Cenas ao Sul - Jornal 3

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Coisas do Ser e do Mar

Pedro Pinto & Gandins

Bonecos & Campaniça

Música

Música

Formas animadas

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N.º 3 DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

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Contanário, uma fonte de contos

Burgim

Retomar o diálogo e apostar nos valores locais

São cinco dias “em que os contos estarão à solta em vários cantos da cidade e visitarão algumas freguesias do concelho.” Praças, escolas, bibliotecas, associações de idosos e outros espaços culturais da cidade vão servir de palco às dezenas de iniciativas de contadores de histórias reconhecidos a nível nacional e local. w

Uma banda de referência da música pop independente da Extremadura espanhola chega-nos do Festival Europa Sur. Conside­ rados como uma das revelações do ano, os Burgim apresentam-se a 6 de Setembro, na Praça do Sertório. w

O Presidente do Município, Carlos Pinto de Sá, é um dos vários responsáveis pelo “Cenas ao Sul” que fazem um primeiro balanço da iniciativa. w


o som

Opinião O Cenas ao Sul é uma feliz conjugação de vontades e de trabalho.

Ana Paula Amendoeira Diretora Regional de Cultura do Alentejo.

As várias instituições, agentes culturais e artistas que decidiram, apesar de todas as dificuldades que atravessamos, organizar, financiar e pôr na rua um programa de animação para a cidade durante os meses de verão, merecem reconhecimento.

Coisas do Ser e do Mar pelos Contrabando na Praça do Giraldo

Este é um bom exemplo do que se pode fazer quando parece que nada se pode fazer. Mas para que isto aconteça foi necessário construir uma base de entendimento e cooperação que tem que ultrapassar algumas visões e entendimentos necessária e louvavelmente diferentes. Todos sabemos que o caminho a percorrer neste domínio é desafiante e cheio de dificuldades, mas também de enormes possibilidades que não se esgotam numa primeira batalha ganha. Continuar a trabalhar, com todos os que quiserem e puderem dar o seu contributo, para fazer mais e melhor é um desafio que sendo difícil, é o que nos pode garantir o reconhecimento interno mas também exterior ao nosso “pequeno mundo”. Sabemos que é possível com a força da vontade e do trabalho que esta iniciativa nos demonstra desde Julho. A visão institucional foi aqui fundamental para este arranque e deve ser sublinhado o empenho e participação essencial da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento da Região do Alentejo, da Entidade Regional de Turismo, do Município de Évora. E claro temos que agradecer a todos os que participam e à Associarte, que agregou as vontades e construiu estas Cenas que no verão do Sul têm trazido uma lufada de bem estar à cidade. w

Capote’s Emotion O concerto será antecedido por um desfile da Capote’s Emotion, uma iniciativa das empresárias eborenses Delfina Marques e Florbela Nunes, que apostaram numa reinvenção do Capote Alentejano. Trata-se de uma reinterpretação desta peça de vestuário tradicional portuguesa à luz dos conceitos contemporâneos de estética, conforto e qualidade. A Capote’s Emotion direciona os seus produtos para o público feminino, utilizando materiais ecologicamente sustentáveis, e introduz a elegância, a leveza, novas cores e padrões como fatores de distinção dos capotes alentejanos tradicionais. w

Ficha Técnica Título: Cenas ao Sul / Editor: Associarte / Data: Agosto de 2014 / Tiragem: 5000 exemplares / Director: Pedro Miguel Comendinha Grilo, Presidente da Associ’arte Redação: Gabinete de Comunicação de Cenas ao Sul com Gabinete de Comunicação da Câmara Municipal de Évora / Design Gráfico: Rui Belo, design+print / Depósito Legal n.º: 379234/14

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em destaque Ciganos d’Ouro dão-nos música flamenca “Things of Being and of the Sea” by Contrabando in Giraldo Square Contrabando go on stage of “Cenas ao Sul” in Giraldo square, on 13th September, at 10 pm, bringing with them as guests a group of friends – “Cantares de Évora”, a traditional singing group of Alentejo. w

Os Contrabando sobem ao palco do “Cenas ao Sul”, na Praça do Giraldo, no dia 13 de setembro, pelas 22 horas. Trazem consigo, como convidados, um grupo de amigos – os Cantares de Évora. Em 1999, os Contrabando iniciaram o seu percurso musical em Évora. A formação base é composta por Nuno do Ó (guitarra e voz), Henrique Lopes (guitarra), Valter Passarinho (percussão), Carlos Menezes (contrabaixo) e Mário Parreira (saxofone). Para este espetáculo os Contrabando convidaram os Cantares de Évora, que irão interpretar algumas “modas” tradicionais alentejanas do seu repertório. Segundo nos revelou Nuno do Ó, talvez se apresente um momento musical especial conjunto dos dois grupos. Em conversa com o “Cenas ao Sul”, o cantautor teceu elogios aos Cantares de Évora, salientando que “o Joaquim Soares é um ponto extraordinário, o Pedro Calado um dos nossos melhores altos. Os Cantares de

Évora acrescentam a particularidade de incorporarem vozes femininas, o que não é muito comum e enriquece musicalmente a sua atuação”. O alinhamento dos Contrabando conta com temas dos dois álbuns editados pela banda – “Fresta” (2000) e “Coisas do Ser e do Mar” (2008) –, a maioria dos temas com poemas de importantes autores da língua portuguesa: Fernando Pessoa, Agostinho da Silva, José Gomes Ferreira, Ary dos Santos e Branquinho da Fonseca, mas também novos poetas como Alice Pereira.

O auditório ao ar livre no bairro da Malagueira recebe os Ciganos d’Ouro, pelas 21.30h de 14 de setembro. O Flamenco e o Cante Hondo são as principais referências musicais deste grupo que é o único do género no nosso país, no entanto, as influências artísticas estendem-se ainda deste o Fado até ao Jazz. O convite aos Ciganos d’Ouro, que este ano comemoram o seu 20o aniversário, é promovido pela União das Freguesias de Malagueira e Horta das Figueiras. Com este concerto, que promete ser de gran-

No ano em que se comemoram os 40 anos do 25 de Abril, os Contrabando incluem no seu espetáculo temas de autores deste período, nomeadamente José Afonso, José Mário Branco ou Fausto, que consideram como marcantes influências no seu percurso musical. Os instrumentos tradicionais – viola campaniça e a sarronca – trazem à música do grupo um ambiente de fusão dos sons do passado com os do presente. w

Golden Gypsies “Ciganos d’Ouro”

de riqueza musical, pretende dar-se uma envolvência musical às cálidas noites eborenses e dar mais vida e animação cultural a um dos espaços vivos mais populosos do concelho: o Bairro da Malagueira. w

