DUDU NOBRE
O samba pede passagem Um texto de abre-alas A letra da canção já dizia: “Eu sou o Samba... a voz do povo sou eu mesmo, sim senhor, quero mostrar ao mundo que tenho valor... sou eu quem leva a alegria... para milhões de corações brasileiros”. Versos de “A Voz do Morro”, de Jair Rodrigues, que são, além de famosos, verdadeiros. Marco cultural e histórico da nação, talvez a mais rica tradição musical popular do país, ritmo que acompanhou a própria gestação do Brasil moderno, desde os grandes nomes dos anos 30 e 40 até a difusão midiática da atualidade – o samba é um patrimônio, uma cultura, uma paixão. Por isso o SESC Osasco lança, neste mês de janeiro de 2014, O SAMBA PEDE PASSAGEM, uma série de espetáculos mensais, com grandes sambistas, em shows conduzidos e apresentados pelo radialista Moisés da Rocha, titular do homônimo programa da rádio USP FM e uma das figuras mais conhecidas do circuito do samba em São Paulo. Premiado pela APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) o programa de rádio O SAMBA PEDE PASSAGEM é dedicado a preservar as raízes culturais afro-brasileiras, seus personagens e suas criações musicais, divulgando talentos do passado, sem esquecer dos contemporâneos. Da mesma forma, O SAMBA PEDE PASSAGEM quer ser uma oportunidade de animação musical, de educação cultural e de resgate histórico. No palco do SESC Osasco vão desfilar os músicos, compositores e cantores que fazem o samba de hoje e resgatam o samba de ontem e de sempre. É para esses encontros que convidamos vocês. Grandes
shows, com apresentação de Moisés das Rocha. A valorização da raiz africana. As histórias dos maiores criadores do samba. Os sambistas de maior qualidade e expressão. As discografias. As bibliografias sobre o mais contagiante dos ritmos.
Foto: Christian Gaul
O samba está pedindo passagem! E convida vocês a virem ver, dançar, cantar juntos e aplaudir! Ziriguidum!
Notas sobre a história do Samba, Das origens da palavra ao berço do samba De onde veio essa palavra, que parece que dança, meia bamba, bamboleante-ondulante, feito as ancas da mulata? Quem foi que disse, pela primeira vez, “aquilo é samba”? Discutem os doutores. Seria do árabe “zambra”? Seria da língua africana quimbundo, onde “sam” quer dizer “dar” e “ba” ,”receber”? Ou será que veio, como muitos acham, do angolano “semba”, que era um dança onde barriga batia em barriga, a popular “umbigada”? Essa última versão parece a mais “sambista” de todas: afinal a maior parte dos escravos vinha de Angola... O certo é que a tal palavra apareceu pela primeira vez num pasquim pernambucano de 1838, O Carapuceiro, onde um padre reclamava de um tipo de festa dos negros, que ele chamou de “samba d’almocreve”, ou seja, dança de cocheiros, farra de gente pobre... E parece que muitas festas negras, da Bahia para cima, eram chamadas assim no século XIX: um samba... geralmente animadas por um tambor, dito tambaque, o vovô do atabaque. Mas aí veio a Guerra de Canudos, que expulsou muita gente do Norte, veio o ciclo do café, que precisava de muita mão de obra nas lavouras do sul, e grandes levas de negros foram parar no... Rio de Janeiro. E foi essa a origem afro-baiana, com tempero carioca, daquele batuque sem igual. Os mestiços, os ex-soldados de Canudos, os negros livres, foram morar perto do Morro da Conceição, da Pedra do Sal, da Praça Mauá, da Praça Onze, na Cidade Nova, na Saúde e na Zona Portuária – a região que era chamada “Pequena África”. E nela havia certas casas, onde
o candomblé corria solto, e se dançava o lundu, e tinha umbigada nos terreiros, e se jogava capoeira, no ritmo marcado do pandeiro, prato-e-faca e palma da mão. Eram as casas das “tias baianas”, respeitadas demais, e até hoje lembradas: a Tia Amélia, mãe de Donga; a Tia Bebiana; a Tia Mônica, mãe de Pendengo e Carmem Xibuca; a Tia Prisciliana, mãe de João da Baiana; a Tia Rosa Olé; a Tia Sadata; a Tia Veridiana, mãe de Chico da Baiana; e a mais conhecida de todas, Hilária Batista de Almeida - a Tia Ciata, que chefiava as baianas que vendiam quitutes e doces pela rua, que fazia as roupas de baiana para os clubes carnavalescos, que organizava festas que duravam dias... E naquele Rio de Janeiro negro, as alegres danças dos antigos escravos foram incorporando toques de polca, de maxixe, de lundu, de xote, até virarem uma coisa nova – o samba. Isso lá pelos começos do século XX. Então, um dia, em 1916, aconteceu uma coisa inesperada: um tal Ernesto dos Santos, mais conhecido como Donga, foi até a Biblioteca Nacional e registrou uma música que ele teria feito com um cronista do Carnaval batizado Mauro de Almeida, mas que todo mundo chamava Peru dos Pés Frios. O nome da canção era Pelo Telefone, na verdade mais um maxixe que um samba, na verdade mais uma criação coletiva do quintal da Tia Ciata que uma obra autoral, mas seja como for, destinada a entrar na história. Foi gravada em 1917 e virou a coqueluche do Carnaval daquele ano. Levou a fama de primeiro samba, levaria o samba em poucos anos à fama. E foi assim que tudo começou...
