Mais do que uma brochura de CD este pequeno manual trata-se de um guia para uma fiel interpretação deste album. Por outras palavras é como um glossário cultural com o objectivo de instruir quem ousar dar ouvidos ao melhor rapper da língua Portuguesa. Desengane-se quem pretende encontrar as aclamadas “lyrics” dentro deste manual, cabe ao ouvinte interpretar e decifrar cada rima cuspida seja ela liricismo ou “punchline”.
“ O album vai se chamar Homo libero, é uma expressão em latim, quer dizer Homem Livre. Homo libero é o homem emancipado, é o homem elevado e o título é também uma sugestão para o próximo estágio da evolução humana, vamos passar de Homo Sapiens Sapiens para Homo libero”. in Vampiris pt1
Vampiris Parte I Vampiris é o primeiro som do album “Homo Libero”. É neste música que o Valete anuncia o novo nome do album, alterando do esperado 360º para Homo Libero. Esta música trata-se de uma resposta a um “beef” com outro rapper cujo nome não é referenciado, no entanto sabe-se que esse mesmo rapper acusa o Valete de ser “Wack”. A esta insinuação valete responde com 100 barras.
Beef- Chama-se “beef” à disputa verbal entre dois rappers. Wack Mc- Wack vem do adjectivo inglês “Weak” e no contexto do rap significa alguém com mentalidade fraca, incapacitado . Barras- Cada frase no rap recebe o nome de verso e quando essa se une a outra para formar uma rima, temos assim “duas barras”
Meu País
C. Nuno Lopes Prod. Nave Meu País trata-se de uma inteira crítica às medidas dos governos que levaram uma quantidade absurda de jovens Portugueses a emigrar. “ Estou a arrumar as malas, levo quase tudo até o meu kimono de judo, já não sei se volto , quem imigra quer volta mas muito poucos voltam à base. Farto disto tudo, farto de estar desempregado de nada serve este canudo. Quando há trabalho são sempre temporários, humilhantes precários e de salários hilários”
“ Meu Portugal, meu céu meu lamaçal assiste ao recital da minha fuga da tua varanda”
Melhor rima de sempre Prod. Orelha Negra
Melhor rima de sempre é a música que conta a história do Valete no rap. Neste som produzido pelo grupo português Orelha Negra, Valete narra na primeira pessoa o seu percurso desde os primórdios até ao sucesso, referindo episódios que o fizeram desistir e outros que o fizeram continuar.
E quem são os Orelha Negra? Bando original de personagens que trazem seu talento e conhecimento de música para um outro nível e compõem este projeto. Em cada peça que encontrar a história da música, as raízes da música negra como Jazz, Soul, Funk, Groove e Hip-Hop, e muita cultura
Bastidores
Prod. Orelha Negra A música Bastidores é mais uma narrativa de Valete, conta a história da tensão que sente antes de entrar em palco e posteriomente de um desentendimento depois de um concerto na semana académica de Faro que resulta num tiroteio e consequentemente no medo e insegurança que daí em diante se instala entre ele e os amigos. De notar que Valete refere nesta música 4 referências musicais que o acompanham ao longo da carreira.
“Passa-me um ipod com sons de beto de chelas, albuns de cella dwellas, young fellaz e nel’asssin”
No meio das labaredas Ao vivo no sudoeste 2011
No meio das labaredas foi o primeiro som apresentado deste novo album e Valete escolheu o palco do Meo Sudoeste 2011 para essa mesma apresentação. Foi aposta ganha, o rapper agitou a multidão com uma música que junta no mesmo saco política e religião, nomes de Salazar a Antero de Quental, acreditanto que são as duas faces de Portugal.
“Keidje Torres Lima, nome de batismo de Valete, tem fãs no Sudoeste e preparou-se muito bem para a visita à costa alentejana: trouxe vários convidados, desde Janelo dos Kussundulola, que recordou o hit “Pim Pam Pum”, ao MC Adamastor e ao cantor Samora; contou com projeções no fundo do palco; apresentou pelo menos uma música nova, do vindouro disco Homo Libero , e fez bom uso da língua afiada e da veia contestatária pelas quais também é conhecido. “ in BLITZ
António Salazar Político nacionalista ligado ao regime ditatorial e à criação da censura.