The open air auditorium in the neighborhood of Malagueira welcomes Gypsies d’Ouro, at 9:30 pm, on September 14th. The Flamenco and the Hondo Singing are the main musical references of this group, the only one of its kind in our country; however their artistic influences go beyond gypsy music, ranging from Fado to Jazz. This show is part of the commemorative program for the 20th anniversary of this group. w

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No ciclo das formas Contanário, uma fonte de contos de 23 a 27 de Setembro Tales on the loose in Évora, from 23rd to the 27th September. “É Neste País” cultural Association promotes the “Contanário – week of tales” Évora hosts the marathon of tales from the 23rd to the 27th September. It’s the fourth edition of the “Contanário – week of tales” promoted by “É Neste País” cultural Association. This year “the bet is to extend the initiative to various areas of the city embracing a greater heterogeneity of public and involving, at the same time, more entities in its organization”, ensure those responsible for the association. In total, it’s five days “in which tales are on the loose in various corners of the city and in some parishes of the county.” w

O Cenas ao Sul acolhe uma maratona de contos entre os dias 23 e 27 de Setembro. Chama-se Contanário – Semana de Contos e é promovida pela É Neste País – associação cultural. Depois de três experiências anteriores, “a aposta reside em alargar a iniciativa a vários espaços da cidade e abarcar uma maior heterogeneidade de públicos envolvendo, ao mesmo tempo, mais entidades na sua organização”, garantem os responsáveis da associação. No total, são cinco dias “em que os contos estarão à solta em vários cantos da cidade e visitarão algumas freguesias do concelho.” Praças, escolas, bibliotecas, associações de idosos e outros espaços culturais da cidade vão servir de palco às dezenas de iniciativas em que contadores de histórias de referên-

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cia a nível nacional e local são os protagonistas de “uma festa” cuja base assenta no projeto “Com quantos pontos se conta um conto?”. Esta é uma atividade que a É Neste País promove, semanalmente, aos sábados, desde 2010, onde “a leitura e/ou narração de histórias assumem um papel crucial na promoção da leitura e da valorização cultural da tradição oral.” A É Neste País – associação cultural está sediada em Évora, na Rua da Corredoura n.º 8, tendo-se constituído “com o fim de desenvolver ações em diferentes formas de expressão artística promovendo o debate de ideias, o confronto com opções estéticas diversificadas e o aprofundamento de conhecimentos e aprendizagens.” w


e dos afetos Um jardim na Praça do Sertório “Little Garden” é o título da performance que Márcio Pereira concebeu para apresentar ao público, no dia 7 de setembro, às 22h00, na Praça de Sertório. Um cubo de 2 por 2 metros, construído pelo próprio artista, é a peça principal no cenário desta performance, que recria um jardim, onde tudo acontece. Num local público nasce, inesperadamente, um jardim que é descrito por Márcio como “um pequeno jardim onde o corpo que o habita inicia a sua metamorfose, o seu processo de transformação, que não é único, mas é singular”. Propositadamente criada para ser apresentada no “Cenas ao Sul”, “Little Garden” é uma performance de 30 minutos, que

vem nascendo ao longo de um mês. Pensada de raiz como espetáculo de rua, a sua maior dificuldade, segundo Márcio, é “atingir a intimidade, que é sempre mais facilmente conseguida num espaço fechado”. “É um desafio fazer este tipo de trabalho em Évora, onde fui encontrando as estruturas, o apoio e as oportunidades para o fazer”, diz-nos Márcio Pereira, natural de Santo André que, em Évora, fez o curso superior de Teatro. Um breve contacto com a dança foi suficiente para lhe despertar o interesse por esta arte, que foi explorando e aperfeiçoando, fazendo hoje parte do seu universo como criador, unindo nas suas performances a dança e o teatro. w

Opinião Há sempre qualquer coisa a acontecer!

António Ceia da Silva Presidente da Turismo do Alentejo e Ribatejo

Foi através da exibição e apresentação de mais de cem propostas artísticas e culturais que Évora, nos últimos três meses, se deu a conhecer aos muitos visitantes e turistas que escolheram a cidade “Património Mundial da Humanidade” para passar férias ou gozar alguns dias de descanso.

Tradicionalmente ligada à Arte e à Cultura, Évora criou o Cena ao Sul que veio reavivar memórias, afirmar e revelar uma cidade aberta ao mundo. Uma cidade que, para além da monumentalidade, se projecta sendo palco da simbiose das múltiplas manifestações de diferentes criadores e agentes culturais. Tendo como cenário as ruas e praças do Centro Histórico, Évora convocou artistas e criadores, mas também instituições e associações culturais para dar vida à primeira edição de um evento que aposta na multiculturalidade para exprimir a essência e jovialidade da cidade. Ao longo de três meses, através do cinema, da fotografia, da música, do teatro, da dança ou das expressões de rua, este evento enriqueceu, certamente, a experiência turística de quem visitou Évora. A todos os parceiros desta iniciativa, assim como a todos os turistas que elegeram Évora como destino de férias e o Cenas ao Sul como programa de animação preferido, o Alentejo agradece. Até para o ano! w

“Little Garden” in Sertório Square “Little Garden” is the title given by Márcio Pereira to the performance conceived to be presented to the public on 7th September, at 10 pm in the Sertório square. A cube of 2 by 2 meters, built by the artist himself, is the central piece of the scenario of his performance, recreating a garden where everything happens. w

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Opinião Puxar os agentes económicos para estas iniciativas

Mariana Candeias Secretária Geral da Associação Comercial do Distrito de Évora (ACDE)

A opinião da ACDE é que são importantes estas atividades. Todas as ações que tragam pessoas à cidade, que dinamizem, que tragam movimento, que animem, são interessantes. Aliás, nós próprios já fizemos esse tipo de atividades através de programas financiados.

O que gostaríamos era de puxar os agentes económicos mais para estas iniciativas. Como? Se conseguirmos, com alguma antecedência, envolver a associação, os comerciantes, a restauração conseguindo que as mesmas aconteçam a horas em que o comércio esteja aberto. A atividade económica beneficiará do facto de virem pessoas à cidade. Termos as praças cheias com gente a divertir-se, em termos económicos não é produtivo, com exceção para as esplanadas. Nós entendemos isto sempre nesta vertente. Eu estive em algumas atividades, não estive em todas, mas sei que o público aderiu aos vários tipos de eventos (exposições, concertos, cinema). Verificamos adesão por parte do público. Gostaríamos é que essas pessoas contribuíssem de alguma forma para o tecido económico, consumindo. É esse o nosso papel: conseguirmos que as pessoas consumam. Há já muitos anos que nós pedimos às entidades que estão ligadas à cultura que venham para a rua e façam espetáculos, que tragam pessoas e colaborem. Na altura do Natal e noutras. Mesmo sem financiamentos, se todos dermos um pouco de cada um, e cada agente fizer um pequeno espetáculo, uma pequena animação, a cidade fica animada e podemos trazer pessoas. E temos tantas entidades culturais e associações! É preciso, também, criar uma continuidade nestes programas. Se as pessoas não souberem o que há, não vêm. Interligando todos os agentes económicos, desde a restauração ao comércio, conseguiremos criar aqui outra dinâmica. Da nossa parte, estamos disponíveis para colaborar trabalhando, mobilizando as pessoas, organizando candidaturas conjuntas a programas do próximo quadro comunitário. w

