1
Onde a Humanidade Aprendeu a Linguagem Curso: Construção da Linguagem e Arteterapia Módulo 4 – Texto Base GPEC – Educação a Distância Autora e Professora: Sonia Branco
2
ONDE A HUMANIDADE APRENDEU A LINGUAGEM “A capacidade de comunicação humana não se restringe às
palavras. Existem na faixa de mediação significativa entre o nosso mundo interno e externo, outras linguagens além das verbais” Ostrower, 1987
Nos primórdios da civilização a comunicação era feita através dos gestos (como os Deficientes Auditivos). A ciência acredita que o primeiro homem a falar o fez cerca de 30 mil a 50 mil anos atrás. Possivelmente ele começou a imitar os sons das coisas que o cercavam, tais como os animais, o barulho das frutas caindo, etc. Como naquele tempo os homens primitivos viviam em pequenos grupos e cada grupo vivia isolado uns dos outros, naturalmente que cada um emitia um som diferente, criando sua própria linguagem. Há 40 mil anos os homens primitivos criaram tintas naturais para desenhar figuras de animais, de si próprio e de seu grupo e de cenas do dia-adia nas cavernas onde moravam. Foi a primeira forma de linguagem escrita. A escrita intencional foi criada há 6 mil anos atrás pelos povos da Mesopotâmia através de desenhos muito semelhantes aos ideogramas chineses e japoneses e que representam, não letras, não signos ou significantes, mas o significado propriamente dito. Contudo, foram os Fenícios (atual Líbano), que criaram, há 4 mil anos, um dos primeiros alfabetos com 22 signos (letras) e que representava os sons e que juntas deram origem às palavras. Este alfabeto foi aperfeiçoado pelos gregos e muito tempo depois os romanos nos deixaram o alfabeto atual com 26 letras.
Hieróglifos (fig. 3) É importante lembrar que os egípcios registravam sua linguagem através dos hiroglifos (fig. 1), que eram desenhos que representavam conceitos, idéias, sentimento ou coisas concretas.
A APRENDIZAGEM INFANTIL
3
O processo de aprendizagem acontece desde a mais tenra idade e há relatos de que se processa desde a vida intra-uterina. Desde a concepção, o ser concebido é influenciado pelo poder da palavra articulada, quer pela expressão verbal dos sentimentos da mãe, quer pelos sons do mundo externo que são ouvidos através da parede uterina. Dá-se início, então, ao processo de assimilação e aprendizado. Após o nascimento, o bebê se utiliza dos cinco sentidos para aprender a se comunicar e a entender o mundo em sua diversidade de leituras, capacitando-o a expressar suas idéias e emoções, e combinando-os ao aprendizado absorvido pela percepção dos sons e elementos absorvidos in
utero. Nossos meios significantes representam repetições dos sons do mundo, numa experimentação vocal (balbucio ou lalação - repetição dos próprios sons) que nos leva ao significado (fala) que compõe nossa língua natal. Mais do que apenas articular, para nossa comunicação, precisamos compreender (Branco, 2006). Assim, o significado torna-se o que de mais importante existe na comunicação do bebê. Essa experiência é que nos proporcionará um aprendizado sadio e um desenvolvimento socialmente integrados, tornando-nos capazes de “ler a
vida”, vivenciando, experimentando e solucionando (Branco, 2005). O primeiro núcleo social que proporciona à criança expressar-se , interagir e relacionar-se é o ato de brincar. Durante ele, as crianças na fase da primeira infância utiliza sons (semelhantes aos sons primais) e gritos para revelar seu estado físico e
emocional, expressando a fome, a dor, o prazer, a alegria, a tristeza,
4
etc. O balbucio (os sons expressos pelos bebês) torna-se um diálogo carregando uma carga simbólica de valor expressivo-relacional, como o grito primal dos homens pré-históricos. Apesar de limitado potencial anatômico para as variações sonoras nas primeiras semanas de vida, os bebês recém-nascidos são comunicadores ativos. Embora o choro ao nascimento seja normalmente o primeiro exemplo, de “emissão audível” de um novo bebê, existem alguns relatos de se ter ouvido o choro de bebês quando “ainda encapsulados” (Locke, 1995), no canal do nascimento. Para ele, a experiência vocal pode começar um pouco antes do que o “senso comum”. As evidências da pesquisa da linguagem infantil sugerem que o feto pode ouvir a voz paterna in útero, de modo que um bebê recém-nascido já esta sintonizado com a voz e a linguagem falada (De Casper e Spencer, 1996). Segundo Eimas et al (1971), os bebês mostram preferências para fala e não para sons não falados o que mostra que os pais são parte do estímulo físico para o desenvolvimento da comunicação (Sherrod, 1981), e que este estímulo já pode influenciar emocionalmente o bebê desde seu nascimento. Podemos ver a vocalização do recém-nascido como um meio de estabelecer o estímulo necessário para seu desenvolvimento vocal e lingüístico, assim, como um meio de comunicação e vinculação com os pais (Locke, 1995). Eimas et al (1971), indicam que os bebês não apenas tem uma capacidade de discriminação dos sons vocais, mas também alguma capacidade de automonitorização.
