Revista Dança em Pauta 03

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Ano1 nº3 abril de 2011

Cristovão Christianis e Katiusca Dickow Um toque de técnica e de carisma Entrevista Jomar Mesquita e a dança de salão contemporânea Em pauta Nos bastidores da Dança dos Famosos


Uma palavra ao Leitor Nossa terceira edição está sendo lançada numa data muito especial, o Dia Internacional da Dança, 29 de abril. O Conselho Internacional de Dança (CID), órgão da UNESCO, recomenda que neste dia todos os envolvidos com a dança, de professores a comunicadores, façam a sua parte, divulgando a arte de forma a atrair um novo público, ainda pouco familiarizado com a dança. Acreditamos estar fazendo a nossa, com esta edição repleta de informações sobre o universo da dança. E além da importância da data, temos muito mais motivos para comemorar, pois nossa equipe continua a somar talentos. Cristovão Christianis, Perfil e capa desta edição ao lado da parceira Katiusca Dickow, se juntou ao nosso time de colunistas, em fevereiro, escrevendo artigos mensais com o tema Dança e Educação. Também contamos agora com a colaboração da produtora de moda Yeda Priscila, que nos ajudou a produzir algo inédito, um editorial de moda na dança de salão. A proposta foi fugir dos estereótipos dos ritmos para sair dançar, mostrando que o mais importante na hora de se


EXPEDIENTE Revista digital Dança em Pauta Ano1 nº3 abril de 2011

vestir, assim como em tudo na vida, é manter a sua essência. Entre os destaques, trazemos também uma entrevista com o consagrado coreógrafo Jomar Mesquita, que depois de um espetáculo de sua Cia de Dança Mimulus, ainda teve a maior disposição para bater um papo com a gente até às 2h da madrugada. “Não se preocupa não que apesar do cansaço, depois que termina a apresentação eu fico tranquilo. Além do mais, eu adoro falar sobre meu trabalho”, disse ele na ocasião. Feliz Dia da Dança e aguardem o que estamos preparando para a próxima edição, quando estaremos completando nosso primeiro ano de existência!

Editora Keyla Barros – Mtb 3769 Diretora de arte Déborah G. Mendonça Colaboraram nesta edição Camila Wolinger Daniel B. Tortora Juliana Davanso Kelly Tortora Leandro Bonfim Lucas Pelá Luiza Xavier Virgínia Hollaender Yeda Priscila CAPA Foto: Daniel B. Tortora Dançarinos: Cristovão Christianis e Katiusca Dickow * É proibida a reprodução total ou parcial do conteúdo desta revista sem autorização expressa.

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Sumário

16 REPORTAGEM DE CAPA

06. EM PAUTA | Sylvio Lemgruber fala sobre a Dança dos Famosos 16. PERFIL | Cristovão Christianis e Katiusca Dickow 36. MODA | Abaixo os estereótipos! 54. CULTURA & DANÇA | História: da dança dos animais às danças a dois


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62. GIRO | Beleza, brinquedos e recordes 70. ENTREVISTA | Jomar Mesquita e a dança de salão contemporânea 96. A DANÇA NO CINEMA | Ritmo do Amor 102. COBERTURA FOTOGRÁFICA | Baila Floripa e Baila Caliente


em pauta

Nos bastidores da

Dança dos Famosos

com Sylvio Lemgruber, coreógrafo do Domingão do Faustão texto: Luiza Xavier Fotos: Francisco Freitas


Nas tardes de domingo, duas dezenas de moças sorridentes exibem na TV seus corpos perfeitos em coreografias bem ensaiadas. A leveza e a sincronia dos movimentos traduzem a busca pela perfeição e revelam a dedicação de um profissional que vive para a dança: Sylvio Lemgruber, o coreógrafo do Domingão do Faustão e da Dança dos Famosos, quadro que retorna à telinha no dia 15 de maio “com algumas surpresas”.


em pauta


Carioca criado sob o sol de Copacabana, Sylvio herdou da mãe, professora de educação física, e do pai, atleta, o gosto e a vocação pela atividade física. A prática constante de exercícios que o tornou um competidor da modalidade de ginástica aeróbica acabou se transformando em profissão e projeto de vida. Graduado em Educação Física, ele passou a ter aulas de dança, no final dos anos 80, com Jaime Arôxa, que considera um grande incentivador.

com o tema que rege a sua vida. “Amo o que eu faço”, fez questão de frisar. Mas nem precisava. O tom tranqüilo de sua voz, as expressões faciais e os gestos que acompanhavam sua fala já seriam suficientes para revelar sua paixão.

Sylvio, que também é coreógrafo de musicais e diretor teatral, ingressou no programa apresentado por Fausto Silva quando havia o quadro Academia do Faustão. Na época, convidado a coreografar um grupo de 40 bailarinas, aceitou o desafio e não No intervalo de uma das aulas parou mais. Em 2005, participou que ministra em uma academia da primeira reunião em que da Barra da Tijuca, na Zona foi apresentada a proposta de Oeste do Rio, região da cidade produzir um quadro em que onde também está localizado o artistas famosos se apresentassem Projac – a central de estúdios de numa competição de dança. produção da TV Globo – Sylvio “O Fausto tinha visto no exterior recebeu a reportagem da Dança e sugeriu a ideia. Desde o início em Pauta revelando, logo de início, eu sabia que ia ser um sucesso”, sensibilidade e total envolvimento lembra.