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In the framework of “Cenas ao Sul” Évora joins the “Europa Sur – 5th edition of the Portuguese-Spanish Festival” in Cáceres and Trujillo, to be held in September Cáceres and Trujillo are the cities of the Spanish Extremadura hosting, on different dates, the fifth edition of “Europa Sur” Portuguese-Spanish Festival, which this year includes a total of 27 concerts of Spanish and Portuguese bands of various musical styles. One of the novelties this year is the commitment to present the festival in Évora, on 6th September, with a performance of the group Burgim from Extremadura at 10 pm in Sertório Square, preceding the concert of Pedro Pinto and the Gandins, included in the programme of “Cenas ao Sul”. This may prove to be the first step to establish a partnership between the Municipality of Évora and the organisation of the festival “Europa Sur” in order to exchange initiatives between the cities involved. All programming of the Festival “Europa Sur” is available on the website: http://www.festivaleuropasur.com w

Burgim convidam Évora para o Europa Sur Cáceres e Trujillo são as cidades da Extremadura Espanhola que acolhem, em datas distintas, a quinta edição do Europa Sur – Festival Luso Espanhol que, este ano, contempla um total de 27 concertos de bandas espanholas e portuguesas de vários estilos musicais. Uma das novidades desta edição é a aposta na apresentação do festival em Évora, a 6 de Setembro, através da atuação dos extremenhos Burgim. A atuação está prevista para a Praça do Sertório, pelas 22h00, a an-

teceder o concerto de Pedro Pinto e os Gandins, integrado no Cenas ao Sul. Este pode revelar-se como o primeiro passo para estabelecer uma parceria entre a Câmara eborense e a organização do festival, no sentido do intercâmbio de iniciativas entre as cidades envolvidas. O Europa Sur apresenta-se como um evento único no país vizinho que junta bandas espanholas e portuguesas, apostando numa mistura de estilos que viajam entre o pop e o rock, o ska e o indie mais atual. The Poppers, The Walks, Brass Wire Orchestra o The Soaked Lamb, fazem parte do leque de artistas nacionais a atuar em Cáceres (18 a 20 de Setembro) e Trujillo (26 e 27 de Setembro).


Cenas a não perder

Burgim O projeto do músico extremenho Alfonso Búrdalo é apontado, atualmente, como a referência da música pop independente daquela região. Considerados como uma das revelações do ano, os Burgim, editaram recentemente o seu primeiro trabalho intitulado The way that you smile. Para conhecer e desfrutar, na Praça do Sertório, em Évora, a 6 de Setembro. Toda a programação do Festival Europa Sur pode ser consultada na ligação oficial do evento em: http://www.festivaleuropasur.com/ w

Pedro Pinto com os Gandins O Cenas ao Sul recebe em palco o projeto musical Pedro Pinto e Os Gandins. O músico eborense promete apresentar na Praça do Sertório, no dia 6 de Setembro, a partir das 22h00, os seus mais recentes temas originais em português, num espetáculo de ambiente acústico e intimista. Pedro Pinto é um cantautor natural de Évora. Músico autodidata, escreve e canta em português e inglês e descreve a sua música como Indie/Pop com influências do Folk ao Jazz. A música emergiu naturalmente na sua vida, uma vez que “tendo crescido numa família de músicos e num ambiente rico em melodias, o meu contacto com as noitadas de cante alentejano e cantautores portugueses (grupo de amigos dos meus pais) e principalmente com a coleção de discos de vinil que

havia lá em casa, literalmente ditou o meu destino. Assisti ao meu primeiro concerto às cavalitas do meu pai, com uns quatro anos, e até hoje não apareceu nada que mexesse mais comigo do que a música”, revela-nos de forma apaixonada. O músico considera o Cenas ao Sul como “uma excelente aposta na prata da casa e a prova que santos da casa podem fazer milagres”, acrescentando ainda ser “um gozo ver a cidade cheia de vida e pessoas no verão. É uma prova de que cultura e entretenimento podem conciliar-se”. Pedro Pinto surge, neste espetáculo, acompanhado por Adenilda Muguambe, João Aleixo, João André, José Silva e Marta Graça. A história à volta do nome da banda “só será revelada quando contada na primeira pessoa”. Fica a promessa! w

Pedro Pinto and the Gandins The “Cenas ao Sul” hosts the musical project “Pedro Pinto and the Gandins”. The musician from Évora promisses to present in the Sertório Square, on the 6th September, at 10 pm, his latest original songs in Portuguese, a spectacle of sound and intimate atmosphere. Pedro Pinto is a songwriter born in Évora. The self-taught musician writes and sings in Portuguese and English and describes his music as Indie / Pop with influences from Folk to Jazz. Pedro Pinto in this show will be accompanied by Adenilda Muguambe, João Aleixo, John Andrew, José Silva and Marta Grace. The story around the name of the band “will only be revealed when told in the first person.” It’s a promise! w

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Opinião

Cenas a não perder

Há sempre qualquer coisa a acontecer! O programa Cenas ao Sul não é só uma iniciativa, um conjunto de eventos. É, sobretudo, uma estrutura que acolhe a dinâmica cultural da cidade e que a integra e reZélia Parreira presenta como um Diretora da Biblioteca todo, tendo trazido Pública de Évora à cidade de Évora (BPE) um vida como eu já não me lembro de ver há muitos anos. É verdade que a minha vivência de Évora era de há 20 anos, quando aqui estudei na Universidade, mas tinha sempre a noção de que havia uma vida cultural intensa. Agora voltei a encontrar essa vida cultural nestas noites de Verão. Tem sido muito interessante andar pela rua e ver sempre qualquer coisa a acontecer! Além disso, há atividades de todas as vertentes. Por exemplo, há duas noites aconteceu um espetáculo de palhaços ali na Praça do Sertório e, portanto, todas as vertentes culturais têm a oportunidade de se exprimirem. Não há aqui nenhum tipo de fundamentalismo, há uma abertura total e acho que isso tem sido uma grande mais-valia. Acho que o público tem aderido muito bem; o facto de haver esta programação sistematizada e das coisas não acontecerem sem aviso prévio também é fundamental para que as pessoas possam participar e assistir aos espetáculos. Esta ideia de criar um programa que é uma unidade, onde recebe essa estrutura que integra tudo, isso foi, uma ótima ideia e é um ponto importante no sucesso que a iniciativa está a ter. Relativamente à Biblioteca, vemos com bons olhos tudo o que possa agitar as mentes, as consciências, e possa contribuir para alertar as pessoas para a vida cultural, para o conhecimento, para o acesso à arte. Essa é a nossa postura, é aquilo que nos faz trabalhar, a nossa missão é essa: servir de ponte para que as pessoas cheguem ao conhecimento, à informação, ao lazer, à cultura. Assim sendo, uma iniciativa destas só pode ser vista por nós como muito, muito positiva! w

