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É preciso o trabalho de muitas pessoas para se forjar um ideal. A Dedini agradece a todos aqueles que contribuĂram no passado e hoje colaboram para que suas importantes conquistas se tornassem realidade.
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Créditos Pesquisa e Edição de texto Regina Machado Leão Produção Gráfica Maria Machado Leão Gomes de Moraes Consultoria Técnica José Luiz Olivério; Sergio Leme dos Santos e Tarcisio Angelo Mascarim Fotografias Paulo Altafin; arquivos Dedini; museus “Histórico e Pedagógico Prudente de Moraes”, “Republicano Convenção de Itu” e arquivo histórico “Gustavo Teixeira” Revisão Rafael Varela Junior Impressão Pancrom Indústria Gráfica Ltda. Tiragem 2 000 exemplares
Todos os direitos reservados.
DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP) DIVISÃO DE BIBLIOTECA E DOCUMENTAÇÃO – ESALQ/USP
Leão, Regina Machado Dedini: a força de um ideal / Regina Machado Leão. - - Piracicaba: R. M. Leão, 2005. 288p. : il. Bibliografia.
Dedini S.A. Indústrias de Base Rod. Rio Claro – Piracicaba, km 26,3 CEP 13.414 970
I. Empresa Dedini 2. Indústria de bens de capitais 3. Indústria sucro-alcooleira
Caixa Postal 1249
CDD – 338.9816
Piracicaba – São Paulo – Brasil Impresso em 2005
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Sumário Prefácio
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Apresentação Prólogo
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Introdução
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A industrialização em Piracicaba . . . . . . . . 37 Modernização das usinas . . . . . . . . . . . . . . . 60 A todo vapor
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93
A revolução do álcool
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Tempos difíceis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 143 Retomada do desenvolvimento
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Conquistando mercados . . . . . . . . . . . . . . 197 ..........
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A Dedini no terceiro milênio Atravessando fronteiras
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Responsabilidade corporativa Trabalhando pelo amanhã
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Prefácio Piracicaba como “capital” nacional do açúcar. Panorama da cidade e do país no início do século XX: o surgimento da indústria.
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sandio exeros dolorercil utat. Ut wissed doluptat. Ut do duisl eu feugait aliquisit ut dolor aliquisisl exero odiatummy nulpute uerilit aut adigna feuismod doloreet velendre consecte dolent veliquipsum at, conse molortie corerae seniamet, vulput loreraestrud ent aute facil ing enit vulla feumsandre exer sum inim. Lorero ea faccumsan velisl euis num amconsequat. Ut eliquisl endrem quametue esto do dunt ut praesse magna faccumsan henit wisis alit ad essed magnibh exero od te feuisim eniam dolore mod dolesed euis aliquis endignibh euissequat lumsan ut dolortio esto ero od dio dolor iurem vulla core core vero conse dolorero conullu patem ent dolenisl utem eum iuscillam inci eugueriure diatuer ureet do corpercing exer augait wis nos alis nim nim dolum digna ad magna faciliquisl iriuscipit ulla feu facidunt nim ipit aut ip euismodo odiamcon utat, vulputpatue faci tie veliquis num in ver autpatum nim veniscil irit vel inibh eugiatie eliquat, vulluptat. Duip etue et lorper sim zzriusci bla facin hendiat lutpat ing ea feum velent at, quisciduisl utat augue velit elent nonsequam, core vel utat atis non hendiam onsectem iureet aut et, quat ing etue modolor aliquisl exeriuscin hendio odipit aliquisl ullumsan vel doloborper at, ver susci tat dolore dip ero core dion veliquis nibh eugue magnit in velit at, vel er iurero exer sed modigna feummy nullam velestrud min hendrer sit nis alisisi tat la am dolore Loreet nostie estrud mincidunt lor illan ex ero dio dolobore magna feu feugait, sed moloreet, quisi te esting ex et irit ip eum qui 9
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Naquela época, a Dedini teve importante e inquestionável papel. Maior produtora nacional de bens de capital destinados ao setor sucroalcooleiro, ela foi responsável pela construção de inúmeras destilarias em vários pontos do País, que passaram a produzir o combustível automotivo. Por inúmeros motivos, o Proálcool foi desacelerado, mas, hoje, decorridos mais de 30 anos, o mundo inteiro se interessa pela pioneira experiência brasileira. No início do século XXI, o panorama energético se transformou. Além dos aumentos sucessivos dos preços do petróleo, que permanecem em patamares elevados, o mercado internacional do álcool se consolidou, com a decisão de muitos países de adicioná-lo à gasolina. Paralelamente, com a introdução dos veículos com combustível flexível no Brasil, que hoje já ultrapassaram um milhão de unidades fabricadas, alcançou-se maior estabilidade no mercado doméstico. Com certeza, o que estamos assistindo, nos dias atuais, é a transição da civilização dependente do petróleo para uma nova matriz energética, de combustíveis vegetais, que se tornarão, a partir ele agora, importantes commodities no mercado internacional. Mais uma vez, as empresas Dedini - fiéis a seu passado de constantes inovações, em termos de soluções industriais, sobretudo, aquelas voltadas para o setor sucroalcooleiro - voltam a desempenhar papel decisivo. Aliando-se a parceiros internacionais, capacitaram-se para atender a esse novo mercado de biocombustíveis e, atualmente, puderam fornecer bens e plantas
Colaboradores da Fundição Dedini (Piracicaba, SP) em
completas para as indústrias que já estão produzindo biodiesel no Brasil. Nesse contexto, o Plano Nacional de Agroenergia, lançado recentemente em Piracicaba, contribuirá para a definitiva consolidação dos biocombustíveis no Brasil. Elaborado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o plano cria as bases para o consórcio Brasileiro de Agroenergia, que reúne vários órgãos de governo, além de empresas privadas. O fundo de investimento que alavancará seu desenvolvimento vai contemplar a pesquisa em agroenergia, estudando mais de quarenta variedades vegetais oleaginosas, espécies florestais destinadas à produção energética, e o aproveitamento de resíduos e biogás, entre outras fontes.
outubro de 2005
O Brasil possui todas as condições para assumir a liderança mundial na produção de energia limpa e renovável. Para tanto, precisamos, mais que nunca, que a tecnologia de produção, em todos os níveis, seja cada vez mais eficiente, para gerar produtos competitivos no exigente mercado internacional. E essa será, sem dúvida, a grande contribuição da Dedini para o desenvolvimento do nosso País.