Alguns dos primeiros convidados demonstraram preocupação, recorda Lemgruber, pois estariam se expondo em uma atividade com a qual não estavam familiarizados. Entretanto, o Dança dos Famosos foi conquistando o público, ganhando credibilidade e, hoje, muitos artistas passaram a se interessar pela competição, pedindo para participar do quadro. “Não é uma exposição gratuita, há preocupação de que todos apareçam bem”, ressalta o coreógrafo que, além de orientar os professores e professoras que instruem os alunos-artistas, acompanha os ensaios, auxiliado pela dançarina e também coreógrafa Bianca Teles. “O sucesso do Dança dos Famosos é resultado da seriedade com que o quadro é construído. E também

por provar que todos podem dançar. Melhor do que qualquer livro ou vídeo de autoajuda é você constatar que pessoas que não têm um passado ligado à dança conseguem no domingo apresentar aquele show”, afirma. Sylvio tem a convicção que, embora muitos achem que é um milagre pessoas que nunca tiveram contato com a dança arrasarem no palco do Domingão do Faustão, em se tratando de dança, não há mágica, apenas muito trabalho e força de vontade. Qualquer um é capaz de dançar, garante.



“Com a dança, tento mostrar que todos devemos brincar. Sem medo, sem limites. A dança é o caminho para a superação”, Silvio Lemgruber


Coreografia sob medida Lemgruber explica que realiza “um trabalho didático” com cada participante do Dança dos Famosos para criação de uma coreografia personalizada. Segundo ele, é importante deixar o artista “o mais à vontade possível” durante todo o processo de criação, estudando os perfis de cada aluno individualmente. “É como a roupa feita no alfaiate, em que é necessário tirar as medidas”, explica. No intenso período de ensaios que antecede cada apresentação semanal, a preparação envolve conversa, paciência e atenção para as características de cada aluno, o que, para Sylvio, vale também fora do ambiente da televisão. “Meu trabalho com os anônimos é rigorosamente o mesmo. Não faço isso para agradar, é porque acredito mesmo que todos podem dançar. A dança é o caminho. Todo ser dança, até os pássaros, os animais. Não é apenas seguir regras como querem muitos estudiosos”, afirma. Mas ele alerta que, em todo processo é preciso estar preparado também para os erros, e, neste sentido, é preciso instruir o participante para que ele consiga lidar com os bons e maus momentos dos ensaios e das apresentações.


A dança é para todos Para Sylvio, o quadro Dança dos Famosos é apenas uma forma de mostrar as pessoas que não existem limites para a dança, todos podem praticar e usufruir dos seus benefícios. “Com a dança, tento mostrar que todos devemos brincar. Sem medo, sem limites. A dança é o caminho para a superação”, afirma. Quando pergunto se os homens são mais resistentes à dança durante a preparação do quadro, ele é categórico: “A sociedade ainda é machista. 2011 não está muito longe de 1960 nesse aspecto”. Para ele, um exemplo positivo de superação de paradigmas e preconceitos com relação a dança, foi a trajetória do ator Rodrigo Hilbert na Dança dos Famosos. “Ele é um gaúcho de 1,90m, vindo de uma família conservadora, onde homem não dança, e fez uma trajetória espetacular no programa, de luta e perseverança. Acabou ganhando a competição”, relata.


Stênio Garcia, Pedro Bismarck e Sérgio Loroza também são lembrados pelo coreógrafo como bons exemplos de participantes que ultrapassaram barreiras. “O Serjão Loroza dizia: ‘você vai me colocar no chão, como é que eu vou levantar?’. Eu explicava que ele encontraria um jeito. E foi maravilhoso. Cada um tem uma história fantástica. A coreografia reflete muito do caráter, do jeito do artista. É feita para cada um e por cada um deles”, enfatiza. Para os fãs de dança e do quadro, agora é aguardar o início da próxima edição da Dança dos Famosos, dia 15 de maio, para conferir quem serão os artistas e seus professores, igualmente famosos e talentosos. Depois é ficar na torcida pelo seu favorito, ou apenas apreciar o desenvolvimento dos alunos, pois como diz Sylvio, “o prazer na dança é imprescindível”.


perfil

Cristov達o Christianis & Katiusca Dickow


Um toque de técnica e de carisma Texto: Keyla Barros Fotos: Daniel Tortora e arquivo pessoal Agradecimento: Chácara Villa Deinonni

Imagine uma combinação harmoniosa de técnica e carisma. Esta parece ser a fórmula de sucesso dos dançarinos Cristovão Christianis e Katiusca Dickow, que foi evidenciada durante o Mundial de Tango Etapa Brasil, realizado em 2010, em Curitiba. Na ocasião, eles conquistaram o título de Campeões Brasileiros de Tango Escenário, ou Tango Palco, prova de sua qualidade técnica, e o prêmio Arena Tango, baseado na votação dos internautas, na categoria “Par Destaque”, comprovação do carisma.


perfil O resultado os levou direto para a semifinal do Mundial, em Buenos Aires, e, mesmo não tendo sido classificados para a final, eles relatam que a experiência foi emocionante. “Participar do Mundial sempre foi um sonho. Ficamos muito felizes de estar no palco ao lado de profissionais que são nossas referências. Pretendemos competir novamente, só que com mais preparação, porque agora temos noção do que é preciso melhorar”, declara Katiusca. Mas a vitória nesta primeira competição de que o casal participou foi apenas a coroação da parceria bem sucedida de sete anos, que garante o prestígio da dupla. Juntos, eles já ministraram aulas e se apresentaram nos melhores eventos de dança do país e vem desenvolvendo um trabalho focado na capacitação de professores para o ensino da dança a dois. Este trabalho resultou também na coluna mensal que Cristovão assina

no site da revista Dança em Pauta, com o tema Dança e Educação. A coluna tem sido muito elogiada e revela a preocupação dele em disseminar a importância do estudo e da formação adequada dos professores de dança de salão. Atualmente, a dupla mora em Porto Alegre, onde recentemente inauguraram filial da Oito Tempos Dança de Salão, rede de escolas iniciada em Curitiba, da qual Cristovão é sócio-proprietário e diretor técnico. A escola também possui filiais em Belo Horizonte e Caxias do Sul. Se não bastasse todo o profissionalismo e talento, a simpatia do casal arrebata admiradores e foi marcante na tarde em que passaram com nossa equipe, realizando sessão de fotos e entrevista, na Chácara Villa Deinonni, em ColomboPR. Conheça agora, um pouco da história e opiniões destes profissionais.