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Bonecos com novas vidas ao som da Campaniça Manuel Dias, manipulador de marionetas, e Tó Zé Bexiga, músico, apresentam na Praça de Sertório o espetáculo Bonecos & Campaniça, dia 7 de setembro, às 22h45. O jornal do “Cenas ao Sul” foi ao encontro deste duo de artistas, sediados em Évora, quando estavam reunidos num dos seus ensaios. “Todas as semanas nos encontramos para ensaiar”, conta-nos Manuel Dias, que há mais de 40 anos se dedica a tempo inteiro ao trabalho com marionetas. Criou em 1975 o Projeto de Investigação de Formas Animadas a que chamou TRULÉ. As suas mãos são a alma deste trabalho.Com essas mãos Manuel Dias constrói os bonecos. Com as mesmas mãos, por via da manipulação, dá vida a estas personagens de cada vez que faz espetáculo. Com outras mãos toca Tó Zé Bexiga uma viola campaniça. O encontro entre os dois resulta numa imensa cumplicidade.

Tó Zé Bexiga incorpora projetos musicais consolidados como os “Uxu Kalhus”, “Bicho do Mato”, “O Rijo” e “Ao Lado” e dinamiza na Sociedade Harmonia Eborense sessões de improvisação musical. Para uma dessas sessões convidou o seu amigo Manuel Dias. “Criámos um set de bonecos e, como correu bem começamos a propor este espetáculo. Já o realiza-mos em vários locais da cidade” diz Tó Zé Bexiga. Os Bonecos & Campaniça nasceram assim há um ano, no contexto de uma das associações culturais que integram o CENAS AO SUL , denominada “É Neste País”. Neste espetáculo, que dura uma hora, doze bonecos contam “histórias sem palavras, ao som da viola campaniça, a viola do alentejo”, explica Tó Zé, “os bonecos são construídos em palco, a alma do boneco, o que ele representa, é um segredo só nosso, e o ritmo boneco dita o sentimento e a história”. w

Bonecos & Campaniça tell us stories Manuel Dias, puppeteer, and Tó Zé Bexiga, musician, present in Sertório square the puppet show Bonecos & Campaniça, on the 7th September, at 10:45 pm. During the course of this one hour show, twelve puppets tell “stories without words, to the sound of campaniça guitar, the guitar of Alentejo” says Tó Zé: “the puppets are built on stage, the soul of the puppet, what he represents, it’s a secret of our own. The rhythm of the puppet dictates the emotion and the story. w


Balanço do Cenas ao Sul Entrevista Para além da criatividade, há a importância da cooperação entre os agentes Carlos Pinto de Sá, Presidente da Câmara Municipal de Évora faz um primeiro balanço deste programa em entrevista a Cenas ao Sul. CENAS AO SUL (CS) – O que leva a Câmara a apostar num programa de quase três meses de animação do espaço público? Carlos Pinto de Sá (CPS) – Primeiro, sem dúvida, o retomar da animação do Centro Histórico de Évora, Cidade Património da Humanidade, que estava quase morto. Era incompreensível o desmazelo, a inatividade que, naturalmente, afastava em vez de atrair. Um segundo aspeto, que me parece de grande importância, é a capacidade para um conjunto de instituições – quase três dezenas – se juntar e construir um programa comum. De alguma maneira, isso representou também o retomar do diálogo com o Município, bem como a capacidade de cooperação e de criação, em pé de igualdade, de um programa conjunto com o Município e com a Região de Turismo. Um terceiro aspeto, também de extrema relevância: a aposta no conjunto de valores locais que estão traduzidos em vários espetáculos. É o caso, por exemplo, do CENDREV que percorreu freguesias rurais. Este não era propriamente um dos objetivos diretos deste programa, uma vez que ele estava vocacionado para a animação do Centro Histórico. Mas fê-lo com grande sucesso e criou a expectativa de se poder vir a ter uma

importante colaboração com a zona rural. Outro exemplo foi o espetáculo da Mara, que encheu completamente a Praça de Giraldo. Mostrou que, para além dos valores nacionais que trouxemos, temos um conjunto de valores locais de grande qualidade. Finalmente, o último objetivo tem a ver com a projeção de Évora para o exterior. Apresentar um programa desta dimensão, com esta envolvência, permite começar a dizer que em Évora se realiza uma programação de qualidade, que as pessoas de vários meios olham com mais atenção. Isso significa uma maior capacidade de atratividade e um maior interesse por Évora e pelo seu património. Já hoje estamos a voltar a ouvir referências fora do concelho, fora da região. É esse retomar das questões culturais, que eram uma das imagens de marca de Évora, que nós queremos recuperar. CS – Como foi possível um programa desta dimensão na atual situação financeira da Câmara? CPS – Devo dizer que conseguir lançar este programa foi uma aventura. Aventura em vários sentidos. Em primeiro lugar, como é sabido, porque o município está em situação de falência. Significa, em termos práticos, que não pode apresentar candidaturas, que não pode despen-

der verbas para programas deste tipo. Ou seja, está numa situação de grande dificuldade para assegurar o apoio, em particular logístico, que é exigido pelos grupos a quem tem de se pagar alguma coisa. Por isso, foi necessário encontrar aqui uma fórmula que envolveu a Entidade Regional de Turismo do Alentejo, que envolveu um conjunto vasto de associações, permitindo-nos ir buscar dinheiro externo – estamos a falar de verbas com algum significado – sem que esse projeto tenha sido afetado pela situação de falência da Câmara. Conseguir construir, neste primeiro ano de mandato, um projeto com esta dimensão e com estas caraterísticas, demonstra que é possível criar muita coisa com poucos recursos, desde que haja criatividade. Mas, para além da criatividade, é necessário perceber-se a importância da cooperação entre os agentes. CS – E em termos futuros, o que se pode esperar? Para o ano haverá mais Cenas ao Sul? CPS – A cooperação vai ser a pedra de toque para projetos futuros. Queremos manter, aumentar, entrosar, atrair ainda mais agentes. Queremos que percebam que o êxito do espetáculo do vizinho é também o êxito do seu espetáculo. Isto criará uma mentalidade que permite envolver aqui, não apenas estes, mas até outros agentes que queremos trazer à participação a Évora. Assim conseguiremos ultrapassar as tremendas dificuldades que o Município tem. No futuro, vamos continuar a apostar nestes programas de animação. O que temos aqui é um projeto que não vai apenas pela área dos espetáculos. Preocupa-se com a criação de públicos – porque tínhamos perdido públicos – com a animação turística e, sobretudo, com esta ideia que o cenário maravilhoso do Centro Histórico de Évora merece mostrar a sua valia. w

