gerações passadas, sendo transmitidas às novas através do processo da educação. Por exemplo: na sociedade em que vivemos, se alguém sair à rua sem roupas irá provocar imediatamente uma reação da sociedade contra si, pois, a partir desse momento, poderá ser taxado de maníaco e até ser preso; isso, devido à ação


Sociologia da consciência coletiva que, presente em nossa sociedade, proíbe-nos de andar nus. Durkheim nos oferece vários outros exemplos neste sentido: “(...) não sou obrigado a falar o mesmo idioma que meus companheiros de pátria, nem empregar as moedas legais; mas é impossível agir de outra maneira. Minha tentativa fracassaria lamentavelmente se procurasse escapar desta sociedade. Se sou industrial, nada me proíbe de trabalhar utilizando processos técnicos do século retrasado; mas, se o fizer, terei a ruína como resultado inevitável. Mesmo quando posso realmente libertar-me destas regras e violá-las com sucesso, vejome obrigado a lutar contra elas (...)” Vimos acima vários exemplos de controle que a consciência exerce sobre o indivíduo. Tente individualmente, descobrir outros exemplos de como a consciência coletiva exerce um controle sobre as nossas vidas. Pense um pouco e você irá descobrir vários exemplos do nosso dia-a-dia. DIVISÃO DO TRABALHO SOCIAL Outro conceito importante para entendermos a teoria de Durkheim; ele definia este termo como sendo a especialização das funções entre os indivíduos de uma sociedade. O Positivismo tenta entender o funcionamento da sociedade capitalista da mesma forma que a Biologia entende o funcionamento de um corpo animal, isto é, Durkheim achava que, ao desenvolver-se, a sociedade ia multiplicando-se em atividades a serem realizadas; a partir daí, cada indivíduo teria uma função a cumprir, a qual seria importante para o funcionamento de todo o corpo social. Em suas palavras: “(...) as funções políticas, administrativas, judiciárias, especializam-se cada vez mais. O mesmo acontece com as funções artísticas e científicas”. De acordo com Durkheim, cada membro da sociedade, desenvolvendo uma atividade útil e especializada passa a depender cada vez mais dos outros indivíduos, isto é, com a sociedade progredindo, surgem novas atividades; estas, por sua vez, tornam-se divididas. Por exemplo, o marceneiro para fazer uma mesa, depende do lenhador que corta a árvore, depende do motorista que transporta a madeira, depende do operário que prepara o verniz, depende daqueles que fabricam pregos, martelos e serrotes etc. Assim, também o músico que depende daquele que faz seu instrumento, depende daquele que faz o teatro para o público que assiste a ele, e assim por diante. Com isso, o feito mais importante da Divisão do Trabalho Social não é apenas seu aspecto econômico (aumento da produtividade), mas também tornar possível a união e a solidariedade entre as pessoas de uma mesma sociedade.

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DA SOLIDARIEDADE MECÂNICA À SOLIDARIEDADE ORGÂNICA Durkheim acentuava que nas sociedades anteriores ao capitalismo, isto é, nas sociedades tribal e feudal, a divisão do trabalho social era pouco desenvolvida, não havia um grande número de especializações das atividades sociais. Na sociedade feudal, por exemplo, a produção dos bens de consumo era realizada pelo trabalho artesanal e isso implicava o fato de que uma só pessoa fizesse aquilo de que necessitava, sem depender de outras pessoas. Ao fazer uma mesa, o servo só dependia de seu trabalho individual e isolado. Ao contrário, na sociedade capitalista, as atividades são muito divididas, sendo que para fazer uma mesa o marceneiro depende do trabalho de outras pessoas. Nas sociedades tribal e feudal, as pessoas não se unem porque uma depende do trabalho da outra, e, sim, são unidas por uma religião, tradição ou sentimento comum a todos. Esta união das pessoas a partir da semelhança na religião, tradição, ou sentimento é o que Durkheim chama de solidariedade mecânica. A Solidariedade Orgânica, ao contrário, aparece quando a divisão do trabalho social aumenta, e aí o que torna as pessoas unidas não é uma crença comum a todos, mas uma interdependência das funções sociais. A união das pessoas a partir da dependência que uma tem da outra para realizar alguma atividade social é o que Durkheim chama de solidariedade orgânica. Podemos tornar estes conceitos mais fáceis de serem entendidos a partir de um exemplo: imaginemos um professor que necessite formar grupos para desenvolver o tema da aula. O professor pode querer a formação dos grupos a partir de dois critérios: ele pode pedir aos alunos que formem grupos, livremente, a partir da amizade existente entre eles. Uma segunda opção é pedir aos alunos para formarem grupos de forma que em cada um dos grupos fique uma pessoa que saiba datilografia, uma outra que saiba desenhar, outra que tenha experiência de redação, e, por fim, uma que domine bem o conteúdo das aulas e que seja o coordenador do grupo. No primeiro caso, o que uniu os alunos no grupo foi um sentimento, a amizade, de onde teríamos a solidariedade mecânica. No segundo caso, o que uniu os alunos em grupo foi a dependência que cada um tinha da atividade do outro: a união foi dada pela especialização das funções, de onde teríamos a solidariedade orgânica. Durkheim admite que a solidariedade orgânica é superior à mecânica, pois ao se especializarem as funções, a individualidade, de certo modo, é ressaltada, permitindo maior liberdade de ação. O que significa afirmar que a solidariedade orgânica dá liberdade ao indivíduo? Vimos, anteriormente, que nossa conduta na sociedade é orientada pela consciência coletiva, isto é, não fazemos o que queremos e, sim, o que as normas sociais permitem. Desta forma, a consciência coletiva é coercitiva. No entanto, a partir do momento em que as atividades sociais são muito divididas, as pessoas passam a depender uma

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Ciências Humanas e suas Tecnologias das outras e ao mesmo tempo, cada uma, ao especializarse na atividade que realiza, passa a desenvolver a sua individualidade. Voltemos ao exemplo do professor que forma grupos de pesquisa em sala de aula: no grupo formado por amigos, pode acontecer que um elemento discorde muito das opiniões de outro; este fato pode trazer um conflito que põe em risco a existência do grupo. Nesse caso, os elementos devem agir de acordo com as idéias comuns do grupo, e não a partir das suas próprias idéias. Já no grupo onde a união dá-se pela atividade especializada, a individualidade é ressaltada, pois, dentro da sua atividade, cada um age como bem entende, a aí a divergência de opiniões não põe em causa a existência do grupo. A SOCIOLOGIA DIANTE DO CASO PATOLÓGICO E DA ANOMIA Durkheim viveu numa época de grandes conflitos sociais entre a classe dos empresários e a classe dos trabalhadores. É também uma época em que surgem novos problemas sociais como favelas, suicídios, poluição, desemprego etc. No entanto, o crescente desenvolvimento da indústria e tecnologia fez com que Durkheim tivesse uma visão otimista sobre o futuro do capitalismo. Ele pensava que todo o progresso desencadeado pelo capitalismo traria um aumento generalizado da divisão do trabalho social e, por conseqüência, da solidariedade orgânica, a ponto de fazer com que a sociedade chegasse a um estágio sem conflitos e problemas sociais. Com isso, Durkheim admitia que o capitalismo é a sociedade perfeita; trata-se apenas de conhecer os seus problemas e de buscar uma solução científica para eles. Em outras palavras, a sociedade é boa, sendo necessário, apenas “curar as suas doenças”. Tal forma de pensar o progresso de um jeito positivo fez com que Durkheim concluísse que os problemas sociais entre empresários e trabalhadores não se resolveriam dentro de uma luta política, e sim através da ciência, ou melhor, da sociologia. Esta seria, então, a tarefa da sociologia: compreender o funcionamento da sociedade capitalista de modo objetivo para observar, compreender e classificar as leis sociais, descobrir as que são falhas e corrigi-las por outras mais eficientes. Assim, Durkheim acreditava que a sociedade, funcionando através de leis e regras já determinadas, faria com que os problemas sociais não tivessem sua origem na Economia (forma pela qual as pessoas trabalham), mas sim numa crise moral, isto é num estado social em que várias regras de conduta não estão funcionando. Por exemplo: se a criminalidade aumenta a cada dia é porque as leis que regulamentam o combate ao crime estão falhando, por serem mal formuladas. A este estado de crise social, onde as leis não estão funcionando, Durkheim denomina caso patológico. Por outro lado, os problemas sociais podem ter sua origem também na ausência de regras, o que por sua vez se caracteriza como anomia. Frente ao caso patológico (regras sociais falhas), cabe à Sociologia captar suas causas, procurando evitar a anomia

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(crise total), através da criação de uma nova moral social que supere a velha moral deficiente. Por ter essa confiança de que num futuro breve a sociedade capitalista eliminaria, através da ciência, dentro da ordem e do progresso, todos os seus problemas, sua forma de pensar era conservadora. O que significa uma pessoa ser conservadora? É acreditar que a sociedade atual não deve ser mudada, que as coisas devem permanecer como estão. É ter receio de qualquer transformação social. Por fim, é admitir que os problemas sociais criados pelo capitalismo serão resolvidos dentro do próprio capitalismo. E pelo fato de Durkheim ser uma pessoa conservadora é que vamos encontrar na sua teoria um certo apoio à sociedade capitalista. O SUICÍDIO Émile Durkheim é o autor da obra O Suicídio (1897) e define-o como: “[...] suicídio é todo caso de morte que resulte direta ou indiretamente de um ato positivo ou negativo praticado pela própria vítima, ato que a vítima sabia dever produzir este resultado” (DURKHEIM, 1978, p167). A obra foi escrita por Durkheim logo após a defesa de sua tese de doutorado “A Divisão do Trabalho Social”. O livro foi construído com todo o rigor metodológico: definição de um problema; diferenciação do suicídio como um fenômeno da sociologia; estabelecimento de categorias; desenvolvimento de uma teoria geral. Em sua tese, preocupo-se com o enfraquecimento da moralidade social do mundo moderno, porque os indivíduos poderiam sentir-se desorientados em relação aos vínculos morais, podendo desencadear uma situação patológica ou anômica: “[...] os indivíduos enfrentam-se com a anomia quando a moral não os constrange ou coage suficiente, ou seja, quando não se tem um conceito claro do que é uma conduta apropriada, aceitável ou quando uma conduta não o é” (RITZER, 1993 apud PLÜMER, 2005, p.71). A divisão do trabalho, que deveria ser considerada uma fonte de coesão social, tornara-se uma fonte de anomia social e, por consequência, uma patologia central das sociedades modernas. Durkheim “[...] ressaltava que apesar de a divisão estrutural do trabalho na sociedade moderna desencadear a solidariedade orgânica, podia ocorrer de os indivíduos sentirem-se isolados, abandonados na realização de suas atividades altamente especializadas, em estado anômico. Durkheim considerava essa situação anormal porque só em circunstâncias não normais a divisão moderna do trabalho relegava a pessoas a tarefas e empregos isolados e carentes de sentido [...]” (PLÜMER, 2005, p.71-72). Segundo Durkheim (apud PLÜMER, 2005, p.76), “[...] o principal efeito da divisão do trabalho social é produzir solidariedade; se isso não acontece, é porque os órgãos (instituições) que compõem a sociedade dividida em funções não se estão autorregulando e, portanto, põem em risco o equilíbrio e a coesão social. Assim, basicamente, o homem se suicida em decorrência de duas situações: a perda de coesão da sociedade moderna e a ausência de


Sociologia normas apropriadas através das quais pode orientar sua conduta em sociedade”. Embora o suicídio seja um ato individual, trata-se de um fato social, por ser externo e coercitivo aos indivíduos. Entre os fatores do suicídio, os que interessam aos sociólogos são os que se fazem sentir no conjunto da sociedade: “Visto que o suicídio é um ato do indivíduo que apenas afeta o indivíduo, dir-se-ia que depende de fatores pessoais e que o estudo de tal fenômeno se situa no campo da psicologia. E, aliás, não é pelo temperamento do suicida, pelo seu caráter, pelos seus antecedentes, pelos acontecimentos da sua vida privada que normalmente este ato se explica?” (DURKHEIM, 1978, p.168) Os tipos de suicídios estão relacionados ao grau de integração dos sentimentos coletivos ou da coerção externa sobre os indivíduos. Os quatro tipos de suicídios caracterizados por Durkheim são: 1) Suicídio egoísta: individualismo excessivo, perda total do vínculo do indivíduo com o meio social. Por exemplo, a depressão, a melancolia e a sensação de desamparo moral ocasionados pela desintegração social, pelo egoísmo ou pela baixa coesão ou integração social. “Quanto mais enfraquecidos sejam os grupos a que pertence, menos depende deles e mais, por consequência, depende apenas de si próprio por não reconhecer outras regras de conduta que as estabelecidas no seu interesse privado. Se está de acordo em chamar de egoísmo a este estado onde o ego individual se afirma demasiadamente face ao ego social e à custa deste último, nós poderemos dar o nome de egoísta para o tipo particular de suicídio que resulta de uma individualização desmesurada” (DURKHEIM, 1981, p.109). 2) Suicídio altruísta: indivíduo extremamente ligado à sociedade, sem vida própria. Morre porque acredita que sua morte pode ser benéfica para a sociedade. Esse tipo de suicídio é mais frequente nas sociedades tradicionais (solidariedade mecânica). Por exemplo, a morte de enfermos ou pessoas muito idosas e de viúvas pela morte de seu marido. Apesar de Durkheim considerar que sejam raras as ocorrências desse tipo de suicídio nas sociedades modernas, eles podem ser encontrados em regimentos militares muito tradicionais, como guardas imperiais ou de elite. Trazendo para atualidade, são exemplos de suicídio altruísta os kamikazes e os “homens bomba”. Esse tipo de morte caracteriza-se por ser um dever social; caso não seja cumprido, ele será punido por castigos religiosos e por perda da estima pública: a sociedade leva o indivíduo ao suicídio (PLÜMER, 2005). 3) Suicídio anômico: ocorre em contextos em que as normas sociais estão ausentes. Provém do fato de a atividade dos homens estar desregrada e de estes sofrerem com isso. As normas sociais estão ausentes por conta de transformações ocorridas na sociedade, como grandes crises econômicas. Dessa forma, esse tipo de suicídio aumenta tanto pela perda como pelo ganho econômico, tornando a coletividade incapaz de regular os indivíduos naquele momento. Conforme Plümer (2005, p. 78), “a sociedade, durante os períodos de desregulamentação da vida social, deixa de estar suficientemente presente para regular as paixões individuais, permitindo, assim, às

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pessoas se converterem em escravas de suas próprias paixões e a realizarem atos destrutivos, entre eles, destruir suas vidas, em maior número que em condições normais”. 4) Suicídio fatalista: Esse tipo de suicídio é meramente uma nota de rodapé escrita por Durkheim, mas vale a pena ser citado, porque o pensador caracterizou a sua ocorrência quando existe uma regulação excessiva. Os indivíduos que praticam esse tipo de suicídio são aqueles com futuro determinado e que sofrem com as paixões comprimidas por uma disciplina opressora. Exemplos deste tipo de suicídio são os escravos (PLÜMER, 2005). Para finalizar, os suicídios egoísta e anômico são típicos das sociedades modernas. Enquanto o primeiro se caracteriza pela falta de coesão, o segundo caracteriza-se pela falta de significado. Ambos estão relacionados às inovações tecnológicas e a atividades industriais nas quais há intensa divisão do trabalho. AS FORMAS ELEMENTARES DA VIDA RELIGIOSA Durkheim elaborou a obra Formas Elementares da Vida Religiosa (1912) com o objetivo de desenvolver uma teoria geral da religião, a partir da análise das instituições religiosas consideradas simples e/ou primitivas. Durkheim justifica a análise dessas sociedades, porque, para ele, a essência de um fenômeno social deve ser observada nas suas formas mais elementares. Para o pensador, o fenômeno religioso é formador da consciência coletiva. Em especial nos aspectos morais e materiais, ou seja, o fato moral, a solidariedade entre os indivíduos são frutos da estrutura da sociedade, estando a consciência social estritamente vinculada a uma série de elementos sociais. Nas sociedades primitivas, a religião oferece uma lição exemplar de coesão social. Durkheim entende que os ritos são tradutores dos aspectos da vida, individuais e sociais. “Não há, pois, religiões que sejam falsas. Todas são verdadeiras à sua maneira: todas respondem, ainda que de maneiras diferentes, a determinadas condições da vida humana [...] Portanto, se nos voltamos para as religiões primitivas não é com a intenção de depreciar a religião em geral; porque essas religiões não são menos respeitáveis que as outras. Elas respondem às mesmas necessidades, desempenham o mesmo papel, dependem das mesmas causas; portanto, podem perfeitamente servir para manifestar a natureza da vida religiosa e, por conseguinte, para resolver o problema que desejamos tratar [...] Em primeiro lugar, não podemos chegar a compreender as religiões mais recentes senão seguindo na história a maneira pela qual se construíram progressivamente. A história, com efeito, é o único método de análise explicativa que a elas se pode aplicar” (DURKHEIM, 1989, p.31). Para Durkheim, a religião é eminentemente social, porque as representações religiosas são representações coletivas, sendo um produto do pensamento coletivo, como as idéias de tempo, de espaço, do sobrenatural, da divindade, das crenças e dos ritos, do sagrado e do profano: “Uma noção que geralmente é considerada como característica de tudo aquilo que é religioso é a de sobrenatural. Com esse termo entende-se toda ordem de

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Ciências Humanas e suas Tecnologias coisas que vai além do alcance do nosso entendimento; o sobrenatural é o mundo do mistério, do incognoscível, do incompreensível. A religião seria, assim, uma espécie de especulação sobre tudo aquilo que escapa à ciência e, mais geralmente, ao pensamento distinto [...] é mistério que pede explicação; portanto ele as faz consistir essencialmente em uma crença na onipotência de alguma coisa que supera a inteligência. Da mesma forma, Marx Müller via em toda religião um esforço para conceber o inconcebível, para exprimir o inexprimível, uma aspiração ao infinito [...] de qualquer forma, o que é certo é que ela aparece só muito tardiamente na história das religiões. É totalmente estranha não apenas aos povos que chamamos de primitivos, mas também a todos aqueles que não atingiram certo grau de cultura intelectual” (DURKHEIM, 1989, p.31). Durkheim reconhece na religião um fato social de primordial importância, porque é nela que se forma a consciência coletiva, como as noções de tempo e espaço, gênero e funções sociais de homens e mulheres etc. (KLEINSCHMITT, Sandra Cristiana. Almanaque de sociologia para vestibular e Enem. Introdução e Conceitos Básicos. São Paulo: OnLine Editora, 2014. pp. 33-35)

FIQUE LIGADO NO ENEM! • Durkheim acreditava que a principal função da sociologia era o estudo dos fatos sociais. A sociologia deveria se abster de estudar as individualidades dos sujeitos e se debruçar sobre estudos generalistas acerca dos fatos sociais, que são definidos por Durkheim como os aspectos de nossa sociedade que moldam as nossas ações em sociedade. Os fatos sociais possuem três características principais são: externos ao indivíduo, de natureza coercitiva e também generalistas. • Como Durkheim tem por base o positivismo e considera a sociedade um organismo vivo, consequentemente, esse “organismo vivo” chamado sociedade possui estados “normais” (saudáveis) e/ou “patológicos” (doentios). Ele considera patológico aquilo que põe em risco a harmonia de uma sociedade, aquilo que se encontra fora dos limites permitidos pela ordem social e pela moral vigente. Os fatos patológicos, como as doenças, são considerados transitórios e excepcionais. • De acordo com Durkheim, cada membro da sociedade, desenvolvendo uma atividade útil e especializada passa a depender cada vez mais dos outros indivíduos, isto é, com a sociedade progredindo, surgem novas atividades; estas, por sua vez, tornam-se divididas. O feito mais importante da Divisão do Trabalho Social não é apenas seu aspecto econômico (aumento da produtividade), mas também tornar possível a união e a solidariedade entre as pessoas de uma mesma sociedade. • Esta união das pessoas a partir da semelhança na religião, tradição, ou sentimento é o que Durkheim chama de solidariedade mecânica. A união das pessoas a partir da dependência que uma tem da outra para realizar alguma atividade social é o que Durkheim chama de solidariedade orgânica. A solidariedade orgânica aparece quando a divisão do trabalho social aumenta, e aí o que torna as pessoas unidas não é uma crença comum a todos, mas uma interdependência das funções sociais.

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• Com isso, Durkheim admitia que o capitalismo é a sociedade perfeita; trata-se apenas de conhecer os seus problemas e de buscar uma solução científica para eles. Em outras palavras, a sociedade é boa, sendo necessário, apenas “curar as suas doenças”. Esta seria, então, a tarefa da sociologia: compreender o funcionamento da sociedade capitalista de modo objetivo para observar, compreender e classificar as leis sociais, descobrir as que são falhas e corrigi-las por outras mais eficientes. • Os problemas sociais podem ter sua origem também na ausência de regras, o que por sua vez se caracteriza como anomia. Frente ao caso patológico (regras sociais falhas), cabe à Sociologia captar suas causas, procurando evitar a anomia (crise total), através da criação de uma nova moral social que supere a velha moral deficiente. • Para Durkheim, a religião é eminentemente social, porque as representações religiosas são representações coletivas, sendo um produto do pensamento coletivo, como as idéias de tempo, de espaço, do sobrenatural, da divindade, das crenças e dos ritos, do sagrado e do profano. A religião também é um fato social de primordial importância, porque é nela que se forma a consciência coletiva, como as noções de tempo e espaço, gênero e funções sociais de homens e mulheres etc.

UNIDADE 8 MAX WEBER A SOCIEDADE SOB UMA PERSPECTIVA HISTÓRICA O contraste entre o positivismo e o idealismo alemão se expressa nas diferentes maneiras de cada uma das correntes encarar a história. Para o positivismo, o que o cientista tem diante de si, como história, é o processo universal de evolução da humanidade, cujos estágios ele pode perceber pelo método comparativo, capaz de aproximar sociedades humanas de todos os tempos e lugares. A história particular de cada sociedade desaparece frente a essa lei geral que os pensadores positivistas tentaram reconstruir. Essa forma de pensar faz desaparecer as particularidades históricas, assim como os indivíduos são dissolvidos em meio às forças impositivas. Ao definir o que é uma espécie social, Durkheim, em uma nota de pé de página em seu livro “As regras do método sociológico”, alerta para que não se confunda uma espécie social com as fases históricas pelas quais ela passa. Diz ele: Desde suas origens, passou a França por formas de civilização muito diferentes: começou por ser agrícola, passou em seguida pelo artesanato e pelo pequeno comércio, depois pela manufatura e, finalmente, chegou à grande indústria. Ora, é impossível admitir que uma mesma individualidade coletiva possa mudar de espécie três ou quatro vezes. Uma espécie deve definir-se por caracteres mais constantes. O estado econômico, tecnológico etc. apresenta fenômenos por demais


Sociologia instáveis e complexos para fornecer a base para uma classificação.” (p. 82) Fica claro que essa posição anula a importância dos processos históricos particulares, valorizando apenas a lei de evolução, a generalização e a comparação entre fenômenos sociais. Weber, figura dominante na Sociologia alemã, tendo forte formação histórica, se oporá a essa concepção. Para ele, a pesquisa histórica é essencial para a compreensão das sociedades. Essa pesquisa histórica, baseada na coleta de documentos e no esforço interpretativo das fontes, permite o entendimento das diferenças sociais, que seriam, para Weber, de gênese e formação, e não de estágios de evolução. Portanto, segundo a perspectiva de Weber, o caráter particular e específico de cada formação social e histórica contemporânea deve ser respeitado. O conhecimento histórico, entendido como a busca de evidências, torna-se um poderoso instrumento para o cientista social.

Max Weber (1864-1920)

Weber consegue combinar duas perspectivas: a historiográfica, que respeita a particularidade de cada sociedade, e a sociológica, que ressalta os elementos mais gerais de cada fase do processo histórico. Em “As causas sociais do declínio da cultura antiga”, ele estabeleceu, com base em textos e documentos, as transformações da sociedade romana em função da utilização da mão de obra escrava e do servo de gleba, mostrando a passagem da Antiguidade para a sociedade medieval. Weber, entretanto não achava que uma sucessão de fatos históricos fizesse sentido por si mesma. Para ele, todo historiador trabalha com dados esparsos e fragmentários. Por isso, propunha para esse trabalho o método compreensivo, isto é, um esforço interpretativo do passado e de sua repercussão nas características peculiares das sociedades contemporâneas. Essa atitude de compreensão é que permite ao cientista atribuir aos fatos esparsos um sentido social e histórico. A AÇÃO SOCIAL: UMA AÇÃO COM SENTIDO Cada ordem social adquiriu, para Weber, especificidade e importância próprias. Mas o ponto de partida da Sociologia de Weber não estava nas entidades coletivas, grupos ou instituições. Seu objeto de investigação é a ação social, a conduta humana dotada de sentido. Assim o homem ganhou, na teoria weberiana, significado e especificidade. O homem

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dá sentido à sua ação social: estabelece a conexão entre o motivo da ação, a ação propriamente dita e seus efeitos. Segundo Weber, a ordem social não difere nem se opõe aos indivíduos como força exterior a eles, tal como pensava Durkheim: ao contrário, as normas sociais só se tornam concretas quando se manifestam em cada indivíduo sob a forma de motivação. Cada sujeito age levado por um motivo que se orienta pela tradição, por interesses racionais ou pela emotividade. O motivo, quando se manifesta na ação concreta, dá a ela um caráter – “econômico”, “político” etc. O objetivo que transparece na ação social permite desvendar o seu sentido, que é social na medida em que cada indivíduo age levando em conta a resposta ou reação de outros indivíduos. A tarefa do cientista é descobrir as conexões possíveis de sentido em relação ao aspecto da realidade social que lhe interesse estudar. O sentido, por um lado, é aquele que motiva a ação individual, formulado expressamente pelo agente ou implícito em sua conduta. Por outro lado, a ação social gera efeitos sobre a realidade em que ocorre, os quais escapam ao controle e à previsão do agente. Ao cientista compete captar, pois, o sentido produzido pelos agentes em todas as suas consequências. As conexões que o cientista estabelece revelam as implicações da ação social – políticas, econômicas, religiosas etc. O cientista pode, portanto, descobrir o nexo entre as várias etapas em que se descompõe a ação social. Por exemplo, o simples ato de enviar uma carta se descompõe em uma série de ações sociais com sentido – escrever, selar, enviar, receber – que terminam por realizar um objetivo. É o indivíduo que, através dos valores sociais e de sua motivação, produz o sentido da ação social. Isso não significa que cada sujeito possa prever com certeza todas as consequências de determinada ação. Como dissemos, cabe ao cientista perceber isso. Não significa também que a análise sociológica se confunda com a análise psicológica. Trata-se, antes de mais nada, do princípio de que qualquer norma social só se manifesta através dos indivíduos, motivando-os internamente para a ação. Por outro lado, Weber distingue a ação da relação social. Para que se estabeleça uma relação social, é preciso que o sentido seja compartilhado. Por exemplo, um sujeito que pede uma informação a outro estabelece uma ação social; ele tem um motivo e age em relação a outro indivíduo, mas tal motivo não é compartilhado. Numa sala de aula, onde o objetivo da ação dos vários sujeitos é compartilhado, existe uma relação social. Pela frequência com que determinadas ações sociais se manifestam, o cientista pode conceber as tendências gerais que levam os indivíduos, em determinada sociedade, a agir de determinado modo. A TAREFA DO CIENTISTA Weber recusa a maioria das proposições positivistas: o evolucionismo, o estudo que se reduz aos aspectos da sociedade que se repetem em formações diferentes e a exclusão do estudo dos indivíduos particulares. Weber tem uma concepção de objetividade distinta da de Durkheim. Segundo Weber, o cientista também é guiado

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Ciências Humanas e suas Tecnologias por suas preocupações com os problemas sociais, sendolhe impossível descartar-se de suas prenoções. Existe certa parcialidade na análise sociológica, intrínseca à pesquisa, como a toda forma de conhecimento. As preocupações do cientista orientam a seleção e a relação entre os elementos da realidade a ser analisada. Os fatos sociais não são coisas, mas acontecimentos que o cientista percebe e cujas causas procura desvendar. Entretanto, uma vez iniciado o estudo, este deve se conduzir pela busca neutra da verdade possível dos acontecimentos. A realização da tarefa científica não deveria ser dificultada pela defesa das crenças e ideias pessoais do cientista. Portanto, para a Sociologia weberiana, os acontecimentos que integram o social têm origem nos indivíduos. O cientista parte de uma preocupação com significado subjetivo, tanto para ele como para os demais indivíduos que compõem a sociedade. Seu objetivo é compreender, buscar os nexos causais que deem o sentido da ação social. Qualquer que seja a perspectiva adotada pelo cientista, ela sempre resultará numa explicação parcial. Um mesmo acontecimento pode ter causas econômicas, políticas e religiosas. Nenhuma dessas causas é superior a outra em significância. Todas elas compõem um conjunto de aspectos da realidade que se manifesta, necessariamente, nos atos individuais. O que garante a cientificidade de uma explicação é o método de reflexão, não a objetividade pura dos fatos. Weber relembra sempre que, embora os acontecimentos sociais possam ser quantificáveis, a análise do social envolve sempre uma questão de qualidade, interpretação, subjetividade e compreensão.

A ÉTICA PROTESTANTE CAPITALISMO

E O ESPÍRITO DO

Um dos trabalhos mais conhecidos e importantes de Weber é “A ética protestante e o espírito do capitalismo”, no qual ele relaciona o papel do protestantismo na formação do comportamento típico do capitalismo ocidental moderno. Weber parte de dados estatísticos que lhe mostraram a proeminência de adeptos da Reforma entre os grandes homens de negócios bem-sucedidos e mão de obra qualificada. A partir daí, procura estabelecer conexões entre a doutrina e a pregação protestante, seus efeitos no comportamento dos indivíduos e sobre o desenvolvimento capitalista. Weber descobre que valores do protestantismo – como a disciplina ascética, a poupança, a austeridade, a vocação, o dever e a propensão ao trabalho – atuavam de maneira decisiva sobre os indivíduos. No seio das famílias protestantes, os filhos eram criados para o ensino especializado e para o trabalho fabril, optando sempre por atividades mais adequadas à obtenção do lucro, preferindo o cálculo e os estudos técnicos ao estudo humanístico. Weber mostra a formação de uma nova mentalidade, um ethos propício ao capitalismo, em flagrante oposição ao “alheamento” e à atitude contemplativa do catolicismo. A importância desse trabalho, no seu sentido teórico está em mostrar as relações entre religião e sociedade e desvendar particularidades do capitalismo. Além disso, através dessa obra, podemos ver de que maneira Weber aplica seus conceitos e posturas metodológicas. Vejamos alguns dos principais aspectos da análise:

O TIPO IDEAL Para atingir a explicação dos fatos sociais, Weber construiu um instrumento de análise que chamou de tipo ideal. Trata-se de uma criação abstrata a partir de casos particulares observados. Ele dá como exemplo a construção do tipo ideal de uma sociedade onde a produção é artesanal. O cientista pode, através de observações sistemáticas dos casos particulares, construir um modelo de como seriam as relações políticas, econômicas e sociais das sociedades artesanais, acentuando os traços que lhe pareçam mais característicos. Nenhum exemplo representa realmente este tipo ideal, uma vez que ele é construído a partir dos casos particulares de ordens sociais diferentes no tempo e no espaço. Mas esse modelo ajuda as comparações e a percepção de semelhanças e diferenças. Pode-se, através do tipo ideal de sociedade artesanal, comparar as sociedades antigas e atuais e estudar suas diferenças. O tipo ideal não é um modelo a ser alcançado nem um acontecimento observável. É uma construção do pensamento, uma “lupa” que auxilia o cientista. É preciso deixar claro que o tipo ideal nada tem a ver com as espécies sociais de Durkheim, que pretendiam ser exemplos de sociedades observadas em diferentes graus de complexidade num continuum evolutivo.