Entre 6 e 8 semanas, os bebês começam a produzir sons de timbre
5
mais calmos, mais graves e mais musicais, quase sempre em resposta aos sorrisos e à fala paternos (Crystal, 1987). Por volta de 4 a 5 meses, os bebês podem produzir vocalizações semelhantes à fala similares a dos adultos que conversam face a face (Kuhl e Meltzoff, 1988; Segerstel, 1990). Os gritos tendem a diminuir e a freqüência da vocalização a aumentar (Lewis, 1969) As seqüências de sons podem ser produzidas, embora não de maneira ritmada e faltando características de entonação. Aparecem os movimentos labiais e linguais em coordenação com a atividade da prega vocal. Em torno dos 9 meses de idade, a maioria dos bebês já apresenta tipos claramente diferentes de vocalizações, algumas das quais parecem ter intenção comunicativa deliberada. Assim como a intenção de sinalizar, os bebês na última parte de seu primeiro ano começam a participar de brincadeiras vocais ativas, com repetições de seqüências consonantais e semelhantes a vogais, quase sempre começando em uma freqüência alta e passando gradativamente para seqüências mais graves. Por volta do primeiro ano começam a surgir melodia, ritmo e tom de voz. Os pais podem reconhecer os padrões de expressão vocal e os rituais desenvolvidos entre os pais e a criança mostram melodias distintivas (Crystal, 1987). Nos três primeiros anos o aprendizado da fala articulada, se faz de forma gradativa,
através
de
feedbacks
sensoriais-auditivos
que
leva
ao
desenvolvimento do controle do som e o domínio das habilidades do uso vocal.
Por volta dos cinco anos a maioria das crianças parece mostrar domínio
6
do controle vocal por meio do uso da emissão da voz para contrastes fonológicos e a habilidade de produzir e imitar padrões complexos de entonações (Ingrisano et al, 1980; Ferrand e Bloom, 1996). Essas mudanças parecem estar mais relacionadas à maior percepção sociocultural e, talvez, à identidade sexual do que à diferenças físicas (Ferrand e Bloom, 1996). Para Luria, “a linguagem intervém no processo do desenvolvimento da criança desde os primeiros meses de sua vida. Ao nomear objetos e definir assim suas conexões e relações, o adulto cria novas formas de reflexão da realidade na criança, incomparavelmente mais profundas e complexas que as que este pudera formar mediante sua experiência individual. Todo este processo da transmissão do saber e formação de conceitos, que é o modo básico em que o adulto influencia a criança, constitui o processo central do desenvolvimento intelectual infantil”. Desta forma, o aprendizado se faz de forma contundente e gradativa, possibilitando a formação de conceitos através da transmissão do saber pelos adultos que a
rodeia, bem como, recebendo os estímulos do ambiente
sociocultural a que pertence.. O aprendizado acontece, ainda, através do desenvolvimento dos processos nervosos superiores associados à experiência pessoal do indivíduo em formação. Tendo por forma básica do desenvolvimento mental a aquisição das experiências dos outros mediante a prática conjunta com a linguagem. As relações intercomunicativas estabelecidas entre a criança e o adulto têm um significado decisivo porque a aquisição de um sistema lingüístico supõe a reorganização de todos os processos mentais da criança. A palavra torna-se um fator que molda a atividade mental, possibilitando o espelhamento do
reflexo da realidade, criando nova perspectiva da atenção, da memória, da
7
imaginação, do pensamento e da ação. Com a aquisição de um „complemento‟ ela adquiri a palavra e esta tornase um dos mais importantes fatores do desenvolvimento humano, facilitando e proporcionando a aquisição de novos signos e sinais, permitindo sua análise e a síntese possibilitando o situar da criança em seu desempenho de aprendizado. Desta forma, o pensamento de Luria credita esta afirmaçào, dizendo que “ao estabelecer verbalmente as complexas conexões e relações existentes entre