Bibliografia Listamos abaixo alguns livros sobre o samba, para quem se interessar em saber um pouco mais sobre o popular ritmo musical brasileiro. • Almanaque do Samba: A História do Samba, o que Ouvir, o que Ler, Onde Curtir/André Diniz/Jorge Zahar Editores. • Tem Mais Samba - Das Raízes À Eletrônica/Tárik de Souza - Editora 34 • A Construção do Samba/Jorge Caldeira Editora Mameluco • Escolas de Samba do Rio de Janeiro/Sérgio Cabral - Editora Lazuli • Partido-Alto – Samba de Bamba/Nei Lopes - Editora Pallas
Dudu Nobre: tradição e atualidade do Samba O músico, compositor e cantor chega à plenitude da carreira aos 40 anos – firme na raiz do samba e sem medo do novo. Dudu Nobre nasceu em 7 de novembro de 1973, numa família onde o samba se ouvia desde o berço. Não era para menos: os pais do futuro sambista – o engenheiro João Eduardo de Salles Nobre e a mãe, dona Anita , trabalhavam com bares que, à noite, viravam casas de show. Os grupos e cantores que tocavam por lá eram gente em começo de carreira: a saudosa Jovelina Pérola Negra, o grupo Fundo do Quintal, um tal de Zeca Pagodinho... E o pequeno Dudu, com uns 5 ou 6 anos de idade, já pegava no cavaquinho! E não ficou só nisso: pouca gente sabe, mas os pais colocaram aquele moleque que parecia gostar tanto de música, para estudar piano clássico, e Dudu freqüentou aquelas teclas por dez anos. Mas o bom mesmo, eram as festas. “Minha mãe foi precursora do movimento do samba no Rio de Janeiro, numa época em que a cidade tinha umas dez escolas. Todo mundo ia lá em casa” – lembra o sambista – “a Beth Carvalho, a Alcione, todo o pessoal da música, do samba”. O cavaquinho, que ele ganhou da mãe, virou o instrumento “do coração”. E a carreira, claro, começou cedo: “comecei a ter contato com toda aquela turma e num determinado momento Osmar Valença (presidente de uma das mais importantes escolas de samba cariocas, a Acadêmicos do Salgueiro, entre 1978 e 1981) montou a Escola de Samba Mirim, e começaram a perguntar de algum menino para cantar e fazer os sambas e todo mundo falava: “Dudu, Dudu”... daí fui convidado e com 9 anos de idade fiz o primeiro samba da Escola Mirim que depois virou Aprendiz da Salgueiro e comecei a trabalhar com música com dez anos...”. Nos 8 anos seguintes aquele aprendiz de sambista compôs sete sambas-enredo para cinco escolas mirins. Paralelo a isso, foi pela primeira vez para a Europa, entre
os 12 e os 13 anos, com os pais, que tinham encontrado uma oportunidade de trabalho lá fora, nos difíceis tempos do Plano Cruzado. E no Velho Mundo, Dudu também deu início a uma carreira ascendente: “a primeira vez que eu fui para lá trabalhei com a Companhia Brasiliana, depois mais uma vez com a Mocidade Independente, entre os 15 e 16 anos, e quando voltei para cá comecei a trabalhar como músico, com o Almir Guineto, e com 17 anos com o Pedrinho da Flor e com o Dicró, aí com 19 entrei na banda do Zeca Pagodinho, com 20 anos comecei a ser gravado como compositor, e com 26 lancei meu primeiro CD como cantor e compositor”. De lá para cá Dudu Nobre lançou 13 discos, 3 DVDs (veja adiante a discografia do músico), teve mais de 150 músicas gravadas, e no Carnaval carioca de 2014 venceu a disputa pelos sambas-enredo de duas escolas: o da Unidos de Viradouro (em parceria com Zé Glória, Diego Tavares, Paulo Oliveira, Dílson Marimba e Junior Fragga) e o da sua “escola do coração”, a Mocidade Independente de Padre Miguel (em parceria com Diego Nicolau, Marquinho Índio, Jefinho Rodrigues, Jorginho Madeiros e Gabriel Teixeira). Mas apesar de toda essa história ligada ao samba desde a infância, e de ser irmão da porta-bandeira número 1 da Mocidade Independente, Lucinha Nobre; e de ser primo do cantor e ator Seu Jorge, e de ter como padrinho ninguém menos que Wilson das Neves, e de ser afilhado musical de Zeca Pagodinho, Dudu Nobre afirma – só a linhagem não faz o sambista: “Viver nesse ambiente me ajudou muito. Mas só a família não resolve... Para você hoje ser cantor, são necessárias outras coisas, não é só cantar, tem que saber falar, saber se expressar, saber dar uma entrevista... a carreira é meio “deixa a vida me levar”, sim, mas até a página dois! Você tem quê se preparar. Eu me preparei muito. Eu estudei piano clássico por uns 10 anos, estudei cavaquinho, estudei muito para que quando a oportunidade surgisse eu pudesse agarrá-la”. E desde que a chance foi agarrada, Dudu Nobre mostra a que veio: para 2014, além de puxar o próprio samba-