Antero de Quental Escritor e poeta Português. Um dos fundadores do movimento geração de 70
Oligarquismo Valete bem conhecido com um rapper de intervenção lança assim uma música contra o sistema oligarca onde estamos inseridos. Oligarquismo - Aristóteles foi o primeiro a usar esta palavra como sinônimo do governo pelos ricos. É a forma de governo em que o poder político está concentrado num pequeno número de pessoas. Essas pessoas podem distinguir-se pela nobreza, a riqueza, os laços familiares, empresas ou poder militar. Estados em que tal acontece são muitas vezes controlados por poucas famílias proeminentes que passam a sua influência ao longo de gerações.
“Qual é o ismo que te controla?”
Quando o sorriso morre Nesta música Valete aborda o fim da guerra colonial e consequentemente o colonialismo. Com a chegada desta era surge a emigração Africana dos PALOP’s para Portugal. O assunto exacto que Valete aborda são as dificuldades que estes emigrantes encontram ao chegar a Portugal , julgando que o fim da Guerra colonial traria um clima de amizade entre Portugueses e Africanos e uma mão cheia de oportunidades rapidamente se apercebem que isso não acontece ao chegarem cá a Portugal.
“O Colonialismo acabou por isso não há azar, os Tugas já se livraram dos Caetanos e Salazares. Passado é história, eles são nossos amigos agora, emigra para Portugal e começa uma vida nova. Aquilo é europa lá todos vivem bem , sai desta miséria vai e tenta ser alguém Trabalha, poupa dinheiro. Faz disso lei e depois volta para a terra rico para viveres como um rei.” “Isto é Lisboa, não há sol todos os dias muito cimento flora só em fotografias. Tens compatriotas a construirem vilas que eles chama guettos, vai viver para ao pé deles, eles têm os teus enredos (...)”
Skinheads Prod. Nave
Skinheads é uma música onde o Valete mostra o racismo dentro do meio empresarial, onde um trabalhador de origem negra ascende ao cargo de director de vendas. Rapidamente vê-se perseguido pelas influências da sua vida an e pelas realidades da sua vida nova.
Racismo consiste no preconceito e na discriminação com base em percepções sociais baseadas em diferenças biológicas entre os povos. Muitas vezes toma a forma de ações sociais, práticas ou crenças, ou sistemas políticos que consideram que diferentes raças devem ser classificadas como inerentemente superiores ou inferiores com base em características, habilidades ou qualidades comuns herdadas. Também pode afirmar que os membros de diferentes raças devem ser tratados de forma distinta.
Refugiados
c. Azagaia & Bónus Este é provavelmente o tema mais actual do Valete presente neste album. Não trata propriamente o tema “Refugiados” de acordo com as notícias que estamos habituados a receber pelos meios de comunicação. Mas sim aborda este tema como se cada um de nós fosse um refugiado dentro de nós próprios, perdido à mercê de superiores e da sociedade. Esta música conta com a colaboração do rapper de intervenção Moçambicano Azagaio e o rapper Angolano Bónus.
Desde o inĂcio de 2015, mais de 300 mil migrantes e refugiados atravessaram o mar Mediterrâneo rumo Ă Europa, contra os 219 mil do total do ano passado. Pelo caminho ficaram 2500 pessoas.
Medusa c. Capicua
Medusa é um tema interpretado por Valete e Capicua, integrado no mais recente album da rapper nortenha. É uma clara metáfora á violência doméstica sofrida. A violência doméstica em Portugal. Registou-se na última década a morte de 398 mulheres vítimas de violência doméstica, por sua vez em 2014 registou-se a morte de 40 mulheres. Números extremamente alarmantes e que envergonham um país desenvolvido como o nosso.
“ Por cada vítima acusada e transformada em monstro, em cada casa cada caso cada cada e cada cor. E mais um dedo apontado ao outro, cresce a ira da medusa que me fez no rosto”. “ Só, completamente só esconde a nódoa negra com o pó”.