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Cristovão: o engenheiro da dança Quem poderia imaginar que um técnico em eletrônica, cursando faculdade de engenharia e trabalhando na Dataprev, largaria tudo para seguir carreira na dança? Ao que tudo indica o mestre Jaime Arôxa imaginou. Tanto, que convidou Cristovão a fazer parte de sua cia de dança, no final de 1994, cerca de um ano depois de se tornar bolsista da escola, no Rio de Janeiro. E pensar que tudo começou com algumas aulas meio a contra gosto, com o professor Zezinho, em uma pequena academia no bairro carioca de Laranjeiras, para agradar uma namorada. O fato é que, após um ano tentando conciliar ensaios, faculdade e trabalho, para surpresa dos familiares, ele decidiu se dedicar integralmente a dança. E dedicação foi mesmo


a palavra de ordem para ele nesta nova profissão. Iniciou a faculdade de Educação Física e passou a buscar informações na área. “Eu tinha uma necessidade de me embasar até pra dar uma satisfação aos outros, pra não parecer que estava sem controle. Acreditei que o estudo me traria benefícios e realmente trouxe. Na faculdade vi que tudo que se usava para o esporte poderia voltar pra dança, porque é ensino de uma atividade motora também”, afirma. Foram 12 anos atuando como integrante da Cia de Dança Jaime Arôxa, participando de grandes festivais pelo país e dando aulas, até ser convidado pelo próprio Jaime a abrir uma filial da escola de dança em Curitiba. Depois de algumas visitas a cidade para conhecer o público, aceitou o desafio e mudouse para a capital paranaense, onde conheceu Katiusca.



Katiusca: da meia ponta ao pé no chão “Várias vezes a Sheila ou o Cristovão falavam: ‘Katiusca desce da meia ponta’ ou ‘tá muito leve’”, lembra ela entre risos, se referindo as suas primeiras aulas de dança de salão ministradas pelo atual parceiro e pela professora Sheila Santos. A dificuldade era resultado da formação da dançarina. Incentivada pela mãe, Márcia Maria Cunha, ela iniciou o contato com a dança, aos oito anos, em Foz do Iguaçú, nas aulas de balé clássico. Já em Curitiba, deu continuidade ao estudo no Teatro Guaíra, onde permaneceu até os 18 anos, quando entrou para o curso de Dança da Faculdade de Artes do Paraná (FAP). Em 2003, uma aula na FAP com Jaime Arôxa, que estava inaugurando uma escola em Curitiba, a fez optar pela dança de salão no estágio obrigatório.

“Como fiz balé a vida inteira queria escolher outra atividade, mas nunca tinha tido contato com a dança de salão e tinha certo preconceito por não saber o que era. Depois desta aula de salsa do Jaime, me apaixonei pela dança de salão”, relata. Ela iniciou o estágio no Centro de Dança Jaime Arôxa, então administrado por Cristovão. Cerca de seis meses depois, a parceira dele na época, Silvia Senra, precisou se ausentar e Katiusca foi chamada para substituí-la em um evento. “Pra mim foi um grande desafio, porque não me considerava dançando dança de salão. Mas como era mais pegar a coreografia, algo que estava acostumada no balé, aceitei”, conta. Iniciava aí uma parceria que ultrapassou os palcos e salões, com o casamento deles, em maio de 2009.


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“Ser profi profess o ss porq ão mar r é uma avilh ue v o cê co osa, c o m cresc l imen o proc abora esso to d Mas de a s pe tem s proc que go soas. esso s e nã tar do resu o só ltad d o”, C risto o vão.

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“Me identifiquei com o tango porque tem muita linha, como no balé. Hoje, apesar de gostar de dançar todos os ritmos, o tango é minha grande paixão”, Katiusca.






O dom de ensinar “Vibro mais ao ver uma pessoa que aprendeu comigo dançando do que com minha própria dança. Porque eu sou um, mas imagina ver várias pessoas que ensinei o passo básico dançando, se divertindo, ou mesmo uma que chega a ser professora. Dá muita satisfação”, afirma Cristovão. São declarações como essa que deixam claro porque o dançarino carioca, adotado pelo sul, arrebata fãs do seu trabalho entre amadores e profissionais que já passaram por suas aulas. Em Curitiba, é comum ouvir professores ou alunos citarem o nome de Cristovão em conversas informais, como referência de qualidade. Durante a entrevista, pergunto a ele: “Mas afinal, qual o diferencial do professor Cristovão que encanta tanto os alunos?”. Ele sorri e com uma tranqüilidade e lógica típica das pessoas que tem o dom de ensinar fala sobre um conjunto de fatores que incluem ter sido aluno de Jaime Arôxa, muito estudo, horas de treino e bom humor. Então, é interrompido por Katiusca que, sem tentar disfarçar a admiração pelo parceiro, explica: “O principal diferencial dele é a capacidade de absorver tudo, coisas do cotidiano e associar a dança de salão ou a atividade motora. E ele consegue trazer isso para sala de aula, então o aluno fica fascinado!”.


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Mas não são apenas os conhecimentos baseados nas experiências corriqueiras diárias que ele emprega na dança. Buscando aperfeiçoamento como docente, Cristovão também estuda metodologias e didáticas de ensino e alerta que os professores devem lembrar que a evolução da aprendizagem é relativa para cada indivíduo.

“O maior erro é alguém que não conhece a pessoa dizer se ela está dançando bem ou mal, porque estará tratando isso como um valor absoluto. Não sou igual a você corporalmente, minha vida não foi a mesma, então meu resultado é diferente. É preciso entender que lidar com pessoas é lidar com um universo complexo”, afirma.



