Ser Português, uma honra, um privilégio merecido ou um acaso assumido

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Autor Rainer Daehnhardt Director Editorial Eduardo Amarante Coordenação Editorial Dulce Leal Abalada Revisão Isabel Nunes Grafismo, Paginação e Arte final Divalmeida Atelier Gráfico www.divalmeida.com Capa Gravura de Josse Lieferinxe do século XV representando S. Miguel Arcanjo (Pormenor) Técnica da capa Divalmeida Atelier Gráfico Impressão e Acabamento Espaço Gráfico, Lda. www.espacografico.pt 1ª edição – Novembro 2012 ISBN 978-989-8447-24-1 Depósito Legal nº 350972/12 © Rainer Daehnhardt & Apeiron Edições Reservados todos os direitos de reprodução, total ou parcial, por qualquer meio, seja mecânico, electrónico ou fotográfico sem a prévia autorização do editor. Projecto Apeiron, Lda. www.projectoapeiron.blogspot.com projecto.apeiron@gmail.com apeiron.edicoes@gmail.com


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Ser Português

Sentir-se Português é acreditar, é acarinhar, é amar Portugal

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nos bosques dos Carvalhos Sagrados do que outrora foi a Lusitânia

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O desarmamento do vencido e a imposição da sua passagem por debaixo da lança romana simbolizava o início da escravatura.

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ÍNDICE

Prefácio de Eduardo Amarante

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CAPÍTULO I Passado, Presente e Futuro 1. A crise mundial 2. A integração de Macau na China 3. A origem oculta do narcotráfico 4. Lisboa moribunda – acerca do terramoto de 1755 5. Vem aí a Europa de Orwell? 6. Portugal foi o último país livre

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CAPÍTULO II Quo Vadis, Europa? - a Europa desarmada 1. Açores: refúgio ancestral 2. Os Açores vistos de dentro 3. Entretanto a Europa suicida-se 4. O eurofalhanço 5. “Anglais??? Jamais!!!” 6. Assim caiu a torre de Babel 7. O caldeirão sem alma nem futuro 8. Fomos traídos e burlados 9. Doze contra doze 10. Toma lá e cala-te 11. A fraude do Parlamento Europeu 12. Ninguém votou a bandeira

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CAPÍTULO III O mundo actual 1. A Sida 2. O espírito do Quinto Império no mundo global 3. Não é só a língua que nos une

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A apresentação e contagem do saque sempre foram mais importantes do que a parada da vitória.

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PREFÁCIO _______________________

Nasci na invicta cidade do Porto na já distante década de 50 no seio de uma família burguesa portuense. Meu pai era o único garante do sustento de uma casa onde viviam os meus pais, os meus 3 irmãos e eu, o meu avô paterno e tínhamos duas criadas, uma mulher-a-dias e costureira que providenciavam as nossas necessidades. Nada nos faltava: frequentávamos os melhores colégios do Porto e o Verão, ou passava em alguma casa de campo ou acompanhava a minha mãe às termas. Eram experiências enriquecedoras, pois se no primeiro caso tomava contacto estreito com a Natureza, as gentes do campo, os seus costumes e tradições, no segundo permitia-me conhecer o outro lado do homem, as suas doenças, a dor, a saúde, ou a falta dela, e os benefícios das terapias naturais. Tive uma infância e adolescência feliz, orientada por uma educação sólida dentro dos preceitos éticos e morais, pautada por uma certa rigidez, mais disciplinar, transmitida pela costela alemã de minha mãe. Porém, chegados os 17 anos algo mudou, algo perturbava-me, precisava de respostas que não encontrava sobre o papel que o mundo, o meu país, reservava para mim: “quem sou eu, de onde venho e para onde vou?” Estive uma semana em silêncio e não falava com ninguém, nem com a família. Meu pai mostrava-se preocupado e, uma vez, interpelando-me a sós com paciência e compreensão, percebeu o que se passava. Propôs-me que conhecesse o mundo para além dos Pirenéus. Naquele tempo muitos outros estavam a fazê-lo, saltavam a fronteira, inclusivamente amigos. E foi assim que, aos meus 18 anos feitos (1971), embarquei na aventura mais perigosa, na mais alucinante viagem de conhecer o mundo para além deste rectângulo; no fundo, conhecer-me a mim próprio, como português no mundo. Era a vontade de descobrir novos lugares, novas gentes, outros costumes, outras religiões… uma panóplia de emoções e sentimentos com que se constrói o nosso Ser face ao desconhecido. Conheci e vivi em Paris, Lyon (onde frequentei a universidade), Bruxelas Amesterdão, Antuérpia… tomando contacto com realidades e vidas nunca sonhadas, experimentando muitos dos benefícios, mas também malefícios de um progresso e liberdade tão almejados pelas gentes deste lado dos Pirenéus. Foi em Lyon que, com 19 anos, abracei um projecto que viria a alargar mais os meus horizontes: a Nova Acrópole, presente em mais de 50 países diferentes; de dirigente em Paris fui convidado pouco tempo depois, pelo fundador inter-