Roberto Rodrigues MINISTRO DE ESTADO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO
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o ano em que a Dedini completa 85 anos de existência, resolvemos editar este livro para contar uma história de muita dedicação, trabalho, sacrifícios, e, principalmente, de muito idealismo. Com esta iniciativa, queremos prestar nosso tributo a seu fundador, Mario Dedini, que, nos distantes anos 1920, abriu as portas, ao lado do irmão Armando Cesare, de uma modesta oficina mecânica, que se transformaria na maior indústria da cidade de Piracicaba, durante muito tempo, criando milhares de empregos, e influenciando, decisivamente, no seu progresso. Tal fato não foi, porém, seu maior feito: esse homem simples e decidido, líder nato, nos deixou um inesquecível legado de honestidade, amor ao próximo, responsabilidade e superação incessante de desafios, que permanece presente em todas as decisões da empresa e permeia, até hoje, nossa atuação. Baseados nesses princípios, construímos o fundamento da nossa estratégia empresarial: total respeito ao clientes, comprometimento com a modernização tecnológica e valorização constante dos nossos colaboradores, pois eles são nosso maior patrimônio. Dessa forma, este livro pretende ser, também, uma homenagem a todos aqueles que de alguma forma contribuíram para que pudéssemos chegar até aqui. Essa publicação mostra que não se consegue desassociar a longa trajetória da Dedini da evolução recente do Brasil. Verifica-se que a empresa sobreviveu, ao longo do tempo, a todas as influências das
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diferentes conjunturas vividas pelo país, desafiando suas crises e aproveitando os períodos de progresso e crescimento. A história da Dedini é, também, a história da indústria de bens de capital do Brasil, setor indispensável para seu desenvolvimento, sobre o qual se apóia toda a cadeia produtiva, extremamente sensível aos percalços da economia. Com persistência e confiança, a Dedini conseguiu vencer todos os desafios e agora vive um momento extremamente promissor, por causa do reconhecimento generalizado da importância das energias “limpas” e renováveis, como o álcool e o biodiesel, e da busca incessante por soluções ambientalmente corretas. Nesse contexto, possuímos uma matriz extremamente dinâmica de produtos, alinhada aos aspectos do meio ambiente, energia, produtividade e otimização de recursos industriais, o que vem nos garantindo constante expansão e crescimento. Dessa forma, encaramos o futuro com bastante otimismo, e nos unimos ao esforço de todo o setor produtivo para construir um país melhor, em que se busca resultados em longo 14
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prazo, buscando a plena realização das pessoas, e em consonância com um objetivo muito maior, que ultrapassa os resultados financeiros, e contempla, antes de tudo, o desenvolvimento sustentável. Finalmente, a história da Dedini, mostrada neste livro, nos leva a refletir sobre a importância, para as gerações futuras, de dar continuidade a esse grande projeto empresarial, que atua em setores estratégicos da economia nacional influencia, de forma tão decisiva, na vida da comunidade. Temos certeza que nossos sonhos serão, sempre, o motor que move nossa vontade, criando motivação e comprometimento para continuar com essas realizações apaixonantes, narradas ao longo desta publicação.
Dovilio Ometto PRESIDENTE
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Piracicaba como “capital” nacional do açúcar. Panorama da cidade e do país no início do século XX: o surgimento da indústria brasileira.
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Prólogo
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ezesseis de janeiro de 2004, dezesseis horas. Nos gramados recém-aparados da Fundição, a mais nova unidade industrial da Dedini – situada no Bairro da Cruz Caiada, à margem da rodovia que liga Piracicaba a Rio Claro – pousa um helicóptero da Força Aérea Brasileira. Dele, descem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sua comitiva. A recepção é feita pelo governador Geraldo Alckmin, pelo prefeito de Piracicaba, na época, José Machado, por diversas autoridades e por diretores da empresa. Não é essa a primeira vez que um presidente da República vem inaugurar uma fábrica da Dedini. Em 1958, Juscelino Kubitschek, acompanhado do então governador Jânio Quadros, comandou as festividades de abertura da Siderúrgica Dedini S.A. A indústria logo se firmou no cenário nacional na produção de vergalhões para a construção civil, gerando empregos e divisas, e cumprindo importante papel social na cidade e na região. Naquela ocasião, Kubitschek fez questão de deixar seu testemunho escrito de próprio punho: “Como Presidente da República, dominado pela preocupação de estabelecer bases sólidas e poderosas à indústria do meu país, quero louvar, com calor e entusiasmo, iniciativas como estas de Mario Dedini, que contribuem para a emancipação econômica do Brasil e firmam, assim, os alicerces da nossa soberania”. Essa era, então, a palavra de ordem: estimular a industrialização. Logo após sua posse, JK ressaltava a necessidade de adotar-se uma nova mentalidade dinâmica e moderna, e de um estado de espírito propício ao desenvolvimento. E assim surgiram, naquela época, principalmente