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Profissionalizando a dança de salão O interesse dos jovens pela dança a dois, a criação da primeira pós-graduação em dança de salão, a maior procura dos profissionais do meio por formação e informação, são fatores que, para o casal, demonstram que a dança de salão está seguindo um caminho promissor. “Não dá pra comparar com o balé, que é uma dança mais antiga e já foi codificada, mas as coisas estão evoluindo no meio e as pessoas estão vendo que precisam buscar informação para não serem atropeladas”, diz Katiusca. Visando trabalhar efetivamente para a profissionalização do meio, eles contam estar investindo na aproximação com o ambiente acadêmico com o objetivo de incluir a dança de salão dentro da grade curricular de um curso de graduação. Cristovão revela também que pretendem montar uma Cia de Dança de Salão profissional. “Acredito que existe uma carência deste tipo de cia no Brasil, pois as pessoas adoram ver dança de salão. Ela faz parte do cotidiano, porque em algum momento da vida você dançou a dois”, comenta. Estudo, dedicação e amor a arte que é sua profissão. Esta é a história de sucesso deste casal, orgulho para a dança de salão brasileira.


moda


Fotos: Daniel Tortora Produção e Stylist: Yeda Priscila Maquiagem: Juliana Davanso

Cada pessoa tem um estilo, uma personalidade que é nitidamente refletida na forma de vestir. Mas e quando a moda de um ritmo de dança se sobrepõe ao seu estilo? Segundo a produtora de moda e stylist Yeda Priscila, se isso acontecer não vai dar samba. “Fuja dos estereótipos, use a tendência a seu favor. O que se encaixa ao seu estilo é o melhor para dançar”, diz. Ela preparou para esta edição alguns looks femininos e masculinos para fazer aula e para sair dançar salsa, forró, samba e zouk. Inspire-se, crie o seu e, mais do que o estereótipo de um ritmo, vista o seu estilo, dance a sua dança e faça a sua moda!



Forró Luisa Mitsue Narazaki Colete Jeans , saia seda e regata Farm, sandália Cori Luiz Gustavo Dalazen Camiseta e calça Skype, tênis acervo



Zouk Kelly Tortora Top Cori, shorts Farm, sandália Capézio, brincos e pulseiras acervo Jall Martins Camiseta Ed Hardy para Mister Jeans, calça Skype, tênis e bracelete acervo




moda

Salsa Natália Montoni Regata, top de renda e shorts Farm, sandálias e pulseira acervo Edmar Navarro Camisa Vide Bula, camiseta Erre Nove, calça jeans Skype, tênis Doc Dog


Samba Marcia Móta Vestido Farm, sapato Melissa Samuel Samways Camisa Casa Lobo, calça Alexandre Herchcovitch; tênis Adidas


Jall Martins Camiseta Alexandre Herchcovitch; calça jeans Skype, tênis Capézio para Beco da Dança, pulseira acervo Kelly Tortora Cardigã e shorts Cori, regata Farm, sandália Sheila Aquino para Dance Shop, brincos acervo


Natália Montoni Regata Cori, shorts Farm, tênis Só Dança para Dance Shop Edimar Navarro Camiseta e calça Skype, jaqueta Mario Queiroz, tênis Só Dança para Dance Shop


moda

Luisa Mitsue Narazaki Camiseta Farm, bermuda Dance Shop, tênis Capézio para Beco da Dança Luiz Dalazen Camiseta Cavalera, colete Vide Bula, calça Skype, tênis Capézio para Beco da Dança


Marcia Móta Macacão Cori, sandália Sheila Aquino para Dance Shop Samuel Samways Camiseta Skype, calça acervo, tênis Capézio para Beco da Dança



Agradecimento: Zapata Mexican Bar e Escola de Danรงa Edson Carneiro




cultura e danรงa

A danรงa: do mundo animal aos


salões da sociedade humana texto: Virgínia Hollaender

Quando se fala do Homem, não é exagero afirmar que nenhuma civilização antiga desconheceu a dança. Egípcios, assírios, hebreus, hindus, gregos e romanos, todos dançavam. Na verdade, em geral, o ato de dançar é parte integrante da vida dos animais. Algumas espécies de pássaros machos e também os antílopes dançam durante a época do acasalamento; os alces saltam com passos ritmados perto das fêmeas que estão cortejando; certos macacos dançam, às vezes fazendo círculos e desfilando em torno de uma árvore ou de uma estaca; e, até mesmo alguns tipos de insetos, como as formigas, participam de desfiles ou cortejos e de outras atividades que lembram muito a dança.


cultura e dança

Os homens primitivos expressavam com a dança qualquer tipo de emoção. O sucesso na caçada, o nascimento de uma criança, os ritos de casamentos e funerais, as cerimônias realizadas para apaziguar os maus espíritos, a iniciação de um jovem na tribo e a adoração dos deuses sempre eram acompanhados por danças características de tais ocasiões. Em função da importância dos animais em seu cotidiano, nossos ancestrais frequentemente praticavam as danças dos animais usando máscaras, adereços de penas para a cabeça ou pintura no corpo. Na Idade Média, as danças inspiradas nos animais continuaram a ser importantes e algumas persistem até hoje. É o caso da pavana (dança do pavão), que já era conhecida no século XVI; das danças da galinha, da andorinha e da pomba, executadas pelos camponeses da Bavária; das danças do caranguejo e do sapo, na Boêmia; e da dança do

galo, encontrada em várias regiões da Europa e vista como uma dança de fertilidade e de luz. As danças primitivas eram executadas individualmente, por pessoas de um mesmo sexo, que não tinham qualquer tipo de contato corporal. A dança social, entretanto, era executada por homens e mulheres e implicava em contato físico. Hoje, este contato varia de um simples segurar de mãos até um verdadeiro abraço, muito comum nas chamadas danças lentas. São também consideradas danças sociais aquelas praticadas geralmente, mas não exclusivamente, em grupo, ainda que executadas sem nenhum contato físico entre seus participantes, como a “street dance” e o “axé”. Entretanto, não são consideradas danças sociais o balé, danças rituais como a da espada, das regiões rurais da Inglaterra, e algumas danças típicas de apresentação individual.



cultura e dança

DANÇA A DOIS As primeiras danças sociais com registro de informações precisas são as danças folclóricas e camponesas da Europa. Este é o caso das danças baixas (“basse-dances”), de passos caminhados (em oposição às danças saltadas) e muito praticadas entre os anos de 1350 e 1550; e das pavanas, muito difundidas entre 1450 e 1650. Ambas eram formais e imponentes, sendo executadas com passos deslizados. Dançadas por casais, geralmente em cortejo, eram as preferidas


dos nobres e da aristocracia da época. A “dança da roda” já era popular em toda a Europa no século XIV, sendo executada por uma longa cadeia de dançarinos que se davam as mãos e se moviam em um círculo aberto ou fechado, ou ainda ao longo de uma extensa linha. Às vezes, estas “rodas” eram muito compridas, começando no salão e continuando na rua, com outros casais juntando-se ao grupo enquanto este se movia.


