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PROJETO PAISAGÍSTICO
O responsável pelo projeto paisagístico foi, a princípio, Roberto Burle Marx, porém seu projeto não foi levado adiante e o desenho da paisagem foi concebido, de fato, por Otavio Augusto Teixeira Mendes, engenheiro agrônomo, integrante do Serviço Florestal do Estado de São Paulo e membro da Comissão do IV Centenário.
Burle Marx e Teixeira Mendes, apresentam suas propostas em 1953 (OLIVEIRA, 2003). O projeto de Burle Marx evitava o uso exclusivo das linhas curvas, preenchia com cores e texturas as áreas externas das grandes edificações, criando imensos jardinspontes entre o ambiente construído, os gramados e bosques, que deveriam compor a maior parte da área verde (CURI, 2017).
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Fernanda Curi em estudo de cultura material/dossiê “Burle Marx e o Parque Ibirapuera: quatro décadas de descompasso (1953 - 1993)” analisa a possibilidade do impedimento do projeto de Burle Marx por Oscar Niemeyer personificando a disputa denominada "verde versus concreto" . Há a hipótese de que Niemeyer tenha procurado evitar tal solução paisagística em função da preferência por uma concepção mais homogênea, que procurasse enfocar os edifícios, proporcionando perspectivas e que, de nenhuma forma, competisse visualmente com o proposto por sua equipe. Assim, pode ter havido uma interferência direta de Oscar a fim de se optar por uma proposta cujas características se aproximassem do que imaginava o ideal para a situação (OLIVEIRA, 2003).
Figura 4 - Projeto paisagístico de Burle Marx para o Parque Ibirapuera, 1953.
Segundo um parecer de Teixeira Mendes, localizado por Manuella de Andrade no Arquivo Histórico de São Paulo datado de 25 de abril de 1953, um parque não deveria ser um “conjunto de jardins” , “de construção caríssima” e conservação “mais onerosa ainda” , como, ao seu ver, eram características do projeto proposto por Burle Marx. Alegava também que ele havia elaborado o projeto sem levar em consideração a topografia local e a perspectiva dos edifícios, projetando a partir de um “terreno ideal” , supostamente plano que não condizia com a realidade.
O projeto escolhido e implantado no Parque Ibirapuera foi de Otavio Augusto Teixeira Mendes, caracterizado pela vegetação autóctone, representando a fauna regional e a madeira como riqueza da nação, os caminhos sinuosos e os acessos indiretos, para não obstruir os edifícios, que levavam a uma perspectiva mais ampla, a acomodação e acolhimento do conjunto edificado. De acordo com MARIANO (2005), o porte e a dimensão dos maciços de arborização, dos corpos d’água, dos conjuntos florísticos e mesmo das vias imprimiram ao Ibirapuera a reciprocidade da imponência do conjunto sede.
Figura 5 - À esquerda, projeto final da equipe de Niemeyer para o Parque Ibirapuera, 1953. À direita, projeto paisagístico de Otavio Augusto Teixeira Mendes para o Parque Ibirapuera, 1953.
Fonte: Arquivo Histórico de São Paulo.
Em relação aos gastos com as obras, publicados em O Estado de S. Paulo, 21/8/1954, informado pela Comissão do IV Centenário, que se fossem empilhados os sacos de cimento consumido equivaleriam a uma altura de seis vezes a do Everest, a maior montanha da Terra. O ferro corresponderia, aproximadamente, ao peso de 60 locomotivas. A área construída comportaria 2.300 casas, a pavimentada equivale a dez quilômetros de rua, com dez metros de largura, e a ajardinada, ao Parque D. Pedro II.
O Ibirapuera, marco nítido da arquitetura, urbanismo e paisagismo modernistas no Brasil, representa, ao se estudá-lo em profundidade, uma obra de significativa relevância não apenas para as discussões travadas nas elaborações modernistas, mas também colabora para a verificação dos debates correntes acerca das concepções de modernidade e de construção e expressão de uma identidade nacional (LEMOS, 2003).
Figura 6 - A Oca, na época da construção, em foto da década de 50: ícone brasileiro.
Fonte: VEJA | Foto: Germano Lorca.