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em São Paulo, as fábricas de automóveis e autopeças, de eletrodomésticos, as metalúrgicas e muitas outras, que, ativaram o consumo, trazendo progresso. Atualmente, o Brasil vive novamente um clima de otimismo. Em seu discurso de janeiro de 2004, em Piracicaba, o presidente Lula reafirmou sua crença no desenvolvimento da indústria nacional, louvando as vantagens competitivas do país na fabricação de álcool, de açúcar e de bens de capital voltados para atender esse setor. Nesse cenário propício ao crescimento, a Dedini se prepara para vencer os novos desafios com tenacidade e confiança. Ao completar 85 anos, apresenta-se com fábricas no estado de São Paulo (Piracicaba e Sertãozinho) e no Nordeste (Recife e Maceió), onde trabalham cerca de 4 000 colaboradores, produzindo plantas completas e equipamentos para usinas de açúcar e destilarias, responsáveis por 80% do álcool produzido no Brasil. Além disso, a Dedini produz cervejarias, fábricas de sucos e fertilizantes, unidades de energia e de co-geração, e de tratamento de efluentes industriais. Atua, também, nos setores de papel e celulose, química e petroquímica, siderurgia, alimentos e peças fundidas. Liderando a produção nacional de bens de capital destinados a usinas de açúcar e destilarias de álcool, a tradicional empresa vem cumprindo importante papel na modernização do setor, como agente difusor de inovações tecnológicas. Na cidade onde se instalou, a Dedini foi sempre um importante vetor de desenvolvimento, contribuindo em obras de melhoria de infra-estrutura e de grande alcance social, gerando empregos, e formando mão-de-obra altamente especializada. Ao longo do tempo, as empresas Dedini se constituíram verdadeiros celeiros de novas indústrias, pois muitos de seus antigos funcionários aproveitaram a experiência nelas adquiridas para montar seus próprios negócios. Graças a isso, Piracicaba tornou-se um dos mais importantes pólos nacionais de produção metalúrgica e mecânica. Sua forte influência extrapolou os limites do município, à medida que possibilitou a nacionalização de inúmeros equipamentos antes importados, e contribuiu decisivamente para o aumento da produtividade no setor de açúcar e álcool. Hoje, o Brasil lidera o mercado internacional, oferecendo essas duas commodities a preços inferiores aos
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Fundição Dedini em 2005
dos concorrentes de outros países, cujos fabricantes, muitas vezes, se beneficiam de políticas protecionistas de seus governos. No início desse terceiro milênio, a Dedini aproveita a grande experiência adquirida no seu passado de trabalho, e a dedicação permanente de seus colaboradores para enfrentar novos desafios que lhe são colocados, na produção de bens de capital sob encomenda de alta qualidade. Para tanto, vem assumindo plenamente suas responsabilidades e compromissos com a comunidade em que se acha inserida e, também, com a preservação do ambiente. Essa atuação, para ela, não é nenhuma novidade, como pode-se verificar na história que será agora contada.
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INTRODUÇÃO
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Tradição canavieira “Se se olha para o nascente, se vê flora diferente. Só canaviais e suas crinas, e as canas longilíneas de cores claras e ácidas, femininas, aristocráticas...” João Cabral de Melo Neto, 1979.
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Canavial no município de Piracicaba (SP)
verde brilhante e viçoso dos canaviais sempre constituiu um elemento marcante na paisagem de Piracicaba, situada no coração do estado de São Paulo. Estendendo-se por colinas suaves e vales férteis, a cana-de-açúcar influenciou decisivamente a vida da cidade e determinou seu desenvolvimento, por meio da fabricação de açúcar, álcool, aguardente e da produção de equipamentos destinados a esses processos industriais. No passado, e, durante muito tempo, as lavouras de cana se estendiam a perder de vista em toda a região. As plantas cresciam com vigor, beneficiadas pelas condições propícias. Quando maduras, com seus colmos repletos de açúcar, eram preparadas para a colheita: primeiro, ardiam em chamas durante toda a noite, para, na madrugada seguinte, serem cortadas habilmente por um exército de trabalhadores, encarregados de colocá-las a bordo dos caminhões que as transportariam, dia-e-noite, para as usinas, onde as moendas extraíam o caldo doce. Hoje, a situação mudou bastante: as queimadas estão desaparecendo, pelas exigências das leis ambientais, e os trabalhadores são substituídos por máquinas possantes. O grande número de engenhos e usinas existentes no município reduziu-se, atualmente, a apenas uma unidade, ainda em funcionamento. As extensas plantações de cana perderam espaço
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Salto do rio Piracicaba, no final do século XIX. No seu entorno, iniciou-se o povoamento da cidade
para outras culturas, sendo pressionadas, também, pela expansão urbana. Mesmo assim, as atividades relacionadas com a cana-de-açúcar e seus derivados ainda desempenham importante papel na vida da cidade, desenvolvendo-se em perfeita sintonia com a indústria de bens de capital surgida, inicialmente, para atender às demandas dos produtores rurais. A agroindústria canavieira – a mais antiga atividade agrícola brasileira – assumiu, nos dias atuais, nova e importante dimensão, que extrapola as fronteiras do país, com a possibilidade de substituição da gasolina pelo álcool e de aproveitamento do bagaço para geração de eletricidade, que representam alternativas energéticas ambientalmente corretas.