fenômenos percebidos, introduz trocas essenciais na percepção das coisas que influem nelas: começam a atuar de acordo com influências elaboradas verbalmente ao reproduzir as conexões verbais reforçadas pelas instruções anteriores do adulto e as modifica, em seguida, significando verbalmente os objetivos imediatos e últimos de sai conduta, indicando os meios para alcançar estes objetivos e subordinando estes objetivos a instruções formuladas verbalmente”. Esta etapa do aprendizado se consolida quando se pode estabelecer que o pensamento é ‘fala menos som’, daí que o aprendizado lingüístico só se solidifica quando a criança aprende a falar socialmente, para que possa, novamente, tornar esta fala em fala interior. “A compreensão da relação entre signo e significado que começa a manifestar-se na criança nessa idade é algo diferente, em princípio, da mera utilização de imagens sonoras, imagens de objetos e suas associações. E a exigência de que cada objeto, seja qual for, tenha um nome, pode ser considerada uma verdadeira generalização feita pela criança – possivelmente a primeira (apud Stern, 40, pp.109-110)”. Para Vigostki,
“(...) a função social da fala já é aparente durante o
primeiro ano, na fase pré-intelectual do desenvolvimento da fala. Reações
bastante definidas à voz humana foram observadas já no início da terceira
8
semana de vida, e a primeira reação especificamente social à voz, durante o segundo mês (5,p. 124) (...) as risadas, os sons inarticulados, os movimentos etc., são meios de contato social a partir dos primeiros meses de vida da criança”. E é mais ou menos aos dois anos de idade que a criança faz a maior descoberta de sua vida: cada coisa tem seu nome. Esta descoberta sinaliza a evolução do pensamento e da fala, até então separadas, que se encontram e se unem para iniciar uma nova forma de comportamento. E, ainda Vigostki afirma que: “Esse instante crucial, em que a fala
começa a servir ao intelecto, e os pensamentos começam a ser verbalizados, é indicado por dois sintomas objetivos inconfundíveis: (1) a curiosidade ativa e repentina da criança pelas palavras, suas perguntas sobre cada coisa nova (“O que é isso?); e (2) a conseqüente ampliação de seu vocabulário, que ocorre de forma rápida e aos saltos.” Neste estágio a criança parece Ter descoberto a função simbólica das palavras.
Por isso é fácil compreender o quanto são importantes as
experiências vivencias ao longo da vida. Elas permitem o conhecimento do mundo
estabelecendo
relações,
criando
hábitos
que
irão
se
repetir
incansavelmente em situações diversas e circunstância semelhantes. A atividade humana não se limita à repetição de fatos ou impressões. Elas criam e ações dando novas formas aos conteúdos vividos, utilizando-se da função criadora do cérebro que permite combinar, reestruturar, redefinir e reelaborar a partir de experiências passadas. À isto a psicologia chama de imaginação ou fantasia, a capacidade que o homem tem de combinar e dar novo significado à estas palavras.
A imaginação tem como base a atividade criadora que se manifesta em
9
todos os aspectos da experiência humana. Podemos comprovar sua veracidade pelo fato de que tudo que nos rodeia foi criado pelo homem para favorecer sua existência. Olhando por este prisma, assim como o aprendizado se estabelece desde a mais tenra infância, assim o é a atividade criadora, refletidos em suas atividades lúdicas, em seu momento de brincar, a criança estabelece a imaginação como fonte de sua relação social, este brincar tem fundamental importância no seu desenvolvimento e maturidade. Nele, a criança repete sua experiência de vida, o que ouve, o que vê, mas, mais do que apenas repetir, a criança reelabora estas vivências permitindo novos significados e novas funções para estas experiências. Quanto mais a criança experimentar, quanto mais ela ouvir, quanto mais ela ver, mais produtiva e maior aprendizado a criança adquirirá, permitindo que sua imaginação se torne criadora e fértil. Em sendo assim, a arteterapia pode proporcionar às crianças uma combinação entre os elementos da fantasia, e imaginação onde a combinação destes elementos, através das histórias infantis, permite a vinculação dos elementos, produto mesmo da fantasia, e não somente dos elementos que correspondem a algum fenômeno real. Este conteúdo imaginário das histórias oferece uma representação que encerra em si elementos afetivos que influem diretamente em seus sentimentos permitindo a construção de uma nova realidade, evocando sentimentos reais e vivenciados pela criança, mas transmutando-os e reformulando-os. Vigotski afirma que “o conto ajuda a explicar complexas relações praticas: suas imagens iluminam o problema vital e o que não podia fazer a fria prosa fê-lo o conto com sua linguagem figurada e emocional”.
Permitir à criança entender seus sentimento e reestruturá-los é uma
10
forma de favorecer o aprendizado dos elementos lingüísticos e favorecer seu amadurecimento tornando-a, mais tarde, um adulto capaz de revalidar situações de risco emocional.