Funk, Passinho, Romano e Montaigne - Da Liberdade de ser Funkeiro Sempre entro em questões polêmicas dentro da minha rede social. Deveria aprender que isso não leva a nada e não produz conhecimento, claro que quando nos aventuramos a dialogar com pessoas que não tenham um mínimo de noção dos conceitos que estamos empregando. Hoje, tenho 10 anos de vida na arte e no seu entorno além de não deixar de fazer as reflexões básicas do fazer artístico, da educação na arte, da sua valorização, da democratização do acesso e os mecanismos de fruição da arte. Posso dizer também que tive o privilégio de ter bons professores na academia que me deram as bases pra reflexão das relações sociais. Tenho vista há muito tempo com uma certa frequência pessoas diminuindo o Funk, Passinho e dizendo não ser cultura, não ser arte, não ser isso, não ser aquilo, mas o bom de ter passado por algumas gerações é que aprendemos que tudo se repete num processo ciclico historiográfico. O que acontece com o Funk já aconteceu com o Rock, com o Jass, com o Bluess, com os movimentos artísticos da Era das Revoluções, com a Bossa Nova, com o Samba, com… com… com… Quando os Gregos entravam em contato com os Bárbaros, diziam que a cultura grega era superior. Quando os Espanhóis entraram com contato com os Astekas, disseram que sua cultura era superior. Quando entramos em contato com “o outro”, temos como referência nossa própria experiência de vida, nossas subjetividades. Dessa forma, o outro sempre será diferente e inferior nas suas formas de relacionar imageticamente com o mundo. Esse tipo de posicionamento de dizer que determinada cpessoa tem ou não cultura, que uma determinada manifestação é ou não arte é tão arcaico que eu teria vergonha até de pensar, de deixar passar pela minha cabeça. A pessoa mostra o nível de ignorância exacerbada e que nunca saiu das cadeiras iniciais da escola, mesmo que esteja num pós doutorado! Conhecer um pouco mais do Funk e da Industria Cultural pro Mercado, faz um bem enorme e mais, entender que até Michel de Montaigne que “subiu” em 1592 já entendera que só o tempo dirá o que é ou não, o que será ou não um clássico, o que é ou não eterno, o que se manterá por muitos ou poucos anos e qual obra de arte ficará pra posteridade mostra a bestialidade do pensamento dum sujeito que desmereça o funk. O Funk, nos seus mais variados seguimentos, além de ser um movimento de protesto, é reflexo na batida, nos movimentos e na letra da ancestralidade e da situação social, política e econômica da comunidade negra brasileira. É a forma que um determinado grupo, no caso, as periferias e favelas se expressam e se afirmam socialmente. É como manifestam suas subjetividades, criam seus signos e símbolos e nessa construção da mentalidade, forma no sujeito o seu “eu”, sua identidade. Diminuir esse processo é tirar a humanidade de toda uma nação e de seus ancestrais. É reproduzir um discurso eugênico relacionando um ser humano a bestas e imaginar que suas manifestações culturais, são bestialidades.
Cultura é um conjunto de signos e significados criados por um grupo social e nação para propagar seus valores e fortalecer sua identidade e, nessa geração, o funk tem o papel fundamental pra fortalecer e propagar isso. Tirar essa liberdade de ação é agir de forma totalitarista e ser contra a todas as liberdades.