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À margem do rio A exemplo de outras regiões do Brasil, o efetivo povoamento de Piracicaba iniciou-se na segunda metade do século XVIII. Suas terras eram, até então, praticamente desabitadas, simples passagem para quem se dirigia para Cuiabá, por uma longa picada aberta nas matas. O progresso só chegou quando se esgotaram os veios de ouro no interior do país, encerrando o ciclo da mineração: a única alternativa que restou aos paulistas foi se dedicar ao cultivo da terra, atividade que, antes, eles menosprezavam. Em 1765, o governador da província, o capitão português Luiz Antonio de Souza Botelho e Mourão, conhecido como Morgado de Mateus, começou a estimular o aumento do número de povoações em São Paulo, baseadas no desenvolvimento agrícola. Assim, surgiram, além de Piracicaba, São José dos Campos, Itapetininga, Registro e muitas outras localidades. Para oficializar a fundação do povoado, Morgado de Mateus mandou Antonio Correa Barbosa, exímio fabricante de barcos de Itu. Ele desobedeceu às ordens do
governador, que desejava criar um posto de abastecimento no rio Tietê, e estabeleceu o núcleo a setenta quilômetros acima do ponto indicado, nas proximidades da bela cachoeira existente no Piracicaba, conhecida como o salto. Sob sua direção, o modesto povoado começou a organizarse: a mata fornecia madeira para o fabrico de canoas e a terra era fértil para o plantio. O núcleo original desenvolveu-se à margem esquerda do rio, a partir de uma pequena igreja, com plantações a sua volta. Começava, assim, a exploração agrícola, que segundo Mario Neme (1974) fixou o homem à terra, ergueu cidades, abriu estradas e deu aos paulistas sua primeira fonte de riqueza estável e organizada. A cana-de-açúcar apareceu como uma alternativa natural de plantio, pois sua técnica de cultivo já era dominada desde os tempos dos primeiros colonizadores. Essa exploração traria grande expansão para o estado paulista, com a abertura de novas vias terrestres e a reativação de outras abandonadas. As lavouras irradiaram-se de Campinas, Itu e Porto Feliz para Capivari, e alcançaram Piracicaba, onde as
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terras se mostraram favoráveis a seu desenvolvimento.
os engenhos instalados, mas, muitas vezes, não era obedecida. Em 1836, Piracicaba tornara-se um dos núcleos mais prósperos da província, contando com 78 engenhos, normalmente movidos a tração animal, pois sua montagem era mais fácil e barata.
Açúcar e aguardente Dessa forma, em 1816, a então freguesia de Piracicaba, com 2 000 habitantes, solicitou sua emancipação administrativa de Itu e sua elevação à condição de vila. Um dos argumentos apresentados para conseguir tal melhoria foi o fato de possuir “catorze engenhos de açúcar e quatro de aguardente, estando doze em fase de organização”. O cultivo de cana e a fabricação de açúcar e aguardente passaram a ser as principais atividades econômicas da cidade e, por ocasião de sua transformação em Vila Nova da Constituição, em 1822, o núcleo de povoamento encontrava-se cercado de engenhos e canaviais, com estrutura fundiária bem definida: as grandes propriedades plantavam e processavam o produto, enquanto as menores, mais afastadas da vila, instalaram-se em áreas abertas, intercaladas com matas, dedicando-se à pecuária e à agricultura de subsistência. A legislação exigia uma distância de meia légua entre
A maior parte dos engenhos da região fabricava o chamado açúcar “batido”, denominação usada desde os tempos coloniais para qualificar sua produção: essa era a quarta categoria existente, depois do açúcar branco macho, do redondo e do inferior, conforme explicou o jesuíta João Antonio Andreoni, o Antonil, no livro Cultura e Opulência, de 1711. Telarolli (2004) relatou a forma mais comum de obtenção de açúcar “batido” em Piracicaba. Segundo ele, o mel proveniente de açúcar macho, na casa de purgar, escorria através de um furo existente na base das formas, em que se obtinham os pães de açúcar, com a ajuda da filtragem pelo barro. O caldo assim obtido era aquecido em um tacho colocado sobre a fornalha, alimentada, geralmente, com lenha; a borra, formada à superfície, era retirada com uma grande escumadeira, e aproveitada como ração animal.
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Ainda aquecido, o caldo era transferido para mais dois tachos para decantar, operação feita com auxílio de conchas de cabo longo. Após a verificação do ponto adequado de cozimento, com retirada de uma amostra, a massa fervente era despejada em caixas de madeira. Nesse momento, com o açúcar ainda quente, dois trabalhadores, um de cada lado, “batiam” com uma enxada, esparramando, mexendo e raspando até o fundo da caixa. O resultado era um açúcar moreno, tipo mascavo.
Novo ciclo econômico A partir do século XIX, a economia canavieira nacional foi bastante prejudicada pela conjuntura internacional. Nessa época, a fabricação do açúcar feito de beterraba alcançou grande desenvolvimento na Europa, chegando a superar o da cana-de-açúcar. Assim, os europeus libertaram-se do fornecimento do produto proveniente das Américas. Por outro lado, a indústria açucareira das Antilhas, adotando técnicas e equipamentos mais avançados, expandira-se bastante, e passou a fazer forte concorrência ao Brasil, em termos de
qualidade e preço. Para piorar as coisas, no início do século XIX, países como Inglaterra, França e Holanda estabeleceram barreiras à compra do açúcar brasileiro, em favor de suas colônias. Diante da conjuntura desfavorável, os preços do produto, em 1830, caíram pela metade, e a indústria nacional ainda sofria deficiências internas, empregando técnicas rudimentares no cultivo e processamento da cana. Além disso, as embalagens do açúcar destinado à exportação eram precárias, em caixotes de madeira; sua perecibilidade aumentava, devido ao mau estado das vias terrestres, especialmente na estação chuvosa. Assim, o Brasil perdeu, aos poucos, a liderança na produção açucareira. No estado de São Paulo, os agricultores voltaram-se, então, para a exploração de outra cultura que apresentava maior potencial de venda: o café, que já havia se instalado no Rio de Janeiro e se estendia pelo vale do Paraíba. Piracicaba não escapou do declínio do açúcar e à expansão do café. Mesmo perdendo espaço, no entanto, as lavouras de cana nunca chegaram a desaparecer,
de-açúcar propiciou o estabelecimento dos primeiros moradores de Piracicaba, determinou seu desenvolvimento e transformou a cidade, no passado, na capital nacional do açúcar.