Na Inglaterra as contradanças, que eram danças rurais, começaram no século XVI ou mesmo antes e no século XVII eram praticadas na corte, tendo permanecido muito populares até 1820. O minueto, nome que se originou dos “menus”, pequenos passos característicos desta dança, foi desenvolvido por Beauchamps na França do século XVII. No início do século XVIII uma dança folclórica francesa foi levada para a Inglaterra, onde se tornou muito popular: o “cotillon”. O nome deriva de “cotte”, uma anágua pregueada e curta usada pelas camponesas e mulheres do povo. Provavelmente, inspirados no “cotillon”, ou em alguma outra dança folclórica, foi que, por volta de 1740, os franceses criaram outra dança que se tornaria extremamente popular, a quadrilha, ou “quadrille”. Executada por quatro casais, ela foi formalmente introduzida na alta sociedade em 1816. Com o descobrimento das Américas, os colonizadores, principalmente espanhóis e portugueses, trouxeram para


as novas terras suas músicas e suas danças. Paralelamente a estas, os escravos negros também trouxeram com eles as manifestações musicais e corporais de seus povos, que, com o passar do tempo, exerceram considerável influência no Novo Mundo. Entretanto, os índios, por terem sido massivamente exterminados logo no início da colonização das Américas, tiveram pouca influência neste campo da vida do homem americano. Enfim, a partir do século XVIII, a Revolução Industrial e todas as suas conseqüências, bem como todas as outras mudanças sociais, econômicas e culturais pelas quais o mundo vem passando, obviamente influenciaram e continuarão a influenciar as diferentes atividades e manifestações do homem, entre elas a dança de salão. Bibliografia: STEPHENSON, Richard M. & IACCARINO, Joseph; The Complete Book of Ballroom Dancing - Doubleday, New York, 1980. * Virgínia Hollaender é socióloga e pós-graduada em Psicologia Social. Desde 1995, trabalha com a divulgação e prática da dança de salão, com foco especial no Tango.


giro

A dança na ponta dos dedos Todo mundo tem um ritmo predileto e uma forma única de dançar que reflete sua personalidade. Segundo a Specialittá, fabricante de esmaltes, a cor escolhida pelas mulheres para pintar as unhas também reflete a peculiaridade de cada uma e funciona como uma impressão digital. Neste contexto, a marca lançou no final de março a coleção Hits de flocados “Mundo de Danças”. Inspirada em danças do mundo todo, a coleção é composta por 8 cores de muita expressividade e brilho e 4 coberturas incrementadas com partículas duochrome que deixam a unha decorada por completo, com um desenho abstrato e exclusivo.


Belezseção a Confira as cores que representam as danças: • Flamenco, a apaixonada dança cigana é o vermelho com flocos vermelhos. • Samba, a nossa característica dança nacional é verde com flocos na mesma cor. • Foxtrot, uma animada dança de salão do início do século XX, vem representada pelo roxo com flocos laranja. • Salsa, a dança “caliente” do caribe é magenta com flocos laranja. • Twist, a divertida dança americana é inspirada pelo blue jeans e vem em azul com flocos azuis • Tango, tão dramático e pessoal, é transformado em um esmalte preto com flocos verdes e laranja. • Can-can, a quadrille francesa de tirar o fôlego é um belo vinho com flocos azuis.

E as coberturas: • Valsa, a suave dança é uma cobertura composta de um mix de azul e turquesa. • Cha-cha-cha, com origem em Cuba, é uma cobertura de flocos laranja/verdes. • Lambada, inspirada pela dança mistura de estilos, é representada por um mix de flocos verdes, laranja e esmeralda. • Jazz, de improviso e elegante a dança vem em forma de flocos esmeralda. • Hula, a dança poética havaiana é representada pelo tropical laranja com flocos de mesma cor.


giro


Brinqu

edos

Brincando de dança com Barbie & Ken O casal mais famoso do mundo dos brinquedos também formou parceria na dança de salão. Com o tema “Tango”, uma edição especial limitada, e esgotada rapidamente, foi lançada em 2002, apresentando pela primeira vez Barbie & Ken juntos em uma pose de ação. A Mattel, fabricante dos bonecos, diz que o visual e as roupas – vestido vermelho, meia arrastão e rosa no cabelo e na boca para ela, e calça risca de giz, camisa vermelha, colete, cabelos volumosos e barba por fazer para ele - foram inspirados na latinidade. Em 2003, a dupla fez nova parceria, desta vez na Valsa, em outra edição limitada e esgotada, cuja proposta foi trazer a graça e o esplendor do ritmo. Barbie foi apresentada em um vestido de cetim e chiffon rosa, bordado com lantejoulas e trazendo plumas na barra, enquanto Ken veste um smoking clássico com casaca.


giro

Confira em nosso site, na seção Vídeos Indicados, apresentação de Sarah no programa “Tu Si Que Vales” e vídeo da conquista do Recorde.