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nacional Prof. Jorge Livraga, a abrir uma secção em Portugal. E assim aconteceu em Agosto de 1979. Mas os tempos mudam e o mesmo acontece com a vontade dos homens e, para mim, este projecto sucumbiu poucos anos antes do limiar do ano 2000. No entanto, não desejaria deixar de realçar o quanto foi importante para mim, durante esses largos anos, ter encontrado homens e mulheres que muito me enriqueceram como ser humano e como Português. Um desses homens foi Rainer Daehnhardt. Aquando da visita à exposição nas Amoreiras Lusitanos – Quem Somos organizada por Rainer Daehnhardt, em 1988, tive o privilégio de conhecer um grande português de origem luso-alemã que me tocou profundamente com o seu sentir e amor a Portugal, a ponto de se estabelecer desde então um respeito e uma amizade que perduram todavia. Assim, enquanto director da Nova Acrópole publiquei, na década de 90, vários trabalhos e livros de Rainer Daehnhardt sobre a temática da História de Portugal e os feitos dos seus heróis, que tiveram um forte e positivo impacto na opinião pública. Posso afirmar que, sem exagero, desde essa altura os portugueses ao tomarem conhecimento de alguns aspectos que desconheciam da nossa história, nomeadamente com as obras que tanto sucesso tiveram Páginas Secretas da História de Portugal, Missão Templária nos Descobrimentos, Portugal-A Missão que Falta Cumprir, Homens, Espadas e Tomates, Mulheres de Armas e Coragem etc. se consciencializaram da sua importância na história e no papel que tiveram e têm no futuro da humanidade. Rainer Daehnhardt, nascido em 1941 em Viena de Áustria, em plena 2ª Guerra Mundial, sentiu na pele os horrores dos desvarios humanos, o que o levou, mais tarde, a tornar-se um dos maiores especialistas a nível mundial de armas antigas como meio de compreender os móbiles que conduzem o ser humano na sua capacidade quer de destruir, quer de construir. Descendente de uma família de diplomatas alemães radicados em Portugal desde 1706, Rainer Daehnhardt tem ascendência materna portuguesa, bem como cinco filhos nascidos em território luso. O seu amor por Portugal revelou-se cedo, identificando-se plenamente com o gene luso, no que ele tem de heroísmo, abnegação, capacidade de improviso, espírito de tolerância e sentido universalista, no seu entender, único no mundo. Estudou a fundo a nossa História, reunindo para tal um acervo documental notável, a que as futuras gerações terão acesso graças ao recém-fundado Museu Luso-Alemão.

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Como filósofo da História anteviu nas décadas de oitenta e noventa, com base em inúmera informação a que teve acesso, bem como à sua percepção do encadeamento natural dos factos históricos, a cruenta realidade dos nossos dias. Assim, ao lermos os capítulos deste livro, a maioria deles escritos há mais de 15 anos, consciencializamo-nos da actualidade dos mesmos e de quanta razão tinha o Autor, que nos vinha alertando para o que está, HOJE, a acontecer. A mensagem que Rainer Daehnhardt aqui nos deixa é que há que preservar a identidade portuguesa como garante da nossa sobrevivência como povo e da nossa missão no futuro. Tal como nos diz o Autor, “a fim de acordar a

nossa juventude para a realidade do nosso passado, resolvi escrever este e outros livros relacionados com o tema, cumprindo assim a parte que me cabe, no campo da minha especialização, para que futuras gerações possam ter acesso à identidade portuguesa.”

Ser português é um estado de alma que não se limita a uma geografia… é uma forma de SER e de ESTAR consigo próprio, na relação com a família, com os amigos, com o país e, numa forma mais ampla e universalista, no contacto com os outros povos. Porém, existe um outro lado mais nebuloso do Ser Português que, de quando em quando, se revela em forma de velhos do restelo que coarctam os mais audazes; é como se existissem dois tipos de portugueses com destinos diferentes, determinados na frase sibilina de que em Portugal nasce-se ou por castigo ou por missão. Na sequência do pensamento de Fernando Pessoa, Rainer Daehnhardt diz que existem dois tipos de portugueses. “Uma parte da população auto-intitula-

-se o primo pobre dos europeus, que vive do lado de cá dos Pirenéus, mas como é um primo julga ter um certo direito em receber alguma riqueza que se criou no centro da Europa. Assim, andamos de mãos estendidas à espera que nos atirem algumas migalhas, que nos mandem algum dinheiro para cá. Quem vive assim nasceu como escravo, para escravo e escravo será. A outra parte da população portuguesa não se identifica com esta forma de ser português. Identifica-se com o português que eu chamo PORTUGUÊS GLOBAL. São homens e mulheres que têm orgulho da sua identidade, que vêem a sua ascendência não só centenária portuguesa, mas milenária lusitana e que orgulhosamente se afirmam em qualquer parte do globo com a sua identidade portuguesa.” Os portugueses possuem dois sentimentos antagónicos: de serem herdeiros ou descendentes de um passado histórico glorioso e, simultaneamente, de estarem atolados desde há séculos num ambiente de mediocridade a vários níveis. Daí os poucos altos e os muitos baixos (em termos de auto-estima) em

