No Cangote do Saci

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NO CANGOTE DO SACI

LENDAS do

BRASIL

TEXTO

MARIA AMELIA DALVI ILUSTRACOES

DANIEL KONDO



NO CANGOTE DO SACI LENDAS do

BRASIL



NO CANGOTE DO SACI LENDAS do

BRASIL TEXTO

Maria Amélia Dalvi ILUSTRAÇÕES

Daniel Kondo


© Kondo Studio, 2018 © Maria Amélia Dalvi (texto), 2018 © Daniel Kondo (ilustrações), 2018 Todos os direitos reservados KONDO STUDIO

kondo@kondo.com.br COORDENAÇÃO EDITORIAL

Vanessa Gonçalves REVISÃO

Débora Donadel CONCEPÇÃO E PROJETO GRÁFICO

Daniel Kondo PRODUÇÃO GRÁFICA

LeMe

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Agência Brasileira do ISBN – Bibliotecária Priscila Pena Machado CRB-7/6971 D152 Dalvi, Maria Amélia No cangote do Saci: Lendas do Brasil / Maria Amélia Dalvi; ilustrações Daniel Kondo. – São Paulo: Kondo Studio, 2018 48 pp.: 25 ils.; 24 cm

ISBN 979-85-99037-02-7

1. Contos folclóricos 2. Literatura infantojuvenil brasileira 3. Fábulas brasileiras. I. Kondo, Daniel. II. Título CDD 808.068


Existe um tesouro Nas rodas de história Em volta do fogo.

Há sempre um sábio Que conta uma lenda De um longo passado.

Soprando no vento Memórias do povo Estão renascendo.

Eu vou te falar: São tantas as lendas… É de arrepiar!


CURU PI RA



BO TO ROSA



CAPE LO BO



COBRA NORATO

MARIA CANINANA



BOI TA TA



I A RA



CU

CA



PASSARO DE FOGO



BARBA RUI VA



SA

CI




LENDAS DO BRASIL


ARIPURUC O

Curupira é uma personagem de origem indígena. Reza a sabedoria popular que ele anda montado num porco-do-

-mato e, se flagra uma pessoa que desrespeita o equilíbrio da floresta, dá um jeito de fazê-la de besta, forjando um rastro avesso para que ela se perca. Os índios brasileiros e também os povos ribeirinhos (eta, povo sabido!) tratavam de pedir licença ao menino de cabelos vermelhos e pés virados para trás quando precisavam entrar nos domínios por ele protegidos. E ainda levavam frutas e outros agrados para não serem engrupidos por seus encantos e feitiços.


Quantos nomes pode ter O menino Curupira? Sabe usar computador? Joga bola com os amigos? E será que vê tevê? Se diverte aos domingos? Talvez seja só um menino – Só que muito mais danado Que o menino mais traquino! De cabelo avermelhado, Ele apronta e fica rindo: Enganando os sabidos. Ele vive lá na mata E protege a natureza. (Tem poder extraordinário!) Ninguém nunca tem certeza Quando sai à sua caça: Os seus rastros são contrários.


BOTO ROSA O

riginário das tradições europeias, o Boto Rosa é uma personagem muito popular na região amazônica. Assim

como outras figuras das lendas, transforma-se nas noites de lua cheia. Nas festividades juninas, o Boto vira um rapaz belo e galante. Vestido de branco e usando um chapéu que oculta parcialmente seu rosto, dança a noite toda com a mais bela das moças. Depois, arrasta-a inebriada para o fundo do rio – no dia seguinte, apaixonada, a donzela não sabe dizer quem é o moço com quem virou a madrugada.


Nas noites de lua cheia Tudo pode acontecer: Por despeito ou pirraça Galopa forte e com graça Negrinho do Pastoreio. Mas ele não está só: Lobisomem sai à caça, Bicho-Papão faz a festa, As bruxas que ainda restam Espalham feitiço em pó… Lembro-me, acima de todos, Da lenda do Boto Rosa: Vestido de roupa branca, Um rapaz fino e bacana Surge nas festas maroto. Ele dança horas a fio Com a mais bela das donzelas. Sem dizer que é o Boto, O danado do garoto Leva a moça para o rio. Depois, moça apaixonada Nunca mais encontra o Boto. E o malandro aguarda a lua Pra sair de novo à rua: Mas que grande presepada!


CAPELOBO A

lenda do Capelobo tem ocorrências no repertório cultural de diversas regiões do país, como Amazonas, Maranhão

e Pará. É uma figura monstruosa, mistura de homem e bicho: musculoso e peludo, tem cabeça de tamanduá, anta ou cachorro. Vive próximo a áreas alagadas e, segundo as pessoas que juram tê-lo avistado, se alimenta principalmente dos animais de estimação dos caçadores – uma espécie de vingança. Dizem que o único jeito de acabar com ele é acertando uma bala de prata em seu umbigo.


