Entre albergues e esmaltes

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Esmaltes e Albergues não combinam...

Hoje é o dia de mobilização dos homens pelo fim da violência contra as mulheres. Não sou feminista e nem faço panfletagem da causa, mas eu trago comigo uma cena que aconteceu comigo ontem e me chamou muito a atenção. No meu trabalho servimos refeições para pessoas em situação de rua. Todos os dias passam cerca de 300 pessoas, a maioria homens, que se alimentam na instituição. De todos esses, 3 ou 4 são mulheres. Algumas vão com os maridos e crianças, mas a grande maioria são homens. Ontem, dia 06 de dezembro, uma moça em situação de rua com rosto muito abatido foi almoçar e tomar banho. Eu a servi e ela me agradeceu com um sorriso que eu percebi que usara todas a suas força pra botar em rosto. Ela pediu que a cozinheira colocasse pouca comida, eu coloquei os pedaços mais gordos e grandes de carne em seu prato. Algumas verduras e ela foi até a mesa. Duas moças a acompanhava. Moças do serviço social da Prefeitura de São Paulo, uma delas parou e trocamos algumas palavras enquanto a outra a seguiu até a mesa. Depois de algumas piadas que rimos risos forçados, a senhora do serviço social me disse que existia poucos albergues femininos aqui em São Paulo. Ela não disse números, mas que era muito difícil encontrar um ao menos, o único que tinha, estava lotado. Os albergues servem para moradores de rua, viajantes que por algum impropério, necessita passar algumas noites ou até, viver por meses. Há situações específicas de pessoas que passaram o resto de suas vidas em albergues. Mas a pergunta é: Por que não há uma quantidade igual ou ao menos, satisfatória para alojar mulheres em situação de rua? Em toda a história da humanidade, vemos as mulheres lançadas de casa por adultério ou por pais que não aceitam a gravidez de suas filhas, se houvessem albergues, essas mulheres poderiam ter uma estrutura mínima pra poder voltar e se reinserirem na sociedade. Hoje, há mulheres que gostam de viajar com mochilas, mulheres que viajam pra estudar ou por algum impropério, necessitam pernoitar num albergue ou até, em situações de violência, ser uma saída pra essas mulheres. Nesse retrato, novamente vemos que são os homens que tem mais esse previlégio. Dificilmente um homem é expulso de casa e se o for, com muito mais facilidade é inserido no mercado de trabalho, mas a mulher sempre explorada nos afazeres de casa desde a infância, sem esse equipamento do Estado, tem muito mais dificuldade de sair de casa e, se acontece algo do tipo, tem que viver de favores ou até se submeter a um homem que a “sustente”.


Assim, vemos que quem sempre necessitou desse equipamento não tem acesso a ele há muitos anos. Será que não há alguma combinação entre esmaltes e albergues, afinal, com certeza comporia um “look” muito melhor pra nossa sociedade.


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