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A cultura da cana-
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apesar de apresentarem desempenho mais modesto e continuarem sendo cultivadas por meio de técnicas arcaicas. Em 1836, juntamente com Itu, Porto Feliz e Capivari, Piracicaba fornecia aproximadamente metade do açúcar produzido e exportado no estado. Além do café, também o algodão passou a competir com a cana em área plantada no município, entre 1860-1870. Como ocorreu em outros pontos do país, a transformação dos antigos engenhos em grandes usinas processou-se de forma bastante lenta, a partir de 1875, atravessando toda a primeira metade do século XX. A estrutura da produção, herdada dos tempos coloniais, era muito atrasada, baseada em instalações precárias e aparelhos de baixo rendimento. O mesmo obsoletismo verificava-se na indústria. A utilização do bagaço como combustível, prática conhecida há algumas décadas em outros países, só foi introduzida no país por volta de 1857, inicialmente na Bahia, passando, depois a ser de uso generalizado em Pernambuco e em outros locais. Assim, muitos engenhos, paralisados pela falta de lenha, puderam voltar à atividade.
Com o decorrer do tempo, no entanto, houve algumas inovações técnicas no setor: o ano de 1817 marca a introdução do vapor na agroindústria canavieira. Pernambuco importava tantas máquinas desse tipo da Inglaterra que, em 1829, a empresa Harrington & Star montou uma fundição no Recife para a fabricação de peças. Logo depois, David Bowmann instalou outra; surgiu, também, uma firma nacional, a Fundição d’Aurora, que se aventurou na construção de aparelhos completos. Apesar do pioneirismo da metalurgia pernambucana, o governo do Rio de Janeiro, pressionado, talvez, pelos fornecedores ingleses de equipamentos, resolveu acabar com a primeira fábrica de motores a vapor instalada na América do Sul. Em 1836, as importações para maquinários agrícolas foram consideradas isentas de pagamentos de impostos, e impuseram taxas sobre o ferro bruto e outros metais necessários às fundições. O Segundo Império transcorreu em um quadro de contradições no setor açucareiro, com o antigo coexistindo com a modernidade. Em 1852, foram
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introduzidas novas moendas na agroindústria canavieira em Pernambuco, desenvolvidas pelos irmãos Alfredo e Eduardo de Mornay, que aumentaram em 50% seu rendimento.
Surgem os engenhos centrais Um fato novo ocorreu em 1875, quando o governo imperial passou a incentivar a tradicional indústria açucareira no Brasil. A tentativa visava melhorar o rendimento das lavouras e modernizar a fabricação. Surgiram, assim, os engenhos centrais, grandes unidades destinadas à moagem de cana e processamento do açúcar, que se constituíram em embriões das modernas usinas. Inicialmente, tais estabelecimentos foram financiados pelo capital estrangeiro e receberam garantias do governo para seu funcionamento. Favorecidos, também pelo desenvolvimento de ferrovias, que possibilitou a vinda da matéria-prima de locais mais distantes, os engenhos centrais começaram a instalar-se. Por volta de 1890, já cultivavam sua própria cana,
para se libertar do fornecimento irregular de terceiros. Discorrendo sobre o assunto, a escritora Silvia Sampaio (1976) explicou que o antigo engenho funcionava somente com um terno de moendas, acionado por máquina a vapor, e a evaporação efetuava-se a fogo direto. Em conseqüência, era baixa a recuperação do açúcar contido na cana. A elevada porcentagem de desperdícios industriais fazia com que o produto obtido fosse mais impuro, de pior aspecto e de conservação mais difícil. O processamento exigia grande número de trabalhadores, portanto, seu custo de fabricação era elevado. A moderna usina, por sua vez, utilizava a evaporação a vácuo da água contida no caldo da cana. Ao longo do tempo, os conjuntos de moendas, sempre com maior capacidade de extração, passaram a retirar da cana o máximo de açúcar, utilizando o bagaço nas fornalhas das caldeiras como fonte energética. A qualidade do produto pôde, então, ser melhorada, obtendo açúcar cristalizado com menos impurezas. Do melaço, era possível fabricar o álcool. Os proprietários eram pessoas
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Engenho Central de Piracicaba: uma das mais importantes indústrias da cidade, até 1920
jurídicas, a grande maioria, sociedades anônimas, buscando a redução de custos da produção, e a melhoria da produtividade. Graças aos incentivos do governo, surgiram muitos interessados na instalação de engenhos centrais: dos 87 projetos aprovados, no entanto, foram implantados, efetivamente, doze engenhos centrais no país. Em Piracicaba, aproveitandose dos subsídios concedidos pela Lei imperial 1.237, foram criados dois empreendimentos desse tipo
– pioneiros em São Paulo – a Cia. do Engenho Central, em 1881, e o Engenho Central Monte Alegre, em 1888, fundado por Antônio Alves Carvalho. O primeiro resultou da fusão de capitais franceses com os dos poderosos fazendeiros da região, Estevão de Rezende, o futuro Barão de Rezende, e o Barão de Serra Negra. Assim, a empresa instalou-se à margem direita do rio Piracicaba, visando o aproveitamento da água para movimentação de máquinas. O Engenho Central entrou, oficialmente, em operação, em
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1883, e, até o final dos anos 1920, foi a maior e a mais importante indústria da região. Era praticamente auto-suficiente, pois, além, do processamento industrial, cuidava da produção e do transporte de sua matéria-prima. Todos os equipamentos e materiais necessários a seu funcionamento foram importados da França, fabricados pela Brissonneau Frères & Companie, de Nantes. A cana era fornecida pelas fazendas do Barão de Rezende, incorporadas ao patrimônio da usina. Para seu transporte, foram construídos quinze quilômetros de linha férrea, das lavouras até o interior da fábrica. Os trens saíam do Engenho, percorriam a chamada “avenida dos bambus” (hoje, avenida Maurice Allain), trafegando paralelamente aos trens da Cia. Sorocabana, em direção à estação Barão de Rezende. Desde sua criação, o Engenho Central enfrentou muitas crises, que exigiram várias reestruturações societárias, com diferentes denominações: Empresa do Engenho Central (1881), Niagara Paulista (1891), Societé de Sucrérie de Piracicaba (1899) e, finalmente, Societé de Sucrérie Brésilienne (1907). Esta última,
cuja sede era em Paris, possuía, também, unidades produtivas em outros locais. O Engenho Central de Piracicaba, possuía vários alqueires de terra no entorno, que, mais tarde, foram incorporados ao bairro da Vila Rezende. Seu primeiro gerente foi Holger Jensen Koch, substituído por Daniel Rinn. Posteriormente, outros profissionais dirigiram o empreendimento, a maioria deles de nacionalidade francesa. Esses administradores introduziram novas tecnologias e importaram equipamentos modernos, contribuindo para o desenvolvimento da produção de açúcar e álcool no Brasil. Em 1884, o Engenho Central de Piracicaba produziu 30 000 arrobas de açúcar, enquanto todos os outros estabelecimentos existentes no estado de São Paulo, somados, fabricaram, apenas, 16 000 arrobas. Naquela época, o produto perdia terreno para o café e havia muitos engenhos desativados, chamados “de fogo-morto”. O Engenho Central reativou a produção açucareira e devolveu a Piracicaba a posição de centro tradicional nessa fabricação.