Record

es

Mais velha dançarina acrobática de salsa do mundo Em março de 2010, aos 75 anos, a britânica Sarah Paddy Jones entrou para o Guinnes Book como a Mais Velha Dançarina Acrobática de Salsa do Mundo. “Adoro dançar, e estou certa de que é isso que ajuda a manter-me jovem”, declarou a recordista ao jornal inglês The Times. Sarah começou as aulas de salsa em 2004, na Espanha, após a morte do marido. “Foi uma forma de terapia. Eu não podia simplesmente sentar em casa na escuridão das noites de inverno e assistir televisão. Isso teria me enlouquecido”, relata. Seu professor, Nicholas Espluosa, 40 anos mais novo que ela, percebeu o talento da setuagenária e logo se tornaram parceiros. A fama veio com a participação no programa de TV espanhol “Tu Si Que Vales”, em que sua apresentação, repleta de acrobacias aéreas, deixou jurados, platéia e telespectadores estarrecidos e garantiu a vitória à dupla. A “vovó da salsa” começou a fazer aulas de balé e sapateado aos dois anos e foi bailarina profissional até os 22, quando casou e se afastou da dança. Hoje, além da vitória no programa e do recorde, sua agenda agitada inclui participações em congressos de salsa na Europa, EUA e América Latina. “Quando a música toca eu só quero me mover. Tenho muita sorte por fazer o que faço e continuarei dançando enquanto puder”, diz.


giro

Maior tempo dançando samba no pé Que tal dançar samba no pé por 15 horas seguidas? O professor Alan Fagundes, de Caxias do Sul-RS, topou o desafio e em fevereiro deste ano entrou para o Rank Brasil, empresa certificadora dos recordes nacionais, como o brasileiro com Maior Tempo dançando samba no pé. Segundo Alan, o recorde foi sua homenagem ao samba e não exigiu nenhum preparo físico especial. “Minha rotina de trabalho já é uma forma de preparo”, diz o recordista que desde criança pratica esportes e há 10 anos atua como professor de ginástica e dança de salão.


Record

es


entrevista

Jomar Mesquita e a danรงa


de sal찾o contempor창nea Passionalidade e visceralidade em cena Texto: Keyla Barros Fotos: Daniel Tortora, Guto Muniz e arquivo pessoal


entrevista

“A dança de salão é minha formação, é o que eu sei fazer. Se me colocar pra dançar contemporânea ou clássica vai morrer de rir. A gente faz aula porque nos ajuda e é uma forma de estarmos mais bem preparados corporalmente, mas não é o que sei fazer”.



“Jomar Mesquita e sua Cia de Dança Mimulus deveriam ser engarrafados e vendidos como elixir”. A frase abre a crítica feita pelo jornal The New York Times, em 2007, referente ao espetáculo “Do Lado Esquerdo de Quem Sobe”, e deixa claro o fascínio que a dança de Jomar e sua Mimulus, de Belo HorizonteMG, exercem no público. Um exemplo é a crônica publicada no site Dança em Pauta, em outubro de 2010, em que Maristela Zamoner descreve a apresentação da Mimulus como “o ponto G da dança de salão”. Isto porque, o trabalho deste consagrado dançarino e coreógrafo, que acumula premiações no Brasil e no exterior, vai além das belas performances no palco, trazendo inovações para a arte com o que vem sendo chamado de dança de salão contemporânea. Polêmicas a parte, o fato é que sua desconstrução da dança de salão e construção de uma dança a dois feita para o palco gera um espetáculo ímpar, que tem atingido reconhecimento internacional, levando sua obra a países da Europa e Américas do Norte e Latina. Na França, entre outros, Jomar se apresentou três vezes na abertura da Maison de La Danse, como convidado especial, e, com a Mimulus, participou de três edições da Biennale de La Danse. Conhecido do público francês, durante a Bienal, atraiu mais de 600 pessoas para uma aula gratuita em praça pública.




Em junho deste ano, pela terceira vez, Jomar participará do Jacob’s Pillow Dance Festival, nos EUA, o mais antigo festival de dança norte-americano e um dos mais importantes do mundo. Ele ministrará um curso especial de samba, ao lado da parceira Juliana Macedo. Este artista mineiro, formado em Engenharia Mecânica, que desde 1990, administra a Escola de Dança, a Associação Cultural e a Cia de Dança Mimulus, falou à Dança em Pauta sobre sua forma de trabalho e sua visão da arte da dança, na entrevista que você confere aqui.


Como surgiu a Cia de Dança Mimulus? Em 1990 meus pais fundaram a escola de dança. Em 1992, eu já estava dando aula, me dedicando, e tínhamos muitos alunos jovens. Quando comecei a dançar, aos 17 anos, eu e minha namorada éramos os únicos jovens que dançavam em Belo Horizonte, não tinha ninguém da nossa idade. Então foi nesse período, início da década de 90, que os jovens começaram a buscar a dança de salão, teve um boom muito grande de adolescentes e aí resolvi reunir um grupo de oito destes alunos, que tinham um potencial maior, e começar a criar coreografias em um trabalho de experimentação.


Quando iniciou o trabalho com a Cia já existia a ideia de fazer esta desconstrução da dança de salão para o palco? A coisa da desconstrução surgiu logo de início, porque sempre me incomodava muito, e me incomoda até hoje, este lugar comum que a dança de salão, muitas vezes, insiste em permanecer. Hoje, está melhorando, mas, normalmente, são as mesmas músicas, as mesmas caras, os mesmos figurinos, o mesmo jeito de dançar, não tem muita coisa diferente, tudo muito previsível. Estes estereótipos sempre me incomodaram muito, desde o início queria fazer algo diferente, então, fomos na base da experimentação, buscando criar algo diferente com a dança de salão. Não somente com a dança específica, mas procurando fazer algo diferente relativo ao que compõe a coreografia, como o figurino, a luz.


“Me incomoda este lugar comum que a dança de salão, muitas vezes, insiste em permanecer. Está melhorando, mas, normalmente, são as mesmas músicas, as mesmas caras, os mesmos figurinos, o mesmo jeito de dançar, não tem muita coisa diferente, tudo muito previsível”.