enredo no desfile da Mocidade, um novo DVD já está a caminho, “Os Mais Lindos Sambas Enredo de Todos os Tempos”: “vai ser uma mega produção com um dos maiores carnavalescos do Rio de Janeiro, Milton Cunha: já gravamos na Cidade do Samba, com uma bateria dirigida por Mestre Vitinho Botelho, participações de Zeca Pagodinho, Arlindo Cruz, Seu Jorge, Monarco, Velha Guarda da Império Serrano, Carlinhos de Jesus, Viviane Araujo e o gari sambista Renato Sorriso, que já se apresentou no Sambódromo, mais os 25 melhores ritmistas do Rio e, no repertório, a maioria dos clássicos que gravei no CD de sambas enredo”. O samba-enredo é paixão para Dudu Nobre, mas ele também fez muito sucesso com o partido alto e os sambas românticos, onde também brilharam alguns dos músicos que ele mais admira: “o Almir Guineto teve uma carreira parecida com a minha, porque eu também sou um músico, e o músico puxou o compositor, e o compositor puxou o cantor... E trabalhei com alguns dos melhores, como o Guineto, que acompanhei até os 16, ele é um dos grandes gênios do samba, um grande compositor. Tem o Candeia, um cara que agregava muito. Eu conheci muita gente, o Nelson Cavaquinho, a Clementina de Jesus, mas queria ter conhecido o Candeia, sinto que eu teria gostado muito dele. O Martinho da Vila, na minha infância e juventude, me influenciou demais”. Para o padrinho Zeca Pagodinho, o afilhado reserva elogios especiais e conta até um caso verídico: “o Zeca é um compositor excepcional. Eu já trabalhei com letristas geniais como Aldir Blanc e Nei Lopes, mas na hora de fazer a letra é impressionante como flui a poesia no Zeca. Quando vamos fazer música juntos às vezes eu até cronometro: um dos sambas que fizemos juntos, “Quem é Ela”, levou 14 minutos para ser feito!” É toda essa história ligada ao cavaquinho, ao tamborim, ao samba freqüentado desde pequeno, que sobe ao palco do Sesc Osasco neste sábado, 18 de janeiro, para a primeira apresentação do projeto O Samba Pede Passagem, com uma grande banda, quatro bailarinas e... muita nobreza.
“Na verdade é um show com os grandes momentos da minha carreira e canto muita coisa que me influenciou, músicas do Cacique de Ramos, onde cresci, relembro o CD de sambas enredo, as músicas que escrevi e outros cantores gravaram, prestamos uma homenagem a grandes nomes do samba para mostrar que samba não é coisa restrita ao Rio, então tem Adoniran Barbosa, tem Ataulfo Alves, tem homenagens a grandes mestres como Jorge Aragão, olha, até quem não é muito chegado em samba vai gostar”.
Foto: Divulgação
O
Foto: Christian Gaul
Show “Ainda é Cedo” Dudu Nobre
vocais/composições
Músicos
Xandy (contrabaixo) Sid (pandeiro) Macaco Branco (tantan) Tuta (cavaquinho) Júnior Portugal (bateria) Keko (percussão) Jorge André (surdo) Léo (sax e flauta) Minyus (violão)
Passistas
Karla Moreno Talita Castilho Cíntia Barboza Nanda Coelho
Discografia CDs
Dudu Nobre (1999) Moleque Dudu (2001) Chegue Mais (2002) Dudu Nobre - ao vivo (2004) Dois no Samba (2004) Festa em Meu Coração (2005) Maxximum: Dudu Nobre (2005) Os Mais Belos Sambas Enredo de Todos os Tempos (2007) Essencial (2008) Roda de Samba ao Vivo (2008) Dudu Nobre (2009) O Samba Aqui já Esquentou (2011) Ainda é Cedo (2013)
DVDs
Dudu Nobre ao Vivo (2004) Roda de Samba ao Vivo (2008) Os Mais Belos Sambas Enredo de Todos os Tempos (2014)
O Samba pede passagem Dudu Nobre
Dia 18 de janeiro de 2014. Sábado, às 20h Tenda 1. Livre
Sesc Osasco
Av. Sport Club Corinthians Paulista, 1300 CEP: 06132-380 - Osasco - SP Tel.: 11 3184-0900 email@osasco.sescsp.org.br sescsp.org.br /sescosasco