E até os vidros se foram… Na minha adolescência escutava muito Rap Nacional. Era na fita mesmo que eu gravava dos amigos e colocava no walkman. Quando queria alcançar uma determinada faixa do álbum, colocava a caneta ou o dedo no buraco da fita e girava. Era um saco! Na época, aderira a moda da calsa larga, camisa larga e um tênis super grande. EU era um “mano”. Tá certo que esse estilo me resultou diversas abordagens policiais, mas era muito interessante. No meu “radinho de pilha”, tocava Facção Central,509-E, RZO,Racionais, Naldinho, Espaço Rap e Sand e Junior. Eu sei que você se perguntou agora e fêz uma cara de “AAAHH??”. Mas é sim, adorava “Quatro Estações” e outras que quando ouço, me lembro dessa época. É claro que eu me resolvi quanto a demonstrar meus gostos e não tenho mais problemas quanto a isso! Nesse final de semana soube que o Sabotage, outro que também tocava no meu radinho, também gostava da Sandy cantando. Durante a minha adolescência tinha problemas em dizer que gostava de algumas coisas e ser tirado do grupo que eu frequentava, mas a vida seguiu e hoje não tenho problemas de dizer do que eu gosto ou deixe de gostar. Por falar em coisas que não gosto, eu não gostei da produção do pré lançamento do filme O Maestro do Canão que conta sobre o Rapper Sabotage. Sinceramente, estava uma porcaria! O evento aconteceu no Auditório do Ibirapuera – Oscar Niemayer no dia 23 de Janeiro em São Paulo. Logo que cheguei, observei que o lugar era lindo. Arquitetura impecável, porém, o rol de entrada estava lotado. Olhando o biotipo das pessoas que lá estavam, eram em sua grande maioria, gente negra e pelo jeito de se vestir, do Hip Hop. Havia muitos seguranças na escada que dava acesso à sala de exibição e constatei que por lá, a maioria das pessoas que passavam eram de de pele clara. Estava lotada a casa, a estimativa de público era de 800 pessoa, mas no dia haviam 4000 pessoas segundo os dados das mídias oficiais e em pergunta para os que ali esperavam ver o filme motivados pela esperança de uma segunda sessão, haviam pessoas que ficaram desde a manhã esperando por entradas. A leitura é simples. Um ídolo negro e expoente das ações do movimento negro com seu filme exibido no centro de São Paulo e com distribuição de ingressos fora do horário que os, também negros que habitam o território onde o Sabota foi criado e feito gente, bandido e rapper, não poderiam de fato, ver. Novamente, quando a cultura negra toma um status de notoriedade no mercado da industria cultural ou nas convenções, os próprios negros são excluídos em todas as instancias (geográfica, econômica, cultural e social).
Dessa forma, não ficou pedra sobre pedra que não fosse derribada. O rol do espaço lindo foi tomado por fumaça de ganja e peles pretas. Sabota se revirou na tumba e até o vidro se partiu e se foi como o véu do Templo Judaico depois da morte do Mestre Senhor…