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1. A relação entre a religião e a sociedade não se dá por meios institucionais, mas através de valores introjetados nos indivíduos e transformados em motivos da ação social. A motivação do protestante, segundo Weber, é o trabalho, enquanto dever e vocação, como um fim absoluto em si mesmo, e não o ganho material obtido através dele. 2. O motivo que mobiliza internamente os indivíduos é consciente. Entretanto, os efeitos dos atos individuais ultrapassam a meta inicialmente visada. Buscando sair-se bem na profissão, mostrando sua própria virtude e vocação e renunciando aos prazeres materiais, o protestante puritano se adéqua facilmente ao mercado de trabalho, acumula capital e o reinveste produtivamente. 3. Ao cientista cabe, segundo Weber, estabelecer conexões entre a motivação dos indivíduos e os efeitos de sua ação no meio social. Procedendo assim, Weber analisa os valores do catolicismo e do protestantismo, mostrando que os últimos revelam a tendência ao racionalismo econômico que predominará no capitalismo. 4. Para constituir o tipo ideal do capitalismo ocidental moderno, Weber estuda as diversas características das atividades econômicas em diversas épocas e lugares, antes é após o surgimento das atividades mercantis e da indústria. E, conforme seus preceitos, constrói um tipo gradualmente estruturado a partir de suas manifestações particulares tomadas à realidade histórica. Assim, diz ser o


Sociologia capitalismo, na sua forma típica, uma organização econômica racional assentada no trabalho livre e orientada para um mercado real, não para a mera especulação ou rapinagem. O capitalismo promove a separação entre empresa e residência, a utilização técnica de conhecimentos científicos, o surgimento do direito e da administração racionalizados. (COSTA, Maria Cristina. Sociologia. Introdução à ciência da sociedade. São Paulo: Editora Moderna, 1990. pp. 60-67)

MAX WEBER E O CONCEITO DE ESTADO A definição weberiana de Estado é talvez uma das mais famosas na Sociologia. No artigo Política como Vocação, o autor afirma que o Estado é "uma relação de homens que dominam seus iguais, mantida pela violência legítima (isto é, considerada legítima)". Assim, na conceituação de Weber, o Estado é um aparato administrativo e político que detém o monopólio da violência legítima dentro de um determinado território, a partir da crença dos indivíduos em sua legitimidade. Dois pontos são fundamentais na descrição do autor. Primeiramente, o monopólio estatal da violência legítima não significa que apenas o Estado fará uso da força, pois indivíduos e organizações civis poderão eventualmente fazer uso da violência física. Entretanto, apenas o Estado é autorizado pela sociedade para usá-la com legitimidade. Assim, organizações como a máfia italiana ou o crime organizado no Brasil são exemplos de grupos que fazem uso da força sem, todavia, terem o apoio do resto da sociedade para fazê-lo, de forma que a legitimidade do Estado não é questionada. Já, os grupos separatistas que fazem uso da violência para organizar revoluções de cunho político podem, eventualmente, colocar a legitimidade estatal em questão se obtiverem o apoio da maior parte da população. Em segundo lugar, essa autorização social do uso da força ocorre porque os dominados aceitam obedecer a seus dominantes. Essa aceitação, por sua vez, tem três possíveis justificativas. Pode ocorrer devido a uma "autoridade do passado eterno, ou seja, dos costumes consagrados por meio de validade imemorial", chamada de dominação tradicional. Outra possibilidade é que ocorra devido ao carisma de um líder (dominação carismática). E, como conhecemos nos Estados modernos, ocorre através da legalidade, ou seja, é "fundada na crença da validade legal e da competência funcional baseada em normas racionalmente definidas" (dominação legal). Apesar das particularidades, nos três casos a dominação fundamenta-se exclusivamente na crença da maior parte das pessoas que fazem parte de um determinado Estado na legitimidade do poder daqueles que a domina. Essa definição implica que um Estado não mais se manteria se, do dia para a noite, a parcela majoritária das pessoas que sustentam a sua existência deixasse de acreditar na validade do sistema que a governa, passasse a fazer uso da força e a acreditar que pode fazê-lo legitimamente. Sendo assim, a instituição estatal somente se sustenta com a aceitação e com o apoio dos dominados. Weber, de certa maneira, se amparara em um elemento psicológico para

ENEM

justificar a dominação estatal. Por causa disso, o Estado tem que se apresentar permanentemente aos cidadãos como legítimo, para manter a crença em sua validade. No caso do Estado burocrático, sustentado pela dominação legal, estabeleceu-se uma série de normas e limites para a legitimidade do uso estatal da violência. Dessa forma, a força física só poderá ser usada dentro de determinados preceitos, sob o risco de que o Estado perca sua legitimidade se desafiá-los. No Estado contemporâneo, a instituição de leis que prescrevem as situações em que a violência poderá ser usada estabelece uma boa possibilidade de que todas as pessoas sejam tratadas da mesma forma e que tenham algum controle sobre as determinações que os rege. Esses elementos foram fundamentais para que o conjunto da sociedade abrisse mão do uso legítimo da violência e se submetesse a dominação estatal na sociedade moderna. (http://sociologiacienciaevida.uol.com.br/ESSO/Edicoes/34/artigo21369 8-2.asp)

CLASSIFICAÇÃO DAS AÇÕES SOCIAIS Na visão de Max Weber, a função do sociólogo é compreender o sentido das chamadas ações sociais, e fazêlo é encontrar os nexos causais que as determinam. Entende-se que ações imitativas, nas quais não se confere um sentido para o agir, não são ditas ações sociais. Mas o objeto da Sociologia é uma realidade infinita e para analisá-la é preciso construir tipos ideais, que não existem de fato, mas que norteiam a referida análise. Os tipos ideais servem como modelos e a partir deles a citada infinidade pode ser resumida em quatro ações fundamentais, a saber: 1. Ação social racional com relação a fins, na qual a ação é

estritamente racional. Toma-se um fim e este é, então, racionalmente buscado. Há a escolha dos melhores meios para se realizar um fim; 2. Ação social racional com relação a valores, na qual não é o fim que orienta a ação, mas o valor, seja este ético, religioso, político ou estético; 3. Ação social afetiva, em que a conduta é movida por sentimentos, tais como orgulho, vingança, loucura, paixão, inveja, medo, etc., e 4. Ação social tradicional, que tem como fonte motivadora os costumes ou hábitos arraigados. (Observe que as duas últimas são irracionais). Para Weber, a ação social é aquela que é orientada ao outro. No entanto, há algumas atitudes coletivas que não podem ser consideradas sociais. DIFERENÇAS ENTRE WEBER E DURKHEIM No que se refere ao método sociológico, Weber difere de Durkheim (que tem como método a observação e a experimentação, sendo que esta se dá a partir da análise comparativa, isto é, faz-se a análise das diversas sociedades as quais devem ser comparadas entre si posteriormente). Ao tratar os fatos sociais como coisas, Durkheim queria mostrar que o cientista precisa romper com qualquer pré-noção, ou seja, é necessário, desde o começo da pesquisa sobre a sociedade, o abandono dos juízos de valores que são próprios ao sociólogo

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Ciências Humanas e suas Tecnologias (neutralidade), uma total separação entre o sujeito que estuda e o objeto estudado, que também pretendem as ciências naturais. No entanto, para Weber, na medida em que a realidade é infinita, e quem a estuda faz nela apenas um recorte a fim de explicá-la, o recorte feito é prova de uma escolha de alguém por estudar isto ou aquilo neste ou naquele momento. Nesse sentido, não há, como queria Durkheim, uma completa objetividade. Os juízos de valor aparecem no momento da definição do tema de estudo. Assim foi o seu conviver com a doutrina protestante que influenciou Weber na escrita de “A ética protestante e o espírito do capitalismo”. Para esse teórico, é apenas após a definição do tema, quando se vai partir rumo à pesquisa em si, que se faz possível ser objetivo e imparcial. Compare-se Durkheim e Weber, agora do ponto de vista do objeto de estudo sociológico. O primeiro dirá que a Sociologia deve estudar os fatos sociais, que precisam ser: gerais, exteriores e coercitivos, além de objetivos, para esta ser chamada corretamente de “ciência”. Enquanto o segundo optará pelo estudo da ação social que, como descrita acima, é dividida em tipologias. Ademais, diferentemente de Durkheim, Weber não se apoia nas ciências naturais a fim de construir seus métodos de análises e nem mesmo acredita ser possível encontrar leis gerais que expliquem a totalidade do mundo social. O seu interesse não é, portanto, descobrir regras universais para fenômenos sociais. Mas quando rejeita as pesquisas que se resumem a uma mera descrição dos fatos, ele, por seu turno, caminha em busca de leis causais, as quais são suscetíveis de entendimento a partir da racionalidade científica.

relação entre a religião e a sociedade não se dá por meios institucionais, mas através de valores introjetados nos indivíduos e transformados em motivos da ação social. Ao cientista cabe, segundo Weber, estabelecer conexões entre a motivação dos indivíduos e os efeitos de sua ação no meio social. • Na conceituação de Weber, o Estado é um aparato administrativo e político que detém o monopólio da violência legítima dentro de um determinado território, a partir da crença dos indivíduos em sua legitimidade. Essa condição afirma-se em dois fundamentos principais: apenas o Estado é autorizado pela sociedade para usá-la com legitimidade e essa autorização social do uso da força ocorre porque os dominados aceitam obedecer a seus dominantes. • No caso do Estado burocrático, sustentado pela dominação legal, estabeleceu-se uma série de normas e limites para a legitimidade do uso estatal da violência. Dessa forma, a força física só poderá ser usada dentro de determinados preceitos, sob o risco de que o Estado perca sua legitimidade se desafiálos.

Exercícios 1. (ENEM 2010/2)

(http://www.brasilescola.com/filosofia/a-definicao-acao-social-maxweber.htm)

FIQUE LIGADO NO ENEM! • O ponto de partida da Sociologia de Weber não estava nas entidades coletivas, grupos ou instituições. Seu objeto de investigação é a ação social, a conduta humana dotada de sentido. Assim o homem ganhou, na teoria weberiana, significado e especificidade. O homem dá sentido à sua ação social: estabelece a conexão entre o motivo da ação, a ação propriamente dita e seus efeitos. Para a Sociologia weberiana, os acontecimentos que integram o social têm origem nos indivíduos. • O que garante a cientificidade de uma explicação é o método de reflexão, não a objetividade pura dos fatos. Weber relembra sempre que, embora os acontecimentos sociais possam ser quantificáveis, a análise do social envolve sempre uma questão de qualidade, interpretação, subjetividade e compreensão. • Para atingir a explicação dos fatos sociais, Weber construiu um instrumento de análise que chamou de tipo ideal. Trata-se de uma criação abstrata a partir de casos particulares observados. O tipo ideal não é um modelo a ser alcançado nem um acontecimento observável. É uma construção do pensamento, uma “lupa” que auxilia o cientista. • Weber descobre que valores do protestantismo – como a disciplina ascética, a poupança, a austeridade, a vocação, o dever e a propensão ao trabalho – atuavam de maneira decisiva sobre os indivíduos e sobre o desenvolvimento capitalista. A

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Nova Escola, nº 226, out. 2009.

A tirinha mostra que o ser humano, na busca de atender suas necessidades e de se apropriar dos espaços:


Sociologia a)

adotou a acomodação evolucionária como forma de sobrevivência ao se dar conta de suas deficiências impostas pelo meio ambiente. b) utilizou o conhecimento e a técnica para criar equipamentos que lhe permitam compensar as suas limitações físicas. c) levou vantagens em relação aos seres de menor estatura, por possuir um físico bastante desenvolvido, que lhe permitia muita agilidade. d) dispensou o uso da tecnologia por ter um organismo adaptável aos diferentes tipos de meio ambiente. e) sofreu desvantagens em relação a outras espécies, por utilizar os recursos naturais como forma de se apropriar dos diferentes espaços. 2. (ENEM 2010/2) Se, por um lado, o ser humano, como animal, é parte integrante da natureza e necessita dela para continuar sobrevivendo, por outro, como ser social, cada dia mais sofistica os mecanismos de extrair da natureza recursos que, ao serem aproveitados, podem alterar de modo profundo a funcionalidade harmônica dos ambientes naturais. ROSS, J. L. S. (Org.). Geografia do Brasil. São Paulo: EDUSP, 2005 (adaptado)

A relação entre a sociedade e a natureza vem sofrendo profundas mudanças em razão do conhecimento técnico. A partir da leitura do texto, identifique a possível consequência do avanço da técnica sobre o meio natural. A sociedade aumentou o uso de insumos químicos – agrotóxicos e fertilizantes – e, assim, os riscos de contaminação. b) O homem, a partir da evolução técnica, conseguiu explorar a natureza e difundir harmonia na vida social. c) As degradações produzidas pela exploração dos recursos naturais são reversíveis, o que, de certa forma, possibilita a recriação da natureza. d) O desenvolvimento técnico, dirigido para a recomposição de áreas degradadas, superou os efeitos negativos da degradação. e) As mudanças provocadas pelas ações humanas sobre a natureza foram mínimas, uma vez que os recursos utilizados são de caráter renovável. a)

3. (ENEM 2015) Diante de ameaças surgidas com a engenharia genética de alimentos, vários grupos da sociedade civil conceberam o chamado “princípio da precaução”. O fundamento desse princípio é: quando uma tecnologia ou produto comporta alguma ameaça à saúde ou ao ambiente, ainda que não se possa avaliar a natureza precisa ou a magnitude do dano que venha a ser causado por eles, deve-se evitá-los ou deixá-los de quarentena para maiores estudos e avaliações antes de sua liberação. SEVCENKO, N. A corrida para o século XXI: no loop da montanha-russa. São Paulo: Cia. das Letras, 2001 (adaptado).

O texto expõe uma tendência representativa do pensamento social contemporâneo, na qual o

ENEM

desenvolvimento de mecanismos de acautelamento ou administração de riscos tem como objetivo a) priorizar os interesses econômicos em relação aos seres humanos e à natureza. b) negar a perspectiva científica e suas conquistas por causa de riscos ecológicos. c) instituir o diálogo público sobre mudanças tecnológicas e suas consequências. d) combater a introdução de tecnologias para travar o curso das mudanças sociais. e) romper o equilíbrio entre benefícios e riscos do avanço tecnológico e científico. 4. (ENEM 2015) A questão ambiental, uma das principais pautas contemporâneas, possibilitou o surgimento de concepções políticas diversas, dentre as quais se destaca a preservação ambiental, que sugere uma ideia de intocabilidade da natureza e impede o seu aproveitamento econômico sob qualquer justificativa. PORTO-GONÇALVES, C. W. A globalização da natureza e a natureza da globalização. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006 (adaptado).

Considerando as atuais concepções políticas sobre a questão ambiental, a dinâmica caracterizada no texto quanto à proteção do meio ambiente está baseada na a) prática econômica sustentável. b) contenção de impactos ambientais. c) utilização progressiva dos recursos naturais. d) proibição permanente da exploração da natureza. e) definição de áreas prioritárias para a exploração econômica. 5. (ENEM 2010/1) A evolução do processo de transformação de matérias-primas em produtos acabados ocorreu em três estágios: artesanato, manufatura e maquinofatura. Um desses estágios foi o artesanato, em que se: a) trabalhava conforme o ritmo das máquinas e de maneira padronizada. b) trabalhava geralmente sem o uso de máquinas e de modo diferente do modelo de produção em série. c) empregavam fontes de energia abundantes para o funcionamento das máquinas. d) realizava parte da produção por cada operário, com uso de máquinas e trabalho assalariado. e) faziam interferências do processo produtivo por técnicos e gerentes com vistas a determinar o ritmo de produção. 6. (ENEM 2010/1) A Inglaterra pedia lucros e recebia lucros. Tudo se transformava em lucro. As cidades tinham sua sujeira lucrativa, suas favelas lucrativas, sua fumaça lucrativa, seu desespero lucrativo. As novas fábricas e os novos altos-fornos eram como as Pirâmides, mostrando mais a escravização do homem que seu poder. DEANE, P. A revolução Industrial. Rio de Janeiro: Zahar, 1979 (adaptado)

Qual relação é estabelecida no texto entre os avanços tecnológicos ocorridos no contexto da Revolução

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Ciências Humanas e suas Tecnologias Industrial Inglesa e as características das cidades industriais no início do século XIX? a) A facilidade em se estabelecer relações lucrativas transformava as cidades em espaços privilegiados para a livre iniciativa, característica da nova sociedade capitalista. b) O desenvolvimento de métodos de planejamento urbano aumentava a eficiência do trabalho industrial. c) A construção de núcleos urbanos integrados por meios de transporte facilitava o deslocamento dos trabalhadores das periferias até as fábricas. d) A grandiosidade dos prédios onde se localizavam as fábricas revelava os avanços da engenharia e da arquitetura do período, transformando as cidades em locais de experimentação estética e artística. e) O alto nível de exploração dos trabalhadores industriais ocasionava o surgimento de aglomerados urbanos marcados por péssimas condições de moradia, saúde e higiene. 7. (ENEM 2013) Na produção social que os homens realizam, eles entram em determinadas relações indispensáveis e independentes da sua vontade; tais relações de produção correspondem a um estágio definido de desenvolvimento das suas forças materiais de produção. A totalidade dessas relações constitui a estrutura econômica da sociedade – fundamento real, sobre o qual se erguem as superestruturas política e jurídica, e ao qual correspondem determinadas formas de consciência social. MARX, K. Prefácio à Crítica da economia política. In. MARX, K. ENGELS F. Textos 3. São Paulo. Edições Sociais, 1977 (adaptado).

Para o autor, a relação entre economia e política estabelecida no sistema capitalista faz com que: a) o proletariado seja contemplado pelo processo de mais-valia. b) o trabalho se constitua como o fundamento real da produção material. c) a consolidação das forças produtivas seja compatível com o progresso humano. d) a autonomia da sociedade civil seja proporcional ao desenvolvimento econômico. e) a burguesia revolucione o processo social de formação da consciência de classe 8. (ENEM 2015) No início foram as cidades. O intelectual da Idade Média — no Ocidente — nasceu com elas. Foi com o desenvolvimento urbano ligado às funções comercial e industrial — digamos modestamente artesanal — que ele apareceu, como um desses homens de ofício que se instalavam nas cidades nas quais se impôs a divisão do trabalho. Um homem cujo ofício é escrever ou ensinar, e de preferência as duas coisas a um só tempo, um homem que, profissionalmente, tem uma atividade de professor e erudito, em resumo, um intelectual — esse homem só aparecerá com as cidades. LE GOFF, J. Os intelectuais na Idade Média. Rio de Janeiro: José Olympio, 2010.

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O surgimento da categoria mencionada no período em destaque no texto evidencia o(a) a) apoio dado pela Igreja ao trabalho abstrato. b) relação entre desenvolvimento urbano e divisão do trabalho. c) importância organizacional das corporações de ofício. d) progressiva expansão da educação escolar. e) acúmulo de trabalho dos professores e eruditos. 9. (ENEM 2012)

Disponível em http://primeira-serie.blogspot.com.br. Acesso em: 07 de dez. 2011 (adaptado)

Na imagem do início do século XX, identifica-se um modelo produtivo cuja forma de organização fabril baseava-se na a) autonomia do produtor direto. b) adoção da divisão sexual do trabalho. c) exploração do trabalho repetitivo. d) utilização de empregados qualificados. e) incentivo à criatividade dos funcionários. 10. (ENEM 2015) Dominar a luz implica tanto um avanço tecnológico quanto uma certa liberação dos ritmos cíclicos da natureza, com a passagem das estações e as alternâncias de dia e noite. Com a iluminação noturna, a escuridão vai cedendo lugar à claridade, e a percepção temporal começa a se pautar pela marcação do relógio. Se a luz invade a noite, perde sentido a separação tradicional entre trabalho e descanso — todas as partes do dia podem ser aproveitadas produtivamente. SILVA FILHO, A. L. M. Fortaleza: imagens da cidade. Fortaleza: Museu do Ceará; Secult-CE, 2001 (adaptado).

Em relação ao mundo do trabalho, a transformação apontada no texto teve como consequência a a) melhoria da qualidade da produção industrial. b) redução da oferta de emprego nas zonas rurais. c) permissão ao trabalhador para controlar seus próprios horários. d) diminuição das exigências de esforço no trabalho com máquinas. e) ampliação do período disponível para a jornada de trabalho.


Sociologia 11. (ENEM 2013) Um trabalhador em tempo flexível controla o local do trabalho, mas não adquire maior controle sobre o processo em si. A essa altura, vários estudos sugerem que a supervisão do trabalho é muitas vezes maior para os ausentes do escritório do que para os presentes. O trabalho é fisicamente descentralizado e o poder sobre o trabalhador, mais direto. SENETT, R. A corrosão do caráter. Consequências pessoais do novo capitalismo. Rio de Janeiro: Record, 1999 (adaptado)

Comparada à organização do trabalho característica do taylorismo e do fordismo, a concepção de tempo analisada no texto pressupõe que: a) As tecnologias de informação sejam usadas para democratizar as relações laborais. b) As estruturas burocráticas sejam transferidas da empresa para o espaço doméstico. c) Os procedimentos de terceirização sejam aprimorados pela qualificação profissional. d) As organizações sindicais sejam fortalecidas com a valorização da especialização funcional. e) Os mecanismos de controle sejam deslocados dos processos para os resultados do trabalho. 12. (ENEM 2011) Estamos testemunhando o reverso da tendência histórica da assalariação do trabalho e socialização da produção, que foi característica predominante na era industrial. A nova organização social e econômica baseada nas tecnologias da informação visa à administração descentralizadora, ao trabalho individualizante e aos mercados personalizados. As novas tecnologias da informação possibilitam, ao mesmo tempo, a descentralização das tarefas e sua coordenação em uma rede interativa de comunicação em tempo real, seja entre continentes, seja entre os andares de um mesmo edifício. CASTELLS, M. A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 2006 (adaptado)

No contexto descrito, as sociedades vivenciam mudanças constantes nas ferramentas de comunicação que afetam os processos produtivos nas empresas. Na esfera do trabalho, tais mudanças têm provocado: a) o aprofundamento dos vínculos dos operários com as linhas de montagem sob a influência dos modelos orientais de gestão. b) o aumento das formas de teletrabalho como solução de larga escala para o problema do desemprego crônico. c) o avanço do trabalho flexível e da terceirização respostas às demandas por inovação e com vistas à mobilidade dos investimentos. d) a autonomização crescente das máquinas e computadores em substituição ao trabalho dos especialistas técnicos e gestores. e) o fortalecimento do diálogo entre operários, gerentes, executivos e clientes com a garantia de harmonização das relações de trabalho.

ENEM

13. (ENEM 2011) A introdução de novas tecnologias desencadeou uma série de efeitos sociais que afetaram os trabalhadores e sua organização. O uso de novas tecnologias trouxe a diminuição do trabalho necessário que se traduz na economia líquida do tempo de trabalho, uma vez que, com a presença da automação microeletrônica, começou a ocorrer a diminuição dos coletivos operários e uma mudança na organização dos processos de trabalho. Revista Eletrônica de Geografia y Ciências Sociales Universidad de Barcelona. No 170(9), 1 ago. 2004.

A utilização de novas tecnologias tem causado inúmeras alterações no mundo do trabalho. Essas mudanças são observadas em um modelo de produção caracterizado: a) pelo uso intensivo do trabalho manual para desenvolver produtos autênticos e personalizados. b) pelo ingresso tardio das mulheres no mercado de trabalho no setor industrial. c) pela participação ativa das empresas e dos próprios trabalhadores no processo de qualificação laboral. d) pelo aumento na oferta de vagas para trabalhadores especializados em funções repetitivas. e) pela manutenção de estoques de larga escala em função da alta produtividade. 14. (ENEM 2014)

NEVES, E. Engraxate. Disponível em: www.grafar.blogspot.com. Acesso em: 15 fev. 2013.

Considerando-se a dinâmica entre tecnologia e organização de trabalho, a representação contida no cartum é caracterizada pelo pessimismo em relação à a) ideia de progresso. b) concentração do capital. c) noção de sustentabilidade. d) organização dos sindicatos. e) obsolescência dos equipamentos. 15. (ENEM 2015) No final do século XX e em razão dos avanços da ciência, produziu-se um sistema presidido pelas técnicas da informação, que passaram a exercer um papel de elo entre as demais, unindo-as e assegurando ao novo sistema uma presença planetária. Um mercado que utiliza esse sistema de técnicas avançadas resulta nessa globalização perversa. SANTOS, M. Por uma outra globalização. Rio de Janeiro: Record, 2008 (adaptado).

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Ciências Humanas e suas Tecnologias Uma consequência para o setor produtivo e outra para o mundo do trabalho advindas das transformações citadas no texto estão presentes, respectivamente, em: a) Eliminação das vantagens locacionais e ampliação da legislação laboral. b) Limitação dos fluxos logísticos e fortalecimento de associações sindicais. c) Diminuição dos investimentos industriais e desvalorização dos postos qualificados. d) Concentração das áreas manufatureiras e redução da jornada semanal. e) Automatização dos processos fabris e aumento dos níveis de desemprego. 16. (ENEM 2015) Tanto potencial poderia ter ficado pelo caminho se não fosse o reforço em tecnologia que um gaúcho buscou. Há pouco mais de oito anos, ele usava o bico da botina para cavoucar a terra e descobrir o nível de umidade do solo, na tentativa de saber o momento ideal para acionar os pivôs de irrigação. Até que conheceu uma estação meteorológica que, instalada na propriedade, ajuda a determinar a quantidade de água de que a planta necessita. Assim, quando inicia um plantio, o agricultor já entra no site do sistema e cadastra a área, o pivô, a cultura, o sistema de plantio, o espaçamento entre linhas e o número de plantas, para então receber recomendações diretamente dos técnicos da universidade.

estruturas econômica, política, social e cultural e a indústria ganhou força com as novas tecnologias emergentes. Todos esses acontecimentos influenciaram nas transformações estruturais, mas também, e sobremaneira, nas produções intelectuais. Nesse século, eclodiram várias escolas e vários pensadores. A Sociologia institucionalizou-se e uma pluralidade de discursos ideológicos conquistou espaço. Existem vários outros pensadores da Sociologia contemporânea, mas os que revisaremos a continuação são os que mais se destacaram e inspiraram estudos, pesquisas e discussões no Brasil. NORBERT ELIAS Sociólogo nascido na Alemanha. Obrigado a exilar-se pelo regime nazista em 1933, refugiou-se na França antes de se estabelecer definitivamente na Grã-Bretanha. Depois de uma sólida formação em filosofia e medicina na Universidade de Breslau (Wroclaw), sua cidade natal, em 1925 foi morar em Heidelberg, onde abandona a filosofia para dedicar-se à sociologia. Em 1954 torna-se lecturer em sociologia da Universidade de Leicester. Suas principais obras são: A Sociedade da Corte (1933), O Processo Civilizador (1939) dois volumes; O que é Sociologia (1970), Sobre o Tempo (1984), A Sociedade dos Indivíduos (1970), Os Alemães (1989) e Os Estabelecidos e os Outsiders (escrito em 1950 e publicado em 1994).

CAETANO, M. O valor de cada gota. Globo Rural, n. 312, out. 2011.

A implementação das tecnologias mencionadas no texto garante o avanço do processo de a) monitoramento da produção. b) valorização do preço da terra. c) correção dos fatores climáticos. d) divisão de tarefas na propriedade. e) estabilização da fertilidade do solo.

GABARITO 1 B

2 A

Norbert Elias (1897-1990)

3 C

4 D

5 B

6 E

7 B

8 B

11 E

12 C

13 C

14 A

15 E

16 A

9 C

10 E

UNIDADE 7 A SOCIOLOGIA CONTEMPORÂNEA O Século XX foi marcado por vários acontecimentos e intensas transformações: duas guerras mundiais, a Revolução Russa, a quebra da bolsa de Nova York, a explosão da bomba atômica no Japão, a Guerra do Vietnã, a Revolução Cubana, o assassinato do presidente Kennedy nos EUA, a Revolução Cultural na China, o primeiro homem na Lua, a criação da Internet, a queda do muro de Berlim e o fim da União Soviética. Enfim, ocorreram várias modificações nas

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A sociologia figuracional ou configuracional, mas chamada por Elias de Sociologia processual, ganhou reconhecimento por meio da teoria dos “processos civilizadores”. Conforme a sociologia figuracional “[...] os seres humanos nascem em redes de relações de interdependência entre indivíduos, e as estruturas sociais que eles formam entre si possuem uma dinâmica emergente que não pode ser reduzida a ações ou motivações individuais. Tal dinâmica emergente molda o crescimento, o desenvolvimento e a trajetória da vida dos indivíduos. As figurações estão em constante estado de fluxo e transformação e, ainda, as transformações de longo prazo nas figurações sociais humanas não são passíveis de planejamento prévio e previsão. Assim, Elias entende que, no âmbito de tais figurações, ocorre o desenvolvimento do conhecimento” (Cesarino, 2012, p.357-358). Elias procurava entender as relações entre indivíduo e sociedade e, para isso, mobilizou três campos de conhecimento: sociologia, psicologia e história. (KLEINSCHMITT, Sandra Cristiana. Almanaque de sociologia para vestibular e Enem. Introdução e Conceitos Básicos. São Paulo: OnLine Editora, 2014. pp. 91-92)


Sociologia A obra O Processo Civilizador divide-se em dois volumes. Primeiramente, Elias apresenta a história dos costumes e analisa o desenvolvimento dos diferentes conceitos de cultura e civilização na Alemanha, na Inglaterra e na França. Em um segundo momento, o pensador explora a civilidade como transformação dos costumes, das “boas maneiras”. Ou seja, Elias demonstra como os padrões de violência, de comportamento sexual, de funções corporais, de boas maneiras à mesa transformaram-se em função da vergonha e do nojo, atuando para fora de um núcleo da corte aristocrática européia pós-medieval. Essa transformação na educação juvenil era condizente com os desejos da classe burguesa que tomou o poder no final da Idade Média e precisava ser civilizada. O segundo volume aborda as causas desses processos e reconhece-os nas cada vez mais centralizadas e diferenciadas interconexões na sociedade. Existe uma tendência de naturalização dos hábitos e costumes, e o que Elias pretende mostrar é que determinados costumes não podem ser naturalizados, porque as relações sociais para e pelos homens atendem a seus desejos em uma determinada época (Oliveira; Oliveira, 2012). “O principal critério para definir a direção do processo civilizador é a mudança na balança entre coerção externa (penalidades, punições, prisões, etc.) e autocoerção (educação, civilidade, cortesia), na qual a balança pende para a autocoerção, para a educação e a civilidade. Quando a sociedade é civilizada e educada (autocoerção), as punições são menos necessárias. Quando as pessoas são disciplinadas e educadas sistematicamente, quando se conscientizam de que determinados hábitos são indesejáveis, sujeitam-se às regras difundidas pela sociedade. Desenvolve-se um padrão social de comportamento/sentimento que produz um autocontrole mais estável e diferenciado, além de um aumento na identificação mútua entre as pessoas, ou seja, ou seja, um aumento da sensibilidade dos homens gerando uma sensação de pertencimento a um grupo, á uma raça” (Oliveira; Oliveira, 2012, p.6). A obra de Norbert Elias só tardiamente teve reconhecimento público. Sua reflexão mostra-se centrada numa crítica cada vez mais aprofundada da noção de indivíduo tal como tematizado pela filosofia clássica dos séculos XVII e XVIII e herdado pela sociologia, seja em forma de adesão ou de recusa peremptória. Elias dirige a atenção para o processo de individualização: esse processo mostra o indivíduo como um campo de forças determinado pelas relações sociais existentes. Portanto, ele nega a oposição conceitual clássica entre indivíduo e sociedade, e fala da “sociedade dos indivíduos”. A autoconsciência não deve constituir o princípio da análise; ao contrário é a interdependência dos indivíduos (como a que se pode descobrir, por exemplo, num jogo de xadrez ou na dança de Corte do século XVII) que deve predominar. A configuração social modela o próprio indivíduo captando-o através do jogo de afetos. Como sociólogo, Elias recorre com abundância e força à história para fundamentar sua tese filosófica. Critica o anistoricismo da sociologia contemporânea. Sua obra maior (1939) apresenta-se assim como uma reflexão sobre o “processo da civilização no Ocidente”. Entre a Idade Média e o século XIX, dois processos afetam as sociedades

ENEM

ocidentais: monopolização cada vez maior da violência pelo Estado, diferenciação cada vez maior dos papéis sociais. Correlativamente, o controle das pulsões individuais se modifica, passando da coerção exterior a um mecanismo estável de autocontrole ou “disciplina”. A noção filosófica de indivíduo, tal como Kant (objeto da sua tese em 1924) admite, parece-lhe fundada no esquecimento desse processo que fez coincidir o aparecimento da “vida privada” como correlato da constituição do Estado monárquico. A ideia de “autoconsciência” alimenta um engodo baseado nesse esquecimento. Esse processo mostra-se passível de regressão, como demonstra a experiência da Alemanha nazista, sobre a qual Elias não cessa de refletir. O Holocausto parece-lhe provar o terrível elo que associa a mais radical das violências estatais ao estrito autocontrole SOS afetos dos executantes da chamada solução final. (HUISMAN, Denis. Dicionário dos Filósofos. São Paulo: Martins Fontes, 2001. p. 322)

FIQUE LIGADO NO ENEM! • Os seres humanos nascem em redes de relações de interdependência entre indivíduos, e as estruturas sociais que eles formam entre si possuem uma dinâmica emergente que não pode ser reduzida a ações ou motivações individuais. Tal dinâmica emergente molda o crescimento, o desenvolvimento e a trajetória da vida dos indivíduos. • O principal critério para definir a direção do processo civilizador é a mudança na balança entre coerção externa e autocoerção, na qual a balança pende para a autocoerção, para a educação e a civilidade. Quando a sociedade é civilizada e educada (autocoerção), as punições são menos necessárias. Quando as pessoas são disciplinadas e educadas sistematicamente, quando se conscientizam de que determinados hábitos são indesejáveis, sujeitam-se às regras difundidas pela sociedade. • Elias dirige a atenção para o processo de individualização: esse processo mostra o indivíduo como um campo de forças determinado pelas relações sociais existentes. Portanto, ele nega a oposição conceitual clássica entre indivíduo e sociedade, e fala da “sociedade dos indivíduos”. A autoconsciência não deve constituir o princípio da análise; ao contrário é a interdependência dos indivíduos que deve predominar. JÜRGEN HABERMAS Jurgen Habermas nasceu no dia 18 de junho de 1929, em Gummersbach, na Alemanha. Esse filósofo e sociólogo formou-se na Universidade Georg August de Göttingen. Em 1954, doutorou-se em filosofia na Universidade de Bonn. O pensador é associado à segunda geração da escola de Frankfurt e está inserido na tradição da teoria crítica e do pragmatismo, sendo mais conhecido pela teoria da racionalidade comunicativa. Suas principais obras são: Entre a Filosofia e a Ciência – O Marxismo como crítica (1960); Reflexões Sobre o Conceito de Participação Pública (1961); Evolução Estrutural da Vida Pública (1962); Teoria e Práxis (1963); Lógica das

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Ciências Humanas e suas Tecnologias Ciências Sociais (1967); Conhecimento e Interesse (1968); Técnica e Ciência como Ideologia (1968); Consciência Moral e Agir Comunicativo (1983) e Entre Faticidade e Validade (1994).