agentes de mudança na tradicional indústria açucareira brasileira. Promoveram maior utilização das estradas de ferro e do trabalho livre, incentivaram a substituição da tração animal pelo uso do vapor como força motriz, e introduziram equipamentos mais avançados na fabricação do açúcar.
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Os engenhos centrais tornaram-se
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Crise nos engenhos No final dos anos 1800, os engenhos centrais começaram a entrar em crise. Os diversos estudos sobre as causas desse fracasso apontam a retração do mercado internacional, os problemas com o fornecimento de cana, a falta de planejamento nos transportes e no emprego de capitais. Eles sofreram, também, com a inexperiência de muitos administradores, com a dificuldade de substituição de peças dos maquinários, e a deficiência de mão-de-obra especializada para realizar os reparos necessários nos equipamentos. Além disso, o desinteresse de fornecedores, que preferiam produzir aguardente, ou mesmo açúcar pelos velhos métodos, e o custo excessivo representado pela aquisição de lenha para as caldeiras, que, muitas vezes, era consumida em volume quase equivalente ao da cana moída, contribuíram para a derrocada do modelo proposto. Em sua maioria, esses estabelecimentos acabaram arrematados pelos próprios fornecedores de equipamentos, ou por seus prepostos, como aconteceu com os engenhos centrais de Piracicaba, Porto Feliz, Rafard e Lorena,
no estado de São Paulo, adquiridos pelos próprios franceses que os montaram. Dessa forma, surgiu, no início do século XX, a Cia. Sucrèrie Brésilienne, que se transformou na maior produtora de açúcar de São Paulo.
Tempos de mudança De qualquer forma, ao tentar reduzir os custos de fabricação com a introdução de novas técnicas no setor, decretava-se o fim dos velhos engenhos: eles acabaram feridos de morte pelo emprego do vapor como fonte de energia. As novas moendas podiam processar maiores quantidades de cana, extraíam grandes volumes de caldo, e obrigaram a reformulação dos métodos tradicionais de fabricação. Nessa época, alguns engenhos evoluíram e transformaram-se em usinas. Outros limitaram-se a eliminar as fornalhas tradicionais – os bangüês –, que lhes davam o nome, adotando, quando muito, o processo a vácuo e as turbinas, ficando na metade do caminho do desenvolvimento tecnológico. As novas indústrias assim constituídas também utilizavam a matéria-prima proveniente de
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Fazenda Monte Alegre, em 1845, onde foi instalado um engenho central que se transformou, mais tarde, em usina
seus próprios canaviais, o que as tornava mais independentes do fornecimento de terceiros. Com o tempo, a essas novas unidades, denominadas “usinas de açúcar”, somaram-se outras, de iniciativa privada, tanto no Nordeste, que concentrava a maior parte da produção brasileira, como em São Paulo. Aproveitando a política governamental de incentivo à produção açucareira, outro Engenho, o de Monte Alegre, foi modernizado e teve sua capacidade industrial aumentada, em fins do século XIX. Com financiamentos obtidos
junto ao Banco Real de São Paulo, suas instalações foram remodeladas, transformando o velho engenho em uma usina que, em 1910, foi incorporada à Sociedade Anônima Refinadora Paulista S. A., de propriedade da família Morganti. Mais tarde, durante a década de 1920, o estabelecimento teria grande expansão, tornando-se um dos maiores complexos agroindustriais do açúcar do estado de São Paulo. A pesquisadora Eliana Tadeu Terci destaca que a modernização da arcaica estrutura produtiva da indústria açucareira, com o advento dos engenhos centrais
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e das usinas, desencadeou um processo de transformações técnicas, econômicas e sociais no município de Piracicaba. As usinas, embora mantivessem as fases de produção dos engenhos, modificaram o processo de fabricação, adotando, além de profissionais mais especializados, novo padrão técnico e de controle administrativo. A partir de 1889, o açúcar começou a perder gradativamente posições nas exportações brasileiras, e o setor foi abalado por uma série de desequilíbrios entre a oferta e a demanda. Mesmo com a crise, em 1896, o município de Piracicaba era, ao lado de Capivari, o maior fabricante de açúcar do estado, cabendo a Santa Bárbara o primeiro lugar em aguardente. Por outro lado, observa-se que, mesmo em seus tempos áureos, o café não chegou a alcançar grande destaque na região. No final do século XIX, a cidade de Piracicaba beneficiouse, também, do dinamismo de Luiz Vicente de Souza Queiroz, precursor do processo de industrialização local. Em 1876, o arrojado empresário empregou seus capitais na instalação de uma fábrica de tecidos, a partir do algodão, à qual deu o nome de
Santa Francisca. O estabelecimento, chamado, mais tarde, de Arethuzina, foi, posteriormente, adquirido por outros empreendedores e, em 1918, transformou-se na Cia. Agrícola e Industrial Boyes, controlado por empresários de origem inglesa. Outra agroindústria, com mentalidade mais moderna, surgiu, ainda, em Piracicaba, em 1911: a usina Capuava, fundada pelo empresário Cristiano Mathiessen, de origem dinamarquesa. Com orientação técnica avançada para a época, já possuía, em 1921, lavouras de cana mecanizadas, prática, então, pioneira. Três anos depois, foi implantada ao lado do estabelecimento uma unidade de produção de gás carbônico, a partir da fermentação do caldo da cana, fato inédito no Brasil. A fabricação de açúcar foi paralisada em 1945, quando a empresa deixou de ser familiar para transformar-se em sociedade anônima. Prosseguiu, entretanto, fabricando aguardente e, também, gás carbônico, a partir de óleo combustível, até os anos 1970.