Algumas pessoas dizem que esta desconstrução seria uma descaracterização da dança de salão. Como você vê esta diferença entre a dança de salão no palco e no salão? Enquanto escola a Mimulus tem que ter esta preocupação, então o que a gente vai ensinar ali é realmente dança de salão tradicional. Como Cia, a partir do momento que nos propomos a criar, fazer arte, não precisamos ter esta preocupação, porque o que a gente faz é dança, embora nossa base continuem sendo as danças de salão. É engraçado, porque a gente fica muito num não lugar. Apesar de atingirmos um universo muito amplo, sermos convidados para festivais internacionais super importantes ligados a dança contemporânea, onde nunca a dança de salão chegou, tem muita gente da dança contemporânea que fala que não quer a Mimulus porque é dança de salão. Da mesma forma, muita gente da dança de salão fala que não quer a Mimulus porque é dança contemporânea.


“É engraçado porque a gente fica muito num não lugar. Gente da dança contemporânea fala que não quer a Mimulus porque é dança de salão. Gente da dança de salão fala que não quer a Mimulus porque é dança contemporânea”.



E como você define a dança apresentada pela Mimulus, ou prefere não definir? Eu acho que não tem necessidade de definir, mas alguns críticos quando escrevem sobre nosso trabalho dizem que é dança de salão contemporânea. Pra mim é apenas dança. Em um determinado momento, a Cia passou por uma crise existencial, como uma adolescência mesmo, e os bailarinos, às vezes, me questionavam na hora da criação: “Mas espera aí, o que estamos fazendo? Isto é dança de salão ou o quê?”. Então a Helena Katz, uma das principais críticas de dança do Brasil, me falou: “vocês não têm que ter esta preocupação, porque a dança de salão está no corpo de vocês, por mais que desconstruam e inventem, está impregnado e vai continuar sendo a base de vocês”. Mas acho que dança de salão contemporânea é uma boa definição do nosso trabalho. Contemporânea no sentido da dança de salão que é criada hoje, porque é algo muito recente este processo de transposição das danças de salão para o palco. Quando está no palco é até estranho você falar em dança de salão, pois é algo que foi transposto e, neste processo, obviamente ela sofre muitas transformações, tem que sofrer. Aliás, o problema da dança de salão no palco é esse, ser retirada tal e qual está no salão e levada para o palco, sem sofrer as transformações necessárias. Acaba chegando ao palco com cara de salão, que não é o lugar pra fazer daquela forma


“Dança de salão contemporânea é uma boa definição do nosso trabalho. Contemporânea no sentido da dança de salão que é criada hoje. Quando está no palco, é até estranho você falar em dança de salão, pois é algo que foi transposto e sofre muitas transformações“


O Brasil possui diferentes culturas de uma região para outra. Fora do país vocês encaram outros perfis também. Isso gera respostas diferentes ao seu trabalho? A gente optou por não se especializar em nenhum gênero, então acaba sendo um trabalho bem diferente. Mas graças a Deus todos os lugares por que passamos somos muito bem aceitos. O que varia é o jeito deles reagirem, por serem culturas diferentes. Tem públicos que não aplaudem durante o espetáculo, só no final. Na França, por exemplo, eles não aplaudem rápido e efusivamente, como os brasileiros e norte-americanos, mas lentamente por 15 minutos. Demonstram o quanto gostaram pelo tempo de aplauso. É claro que o Dolores, por exemplo, pela própria temática, por ser muito polêmico, gera opiniões diversas, e fico muito satisfeito com isso. É como os filmes de Almodóvar, tem gente que ama e tem gente que odeia. Nos EUA, com Dolores, em um dos teatros era um público mais velho e foi um sucesso. Lá talvez tenha sido o público mais animado que já tivemos. Eu brinquei que iria colocar pelo menos uns 100 americanos junto com a carga do espetáculo, pra levar pra todos os lugares, porque eles eram sempre muito animados. Mas de uma maneira geral, não acho que tenha nenhuma diferença notável aqui e no exterior. Claro que os públicos são muito diferentes, mas como você comentou, dentro do Brasil já existe grande diferença de uma região para outra, e normalmente a gente é muito bem aceito.


Assista em nosso site, na seção Vídeos Indicados, uma apresentação de Jomar em praça pública na França.



A proporção que a Mimulus tomou, com reconhecimento internacional, foi algo planejado? Nunca ninguém podia imaginar que eu iria trabalhar com algo ligado a arte e a dança. A primeira vez que dancei na vida foi na festa de 50 anos do meu pai. Eu tinha 16 anos e só tomei coragem pra dançar porque já tinha bebido bastante. Tenho isso filmado, minha irmã me convenceu a dançar e eu tomei um tombo feio (risos). Então não foi programado, mas em 2000, quando passamos pelo processo de profissionalização da Cia, contratamos um consultor pra nos auxiliar e ele perguntou aonde queríamos chegar em cinco anos. Nossa meta era estar com um espetáculo no Palácio das Artes, que é o maior teatro de BH. No entanto, menos de um ano depois, estávamos neste teatro, lotado, batendo recorde de bilheteria. Então foi muito rápido e isso é difícil até hoje, porque a equipe de produção ainda é muito pequena. A estrutura não acompanhou o crescimento da Cia, todos são muito sobrecarregados.


entrevista

“A dança com cara de show pra turista tem o seu lugar, mas é uma coisa que considero mais ligada a dança de salão entretenimento. As pessoas do meio artístico só têm essa imagem da dança de salão, o que como proposta artística é muito amadora. Por isso sofremos preconceito por parte das outras modalidades de dança”.