Jurgen Habermas (1929)

A obra de Habermas desenvolve-se na perspectiva da teoria crítica da sociedade iniciada pela escola de Frankfurt, pretendendo ser uma revisão e uma atualização do marxismo capaz de dar conta das características do capitalismo avançado da sociedade industrial contemporânea. Inspirando-se em Weber, Habermas toma como ponto central de sua análise a racionalidade dessa sociedade, caracterizando-a em termos e uma razão instrumental, que visa estabelecer os meios para se alcançar um fim determinado. Segundo essa análise, o desenvolvimento técnico, e a ciência voltada para a aplicação técnica, que resultam dessa razão instrumental, acarretam a perda da autonomia do próprio bem, submetido igualmente às regras de dominação técnica do mundo natural. Para Habermas, numa perspectiva crítica, é necessário, portanto recuperar a dimensão da interação humana, de uma racionalidade não instrumental, baseada no agir comunicativo entre sujeitos livres, de caráter emancipador em relação à dominação técnica. A ideologia corresponde, para Habermas, à distorção dessa possibilidade de ação comunicativa, produzindo relações assimétricas e impedindo que a interação se realize plenamente. A crítica, ao explicitar as condições da ação comunicativa, implícitas em todo uso significativo do discurso, permite o desmascaramento da ideologia e a retomada da razão emancipadora. Nesse sentido, a proposta de Habermas formula-se em termos de uma teoria da ação comunicativa, recorrendo inclusive à filosofia analítica da linguagem para tematizar essas condições do uso da linguagem livre de distorção como fundamento de uma nova racionalidade. Contra os críticos da modernidade, que se caracterizam pela racionalidade técnica, como Lyotard, Habermas, no entanto, defende o racionalismo do projeto iniciado pelo Iluminismo, considerando-o como projeto ainda a ser desenvolvido e ainda significativo para nossa época, desde que a razão seja entendida criticamente, no sentido de agir comunicativo. (JAPIASSÚ, Hilton e MARCONDES, Danilo. Dicionário Básico de Filosofia. Rio de Janeiro: Zahar, 2006. p. 126)

A teoria da ação comunicativa de Habermas pressupõe que os homens agem como sujeitos dotados de capacidade de ação e de racionalidade, como na concepção weberiana.

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“[...] Para Habermas, a ação comunicativa surge como uma intenção de, no mínimo dois sujeitos, capazes de falar e agir, que estabelecem relações interpessoais com o objetivo de alcançar uma compreensão sobre a situação em que ocorre a interação e sobre os respectivos planos de ação com vistas a coordenar suas ações pela via do entendimento. Neste processo, eles se remetem a pretensões de validade criticáveis quanto à sua veracidade, correção normativa e autenticidade, cada uma destas pretensões referindo-se respectivamente a um mundo objetivo dos fatos, a um mundo social das normas e a um mundo de experiências subjetivas (Pinto, 1995, p.80, grifos do autor). A teoria de Habermas procura entender a modernidade ocidental por meio da perspectiva da racionalidade cultural e dos efeitos do processo de racionalização sobre os atores sociais. Isso ocorre por meio da lógica estratégica (sistema que organiza mercado e Estado) e da lógica da racionalidade comunicativa (organização da solidariedade e da identidade). (KLEINSCHMITT, Sandra Cristiana. Almanaque de sociologia para vestibular e Enem. Introdução e Conceitos Básicos. São Paulo: OnLine Editora, 2014. pp. 90-91)

FIQUE LIGADO NO ENEM! • Para Habermas, o desenvolvimento técnico, e a ciência voltada para a aplicação técnica, que resultam dessa razão instrumental, acarretam a perda da autonomia do próprio bem, submetido igualmente às regras de dominação técnica do mundo natural. • É necessário recuperar a dimensão da interação humana, de uma racionalidade não instrumental, baseada no agir comunicativo entre sujeitos livres, de caráter emancipador em relação à dominação técnica. A ideologia corresponde, para Habermas, à distorção dessa possibilidade de ação comunicativa, produzindo relações assimétricas e impedindo que a interação se realize plenamente. • A ação comunicativa surge como uma intenção de, no mínimo dois sujeitos, capazes de falar e agir, que estabelecem relações interpessoais com o objetivo de alcançar uma compreensão sobre a situação em que ocorre a interação e sobre os respectivos planos de ação com vistas a coordenar suas ações pela via do entendimento. MICHEL FOUCAULT Michel Foucault nasceu no dia 15 de outubro de 1926, na cidade de Poitiers, na França. O pensador nasceu em uma família tradicional de médicos, mas rompeu com a tradição, graduando-se em história, filosofia e psicologia. Como Foucault tentou por várias vezes o suicídio, aproximou-se da psicologia e psiquiatria, produzindo diversas obras sobre esse tema. Foucault morreu no dia 26 de junho de 1984, aos 57 anos, de Aids. Suas principais obras são: O Nascimento da Clínica (1963), As Palavras e as Coisas (1966), Arqueologia do Saber (1968), História da Loucura (1972), Vigiar e Punir (1975), História da Sexualidade (1976) e Microfísica do Poder (1979).


Sociologia Foucault também abordou a figura do panóptico “ver sem ser visto”, projeto arquitetônico inventado por Jeremy Bentham que garantia que todos os prisioneiros fossem vigiados por uma torre central em uma construção circular periférica. Os indivíduos a serem vigiados eram presidiários e loucos. No lugar em que estavam, não conseguiam saber se estavam sendo vigiados. A possibilidade da vigilância constante incita o sentimento de autorregulamentação, assegurando o funcionamento automático do poder. Michel Foucault (1926-1984)

Em um primeiro momento, Foucault seguiu uma linha estruturalista, mas em obras como Vigiar e Punir e A História da Sexualidade, ele é concebido como pós-estruturalista. Para muitos autores, entre eles, Veiga-Neto (2003), a obra de Foucault pode ser dividida em três momentos: arqueológica (ser-saber); genealógica (ser-poder-ação de uns com os outros); ética (ser-consigo-ação de cada um consigo próprio). Nos estudos sobre o saber do referido pensador, o poder e o sujeito inovaram o campo reflexivo sobre essas questões. O conceito principal do autor é o poder, que não se encontra única e exclusivamente nas mãos do Estado, inserido na esfera estatal ou institucional, como defendia Karl Marx. Para Foucault, esse conceito está presente em todos os momentos da vida das pessoas e ninguém está a salvo dele. Além da repressão, o poder também produz efeitos de saber e verdade, para um determinado tempo e espaço (Ferreirinha; Raitz, 2010). Foucault discorre que as relações de poder postas, “[...] seja pelas instituições, escolas, prisões, quartéis, foram marcadas pela disciplina: ‘mas a disciplina traz consigo uma maneira específica de punir, que é apenas um modelo reduzido do tribunal’ (Foucault, 2008: 149). É pela disciplina que as relações de poder se tornam mais facilmente observáveis, pois é por meio da disciplina que se estabelecem as relações: opressor-oprimido, mandante-mandatário, persuasivopersuadido, e tantas quantas forem as relações que exprimam comando e comandados [...]” (Ferreirinha; Raitz, 2010, p.371). Nas palavras de Foucault (2201, p.302): “O poder, isto não existe. Eu quero dizer isto: a ideia que há, um lugar qualquer, ou emanando de um ponto qualquer, algo que é um poder, parece-me descansar sobre uma análise falsificada, e que, em todo caso, não se dar conta de um número considerável de fenômenos”. E continua: “Quando fala-se de poder, as pessoas pensam imediatamente em uma estrutura política, um governo, uma classe social dominante, o mestre frente ao escravo etc. Isto não é de nenhum modo aquilo que eu penso quando falo de relações de poder. Eu quero dizer que, nas relações humanas, quaisquer que sejam – que trate de comunicar verbalmente, como fazemo-lo agora, ou que trate-se de relações amorosas, institucionais ou econômicas –, o poder continua presente: que quero dizer a relação na qual um quer tentar dirigir a conduta do outro. Estas são, por conseguinte, relações que pode-se encontrar em diverso níveis, sob diferentes formas; estas relações de poder são relações móveis, ou seja elas podem alterar-se, elas não são dadas de uma vez para sempre” (Foucault, 2001, p.1538).

FIQUE LIGADO NO ENEM! • O conceito principal de Foucault é o poder, que não se encontra única e exclusivamente nas mãos do Estado, inserido na esfera estatal ou institucional. Para Foucault, esse conceito está presente em todos os momentos da vida das pessoas e ninguém está a salvo dele. • Além da repressão, o poder também produz efeitos de saber e verdade, para um determinado tempo e espaço. • É pela disciplina que as relações de poder se tornam mais facilmente observáveis, pois é por meio da disciplina que se estabelecem todo tipo de relações que exprimam comando e comandados. • A possibilidade da vigilância constante incita o sentimento de autorregulamentação, assegurando o funcionamento automático do poder. PIERRE BOURDIEU O sociólogo francês é um dos mais importantes pensadores da contemporaneidade, em razão de ter exercido e continuar exercendo significativa influência no ramo da Sociologia: “[...] neto e filho de agricultores de uma província periférica, ele chegou ao ápice da pirâmide cultural francesa e tornou-se o mais citado cientista social do mundo [...]” (Wacquant, 2002, p.96). Em seus estudos, destacou as relações sociais e as diversas formas de dominações existentes. Dentre suas principais obras traduzidas papa o português, destacam-se O Poder Simbólico (1992), Razões Práticas: sobre a teoria da ação (1996), A Dominação Masculina (1999), Meditações Pascalianas (2001), As Estruturas Sociais da Economia (2001), Esboço de Uma Teoria da Prática, Precedido de Três Estudos de Etnologia Cabila (2002). A Miséria do Mundo (2003), Ofício de Sociólogo: metodologia da pesquisa na sociologia (2004) e O senso Prático (2009).

Pierre Bourdieu (1930-2002)

ENEM

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Ciências Humanas e suas Tecnologias Dentre os conceitos elaborados pelo autor, merece destaque a noção de habitus, que, conforme, Bourdieu (1996, p. 21-22), “[...] é esse princípio gerador e unificador que retraduz as características intrínsecas e relacionais de uma posição em um estilo de vida unívoco, isto é, em um conjunto de escolhas de pessoas, de bens, de práticas”. Ainda conforme o autor: “Os habitus são princípios geradores de práticas distintas e distintivas – o que o operário come, e sobretudo sua maneira de comer, o esporte que pratica e sua maneira de praticá-lo, suas opiniões políticas e sua maneira de expressá-las diferem sistematicamente do consumo ou das atividades correspondentes do empresário industrial; mas são também esquemas classificatórios, princípios de classificação, princípios de visão e de divisão e gostos diferentes. Eles estabelecem as diferenças entre o que é bom e mau, entre o bem e o mal, entre o que é distinto e o que é vulgar etc., mas elas não são as mesmas. Assim, por exemplo, o mesmo comportamento ou o mesmo bem pode parecer distinto para um, pretensioso ou ostentatório para outro e vulgar para um terceiro” (Bourdieu, 1996, p.22). O habitus traduz-se no pensamento do indivíduo, nas estruturas cognitivas enraizadas no sujeito que orientam sua ação, pensamento este que é uma estrutura estruturada (objetiva, exterior ao sujeito) e uma estrutura estruturante (subjetiva, cognitiva). O pensamento do indivíduo é construído por meio da trajetória social capaz de condicionar as suas práticas. Existe um meio-termo entre estruturas objetivas e a própria capacidade do indivíduo em orientar suas ações. Assim “com a noção de habitus, Bourdieu quis evidenciar o lado ativo do ‘sujeito’, a sua ‘capacidade criadora, ativa e inventiva’, sem perder de vista os condicionamentos sociais de sua ação [...] (Silva, 2006, p.234). Nesse sentido, as ações e o pensamento do indivíduo dependem da posição do sujeito no espaço social e nos campos sociais. A forma como o habitus se constrói forma a coesão dos grupos e dos campos. Assim, a noção de campo torna-se extremamente relevante na análise de Bourdieu. Para o pensador, o conceito e campo “se particulariza, pois, como um espaço onde se manifestam relações de poder, o que implica afirmar que ele se estrutura a partir da distribuição desigual de um quantum social que determina a posição que um agente específico ocupa em seu seio” (Bourdieu, 1983, p.21). Bourdieu denomina esse quantum de capital social. Os campos são universos sociais como os campos político, jurídico, burocrático, artístico, escolástico, e assim por diante. Eles emergem na distinção da sociedade e possuem regras e funcionamento próprios. O campo é eminentemente um campo de poder, cujos valores e cujas formas de capital o sustentam. Por isso, sua dinâmica interna é regida por lutas nas quais os agentes mantêm ou alteram as relações de força e a distribuição de capital específico. Conforme Silva (2006, p.235), para Bourdieu, campo é: “Um espaço social construído de relações objetivas que envolvem agentes sociais específicos em cada um desses espaços, e que são essas relações que condicionam a transformação ou a conservação dos fenômenos culturais, artísticos ou literários. Quer dizer,

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entendendo que a transformação de um determinado fenômeno não ocorre autonomamente e tampouco como um reflexo de mudança que ocorrem em determinada estrutura social, mais uma vez Bourdieu pôde mostrar que o homem é um partícipe dessas transformações, mas que tal participação é limitada pelo grau das relações objetivas que se estabelecem entre os diversos agentes de um determinado campo do espaço social multidimensional – campo da cultura, campo artístico, campo religioso, campo científico, campo político, campo de alta costura, campo da habitação, campo da educação etc.”. O habitus e o campo são os conceitos mais conhecidos de Pierre Bourdieu. O habitus é o elemento que gera comportamentos, visões de mundo e sistemas de classificação de uma determinada realidade que se incorpora nos indivíduos, ou seja, é gerado na sociedade e incorporado nos indivíduos. O conceito de habitus é complementado pelo conceito de campo, que se caracteriza por ser um espaço em que as relações entre indivíduos, grupos e estruturas sociais ocorrem. Esse espaço é essencialmente dinâmico e obedece a leis próprias, acendidas pelas disputas por poder dentro do campo (Thiry-Cherques, 2006).

FIQUE LIGADO NO ENEM! • Bourdieu concebe o habitus princípio gerador e unificador que retraduz as características intrínsecas e relacionais de uma posição em um estilo de vida unívoco, isto é, em um conjunto de escolhas de pessoas, de bens, de práticas. • O habitus traduz-se no pensamento do indivíduo, nas estruturas cognitivas enraizadas no sujeito que orientam sua ação, pensamento este que é uma estrutura estruturada (objetiva, exterior ao sujeito) e uma estrutura estruturante (subjetiva, cognitiva). O pensamento do indivíduo é construído por meio da trajetória social capaz de condicionar as suas práticas. • As ações e o pensamento do indivíduo dependem da posição do sujeito no espaço social e nos campos sociais. A forma como o habitus se constrói forma a coesão dos grupos e dos campos. • Campo é um espaço social construído de relações objetivas que envolvem agentes sociais específicos em cada um desses espaços, e que são essas relações que condicionam a transformação ou a conservação dos fenômenos culturais, artísticos ou literários. • O habitus é o elemento que gera comportamentos, visões de mundo e sistemas de classificação de uma determinada realidade que se incorpora nos indivíduos, ou seja, é gerado na sociedade e incorporado nos indivíduos. O conceito de habitus é complementado pelo conceito de campo, que se caracteriza por ser um espaço em que as relações entre indivíduos, grupos e estruturas sociais ocorrem. Esse espaço é essencialmente dinâmico e obedece a leis próprias, acendidas pelas disputas por poder dentro do campo.


Sociologia ANTHONY GIDDENS Anthony Giddens nasceu no dia 18 de janeiro de 1938, na cidade de Londres, na Inglaterra. É reconhecido pela teoria da estruturação e é considerado um dos pensadores ingleses mais importantes da contemporaneidade. Suas obras abarcam diversas temáticas como: história do pensamento social, a estrutura de classes, elites e poder, nações e nacionalismos, identidade pessoal e social, a família, sexualidade e globalização. Possui mais de vinte livros publicados ao longo de duas décadas e traduzidos em mais de vinte línguas. Suas principais obras são: Sociologia (1982); A Constituição da Sociedade (1984); As Consequências da Modernidade (1990) e Terceira Via (1998). ULTRAPASSAR O OBJETIVISMO E O INDIVIDUALISMO Em A Constituição da Sociedade (1984), A. Giddens apresenta uma “teoria da estruturação” cujo objeto é superar a oposição entre uma sociologia determinista, em que as imposições e as estruturas são predominantes, e uma sociologia individualista, que leva em conta as margens de liberdade e a competências do ator. Para o autor, existe uma “dualidade estrutural” do social. A sociedade é uma criação permanente ligada ao trabalho dos atores sociais, mas a ação criadora do social está condicionada por estruturas já estabelecidas e tende também a se estabilizar numa ação rotineira. Podemos considerar o caso de uma empresa ou de uma família. Nascidas de um projeto, de um ato fundador, conhecem permanente evolução. Tendem, ao mesmo tempo, a estruturar-se em rotinas, em ações cotidianas regradas e ordenadas. A ação e a estruturação são as duas faces de uma mesma realidade social. Por outro lado, os atores são considerados reflexivos, isto é, “capazes de compreender o que fazem quando estão fazendo”. Além disso, a modernidade se caracteriza por uma produção jamais vista de informações e de conhecimentos que reforçam esta reflexividade. O conhecimento da sociedade cresce (principalmente por meio da sociologia) e se difunde, e esse conhecimento é usado pelos atores em suas decisões. Assim, a evolução da bolsa depende de fatores objetivos relativos ao valor dos bens, e também do conhecimento que os agentes da bolsa têm do mercado e do julgamento que fazem a respeito deste. UMA SOCIOLOGIA DA MODERNIDADE A modernidade é outro tema importante da sociologia clássica para o qual se voltou A. Giddens. Ele critica as análises unidimensionais dos pais fundadores da sociologia, para os quais a modernidade se deve a um fator único (o capitalismo em Karl Marx, a racionalização em Max Weber ou o industrialismo em Émile Durkheim).

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Anthony Giddens (1938)

Para A. Giddens, a modernidade é multidimensional. Em As consequências da Modernidade (1990), ele distingue quatro lógicas características desse período que interferem entre si: o capitalismo, o industrialismo, a vigilância (tema emprestado de Michel Foucault) e o militarismo (monopolização da potência pelos Estados Unidos num contexto de industrialização de guerra). Para A. Giddens, a sociologia deve tentar compreender esses processos e as contradições que nascem de seu confronto. Ela é “...uma espécie de ‘autoconhecimento’ da modernidade (...) que deve perceber-lhe as potencialidades e os limites”. O CONSELHEIRO DO PRÍNCIPE Enfim. A. Giddens ficou célebre por ter passado da teoria à ação tornando-se conselheiro de Tony Blair, primeiro-ministro britânico. Em 1998, ambos escreveram, em parceria o livro A Terceira Via, no qual expõem sua filosofia política. Com o relativo declínio do trabalho assalariado, o crescimento da precariedade, as mutações da família, o aumento dos custos e riscos sociais, o Estado-Providência já não pode funcionar na mesma base. Então, é preciso reformá-lo. E esse o horizonte da “terceira via” entre liberalismo e dirigismo. É necessário introduzir uma parcela de risco e de responsabilidade na gestão do Estado-Providência para evitar os efeitos perversos do assistencialismo e da total “desresponsabilização”. A proteção do meio ambiente – um dos papéis do Estado-Providência – supõe certa gestão do risco e deve envolver a responsabilidade tanto dos poluidores como a dos cidadãos. A pluralidade das lógicas em ação no seio da sociedade moderna faz que ela se torne uma máquina sem piloto e sem direção única: pode-se tentar regulá-la, pilotá-la, quando não se pode dirigir realmente o seu curso. (DORTIER, Jean-François. Dicionário de Ciências Humanas. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2010. p. 65)

FIQUE LIGADO NO ENEM! • Para o autor, existe uma “dualidade estrutural” do social. A sociedade é uma criação permanente ligada ao trabalho dos atores sociais, mas a ação criadora do social está condicionada por estruturas já estabelecidas e tende também a se estabilizar numa ação rotineira. • A ação e a estruturação são as duas faces de uma mesma realidade social. Por outro lado, os atores são considerados

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Ciências Humanas e suas Tecnologias reflexivos, isto é, “capazes de compreender o que fazem quando estão fazendo”. Além disso, a modernidade se caracteriza por uma produção jamais vista de informações e de conhecimentos que reforçam esta reflexividade. O conhecimento da sociedade cresce (principalmente por meio da sociologia) e se difunde, e esse conhecimento é usado pelos atores em suas decisões. • Com o relativo declínio do trabalho assalariado, o crescimento da precariedade, as mutações da família, o aumento dos custos e riscos sociais, o Estado-Providência já não pode funcionar na mesma base. Então, é preciso reformá-lo. E esse o horizonte da “terceira via” entre liberalismo e dirigismo. MANUEL CASTELLS Manuel Castells nasceu no dia 9 de fevereiro de 1942, na cidade de Hellín, na Espanha. O pensador começou sua carreira em 1967, na Universidade de Paris, e é considerado um dos fundadores da nova sociologia urbana. Por desenvolver a teoria marxista para essa área da Sociologia, ficou conhecido internacionalmente. Há duas décadas, investiga os efeitos da informação sobre a economia, a cultura e a sociedade em geral, desenvolvendo a “Teoria da Sociedade em Rede”. Suas principais obras são: A Questão Urbana (1972), A Galáxia Internet (2001) e A Era da Informação (1996-1998).

e sociais provocam mudanças inevitáveis na cultura, vive-se a cultura de compressão tempo/espaço. Assim, Castells previu o avanço da ciência genética, a interação por meio das mídias e as mídias móveis, as redes sociais (Twitter, Facebook...) A nova sociedade resulta de processos independentes: a revolução informática (economia da informação, comunicação em rede), a reorganização do capitalismo (flexibilidade e inovação técnica), a crise do estatismo (declínio do Estado diante da globalização) e as transformações e mutações culturais (reivindicação libertária, feminismo, declínio do patriarcado). Esses processos se combinam para dar origem a uma nova forma social marcada por novos modos de produção, de comunicação e de relação social. Uma sociedade piramidal dá lugar a uma sociedade em rede, mais fluida, mais maleável, e também mais instável. Tal transformação foi acompanhada por mudanças nas identidades dos grupos humanos. Surgem duas formas de identidade coletiva: as “identidades de resistências” (resistência à globalização, fechamento cultural) e as “identidades de projetos” (voltadas para o futuro, para a criação, para a mestiçagem de culturas, para a inovação econômica). Enquanto as primeiras se apoiam em particularismos culturais, as segundas são portadoras de valores novos, suscetíveis de transformar profundamente a sociedade. (DORTIER, Jean-François. Dicionário de Ciências Humanas. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2010. p. 65)

FIQUE LIGADO NO ENEM!

Manuel Castells (1942)

Castells publicou a trilogia A Era da Informação: Economia, Sociedade e Cultura com os seguintes volumes: Volume I – Sociedade em Rede, Volume II – O Poder da Identidade e Volume III – Fim do Milênio, Tempo de Mudança. Nessa trilogia, Castells parte do pressuposto de que, em um primeiro momento, as redes de informação foram responsáveis pelo desenvolvimento econômico mundial e, em um segundo momento, ao se popularizarem no mundo, criaram uma sociedade em rede. As mudanças que ocorrem com o advento das tecnologias da informação foram analisadas pelo pensador sobre os aspectos econômico, social e cultural. Econômico, porque o capitalismo penetrou em diversos países e em suas culturas. Por ser informacional, é formado por grande produtividade e competitividade, e voltado para a globalização. Castells também identificou a mudança na organização do trabalho, com produtores informacionais e mão de obra substituível. Social, porque a globalização e as novas tecnologias influenciaram mudanças na sociedade, como o surgimento da cybercultura. Cultural, porque as mudanças econômicas

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• Castells parte do pressuposto de que, em um primeiro momento, as redes de informação foram responsáveis pelo desenvolvimento econômico mundial e, em um segundo momento, ao se popularizarem no mundo, criaram uma sociedade em rede. • A nova sociedade resulta de processos independentes: a revolução informática, a reorganização do capitalismo, a crise do estatismo e as transformações e mutações culturais. Esses processos se combinam para dar origem a uma nova forma social marcada por novos modos de produção, de comunicação e de relação social. • Uma sociedade piramidal dá lugar a uma sociedade em rede, mais fluida, mais maleável, e também mais instável. Tal transformação foi acompanhada por mudanças nas identidades dos grupos humanos. • Surgem duas formas de identidade coletiva: as “identidades de resistências” e as “identidades de projetos”.

UNIDADE 8


Sociologia GLOBALIZAÇÃO E SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA GLOBALIZAÇÃO O conceito de globalização passou a ser amplamente utilizado em debates em política, negócios e nos meios de comunicação nos últimos anos. Há 30 anos, o termo globalização era relativamente desconhecido, mas, hoje em dia, ele parece estar na ponta da língua de todos. A globalização refere-se ao fato de que estamos cada vez mais vivendo em um mesmo mundo, de modo que os indivíduos, grupos e nações se tornaram cada vez mais interdependentes. O processo de globalização costuma ser retratado unicamente como um fenômeno econômico. Considera-se muito o papel de corporações transnacionais cujas operações massivas hoje se espalham através de fronteiras nacionais, influenciando os processos de produção global e a distribuição internacional do trabalho. Outros apontam para a integração eletrônica dos mercados financeiros globais e o enorme volume dos fluxos de capital. Outros, ainda, concentram-se no alcance sem precedentes do comércio mundial, envolvendo uma variedade muito mais ampla de bens e serviços do que jamais ocorreu. Embora as forças econômicas sejam uma parte integral da globalização, seria errado sugerir que elas a produzem sozinhas. A união de fatores políticos, sociais, culturais e econômicos cria a globalização contemporânea. A ASCENSÃO DA TECNOLOGIA DAS COMUNICAÇÕES E DA INFORMAÇÃO A globalização intensificada tem sido motivada, acima de tudo, pelo desenvolvimento das tecnologias das comunicações e da informação, que aumentaram a velocidade e o alcance das interações entre as pessoas por todo o mundo. O impacto desses sistemas de comunicação tem sido estarrecedor. Em países com infraestruturas de comunicações mais desenvolvidas, os lares e escritórios hoje têm várias conexões com o mundo externo, incluindo telefones (tanto linhas fixas quanto celulares), televisão digital, por satélite e a cabo, correio eletrônico e internet. A internet emergiu como o instrumento de comunicação de crescimento mais rápido já desenvolvido – por volta de 140 milhões de pessoas ao redor do mundo usavam a internet em 1998, e estima-se que mais de um bilhão de pessoas a usava em 2007. Estas formas de tecnologia facilitam a compressão do tempo e do espaço (Harvey, 1989): dois indivíduos localizados em lados opostos do planeta – em Tóquio e Londres, por exemplo, não apenas podem conversar em tempo real, como também enviar documentos e imagens um ao outro com a ajuda da tecnologia do satélite. O uso disseminado da internet e dos telefones celulares está aprofundando e acelerando processos de globalização; cada vez mais pessoas estão se interconectando por meio dessas tecnologias, e o estão fazendo em locais que antes eram isolados ou pouco servidos pelas comunicações tradicionais. Embora a infraestrutura de telecomunicações

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não esteja desenvolvida de forma regular ao redor do mundo, um número cada vez maior de países hoje pode acessar as redes de comunicações internacionais de um modo que antes era impossível; há mais ou menos uma década, o uso da internet tem crescido mais rapidamente nas regiões que antes ficavam para trás – África e Oriente Médio, por exemplo. FLUXOS INTERNACIONAIS Se como já vimos, a disseminação da tecnologia da informação expandiu as possibilidades de contato entre pessoas a redor do planeta, ela também facilitou o fluxo de informações sobre as pessoas e acontecimentos ocorridos em locais distantes. Todos os dias, a mídia global traz notícias, imagens e informações para os lares das pessoas, conectando-as direta e continuamente com o mundo externo. Alguns dos acontecimentos mais interessantes das últimas décadas se desdobraram perante uma audiência verdadeiramente global por meio da mídia e resultaram em uma reorientação no pensamento das pessoas, do nível de Estado-Nação para o estágio global. Os indivíduos hoje estão mais cientes de sua interconexão com outras pessoas e são mais prováveis de se identificar com questões e processos globais do que no passado. Essa mudança para uma perspectiva global tem duas dimensões significativas. Primeiramente, como membros de uma comunidade global, as pessoas cada vez mais percebem que a responsabilidade social não termina nas fronteiras nacionais, mas se estende além delas. Os desastres e injustiças que as pessoas enfrentam no outro lado do planeta não são apenas infortúnios que devemos suportar, mas representam motivos legítimos para ação e intervenção. Existe uma visão crescente de que a comunidade internacional tem a obrigação de agir em situações de crise para proteger o bem-estar físico ou os direitos humanos de pessoas cujas vidas estejam ameaçadas. No caso de desastres naturais, essas intervenções tomam a forma de ajuda humanitária e assistência técnica. Nos últimos anos, também houve fortes apelos por intervenções em casos de guerras, conflitos étnicos e violações dos direitos humanos, embora essas mobilizações sejam mais problemáticas do que em desastres naturais. Em segundo lugar, uma perspectiva global significa que as pessoas estão cada vez mais buscando fontes além do Estado-Nação para formular seu próprio sentido de identidade. Esse fenômeno e produzido pelos processos de globalização e acelera ainda mais esses processos. As identidades culturais locais em várias partes do mundo estão passando por grandes renovações, em uma época em que o poder tradicional do Estado-Nação está atravessando uma transformação profunda. O EstadoNação, como fonte de identidade, está minguando em muitas áreas, na medida em que as mudanças políticas, nos níveis regional e global, diminuem as orientações das pessoas para os estados onde vivem. FATORES ECONÔMICOS

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Ciências Humanas e suas Tecnologias A globalização também está sendo promovida pela atual integração da economia mundial. Ao contrário de eras anteriores, a economia global não tem mais uma base agrícola ou industrial. Em vez disso, ela é dominada cada vez mais por atividades que não têm peso e são intangíveis (Quah, 1999). Essa economia sem peso é aquela cujos produtos têm sua base na informação, como no caso do software de computador, da mídia e dos produtos do entretenimento e serviços baseados na internet. A emergência da sociedade do conhecimento foi relacionada ao desenvolvimento de uma ampla base de consumidores que são tecnologicamente alfabetizados e integram avidamente os novos avanços em computação, entretenimento e telecomunicações às suas vidas cotidianas. A própria operação da economia global reflete as mudanças que ocorreram na era da informação. Muitos aspectos da economia se dão hoje por meio de redes que cruzam as fronteiras nacionais, ao invés de parar nesse ponto (Castells, 1966). Para ser competitivo em condições globalizantes, as empresas e corporações se reestruturaram para serem mais flexíveis e menos hierárquicas em sua natureza. As práticas de produção e os padrões organizacionais se tornaram mais flexíveis, as parcerias com outras firmas se tornaram lugar comum, e a participação em redes de distribuição mundial se tornou essencial para fazer negócios em um mercado global em rápida mudança. (GIDDENS, Anthony. Introdução à Sociologia. Porto Alegre: Penso, 2012. pp. 102-106)

A GLOBALIZAÇÃO E SEUS DILEMAS A internacionalização do capitalismo atinge hoje quase todo o planeta: seja pela expansão das empresas multinacionais; seja pelo processo de informatização, que coloca milhões de pessoas em contato por meio de redes de computadores; seja pela abertura das economias nacionais ao mercado internacional; seja pela ação do capital financeiro, que realiza investimentos no mercado de capitais de todos os países. Esse novo processo é chamado de globalização. A globalização é marcada pela universalização da produção, da circulação e da distribuição e consumo de bens e serviços. Para que o capital possa circular livremente, há necessidade de se eliminarem as barreiras comerciais entre os países. Assim, bens e serviços podem ser mundialmente distribuídos a um custo relativamente baixo. O processo de globalização, contudo, não ocorre apenas na economia, mas se verifica também nas áreas da informação, da cultura e da ciência. A produção industrial, antes restrita a uns poucos países, alcança hoje uma escala sem precedentes na História. Atualmente, empresas transnacionais com sede nos países mais ricos organizam a produção de tal forma a aproveitar as condições mais favoráveis para maximizar seus lucros. Assim, os tênis de uma marca de grife norte-americana são fabricados na

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China, onde os salários são muito baixos, com peças produzidas em outros países. Os avanços tecnológicos, principalmente em relação aos transportes e às comunicações, são resultado da ação de grandes empresas que financiam pesquisas. A informatização barateia o custo de produção nas fábricas. Isso é necessário porque o processo de globalização exige altos níveis de competitividade: é preciso produzir a preços cada vez mais baixos para competir no mercado globalizado. Entretanto, o objetivo das empresas de baixar seus custos de produção acaba gerando desequilíbrio nas sociedades. Entre os mais graves deles estão: 1) o aumento da distância entre os países ricos e os países pobres; 2) o crescimento do número de pobres nos países menos desenvolvidos; 3) o aumento das desigualdades sociais nos países ricos; 4) o crescente número de desempregados, que provoca, entre outros problemas, o aumento da exclusão social, da miséria e da violência nas grandes cidades. GLOBALIZAÇÃO E DIFUSÃO CULTURAL A difusão cultural se dá atualmente de modo muito mais rápido do que até algumas décadas atrás. Isso porque a rapidez das mensagens transmitidas pelos meios de comunicação eletrônicos tende a se tornar cada vez maior. Por outro lado, os meios de comunicação não se limitam a transmitir anúncios publicitários ou a difundir modismos. Na verdade, eles atuam num plano mais profundo, moldando as próprias expectativas culturais das novas gerações a partir da difusão de um determinado modelo cultural. Outro fator que influencia a aceitação de valores provenientes de culturas externas é a novidade. Em geral, todo bem novo tem facilidade de ser aceito, desde que responda às expectativas do mercado consumidor. Para que isto ocorra, os meios de comunicação atuam no sentido de preparar essas expectativas, difundindo a ideia de que determinados bens, valores e costumes são “modernos” e, portanto, superiores aos que até então vigoravam no interior da sociedade receptora. Tais novidades se referem quase sempre a aspectos não essenciais da cultura – um produto novo, um novo corte de cabelo, a maneira de se vestir, certos gêneros musicais, etc. Como, muitas vezes, a mudança social é consequência das invenções, quanto maior for o número de inventos novos, tanto mais rápida será a mudança. Característica marcante das sociedades contemporâneas, as rápidas mudanças ocorrem em parte devido ao grande número de invenções. A utilização de computadores em quase todos os ramos da atividade econômica tem provocado transformações não só na organização do trabalho, mas também nas relações sociais. Assim também, o telefone celular vem produzindo mudanças nas relações humanas e profissionais, já que quem tem um desses aparelhos pode se comunicar a qualquer momento com outras pessoas, independentemente do lugar em que


Sociologia esteja, o que facilita enormemente o contato social entre os indivíduos. (OLIVEIRA, Pérsio Santos de. Introdução à Sociologia. São Paulo: Editora Ática, 2011. pp. 162-163; 246-247)

FIQUE LIGADO NO ENEM! • A globalização intensificada tem sido motivada, acima de tudo, pelo desenvolvimento das tecnologias das comunicações e da informação, que aumentaram a velocidade e o alcance das interações entre as pessoas por todo o mundo, de modo que os indivíduos, grupos e nações se tornaram cada vez mais interdependentes. • Essa mudança para uma perspectiva global tem duas dimensões significativas. Primeiramente, como membros de uma comunidade global, as pessoas cada vez mais percebem que a responsabilidade social não termina nas fronteiras nacionais, mas se estende além delas. Em segundo lugar, uma perspectiva global significa que as pessoas estão cada vez mais buscando fontes além do Estado-Nação para formular seu próprio sentido de identidade. • A própria operação da economia global reflete as mudanças que ocorreram na era da informação. Muitos aspectos da economia se dão hoje por meio de redes que cruzam as fronteiras nacionais, ao invés de parar nesse ponto. Para ser competitivo em condições globalizantes, as empresas e corporações se reestruturaram para serem mais flexíveis e menos hierárquicas em sua natureza. • A globalização é marcada pela universalização da produção, da circulação e da distribuição e consumo de bens e serviços. O processo de globalização, contudo, não ocorre apenas na economia, mas se verifica também nas áreas da informação, da cultura e da ciência. • Os avanços tecnológicos, principalmente em relação aos transportes e às comunicações, são resultado da ação de grandes empresas que financiam pesquisas. Entretanto, o objetivo das empresas de baixar seus custos de produção acaba gerando desequilíbrio e várias conseqüências negativas nas sociedades tais como: 1) o aumento da distância entre os países ricos e os países pobres; 2) o crescimento do número de pobres nos países menos desenvolvidos; 3) o aumento das desigualdades sociais nos países ricos; 4) o crescente número de desempregados, que provoca, entre outros problemas, o aumento da exclusão social, da miséria e da violência nas grandes cidades. • Os meios de comunicação não se limitam a transmitir anúncios publicitários ou a difundir modismos. Na verdade, eles atuam num plano mais profundo, moldando as próprias expectativas culturais das novas gerações a partir da difusão de um determinado modelo cultural.

