Aula Inaugural do C AMECO 2011
Prezados alunos, inicialmente, gostaria de dizer que é uma honra e uma grata satisfação ter a oportunidade de proferir a aula inaugural do Curso de Aperfeiçoamento de mergulhador de Combate para Oficiais, turmas 1 e 2 de 2011, uma das atividades mais extraordinárias e apaixonantes da nossa marinha.
Há 18 anos eu estava sentado neste mesmo auditório, diante das mesmas incertezas e, seguramente, com a mesma motivação que os senhores.
Aqui estão presentes importantes células do futuro do Grupamento de mergulhadores de Combate – o nosso valoroso GrumEC. Aqui os senhores estão iniciando a concretização de um sonho. Oficiais e Praças entusiasmados, que ousaram sair das suas vidas cotidianas, escolhendo um caminho árduo, mas compensador...
Ao longo do curso, os senhores viverão muitas provações e, por vezes, chegarão em casa abatidos e debilitados. Alguns dos senhores precisarão, nesse momento, e muito, da compreensão e do apoio de seus familiares. Portanto, conversem bastante com eles e ajude-os a entenderem seus sonhos, de forma que eles possam também contribuir nos caminhos do seu sucesso no curso. Entretanto, o maior apoio deve ser buscado dentro de cada um dos
senhores, aliado à determinação e motivação que o curso exige. os senhores já são vencedores.... Porque ousaram! o próximo passo é a perseverança... os mergulhadores de combate não são “superhomens” e ninguém espera que os senhores o sejam. Nós somos pessoas comuns, realizando atividades diferenciadas.
Eu inicio esta aula apresentando algumas cenas de uma Operação Anfíbia na II Guerra mundial, em uma praia repleta de obstáculos artificiais, que contribuíram sobremaneira para o ambiente caótico por ocasião do desembarque dos aliados. mais adiante será mostrado que o contexto exibido representa uma das possibilidades de emprego dos mergulhadores de combate para reduzir as dificuldades impostas em tais situações. Com esta pequena introdução, serão apresentados alguns conceitos básicos afetos às operações especiais no contexto da Amazônia Azul®, assim como um breve histórico do mergulho de combate e considerações sobre seu emprego atual.
o mundo de hoje vive sob constantes mudanças tecnológicas e políticas. o Brasil, que já atingiu a invejável posição de sétima economia mundial, possui, como sabemos, imensos potenciais econômicos
que são ou poderão ser alvos da cobiça internacional, como a floresta amazônica e as reservas do pré-sal.
Estima-se que a exploração de tais reservas tornará o Brasil o sexto maior produtor de petróleo do planeta. Na verdade, a relevância do mar para nossa economia está longe de ser desprezada, uma vez que essa via é utilizada por 95% do nosso comércio internacional. É no mar, também, que temos a extração, hoje, de cerca de 90% do nosso petróleo. Em que pesem as imensas porções continentais de nosso país, temos um litoral de mais de 8.500 Km e as águas e o leito marinho sobre os quais o Brasil tem jurisdição perfazem uma extensão comparável à área da Amazônia florestada, razão pela qual já temos em nosso cotidiano o conceito de Amazônia Azul®, cuja proteção cabe às Forças Armadas.
A Marinha está intimamente inserida nesse contexto, contando também com os mergulhadores de combate – uma parcela peculiar de aguerridos militares, motivados por fazerem, com extremado profissionalismo, aquilo amam: servir a Pátria !
Estes, aliás, são alguns dos valores que nos ajudam a explicar os feitos históricos em que poucos combatentes conseguiram lograr êxito
contra inimigos mais fortes. A reflexão nos remete ao conceito das operações especiais que, de forma bastante sumária, pode ser definida como aquelas realizadas por pessoal especialmente selecionado e adestrado para realizar ações em ambientes de risco elevado, empregando métodos e técnicas não convencionais.
Simplicidade, segurança, prontidão, objetivo, manobra e surpresa são alguns dos princípios que norteiam este tipo de operação, provendo a essas pequenas frações um efeito de superioridade relativa. Nesse sentido, as fricções da guerra, como definidas por Clausewitz, podem ser contrabalançadas pelos fatores morais dos combatentes de operações especiais, como a audácia, perseverança, coragem, agressividade e inteligência.
um dos grandes exemplos a empregar o conceito de operações especiais ocorreu na Guerra de troia, na versão do famoso poema de Homero, quando os gregos enviaram um “presente” inusitado aos troianos. os guerreiros inseridos no Cavalo de troia lograram penetrar a fortaleza, surpreendendo os inimigos.
Dando um pequeno salto na história, podemos dizer que foi na II Guerra Mundial
que o mergulho de combate mostrou sua grande relevância no contexto das ações militares. A marinha italiana, depois seguida por britânicos, alemães e japoneses, dava ênfase às operações ofensivas de mergulhadores de combate (mEC) contra navios inimigos fundeados ou atracados em instalações portuárias. um dos feitos mais extraordinários ocorreu no porto de Alexandria (Egito) em 18 de dezembro de 1941, quando apenas seis MEC
italianos, empregando veículos submersíveis, após terem sido lançados pelo submarino “Sciré” e de permanecerem nas águas frias do Mediterrâneo por mais de nove horas, colocaram fora de ação os encouraçados “Valiant” e “Queen Elizabeth”. Nessa ação também foi destruído o petroleiro “Sagona” e foi seriamente avariado o contratorpedeiro “Jervis”. Com esse ataque, a marinha inglesa deixou de contar com qualquer encouraçado no
mediterrâneo oriental para se contrapor aos cinco da marinha italiana!