Você diria que não existe esta cultura de disciplina entre os profissionais da dança de salão no Brasil? Com certeza não, isso é um fato. A criança que faz aula de balé começa a conviver deste cedo com uma disciplina rígida de horários, de uniforme, de comportamento dentro de uma sala de aula. Já a dança de salão vive em um ambiente muito lúdico, muito ligado ao lazer. A própria aula de dança de salão não pode ter esta rigidez e disciplina do balé, porque você tem ali alunos que querem se profissionalizar e outros que estão fazendo por diversão. Cobrar esta disciplina dos profissionais talvez seja um diferencial da Mimulus. Brigamos, literalmente, por isso. Sempre fui muito exigente, perfeccionista e batalhei muito para que nossos dançarinos cumprissem horários, trabalhassem direito. Muitas pessoas chegam na Mimulus com essa ilusão do palco, do glamour, e na hora que começam a viver o dia-a-dia do ensaio e percebem que é duro, que é pesado, muitas vezes, não dão conta, ainda mais deixando sua família e sua cidade.


entrevista

O que falta para a dança de salão no Brasil hoje? A dança de salão é um universo muito amplo. Podemos falar de entretenimento, de ensino e de arte. Mas o que falta em todas estas áreas é profissionalismo, formação, embora tenha melhorado muito. É um chavão, mas esta coisa das pessoas fazerem dois, três meses de aula e já se acharem aptos a dar aula, infelizmente, é o que acontece. Mas acho que outro grande problema é esta confusão entre a dança de salão entretenimento e a dança como arte. A dança com essa cara de show pra turista, de Domingão do Faustão, tem o seu lugar, mas é uma coisa que considero mais ligada a dança de salão entretenimento. Não estou falando mal. Não é nem melhor, nem pior, mas é outra coisa. As pessoas do meio artístico só têm essa imagem da dança de salão, que como proposta artística é muito fraca, amadora. Por isso sofremos preconceito por parte das outras modalidades de dança. E eles têm razão, porque o que conhecem da dança de salão é isso, entretenimento.


Qual a marca do Jomar? Existe algo que esteja presente em todos os espetáculos, ou cada um tem uma história e trajetória diferentes? Não é que seja consciente, mas acaba tendo uma passionalidade e visceralidade muito grande, não consigo fugir disso. Acho que pela própria dança de salão, que é dançada a dois. Querendo ou não, quando você está dançando tem passionalidade e visceralidade envolvida, às vezes mais sutilmente, outras descaradamente. Isso foi o que fez eu me apaixonar pela dança de salão, estar dançando com o outro. Também tem o fato de ser tímido, então até hoje, me colocar pra dançar sozinho é muito difícil, parece que estou nu. Agora, se me colocar com outra pessoa estou vestido, me sinto protegido. Exploro este lado da passionalidade porque minha vida é muito assim e isto se reflete nos espetáculos e na própria movimentação, no gestual.


entrevista

”Me colocar pra dançar sozinho é muito difícil, parece que estou nu. Agora, se me colocar com outra pessoa estou vestido, me sinto protegido”.



a dança no cinema

No Ritmo do Amor

… e do West Coast Swing Um campeão de West Coast Swing (Jake, interpretado por Tom Malloy), surdo e afastado das competições, e uma professora de inglês entediada com sua vida (Jessica, interpretada por Amy Smart) que, na adolescência, sonhava ser dançarina profissional. Estes são os personagens centrais da trama dirigida por Robert Scove no filme Love N’ Dancing (no Brasil, Ritmo do Amor), que mostra a importância da conexão entre um casal na dança (e na vida), tão ressaltada pelos professores que ensinam a arte dos movimentos corporais ritmados.



Ao se conhecerem, Jake e Jessica sentem que podem conquistar realizações pessoais que pareciam fazer parte de um sonho do passado, e acabam decidindo participar juntos do Campeonato Mundial de West Coast Swing. Mas, é claro, existem obstáculos a serem superados. Ela está noiva de Kent (Billy Zane), um homem

de negócios, viciado em trabalho e mais preocupado em ganhar dinheiro. Ele se afastou das competições e dá aulas de dança e palestras motivacionais pelo país, mostrando que sua deficiência auditiva não o impede de dançar. Para completar, ainda está apaixonado pela ex-parceira de dança.


Assista ao trailer de Ritmo do Amor em nosso site e deixe sua crĂ­tica sobre o filme.


a dança no cinema

Apesar da história bastante previsível, é um filme interessante para os que apreciam as danças a dois, principalmente aos interessados no West Coast Swing, estilo de dança muito difundido e apreciado nos EUA que, atualmente, vem atraindo muitos dançarinos brasileiros. Prova disso foi a participação do casal Jordan Frisbee e Tatiana Mollmann, na 10ª edição do Baila Floripa, este ano. Pela terceira vez no Brasil, suas aulas no evento tiveram turmas lotadas. O casal, que já ganhou várias vezes o campeonato retratado na história, fez uma participação no filme. Tatiana comentou a Dança em Pauta que, apesar do vai e vem, uma vez que eles tinham que filmar por três ou quatro dias e voltar as suas tarefas, foi uma experiência inigualável. Porém, ela ressalta que a relação entre os competidores retratada no filme não é a realidade entre os profissionais do ritmo. “Eles mostram um clima de muita competitividade, que talvez tenha mais a ver com as competições de dança de salão no geral. Entre os dançarinos de West Coast Swing somos mais companheiros e vibramos com as apresentações dos colegas”, diz.


Jordan Frisbee e Tatiana Mollmann


COBERTURA FOTOGRテ:ICA DO BAILA FLO


RIPA E BAILA CALIENTE POR DANIEL TORTORA
























































BAILA CALIENTE























Venha curtir o praze Sábado Samba com o grupo Serenô Abertura da casa 23h Ingresso R$ 15,00 R. Desembargador Clotário Portugal, 274 - Centro


er da dan莽a a dois! Domingo Forr贸 com o grupo Areia Branca Abertura da casa 20h30 Ingresso: at茅 22h fem R$ 8,00 / masc R$ 10,00 ap贸s fem R$ 10,00 / masc R$ 13,00 Curitiba PR Fone: (41) 9938-9510 / 9198-6607 / 8415-3619


www.dancaempauta.com.br


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