1. (ENEM 2009) A partir da metade do século XX, ocorreu um conjunto de transformações econômicas e sociais cuja dimensão é difícil de ser mensurada: a chamada explosão da informação. Embora essa expressão tenha surgido no contexto da informação científica e tecnológica, seu significado, hoje, em um contexto mais geral, atinge proporções gigantescas. Por estabelecerem novas formas de pensamento e mesmo de lógica, a informática e a Internet vêm gerando impactos sociais e culturais importantes. A disseminação do microcomputador e a expansão da Internet vêm acelerando o processo de globalização tanto no sentido do mercado quanto no sentido das trocas simbólicas possíveis entre sociedades e culturas diferentes, o que tem provocado e acelerado o fenômeno de hibridização amplamente caracterizado como próprio da pósmodernidade. FERNANDES, M. F.; PARÁ, T. A. A contribuição das novas tecnologias da informação na geração de conhecimento. Disponível em HTTP://www.coep.ufrj.br. Acesso em 11 ago 2009 (adaptado)

Considerando-se o novo contexto social e econômico aludido no texto apresentado, as novas tecnologias de informação e comunicação a) desempenham importante papel, porque sem elas não seria possível registrar os acontecimentos históricos. b) facilitam os processos educacionais para ensino de tecnologia, mas não exercem influência nas ciências humanas. c) limitam-se a dar suporte aos meios de comunicação, facilitando sobretudo os trabalhos jornalísticos. d) contribuem para o desenvolvimento social, pois permitem o registro e a disseminação do conhecimento de forma mais democrática e interativa. e) estão em estágio experimental, particularmente na educação, área em que ainda não demonstraram potencial produtivo. 2. (ENEM 2009) Populações inteiras, nas cidades e na zona rural, dispõem da parafernália digital global como fonte de educação e de formação cultural. Essa simultaneidade de cultura e informação eletrônica com as formas tradicionais e orais é um desafio que necessita ser discutido. A exposição, via mídia eletrônica, com estilos e valores culturais de outras sociedades, pode inspirar apreço, mas também distorções e ressentimentos. Tanto quanto há necessidade de uma cultura tradicional de posse da educação letrada, também é necessário criar estratégias de alfabetização eletrônica, que passam a ser o grande canal de informação das culturas segmentadas no interior dos grandes centros urbanos e das zonas rurais. Um novo modelo de educação. BRIGAG O, C. E.; RODRIGUES, G. A globalização a olho nu: o mundo conectado. São Paulo: Moderna, 1998 (adaptado).

Exercícios ENEM

Com base no texto e considerando os impactos culturais da difusão das tecnologias de informação no marco da globalização, depreende-se que a) a ampla difusão das tecnologias de informação nos centros urbanos e no meio rural suscita o contato entre diferentes culturas e, ao mesmo tempo, traz a

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Ciências Humanas e suas Tecnologias necessidade de reformular as concepções tradicionais de educação b) a apropriação, por parte de um grupo social, de valores e ideias de outras culturas para benefício próprio é fonte de conflitos e ressentimentos. c) as mudanças sociais e culturais que acompanham o processo de globalização, ao mesmo tempo em que refletem a preponderância da cultura urbana, tornam obsoletas as formas de educação tradicionais próprias do meio rural. d) as populações nos grandes centros urbanos e no meio rural recorrem aos instrumentos e tecnologias de informação basicamente como meio de comunicação mútua, e não os veem como fontes de educação e cultura. e) a intensificação do fluxo de comunicação por meios eletrônicos, característica do processo de globalização, está dissociada do desenvolvimento social e cultural que ocorre no meio rural.

crime e da violência e a natureza das notícias exibidas na televisão. GIDDENS, A. Sociologia. Porto Alegre: Artmed, 2005.

O texto indica que existe uma significava produção científica sobre os impactos socioculturais da televisão na vida do ser humano. E as crianças, em particular, são as mais vulneráveis a essas influências, porque: a) codificam informações transmitidas nos programas infantis por meio da observação. b) adquirem conhecimentos variados que incentivam o processo de interação social. c) interiorizam padrões de comportamento e papéis sociais com menor visão crítica. d) observam formas de convivência social baseadas na tolerância e no respeito. e) apreendem modelos de sociedade pautados na observância das leis. 5. (ENEM 2013)

3. (ENEM 2009) O "Portal Domínio Público", lançado em novembro de 2004, propõe o compartilhamento de conhecimentos de forma equânime e gratuita, colocando à disposição de todos os usuários da Internet, uma biblioteca virtual que deverá constituir referência para professores, alunos, pesquisadores e para a população em geral. Esse portal constitui um ambiente virtual que permite a coleta, a integração, a preservação e o compartilhamento de conhecimentos, sendo seu principal objetivo o de promover o amplo acesso às obras literárias, artísticas e científicas (na forma de textos, sons, imagens e vídeos), já em domínio público ou que tenham a sua divulgação devidamente autorizada. BRASIL. Ministério da Educação. Disponível em: HTTP://www.dominiopublico.gov.br Acesso em: 29 jul. 2009 (adaptado)

Considerando a função social das informações geradas nos sistemas de comunicação e informação, o ambiente virtual descrito no texto exemplifica: a) a dependência das escolas públicas quanto ao uso de sistemas de informação. b) a ampliação do grau de interação entre as pessoas, a partir de tecnologia convencional. c) a comercialização do acesso a diversas produções culturais nacionais e estrangeiras via tecnologia da informação e da comunicação. d) a produção de repertório cultural direcionado a acadêmicos e educadores. e) a democratização da informação, por meio da disponibilização de conteúdo cultural e científico à sociedade. 4. (ENEM 2011) Um volume imenso de pesquisas tem sido produzido para tentar avaliar os efeitos dos programas de televisão. A maioria desses estudos diz respeito a crianças - o que é bastante compreensível pela quantidade de tempo que elas passam em frente ao aparelho e pelas possíveis implicações desse comportamento para a socialização. Dois dos tópicos mais pesquisados são o impacto da televisão no âmbito do

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Disponível em: http://tv-video-edc.blogspot.com. Acesso em: 30 maio 2010.

A charge revela uma crítica aos meios de comunicação, em especial à internet, porque: a) questiona a integração das pessoas nas redes virtuais de relacionamento. b) considera as relações sociais como menos importantes que as virtuais. c) enaltece a pretensão do homem de estar em todos os lugares ao mesmo tempo. d) descreve com precisão as sociedades humanas no mundo globalizado. e) concebe a rede de computadores como o espaço mais eficaz para a construção e relações sociais. 6. (ENEM 2015) Na sociedade contemporânea, onde as relações sociais tendem a reger-se por imagens midiáticas, a imagem de um indivíduo, principalmente na indústria do espetáculo, pode agregar valor econômico na medida de seu incremento técnico: amplitude do espelhamento e da atenção pública. Aparecer é então mais do que ser; o sujeito é famoso porque é falado. Nesse âmbito, a lógica


Sociologia circulatória do mercado, ao mesmo tempo que acena democraticamente para as massas com supostos “ganhos distributivos” (a informação ilimitada, a quebra das supostas hierarquias culturais), afeta a velha cultura disseminada na esfera pública. A participação nas redes sociais, a obsessão dos selfies, tanto falar e ser falado quanto ser visto são índices do desejo de “espelhamento”. SODRÉ, M. Disponível em: http://alias.estadao.com.br. Acesso em: 9 fev. 2015 (adaptado).

A crítica contida no texto sobre a sociedade contemporânea enfatiza a) a dinâmica política democratizante. b) a produção instantânea de notícias. c) a prática identitária autorreferente. d) os processos difusores de informações. e) os mecanismos de convergência tecnológica. 7. (ENEM 2015) Quanto ao “choque de civilizações” é bom lembrar a carta de uma menina americana de sete anos cujo pai era piloto na Guerra do Afeganistão: ela escreveu que — embora amasse muito seu pai — estava pronta a deixá-lo morrer, a sacrificá-lo por seu país. Quando o presidente Bush citou suas palavras, elas foram entendidas como manifestação “normal” de patriotismo americano; vamos conduzir uma experiência mental simples e imaginar uma menina árabe maometana pateticamente lendo para as câmeras as mesmas palavras a respeito do pai que lutava pelo Talibã — não é necessário pensar muito sobre qual teria sido a nossa reação. ZIZEK, S. Bem-vindo ao deserto do real. São Paulo: Bom Tempo, 2003.

A situação imaginária proposta pelo autor explicita o desafio cultural do(a) a) prática da diplomacia. b) exercício da alteridade. c) expansão da democracia. d) universalização do progresso. e) conquista da autodeterminação. 8. (ENEM 2013) O edifício é circular. Os apartamentos dos prisioneiros ocupam a circunferência. Você pode chamá-los, se quiser, de celas. O apartamento do inspetor ocupa o centro; você pode chamá-lo, se quiser de alojamento do inspetor. A moral reformada; a saúde preservada; a indústria revigorada; a instrução difundida; os encargos públicos aliviados; a economia assentada, como deve ser, sobre uma rocha; o nó górdio da Lei sobre os Pobres não cortado, mas desfeito – tudo por uma simples idéia de arquitetura! BENTHAM, J. O panóptico. Belo Horizonte: Autêntica, 2008.

Essa é a proposta de um sistema conhecido como panóptico, um modelo que mostra o poder da disciplina nas sociedades contemporâneas, exercido preferencialmente por mecanismos: a)

religiosos, que se constituem como um olho divino controlador que tudo vê. b) ideológicos, que estabelecem limites pela alienação, impedindo a visão da dominação sofrida.

ENEM

c)

repressivos, que perpetuam as relações de dominação entre os homens por meio da tortura física. d) sutis, que adestram os corpos no espaço-tempo por meio do olhar como instrumento de controle. e) consensuais, que pactuam acordos com base na compreensão dos benefícios gerais de se ter as próprias ações controladas. 9. (ENEM 2012) Nossa cultura lipofóbica muito contribui para a distorção da imagem corporal, gerando gordos que se veem magros e magros que se veem gordos, numa quase unanimidade de que todos se sentem ou se veem “distorcidos”. Engordamos quando somos gulosos. É pecado da gula que controla a relação do homem com a balança. Todo obeso declarou, um dia, guerra à balança. Para emagrecer é preciso fazer as pazes com a dita cuja, visando adequar-se às necessidades para as quais ela aponta. FREIRE. D. S. Obesidade não pode ser pré-requisito. Disponível em: httpllgnt.globo.com. Acesso em: 3 abr. 2012 (adaptado)

O texto apresenta um discurso de disciplinarização dos corpos, que tem como consequência a) a culpabilização individual, associando obesidade à fraqueza de caráter. b) a ampliação dos tratamentos médicos alternativos, reduzindo os gastos com remédios. c) a democratização do padrão de beleza, tornando-o acessível pelo esforço individual. d) o controle do consumo, impulsionando uma crise econômica na indústria de alimentos. e) o aumento da longevidade, resultando no crescimento populacional. 10. (ENEM 2015) A crescente intelectualização e racionalização não indicam um conhecimento maior e geral das condições sob as quais vivemos. Significa a crença em que, se quiséssemos, poderíamos ter esse conhecimento a qualquer momento. Não há forças misteriosas incalculáveis; podemos dominar todas as coisas pelo cálculo. WEBER, M. A ciência como vocação. In: GERTH, H.; MILLS, W. (Org.). Max Weber: ensaios de sociologia. Rio de Janeiro: Zahar, 1979 (adaptado).

Tal como apresentada no texto, a proposição de Max Weber a respeito do processo de desencantamento do mundo evidencia o(a) a) progresso civilizatório como decorrência da expansão do industrialismo. b) extinção do pensamento mítico como um desdobramento do capitalismo. c) afastamento de crenças tradicionais como uma característica da modernidade. d) emancipação como consequência do processo de racionalização da vida. e) Fim do monoteísmo como condição para a consolidação da ciência. 11. (ENEM 2015) Só num sentido muito restrito, o indivíduo cria com seus próprios recursos o modo de falar e de pensar que lhe são atribuídos. Fala o idioma de seu grupo; pensa à maneira de seu grupo. Encontra a sua

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Ciências Humanas e suas Tecnologias disposição apenas determinadas palavras e significados. Estas não só determinam, em grau considerável, as vias de acesso mental ao mundo circundante, mas também mostram, ao mesmo tempo, sob que ângulo e em que contexto de atividade os objetos foram até agora perceptíveis ao grupo ou ao indivíduo. MANNHEIM, K. Ideologia e utopia. Porto Alegre: Globo, 1950 (adaptado).

Ilustrando uma proposição básica da sociologia do conhecimento, o argumento de Karl Mannheim defende que o(a) a) conhecimento sobre a realidade é condicionado socialmente. b) submissão ao grupo manipula o conhecimento do mundo. c) divergência é um privilégio de indivíduos excepcionais. d) educação formal determina o conhecimento do idioma. e) domínio das línguas universaliza o conhecimento. 12. (ENEM 2015) Um carro esportivo é financiado pelo Japão, projetado na Itália e montado em Indiana, México e França, usando os mais avançados componentes eletrônicos, que foram inventados em Nova Jérsei e fabricados na Coreia. A campanha publicitária é desenvolvida na Inglaterra, filmada no Canadá, a edição e as cópias, feitas em Nova York para serem veiculadas no mundo todo. Teias globais disfarçam-se com o uniforme nacional que lhes for mais conveniente. REICH, R. O trabalho das nações: preparando-nos para o capitalismo no século XXI. São Paulo: Educator, 1994 (adaptado).

A viabilidade do processo de produção ilustrado pelo texto pressupõe o uso de a) linhas de montagem e formação de estoques. b) empresas burocráticas e mão de obra barata. c) controle estatal e infraestrutura consolidada. d) organização em rede e tecnologia de informação. e) gestão centralizada e protecionismo econômico. 13. (ENEM 2015) Atualmente, as represálias econômicas contra as empresas de informática norte-americanas continuam. A Alemanha proibiu um aplicativo dos Estados Unidos de compartilhamento de carros; na China, o governo explicou que os equipamentos e serviços de informática norte-americanos representam uma ameaça, pedindo que as empresas estatais não recorram a eles. SCHILLER, D. Disponível em: www.diplomatique.org.br. Acesso em: 11 nov. 2014 (adaptado).

As ações tomadas pelos países contra a espionagem revelam preocupação com o(a) a) subsídio industrial. b) hegemonia cultural. c) protecionismo dos mercados. d) desemprego tecnológico. e) segurança dos dados.

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14. (ENEM 2011) As migrações transnacionais, intensificadas e generalizadas nas últimas décadas do século XX, expressam aspectos particularmente importantes da problemática racial, visto como dilema também mundial. Deslocam-se indivíduos, famílias e coletividades para lugares próximos e distantes, envolvendo mudanças mais ou menos drásticas nas condições de vida e trabalho, em padrões e valores socioculturais. Deslocam-se para sociedades semelhantes ou radicalmente distintas, algumas vezes compreendendo culturas ou mesmo civilizações totalmente diversas. IANNI, O. A era do globalismo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1996.

A mobilidade populacional da segunda metade do século XX teve um papel importante na formação social e econômica de diversos estados nacionais. Uma razão para os movimentos migratórios nas últimas décadas e uma política migratória atual dos países desenvolvidos são: a) a busca de oportunidades de trabalho e o aumento de barreiras contra a migração. b) a necessidade de qualificação profissional e a abertura das fronteiras para os imigrantes. c) o desenvolvimento de projetos de pesquisa e ao acautelamento dos bens dos imigrantes. d) a expansão da fronteira agrícola e a expulsão dos imigrantes qualificados. e) a fuga decorrente de conflitos políticos e o fortalecimento de políticas sociais. 15. (ENEM 2012) Uma mesma empresa pode ter sua sede administrativa onde os impostos são menores, as unidades de produção onde os salários são os mais baixos, os capitais onde os juros são os mais altos e seus executivos vivendo onde a qualidade de vida é mais elevada. SEVCENKO, N. A corrida para o século XXI: no loop da montanha russa. São Paulo: Companhia das Letras, 2001 (adaptado).

No texto estão apresentadas estratégias empresariais no contexto da globalização. Uma consequência social derivada dessas estratégias tem sido a) o crescimento da carga tributária. b) o aumento da mobilidade ocupacional. c) a redução da competitividade entre as empresas. d) o direcionamento das vendas para os mercados regionais. e) a ampliação do poder de planejamento dos Estados nacionais. 16. (ENEM 2013) Disneylandia Multinacionais japonesas instalam empresas em HongKong E produzem com matéria-prima brasileira Para competir no mercado americano [...] Pilhas americanas alimentam eletrodomésticos ingleses na Nova Guiné Gasolina árabe alimenta automóveis americanos na África do Sul.


Sociologia [...] Crianças iraquianas fugidas da guerra Não obtêm visto no consulado americano do Egito Para entrarem na Disneylandia ANTUNES, A. Disponível em: WWW.radio.uol.com.br Acesso em: fev 2013 (fragmento)

Na canção, ressalta-se a coexistência, no contexto internacional atual, das seguintes situações: a) acirramento do controle alfandegário e estímulo ao capital especulativo. b) intensificação do controle informacional e adoção de barreiras fitossanitárias. c) aumento da circulação mercantil e desregulamentação do sistema financeiro. d) expansão do protecionismo comercial e descaracterização de identidades nacionais. e) ampliação das trocas econômicas e seletividade dos fluxos populacionais. 17. (ENEM 2014) O jovem espanhol Daniel se sente perdido. Seu diploma de desenhista industrial e seu alto conhecimento de inglês devem ajudá-lo a tomar um rumo. Mas a taxa de desemprego, que supera 52% entre os que têm menos de 25 anos, o desnorteia. Ele está convencido de que seu futuro profissional não está na Espanha, como o de, pelo menos, 120 mil conterrâneos que emigraram nos últimos dois anos. O irmão dele, que é engenheiroagrônomo, conseguiu emprego no Chile. Atualmente, Daniel participa de uma “oficina de procura de emprego” em países como Brasil, Alemanha e China. A oficina é oferecida por uma universidade espanhola. GUILAYN, P. Na Espanha, universidade ensina a emigrar. O Globo, 17 fev. 2013 (adaptado)

A situação ilustra uma crise econômica que implica a) valorização do trabalho fabril b) expansão dos recursos tecnológicos. c) diversificação dos mercados produtivos. d) exportação de mão de obra qualificada. e) intensificação dos intercâmbios estudantis. 18. (ENEM 2015) O principal articulador do atual modelo econômico chinês argumenta que o mercado é só um instrumento econômico, que se emprega de forma indistinta tanto no capitalismo como no socialismo. Porém os próprios chineses já estão sentindo, na sua sociedade, o seu real significado: o mercado não é algo neutro, ou um instrumental técnico que possibilita à sociedade utilizá-lo para a construção e edificação do socialismo. Ele é, ao contrário do que diz o articulador, um instrumento do capitalismo e é inerente à sua estrutura como modo de produção. A sua utilização está levando a uma polarização da sociedade chinesa. OLIVEIRA, A. A Revolução Chinesa. Caros Amigos, 31 jan. 2011 (adaptado).

No texto, as reformas econômicas ocorridas na China são colocadas como antagônicas à construção de um país socialista. Nesse contexto, a característica fundamental do socialismo, à qual o modelo econômico chinês atual se contrapõe é a

ENEM

a) b) c) d) e)

desestatização da economia. instauração de um partido único. manutenção da livre concorrência. formação de sindicatos trabalhistas. extinção gradual das classes sociais.

19. (ENEM 2015) Até o fim de 2007, quase 2 milhões de pessoas perderam suas casas e outros 4 milhões corriam o risco de ser despejadas. Os valores das casas despencaram em quase todos os EUA e muitas famílias acabaram devendo mais por suas casas do que o próprio valor do imóvel. Isso desencadeou uma espiral de execuções hipotecárias que diminuiu ainda mais os valores das casas. Em Cleveland, foi como se um “Katrina financeiro” atingisse a cidade. Casas abandonadas, com tábuas em janelas e portas, dominaram a paisagem nos bairros pobres, principalmente negros. Na Califórnia, também se enfileiraram casas abandonadas. HARVEY, D. O enigma do capital. São Paulo: Boitempo, 2011.

Inicialmente restrita, a crise descrita no texto atingiu proporções globais, devido ao(à) a) superprodução de bens de consumo. b) colapso industrial de países asiáticos. c) interdependência do sistema econômico. d) isolamento político dos países desenvolvidos. e) austeridade fiscal dos países em desenvolvimento. GABARITO 1 D

2 A 11 A

3 E 12 D

4 C 13 E

5 A 14 A

6 C 15 B

7 B 16 E

8 D 17 D

9 A 18 E

10 C 19 C

UNIDADE 9 AS INSTITUIÇÕES SOCIAIS O PROCESSO DE INSTITUCIONALIZAÇÃO. O processo de institucionalização, de acordo com Berger e Luckmann (autores do livro: “A construção social da realidade”) começa com o estabelecimento de regularidades comportamentais. As pessoas vão, aos poucos, descobrindo a forma mais rápida, simples econômica de desempenhar as tarefas do cotidiano. Vamos imaginar o homem primitivo; no momento em que começou a ter consciência da realidade que o cercava, ele passou a estabelecer essas regularidades. Um grupo social que vivesse, fundamentalmente, da pesca, estabeleceria formas práticas que garantissem a maior eficiência possível na realização da tarefa. Pode-se dizer que um hábito se estabelece quando uma dessas formas repete-se muitas vezes. Um hábito estabelecido por razões concretas, com o passar do tempo e das gerações, transforma-se em tradição. E o que acontece? As bases

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Ciências Humanas e suas Tecnologias concretas, estabelecidas com o decorrer do tempo, não são mais questionadas. A tradição se impõe porque é uma herança dos antepassados. Se eles determinaram que essa é a melhor forma, é porque tinham alguma razão. Quando se passam muitas gerações e a regra estabelecida perde essa referência de origem (o grupo de antepassados), dizemos, então, que essa regra social foi institucionalizada. A monogamia – o casamento somente entre duas pessoas – pode ser considerada uma dessas instituições. É sabido que as sociedades primitivas não a conheciam. Os casamentos eram poligâmicos. A monogamia surge, então, na Grécia antiga e no Oriente Médio com o estabelecimento da propriedade privada e a descoberta da paternidade biológica. Entre os povos primitivos, o papel de pai era atribuído ao irmão materno mais velho; as famílias eram matrilineares (baseadas na linhagem materna) e, provavelmente, imperava o matriarcado. No início do modo de produção escravagista da organização social antiga (como foi o caso da Grécia), o surgimento das cidades, da propriedade privada e a descoberta da paternidade biológica colocavam o homem da época diante de uma questão: a herança. As pessoas (no caso, os homens) que acumulavam riquezas durante sua vida não tinham para quem deixa-las. A família paterlinear e o casamento monogâmico foi a forma de organização encontrada que definia, claramente, uma maneira de perpetuar a propriedade através da herança. O filho passou a ser o herdeiro dos bens paternos. Para isso, estes homens proprietários passaram a estabelecer, como regra, que suas mulheres deveriam manter relações sexuais somente com eles próprios (em função da descoberta do funcionamento da paternidade biológica) e, assim teriam certeza de que o filho lhes pertencia. Hoje, qualquer pessoa de nossa sociedade ocidental, se questionada sobre a monogamia, dirá que o casamento se dá desta forma porque “é natural”. Curiosamente, ainda hoje temos culturas, como a muçulmana, que não adotam a monogamia como regra e, apesar dessa evidência contrária, alguém de nossa cultura continuará considerando a monogamia natural. A este fenômeno chamamos de instituição. INSTITUIÇÕES, ORGANIZAÇÕES E GRUPOS. A instituição é um valor ou regra social reproduzida no cotidiano com estatuto de verdade, que serve como guia básico de comportamento e de padrão ético para as pessoas, em geral. A instituição é o que mais se reproduz e o que menos se percebe nas relações sociais. Atravessa, de forma invisível, todo tipo de organização social e toda a relação de grupos sociais. Só recorremos claramente a estas regras quando, por qualquer motivo, são quebradas ou desobedecidas. Se a instituição é o corpo de regras e valores, a base concreta da sociedade é a organização. As organizações, entendidas aqui de forma substantiva, representam o aparato que reproduz o quadro de instituições no cotidiano da sociedade. A organização pode ser um complexo organizacional – um Ministério, como, por exemplo, o Ministério da Saúde; uma Igreja, como a Católica; uma

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grande empresa, como a Volkswagen do Brasil; ou pode estar reduzida a um pequeno estabelecimento, como uma creche de uma entidade filantrópica. As instituições sociais serão mantidas e reproduzidas nas organizações. Portanto, a organização é o pólo prático das instituições. O elemento que completa a dinâmica de construção social da realidade é o grupo. Se a instituição constitui o campo dos valores e das regras (portanto, um campo abstrato), e se a organização é a forma de materialização destas regras através da produção social, o grupo, por sua vez, realiza as regras e promove os valores. O grupo é o sujeito que reproduz e que, em outras oportunidades, reformula tais regras. É também o sujeito responsável pela produção dentro das organizações e pela singularidade – ora controlado, submetido de forma crítica a essas regras e valores, ora sujeito da transformação, da rebeldia, da produção do novo. (BOCK, Ana Mercês Bahia; FURTADO, Odair e TEIXEIRA Maria de Lourdes Trassi. “Psicologias. Uma introdução ao estudo de psicologia” São Paulo: Editora Saraiva, 1999 (págs. 214 - 226).

CARACTERÍSTICAS DAS INSTITUIÇÕES SOCIAIS Instituição é toda forma ou estrutura social estabelecida, constituída, sedimentada na sociedade e com caráter normativo – ou seja, ela define regras (normas) e exerce formas de controle social. São instituições sociais, por exemplo, o Estado, a escola, a família, a religião, o trabalho remunerado, a propriedade privada, etc. As instituições são formadas para atender a necessidades sociais. Servem também de instrumento de regulação e controle das relações sociais e as atividades dos membros da sociedade em que estão inseridas. Para isso, dispõem de um poder normativo e coercitivo aceito pela maioria da população dessa sociedade. Segundo Brigitte e Peter Berger, as principais características das instituições sociais são:  Exterioridade – as instituições sociais são experimentadas como algo dotado de realidade externa aos indivíduos;  Objetividade – todas (ou quase todas) as pessoas da sociedade admitem que elas existem e reconhecem que elas são instituições legítimas;  Coercitividade – as instituições têm o poder de exercer pressões sobre as pessoas, de modo a levá-las a agir segundo os padrões de comportamento considerados corretos pela sociedade;  Autoridade moral – as instituições não se mantêm na sociedade apenas pelo poder de coerção, mas também porque são reconhecidas prelas pessoas dessa sociedade como tendo o direito legítimo de exercer seu poder e obrigar os integrantes da sociedade (seja pela força, seja pelo convencimento) a agir segundo determinados padrões;  Historicidade – as instituições já existiam antes do nascimento do indivíduo e continuarão a existir depois da sua morte; elas têm sua própria história. AS INSTITUIÇÕES NORMATIZAM OS GRUPOS


Sociologia Apesar de dependerem um do outro, grupo social e instituição social são duas realidades distintas. Os grupos sociais são conjuntos de indivíduos com objetivos comuns, envolvido num processo de interação mais ou menos contínuo. Já as instituições sociais se baseiam em regras e procedimento que se aplicam a diversos grupos. Por exemplo: o pai, a mãe e os filhos formam um grupo primário. Já as regras e procedimento que regulamentam as relações familiares fazem parte da instituição familiar. Isso significa que as mesmas regras e normas de conduta de uma família valem para todas as famílias de uma determinada sociedade, já que elas assumem um caráter institucional. Em outras palavras: a instituição família é uma estrutura que existe há milhares de anos. Diversamente, cada família concreta tem um período relativamente curto de vida. Dura enquanto permanecerem vivos marido e mulher, pois os folhos, uma vez casados, formam suas próprias famílias. Outro exemplo. Os membros de uma empresa constituem um grupo social formado por acionistas, administradores, prestadores de serviço e empregados. As relações entre essas pessoas são reguladas por leis, regras e padrões que objetivam fazer a empresa funcionar e dar lucro aos proprietários. Essas normas caracterizam a instituição econômica, pois seus preceitos são igualmente aplicados em todas as empresas.

cumprem também o de servir de instrumento de regulação e controle das atividades do homem. As principais instituições sociais são: família, religião, economia, política, educação e recreação. •

AS INSTITUIÇÕES SÃO INTERDEPENDENTES • A escravidão foi uma instituição vigente no Brasil entre 1500 e 1888. Com a libertação dos escravos, as instituições econômicas do país sofreram profundas transformações: deixou de haver trabalho escravo e os trabalhadores passaram a receber salário. Como resultado, • as instituições familiar, religiosa e educacional forma igualmente afetadas por essa mudança institucional e tiveram de reorganizar seu sistema de status, seus padrões de comportamento e suas normas jurídicas em relação aos ex-escravos. O exemplo mostra que uma instituição não existe isolada das outras. Há entre elas uma relação de interdependência, de tal forma que qualquer alteração em determinada instituição pode acarretar mudanças maiores ou menores nas outras. (OLIVEIRA, Pérsio Santos de. Introdução à Sociologia. São Paulo: Editora Ática, 2011. pp. 216-217)

INSTITUIÇÕES SOCIAIS É um conjunto de regras e procedimentos padronizados, reconhecidos, aceitos e sancionados pela sociedade e que tem grande valor social. A instituição não existe isolada das outras. Todas elas possuem uma interdependência mútua, de tal forma que uma modificação numa determinada instituição pode acarretar mudanças maiores ou menores nas outras. As instituições sociais servem como um meio para a satisfação das necessidades da sociedade. Nenhuma instituição surge sem que tenha surgido antes uma necessidade. Mas, além desse papel, as instituições sociais

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Família: primeiro grupo social a que pertencemos. É um tipo de agrupamento social cuja estrutura varia no tempo e no espaço. Essa variação pode ser quanto ao número de casamentos, quanto à forma, relações de parentesco, relação sexual e dos componentes básicos da sociedade. Educação: constitui uma instituição universal pelo fato de que em todas as sociedades é necessário garantir a estrutura educacional como processo de transmissão de conhecimentos e valores presentes na sociedade. Recreação: em todas as sociedades, existem modos culturalmente estabelecidos para o alívio das tensões acumuladas nos indivíduos em decorrência das frustrações geradas pelas restrições da vida social. Todas as sociedades possuem instituições recreativas, como no Brasil, o carnaval e futebol. Religião: todas as sociedades conhecem alguma forma de religião. A religião é um fato social universal. Não resta dúvida de que a religião é uma das instituições mais importantes para a organização social, pelo seu conteúdo moral. A religião inclui crença ao sobrenatural, ritos e cerimônias. É inegável a tendência moderna de dar mais ênfase aos valores sociais do que religiosos, prova disso é o surgimento de doutrinas mais modernas como a Teologia da Libertação. Política: são instituições políticas fundamentais a autoridade, o governo, o Estado (com os três poderes), partidos políticos e as constituições. Classificamos também os sistemas políticos como o anarquismo, ditadura, democracia e a pseudodemocracia. Economia: as atividades econômicas são institucionalizadas à medida que são explicadas por crenças, valores e reguladas por normas. Nas sociedades modernas a instituição econômica apresenta um grau de importância bem mais elevado que nas sociedades tribais, resultado do desenvolvimento tecnológico visando uma divisão mais diversificada do trabalho social. (http://estudossociologicos.blogspot.com.br/2009/08/instituicoessociais.html) (ADAPTADO)

FIQUE LIGADO NO ENEM! • A instituição é um valor ou regra social reproduzida no cotidiano com estatuto de verdade, que serve como guia básico de comportamento e de padrão ético para as pessoas, • Se a instituição é o corpo de regras e valores, a base concreta da sociedade é a organização. As organizações, entendidas aqui de forma substantiva, representam o aparato que reproduz o quadro de instituições no cotidiano da sociedade. • Se a instituição constitui o campo abstrato dos valores e das regras, e se a organização é a forma de materialização destas regras através da produção social, o grupo, por sua vez, realiza as regras e promove os valores. O grupo é o sujeito que reproduz e que, em outras oportunidades, reformula tais regras.