Vou contar a vocês Uma história esquisita, De uma lenda nortista. Em lugar da cabeça, Nem consigo falar… Tem um tamanduá! Musculoso e peludo, Primo do lobisomem, Vive cheio de fome. Nem mastiga, engole. (Me parece um louco!) Falo do Capelobo. Se houver um cão ou gato E um caçador na mata… Devora com batata!


E O T A R A O N N A A N I R N B CO IA CA R A M

os filh a m na . er e oi u q u a B ai, br -se ta ucur . Co n e co a s m r ra ãe a, b e n m a , co resc a ni n ma d ia c a a i C u m de teg . U da r ia o m , o n o s r a c e p s M nt sões a ti n E l e a n a l n e u e a er em rip á v to indíg Toc vel. t m a í o r H s r h r . u la r io No te se r m ã um a- a be n o r a i a b n v m s a Co u m a d o n i n a og a su do e o! o f e u a g a a o C re os d olh jo at o r m e e a ob i m s m e d f ar m ra o, co ns car gê r, fo , M bar iceir ra fi t o t e e m sc inh ava j us r ia s bo d o n a o nz é t e n i t r u í as Ao o b a f es p , e l e m t a l … a o e r s e e d N o ia , o d is dad d s e í i r ald mbu epo é ve i a d o, se e, u at r os q o m N e m be a a s d len N ão . vo no

S


Havia uma bela índia Às margens de um rio fundo. Engravidou da Boiuna No tempo de um mergulho. A mãe-índia da Amazônia Teve dois bebês-cobrinha: Um manso (e bem bonito), Outro feio e esquisito. O bondoso era o menino Cujo nome era Norato; Já Maria Caninana Era pedra no sapato! Norato amava sua mãe, Procurava ser bom filho; Ele protegia a aldeia E cuidava bem do rio. A Maria Caninana Era louca de maldade! Virava barcos, canoas, E afogava os viajantes. Para os índios da Amazônia, Essa história assim termina: Norato mata a irmã má… Canta e dança sem parar.


BOITATA A

origem da Boitatá é incerta, e suas versões, inúmeras. Alguns dizem que a Boitatá protege as florestas das

queimadas, outros que esconde tesouros. Em um ponto todos concordam: sua aparência tem alguma relação com fogo. Ora é uma cobra que queima, ora é uma figura misteriosa de olhos vermelhos, ora são labaredas nas ventas de um touro, ora um pedaço de pau em chamas. Nos mitos gregos mais terríveis, olhar para um deus é motivo de castigo. A Boitatá também pune os malvados, com um dos seguintes destinos: cegueira, paralisia ou desatino.


Dizem pessoas sabidas (as que entendem os mistérios) Às vezes sabedoria Vem de onde não se espera. A Boitatá, por exemplo, Sendo uma cobra de fogo, Pode ser até (quem sabe?) As ventas quentes de um touro: Anunciando perigos, Também protege tesouros; Mantém de pé as florestas, Defende animais do fogo. Além de cobra e touro, Ela pode ser um tronco. Seja qual for o seu corpo Do malvado arranca o olho!


IARA A

Iara, também chamada de Uiara, Mãe-d’Água ou Senhora das Águas, é uma das personagens mais conhecidas

das lendas brasileiras. Em uma das versões mais antigas da história, é Ipupiara, um homem-peixe devorador de pescadores, que se transforma em uma figura feminina: metade mulher, metade peixe, muito vaidosa com lindos e longos cabelos. Afirmam que os olhos da Iara refletem as cores das águas. A nossa sereia de canto maravilhoso seduz os homens para afogá-los no rio.


Cabelos compridos E pele viçosa, Lá vem a bonita Senhora das Águas. Mãe-d’Água, Iara, De olhos castanhos, É a nossa sereia, Do mundo amazônico. Sentada à beira De uma cachoeira, Iara se enfeita Com flores vermelhas. Mas não se deslumbre Com sua beleza: Te afoga no rio, Sem chance, sem pena. Senhora de si E do seu destino, Prefere sua cauda A um namorado. Metade mulher, E parte de peixe, Iara é danada: Só faz o que quer!


CUCA A

Cuca foi inspirada em lendas portuguesas, nas quais, originalmente, ela seria um dragão velho, feio e malvado, com

um cabelo todo embaraçado. No Brasil, a versão mais popular diz que ela é uma bruxa má, com cabeça de jacaré, que rouba crianças e as leva em um saco para comer no jantar. Mora em uma caverna fria e tem olho de sapo… Acredita-se que nasce uma nova Cuca a cada mil anos – e que a nova se empenha em superar a maldade da antiga.


Quando eu era criança Tinha medo da Cuca: Bruxa má e feiosa, Jacaré de peruca. Unhas de gavião, Uma voz bem terrível: Ela rouba as crianças E prepara feitiços. Os adultos nos dizem Que quem não se comporta Vai pro saco da Cuca… E ela logo devora! Na verdade, não sei O que nela é pior: Se o bafo de onça, Se a falta de dó. Ela vive mil anos, Quando então surge um ovo, De onde sai a Cuquinha Pra reinado bem longo. Eu é que não entendo Essa coisa absurda: Como nasce a megera Já tão velha e maluca?