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que nos encontramos quando vivemos, por necessidade ou conformismo, alapados no pequeno rectângulo do ocidente europeu. Só que o gene luso fala mais alto do que os murmúrios amargos do português mediano e conformado. E é este gene luso que, sentindo-se atrofiado perante tão redutoras perspectivas de vida e horizontes tão curtos, reage heroicamente, lançando-se na grande aventura da descoberta de novas terras e oportunidades, fazendo jus à memória dos seus ilustres antepassados. O Português global e universalista tem a capacidade inata de integrar e de se integrar no meio que o rodeia de forma pacífica e tolerante, desempenhando, muitas vezes inconscientemente, uma missão de fraternidade e solidariedade, dentro do espírito do chamado Quinto Império a cumprir. Apercebi-me que o “Ser Português” não se conforma com horizontes estreitos. Nesse sentido, quis, já em idade madura, ver “Portugal de fora”, ou melhor dito, abraçar o Portugal Global, exilando-me voluntária e temporariamente no Brasil, percorrendo-o de norte a sul, para aí poder sentir o palpitar da Lusitanidade naqueles que, estando distantes da Pátria-Mãe, não deixam de ter orgulho em falar e, diria mesmo, em ostentar o nome de Portugal. E isso porque se identificam com os valores, a história e as tradições do nosso País. Têm uma percepção grandiosa do mesmo. À distância tem-se uma visão mais global e unificadora. As pequenas coisas, os actos mesquinhos reduzem-se a pouco mais que nada; pelo contrário, as grandes coisas, os grandes feitos, as qualidades intrínsecas ao povo sobressaem como fachos luminosos que incendeiam o nosso ser e elevam até ao infinito os nossos corações (outro símbolo de Portugal) e a nossa auto-estima. O gene luso, espalhado pelo mundo, ao contrário do que sucede no Portugal europeu, está mais vivo e compreende melhor o que é a Pátria e a missão a ela inerente, talvez devido à dor da ausência que desperta sentimentos olvidados e à própria “fibra” que caracteriza os pioneiros e os aventureiros do mais além... A capacidade de união da diáspora lusa é natural e bem maior do que na Metrópole e o seu entusiasmo e convicção aguardam o grande Apelo que terá de partir da Pátria-Mãe. Só falta soar o clarim! Eduardo Amarante

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CAPÍTULO I _______________________

PASSADO, PRESENTE E FUTURO1 Em primeiro lugar queria chamar a atenção para a diferença que existe entre as palavras “Portugal” e “Lusitânia”. Em geral, as pessoas pensam que Portugal é uma coisa e que Lusitânia é o mesmo, ou seja, que Lusitânia é o nome antigo de Portugal e que Portugal é o nome moderno de Lusitânia. Geograficamente falando, se olharmos para a forma como os mapas são hoje feitos, com o norte em cima, temos Portugal, uma faixa vertical à beira do Atlântico; e a Lusitânia é uma faixa horizontal. A Lusitânia tinha uma parte da zona geograficamente portuguesa mas, por exemplo, Salamanca e Mérida faziam parte da Lusitânia. Assim sendo, não se pense que a Lusitânia e Portugal são a mesma coisa. A Lusitânia era uma faixa horizontal dentro da Península Ibérica e Portugal, hoje… é uma faixa vertical dentro da Península Ibérica. O que me agrada muito na questão de Portugal e Lusitânia é que quando surge perigo para Portugal renasce uma força lusitana e quando esta última desaparece renasce uma espécie de um novo Portugal. Isto, num grau maior ou menor, já aconteceu por diversas vezes e isso dá-nos uma certa esperança quanto ao futuro. Em 1991 festejei com um grupo de jovens patriotas a passagem de Fim de Ano nos bosques dos carvalhos sagrados em Belas, onde, segundo reza a História, Viriato enterrou a sua espada. Trezentos soldados do Exército Português ajudaram a relevantar um dólmen e em frente deste dólmen, símbolo da ascendência lusitana das culturas dolménicas e perante a escultura do javali do deus Endovélico, deus máximo dos povos celtiberos – e os Lusitanos eram um povo celtibero –, nós, no dia 31 de Dezembro de 1991 fizemos, em frente deste dólmen, uma espécie de cerimónia onde evocámos o nome de cada Rei de Portugal e queimámos com incenso uma gravura de cada Rei de Portugal, mencionando o que cada um tinha feito por Portugal. Precisamente à meia-noite, na passagem de 1991 para 1992 disparámos um tiro com o único canhão que voltou de Alcácer-Quibir. Porque esse foi o último momento em que Nota do Editor - Após 15 anos da realização deste evento o leitor será confrontado, pela leitura deste texto, com a actualidade dos acontecimentos que vieram a suceder-se ao longo dos anos subsequentes. Artigo extraído de um jantar tertúlia no restaurante “Mexicana” em Lisboa, Junho 1997. 1

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