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Ciências Humanas e suas Tecnologias • Instituição é toda forma ou estrutura social estabelecida, constituída, sedimentada na sociedade e com caráter normativo – ou seja, ela define regras e exerce formas de controle social. • As instituições são formadas para atender a necessidades sociais. Servem também de instrumento de regulação e controle das relações sociais e as atividades dos membros da sociedade em que estão inseridas. Para isso, dispõem de um poder normativo e coercitivo aceito pela maioria da população dessa sociedade. • As principais características das instituições sociais são: exterioridade, objetividade, coercitividade, autoridade moral e historicidade.

UNIDADE 10 A FAMÍLIA A INSTITUIÇÃO FAMILIAR NO BRASIL Para a maioria dos brasileiros a família, o estudo, o trabalho, a religião, o dinheiro e o lazer tem respectivamente nesta ordem, diferenciados níveis de importância, apesar da maioria enfatizar a grande importância da família e quererem ter filhos algum dia, não demonstram a mesma simpatia pelo casamento que as gerações anteriores datadas do início do século XIX até o fim do século XX. Afinal, esta instituição representava poder, segurança e respeitabilidade. O padrão da família brasileira da primeira metade do século XIX até a primeira metade do século XX era constituído por um pai, mãe e filhos. Os integrantes da família brasileira deste período eram comandados por um pai e esposo contido no choro e na demonstração de sentimentos, eram duros e jamais demonstravam fragilidade, nem receios. Antes o homem era formado para ser mais racional, e menos emocional o que dificultava o relacionamento afetivo. Este ensinamento sobre a firmeza masculina para dirigir o lar era ensinado de pai para filho, sempre reafirmando os ideais de filhas casando-se cedo para seguir os passos da mãe, uma mulher frágil, submissa, contida e respeitável. Os casamentos celebrados durante o século XIX eram uma opção da elite branca que tentava manter o prestígio e a estabilidade social limitando os casamentos a mitos quanto à cor, honra, riquezas e religião, mas este quadro não era tão rigoroso quando se tratavam da classe baixa da população. Muitas vezes os casamentos eram arranjados, mas a legalização da união para a formação de uma nova família dependia do consentimento paterno, cuja autoridade era legítima e incontestável, era de sua competência decidir e até determinar o futuro dos filhos sem lhes consultar as preferências, sendo que em alguns casos os noivos jamais haviam se visto, comunicado ou tocado. Os filhos que se rebelavam e não aceitavam a dominação paterna eram sempre castigados, deserdados e até expulsos de casa.

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Devido às poucas opções de escolha, restava à mulher o casamento onde a mesma representava a proteção na família e tinha a obrigação de ensinar a decência e educar os filhos. Ao marido era de competência zelar pela segurança e conforto material da família, sendo isto válido para todas as classes sociais. O amor, a estima, a dedicação e a gratidão era relevantes nos casamentos principalmente dos mais pobres, o que ocasionava muitas vezes em maus tratos contra a mulher e os filhos. A única preocupação do pai era em alimentar e quando estes eram de classes mais abastadas fornecer um bom estudo aos filhos homens, às mulheres apenas lhes eram ensinados as atividades domésticas, uma língua estrangeira e como uma dama deveria se comportar e vestir-se, sempre de maneira austera e honrosa. Todo o século XIX foi marcado pela repressão do pai ao resto da família que não desfrutava do direito de opinar em situação alguma sobre o próprio futuro ou expor sua opinião sobre seus gostos, desejos e anseios. Com a Revolução industrial e com a revolução feminista, o posicionamento das mulheres mudou radicalmente em menos de meio século, e mesmo que com passos incertos e vacilantes provocou uma reorganização da sociedade e levou aos homens a necessidade de repensar seu papel. A exemplo das mulheres estrangeiras, que com a segunda guerra mundial foram obrigadas a saírem de casa e trabalhar em fábricas, pois com os homens na guerra em frente de batalha, as mulheres tomaram conta da produção industrial de armamentos, munições, roupas e alimentos, influenciando assim a mulher brasileira que sofreu os impactos da guerra também aqui no Brasil. Essa mudança radical afetou o comportamento da mulher na família e o homem por sua vez foi presenteado com espaços afetivos mais amplos. A partir de meados do século XX foi permitido ao homem desfrutar de uma relação conjugal e de pai harmoniosa e permissiva. A vida econômica passou a ser compartilhada e o ambiente organizacional suavizou-se. O homem perdeu o domínio absoluto sobre a chefia da família e todo o autoritarismo decorrente disso. Várias foram as mudanças no quadro familiar que antes era nuclear, constituída de um pai, uma mãe e filhos. Assim, formada por novos casais, com enteados, com filhos de seus casamentos desfacelados, com os avós, os primos e tios surgiu a família denominada mosaico. Esta é uma família numerosa com muitos componentes. No Brasil do século XXI pelo egoísmo de cada ser que compõe as famílias, pensando cada dia mais em si próprio, em se promover profissionalmente do que em constituir uma família ou mantê-la, é cada vez maior o número de divórcios que a menos de três décadas não eram tão comuns, afinal o divorcio era desonroso para a mulher e era tradição que um casamento era para o resto da vida. Mas, as lições que as novas gerações estão aprendendo são outras. Mudaram-se os parâmetros, a cultura e a liberdade de expressão decorrente de todo o processo histórico... O que seria o cabeça da família, o homem moderno, aprendeu a ser gentil, compreender que as tarefas da casa pertencem a eles também, educar os filhos junto com as esposas, dividir e compartilhar os trabalhos


Sociologia domésticos, com justiça e solidariedade, unindo a família do século XXI, sendo bom para as crianças e para o próprio casal, o importante é o amor. Ambos ainda estão perdidos, pois são mudanças muito recentes. A família já percebeu que pode construir um mundo melhor, se abrir às novas mudanças exigidas pelo mundo moderno, sendo uma boa influenciadora da moral e das regras de conduta... que contribua para uma efetiva consolidação da dignidade individual e social de cada brasileiro. (http://www.webartigos.com/artigos/a-familia-brasileira/44883/)

FAMÍLIA: SOCIEDADE COLOCA CONCEITO DO FENÔMENO EM DISPUTA Qual é a definição correta de família? Existe um conceito correto? As definições antigas dão conta da diversidade que a sociedade contemporânea vivencia em suas relações? Para muitos essa é uma questão polêmica. No Brasil, o tema ganhou destaque após o site da Câmara dos Deputados colocar no ar uma enquete que questiona se você é a favor ou contra o conceito de família como núcleo formado “a partir da união entre homem e mulher”, prevista no projeto de Lei 6583/13, do deputado Anderson Ferreira (PR-PE), que cria o Estatuto da Família. O deputado argumenta que “a família vem sofrendo com as rápidas mudanças ocorridas em sociedade” e, no texto do projeto, apresenta diretrizes de políticas públicas voltadas para a entidade familiar e obriga o poder público a garantir as condições mínimas para a “sobrevivência” desse núcleo. A proposta dele define família como o núcleo formado a partir da união entre homem e mulher, por meio de casamento, união estável ou comunidade formada pelos pais e seus descendentes. A família é um fenômeno social presente em todas as sociedades e um dos primeiros ambientes de socialização do indivíduo, atuando como mediadora principal dos padrões, modelos e influências culturais; se define em um conjunto de normas, práticas e valores que têm seu lugar, seu tempo e uma história. Muitos fatores contribuem para dar forma ao que reconhecemos como família: as normas e ações impostas pelo Estado (quando ele beneficia determinado tipo de família em questões legais, previdenciárias, acaba legitimando este tipo e desestimulando outros), as relações trabalhistas (quando as oportunidades no mundo do trabalho moldam as escolhas feitas pelos indivíduos na vida pessoal), o âmbito da sexualidade e afetos, as representações dos papéis sociais de mulheres e homens, da infância e das relações entre adultos e crianças, a delimitação do que é pessoal e privado por práticas cotidianas, e as leis. Tudo isso interfere na vida doméstica e molda os papéis de homens e mulheres dentro e fora de casa. No Brasil, o conceito de família teve diferentes abordagens. Na Constituição Federal de 1967, anterior ao regime democrático, o artigo 167 descrevia que “a família é constituída pelo casamento". Com a promulgação da Constituição Federal de 1988 o conceito de família foi ampliado e passou a ser entendido como “a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes”.

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Pelo Novo Código Civil Brasileiro, instituído em 2003, a família deixou de ser aquela constituída unicamente através do casamento formal, ou seja, composta de marido, mulher e filhos. No Código de 1916, em vigência anteriormente, o casamento definia a família legitima e legitimava os filhos comuns. O novo código reconhece que a família abrange as unidades familiares formadas pelo casamento civil ou religioso, união estável ou comunidade formada por qualquer dos pais ou descendentes, ou mãe solteira. O conceito de família passou a ser baseado mais no afeto do que apenas em relações de sangue, parentesco ou casamento. Já o IBGE, para realizar o Censo em 2010, definiu como família o grupo de pessoas ligadas por laços de parentesco que vivem numa unidade doméstica. Essa unidade doméstica pode ser de três tipos: unipessoal (quando é composta por uma pessoa apenas), de duas pessoas ou mais com parentesco ou de duas pessoas ou mais sem parentesco entre elas. O levantamento fez um retrato da família brasileira: na maioria das unidades domésticas (87,2%) as famílias são formadas por duas ou mais pessoas com laços de parentesco. As pessoas que vivem sozinhas representam 12,1% do total e as pessoas sem parentesco são 0,7%. Na comparação entre 2000 e 2010, houve um crescimento na proporção pessoas morando sozinhas (antes de 9,2%) e de famílias tendo a mulher como responsável (de 22,2% para 37,3%), fato que ocorre, principalmente, pela emancipação e ingresso da mulher no mercado de trabalho. Especialistas e intelectuais afirmam que não há um conceito único de família e que ele permanece aberto, em construção, e deve acompanhar as mudanças de comportamento, religiosas, econômicas e socioculturais da sociedade. Alas mais conservadoras da sociedade e de diferentes religiões não compartilham dessa visão e mantém o entendimento de que o fator gerador da família é o casamento entre homem e mulher, os filhos gerados dessa união e seus demais parentes. Mas, com o passar do tempo, novas combinações e formas de interação entre os indivíduos passaram a constituir diferentes tipos de famílias contemporâneas: a nuclear tradicional (um casal de homem e mulher com um ou dois filhos, sendo a relação matrimonial ou não); matrimonial; informal (fruto da união estável); homoafetiva; adotiva; anaparental (sem a presença de um ascendente); monoparental (quando apenas um dos pais se responsabiliza pela criação dos filhos); mosaico ou pluriparental (o casal ou um dos dois têm filhos provenientes de um casamento ou relação anterior); extensa ou ampliada (tem parentes próximos com os quais o casal e/ou filhos convivem e mantém vínculo forte); poliafetiva (na qual três ou mais pessoas relacionam-se de maneira simultânea); paralela ou simultânea (concomitância de duas entidades familiares), eudemonista (aquela que busca a felicidade individual), entre outras. O principal desafio é reconhecer a legitimidade desses novos tipos de famílias, que precisam dessa oficialização

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Ciências Humanas e suas Tecnologias para ter seus direito jurídicos, previdenciários, entre outros, garantidos. Quando o Estado e a sociedade não reconhecem essas famílias como legítimas (por diferentes motivos), devido ao conflito entre os valores antigos e o estabelecimento de novas relações, acabam estimulando alguns modos de vida e desestimulando outros. No entanto, isso acaba oferecendo proteção e vantagens para uns em detrimento de outros. “A ideia de que a família corresponde ao casamento, heterossexualidade e procriação determinou por muito tempo a fronteira da legitimidade das famílias”, comenta a autora Flávia Biroli no livro Família – Novos Conceitos, ao falar da noção moderna de família. Segundo ela, a ruptura, ainda que parcial dessa idealização do conceito de família é resultado da ação de movimentos sociais, feministas e LGBT, e de juristas e políticos que entenderam que os direitos individuais incluem o direito de casar-se e o serem beneficiados com as vantagens relacionadas ao casamento nas nossas sociedades. Além da diversidade de tipos de família na nossa sociedade, ainda precisamos compreender a realidade de outros países e culturas (principalmente as não ocidentais), onde muitas vezes um comportamento que é proibido em nosso território, é permitido. Entre esses comportamentos estão a exogamia (união de membros de grupos diferentes, como japonês com alemã, italiano com africana, etc), a endogamia (união entre parentes ou pessoas com a mesma ascendência), a bigamia, o incesto, a poligamia, entre outros. Se voltássemos a Idade Média, veríamos que não eram incomuns casos de reis e rainhas europeus que se casando com primos e irmãos para manter unidos seus reinos e fortunas. No caso da poligamia, um casamento que engloba dois ou mais parceiros, trata-se de uma prática que vem de culturas e religiões antigas, em muitos casos, iniciada pelo fato de existirem mais mulheres do que homens. Na África, por exemplo, a poligamia para os homens é permitida e reconhecida legalmente em muitos países, como Líbia, Marrocos, Quênia, entre outros. Na África do Sul a poligamia é um direito que está na Constituição. Qualquer homem sul-africano pode ser casado com até quatro mulheres. Todas recebem o sobrenome do marido e têm os mesmos direitos perante a lei. No caso da poligamia para mulheres (chamada poliandria), por muitos séculos ela foi praticada no isolado Vale Lahaul, no Himalaia, na Índia. Ali, era muito comum o casamento de irmãos com a mesma mulher, por exemplo. Essas famílias eram pequenas, como o trabalho não era distante não havia muito contato com outras aldeias. Hoje, com o desenvolvimento do local, o crescimento econômico e os avanços tecnológicos, o vale antes isolado ganhou estradas, telefones, e a população pode se deslocar, trabalhar longe e almejar outra vida. As famílias poliândricas começam a desaparecer. O mais importante nesta questão é que a diversidade da vida afetiva e familiar seja abordada de maneira que seu contexto e papel sejam compreendidos antes de serem julgados e que garanta a igualdade dos indivíduos – no

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acesso a recursos e ao reconhecimento social, e também na sua autonomia para tomar decisões sobre a própria vida. (http://vestibular.uol.com.br/resumo-das-disciplinas/atualidades/familiasociedadecoloca-conceito-do-fenomeno-em-disputa.htm)

A NOVA FAMÍLIA BRASILEIRA Um novo recorte do Censo 2010 mostra um retrato detalhado da família brasileira. O estudo confirma características observadas nos últimos anos, reflexo da mudança estrutural dos grupos familiares, da maior participação da mulher no mercado de trabalho, das baixas taxas de fecundidade e do envelhecimento da população. E detalha aspectos ainda não mensurados no país, como a maior disposição dos brasileiros para dar início a um novo relacionamento conjugal depois de uma (ou mais) experiências de vida a dois - resultado também da mudança na legislação no mesmo ano do estudo, o que tornou o divórcio algo possível com uma simples passagem pelo cartório. A novidade que emerge do estudo vem da preocupação do IBGE de, pela primeira vez, analisar as famílias reconstituídas. Ou seja, "os núcleos constituídos depois da separação ou morte de um dos cônjuges". Esses grupos representam 16,3% do total de casais que vivem com filhos, sendo eles de apenas um dos companheiros ou de ambos. São mais de 4,4 milhões as famílias com essas características atualmente - o restante, quase 84%, é formado por casais com filhos do marido e da mulher vivendo juntos no momento da entrevista. A composição de casais com filhos ainda representa a maioria das famílias brasileiras, apesar da queda significativa nessa fatia da população: foi registrada redução de 63,6%, em 2000, para 54,9% em 2010. O Censo também mostra que, apesar de os solteiros ainda responderem por mais de metade da população, 55,3%, entre as pessoas com 10 anos de idade ou mais, foi entre os divorciados o maior aumento observado de uma década para outra: o índice quase dobrou do levantamento feito em 2000 para o atual, passando de 1,7% para 3,1%. Se somados com o número de desquitados e separados judicialmente, esse grupo chega a quase 5% dos brasileiros. Felicidade - A mudança que se mostra acentuada na década entre 2000 e 2010 vem sendo construída ao longo da segunda metade do século XX, e está diretamente ligada ao conceito que se tem de felicidade. Fundadora do atendimento infantil no serviço de psicologia aplicada da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), a psicóloga Lulli Milman vê, no crescimento dos divórcios e na consequente elevação das famílias recompostas um sinal de que o matrimônio e a vida conjugal passaram a atender mais a objetivos pessoais que a formalidades. "Ser feliz é algo relativamente novo. Antes, vivia-se para viver, para honrar o rei, a família. A mudança radical sobre isso, na história, veio com a Revolução Francesa. Nos anos 50, o casamento eterno era o ideal de felicidade. Hoje, ser feliz está ligado a satisfazer a si próprio", diz Lulli. "A configuração dos relacionamentos faz com que


Sociologia se amplie o conceito de família. Em tese, as crianças passam a ter mais gente cuidando delas", afirma Lulli. Quando observados apenas os estados conjugais - sem a formalização civil das uniões - o aumento do número de divorciados é ainda maior. Do Censo anterior para este, houve um acréscimo de 20% no porcentual de pessoas envolvidas em dissoluções conjugais, passando de 11,9% para 14,6% em 2010. "Nos dias atuais, a união entre as pessoas ocorre de forma mais frequente a partir de escolhas afetivas", ressalta o estudo. Daí, a liberdade em deixar um relacionamento infeliz. "A legislação facilitou muito o divórcio. Talvez houvesse antes muito casamento mantido pelos filhos. Hoje em dia, com a efetiva participação paterna, ficou mais fácil para o casal se separar, porque o pai e a mãe continuam a ter o contato com o filho", diz o advogado Sérgio Arthur Calmon, especializado em direito de família. O que a legislação estabelecia como condição para dissolução dos casamentos era um misto de satisfação perante a sociedade e desvio das condutas aceitáveis para um casal - mais do que a vontade de um ou ambos de não mais conviver como casal. Para se separar, era preciso, até antes da mudança na legislação ocorrida em 2010, imputar alguma conduta desonrosa ao outro. Algo como ter um amante, negligenciar o lar ou os filhos. "Há uma mudança grande tanto judicialmente quanto nas relações. Em um mês é possível se divorciar. Se antes era complicado, agora é esse processo é tão rápido que torna mais descartáveis as uniões formais", afirma Calmon. O casamento formal - seja no civil ou no religioso - é uma decisão econômica. E o Censo mostra como o índice de relações formais cresce à medida que se eleva a renda do extrato estudado: 48,9% das pessoas que ganham até meio salário mínimo vivem em união conjugal consensual, enquanto 64,2% do grupo que ganha mais de cinco salários prefere se casar no civil e no religioso. Rio, capital das separações - O crescimento no índice de pessoas que já viveram em união conjugal e não viviam mais na época da pesquisa é generalizado em todas as regiões do país. De 2000 para 2010, o índice de pessoas que terminaram uma união conjugal subiu de 15,6% para 17,5% - o maior porcentual do país, cuja média geral é de 14,6%. Mas os maiores crescimentos porcentuais foram observados em Rondônia (33%) e no Mato Grosso (31%), onde ainda se mantêm uma tradição maior no que diz respeito ao casamento tradicional. "Uma das explicações possíveis desse crescimento, principalmente na Região Norte do país é a maior autonomia que as mulheres vêm conquistando, para colocar um fim em um relacionamento ruim, por exemplo", explica o pesquisador Leonardo Queiroz Athias. Entre os estados, o Rio de Janeiro é o que aparece como o campeão das separações. Cosme Corrêa e Carla Lage moram juntos em Niterói há três anos. Antes disso, cada um foi casado com outra pessoa e tiveram filhos. Hoje, engrossam as estatísticas do IBGE sobre famílias reconstituídas. Carla chegou com um filho de 10 anos. Cosme com uma menina de cinco. Os dois têm guarda compartilhada, com alternância de dias. Nas segundas e

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quartas, as duas crianças estão na casa deles. O fim de semana é intercalado. "Há o fim de semana de sucrilhos e iogurte, com as crianças, e outro de queijos e vinhos. Temos o nosso tempo e o tempo das crianças", diz Corrêa, que foi casado outras duas vezes. Hoje, as duas crianças, de relacionamentos passados de Carla e Correia, se tratam como irmãos. A família planeja uma viagem para a Disney no ano que vem. Os pais programam o casamento no papel. Recomeço - O psicólogo Fernando dos Santos Baltazar, de 39 anos, compõe esse novo conjunto de famílias.. Ele se casou aos 20 anos com a primeira mulher, com quem teve três filhos. Depois de quase dez anos de relacionamento "e algumas experiências traumáticas", veio a separação. Baltazar se manteve em São Paulo, ela se mudou com os filhos para Minas Gerais. Baltazar entrou na Justiça - e ainda briga - para ter o direito de visitá-los. Dois anos depois do primeiro casamento, veio o momento de recomeçar. Baltazar se casou de novo, com Luíza, que trazia na bagagem também uma união conjugal desfeita, além de dois filhos, hoje com 20 e 18 anos. "Sempre fiz questão de exercer meu papel de pai. Ajudei a cuidar dos meus três filhos. Com enteados, a relação precisa ser um pouco diferente. Situações que você poderia resolver com uma chamada de atenção mais forte têm de ser tratadas de forma diferente", recorda. Baltazar e a atual esposa engrossam o índice de pessoas divorciadas que estão novamente em uma união conjugal: eles são 6,1% do total dos brasileiros, o único grupo que registrou aumento (de 1,6 ponto porcentual) do Censo de 2000 para 2010. "Isso reforça o aumento das uniões reconstituídas no país e da disposição das pessoas em iniciar novas relações", enfatiza o pesquisador do IBGE Leonardo Queiroz Athias. Nesse mesmo período, o tipo de união que mais cresceu foi a consensual - oficializada ou não em cartório -, de 28,6% para 34,8%. Na análise do IBGE, esta é a confirmação de uma mudança de valores culturais em todo o país, pois torna as uniões não formalizadas mais aceitas pela sociedade. (http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/a-nova-familia-brasileira-ibge/)

FIQUE LIGADO NO ENEM! • O padrão da família brasileira da primeira metade do século XIX até a primeira metade do século XX era constituído por um pai, mãe e filhos. Com a Revolução industrial e com a revolução feminista, o posicionamento das mulheres mudou radicalmente e, mesmo que com passos incertos e vacilantes, provocou uma reorganização da sociedade e levou aos homens a necessidade de repensar seu papel. • Várias foram as mudanças no quadro familiar que antes era nuclear, constituída de um pai, uma mãe e filhos. Assim, formada por novos casais, com enteados, com filhos de seus casamentos desfacelados, com os avós, os primos e tios surgiu a família denominada mosaico. Esta é uma família numerosa com muitos componentes. • No Brasil do século XXI pelo egoísmo de cada ser que compõe as famílias, pensando cada dia mais em si próprio, em

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Ciências Humanas e suas Tecnologias se promover profissionalmente do que em constituir uma família ou mantê-la, é cada vez maior o número de divórcios que a menos de três décadas não eram tão comuns • A partir do Novo Código Brasileiro de 2003 se reconhece que a família abrange as unidades familiares formadas pelo casamento civil ou religioso, união estável ou comunidade formada por qualquer dos pais ou descendentes, ou mãe solteira. O conceito de família passou a ser baseado mais no afeto do que apenas em relações de sangue, parentesco ou casamento. • Não há um conceito único de família e ele permanece aberto, em construção, e deve acompanhar as mudanças de comportamento, religiosas, econômicas e socioculturais da sociedade. Alas mais conservadoras da sociedade e de diferentes religiões não compartilham dessa visão e mantém o entendimento de que o fator gerador da família é o casamento entre homem e mulher, os filhos gerados dessa união e seus demais parentes. • Um novo recorte do Censo 2010 confirma características observadas nos últimos anos, reflexo da mudança estrutural dos grupos familiares, da maior participação da mulher no mercado de trabalho, das baixas taxas de fecundidade e do envelhecimento da população. Também detalha aspectos ainda não mensurados no país, como a maior disposição dos brasileiros para dar início a um novo relacionamento conjugal depois de uma (ou mais) experiências de vida a dois - resultado também da mudança na legislação no mesmo ano do estudo, o que tornou o divórcio algo possível com uma simples passagem pelo cartório.

UNIDADE 11 A EDUCAÇÃO PATRIMÔNIO CULTURAL E EDUCAÇÃO O que integra uma pessoa à sociedade e ao grupo social em que vive é o patrimônio cultural que ela recebe. A transmissão desse patrimônio começa no momento em que ela nasce (e até mesmo antes, quando ela ainda se encontra no útero materno e recebe estímulos de diversas procedências do meio social). O veículo pelo qual essa transmissão é realizada no momento inicial da vida é a família. Depois, a pessoa passa pouco a pouco a interagir com círculos cada vez mais amplos da sociedade. Em todos esses momentos, ela assimila valores e regras por meio da educação. Assim, são objetivos da educação: a transmissão da cultura, a adaptação dos indivíduos à sociedade, o desenvolvimento de suas potencialidades e, como consequência, o desenvolvimento da personalidade e da própria sociedade. A educação permite que a criança, ao crescer, também possa interferir no meio social em que vive, ajudando a incorporar inovações e até a modificar padrões culturais estabelecidos – ou seja, contribuindo para transformar a sua própria realidade.

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A educação pode ser de dois tipos: formal ou informal. A educação informal ou difusa é a que ocorre na vida diária por intermédio dos contatos primários (com a família, por exemplo) e pela assimilação dos hábitos de cada grupo social, pela observação do comportamento dos mais velhos, pela convivência com os outros membros da sociedade. É realizada sem nenhum plano, sem local ou hora determinada. Todas as pessoas, todos os grupos, toda a sociedade participa dessa forma de educação. Nas comunidades mais isoladas, onde ainda não há escolas, a educação informal é a única forma de educação existente. Nessas comunidades, crianças e jovens aprendem ao participar ativamente da vida familiar e comunitária. Assim, adaptam-se pouco a pouco ao estilo de vida do grupo. Portanto, existe educação sem escola como no caso das sociedades indígenas. Florestan Fernandes (1920-1995), sociólogo brasileiro que estudou os povos Tupinambás observou as seguintes características na educação indígena desses povos: • os conhecimentos são acessíveis a todos os membros da comunidade • a transmissão da cultura faz-se cotidianamente, • como se tratam de povos iletrados (específico dos indígenas no Brasil), a comunicação dos saberes ocorre oralmente. A palavra oral possuía tanto prestígio quanto a linguagem escrita em nossa sociedade; • a educação não é privilégio das crianças e jovens uma vez que todos estão no papel de aprendizes e de mestres. Embora esteja sempre presente na vida do indivíduo, em sociedades complexas a educação informal não é suficiente. A divisão do trabalho e a diversidade de papéis sociais exigem de crianças e jovens a passagem pela escola, onde recebem educação sistemática ou formal. O objetivo básico dessa forma de educação é a transmissão de certos legados culturais, isto é, de conhecimentos, técnicas ou modos de vida, de forma a preparar as pessoas para os papéis que elas serão chamadas a desempenhar na sociedade ao longo da vida (ter uma profissão, ser pai ou mãe de família, estar preparado para exercer a cidadania, etc). A ESCOLA E A SOCIEDADE CAPITALISTA Na sociedade capitalista no período histórico conhecido por “modernidade” (século XVI até nossos dias), a cultura capitalista põe a ciência em destaque, mostrando que a vida moderna só pode ser entendida pela ótica dos métodos científicos e, com isso, a educação deixa de refletir apenas os valores religiosos como no tempo da sociedade feudal para ter a ciência como base. Será nesse contexto ideológico da nascente sociedade industrial que nasce uma nova instituição responsável por essa educação: a escola. Percebemos que uma das características da revolução ideológica capitalista foi transportar uma educação que durante o feudalismo ocorria na família e na Igreja para a instituição escola. Nasce assim a escola: uma instituição com normas específicas, agentes próprios (diretores, professores,


Sociologia alunos, orientadores pedagógicos, etc) e toda uma hierarquia. A escola se propõe o objetivo de preparar os indivíduos para a vida em sociedade ao mesmo tempo que desenvolve suas aptidões pessoais. Com isso, nasce também uma nova estrutura de ensino: muitas salas de aula, muitos alunos numa só sala, provas, notas, porcentagens de frequência, carteiras em fila, diplomas. Tudo com o objetivo de educar massa cada vez maior de indivíduos, tentando adaptá-los aos valores dessa nova sociedade capitalista do século XVIII. A escola que conhecemos hoje é produto dos séculos XVIII e XIX, período em que aparece a ideia da necessidade de educação pública e obrigatória para todas as pessoas. Já em 1619 encontramos na Alemanha, Escócia e Holanda uma educação que se dava através de escolas garantidas pelo Estado para crianças de 6 a 12 anos. Será, porém, a partir da Revolução Francesa, em 1789, que se expande por toda a Europa e América a necessidade de se instaurar o ensino público e científico para todos. Entretanto, a nova organização social do capitalismo teve um desenvolvimento contraditório, pois enquanto uns poucos se enriqueciam –proprietários dos meios de produção- a maioria empobrecia. A fábrica que redimensionava o avanço da ciência e o desenvolvimento de novas formas políticas pagava salários baixíssimos, forçava a migração rural para as cidades e ainda trazia desemprego. A técnica trazia novas curas para doenças outrora incuráveis, mas também o desenvolvimento da indústria bélica. Numa sociedade com o progresso contraditório, o capitalismo sempre passou por períodos de crises econômicas, desequilíbrios políticos e inúmeros conflitos. Essa nova sociedade que surgia trazia problemas para serem interpretados e, nesse sentido, são muitos os que passam a desenvolver estudos com a preocupação única de tentar entender essa nova ordem social. A ESCOLA COMO ESPAÇO DE SEGREGAÇÃO? Diversos sociólogos realizaram pesquisas interessados em estudar o papel da escola na sociedade capitalista. Um dos mais conhecidos pesquisadores foi o sociólogo francês Pierre Bourdieu (1930-2002) que fez parte de uma geração de pesquisadores interessada em estudar esse “papel da escola” na sociedade capitalista. A escola passa a ser vista por pesquisadores na área de sociologia como a instituição mais eficiente para segregar pessoas, ao dividir e marginalizar parte dos alunos com o objetivo de reproduzir a sociedade de classes. Na França, por exemplo, Bourdieu interessou-se em pesquisar a existência de “duas redes de escolarização”: uma destinada aos filhos da classe empresarial e outra destinada aos filhos da classe trabalhadora. A primeira classe social – por ser classe dominante – teria acesso às melhores escolas, seus filhos teriam tempo e recursos para estudar, enquanto os trabalhadores, sem recursos financeiros e por conta da jornada de trabalho, são obrigados a se contentar com as piores escolas e não atingem as notas necessárias para entrar nas melhores. Além disso, para valorizar sua educação, a classe

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empresarial conta com a disponibilidade e recursos para frequentar outras atividades que complementam a formação escolar; pode-se participar de cursos especiais de línguas estrangeiras, música, dança ou ainda treinamento e atividades esportivas. Por outro lado, a classe trabalhadora se vê limitada a frequentar cursos sem essa diversificação curricular, a frequentar cursos noturnos, sem a possibilidade de frequentar cursos de aperfeiçoamento. A classe empresarial se escolariza para se perpetuar na condição de classe dirigente, dominante. Cria-se um modelo dualista escolas primárias/profissionalizantes e escolas “superiores”. A LINGUAGEM QUE APARECE NA ESCOLA A linguagem é a forma ou jeito que transmitimos a outras pessoas os conhecimentos, valores e ideias. A linguagem é, portanto, a soma de recursos (capitais) que nos permitem divulgar informações. A linguagem não é única, pode dar-se de vários modos. Em relação à escola a linguagem se apresenta, por exemplo, no discurso do professor ou nos seus gestos, nos conteúdos dos livros adotados, nos programas de ensino, nas regras de convivência ou normas disciplinares. Tudo são meios para expressar ideias, sentimentos e modelos de comportamento: tudo isso se constitui na linguagem da escola. Aquilo que o professor diz ou fala, aquilo que aparece nos livros didáticos e nas regras da escola pode ser semelhantes, aquilo que um pai/mãe diz ao filho, semelhante aos livros que podem ser encontrados em sua casa e semelhante até as regras de convivência da família. Uma criança que carrega consigo determinados níveis de “capital cultural” poderá não assimilar determinados conhecimentos que a escola lhe transmite, pois tais linguagens podem não ter ligação com seu cotidiano, seu dia a dia. A escola não cria, mas poderá reproduzir desigualdades. É o que se verifica no fato de tantas crianças abandonarem a escola ou nas reprovações consecutivas. Mas a escola também cumpre uma função disciplinadora. A respeito da função disciplinadora da escola recorremos aos estudos do filósofo francês Michel Foucault (1926-1984). Este pensador realizou diversos estudos comparativos entre algumas instituições como prisões, conventos, quartéis e escolas, buscando desvelar suas semelhanças no que se refere aos aspectos de organização e controle. Para Foucault, mais importante do que um poder centralizador e visível, são os “pequenos” poderes que abarcam todo o espaço social e dos quais não conseguimos escapar, porque estão dispersos. É o espaço físico, o mobiliário, as regras, os olhares vigilantes, as ameaças e as punições agindo sempre no sentido de controlar nossos corpos e nossas consciências, de nos fazermos “úteis”, “dóceis”, treinados para a obediência. A escola é um espaço para “aprender”. Mas “aprender” o que?

