Papai noel só desce em terreiro de rico!!! será !!

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Papai Noel só desce em terreiro de Rico!!! Será??!! Estamos há 5 dias do Natal e quase em todos os natais eu lembro da frase do grande mestre e saudoso Plínio Marcos de Barros(1935-1999) no texto Quando as Máquinas Páram onde Zé, um proletário de fábrica desempregado diz pra sua mulher Nina, já grávida, que “Papai Noel só baixa em terreiro de ricos”. Essa, uma das frases que mais me marcaram tanto no “Máquinas” quanto em toda obra do Santista Mago. Plínio quando aponta essa preferência do “bom velhinho” e, talvez, sua pretensão por casas ricas também faz alusão aos terreiros de umbanda e candomblé, naquela época ocupado majoritariamente por pobres, o que já não é nos dias de hoje; onde as entidades (Orixás, Caboclos, Caboclos e Exus) encorporam corpos humanos para fazer ações boas. Assim, Plínio relaciona o Papai Noel à uma entidade que se apodera de seres humanos e fazem suas boas obras.


Plínio Marcos passou pela ditadura do Estado Novo, ditadura Militar e pela ausência de programas sociais, passou pelos movimentos em prol dos direitos civis e viu os direitos trabalhistas serem conquistados pelos trabalhadores, pode ver o movimento de redemocratização e quando morreu, também percebera que na verdade houve uma nova forma de se fazer ditaduras, isso não só no Brasil, mas em muitos outros países do mundo (se não em todos). Mas Plínio não viu!!! Plínio não viu que hoje o Papai Noel desce sim em terreiro de pobres e que até desce mais que uma única vez e não só a noite, mas até em dias super ensolarados que pensamos que o Bom Velhinho já esteja meio pinel por usar coturno e roupas grossas num calor tão grande e em dias de chuva que até pensamos o por que não viera com lancha a vir num trenó?!


O que mais tenho visto nesses últimos dias são festas para moradores de rua e doações de roupas e presentes o que tenho grande certeza que também esteja acontecendo em abrigos pra crianças, favelas, periferias, presidios e hospitais. Ontem até presenciei doarem lanches de pernil (o qual estava delicioso), panetone e coca cola no albergue onde eu trabalho. O que há de igrejas e instituições religiosas, filantrópicas e dos direitos humanos fazendo ações para marcar os natais das pessoas mais desvalidas da nossa sociedade. Hoje vivemos o momento dos pobres do futuro que andam com roupas de marca, tem televisores de última geração, mas ainda vivem em barracos com esgoto a céu aberto e desigualdades geográficas. Muito mudou, mas ainda queremos os pobres o mais longe de nós e essas ações nos fazem pensar que sejam de fato pra isso, pra calar com comida a boca que grita seus direitos constitucionais. As formas que adquirem esses bens de consumo são das mais variadas possíveis, mas podem construir abstrações muito diferentes dos pobres da época do Plínio. Porém, quando passar o Natal, não haverá mais Papai Noel, não haverão mais presentes, não haverão mais lanches de pernil com coca-cola, não haverão mais doações, nem festas. Ai, veremos os que sobreviverão para no próximo Natal, esperarmos novamente o Papai Noel descer em terreiro de pobre, mas não fazer mudança alguma no mundo de miséria que ele mesmo não quer consertar! David Narcizo Graduando em História pela FMU/São Paulo e Ciências Sociais pela UNICSUL/São Paulo. Orientador Socioeducativo no Instituto Santo Aníbal na cidade de São Paulo. Técnico em Artes Dramáticas pelo Senac/SP. Professor, Ator, Arte Educador, Educador Social, Gestor de Políticas Culturais e Produtor Cultural.


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