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Concurso de Fotografia Cenas no teu olhar Como afirma Jean Baudrillard, reputado pensador francês, “cada objeto fotografado é somente o rasto deixado pelo desaparecimento de tudo o resto”, como se a lente fotográfica fizesse esquecer que o mundo não acaba na margem da fotografia. O que nem sempre é mau. Se avaliarmos o nosso quotidiano, povoado pela semântica da crise, do deses-

pero, do infortúnio, é bom poder focar o objeto e esquecer o que o circunda. Quer seja com concertos, exposições ou encontros, o Cenas ao Sul tem sido esse objeto. Para não esquecermos o que acalorou as noites de Évora, surge agora o Concurso de Fotografia – Cenas no Teu Olhar, que procura fomentar o trabalho de todos os que gostam de tirar fotografias, quer amadores ou profissionais. As trinta imagens que melhor retratem as atividades e o ambiente a elas associado, escolhidas por um júri ainda a divulgar, farão parte de uma exposição coletiva, a realizar em 2015. Os resultados serão publicados nos meios de comunicação.

Cada participante poderá contribuir com os seus disparos para a criação de uma base de imagens do projeto, bem como um álbum na página de facebook e no sítio oficial. Não existe um limite para as fotografias enviadas por cada participante, devendo estas estar identificadas com o nome do autor, evento e data de captura, com predefinição para partilha na web. Ao enviarem as imagens, os participantes confirmam que o material enviado é original e da sua exclusiva autoria. Para participar, basta enviar os conteúdos para o email cenasaosul.info@gmail.com (por wetransfer, link para cloud ou qualquer outra via). w

Cenas ao Sul e o Lançamento do Guia de Escultura Pública da Cidade de Évora As Cenas ao Sul são uma oportunidade de viver o espaço público da cidade, de tornar as ruas num local de cidadania, de discussão política, de crítica, de criação e de lazer. Neste âmbito e associando-se a este evento, o Grupo Pro-Évora vai proceder ao lançamento do Guia de Escultura Pública da Cidade de Évora. O Grupo Pro-Évora, fundado em 1919, é a mais antiga associação portuguesa de defesa do património. A sensibilização pela arte tem constituído uma das estratégias da intervenção do Grupo. Na continuidade das suas atividades de pesquisa e divulgação do património, o Grupo Pro-Évora editou e vai lançar, no dia 6

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de Setembro, o Guia de Escultura Pública da Cidade de Évora, o que será pretexto para percorrer a cidade, seguindo os percursos aí indicados, que assinalam as intervenções escultóricas dos últimos 100 anos no espaço público da cidade. Esta edição bilingue (português/inglês) localiza e identifica cerca de 50 esculturas públicas. Com fotografias de Paulo Nuno Silva, mapas, fichas técnicas e textos introdutórios de Maria do Mar Fazenda, são propostos três percursos temáticos – Percurso Evocativo, Percurso Simpósio ’81 e Percurso (Re)Pensar a Cidade – que dão visibilidade e leitura às peças instaladas na cidade. Demonstram como a História e a Memória pontuam o nosso quotidiano, levando-nos a refletir e a

questionar a relação entre Arte e Espaço Público nos nossos dias. Por isso, este lançamento incluirá, além da visita guiada a algumas esculturas representativas dos Percursos, quatro breves comunicações, proferidas por António Pedroso, Manuel Branco, João Cutileiro e Maria do Mar Fazenda, que terão lugar na sede do Grupo-Pro Évora. Esta edição teve o financiamento da Câmara Municipal de Évora e da Direcção Regional de Cultura do Alentejo, o apoio da Comunidade Intermunicipal do Alentejo Central e do Departamento de Escultura em Pedra do Centro Cultural de Évora. Pedro Fazenda, escultor e membro da Direcção do Grupo Pro-Évora. w


Para mais tarde recordar As artes do olhar, do ouvir, do ver e do sentir correm nas ruas durante os três meses de Verão em Évora. No Cenas ao Sul. Muitos usufruem, fluem com elas. Há quem deseje fixá-las no mágico espaço da memória. As Cenas foram percorridas pelo olhar de muitas lentes. Imprimem-se, aqui, três olhares grandes para lembrar que infinitos outros ficaram no etéreo espaço do vivido.

Fotografia Duarte Guerreiro – Vou ou não vou esta noite ao teatro ? / CENDREV

Fotografia Joaquim Carrapato – Terra de Abrigo / EBORAE MVSICA

Cidade do Homem “Para lá da cal, para lá dos mirantes, para lá dos contrafortes, para lá dos postigos de rendas tristes, para lá do monumental e da glória, para lá das ferrarias e dos frescos, para lá de Deus, está a Cidade. Essa entidade sem tempo, habitada em todo o tempo. Em todos os tempos. Para lá

Fotografia Telmo Rocha – Romeo e Julieta / CDCE

de todas as coisas, de todas as pedras, está essa máquina vagarosa, embora perene, que se deixou moldar pelo Homem para no seu âmago melhor o poder receber. Foram guerreiros e legionários, bárbaros e crentes, sultões e cruzados, monarcas e frades, republicanos e novos ricos que patrocinaram o levantamento da monumentalidade de Évora. Mas a maior realização que ali se pode contemplar não vem nos postais ilustrados, nem nos guias turísticos, nem nos manuais da história oficial. É necessá-

rio buscá-la nas travessas, nas vielas e nos becos, vagarosamente. Lá onde os homens guerreiam nas tabernas e fazem as pazes defronte de uma taça de vinho. Lá onde as telefonias passam canções de amor em AM. Lá onde se escutam choros longínquos de crianças. Lá onde as buganvílias trepam o branco e contornam com delicadeza a gaiola dos pintassilgos. Lá onde o gato finge dormitar. Lá onde tudo, onde a vida toda, finge dormitar. Essa é a Cidade do Homem. E é nisso, no Homem, que Évora é verdadeiramente rica.” w

Paulo Barriga in exposição de fotografia “Ruas Primas” aberta até 26 de Setembro 2014 na casa de Burgos (sede da Direção Regional de Cultura do Alentejo), Rua de Burgos, nº 5, Évora.