Aprender a nos tornarmos civilizados? A nos tornarmos dóceis e obedientes? A repetir o livro e as palavras do professor? Ou para ter a autonomia intelectual para tomar

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Ciências Humanas e suas Tecnologias decisões e que possa contribuir na formação de uma sociedade mais justa, fraterna e igualitária? (https://projetoaletheia.wordpress.com/sociologia/neyjansen/instituicoes-sociais/)

SOCIEDADE, ESCOLA E FAMÍLIA Uma das tarefas da educação nas sociedades tem sido a de mostrar que os interesses individuais só se podem realizar plenamente através dos interesses sociais. Em outras palavras a educação ao socializar o indivíduo, mostra a este que sozinho, não poderá desenvolver o ser humano e sim só desenvolverá potencialidade em contato com outras pessoas, com o meio social. A coexistência no grupo por sua vez, só é possível se o indivíduo aceitar certas regras comuns a todos. A contribuição da comunidade na escola pode gerar confusão, seja por submetê-la a pressões de grupos em defesa de interesses específicos, ou seja, por torná-la palco de disputas de caráter partidário, clientelista ou ideológico. Uma das habilidades importantes para uma gestão democrática é de administrar conflitos e relacionarem-se com reverência as desigualdades, a maioria de ideias e conceitos pedagógicos, direito de decidir e a tolerância, em cada escola a gestão democrática declara com certeza a colaboração ativa do controle social da educação e ensino. Algumas vezes as escolas esquecem que os pais e os alunos são sujeitos do processo educativo e que certamente, tem muitas sugestões para a melhoria dos processos vivenciados na escola. Incluir a sociedade e escola é tarefa complicada, pois atrai sensibilidade e valores diferenciados. Compete às equipes gestoras analisar e colocar em práticas estratégicas as pessoas a se envolver e participar na vida do educando/filho na escola. Família e escola têm uma importância em comum: preparam para a sociedade seus futuros cidadãos. Esse fato tece laços profundos entre as duas instituições, favorecendo a troca de informações e ajuda mútua. A escola que reconhece isso abre suas portas para a comunidade, consegue dar um salto qualitativo em relação às outras. Em certos casos esse salto não se traduz apenas em melhoria das ações pedagógicas, mas às vezes também na própria garantia de sua exigência física. "A educação não é um elemento para a mudança social, e sim pelo contrário, é um elemento fundamental para a conservação e funcionamento do sistema social" (DURKHEIM, 1973:52). De modo nenhum adianta o colégio labutar com uma sugestão de ensino se a família, em sua casa, fizer o oposto. Os pais devem informar-se mais da vida escolar dos filhos, contribuindo com o desenvolvimento e crescimento dos educandos. Compete às escolas designar ambientes e preceitos para conter os pais nos procedimentos educacionais. Família e escola, trabalhando unidos, podem ter efeitos melhores, garantindo resultados surpreendentes na educação. (http://br.monografias.com/trabalhos3/sociedade-escolafamilia/sociedade-escola-familia.shtml) (ADAPTADO)

FIQUE LIGADO NO ENEM! • São objetivos da educação: a transmissão da cultura, a adaptação dos indivíduos à sociedade, o desenvolvimento de suas potencialidades e, como consequência, o desenvolvimento da personalidade e da própria sociedade. A educação permite que a criança, ao crescer, também possa interferir no meio social em que vive, ajudando a incorporar inovações e até a modificar padrões culturais estabelecidos – ou seja, contribuindo para transformar a sua própria realidade. • A educação informal ou difusa é a que ocorre na vida diária por intermédio dos contatos primários (com a família, por exemplo) e pela assimilação dos hábitos de cada grupo social, pela observação do comportamento dos mais velhos, pela convivência com os outros membros da sociedade. • A divisão do trabalho e a diversidade de papéis sociais exigem de crianças e jovens a passagem pela escola, onde recebem educação sistemática ou formal. O objetivo básico dessa forma de educação é a transmissão de certos legados culturais, isto é, de conhecimentos, técnicas ou modos de vida, de forma a preparar as pessoas para os papéis que elas serão chamadas a desempenhar na sociedade ao longo da vida (ter uma profissão, ser pai ou mãe de família, estar preparado para exercer a cidadania, etc). • Pierre Bourdieu entre vários outros pesquisadores perceben a escola como a instituição mais eficiente para segregar pessoas, ao dividir e marginalizar parte dos alunos com o objetivo de reproduzir a sociedade de classes. A classe dominante teria acesso às melhores escolas, seus filhos teriam tempo e recursos para estudar, enquanto os trabalhadores, sem recursos financeiros e por conta da jornada de trabalho, são obrigados a se contentar com as piores escolas e não atingem as notas necessárias para entrar nas melhores. • Segundo Foucault, a escola também cumpre uma função disciplinadora. Mais importante do que um poder centralizador e visível, são os “pequenos” poderes que abarcam todo o espaço social e dos quais não conseguimos escapar, porque estão dispersos. É o espaço físico, o mobiliário, as regras, os olhares vigilantes, as ameaças e as punições agindo sempre no sentido de controlar nossos corpos e nossas consciências, de nos fazermos “úteis”, “dóceis”, treinados para a obediência. • Família e escola têm uma importância em comum: preparam para a sociedade seus futuros cidadãos. Esse fato tece laços profundos entre as duas instituições, favorecendo a troca de informações e ajuda mútua. De modo nenhum adianta o colégio labutar com uma sugestão de ensino se a família, em sua casa, fizer o oposto. Família e escola, trabalhando unidos, podem ter efeitos melhores, garantindo resultados surpreendentes na educação.

UNIDADE 21 A RELIGIÃO O QUE É RELIGIÃO?

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Sociologia A religião é um elemento central da experiência humana e existe em todas as sociedades conhecidas. Já foram encontradas inúmeras evidências de que havia rituais e símbolos religiosos nas comunidades antigas, dos quais temos conhecimento apenas por meio de vestígios arqueológicos, ou seja, objetos ou pedaços de objetos que indicam uma utilização voltada ao sagrado. A religião influencia de diversas maneiras a forma pela qual vemos o mundo e reagimos ao meio que nos rodeia. Por isso, o antropólogo norte-americano Clifford Geertz (1926-2006) afirma, na obra Interpretação das culturas, que a religião é sociologicamente interessante não porque descreve a ordem social, mas porque a modela. Ou seja, ela não apenas é fruto de determinada sociedade, como também interfere no modo de pensar, agir e sentir de seus indivíduos. A palavra religião vem do latim (religio) e remete ao verbo religare, que significa ação de ligar. O pesquisador Junito Brandão, em seu livro Mitologia grega, define religião como o conjunto de atitudes e atos por meio do qual o ser humano se liga ao divino ou manifesta sua dependência em relação a seres invisíveis tidos como sobrenaturais. Entretanto, é preciso ter muito cuidado ao identificar a religião apenas com a crença no sobrenatural, pois existem diversas religiões orientais em que não há deuses, mas a valorização de ideais éticos que relacionam a unidade natural do Universo ao crente. Também é preciso cuidado para não identificar a religião com o monoteísmo, pois há muitas religiões que cultuam diversas divindades. Por constituir um fenômeno socialmente condicionado, a religião pode ser considerada historicamente transitória. Isso significa que, embora ela esteja presente desde as sociedades antigas, em cada contexto histórico, em cada localidade e em cada agrupamento humano, ela se apresenta de maneira diferente. Por exemplo, um indivíduo nascido na Europa da Idade Média (dominada pelo Cristianismo) tem crenças religiosas diferentes de outro nascido em um sistema de castas da Índia, ou mesmo em uma sociedade indígena antes da colonização portuguesa. Nesse sentido, o estudo da religião representa um desafio importante para a imaginação sociológica: ao analisar as práticas, temos de interpretar crenças e rituais diferentes em diversas culturas; ao estudar o papel social da religião, temos de ser sensíveis aos ideais que inspiram as convicções dos seguidores e reconhecer a diversidade de crenças religiosas variadas. Apesar das diferenças, o ponto comum entre todas as religiões é que elas implicam um conjunto de símbolos e rituais que são realizados coletivamente. Aliás, há quem considere o aspecto da coletividade o principal aspecto que distingue, no âmbito da Sociologia, a magia da religião. O sociólogo britânico Anthony Giddens (1938- ), por exemplo, em sua obra Sociologia, define magia como a tentativa individual de influenciar os acontecimentos por meio de uso de poções, cânticos ou práticas rituais, e religião como um conjunto de crenças e praticas rituais às quais os membros de uma comunidade aderem, e que envolve símbolos ligados à reverência e à admiração.

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Já o sociólogo francês Émile Durkheim (1858-1917) considera o aspecto coletivo das cerimônias religiosas um fator que não só diferencia a religião da magia, mas também mantém acesa a chama da fé religiosa. Segundo ele afirma no livro As formas elementares da vida religiosa: o sistema totêmico na Austrália, as crenças permanecem apenas se partilhadas. É assim que elas nascem e são adquiridas por meio da convivência em sociedade. Para Durkheim, aqueles que verdadeiramente têm fé saem do isolamento e se aproximam dos outros para convencê-los. É essa força de suas convicções que mantém a fé, pois sozinha, ela enfraqueceria. (DIMENSTEIN, Gilberto; RODRIGUES, Marta e GIANSANTI, Álvaro. Dez Lições de Sociologia para um Brasil cidadão. São Paulo: FTD, 2012. pp. 76-78)

A INSTITUIÇÃO RELIGIOSA

Todas as sociedades conheceram ou conhecem alguma forma de religião. A crença em algum tipo de divindade e o sentimento religioso são fenômenos sociais universais, comuns a todas as épocas e lugares do planeta desde os tempos mais remotos. Cada povo tem nas crenças religiosas um fator de estabilidade, de aceitação da hierarquia social e de obediência às normas que a sociedade considera necessárias para a manutenção do equilíbrio social. Por isso, a religião desempenhou quase sempre uma função social estabilizadora. Exceção a essa regra são os movimentos religiosos reformadores, muitos dos quais contribuíram para a formação de novas correntes religiosas. Esse foi o caso da Reforma Protestante, iniciada entre 1517 e 1520 por Martinho Lutero no Sacro Império Romano-Germânico (atual Alemanha). Depois de romper com a Igreja Católica, Lutero fundou o protestantismo, lançando a Europa em um período de rupturas e sangrentos conflitos entre cristãos, as chamadas guerras religiosas. A CRENÇA NO SOBRENATURAL A religião envolve a crença em poderes sobrenaturais e misteriosos. Essa crença está associada a sentimentos de respeito, temor e veneração e se expressa em atitudes públicas destinadas a lidar com esses poderes. Geralmente, todas as religiões têm seu lugar de culto: igrejas, templos, mesquitas, sinagogas, etc. Para a antropóloga Ruth Benedict, a religião é uma instituição sem paralelo: enquanto a origem de todas as outras instituições pode ser encontrada nas necessidades físicas do homem, a religião não corresponde a nenhuma necessidade material específica. A forma pela qual se expressa o sentimento religioso varia muito, seja de pessoa para pessoa, seja de grupo para grupo, seja de época para época. Cada sociedade acentua aspectos diferentes em suas manifestações religiosas. Algumas atribuem importância maior à crença no sobrenatural; outras, aos ritos e cerimônias; outras, ainda, à contemplação. A RELIGIÃO EM UM MUNDO MATERIALISTA

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Ciências Humanas e suas Tecnologias As religiões ocidentais sofreram profundas modificações com o desenvolvimento da economia industrial, quando o progresso da ciência e das artes fez com que o ser humano passasse a ter uma nova visão de si mesmo e do universo. Nessas circunstâncias, boa parte das religiões vem procurando conciliar suas doutrinas com o avanço do conhecimento científico. Ao lado disso, desenvolveu-se também, entre religiosos de algumas religiões, uma particular preocupação com as desigualdades sociais, acentuadas com a Revolução Industrial e a formação da sociedade capitalista moderna. Assim, em 1891, na encíclica Rerum novarum, o papa Leão XIII expôs o que seria chamado de “doutrina social da Igreja católica”. Nesse documento, embora rejeitasse o socialismo, o chefe do catolicismo afirmava a necessidade de o Estado garantir melhores salários e condições de uma vida digna para os trabalhadores. Na América Latina, essa preocupação com os problemas sociais deu origem à Teologia da Libertação (1979), doutrina seguida por alguns sacerdotes e bispos da Igreja católica que defende o engajamento da instituição religiosa na luta contra as desigualdades e por justiça social. Hoje, alguns movimentos religiosos defendem uma participação maior das religiões na solução de problemas sociais e vêm procurando ressaltar mais as questões éticas do que os dogmas religiosos. Em contrapartida, os grupos religiosos mais conservadores caminham em direção oposta, defendendo o apego à tradição e dando ênfase às atividades missionárias e à salvação da alma. Seja como for, a instituição religiosa – budista, católica, evangélica, islâmica, ortodoxa, hebraica, umbandista, etc. – continua sendo uma das principais instituições a influenciar o comportamento humano em todas as sociedades do mundo contemporâneo. Entretanto, alguns estudiosos acreditam que cada vez mais vai-se exigir dela um novo estilo de liderança para lidar com pessoas mais instruídas, menos acostumadas a obedecer sem fazer perguntas e que desfrutam de maior liberdade para escolher seu destino. Assim, muitos dogmas religiosos deverão ser revistos, entre eles a indissolubilidade do casamento e a proibição do aborto, que afetam várias correntes religiosas. As religiões e seitas, de modo geral, deverão participar mais ativamente dos grandes problemas sociais, econômicos e culturais da sociedade, não só para dar amparo moral aos crentes, mas também para ajudá-los a resolver esses problemas. (OLIVEIRA, Pérsio Santos de. Introdução à Sociologia. São Paulo: Editora Ática, 2011. pp. 223-224)

EXPERIMENTAÇÃO E FILIAÇÃO RELIGIOSA Estamos diante de fenômenos que têm sido analisados pelos estudiosos da religião. Um deles é a chamada desinstitucionalização religiosa. Cada vez mais pessoas deixam de encontrar nas grandes religiões tradicionais narrativas plausíveis que respondam a suas necessidades de sentido, e passam a ter uma experiência do sagrado sem

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a mediação de instituições religiosas. Assim, essas instituições perdem gradativamente a capacidade de atrair e vincular adeptos. Mas esse processo não é percebido por meio das opções usualmente apresentadas nos instrumentos de coleta de dados de pesquisas demográficas. Além disso, essas abordagens quantitativas exigem definições precisas e um determinado momento da trajetória do indivíduo, não permitindo observar situações presentes na experiência social dos jovens, como o trânsito religioso – a peregrinação entre diferentes alternativas religiosas existentes em busca daquela que preencha as necessidades espirituais, as adesões provisórias, a prática simultânea de mais de uma religião, a produção de sínteses pessoais, sincréticas, a partir de elementos disponíveis em diferentes sistemas de crenças. E há também aqueles que mesmo optando por uma determinada religião, estabelecem negociações próprias com o conjunto de concepções e práticas requeridas dos adeptos, ou seja, não adotam o sistema completo de olhos fechados. Para analisar o tema da religião na juventude, um caminho metodológico proveitoso é abordagem das práticas e das crenças, e não tanto a consideração da declaração de adesão formal a determinados corpos de doutrinas. IDENTIDADE RELIGIOSA A busca de repostas para suas dúvidas e angústias existenciais, a abertura ao novo, a extrema curiosidade, a liberdade frente a exigências incompreensíveis, a crítica aguçada quando percebem nos líderes religiosos atitudes consideradas inadequadas, tudo isso pode explicar uma adesão mais fluida, os vínculos tênues que uma parcela da juventude mantém com as instituições religiosas. É freqüente encontrarmos jovens que em um curto período passaram por diversas experiências religiosas e que se definem como “buscadores” do sagrado. Neste sentido têm a atenção despertada para religiões de matriz oriental, que aumentaram sua presença no País nas últimas décadas, ou para espiritualidades exóticas e esotéricas, muitas vezes associadas à dimensão terapêutica e do autoconhecimento. Isso não deve ser confundido com uma atitude de descompromisso dos jovens em relação à religião. Cada vez mais se pode observar a adesão de jovens a sistemas ou movimentos religiosos que exigem uma rígida observância de regras comportamentais; alguns inclusive escolhem viver radicalmente os princípios da fé em comunidades constituídas em torno de uma identidade religiosa, como no Santo Daime, no Hare Krishna, na Toca de Assis. Simultaneamente, é possível perceber uma tendência a inscrever no corpo sinais de uma identidade religiosa, seja pela adoção pública de vestes especiais ou de camisetas contendo mensagens religiosas, ou ainda acessórios simbólicos (cordões, anéis, broches), ou mesmo tatuagens. Não se trata de uma religião vivida no âmbito privado, mas deseja-se sim, que tenha visibilidade pública.


Sociologia Uma outra faceta desse anúncio identitário está relacionada a uma tendência observada nas grandes religiões universais, de adoção de atitudes fundamentalistas, de formação de grupos que procuram reforçar as tradições e identidades. Tanto o catolicismo, como as denominações protestantes, o judaísmo, o islamismo, entre outras, possuem em seu interior grupos reacionários que contam com a participação de jovens. Esses processos são vivenciados por pessoas de todas as idades, não apenas pelos jovens. Entretanto, estamos tratando de uma fase da vida em que se intensifica uma experimentação que pode dar origem a escolhas existenciais importantes: a vivência da sexualidade, a busca de parceiros, a orientação sexual, a continuidade ou não dos estudos, a inserção profissional, os círculos de amizade, as adesões ideológicas, políticas, a adoção de determinados valores. A religião também é um campo de experimentação e de escolha para os jovens, mesmo que em todas estas áreas da vida as decisões não sejam definitivas e irreversíveis. Assim durante a juventude podem acontecer processos como a desvinculação da tradição religiosa em que o jovem foi socializado, rompendo com a religião dos pais, a conversão a um outro sistema religioso, ou mesmo a readesão à religião de origem, não mais por herança familiar, mas por decisão própria, passando pelo crivo do indivíduo. Isso mostra mudanças no processo de transmissão da religião de uma geração a outra. Cada vez mais encontramos indivíduos com identidades religiosas numa mesma família. E também cresce o número de relatos de jovens socializados em lares agnósticos que tem buscado uma vivência religiosa. Aqui é importante assinalar a influência do círculo de amigos, onde os jovens encontram mediadores na aproximação dessas novas alternativas religiosas. PERTENCIMENTO RELIGIOSO E VIDA SOCIAL Já me referi anteriormente a pessoas que assinalam como as religiões oferecem mais um espaço de sociabilidade para os jovens, além da família, da escola, da vizinhança, dos locais de trabalho. Igrejas, templos, salões, terreiros, centros espíritas, sinagogas, mesquitas são lugares de culto, de contato com o sagrado, de estudo sobre a cosmologia de uma determinada religião. Mas também oferecem oportunidade para conhecer outras pessoas, fazer amigos, descobrir parceiros para relacionamentos afetivos. Algumas vezes essas motivações são tão ou mais importantes para que jovens se aproximem de uma experiência religiosa. A propósito da religião muitos jovens têm acesso a oportunidades de lazer: fazem passeios, acampamentos, viagens, assistem (e também participam) a espetáculos religiosos de música, dança, teatro. Outra dimensão dessa experiência juvenil é a possibilidade de circular pela cidade para participar de rituais, espetáculos, estudos, visitar outros grupos. E isso em uma época marcada pela violência e por preocupações com segurança, que restringem o deslocamento nas metrópoles. Outro elemento a destacar é que uma parcela significativa de jovens possui tempo disponível para

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dedicar a atividades religiosas, seja pelas dificuldades de ingressar no mercado de trabalho, em tempos de desemprego estrutural, seja porque ainda não possuem filhos e as responsabilidades associadas a esta situação. A participação em um grupo religioso muitas vezes permite o ingresso em redes de solidariedade que dão suporte emocional e material em situações de dificuldade. Por tudo isso, a religião pode ser um meio de os jovens ampliarem sua rede de sociabilidade e seu universo de conhecimento. No entanto, pode acontecer o inverso, quando os jovens ingressam em grupos religiosos que tendem a fechar-se em si mesmos ocupando todo o tempo livre dos adeptos e reduzindo as oportunidades de outros convívios sociais. É preciso reconhecer que os espaços constituídos em torno de uma identidade religiosa também são lugares de assimetria, de disputa, de lutas de poder e prestígio. E a percepção dessa dinâmica, típica de qualquer organização social, algumas vezes conduz a uma decepção do jovem e ao seu afastamento do grupo religioso. A vivência religiosa tem outras repercussões para os jovens. Nas escolas e universidades alguns jovens chamam a atenção por sua facilidade para falar em público, sustentar argumentações nos debates. Características comuns em jovens que tiveram uma socialização em grupos políticos, em mobilizações sociais. A novidade é perceber que muitas vezes essas capacidades foram adquiridas numa trajetória religiosa. A experiência religiosa tem outros impactos na vida social dos jovens, na adoção de determinados valores e práticas como, por exemplo, a valorização da caridade, da política, da ecologia. Por outro lado, um fenômeno que tem sido observado nas escolas de ensino fundamental e médio é o aumento do número de jovens que adotam uma concepção criacionista, tendo a narrativa bíblica como critério de verdade para explicar a criação do Universo e da humanidade. Cosmovisão que entra em choque com as explicações científicas e têm causado conflitos e embaraços para educadores que respeitam a escolha religiosa de seus alunos e precisam fazer seu trabalho apresentando outras perspectivas. Em geral as instituições religiosas acionam estratégias para atrair os jovens, pois dependem da renovação de seus quadros para continuar existindo. Entre essas estratégias está a atualização de suas mensagens, com a utilização de uma linguagem contemporânea, a flexibilização de exigências no campo do comportamento, a promoção de grandes concentrações, shows, música, a incorporação de estilos musicais associados às culturas juvenis, como o Rock e o Hip Hop, por exemplo. Há inclusive toda uma produção cultural gospel voltada para a juventude ou mesmo produzida pelos próprios jovens. Muitas vezes eles assumem o proselitismo religioso voltado para seus pares. Não obstante essa modernização, os especialistas têm apontado que nem sempre a renovação da forma se estende a concepções religiosas. Desse modo, algumas tradições religiosas continuam afirmando ideias produzidas em outros contextos histórico-culturais e exigindo dos jovens condutas compatíveis com esses

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Ciências Humanas e suas Tecnologias ensinamentos. Um caso exemplar encontra-se nos discursos sobre moral sexual e práticas reprodutivas proferidos pelo líder mundial do catolicismo durante sua recente visita ao Brasil. Aqui cabe assinalar que na vida cotidiana pode existir um hiato entre as doutrinas oficiais e as práticas efetivas dos fiéis, e isso é comum no campo da sexualidade. Este conjunto de indicações mostra que os jovens têm recriado continuamente suas formas de relacionamento com a religião, e têm feito uma experiência profunda do sagrado, dentro ou fora de instituições religiosas. Experiência que permite a construção de identidades coletivas e tem repercussões significativas em sua vida. (Revista Sociologia. “Nova Trindade: Busca, Fé e Questionamento”. Ano 1. Nº 2. São Paulo: Editora Escala, 2007. pp. 67-73)

FIQUE LIGADO NO ENEM! • A religião influencia de diversas maneiras a forma pela qual vemos o mundo e reagimos ao meio que nos rodeia. Clifford Geertz afirma que a religião é sociologicamente interessante não porque descreve a ordem social, mas porque a modela. Ou seja, ela não apenas é fruto de determinada sociedade, como também interfere no modo de pensar, agir e sentir de seus indivíduos. • Um desafio importante para a imaginação sociológica: ao analisar as práticas, temos de interpretar crenças e rituais diferentes em diversas culturas; ao estudar o papel social da religião, temos de ser sensíveis aos ideais que inspiram as convicções dos seguidores e reconhecer a diversidade de crenças religiosas variadas. • Apesar das diferenças, o ponto comum entre todas as religiões é que elas implicam um conjunto de símbolos e rituais que são realizados coletivamente. Segundo Durkheim, as crenças permanecem apenas se partilhadas. É assim que elas nascem e são adquiridas por meio da convivência em sociedade. Aqueles que verdadeiramente têm fé saem do isolamento e se aproximam dos outros para convencê-los. É essa força de suas convicções que mantém a fé, pois sozinha, ela enfraqueceria. • Cada povo tem nas crenças religiosas um fator de estabilidade, de aceitação da hierarquia social e de obediência às normas que a sociedade considera necessárias para a manutenção do equilíbrio social. Por isso, a religião desempenhou quase sempre uma função social estabilizadora. • Em geral as instituições religiosas acionam estratégias para atrair os jovens, pois dependem da renovação de seus quadros para continuar existindo. Entre essas estratégias está a atualização de suas mensagens, com a utilização de uma linguagem contemporânea, a flexibilização de exigências no campo do comportamento, a promoção de grandes concentrações, shows, música, a incorporação de estilos musicais associados às culturas juvenis. • A experiência religiosa tem outros impactos na vida social dos jovens, na adoção de determinados valores e práticas como, por exemplo, a valorização da caridade, da política, da ecologia.

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UNIDADE 23 O ESTADO Quando uma pessoa tem seu Imposto de Renda retido na fonte – ou quando compra determinado produto (alimento, roupas, calçados) –, está sendo tributada, isto é, está pagando impostos ao Estado. No primeiro caso, o imposto é direto, porque incide diretamente sobre o salário da pessoa. No segundo caso, é indireto, porque quem o recolhe é o comerciante, por meio do ICMS (Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços), ou o fabricante, por meio do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados). Os tributos representam o recolhimento de recursos financeiros provenientes de pessoas físicas (indivíduos) e pessoas jurídicas (empresas) pelo Estado. Esses recursos servem para que o Estado mantenha sua máquina administrativa (funcionários, forças armadas, polícia, juízes, deputados, senadores, etc.), faça investimentos de infraestrutura (saneamento básico, estradas, hidrelétricas) e preste os serviços sociais básicos à população (escolas e hospitais públicos, previdência social, etc.). O recolhimento de tributos só é possível porque os integrantes da sociedade reconhecem que o Estado tem esse direito e porque o Estado detém um forte poder de coerção. Esse poder permite ao governo (que é uma das instâncias do Estado) recorrer a várias formas de pressão (multas, processos judiciais, prisão, etc.) para fazer valer seu direito de cobrar impostos. O MONOPÓLIO DA FORÇA LEGÍTIMA Segundo o sociólogo Max Weber, o Estado é a instituição social que dispõe do monopólio do emprego legítimo da força sobre um determinado território. A expressão “legítimo” pressupõe que o Estado tem o direito de recorrer à força sempre que isso seja necessário, e que esse direito é reconhecido pela sociedade sobre a qual esse Estado exerce seu poder. É diferente, por exemplo, da violência utilizada por malfeitores, considerada ilegítima. Nas democracias modernas, a lei confere ao Estado o direito de recorrer a várias formas de pressão, inclusive à violência, para que suas decisões sejam obedecidas. Esse direito é geralmente executado por oficiais de justiça e policiais em cumprimento de ordens judiciais determinadas pelos detentores do poder Judiciário, um dos poderes do Estado.

O PODER DO ESTADO Segundo ainda Max Weber, o termo poder, em sentido amplo, designa “a probabilidade de impor a própria vontade dentro de uma relação social, mesmo contra toda resistência”. Poder significa, assim, a probabilidade de


Sociologia alguém se fazer obedecer por outra pessoa. Ter poder é conseguir impor a própria vontade de outros indivíduos. Nas democracias representativas, o poder do Estado tem por base uma Constituição livremente elaborada e aprovada por uma assembleia de pessoas eleitas com essa finalidade, a Assembleia Constituinte. O Estado assim organizado é chamado de Estado de direito, pois nele ninguém está acima da lei. Segundo a tradição instaurada pela independência dos Estados Unidos (1776), o poder nesse tipo de Estado não está centralizado nas mãos de um único governante, nem mesmo de um só conjunto de instituições. Na verdade, ele se distribui entre três conjuntos, que integram a instituição maior do Estado. São eles, os poderes Executivo (governo, administração pública, forças armadas, prefeituras), Legislativo (Congresso Nacional, Assembleias Legislativas e Câmaras de Vereadores) e Judiciário (órgãos da Justiça). Em virtude de seu monopólio da força legítima, o estado detém o poder supremo na sociedade. Ele reserva para si o direito de impor e de obrigar aqueles que discordam de suas decisões a cumprirem a lei. Qualquer outro uso da força ou coerção – por bandos criminosos, soldados amotinados, grupos rebeldes – é ilegítimo e coibido pelo Estado. Quando o estado não consegue eliminar tais focos de violência e desrespeito à lei, perde sua característica principal, a de fazer cumprir a lei, e, a longo prazo, corre o risco de deixar de existir. Isso ocorre, sobretudo quando ele não consegue debelar uma revolução ou uma insurreição, ou quando não pode impedir que certas áreas do seu território fiquem a mercê de bandidos, como acontece hoje em algumas favelas de Rio de Janeiro. No primeiro caso, um grupo de revolucionários assume o poder e funda um novo tipo de Estado, como ocorreu na França, entre 1789 e 1793, e na Rússia, em 1917. No segundo caso, forma-se um “poder paralelo” ao do Estado que pode ser mais ou menos forte segundo as circunstancias. ALGUNS COMPONENTES DO ESTADO O Estado é essencialmente um agente de controle social. Difere de outras instituições – como a família e a instituição religiosa, que também exercem controle – na medida em que tem poder para regular as relações entre todos os membros da sociedade. Os três componentes mais importantes do Estado são: • Território – constitui sua base física, sobre a qual ele exerce sua jurisdição; •

População – é composta dos habitantes do território, que forma a base física e geográfica do Estado.

Instituições políticas – entre estas sobressaem os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário; o núcleo do poder do Estado, contudo, está nas mãos do governo – grupo de pessoas colocadas à frente dos órgãos administrativos e que exercem temporariamente o poder público em nome da sociedade.

ESTADO E NAÇÃO

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Embora sejam às vezes utilizados como sinônimos, existem grandes diferenças entre os conceitos de Estado e de nação. A nação é um conjunto de pessoas ligadas entre si por laços permanentes de idioma, tradições, costumes e valores; é anterior ao Estado, podendo existir sem ele. Já um Estado pode compreender várias nações, como é o caso do Reino Unido (ou Grã-Bretanha, formada pela Escócia, Irlanda do Norte, País de Gales e Inglaterra). Por outro lado, como vimos, podem existir nações sem Estado, como acontecia com os judeus antes da criação do Estado de Israel e ainda ocorre hoje com os palestinos, os curdos e os ciganos. ESTADO E GOVERNO Para alguns autores, como Alain Birou em seu Dicionário das Ciências Sociais, “o Estado é a organização política da comunidade histórica que constitui a nação”. O Estado é, portanto, uma nação com um conjunto de instituições políticas, entre as quais um governo. Ou ainda: “é a nação politicamente organizada”. Governo e Estado, por sua vez, não são a mesma coisa. O Estado é uma instituição social permanente, ou de longa duração – o estado monárquico constitucional na Inglaterra, por exemplo, subsiste desde 1688, quando ocorreu a Revolução Gloriosa, que estabeleceu a Carta de Direitos, pela qual é o Parlamento, e não o rei (ou a rainha), que exerce o poder. O governo, em contrapartida, é apenas um componente transitório do Estado. Assim, pode-se dizer que “o governo muda, mas o Estado continua”. Como o Estado é uma entidade abstrata, que não tem “querer” nem “agir” próprios, o governo (grupo de pessoas) age em seu nome. Por exemplo: a Presidência da República é um órgão fundamental do Estado brasileiro desde 1889. O presidente da República, eleito para um mandato de quatro anos, age em nome do Estado, e não em nome de um partido ou de grupos políticos. Nas democracias, como vimos, a base de organização do Estado é sua Constituição – conjunto de leis que ordena o Estado, estabelece as normas referentes aos poderes públicos e afirma direitos e deveres dos cidadãos –, à qual se submetem igualmente governantes e governados. É a Constituição que atribui legitimidade aos governos das sociedades democráticas. O não cumprimento da Carta constitucional torna os governantes ilegítimos e passíveis de serem destituídos. Isso ocorreu no Brasil em 1992, quando o presidente Fernando Collor de Mello foi obrigado a renunciar para não sofrer uma ação de impeachment (impedimento, ou afastamento do cargo), em razão das evidências de que havia cometido atos de corrupção, violando assim os princípios constitucionais. Uma das exigências da democracia é que haja independência e harmonia entre os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Cada um deles deve fiscalizar o outro, de modo a garantir que as leis e regras que regulam a vida dos cidadãos sejam efetivamente aplicadas. Por exemplo, se uma pessoa for presa indevidamente pela polícia, pode recorrer ao poder Judiciário para obter sua

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Ciências Humanas e suas Tecnologias liberdade por meio de um habeas corpus (expressão latina que significa “tenha o seu corpo”). O habeas corpus estabelece que nenhuma pessoa pode ser presa sem causa formada, ou sem flagrante delito. Em contrapartida, se as leis de um país não são mais adequadas ao seu funcionamento, cabe ao poder Legislativo criar novas leis ou modificar as existentes. FORMAS DE GOVERNO • • •

Resumindo, os três poderes do Estado são: Executivo – incumbido de executar as leis; Legislativo – encarregado de elaborar as leis; Judiciário – responsável pela distribuição de justiça e pela interpretação da Constituição.