Benefícios do café Graças à breve passagem das lavouras de café rumo ao Oeste, a
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cidade pôde, também, melhorar, relativamente, o transporte ferroviário. Apesar de precários, os trens serviram para que as usinas de açúcar pudessem escoar suas produções durante muito tempo. O surto cafeeiro promoveu, também, a vinda de imigrantes para trabalhar nas lavouras da região (ver boxe p. 34). Geralmente eram italianos que permaneceram fiéis à sua origem rural. Aproveitando o desmembramento de grandes glebas de terras no interior do Brasil, conseguiram tornar-se proprietários, a maioria fornecendo cana para os engenhos centrais e usinas. É o caso típico de Santana e Santa Olímpia, dois bairros rurais de Piracicaba, situados a doze quilômetros do centro da cidade, fundados em 1877 por tiroleses, imigrados do Trento, então território austríaco. Uma dessas famílias, os Vitti, conseguiu adquirir uma fazenda que, a partir de 1910, começou a ser dividida entre seus descendentes. Com a crise do café, os tiroloses passaram a cultivar cereais, mas logo depois plantaram cana, pois próximo dali, um pequeno engenho de aguardente se transformaria na maior usina da região,
até hoje em funcionamento: a Costa Pinto, da qual os tiroleses se tornariam importantes fornecedores de matéria-prima. Observa-se que os dois tipos de lavoura dominantes do cenário piracicabano, no final do século XIX e no início do seguinte, não apresentaram o aspecto de esvaziamento observado em outras áreas do país, quando entraram em decadência. A cana, responsável pelos primeiros desbravamentos, só perdeu intensidade por volta de 1850. Cedeu espaço apenas durante um curto período ao café, instalado em Piracicaba por ocasião de sua passagem para a região Oeste paulista. A explicação para este fato é que os agricultores preferiram ampliar as lavouras de cana e aperfeiçoar os antigos engenhos, do que instalar novos maquinários para o benefício do café. Assim, durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), quando São Paulo tornou-se importante pólo açucareiro, ameaçando a hegemonia de Pernambuco, então, o principal estado produtor do Brasil, Piracicaba expandiu ainda mais a fabricação de açúcar e os canaviais firmaram definitivamente seus domínios na região.
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CHEGAM OS IMIGRANTES “Fazer a América” foi o sonho de muitos italianos que
O percurso Itália-Brasil era feito em aproximadamente
deixaram a pátria a partir da segunda metade do século
três semanas pelos navios a vapor. Em seu interior, reinava
XIX. Calcula-se que, de 1878 até os dias atuais, cerca de
uma separação rígida entre a primeira, segunda e tercei-
um milhão e meio de pessoas daquele país estabeleceram-
ra classes. Nesta última, onde o espaço era mais precário,
se no Brasil. O fenômeno concentrou-se mais entre 1887 a
os viajantes passavam a maior parte do tempo no convés,
1902, quando o número de imigrantes ultrapassou a cifra de
quando as condições climáticas permitiam. A superlotação,
900 000 indivíduos.
a pouca variedade de alimentos e a higiene precária po-
A Itália vivia, então, após a unificação de seu território, momentos de modernização no campo, principal-
A bordo desses navios estreitavam-se os laços de soli-
mente no Norte. Os agricultores ali estabelecidos, per-
dariedade, embora houvesse dificuldades de comunicação,
seguidos pela grande pressão demográfica e castigados
pois muitas pessoas falavam diferentes e incompreensíveis
por altos impostos, não conseguiam sobreviver, restan-
dialetos. De qualquer forma, a ansiedade, a preocupação
do-lhes como saída vender suas terras e trabalhar para
com o futuro e a esperança de encontrar oportunidades na
os grandes proprietários rurais, ou então, nas indústrias
nova pátria eram sentimentos comuns a todos. No Brasil, aguardava-se com ansiedade essa mão-de-
emergentes no país. Para esses modestos camponeses, tornara-se impossível praticar economia de subsistência, em função da unificação monetária, do aparecimento do sistema fiscal nacional e de um tímido movimento de capitalismo agrário. Por isso, a alternativa de imigração era uma oportunidade para essas pessoas melhorarem de vida, trabalhando em locais onde pudessem aproveitar a experiência já adquirida. E principalmente nas lavouras do Brasil, que, então, necessitavam de grandes contingentes de mão-de-obra para sua expansão.
obra estrangeira que viria substituir os escravos, libertados pela Lei Áurea, em 1888. Eles se dirigiram para vários pontos do país, desde o Nordeste até os estados do Sul, inclusive, na Amazônia; mas foi em São Paulo onde se estabeleceram 70% dos recém-chegados. Para recebê-los, foi criada, na Capital, uma hospedaria que podia abrigar 1 200 pessoas, mas teve de acolher, em determinados momentos, até 6 000 imigrantes. Ali eles eram registrados, recebiam refeições e aguardavam transporte ferroviário para as fazendas do interior. Nessas propriedades, que viviam o apogeu do ciclo do
Dessa união de interesses, estabeleceu-se um intenso
café, famílias inteiras eram contratadas. Somente parte do
fluxo migratório entre os dois países, estimulado por inten-
pagamento era feita em dinheiro (proporcional ao núme-
sa propaganda efetuada pelos agentes das companhias de
ro de plantas que os agricultores cuidavam); o restante era
navegação. Muitas vezes, estes acenavam com falsas pro-
representado pela permissão de criar animais e cultivar pe-
messas de enriquecimento rápido e de liberdade, contan-
quenas lavouras de subsistência. Dessa forma, muitos italia-
do maravilhas sobre a nova terra.