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A combinação de comércio, restauração e hotelaria faz todo o sentido nesta cidade de turismo O Hotel de Santa Clara foi uma das empresas que aceitou o convite do “Cenas ao Sul” para se associar ao projeto, tendo o hotel oferecido alojamento a alguns artistas que vieram animar Évora. Maria de Jesus Gaspar Localizado em pleno Diretora do Hotel centro histórico da de Santa Clara cidade, o Hotel de Santa Clara foi criado em 1976 e continua a ser gerido pela família do fundador. Este hotel, que teve a sua origem numa antiga casa de fados, é um dos mais antigos de Évora. Atualmente, Maria de Jesus Gaspar é a diretora da unidade hoteleira. Cenas ao Sul (CS) – Já assistiu a algum dos espetáculos do “Cenas ao Sul”? Maria de Jesus Gaspar (MJG) – Sim, assisti a um espetáculo da Semana dos Palhaços, precisamente de um artista que ficou aqui hospedado no hotel. Não tenho podido assistir a mais por motivos laborais. CS – Que balanço faz desta iniciativa? MJG – Daquilo que me é dado entender pelas pessoas com quem falo, o balanço é positivo e é para continuar. É positivo pelo facto de serem espetáculos de rua e gratuitos, sobretudo neste período de crise. Traz movimento a Évora, mexe com os agentes comerciais da cidade, restaurantes, cafés e esplanadas. CS – Como vê as parcerias das empresas da cidade com projetos como o “Cenas ao Sul”? MJG – A combinação de comércio, restauração e hotelaria faz todo o sentido nesta cidade de turismo. Se todos colaborarmos com estes projetos, todos colheremos frutos. Os frutos poderão não surgir logo no momento, mas de certeza virão nos anos seguintes. As pessoas perguntarão se vai voltar a haver “Cenas ao Sul” e, com base nisso, poderão planear uma nova visita, voltando a experienciar a vida cultural da cidade. w

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Cenas que A magia das artes circenses na rua procura o seu espaço em Portugal

“As ruas devem ter vida e não podem servir apenas para nos deslocarmos de casa para o emprego, do emprego para o supermercado e do supermercado para casa”. As palavras são do ator alemão Detlef Shafft, há muitos anos radicado em Portugal e atual diretor da Companhia Maribondo, sediada na Lousã.

forma como este tipo de arte é encarado no nosso país. “Somos vistos como o parente pobre da arte e cultura em Portugal, embora trabalhemos tanto ou mais que qualquer outro artista. Encontramos muitas dificuldades para conseguirmos licenças camarárias para realizar os nossos espetáculos”, concretizou.

Eva Cabral, da mesma companhia não tem dúvidas de que atuar na rua tem uma magia especial. “É fantástico quando realizamos um espetáculo com o qual as pessoas não estavam a contar e depois conseguimos prender a sua atenção. Sentimo-nos muito bem e realizados”, referiu.

Mas será que em Portugal é possível viver desta arte de representar? Diogo Duro encolheu os ombros, pensou um pouco e, de forma veemente, respondeu: “sim, é! Isto é uma paixão e não desistimos dela facilmente. Temos que ser nós a demonstrar aos políticos e às pessoas que os espetáculos de rua valem a pena, dão vida e vão ao encontro das pessoas, que querem divertir-se e sorrir, sem terem que pagar bilhete”.

Pode ser mágico, mas as dificuldades começam logo na burocracia que muitos artistas e companhias enfrentam junto das entidades locais para conseguirem as autorizações respetivas. Diogo Duro, outro artista de rua, interpreta o personagem “Pitú Palhaço”. Natural de Lisboa, mas residente em Évora, não esconde a sua indignação pela

Pelo mesmo diapasão afinou Detlef Shafft: “o aluguer das salas de espetáculos é muito caro. É na rua que nos sentimos bem, porque as ruas são públicas, são das pessoas, e devemos aproveitá-las melhor”. w

The magic of street circus seeks its space in Portugal “The streets should be alive and shouldn’t only serve to move from home to work, from work to the supermarket and from the supermarket back home.” These are the words of the actor Detlef Shafft, of german origin, living in Portugal for many years and presently the director of the Maribondo Company, based in Lousã. It’s one of the artists that performs daily in the streets and squares of villages, towns and cities of Portugal, a country that, in his view, “has not the habit of street performances, although the public likes them and receives them with open arms.” w


aconteceram Cante, Tradição e Contemporaneidade em cada nota que vibra. Até ao próximo encontro, resta-nos uma certeza: a Ronda dos Quatro Caminhos a Sinfonietta de Lisboa, os Cantares de Évora, os Corais Évora e Eborae Mvsica, a Mara e outros que se lhes juntem terão em Évora e no Alentejo a sua Terra de Abrigo. Aconteceu magia e foi tão bonito. O Templo de hoje não é o mesmo,

Entre Cante e Piano abriu um ciclo de cruzamentos entre o Cante e outras viagens, por Terras de Abrigo. Este ciclo, de dois momentos, encerra o paradigma maior do Cenas ao Sul: acrescentar património ao património. O enamoramento da tradição oral pela música que resulta da improvisação contemporânea, transporta-nos para um universo de emoções que redensificam tudo aquilo que o cante significa, conferindo-lhe uma força arrebatadora. Se de um duelo se tratasse, o cante ganharia sem sombra de dúvida. Mas o piano não sairia derrotado... absurdo? Talvez,

mas é assim a arte. Este confronto entre tradições, rotuladas por alguns de oral e erudita, abre-nos outros horizontes, sempre rumo à liberdade, demonstrando que não há fronteiras na música. Este é também um ciclo de regressos a casa. Tão desejados que, mesmo os que assistiram a muitos Terras de Abrigo – do CCB ao Festival de Sines, de Serpa a Montemor – sentiram tudo como se da euforia e da paixão do primeiro encontro se tratasse. Fomos levados num turbilhão de emoções ao encontro de novos significados das pedras, embaladas pelos sons, pelas cores, pela brisa que sopra

Este ciclo de outros Cantes re­ escreveu a paisagem urbana que se alonga por todos os olhares que atravessam a geografia do templo, redesenhando o mapa do nosso património imaterial, aquele onde juntamente guardamos as maneiras de sentir, amar, pensar, sofrer. Com

o Cante navegámos nas águas turbulentas do confronto estético, da inquietação, do gozo, do prazer e desembarcámos em festa, pertinho da linha do horizonte, aquela que nos aguça o desejo de caminhar à descoberta do conhecimento, convictos que é esse o caminho da liberdade. Évora e o Alentejo são a nossa Terra de Abrigo significando isso que nunca serão um ponto de chegada. Com o Cante na bagagem dali, do templo que atravessou o tempo, acabámos de partir… para onde? Pouco importa. O caminho é em frente e haverá sempre “estrada para andar”. w Luís Garcia