O governo, por sua vez, pode adotar as seguintes formas: • Monarquia – o governo é exercido por uma só pessoa (o rei ou a rainha), que herda o poder e o mantém até a morte; • República – o poder é exercido por representantes do povo eleitos periodicamente pelos cidadãos. Atualmente, em certos países da Europa, como GrãBretanha, Espanha, Suécia e Noruega, a forma de governo é monárquica, mas os reis têm apenas um papel simbólico e protocolar, cabendo ao Parlamento, cujos representantes são democraticamente eleitos, o exercício efetivo do poder. São as chamadas monarquias constitucionais. Por sua vez, nas repúblicas modernas há dois tipos de regime: o parlamentarista e o presidencialista. Nos países em que foi instituído o regime presidencialista, a escolha do presidente é feita direitamente pelos eleitores. Esse modelo de democracia funciona em países como o Brasil, a Argentina, os Estados Unidos, o Chile e o México. Já nos regimes parlamentaristas os eleitores elegem seus representantes no Parlamento e cabe unicamente a estes a escolha dos membros do poder Executivo. O regime parlamentarista é aplicado especialmente na Europa, tanto em repúblicas como Portugal e Itália quanto em monarquias como a Grã-Bretanha e a Suécia. (OLIVEIRA, Pérsio Santos de. Introdução à Sociologia. São Paulo: Editora Ática, 2011. pp. 224-230)

FIQUE LIGADO NO ENEM! • Nas democracias representativas, o poder do Estado tem por base uma Constituição livremente elaborada e aprovada por uma assembleia de pessoas eleitas com essa finalidade, a Assembleia Constituinte. O Estado assim organizado é chamado de Estado de direito, pois nele ninguém está acima da lei. • Nas democracias, a base de organização do Estado é sua Constituição – conjunto de leis que ordena o Estado, estabelece as normas referentes aos poderes públicos e afirma direitos e deveres dos cidadãos –, à qual se submetem igualmente governantes e governados. • O Estado é essencialmente um agente de controle social. Difere de outras instituições – como a família e a instituição

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religiosa, que também exercem controle – na medida em que tem poder para regular as relações entre todos os membros da sociedade. • Os três componentes mais importantes do Estado são: território, população e Instituições políticas. • Governo e Estado não são a mesma coisa. O Estado é uma instituição social permanente, ou de longa duração. O governo, em contrapartida, é apenas um componente transitório do Estado. • Os três poderes do Estado são: executivo, legislativo e judiciário. • Nas repúblicas modernas há dois tipos de regime: o parlamentarista e o presidencialista. Nos países em que foi instituído o regime presidencialista, a escolha do presidente é feita direitamente pelos eleitores. Já nos regimes parlamentaristas os eleitores elegem seus representantes no Parlamento e cabe unicamente a estes a escolha dos membros do poder Executivo.

UNIDADE 14 ESTRATIFICAÇÃO E MOBILIDADE SOCIAL CAMADAS SOCIAIS A expressão estratificação deriva de estrato, que quer dizer “camada”. Por estratificação social entendemos a distribuição de pessoas e grupos em camadas hierarquicamente superpostas dentro de uma sociedade. Essa distribuição se dá pela posição social dos indivíduos, das atividades que eles exercem e dos papéis que desempenham na estrutura social. Assim, podemos dizer que, em certas sociedades as pessoas a elas pertencentes estão distribuídas entre as camadas alta (classe A), média (classe B) ou inferior (classe C), que correspondem a graus diferentes de poder, riqueza e prestígio. Na sociedade capitalista contemporânea, as posições sociais são determinadas basicamente pela situação dos indivíduos no desempenho de suas atividades produtivas. Dessa forma, os grandes empresários, donos de terras, banqueiros e grandes comerciantes estão no topo da sociedade, por disporem de uma grande quantidade de capital ou de meios de produção. Eles compõem o grupo popularmente conhecido como “os ricos”, ou “a classe rica”. Em contrapartida, os trabalhadores estão na base inferior da sociedade por disporem unicamente de sua força de trabalho, e não de capital ou meios de produção. Entretanto, dentro dessa mesma sociedade os indivíduos podem desempenhar outros papéis e alcançar novas posições sociais, relacionadas com a religião que praticam, o partido político em que militam, as funções sociais que desempenham, a profissão que exercem e outras atividades. Esses diferentes papéis estão interligados. Entretanto, para efeitos didáticos, vamos começar por separá-los e classificá-los. TIPOS DE ESTRATIFICAÇÃO


Sociologia

Estratificação econômica. Definida pela posse de bens materiais, cuja distribuição pouco equitativa faz com que haja pessoas ricas, pobres e em situação intermediária. Estratificação política. Estabelecida pela posição de mando na sociedade (grupos que têm poder e grupos que não têm). Geralmente o poder econômico é convertido em poder político. Estratificação profissional. Baseada nos diferentes graus de importância atribuídos a cada profissional pela sociedade. Como já sabemos, os aspectos econômico, político, social e cultural de uma sociedade estão interligados, bem como os vários tipos de estratificação. No entanto, ao longo da história, o aspecto econômico tem sido mais determinante do que os outros no processo de estratificação social e na caracterização da sociedade. A ESTRATIFICAÇÃO ECONÔMICA Para tornar mais clara a estratificação econômica numa sociedade, vamos recorrer a dois critérios de referência. 1. Reunimos as pessoas em grupos conforme seu nível de renda. 2. Dividimos os grupos em camadas hierarquizadas, isto é, uma superior, uma intermediária e uma inferior. Obtemos assim o quadro geral de uma estratificação econômica baseada em faixas de renda. • Grupo ou camada A – pessoas de renda alta. • Grupo ou camada B – pessoas de renda média. • Grupo ou camada C – pessoas de renda baixa. Na figura a seguir, temos uma pirâmide social dividida em estratos, segundo o critério de “nível de renda”. Na camada de baixo, a mais ampla, estão representados os indivíduos de baixa renda, o grupo ou camada C. No topo, no estrato mais estreito, estão representadas as pessoas de maior renda, que pertencem ao grupo A. Na camada intermediária estão incluídas as de renda média, que pertencem ao grupo B. Grupo A

Grupo B

(OLIVEIRA, Pérsio Santos de. Introdução à Sociologia. São Paulo: Editora Ática, 2011. pp. 170-171)

FAIXAS SALARIAIS X CLASSE SOCIAL - QUAL A SUA CLASSE SOCIAL? Há vários critérios para definir classes sociais, sem uma predileção específica na literatura. Saiba mais sobre dois dos critérios mais utilizados: o critério brasil e o critério por faixas de salários-mínimo. Atualmente, muitas e muitas pesquisas sobre consumo costumam relatar hábitos segundo as classes sociais. Entretanto, a metodologia de cálculo e caracterização de cada uma das classes é bastante difusa e há, atualmente, pelo menos duas visões relevantes: (1) ABEP - Associação Brasileiras de Empresas de Pesquisa, mais conhecida como Critério Brasil. (2) IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, utilizado no censo populacional. Critério Brasil - ABEP e o Critério de Classificação Econômica Brasil (CCEB) usado a partir de 2008 A visão da ABEP é a utilizada pela maioria dos institutos de pesquisa. Segundo a ABEP, o Critério de Classificação Econômica Brasil (CCEB) é um instrumento de segmentação econômica que utiliza o levantamento de características domiciliares (presença e quantidade de alguns itens domiciliares de conforto e grau escolaridade do chefe de família) para diferenciar a população. O critério atribui pontos em função de cada característica domiciliar e realiza a soma destes pontos. É feita então uma correspondência entre faixas de pontuação do critério e estratos de classificação econômica definidos por A1, A2, B1, B2, C1, C2, D, E. CORTES DO CRITÉRIO BRASIL Classe A1 A2 B1 B2 C1 C2 D E

Pontos 42-46 35-41 29-34 23-28 18-22 14-17 8-13 0-7

Grupo C

ABEP – Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa – 2011 – www.abep.org – abep@abep.org

A pirâmide da ilustração mostra graficamente a estratificação social de uma sociedade, ou seja, como ela está dividida em estratos ou camadas sociais. Dependendo do tipo de sociedade, esses estratos ou camadas podem ser organizados em: • Castas (como ocorre na Índia) • Estamentos ou estados (Europa durante o feudalismo) • Classes sociais (sociedades capitalistas) Cada uma destas formas de estratificação tem características próprias.

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Dados com base no Levantamento Sócio Econômico 2009 IBOPE

Critério do IBGE para definição de classes sociais A visão do IBGE, baseada no número de salários mínimos, é mais simples e divide em apenas cinco faixas de renda ou classes sociais, conforme a tabela abaixo válida para o ano de 2014 (salário mínimo em R$ 725).

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Ciências Humanas e suas Tecnologias Esta tabela foi obtida a partir de vários artigos sobre classes sociais nas pesquisas do IBGE divulgados na imprensa e é parecida com a visão da FGV. Classe

Salários Mínimos (SM)

Renda Familiar (R$)

A B C D E

Acima 20 SM 10 a 20 SM 4 a 10 SM 2 a 4 SM Até 2 SM

R$14.500 ou mais De R$7.250,00 a R$14.499,99 De R$2.900,00 a R$7.249,99 De R$1.450,00 a R$2.899,99 Até R$1.449,99

Declarações de IR por faixa de renda - ano calendário 2013 Riqueza em bens Nº de Faixa de rendimento e direitos (em R$ declarantes bilhões) Até 1/2 salário mínimo 1.268.688 91,710 (1,6%) 1/2 a 1 salário mínimo 518.341 28,848 (0,5%) 1 a 2 salários mínimos 1.075.827 63,828 (1,1%) 2 a 3 salários mínimos 2.692.915 162,665 (2,8%) 3 a 5 salários mínimos 7.882.026 489,764 (8,4%) 5 a 10 salários mínimos 7.300.376 757,644 (13%) 10 a 20 salários mínimos 3.522.174 863,635 (14,8%) 20 a 40 salários mínimos 1.507.344 946.215 (16,2%) 40 a 80 salários mínimos 518.567 703,606 (12,1%) 80 a 160 salários mínimos 136.718 453,223 (12,1%) 1.264,340 > 160 salários mínimos 71.440 (21,7%) 26.494.41 5.825,478 Total 6 (100%)

Pirâmide de Renda no Brasil (Segundo semestre de 2013)

(http://g1.globo.com/economia/noticia/2015/08/71-mil-brasileirosconcentram-22-de-toda-riqueza-veja-dados-da-receita.html)

MOBILIDADE SOCIAL

http://blog.thiagorodrigo.com.br/index.php/faixas-salariais-classe-socialabep-ibge?blog=5

71 MIL BRASILEIROS CONCENTRAM 22% DE TODA RIQUEZA; VEJA DADOS DA RECEITA Esta elite representa 0,3% dos declarantes do imposto de renda em 2013. Nº refere-se a pessoas com renda mensal superior a 160 salários mínimos. Que o Brasil é um país desigual estamos cansados de ouvir. Dados das declarações de imposto de renda divulgados neste mês pela Receita Federal ajudam a conhecer melhor a distribuição de renda e riqueza no país e mostram que menos de 1% dos contribuintes concentram cerca de 30% de toda a riqueza declarada em bens e ativos financeiros. De 2012 para 2013, o número de brasileiros com renda mensal superior a 160 salários mínimos (maior faixa da pirâmide social pelos critérios da Receita) caiu de 73.743 para 71.440. Esta pequena elite - que corresponde a 0,3% dos declarantes de IR - concentrou, em 2013, 14% da renda total e 21,7% da riqueza, totalizando rendimentos de R$ 298 bilhões e patrimônio de R$ 1,2 trilhão. Isso equivale a uma renda média individual anual de R$ 4,17 milhões e uma riqueza média de R$ 17 milhões por pessoa. Se adicionarmos a este grupo aqueles com renda mensal acima de 80 salários mínimos, chega-se a 208.158 brasileiros (0,8% dos contribuintes), que respondem sozinhos por 30% da riqueza total declarada à Receita.

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Alguns indivíduos, numa sociedade capitalista aberta, podem chegar a ocupar diferentes posições sociais (ou estratos) durante sua existência. Assim, pessoas que integram o estrato de baixa renda (camada C) podem eventualmente ascender ao estrato de renda média (camada B) ou, mais raramente, ao de renda alta (camada A). Em contrapartida, pessoas da camada A podem ter sua renda diminuída, passando a integrar as camadas B ou C. Do ponto de vista sociológico, os dois fenômenos são caracterizados como manifestações de mobilidades social. Mobilidade social é a mudança de posição social, ou seja, de status, de uma pessoa (ou grupo de pessoas) num determinado sistema de estratificação social.

TIPOS DE MOBILIDADE SOCIAL Quando as mudanças de posição social ocorrem no sentido ascendente ou descendente na hierarquia social, dizemos que a mobilidade social é vertical. Quando a mudança de uma posição social a outra se opera dentro da mesma camada social, diz-se que houve mobilidade social horizontal. A mobilidade social vertical pode ser: •

Ascendente ou de ascensão social – quando a pessoa melhora sua posição no sistema de estratificação social, passando a integrar um grupo economicamente superior a seu grupo anterior; Descendente ou de queda social – quando a pessoa piora de posição no sistema de estratificação, passando a integrar um grupo economicamente inferior.

O filho de um operário que, por meio do estudo, passa a fazer parte da classe média é um exemplo de ascensão social, ou de mobilidade social ascendente. Em contrapartida, a falência e o conseqüente empobrecimento


Sociologia de um comerciante é um exemplo de queda social, ou mobilidade descendente. Assim, tanto a subida quando a descida na hierarquia social são manifestações de mobilidade social vertical. Uma pessoa se muda do interior para a capital. No interior, ela defendia idéias políticas conservadoras; agora, na capital, sob novas influencias, passa a defender as ideias de um partido progressista. Seu nível de renda, porém, não se alterou substancialmente. A situação mostra uma pessoa que experimentou alguma mudança de posição social, mas que, apesar disso, permaneceu no mesmo estrato social. Assim, a mudança de uma posição social dentro da mesma camada social caracteriza-se como mobilidade social horizontal. O fenômeno da mobilidade social varia de uma sociedade para outra. Em algumas sociedades ela ocorre mais facilmente; em outras, praticamente inexiste no sentido vertical ascendente. É mais fácil ascender socialmente nos Estados Unidos, por exemplo, do que no interior da Índia, ainda dominado pela estratificação social em castas. A mobilidade social ascendente é mais freqüente numa sociedade democrática aberta, que estimula e enaltece a escalada rumo ao topo de indivíduos de origem humilde – como nos Estados Unidos –, do que numa sociedade de tradição aristocrática, com ao Inglaterra. Neste caso, temos duas sociedades democráticas, uma com tradições de sociedade estamental (a Inglaterra), a outra sem essa tradição (os Estados Unidos, país que não conheceu o feudalismo, pois foi formado entre a Idade Moderna e a idade Contemporânea). Entretanto, vale esclarecer que, mesmo na sociedade capitalista mais aberta, a mobilidade social vertical não ocorre de maneira igual para todos os indivíduos. A ascensão social depende muito da origem de classe de cada indivíduo, ou mesmo de sua origem étnica. No Brasil, as pessoas brancas pertencentes às camadas sociais mais elevadas têm mais oportunidades e condições de se manter nesse nível, ascender ainda mais e se sair melhor do que as originárias das classes inferiores, sobretudo se são negras. Isso pode ser facilmente verificado no caso dos jovens que pretendem fazer algum curso superior. Aqueles que, desde o início de sua vida escolar, freqüentaram boas escolas e, além disso, estudaram em cursinhos preparatórios de boa qualidade, têm mais possibilidades de aprovação nos vestibulares das universidades públicas e privadas do que os jovens provenientes de classes de baixa renda. (OLIVEIRA, Pérsio Santos de. Introdução à Sociologia. São Paulo: Editora Ática, 2011. pp. 179-183)

ESTUDO TRAÇA DIAGNÓSTICO DA MOBILIDADE SOCIAL NO PAÍS E SUA INTERFACE COM A EDUCAÇÃO O Brasil tem uma das sociedades mais desiguais do mundo. Desde os anos 1960, o país lidera o ranking de pior distribuição de renda entre todos os países da América Latina. Mas os indicadores de renda são apenas

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uma das faces da desigualdade social. Pesquisa coordenada pelo professor Carlos Antonio Costa Ribeiro, do Instituto Universitário de Pesquisas do Estado do Rio de Janeiro (Iuperj) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), ressalta que a pobreza e a riqueza também são uma consequência da desigualdade de oportunidades, que variam de acordo com critérios como classe social, gênero e cor, e traça um perfil da mobilidade social da população brasileira. Com o apoio da Faperj por meio do edital Jovem Cientista do Nosso Estado, o professor está concluindo a análise estatística de dados que revelam aspectos do processo de estruturação das desigualdades no país, coletados – a pedido do Iuperj – pelo Ibope-Inteligência. O levantamento foi feito em 8.048 domicílios em todo o país, de todas as classes sociais, entre setembro e outubro de 2008. “O objetivo do trabalho é analisar a dinâmica da desigualdade no Brasil, que está relacionada à mobilidade social, ou seja, à capacidade de ascensão social do indivíduo, considerando a sua trajetória desde a família de origem até a formação de um novo núcleo familiar com o casamento”, diz Costa Ribeiro. De acordo com o sociólogo, existem dois tipos de desigualdade. “Existe a chamada desigualdade de condições, que diz respeito aos diferentes níveis de renda, e a chamada desigualdade de oportunidades, que se refere às chances que uma pessoa tem de mudar de posição na sociedade ao longo das gerações familiares e ao longo do seu ciclo de vida”, explica. “Alguns têm mais chance de sobreviver na infância, de entrar e terminar a escola, de ter boa ocupação no mercado de trabalho. Esse processo de reprodução ou de superação das desigualdades é o tema do estudo.” Para o pesquisador, a desigualdade de condições pode até ser um mecanismo saudável da sociedade, já que parte das desigualdades salariais é associada às diferenças de remuneração entre as carreiras profissionais. No entanto, a desigualdade de oportunidades sempre é injusta, pois contribui para reproduzir a pobreza. “Dizer que o filho de um médico deve ter mais chances de se tornar médico do que o filho de um faxineiro é antidemocrático por si só. Todos deveriam ter oportunidades iguais de escolher a carreira que quisessem, se tivessem as mesmas oportunidades de saúde e educação”, pondera. HERANÇAS DA DESIGUALDADE Apesar dos altos níveis de desigualdade econômica e de pobreza no Brasil – os 10% mais ricos desfrutam de um nível de renda cerca de 25 vezes maior do que o nível de renda dos 40% mais pobres –, as chances de mobilidade social estão melhorando. “Na década de 1970, o filho de um profissional liberal urbano tinha mil vezes mais chances do que o filho de um trabalhador manual de se tornar um profissional liberal. Já a partir da década de 1990, essa probabilidade foi declinando e passou para 250”, diz Ribeiro, justificando a ligeira redução da desigualdade de oportunidades devido a fatores como a melhoria de acesso ao sistema educacional.

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Ciências Humanas e suas Tecnologias Segundo a pesquisa, os pais da classe média alta têm muito mais recursos para propiciar melhores oportunidades a seus filhos, o que faz com que eles continuem no topo da pirâmide social. Porém, mudanças na estrutura da sociedade brasileira permitiram o crescimento dessa elite nos últimos anos, devido à ascensão social de pessoas originárias de classes sociais inferiores. “Nos anos 1970, cerca de 5% da população brasileira pertencia à classe média alta. Hoje, já são 14%. Essa mudança na estrutura de classes da sociedade é chamada de mobilidade estrutural, que é um fenômeno típico de sociedades que se industrializaram muito rápido”, explica Costa Ribeiro. Ele ressalta, entretanto, que a maioria das pessoas que tem origem familiar nas classes sociais baixas permanece nelas durante a fase adulta. O estudo comprovou também que o acesso à boa educação formal, um fator que influencia diretamente nas oportunidades que o jovem terá na vida adulta, está em grande medida associado à origem econômica da família. “Os jovens que estudaram na escola privada ou pública federal, por ser de famílias ricas ou até de famílias um pouco menos favorecidas, mas que decidiram investir tudo na educação dos filhos, têm muito mais chances de ingressar na universidade pública do que aqueles que estudaram em uma escola pública não federal, seja ela da rede estadual ou municipal”, destaca o professor, lembrando que a educação é um trampolim para a ascensão social, mas está associada à posição da família. Outro aspecto apresentado pelo levantamento relaciona a entrada do jovem no mercado de trabalho às classes sociais da família de origem. “Os jovens de famílias de classe média costumam demorar mais para entrar no mercado de trabalho, porque gastam mais tempo se qualificando, ou combinam menos trabalho com estudo”, diz o professor. “Além da renda familiar, as redes de sociabilidade, que incluem as relações familiares e de amizade no trabalho, por exemplo, podem ter algum impacto na conquista de melhores empregos e na melhoria das condições de vida”, completa. A análise de dados confirmou que ainda existem diferenças de acesso à educação e de progressão no sistema escolar entre homens e mulheres. “O levantamento mostrou uma inversão na desigualdade educacional de gênero. As meninas hoje têm mais chance de progredir na escola do que os meninos porque, em geral, estudam mais. Mas, na fase adulta, apesar de trabalharem o mesmo número de horas do que os homens e ainda se dedicarem à família, à casa e ao marido, recebem uma renda inferior”, informa. Para o professor, a desigualdade racial no país está diminuindo, embora ainda haja mais chances para os brancos de completar os anos de transição dentro do sistema educacional. “Brancos e não brancos (pretos e pardos) que têm origem nas classes sociais mais baixas têm chances iguais, porém ruins, de ter mobilidade social. Já nas posições mais altas da hierarquia social, os brancos têm mais chance de permanecer lá ou de subir um pouco mais”, destaca. “Pretos e pardos, em geral, ganham menos”, conclui.

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http://www.revistapontocom.org.br/materias/estudo-traca-diagnosticoda-mobilidade-social-no-pais-e-sua-interface-com-a-educacao

A VOLTA DA MOBILIDADE SOCIAL

A mobilidade social representou um dos principais charmes do desenvolvimento capitalista no Brasil. Desde a década de 1930, observa-se que a maior expansão econômica acabou sendo acompanhada por importante movimento de ascensão social. Mas isso não significou, porém, um processo homogêneo para toda a população. Ainda que desigual, a mobilidade social inter e intrageracional permitiu que, em geral, a maior parte da população registrasse melhoras relativas no padrão de vida. Uma boa imagem da ascensão social desigual do passado pode ser a da subida de pessoas em um determinado edifício, com uma parcela pequena tendo acesso pelo elevador e a maior parte subindo gradualmente pela escada. Assim, os filhos dos ricos ficavam mais ricos que seus pais, bem como os filhos dos pobres se tornavam menos pobres que seus pais. Tudo isso, contudo, sofreu forte impacto a partir da crise da dívida externa (1981-1983), quando o país abandonou o projeto de industrialização nacional. O resultado foi o ingresso numa nova fase de baixo dinamismo econômico que terminou impondo, por consequência, o descenso na antiga trajetória de mobilidade social. A década de 1990 estabeleceu, de forma intensa, a maior dificuldade da progressão social, tornando complexa a reprodução dos filhos em melhores condições do que seus pais. Nesse sentido, a expressão de um país com a estrutura social congelada ganhou maior dimensão. Essa trajetória de relativa imobilidade apresentou significativa inflexão a partir de 2005, quando a ascensão social voltou a fazer parte da vida de milhões de brasileiros. Com isso, a estrutura social brasileira recuperou novamente o movimento de passagem de segmentos sociais de baixa renda para estratos de rendimentos intermediários e superiores. Entre 2005 e 2008, por exemplo, o segmento de baixa renda, que representava quase 33,7% da população nacional, passou para apenas 26% dos brasileiros. No estrato de rendimento intermediário, registra-se a passagem de 34,9% para 37,4% da população, enquanto o segmento de renda superior saltou de 31,5% para 36,6% no mesmo período de tempo. Destaca-se também que o desempenho recente da mobilidade social ainda se manifesta de forma desigual. Mais de dois terços dos que ascenderam socialmente são majoritariamente não brancos, residentes na região Nordeste e em pequenas cidades, com emprego assalariado, não necessariamente formal, e de baixa escolaridade. Também tem importância o acesso aos mecanismos de garantia de renda, que têm permitido melhorar a condição de vida das faixas etárias precoces e mais avançadas. Para quase um terço da população com maior avanço social, contudo, as características pessoais se apresentaram diferenciadamente. De maneira geral, os


Sociologia segmentos populacionais mais beneficiados são brancos, moradores da região Sudeste, sobretudo em regiões metropolitanas, com emprego assalariado formal, maior escolaridade e pertencentes à faixa etária de 25 a 44 anos de idade. Ademais da distinta caracterização pessoal dos segmentos populacionais incluídos pelo movimento de ascensão social, observa-se a importância de quesitos habitacionais presentes entre os indivíduos mais dinâmicos. Nota-se, por exemplo, que entre os diferentes segmentos populacionais com acesso ao saneamento e à habitação própria estão os mais dinâmicos. Outro aspecto que acompanha o movimento recente de ascensão social tem sido a ampliação do consumo de massa. No caso de bens de consumo duráveis com maior valor unitário, como no caso da geladeira, fogão, televisão e telefone, observa-se o sentido da homogeneização do padrão de consumo, salvo ainda pela diferenciação na posse de automóvel, máquina de lavar e telefone celular. Este último, por sinal, registrou mais forte difusão entre a população. A volta da ascensão social no Brasil aponta para uma sociedade de consumo de massa, ainda que constrangida pela desigualdade na mobilidade. De todo modo, o Brasil deixa para trás os sinais de uma estrutura social piramidal para assumir cada vez mais a figura de uma pera. A formação de novas elites, como aquelas de raça não brancas, indica a força do protagonismo de sociedade plural em movimento. (http://ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article& id=521)

A DESIGUALDADE DE RENDA E A MOBILIDADE SOCIAL NO BRASIL Textos anteriores publicados na Carta Maior ilustraram uma visão diferenciada, não convencional, sobre a relação entre desigualdade e mobilidade incluindo o papel da educação como veículo de ascensão social. A relação mostra que a desigualdade resulta da ação conjunta das estruturas salariais e de rendimentos estabelecidas no mercado bem como da colocação e mobilidade dos indivíduos nessas estruturas. Ao que se conclui que tanto a desigualdade quanto a mobilidade depende menos da formação educacional e do voluntarismo dos empregados e candidatos a empregos do que as estratégias dos agentes de mercado em fixarem suas estruturas ocupacionais e as respectivas remunerações. De fato, o mercado dá com uma mão e retira com a outra. Texto acadêmico explicitando essa relação encontra-se em avaliação para publicação em conhecido periódico do país da área econômica. Alguns resultados, no entanto, serão adiantados sobre uma análise preliminar da situação brasileira - preliminar porque pesquisa em andamento no Núcleo de Estudos de Políticas Públicas (NEPP)/Unicamp vai usar dados mais detalhados fornecidos pelo IBGE. Os dados disponíveis, agregados, até agora utilizados vieram dos Censos de 60, 70 e 80 e das PNADS (Pesquisas Nacionais por Amostras de Domicílios) de 2001 e 2011.

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Foram avaliadas as distribuições de renda dos indivíduos nos dois períodos acima considerados. Embora os levantamentos dos censos e das pnads tenham coberturas um pouco diferentes, eles podem ser comparados nos casos em que se tomam os grandes números, no caso a população apta ao trabalho, incluídos os sem rendimentos. A metodologia não convencional utilizada apresentou resultados convergentes com as usuais: os índices de desigualdade calculados sobem de 60 a 80 e descem de 2001 a 2011. Quanto aos componentes da desigualdade os resultados mostram que nos dois períodos é maior o peso das estruturas ocupacionais. As diferenças de rendas contam menos na evolução da desigualdade no Brasil do que a colocação dos indivíduos nas estruturas ocupacionais e de negócios no mercado e posterior mobilidade de uma faixa de renda a outra (quando comparados os resultados de um levantamento a outro). Embora sejam notórias e descomunais as diferenças de salários e rendimentos entre os grupos mais e menos abastados, na realidade a desigualdade é mais marcada pelas oportunidades desiguais abertas pelo mercado aos trabalhadores e empreendedores. As escalas salariais e as estruturas ocupacionais se modificam de um levantamento decenal a outro, assim como as características da força de trabalho que entra no mercado e daqueles que permanecem – parte se aposenta e outros tantos falecem. Acontece que as estruturas ocupacionais, no caso dos trabalhadores, e as estruturas de negócios, no caso dos empreendedores, por mais que variem entre os períodos mantém um perfil marcadamente piramidal. Poucas ocupações e áreas de negócios perto e no topo da pirâmide de renda e milhares em torno da base. Assim, ao entrarem no mercado trabalhadores e empreendedores chegam pesadamente por baixo e têm inúmeros obstáculos definidos e oficializados pelo mercado para subirem nas estruturas respectivas. O peso maior da estrutura piramidal aliado ao peso da escala salarial e de rendimentos acabam por dar o contorno final ao perfil da desigualdade no país. Mesmo no período recente, 2001 a 2011, quando a distribuição da renda melhora, a composição da desigualdade se mantém: reduziram-se mais as diferenças de salários e rendimentos e menos as colocações dos indivíduos no mercado. O primeiro filtro, portanto, para começar a trabalhar não é a formação educacional dos indivíduos, mas as oportunidades de trabalho que lhes são abertas! Em seguida vem o filtro das rendas. Os dois filtros destilam a cara final da desigualdade. Não adianta, portanto, sustentar que o aumento do nível educacional da população vai alterar o perfil da desigualdade. É uma prescrição inútil. A cara da desigualdade no Brasil está espelhada na estrutura piramidal das ocupações e dos negócios; se a educação atinge mais indivíduos neste pano de fundo, nada muda. Pode até piorar porque haverá mais educados em ocupações e negócios menos valorizados já que as estruturas respectivas são fortemente seletivas. E estarão sobrecarregadas. A universalização da educação vale sim para melhorar o nível de conhecimentos de todos, mas não vale para reduzir a desigualdade.