Já a Marinha norteamericana empregou seus mEC nos reconhecimentos hidrográficos e na remoção de obstáculos das praias de desembarque, em proveito das operações anfíbias, a fim de reduzir os elevados índices de baixas experimentados por ocasião do assalto anfíbio de tarawa, quando as embarcações de desembarque foram impedidas de chegar à praia por arrecifes, obrigando os fuzileiros a um longo trânsito dentro d’água, sob fogo inimigo, até chegarem em terra.
Após a ii Guerra as atividades afetas ao mergulho de combate continuaram altamente veladas. Há registros do emprego de mEC em conflitos ou manobras de crises na Guerra do Vietnã, na Guerra das malvinas, na invasão de Granada, na invasão do Panamá, na crise afeta aos testes nucleares franceses no atol de mururoa, nas Guerras do Iraque e Afeganistão e, mais recentemente, na ação que eliminou osama Bin laden, no Paquistão.
No Brasil, a atividade se iniciou na década de 60, quando Oficiais e Praças lograram êxito no curso uDt (hoje SEAl), nos EuA. Estes militares proveram
as condições para a criação da Divisão de mergulhadores de Combate, em 1970. Três anos depois tivemos a contribuição do militares que retornaram do curso de mergulho de combate da marinha da França. Em seguida, mesclando os conhecimentos obtidos no ambiente europeu e no nos EUA, foi criado o curso de mergulho de combate no Centro de instrução e Adestramento Almirante Átilla monteiro de Aché (CiAmA), que vem formando, desde então, os nossos mEC.
mais recentemente, o mundo vem presenciando vários acontecimentos belicosos que têm colocado em evidência os efeitos das chamadas “novas ameaças”. De atuação assimétrica, elas são potenciais fomentadoras dos conflitos armados internacionais e suas atividades também permeiam os espaços nacionais. A conjuntura mundial tem demonstrado o incremento dos crimes transfronteiriços, como as atividades terroristas, o narcotráfico, o recrudescimento dos ataques de piratas modernos a navios e instalações petrolíferas, assim como a interoperabilidade das fontes patrocinadoras de tais atividades criminosas. Nesse contexto, os mergulhadores de Combate, devido às suas
habilidades específicas e adestramento continuado, têm papel relevante no enfrentamento de tais ameaças, quer no que concerne às tarefas básicas do Poder Naval, quer nas atividades subsidiárias da marinha.
observando os horizontes, antevemos para o GrumEC um futuro sedutor. A criação da segunda Esquadra na região Norte/Nordeste, bem como do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas, conforme sinalizou a Estratégia Nacional de Defesa, forçará também uma reestruturação aos mergulhadores de Combate, permitindo-lhes atender simultaneamente a ambas as Esquadras, aos Distritos Navais e às operações Combinadas com outras Forças.
A marinha vem se preparando para vencer os novos desafios que se apresentam, como a implementação dos caminhos apontados na Estratégia Nacional de Defesa (END), com destaque para o Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul® (SisGAAz) que, em conjunto com os meios navais necessários, dentre eles o GrumEC, contará com uma infraestrutura de resposta adequada à vigilância, acompanhamento e, sobretudo, reação às eventuais ameaças.
Senhores, diante dos cenários apontados, para desempenhar adequadamente toda a gama de ações afetas ao mergulho de combate, faz-se mister um processo de formação rigoroso, que prima pela segurança não só dos alunos, mas também, de forma indireta, daqueles que hoje já atuam no GrumEC e que virão a ser seus companheiros no futuro. Ao longo desse processo, os
alunos vivenciarão algumas dificuldades, mas também perceberão que nada, exceto eles mesmos, poderá impedílos de continuar combatendo. A cada obstáculo transpassado, os senhores incrementarão um gratificante sentimento: o descobrimento de suas extraordinárias capacidades, quando sustentadas pela mente forte de cada um. Muitas vezes, os senhores ouvirão dos instrutores a célebre frase: “quando o corpo não agüenta, a moral é que sustenta...”. os senhores ousaram, e os senhores vencerão. Caberá aos senhores a perseverança necessária, a serenidade e a manutenção do raciocínio sob pressão.
Ao longo do curso os
senhores conhecerão algumas das tradições do GrumEC, como o distintivo do curso, a canção, a oração e o lema do mergulho de combate e identificarão nesse simbolismo os valores maiores do amor à marinha e à nossa Pátria. Senhores, estes são os mergulhadores de Combate ! os baluartes da Força de Submarinos e da marinha na proteção e defesa da nossa Amazônia Azul®!.... Por fim, recomendo aos senhores alunos que se dediquem bastante durante o curso e resistam a qualquer pensamento nefasto que os instiguem para a desistência. Portanto, perseverem na busca da concretização de seus
sonhos. os senhores perceberão que a superação feita a cada obstáculo, a cada dificuldade, traz um engrandecimento pessoal inestimável. os senhores constatarão que nossos corpos resistem e respondem muito além daquilo que achávamos ser o nosso limite. Essa é a chave para o sucesso no curso, que os moldará com profissionalismo e competência. os senhores são vencedores... porque foram audazes ao dar este importante passo. Desejo agora que a sorte os acompanhe... muito obrigado e bom curso.
FoRtuna auDaces seQuituR !