A animação cultural como princípio para a paz “As pessoas que procuram Évora trazem a certeza de encontrar uma animação que as motiva, que as aproxima. É esta animação que faz com que haja um relacionamento humano que de outra maneira não é possível. Quem vai a uma cidade de praia não tem o calor do encontro entre as pessoas. A dinamização por via das actividades culturais traz pessoas que se interessam por uma atitude humanista, pelos outros. Isto é, em última análise, o princípio da paz.” Declarações de António Prata no final do espetáculo de 29 de Agosto. António Prata é músico, dinamizador do espetáculo “Terras de Abrigo” e membro da Ronda dos Quatro Caminhos. w

“People who seek Évora are sure to find an animation that motivates them and brings them closer to others. It is this animation that foster human bonds that otherwise would not be possible. Who goes to a beach town does not have the warmth that comes from meeting other people. The revitalization through cultural activities brings people who are interested in a humanistic attitude, people who care for others. This is, ultimately, the principle of peace.” António Prata, by the end of the show Terra de Abrigo w

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Primeiro balanço da Associ’Arte Gratificante para quem trabalha e para quem usufrui Évora sempre foi uma cidade marcadamente cultural. Nunca deixou de o ser. O Cenas ao Sul veio-nos provar o que nós já sabíamos. Temos grandes agentes, grandes criadores, grandes músicos que fazem projetos de grande qualidade artística. Na grande maioria das vezes, todo este movimento é mostrado lá fora e tem uma grande dificuldade em mostra-se na sua terra. Num dos espetáculos de música da Praça do Giraldo, Manuel Guerra começou dizendo: “É com Lurdes Nobre Diretora enorme prazer que consigo concretizar o sonho de da Associarte dizer: Boa noite Évora, boa noite Praça do Giraldo”. Este é o sonho de todos os artistas da cidade e esta programação deu essa oportunidade a muitos. Tenho a certeza que o balanço é positivo, é extremamente gratificante. Eu acompanho todos os espetáculos e, portanto, sei que desde o início do projeto o público tem crescido muito. Chegam-me muitos elogios desta relação entre os projetos criativos e o património, com as praças, com os monumentos, com os cenários naturais que recebemos de herança e a que nós temos estado a dar relevo. Foi importante mostrar ao público que não está tão atento que, durante 365 dias por ano, há nesta cidade associações, há criadores a trabalhar bem. Talvez assim consigamos que as pessoas saiam das suas casas e voltem a participar nesta grande coisa que sempre fez de Évora uma cidade única. A Associ’Arte é a promotora visível do Cenas ao Sul. Os nossos colegas ligados a todas as outras 25 associações são também, todos eles, promotores das propostas criativas que aqui trouxeram. Este processo é, para todos nós, extremamente gratificante. É uma mais valia para quem trabalha na cultura e para quem usufrui da cultura. w

The Project “Landmarks” exposes national contemporary architecture in the Tourism Office of Évora The Municipality of Évora hosts the exhibition “Landmarks – Critic Cartography of Contemporary Architecture by the Portuguese Territory”, which will be presented on 19th September in the Tourist Office of Évora (Giraldo Square). It includes a workshop (from 3 pm to 5 pm), a conference (from 5 pm) and an exhibition on national contemporary architecture, open until the 27th September. According to the project facilitators, Landmarks “is an active dissemination and register platform of mapped architectures in Contemporary Portugal.” The opening conference will be attended by the architects Pedro Campos Costa (curator), Luis Santiago Batista (curator), Ventura Trindade e João Matos (Department of Architecture of the University of Évora) and the Councillor Eduardo Luciano (Municipality of Évora). w

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Associ’Arte A Associ’Arte é uma associação cultural sem fins lucrativos que nasceu em Évora em 1994, tendo vindo a oficializar-se em 1999. A missão era divulgar a criação artística que existe ao Sul, lançando reptos aos artistas para criarem projetos e mostrarem ao resto do país o que de bom se faz por estas paragens. O resultado deste processo traduziu-se na produção de mais de três dezenas de espetáculos e na parceria com diversas Câmaras Municipais, empresas e instituições. Em 2013 a Associ’Arte decidiu percorrer o caminho também no sentido inverso. Ou seja, trazer a Évora propostas culturais de outras partes do país e do mundo. O armazém 8, situado na Zona Industrial, surge assim como novo espaço cultura, composto por uma sala de espetáculos e 4 salas de formação, onde oferecemos aulas e workshops de teatro, música, danças de salão, biodança, e reiki. Propondo à cidade uma programação regular, o armazém 8 tem feito, em cada sexta feira, propostas artísticas em várias áreas. Aos domingos de manhã a programação é direcionada para os mais pequenos, onde a música, as histórias e o teatro têm feito as honras da casa. Também o cinema, as palestras, as conversas e exposições tiveram lugar neste primeiro ano de atividades. O armazém 8 vai reiniciar a programação no próximo dia 3 de Outubro com um espetáculo de Fernanda Cunha. A cantora brasileira está em digressão pela Europa com o espetáculo de homenagem a António Carlos Jobim e vai passar por Évora. Este novo ano do armazém 8 anuncia-se mais internacional, apresentando em Évora artistas do Brasil, de Itália, de Espanha e França. w

Cenas Extra Projeto Pontos de Referência mostra arquitetura contemporânea nacional no Posto de Turismo de Évora Enquanto decorrem Cenas ao Sul, a Câmara Municipal acolhe o Pontos de Referência – Cartografia Crítica da Arquitectura Contemporânea pelo Território Português, no dia 19 de setembro, no Posto de Turismo de Évora (Praça de Giraldo). O evento inclui um workshop (entre as 15 e as 17 horas), uma conferência (a partir das 17 horas) e uma exposição sobre arquitetura contemporânea nacional, patente naquele local até ao dia 27 de setembro. A conferência de abertura contará com a presença dos arquitetos Pedro Campos Costa (curador), Luis Santiago Batista (curador), Ventura Trindade e João Matos (Departamento de Arquitetura da Universidade de Évora); e ainda do Verea-

dor Eduardo Luciano (Câmara Municipal de Évora). Segundo os dinamizadores deste projeto, Pontos de Referência “é uma plataforma ativa de divulgação e registo de arquiteturas cartografadas no Portugal Contemporâneo” e “é simultaneamente a construção dinâmica de um mapeamento territorial e a constituição de um arquivo aberto, que não seja um repositório passivo de obras isoladas”. “Os filmes das obras, de pequena duração e realizados de uma forma low-budget, apresentarão assim os trabalhos selecionados como intervenções integradas num contexto territorial e paisagístico específico e através de uma leitura da sua realidade económica, social e cultural”, adiantam. w


Outras Cenas ao Sul II Residência Cisterciense S. Bento de Cástris

Que acha do programa Cenas ao Sul? Já viu alguns espetáculos?