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Ciências Humanas e suas Tecnologias É claro que as situações particulares de alguns indivíduos melhoram com a maior qualificação educacional que adquirem por conta de vagas específicas abertas de forma localizada no mercado. Bem como os estudos sociológicos de mobilidade intergeracional apontam resultados convergentes entre mais elevados níveis salarial e educacional - esses estudos se valem de amostras da população. Mas na metodologia não convencional utilizada na pesquisa do NEPP é verificada a situação de renda de toda a população não de grupos selecionados dela; comparam-se as situações de renda de todos os grupos em conjunto (por entrada no mercado de trabalho, nível educacional, idade, sexo, etc). É um retrato da distribuição de renda de um período em comparação com o retrato de outro período. Dados da renda média real horária dos trabalhadores por anos de estudo para o Brasil mostram que elas se reduzem diferencialmente e relativamente à renda dos analfabetos quanto mais tempo estiveram na escola (fonte: Núcleo de Pesquisas e Estudos do Trabalho/UERJ). Resultados contrários àqueles que argumentam e defendem ampliar o acesso à educação para todos para melhorar seus níveis de renda. A mesma tendência ocorre entre as ocupações: as caracterizadas como menos qualificadas perdem menos renda real que as mais qualificadas. São manifestações que indicam estar o próprio mercado reduzindo os diferenciais de renda entre os menos e os mais educados e qualificados. Essas manifestações se somam aos resultados do Programa Bolsa Família que tirou da miséria milhares de famílias de trabalhadores trazendo-os para a escala de renda do mercado. Resumo da estória: caiu a desigualdade de renda na última década, mas ficou solidificada a rígida estrutura ocupacional e de negócios em forma de pirâmide. Uma escada com muitos degraus em baixo e poucos em cima. Muitos os chamados e poucos os escolhidos. (http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Economia/A-desigualdade-derenda-e-a-mobilidade-social-no-Brasil/7/29885)

O FUTURO DO TRABALHO

O trabalho remunerado, atividade essencial ao engajamento econômico e social do ser humano na sociedade, está em crise. O capitalismo global contemporâneo trocou lealdade por produtividade imediata e acabou com a época dos relógios de ouro como prêmio por logo tempo de dedicação. Ninguém mais tem emprego de longo prazo garantido na sua atual empresa. As próprias capacidades individuais, adquiridas por estudo ou experiência, sucateiam a cada oito a dez anos. O emprego será cada vez mais voltado para tarefas ou projetos de duração definida. É uma mudança radical em relação ao fim dos anos 1960, quando os indivíduos eram enraizados em sólidas realidades institucionais nas suas corporações, que, por sua vez, navegavam em mercados relativamente firmes. Na época dourada do capitalismo do pós-guerra, quando matérias-primas entravam por uma ponta e automóveis saíam prontos por outra, vigorava uma certa “ética social” que domava a luta de classes e garantia - mais na Europa, mas também nos Estados Unidos - benefícios como

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educação, saúde e pensões por aposentadoria, considerados então direitos universais. A partir dos anos 1980, com a globalização dos mercados, as corporações e seus investidores ficaram mais preocupados com os lucros a curto prazo e os empregos começaram a cruzar rapidamente as fronteiras. E, com os avanços da tecnologia de informação, tornou-se mais barato investir em máquinas do que pagar a pessoas para trabalharem. Richard Sennett, da London School of Economics, entrevistou naquela época operários da classe média que se encontravam no epicentro das indústrias de alta tecnologia, dos serviços financeiros e dos meios de comunicação. Grande número deles considerava que sua vida estava agora em risco permanente. A tendência era aceitar essas mudanças estruturais com resignação, como se tivessem caráter inevitável, no que acertaram em cheio. O novo capital é impaciente, avalia resultados mais pelos preços das ações que pelos dividendos. A esses investidores o que interessa é a capacidade das empresas de serem flexíveis como um MP3, com a seqüência de produção podendo ser alterada à vontade e terceirizando tudo sempre que possível. Sennett vê a tendência para o futuro dos empregos como contratos de três ou seis meses, freqüentemente renovados. A conseqüência já se faz sentir. O trabalho temporário é o setor de mais rápido crescimento da força de trabalho nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha. E já representa 25% da mão-de-obra empregada nos Estados Unidos. Numa organização flexível como os investidores gostam, o poder ocupa uma posição quase virtual; estabelece as tarefas, avalia os resultados e promove a expansão ou o encolhimento da empresa. O objetivo é obter os melhores resultados com a maior rapidez possível. Das várias equipes encarregadas das tarefas, estabelecem-se prêmios apenas para a de melhor desempenho. Sennett lembra que é um jogo de tudo ou nada que mantém alto nível de ansiedade e baixa lealdade institucional. A desigualdade no interior das empresas aumenta; as remunerações são muito altas para os executivos bem-sucedidos e muito baixas para os trabalhadores. O melhor exemplo é o Wal-Mart, a maior empresa em faturamento do mundo, que utiliza alta tecnologia e paga próximo da linha de pobreza ao grosso de seus funcionários. Compare-se com os empregos estáveis e com boa remuneração que a grande indústria norteamericana do pós-guerra (Ford, GM, GE e outras) gerava, o que possibilitou a estruturação da sólida classe média do país. Hoje tudo mudou. O dia de trabalho se prolonga pelos períodos de descanso, a pressão torna-se mais depressiva que estimulante. Em suas pesquisas de campo, Sennett constatou que nessa situação, em que a lealdade à instituição não pode ser construída, se gera maior propensão ao alcoolismo, ao divórcio e aos problemas de saúde. No nível mais baixo dos empregos flexíveis imperam os chamados Mc-empregos - fritar hambúrgueres ou atender em lojas - ou os postos de atendentes de telemarketing. Essas ocupações podem


Sociologia parecer um fator positivo de acesso para jovens sem habilitação. Mas logo se transformam num beco sem saída. Na verdade, muitos empregos braçais na área de serviços deixaram de ser atraentes para os jovens e essas tarefas são executadas por absoluta falta de alternativa. Nos países desenvolvidos, em geral são entregues a imigrantes, que dão maior valor ao dinheiro momentâneo do que à estabilidade e à qualidade do trabalho. Sennett constatou que a maior aspiração dos trabalhadores temporários é que alguém os queira em caráter permanente. A gratificação postergada em nome de objetivos pessoais de longo prazo sempre foi a mola propulsora da “ética protestante do capitalismo” de Weber e o segredo de sua “jaula de ferro”. O novo paradigma zomba da gratificação postergada. A erosão da ética protestante não se dá, ao contrário do que pensa Huntington, pela contaminação de raças latino-americanas “inferiores”, mas pela própria lógica do sistema que destrói lealdades. A geração anterior pensava em termos de ganhos estratégicos de longo prazo, ao passo que para a atual só sobram pequenas realizações imediatas. As pessoas pertencentes às classes média e alta ainda podem dar-se ao luxo de correr esses riscos e viver essas tensões à espera de uma boa oportunidade. Mas os jovens de classe baixa são muito mais dependentes das relações estáveis por terem uma rede de proteção frágil e poucos contatos e conexões importantes. Como se vê, o pujante e vencedor capitalismo global tem seu calcanhar-de-aquiles na má qualidade e na pouca quantidade dos empregos que gera. http://www.ihu.unisinos.br/noticias/noticias-arquivadas/10183-o-futurodo-trabalho-artigo-de-gilberto-dupas

O QUE SÃO AÇÕES AFIRMATIVAS? Ações afirmativas são políticas focais que alocam recursos em benefício de pessoas pertencentes a grupos discriminados e vitimados pela exclusão sócio-econômica no passado ou no presente. Trata-se de medidas que têm como objetivo combater discriminações étnicas, raciais, religiosas, de gênero ou de casta, aumentando a participação de minorias no processo político, no acesso à educação, saúde, emprego, bens materiais, redes de proteção social e/ou no reconhecimento cultural. Entre as medidas que podemos classificar como ações afirmativas podemos mencionar: incremento da contratação e promoção de membros de grupos discriminados no emprego e na educação por via de metas, cotas, bônus ou fundos de estímulo; bolsas de estudo; empréstimos e preferência em contratos públicos; determinação de metas ou cotas mínimas de participação na mídia, na política e outros âmbitos; reparações financeiras; distribuição de terras e habitação; medidas de proteção a estilos de vida ameaçados; e políticas de valorização identitária. Sob essa rubrica podemos, portanto, incluir medidas que englobam tanto a promoção da igualdade material e de direitos básicos de cidadania como também formas de valorização étnica e cultural. Esses procedimentos podem ser de iniciativa e âmbito de aplicação público ou privado,

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e adotados de forma voluntária e descentralizada ou por determinação legal. A ação afirmativa se diferencia das políticas puramente anti-discriminatórias por atuar preventivamente em favor de indivíduos que potencialmente são discriminados, o que pode ser entendido tanto como uma prevenção à discriminação quanto como uma reparação de seus efeitos. Políticas puramente anti-discriminatórias, por outro lado, atuam apenas por meio de repressão aos discriminadores ou de conscientização dos indivíduos que podem vir a praticar atos discriminatórios. No debate público e acadêmico, a ação afirmativa com freqüência assume um significado mais restrito, sendo entendida como uma política cujo objetivo é assegurar o acesso a posições sociais importantes a membros de grupos que, na ausência dessa medida, permaneceriam excluídos. Nesse sentido, seu principal objetivo seria combater desigualdades e dessegregar as elites, tornando sua composição mais representativa do perfil demográfico da sociedade. (http://gemaa.iesp.uerj.br/index.php?option=com_k2&view=item&layou t=item&id=1&Itemid=217)

MOVIMENTOS SOCIAIS

Os movimentos sociais podem ser definidos como um ato embativo dos agentes das classes sociais ou como fruto de práticas sociais incoerentes com a ordem social, as quais são capazes de alterar a estrutura do sistema do poder estatal, seja por meio de intervenções revolucionárias ou pacíficas. Há de notar que, via de regra, esse tipo de movimento surge da iniciativa pública, tendo sua motivação e origem nas discrepâncias acarretadas pelos processos de mais valia no trabalho e/ou pelas inúmeras injustiças sociais existentes na sociedade. Por outro lado, devemos destacar que os movimentos sociais possuem uma relação conflituosa com o Estado, uma vez que aqueles movimentos desejam alterar a própria composição do mesmo, com vistas a alcançar alguma melhoria social e alterar o "status quo" que favorece as elites estabelecidas. Não obstante, aqueles movimentos sociais são o modo como os cidadãos encontram para protestar ou reivindicar direitos que lhes são garantidos por Lei. Portanto, são reproduções da sociedade organizada, que lança mão de instrumentos interventivos, distintos de acordo com cada contexto histórico especifico e que se compõe a partir da demarcação de adversários em torno de uma identidade ou identificação, salientando ainda importância de um projeto para um contínuo processo de construção identitária que resultará somente a partir de múltiplas articulações. Portanto, este tipo de fenômeno surge quando um determinado grupo nota, enquanto coletividade, que fazem parte de um agrupamento comum, levando-os a defenderem politicamente as causas que acham pertinentes e essenciais. Note que é preciso uma forte relação afetiva para com a causa social em questão, posto que, frente a uma determinada situação, uma mesma reivindicação pode afastar outros grupos sociais que não se identificam com aquela causa. Portanto, a ação coletiva de um grupo

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Ciências Humanas e suas Tecnologias organizado tem como finalidade conseguir transformações sociais a partir da luta política, a qual está inserida numa determinada sociedade e num contexto específico. Outro ponto a ser destacado é o fato de que as marchas, paradas ou ocupações, podem ser percebidas enquanto formas de comunicação simbólica, a qual utiliza metáforas para quebrarem provisoriamente a rotina e reconstruírem a ordem social com suas identidades e papéis sociais. Em termos de classificação podemos dividir os movimentos sociais enquanto movimentos reivindicatórios, os quais focam sua ação em exigências em questões imediatas, e utilizam-se da pressão pública para pressionar instituições que possam modificar os dispositivos legais que possam lhes favorecer. Já nos movimentos políticos, busca-se influenciar a população na participação política direta enquanto garantia para transformações estruturais na sociedade; por fim, destacamos os movimentos de classe, os quais buscam subverter a ordem social e, consequentemente, alterar as relações entre os distintos atores na conjuntura nacional. COMPOSIÇÃO DE UM MOVIMENTO SOCIAL Para que haja um movimento social efetivo, é preciso a conjugação de alguns fatores, o primeiro deles é o projeto, o qual abarca toda proposta e objetivos do movimento em questão. Um outro fator crucial é a ideologia que embasa este movimento, uma vez que ela é a responsável por articular a união entre os grupos sociais em prol do movimento. Por fim, os movimentos sociais, ao se instituírem (e se institucionalizarem), estabelecem uma disposição hierárquica, a qual pode ser descentralizada ou não, numa estrutura deliberada para possuir lideres e outros integrantes. MOVIMENTOS SOCIAIS NO BRASIL

No Brasil, os movimentos sociais ganharam destaque a partir da década de 1960, posto que uma parcela muito grande da sociedade fora contra o regime militar aqui instaurado. Não obstante, merecem destaque no Brasil o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MSTS) e os movimentos em defesa dos índios, negros e das mulheres. Note ainda que fazem parte dos movimentos sociais no Brasil os movimentos populares, sindicais e a organizações não governamentais (ONGs). (http://www.todamateria.com.br/movimentos-sociais/)

FIQUE LIGADO NO ENEM! • Na sociedade capitalista contemporânea, as posições sociais são determinadas basicamente pela situação dos indivíduos no desempenho de suas atividades produtivas. Entretanto, dentro dessa mesma sociedade os indivíduos podem desempenhar outros papéis e alcançar novas posições sociais, relacionadas com a religião que praticam, o partido político em que militam, as funções sociais que desempenham, a profissão que exercem e outras atividades.

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• Entretanto, vale esclarecer que, mesmo na sociedade capitalista mais aberta, a mobilidade social vertical não ocorre de maneira igual para todos os indivíduos. A ascensão social depende muito da origem de classe de cada indivíduo, ou mesmo de sua origem étnica. • De acordo com o sociólogo Carlos Antonio Costa Ribeiro, existem dois tipos de desigualdade. “Existe a chamada desigualdade de condições, que diz respeito aos diferentes níveis de renda, e a chamada desigualdade de oportunidades, que se refere às chances que uma pessoa tem de mudar de posição na sociedade ao longo das gerações familiares e ao longo do seu ciclo de vida”. • A cara da desigualdade no Brasil está espelhada na estrutura piramidal das ocupações e dos negócios; se a educação atinge mais indivíduos neste pano de fundo, nada muda. Pode até piorar porque haverá mais educados em ocupações e negócios menos valorizados já que as estruturas respectivas são fortemente seletivas. E estarão sobrecarregadas. A universalização da educação vale sim para melhorar o nível de conhecimentos de todos, mas não vale para reduzir a desigualdade. • Numa organização flexível como os investidores gostam, o poder ocupa uma posição quase virtual; estabelece as tarefas, avalia os resultados e promove a expansão ou o encolhimento da empresa. O objetivo é obter os melhores resultados com a maior rapidez possível. • A desigualdade no interior das empresas aumenta; as remunerações são muito altas para os executivos bemsucedidos e muito baixas para os trabalhadores. Ninguém mais tem emprego de longo prazo garantido na sua atual empresa. O emprego será cada vez mais voltado para tarefas ou projetos de duração definida. • Ações afirmativas são políticas focais que alocam recursos em benefício de pessoas pertencentes a grupos discriminados e vitimados pela exclusão sócio-econômica no passado ou no presente. Trata-se de medidas que têm como objetivo combater discriminações étnicas, raciais, religiosas, de gênero ou de casta, aumentando a participação de minorias no processo político, no acesso à educação, saúde, emprego, bens materiais, redes de proteção social e/ou no reconhecimento cultural. • Em termos de classificação podemos dividir os movimentos sociais enquanto movimentos reivindicatórios, os quais focam sua ação em exigências em questões imediatas, e utilizam-se da pressão pública para pressionar instituições que possam modificar os dispositivos legais que possam lhes favorecer. Já nos movimentos políticos, busca-se influenciar a população na participação política direta enquanto garantia para transformações estruturais na sociedade; por fim, destacamos os movimentos de classe, os quais buscam subverter a ordem social e, consequentemente, alterar as relações entre os distintos atores na conjuntura nacional.

Exercícios 1. (ENEM 2012) Na regulação de matérias culturalmente delicadas, como, por exemplo, a linguagem oficial, os currículos da educação pública, o status das Igrejas e das


Sociologia comunidades religiosas, as normas do direito penal (por exemplo, quanto ao aborto), mas também em assuntos menos chamativos, como, por exemplo, a posição da família e dos consórcios semelhantes ao matrimônio, a aceitação de normas de segurança ou a delimitação das esferas pública e privada – em tudo isso reflete-se amiúde apenas o autoentendimento ético-político de uma cultura majoritária, dominante por motivos históricos. Por causa de tais regras, implicitamente repressivas, mesmo dentro de uma comunidade republicana que garanta formalmente a igualdade de direitos para todos, pode eclodir um conflito cultural movido pelas minorias desprezadas contra a cultura da maioria. HABERMAS, J. A inclusão do outro: estudos de teoria política. São Paulo: Loyola, 2002.

A reivindicação dos direitos culturais das minorias, como exposto por Habermas, encontra amparo nas democracias contemporâneas, na medida em que: a) a secessão, pela qual a minoria discriminada obteria a igualdade de direitos na condição da sua concentração espacial, num tipo de independência nacional. b) a reunificação da sociedade que se encontra fragmentada em grupos de diferentes comunidades étnicas, confissões religiosas e formas de vida, em torno da coesão de uma cultura política nacional. c) a coexistência das diferenças, considerando a possibilidade de os discursos de auto entendimento se submeterem ao debate público, cientes de que estarão vinculados à coerção do melhor argumento. d) a autonomia dos indivíduos que, ao chegarem à vida adulta, tenham condições de se libertar das tradições de suas origens em nome da harmonia da política nacional. e) o desaparecimento de quaisquer limitações, tais como linguagem política ou distintas convenções de comportamento, para compor a arena política a ser compartilhada 2. (ENEM 2014) Uma norma só deve pretender validez quando todos os que possam ser concernidos por ela cheguem (ou possam chegar), enquanto participantes de um discurso prático, a um acordo quanto à validade dessa norma. HABERMAS, J. Consciência moral e agir comunicativo. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1989.

Segundo Habermas, a validez de uma norma deve ser estabelecida pelo(a) a) liberdade humana, que consagra a vontade. b) razão comunicativa, que requer um consenso. c) conhecimento filosófico, que expressa a verdade. d) técnica científica, que aumenta o poder do homem. e) poder político, que se concentra no sistema partidário.

3. (ENEM 2012) TEXTO I O que vemos no país é uma espécie de espraiamento e a manifestação da agressividade através da violência. Isso se desdobra de maneira evidente na criminalidade, que está presente em todos os redutos — seja nas áreas

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abandonadas pelo poder público, seja na política ou no futebol. O brasileiro não é mais violento do que outros povos, mas a fragilidade do exercício e do reconhecimento da cidadania e a ausência do Estado em vários territórios do país se impõem como um caldo de cultura no qual a agressividade e a violência fincam suas raízes. Entrevista com Joel Birman. A Corrupção é um crime sem rosto. IstoÉ. Edição 2099; 3 fev. 2010.

TEXTO II Nenhuma sociedade pode sobreviver sem canalizar as pulsões e emoções do indivíduo, sem um controle muito específico de seu comportamento. Nenhum controle desse tipo é possível sem que as pessoas anteponham limitações umas às outras, e todas as limitações são convertidas, na pessoa a quem são impostas, em medo de um ou outro tipo. ELIAS, N. O Processo Civilizador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1993.

Considerando-se a dinâmica do processo civilizador, tal como descrito no Texto II, o argumento do Texto I acerca da violência e agressividade na sociedade brasileira expressa a: a) incompatibilidade entre os modos democráticos de convívio social e a presença de aparatos de controle policial. b) manutenção de práticas repressivas herdadas dos períodos ditatoriais sob a forma de leis e atos administrativos. c) inabilidade das forças militares em conter a violência decorrente das ondas migratórias nas grandes cidades brasileiras. d) dificuldade histórica da sociedade brasileira em institucionalizar formas de controle social compatíveis com valores democráticos. e) incapacidade das instituições político-legislativas em formular mecanismos de controle social específicos à realidade social brasileira. 4. (ENEM 2009) Para Caio Prado Jr., a formação brasileira se completaria no momento em que fosse superada a nossa herança de inorganicidade social - o oposto da interligação com objetivos internos - trazida da colônia. Este momento alto estaria, ou esteve, no futuro. Se passarmos a Sérgio Buarque de Holanda, encontraremos algo análogo. O país será moderno e estará formado quando superar a sua herança portuguesa, rural e autoritária, quando então teríamos um país democrático. Também aqui o ponto de chegada está mais adiante, na dependência das decisões do presente. Celso Furtado, por seu turno, dirá que a nação não se completa enquanto as alavancas do comando, principalmente do econômico, não passarem para dentro do país. Como para os outros dois, a conclusão do processo encontra-se no futuro, que agora parece remoto. SCHWARZ, R. Os sete fôlegos de um livro. Sequências brasileiras. São Paulo: Cia. das Letras,1999 (adaptado)

Acerca das expectativas quanto à formação do Brasil, a sentença que sintetiza os pontos de vista apresentados no texto é: a) Brasil, um país que vai pra frente. b) Brasil, a eterna esperança. c) Brasil, glória no passado, grandeza no presente.

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Ciências Humanas e suas Tecnologias d) Brasil, terra bela, pátria grande. e) Brasil, gigante pela própria natureza. 5. (ENEM 2012) Leia. Minha vida é andar Por esse país Pra ver se um dia Descanso feliz Guardando as recordações Das terras onde passei Andando pelos sertões E dos amigos que lá deixei GONZAGA, L.; CORDOVIL, H. A vida de viajante, 1953. Disponível em: www.recife.pe.gov.br Acesso em: 20 fev. 2012 (fragmento).

A letra dessa canção reflete elementos identitários que representam a: a) valorização das características naturais do Sertão nordestino. b) denúncia da precariedade social provocada pela seca. c) experiência de deslocamento vivenciada pelo migrante. d) profunda desigualdade social entre as regiões brasileiras. e) discriminação dos nordestinos nos grandes centros urbanos. 6. (ENEM 2012) As mulheres quebradeiras de coco-babaçu dos Estados do Maranhão, Piauí, Pará e Tocantins, na sua grande maioria, vivem numa situação de exclusão e subalternidade. O termo quebradeira de coco assume o caráter de identidade coletiva na medida em que as mulheres que sobrevivem dessa atividade e reconhecem sua posição e condição desvalorizada pela lógica da dominação, se organizam em movimentos de resistência e de luta pela conquista da terra, pela libertação dos babaçuais, pela autonomia do processo produtivo. Passam a atribuir significados ao seu trabalho e as suas experiências, tendo como principal referência sua condição preexistente de acesso e uso dos recursos naturais. ROCHA, M. R. T. A luta das mulheres quebradeiras de coco-babaçu, pela libertação do coco preso e pela posse da terra. In: Anais do VII Congresso Latino-Americano de Sociologia Rural, Quito, 2006 (adaptado).

A organização do movimento das quebradeiras de coco de babaçu é resultante da: a) constante violência nos babaçuais na confluência de terras maranhenses, piauienses, paraenses e tocantinenses, região com elevado índice de homicídios. b) falta de identidade coletiva das trabalhadoras, migrantes das cidades e com pouco vínculo histórico com as áreas rurais do interior do Tocantins, Pará, Maranhão e Piauí. c) escassez de água nas regiões de veredas, ambientes naturais dos babaçus, causada pela construção de açudes particulares, impedindo o amplo acesso público aos recursos hídricos.

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d) progressiva devastação das matas dos cocais, em função do avanço da sojicultura nos chapadões do Meio-Norte brasileiro. e) dificuldade imposta pelos fazendeiros e posseiros no acesso aos babaçuais localizados no interior de suas propriedades. 7. (ENEM 2011) Na década de 1990, os movimentos sociais camponeses e as ONGs tiveram destaque, ao lado de outros sujeitos coletivos. Na sociedade brasileira, a ação dos movimentos sociais vem construindo lentamente um conjunto de práticas democráticas no interior das escolas, das comunidades, dos grupos organizados e na interface da sociedade civil com o Estado. O diálogo, o confronto e o conflito têm sido os motores no processo de construção democrática. SOUZA, M. A. Movimentos sociais no Brasil contemporâneo: participação e possibilidades das práticas democráticas. Disponível em: http://www.ces.uc.pt. Acesso em: 30 abr. 2010 (adaptado).

Segundo o texto, os movimentos sociais contribuem para o processo de construção democrática, porque: a) pressionam o Estado para o atendimento das demandas da sociedade. b) determinam o papel do Estado nas transformações socioeconômicas. c) aumentam o clima de tensão social na sociedade civil. d) privilegiam determinadas parcelas da sociedade em detrimento das demais. e) propiciam a adoção de valores éticos pelos órgãos do Estado. 8. (ENEM 2013) TEXTO I Ela acorda tarde depois de ter ido ao teatro e à dança; ela lê romances, além de desperdiçar o tempo a olhar para a rua da sua janela ou da sua varanda; passa horas no toucador a arrumar o seu complicado penteado; um número igual de horas praticando piano e mais outras na sua aula de francês ou de dança. Comentário do Padre Lopes da Gama acerca dos costumes femininos (1839) apud SILVA, T. Z. Mulheres, cultura e literatura brasileira. Ipotasi – Revista de estudos Literários. Juiz de Fora, v. 2 n. 2, 1998.

TEXTO II As janelas e portas gradeadas com treliças gradeadas com treliças não eram cadeias confessas, positivas; mas eram, pelo aspecto e pelo seu destino, grandes gaiolas, onde os pais e maridos zelavam, sonegadas à sociedade, as filhas e as esposas. MACEDO, J. M. Memórias da Rua do Ouvidor (1878). Disponível em: www.domíniopublico.gov.br. Acesso em: 20 maio 2013 (adaptado)

A representação social do feminino comum aos dois textos é o(a): a) acesso aos produtos de beleza, decorrência da abertura dos portos. b) ampliação do espaço de entretenimento, voltado às distintas classes sociais.


Sociologia c)

submissão de gênero, apoiada pela concepção patriarcal de família. d) proteção da honra, mediada pela disputa masculina em relação às damas da corte. e) valorização do casamento cristão, respaldado pelos interesses vinculados à herança. 9. (ENEM 2015) Ninguém nasce mulher: torna-se mulher. Nenhum destino biológico, psíquico, econômico define a forma que a fêmea humana assume no seio da sociedade; é o conjunto da civilização que elabora esse produto intermediário entre o macho e o castrado que qualificam o feminino. BEAUVOIR, S. O segundo sexo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980.

O texto trata de uma política de ação afirmativa voltada ao público LGBT. Com a criação de uma instituição de ensino para atender esse público, pretende-se: a) contribuir para a invisibilidade do preconceito ao grupo LGBT. b) promover o respeito à diversidade sexual no sistema de ensino. c) copiar os modelos educacionais dos EUA e da Europa. d) permitir o acesso desse segmento ao ensino técnico. e) criar uma estratégia de proteção e isolamento desse grupo. 12. (ENEM 2015)

Na década de 1960, a proposição de Simone de Beauvoir contribuiu para estruturar um movimento social que teve como marca o(a) a) ação do Poder Judiciário para criminalizar a violência sexual. b) pressão do Poder Legislativo para impedir a dupla jornada de trabalho. c) oposição de grupos religiosos para impedir os casamentos homoafetivos. d) organização de protestos públicos para garantir a igualdade de gênero. e) estabelecimento de políticas governamentais para promover ações afirmativas.

Voz do sangue

10. (ENEM 2013) Tenho 44 anos e presenciei uma transformação impressionante na condição de homens e mulheres gays nos Estados Unidos. Quando nasci, relações sexuais eram ilegais em todos os Estados Unidos, menos Illinois. Gays e lésbicas não podiam trabalhar no governo federal. Não havia nenhum político abertamente gay. Alguns homossexuais não assumidos ocupavam posições de poder, mas a tendência era eles tornarem as coisas ainda piores para seus semelhantes.

Eu junto Ao vosso magnífico canto a minha pobre voz os meus humildes ritmos.

ROSS, A. Na máquina do tempo. Época, Ed. 766, 28 jan. 2013.

A dimensão política da transformação sugerida no texto teve como condição necessária a: a) reformulação de concepções religiosas. b) manutenção de ideologias conservadoras. c) implantação de cotas nas listas partidárias. d) alteração da composição étnica da população. e) ampliação da noção de cidadania.

11. (ENEM 2010/2) A primeira instituição de ensino brasileira que inclui disciplinas voltadas ao público LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transexuais) abriu inscrições na semana passada. A grade curricular é inspirada em similares dos Estados Unidos da América e da Europa. Ela atenderá jovens com aulas de expressão artística, dança e criação de fanzines. É aberta a todo o público estudantil e tem como principal objetivo impedir a evasão escolar de grupos socialmente discriminados. Época, 11 jan. 2010 (adaptado)

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Palpitam-me os sons do batuque e os ritmos melancólicos do blue. Ó negro esfarrapado do Harlem ó dançarino de Chicago ó negro servidor do South. Ó negro da África negros de todo o mundo.

Eu vos acompanho pelas emaranhadas áfricas do nosso Rumo. Eu vos sinto negros de todo o mundo eu vivo a nossa história meus irmãos. Disponível em: www.agostinhoneto.org. Acesso em: 30 jun. 2015.

Nesse poema, o líder angolano Agostinho Neto, na década de 1940, evoca o pan-africanismo com o objetivo de a) incitar a luta por políticas de ações afirmativas na América e na África. b) reconhecer as desigualdades sociais entre os negros de Angola e dos Estados Unidos. c) conclamar as populações negras de diferentes países a apoiar as lutas por igualdade e independência. d) descrever o quadro de pobreza após os processos de independência no continente africano. e) solicitar o engajamento dos negros estadunidenses na luta armada pela independência em Angola. 13. (ENEM 2011) A Lei 10.639, de 9 de janeiro de 2003, inclui no currículo dos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, a obrigatoriedade do ensino sobre História e Cultura Afro-

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Ciências Humanas e suas Tecnologias Brasileira e determina que o conteúdo programático incluirá: O estudo da História da África e dos africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política, pertinentes à História do Brasil, além de instituir no calendário escolar o dia 20 de novembro como data comemorativa do "Dia da Consciência Negra". Disponível em: http://www.planalto.gov.br. Acesso em: 27 jul. 2010 (adaptado).

A referida lei representa um avanço não só para a educação nacional, mas também para a sociedade brasileira, porque: a) legitima o ensino das ciências humanas nas escolas. b) divulga conhecimentos para a população afrobrasileira. c) reforça a concepção etnocêntrica sobre a África e sua cultura. d) garante aos afrodescendentes a igualdade no acesso à educação. 14. (ENEM 2014) Parecer CNE/CP nº 3/2004, que instituiu as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. Procura-se oferecer uma resposta, entre outras, na área da educação, à demanda da população afrodescendente, no sentido de políticas de ações afirmativas. Propõe a divulgação e a produção de conhecimentos, a formação de atitudes, posturas que eduquem cidadãos orgulhosos de seu pertencimento étnico-racial – descendentes de africanos, povos indígenas, descendentes de europeus, de asiáticos – para interagirem na construção de uma nação democrática, em que todos igualmente tenham seus direitos garantidos. BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Disponível em: www.semesp.org.br. Acesso em: 21 nov. 2013 (adaptado)

Um traço formador da vida pública brasileira expressa-se, segundo a análise do historiador, na a) rigidez das normas jurídicas. b) prevalência dos interesses privados. c) solidez da organização institucional. d) legitimidade das ações burocráticas. e) estabilidade das estruturas políticas. 16. (ENEM 2015) Não nos resta a menor dúvida de que a principal contribuição dos diferentes tipos de movimentos sociais brasileiros nos últimos vinte anos foi no plano da reconstrução do processo de democratização do país. E não se trata apenas da reconstrução do regime político, da retomada da democracia e do fim do Regime Militar. Trata-se da reconstrução ou construção de novos rumos para a cultura do país, do preenchimento de vazios na condução da luta pela redemocratização, constituindo-se como agentes interlocutores que dialogam diretamente com a população e com o Estado. GOHN, M. G. M. Os sem-terras, ONGs e cidadania. São Paulo: Cortez, 2003 (adaptado).

No processo da redemocratização brasileira, os novos movimentos sociais contribuíram para a) diminuir a legitimidade dos novos partidos políticos então criados. b) difundir a democracia representativa como objetivo fundamental da luta política. c) ampliar as disputas pela hegemonia das entidades de trabalhadores com os sindicatos. d) tornar a democracia um valor social que ultrapassa os momentos eleitorais. e) fragmentar as lutas políticas dos diversos atores sociais frente ao Estado. 17. (ENEM 2014)

A orientação adotada por esse parecer fundamenta uma política pública e associa o princípio da inclusão social a a) práticas de valorização identitária. b) medidas de compensação econômica. c) dispositivos de liberdade de expressão. d) estratégias de qualificação profissional. e) instrumentos de modernização jurídica. 15. (ENEM 2015) Em sociedade de origens tão nitidamente personalistas como a nossa, é compreensível que os simples vínculos de pessoa a pessoa, independentes e até exclusivos de qualquer tendência para a cooperação autêntica entre os indivíduos, tenham sido quase sempre os mais decisivos. As agregações e relações pessoais, embora por vezes precárias, e, de outro lado, as lutas entre facções, entre famílias, entre regionalismos, faziam dela um todo incoerente e amorfo. O peculiar da vida brasileira parece ter sido, por essa época, uma acentuação singularmente enérgica do afetivo, do irracional, do passional e uma estagnação ou antes uma atrofia correspondente das qualidades ordenadoras disciplinadoras, racionalizadoras. HOLANDA, S. B. Raízes do Brasil. São Paulo: Cia. das Letras, 1995.

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PAIVA, M. Disponível em: www.redes.unb.br. Acesso em: 25 maio 2014.

A discussão levantada na charge, publicada logo após a promulgação da Constituição de 1988, faz referência ao seguinte conjunto de direitos: a) Civis, como direito à vida, à liberdade de expressão e à propriedade. b) Sociais, como direito à educação, ao trabalho e à proteção à maternidade e á infância.


Sociologia c)

Difusos, como direito à paz, ao desenvolvimento sustentável e ao meio ambiente saudável. d) Coletivos, como direito à organização sindical, à participação partidária e à expressão religiosa. e) Políticos, como o direito de votar e ser votado, à soberania popular e à participação democrática. 18. (ENEM 2014) Mas plantar pra dividir Não faço mais isso, não Eu sou um pobre caboclo, Ganho a vida na enxada. O que eu colho é dividido Com quem não planta nada. Se assim continuar Vou deixar o me sertão, Mesmo os olhos cheios d’água E com dor no coração. Vou pro Rio carregar massas Pros pedreiros em construção. Deus até está ajudando: Está chovendo no sertão! Mas plantar pra dividir, Não faço mais isso, não. Vale, J.; AQUINO, J. B. Sina de caboclo. São Paulo: Polygram, 1994 (fragmento).

No trecho da canção, composta na década de 1960, retrata-se a insatisfação do trabalhador rural com a) a distribuição desigual da produção. b) os financiamentos feitos ao produtor rural. c) a ausência de escolas técnicas no campo. d) os empecilhos advindos das secas prolongadas. e) a precariedade de insumos no trabalho do campo. GABARITO 1 C

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