Mulheres que passaram por mim... Desde que lembro por gente, lembro de coisas simples da minha vida no interior de São Paulo. As peripécias nas árvores, lajes das casas dos outros, as arteirices em construções abandonadas ou em andamento, os canos expostos pela erosão que arrebentávamos na pedrada, a água espirrava pra todos os lados e nós pulávamos debaixo d'água. Quando meus pais perguntavam quem quebrara o cano da rua, dizíamos todos molhados que não sabíamos, inventávamos as histórias mais esdruxulas e mais bizarras historietas pra tentar esconder o que já estava na cara. A rua toda ficava alguns dias sem água e nós eramos os culpados pela tremenda façanha. Estudei na creche de Ibaté. Era muito bom. Ainda na minha mente tenho espasmos de lembrança de coisas que lá eu fazia. As brincadeiras, as danças e músicas infantis que eu ouvia. Algumas pessoas que passaram por esse momento da minha vida. Lembro da diretora da creche. Eunice… tínhamos muito medo dela mas com o tempo, eu percebi que tinha um carinho e amor tão grande por ela. Boa parte da minha infância passei na casa da minha avó. Hoje tenho orgulho de dizer que sou “criadão com a vó”. Gíria comum do interior para os garotos meio tontos. Minha mãe trabalhou a minha infância inteira com trabalhos ligados à área da saúde e eu e meu irmão mais velho ficávamos na casa da minha avó de onde, quando minha mãe saia de casa, passava, nos pegava e levava pra casa. Vezes até muito tarde da noite passávamos em lugares escuros, pois trabalhava e com o salário, ela tentava auxiliar nas despesas de casa. Minha avó nos limpava, banhava, alimentava, ensinava, acarinhava, cantava e até no final do ano ou em dias de santo, nos levava pra viajar na Aparecida do Norte ou Tambaú. Nessas viagens, ela nos empanturrava com todas as guloseimas que queríamos. Já íamos no ônibus se entupindo de lanches, biscoitos e refrigerantes. A barriga dos guris chegava a doer com tanta comida. Na fase adulta já.... era um “Jovem Senhor” aos dezoito, dezenove anos estudei em Araraquara. Fazia aulas de teatro num curso profissionalizante em arte. Passamos por vários espaços públicos da cidade de Araraquara, do porão da biblioteca e do arquivo municipal à Casa Luiz Antonio e Escola Iracema Nogueira. A coordenadora do curso era a Edna Portari. Uma senhora muito sabida que trazia uma postura firme e rígida. Durona a nega!! Não tinha marmanjo que botava a cara com ela. Era baixa em estatura mas grandiosa em atitudes, caráter e coração. Me ensinou os caminhos dentro da arte e da vida artística a seguir e me lembro até hoje quando no final do curso, lhe disse: “Agora eu já tenho um sapato…” Hoje, já com uma visão crítica do mundo venero mulheres feministas como Sara Winter e Lola Benvenute, mulheres Negras do meu círculo atual ou de tempos passados que há muito estão na batalha da vida, no Hip Hop e na trincheira do movimento negro como Catiara Oliveira, Ivani Oliveira, Andresa Leia de Andrade, Ana Paula (N’Zinga) essa que me ensinou a dar meus primeiros passos na reflexão sobre a questão negra, falo dessas mulheres pelo fato de levantarem a bandeira de uma ideologia e lutarem no cotidiano por um mundo melhor não só
para mulheres ou para @s negr@s, mas lutam pra que haja uma sociedade aberta à discussão e à reflexão sobre as diversas desigualdades. Em minha vida passaram muitas mulheres que marcaram completamente e não caberia dizer detalhes delas aqui como Teca da Biblioteca de Ibaté, Daniela Gomes, Sabrina Abraão, Karen Caires, Patricia Scarabel, Elaine Oliveira, Gisselda Angelica, Doris, Wendy Palo, Bianca Aurora, Mariangela de Lello Vicino(em memória), Mércia de Carvalho, Bruna Araujo e tantas outras que passaram por mim e fizeram a diferença. E por fim, nesse dia 08 de março, nunca esqueceria de quem me fêz gente e um sujeito de bem… quem me botara na vida e abriu as portas e luzes do mundo… quem me deu muitos safanões quando fazia as mais variadas presepadas do mundo… quem me ajuda no aperto e fica repitindo que me ama direto e eu todo troncho digo: “pára de viadagi”... (risos)... à Mãe!!