PASSARO DE FOGO O

Pássaro de Fogo tem sua origem no Espírito Santo. Entre os indígenas dali, havia dois povos inimigos: os Temimi-

nó e os Botocudo. Guaraci, um dos maiores guerreiros de seu tempo, era temiminó. Jaciara, a mais bela das indígenas, botocudo. Um dia se apaixonaram e não aceitaram mais viver separados. Foram castigados: Jaciara virou a montanha Moxuara; Guaraci transformou-se na cadeia de montanhas Mestre Álvaro (também conhecida como Mestre Alvo). A Noite e o Dia, com pena daquele destino triste, convocaram Rudá, o deus indígena do amor, criatura imensa e iluminada também chamada de Pássaro de Fogo. É em razão da interferência dele que os dois conseguem estar pertinho de novo um dia a cada ano, sempre na noite de São João.


A tribo Temiminó E a tribo Botocudo Eram muito inimigas, Brigavam por quase tudo. O indígena Guaraci (Que em tupi quer dizer sol) E a valente Jaciara (É noite de lua clara) Não podiam se amar, Deviam ser inimigos. Mas como renunciar Àquele amor proibido? Por afronta tão tamanha Foram os dois castigados: Viraram duas montanhas, Mestre Alvo e Moxuara. Deles dois apiedados, Noite e Dia criam um plano: Uma vez a cada ano Podem trocar um recado. Pra cumprir o combinado Rudá virou mensageiro; Imenso, lindo e dourado, Ilumina o céu inteiro.


BARBA-RUIVA N

ascida no interior do Piauí, a lenda do Barba-

-Ruiva se espalhou para outras regiões do Nordeste. Dizem que ele protege um lago, que ninguém sabe ao certo qual é, pois ali, ainda bebezinho, morrera afogado, enquanto sua mãe dormia esperando o retorno do namorado. Aparece como criança e vai envelhecendo ao longo do dia. À noite é visto pelas lavadeiras como um velho de barba ruiva e cabelos grisalhos.


Dizem que uma moça bela Teve um filho bem ruivinho. Ficou na beira do lago Esperando o namorado. Mas o pai do garotinho Nunca mais voltou ali, A mãe dormiu de cansaço, E o menino? Afogado! Passando pela tristeza De viver sem mãe nem pai Ele vaga pelo lago E não sabe aonde vai. De manhã é um menino, De tarde é moço bonito, De noite é velho grisalho (Eu vejo e nem acredito). De cabeleira vermelha, Não sairá mais dali. É o Barba-Ruiva. Coitado! A lenda do Piauí.


SACI O

Saci tem origem incerta. Vive nas matas, é negro, usa um gorro vermelho, tem uma perna só e fuma cachimbo. Tem

gente que diz que tudo o que dá errado sem alguém planejar foi o saci que aprontou, para ver a gente xingar. Outros falam que não existe um único saci, mas muitos espalhados por aí. Só há um jeito de prender o saci: usando uma peneira e uma garrafa fechada com rolha de primeira. Se vir um redemoinho com folhas, é bem provável que o Saci esteja ali.


Um negro levado De gorro vermelho, Cachimbo na boca, Que nunca tem medo. Se tem um pé só, Não faz diferença: Ele é bem ligeiro, Mais que você pensa! Vivendo na mata, Engana a todos. Em tudo acha graça, Roubando cachaça. Azeda o leite Espanta o cavalo Protege as plantas Não gosta de pasto.

te en p re ; de hos tre s m in be m o m e . m de eu ho Ve re o s rrin Em se r go o a e Pr ure ad t g n Se vo ci: o sa ta nh a te um Eu ser la m rir. e e De r p o d e d v Vi ren r o M


MARIA AMÉLIA DALVI nasceu em Vila Velha (ES), em 1983. Estudou música, literatura e educação. Trabalha como professora e pesquisadora. Nas horas vagas, lê, ouve música, faz caminhadas de longa distância, sobe e desce montanhas e, de vez em quando, joga frescobol, escreve poemas e se arrisca no rapel. DANIEL KONDO nasceu em Passo Fundo (RS), em 1971, e vive atualmente em Punta del Este, no Uruguai. Quando criança, sonhava ser astronauta. Depois de crescido, virou ilustrador de livros para crianças e jovens. Se não está desenhando – coisa que faz compulsivamente, sobretudo de madrugada –, gosta de ir à praia, navegar na internet, ouvir música e cozinhar.

FONTES Greycliff e Cache Pressed PAPEL Off Set 170 g/m 2 IMPRESSÃO Gráfica Rona TIRAGEM 1.000 exemplares


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