19 e 20 de Setembro

Silvia Ramalho Funcionária Pública

Paralelamente à programação do Cenas ao Sul, Évora é palco de outras inúmeras iniciativas dedicadas à cultura e às artes. O Cenas ao Sul destaca neste número a II Residência Cisterciense S. Bento de Cástris, promovida pela Delegação de Cultura do Alentejo, a Universidade de Évora, o CIDEHUS-Centro Interdisciplinar de História, Culturas e Sociedades da Universidade de Évora e a CHAIA-Centro de História da Arte e Investigação Artística. A iniciativa decorre nos dias 19 e 20 de Setembro, numa edição que é subordinada à temática “A Estética, o Espaço e o Tempo: reflexos da contra-reforma na praxis musical”. Esta residência, no Mosteiro de S. Bento de Cástris, tem como objetivo principal reinventar, na contemporaneidade, a densidade histórica do discurso cisterciense, integrando a geografia do mosteiro eborense numa mais ampla geografia da Ordem de Cister. Inspirada nas questões da História, da Arte, do Património e da Paisagem cistercienses, a Residência, regida pelo ritmo do quotidiano da Regra Beneditina, apostará na vivência dos espaços do mosteiro e no debate de questões atuais ligadas aos espaços monásticos e ao seu futuro. A participação na Residência tem um custo de 15 € para o público geral e 7,5 € para estudantes. Nestes dias, o Mosteiro também estará aberto ao público, tendo o ingresso o custo de 2€. w Mais informações em http://residenciacisterciense.weebly.com

“Sim, tenho gostado. Já vi alguns espetáculos. Passei uma grande parte do Verão fora de Évora mas já fui assistir a alguns e acho que a programação é boa. É o retomar de uma velha ideia – que eu acho que se perdeu há muitos anos em Évora, que me faz lembrar o “Viva a Rua”. Era uma coisa importante em Évora que entretanto deixou de existir. Agora o Cenas ao Sul faz-me lembrar um bocadinho isso… claro que há melhorias a fazer mas era bom manter. A cidade tem muitos visitantes e no Verão é agradável sair à noite, apanhar ar. Assim, aproveita-se para assistir aos eventos culturais que são programados pelas associações, pela Câmara, e por quem se interessa por dar uma certa animação que faltava que a cidade está agora a retomar.”

Fátima Barros Empregada de Limpeza “Tenho visto vários espetáculos. Dos que vi, gostei e acho uma iniciativa extremamente importante para a cidade e para a sua dinamização, principalmente, no Verão.”

Nuno Lopes Empregado de Hotelaria “Tenho gostado, tem sido uma boa iniciativa da Câmara Municipal e dos agentes locais. E como há mais turistas neste mês, o Cenas ao Sul serve de entretenimento para quem nos visita.”

Maria Eduarda Fernandes Socióloga “Eu acho uma excelente ideia porque eu sou muito apologista dos espetáculos de rua que possam ser acessíveis a todas as pessoas. Esta ideia é extraordinária porque os espetáculos têm sido bons, há muita variedade (não há espetáculos só de teatro ou de dança), há espetáculos para todos os gostos, para todos os públicos. Antigamente havia o “Viva a Rua” que eu adorava, portanto, acho que este vem um bocadinho na mesma senda. Parabéns pela ideia e pela dinamização que estão a fazer! “

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6 setembro sábado

13 setembro sábado

24 setembro quarta feira

Aprender Pirogravura em madeira

Ciclos ExQuorum: Boom & Bang

100 Pavor – inscrição prévia Praça do Sertório junto ao nº 25 10h30 às 14h30 e das 14h30 às16h00

Teatro

Contanário Semana de contos em Évora

Valverde Casa do Povo 22h00

Lançamento do Guia de Escultura Pública da Cidade de Évora

Contrabando com Cantares de Évora Música Praça do Giraldo 22h00

Grupo Pró Évora. Pró Évora 15h00

Burgin Banda da estremadura Espanhola Música. Praça do Sertório 22h00

Pedro Pinto & Gandins

Coisas do Ser e do Mar

Ciganos D’ouro

Bruno Batista Do Imaginário

Música

Auditório de ar livre no Bairro da Malagueira 21h30

7 setembro domingo

Contanário Semana de contos em Évora

Círculos de Transformação Jardim Público / Infantil 10h00

Bruno Batista Do Imaginário

Litle Garden

Ver programa das freguesias urbanas de Évora 10h00

Praça do Sertório 22h00

Teatro à lá minuta TRULÉ

Bonecos e Campaniça

Junto à Biblioteca Pública 11h00

Música e Formas Animadas

Bruno Batista Do Imaginário

É neste País / Manuel Dias e Tó Zé Praça do Sertório 22h45

Ver programa das freguesias urbanas de Évora 15h00

12 setembro sexta feira

Abertura Oficial do Contanário

Sermão de Santo António aos Peixes A Bruxa teatro Templo Romano 22h00

Teatro à lá minuta TRULÉ Páteo da Direção Regional de Cultura do Alentejo 11h00

23 setembro terça feira

Márcio Pereira – Performance

Ver programa das freguesias urbanas de Évora 10h00

14 setembro domingo

Música. Praça do Sertório 22h30

Circulando na Praça

Bruno Batista Do Imaginário

Ver programa das freguesias urbanas de Évora 15h00

Teatro à lá minuta TRULÉ Ver programa das freguesias urbanas de Évora 15h00

Margarida Junça Do Imaginário

Inauguração da exposição Ilustração de Afonso Cruz

Praça do Giraldo 11h00

Margarida Junça Do Imaginário Ver programa das freguesias urbanas de Évora 15h00

Apresentação do projeto: “Uma Biblioteca é uma casa onde cabe toda a gente” Biblioteca Pública de Évora 18h30

26 setembro sexta feira

Contanário Semana de contos em Évora Ana Sofia Paiva Ver programa das freguesias urbanas de Évora 11h00

Variações de Marionetas TRULÉ

Claustro da Igreja do Salvador 18h30

Museu de Évora das 16h00 às 19h00

Sempre não é um Arraial? Grupo de Marionetas Neste País há Bonecos

Ana Sofia Paiva Thomas Bakk

Sociedade Harmonia Eborense 22h30

Ver programa das freguesias urbanas de Évora 15h00

25 setembro quinta feira

Thomas Bakk

Contanário Semana de contos em Évora Margarida Junça Do Imaginário

É neste País 18h30

Teatro à lá minuta TRULÉ

Cafetaria Páteo de S. Miguel 18h30

O Contanário na Praça Ana Sofia Paiva Margarida Junça Thomas Bakk Praça do Sertório 21h00

Ver programa das freguesias urbanas de Évora 10h00

É neste País 19h00

Música no Páteo com Daniel Catarino É neste País 21h30 PROMOTORES

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