nos trabalharam arduamente e conseguiram juntar econo-
Aos imigrantes italianos apresentavam-se, de imediato,
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diam provocar a difusão de doenças.
mias para adquirir suas próprias terras.
duas possibilidades: trabalhar nas fazendas de café ou nas
Outros preferiram encarar os desafios dos centros ur-
colônias de povoamento nas áreas de fronteira. Mais tarde,
banos, preenchendo vazios no mercado de trabalho com
quando decidiram transferir-se para os centros urbanos, os
a prestação de serviços e, principalmente, na indústria.
imigrantes desempenharam importante papel no desenvol-
Quem soube aproveitar as oportunidades e contou com
vimento do setor industrial e de serviços.
um pouco de sorte, conseguiu amealhar verdadeiras for-
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Presença italiana em Piracicaba: artistas do Circolo Drammatico Italiano “Vittorio Alfieri”, fundado por Giuseppe Campagnoli, em 1897, que faziam recitais e espetáculos na cidade
tunas, conquistando rapidamente posições importantes na dinâmica e flexível sociedade da época. Assim, até 1915, registrou-se uma forte preponderância de mão-de-obra rural e núcleos com baixo nível de escolaridade. A partir de então, acentuou-se a vinda de indivíduos sozinhos, com alguma especialização, como pedreiros, operários de fábricas. Nessa época, desembarcou no Brasil o italiano Mario Dedini (1893-1970).
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Sua trajetória não difere muito da de tantos outros cidadãos italianos decididos a “conquistar a América”. Proveniente da distante Lendinara, na região vêneta, chegou em momento favorável para o progresso e a ascensão social. Ele soube, como alguns de seus compatriotas, aproveitar as oportunidades e escrever uma história pessoal de sucesso, repleta de criatividade, esforço e espírito empreendedor.
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Em 1905 quase metade dos habitantes de Piracicaba era de origem italiana e portanto, essa foi a influĂŞncia mais forte
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CAPÍTULO 1
A industrialização em Piracicaba “Pátria é todo lugar que o homem forte escolhe para morada.” Quinto Cúrcio, escritor romano, no século I.
E
Equipamentos Dedini para usina de açúcar, nos anos 1940
m Piracicaba, ocorreu o casamento perfeito entre a agricultura e a indústria, uma sendo, ao mesmo tempo, causa e efeito da outra, convivendo, quase sempre, em simbiose econômica. Essas atividades progrediram e se retraíram inúmeras vezes, influenciadas por estímulos externos, nacionais ou mundiais do mercado açucareiro, sujeito a freqüentes desequilíbrios. Até mesmo a mais antiga fábrica da cidade, a Arethusina (mais tarde, Boyes), também fazia parte dessa integração, pois tecia o algodão para confecção das sacas que embalavam o açúcar. As atividades agroindustriais ligadas à cana-de-açúcar, principal força econômica da região, determinaram o aparecimento de diversas empresas no município para atender suas demandas. No início do século XX, além do Engenho Central de Piracicaba e o de Monte Alegre, havia a usina Capuava, em funcionamento desde 1911. A princípio, as usinas piracicabanas possuíam oficinas próprias para reparo dos equipamentos, mas, ao longo do tempo, com a expansão açucareira, tal prática tornou-se inviável, proporcionando condições para o surgimento de novos empreendimentos, com a criação de oficinas especializadas destinadas à sua manutenção. Dessa forma, surgiu em Piracicaba um mercado consumidor cativo, representado pelos engenhos e usinas. Por decorrência natural, a indústria
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açucareira passou a solicitar serviços de reparos das oficinas mecânicas e metalúrgicas já instaladas na cidade, operadas, na maioria, por imigrantes, com capitais próprios e com pessoal por eles treinados para realização dos trabalhos. No início do século XX, a empresa de maior expressão em Piracicaba era a Krähenbühl, fundada por suíços, em 1870. Reunia serraria e carpintaria a vapor, uma fundição de bronze, mecânica, ferraria, serralheria e depósito de ferro, onde fabricavam fogões e arados, além de se encarregarem da “importação de maquinismos para a lavoura e indústria, mediante comissão razoável”. A empresa, pioneira na produção de carroças e carros de tração animal, fornecia para várias regiões do estado de São Paulo. Com o advento dos veículos a motor, porém, foi obrigada a mudar seu foco de atuação, passando a fabricar fogões e arados
em sua bem aparelhada fundição. Esses industriais pioneiros destacaram-se pelo exemplo de iniciativa empresarial, deixando um importante legado técnico e profissional. Nos anos 1940, seus descendentes venderam algumas máquinas e equipamentos à Dedini e dedicaram-se, apenas, à comercialização de implementos agrícolas. O restante da indústria local constituía-se de pequenas oficinas mecânicas, como a de João Martins (1900), a Funilaria Vesuvio, de Victorio Furlani (1907), e a Teixeira Mendes & Cia. Dedicavamse aos consertos de máquinas e implementos agrícolas e alguns, também, fabricavam veículos de tração animal, que se constituíram, durante muito tempo, grandes vetores do desenvolvimento. Neles se transportavam os mais diversos produtos, como álcool, aguardente e gêneros alimentícios. Eram, ainda, utilizados para conduzir as pessoas em diversas ocasiões, para todos os lugares.
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Normalmente, a fabricação e manutenção de tais veículos era uma atividade familiar. Os empregados fixos eram raros, só contratados quando aumentava a demanda, muito influenciada pela expectativa das safras agrícolas. Para atender às encomendas, maiores no mês de maio, os empresários adiantavam o preparo de alguns componentes. As peças eram adquiridas de caixeiros-viajantes e chegavam à cidade por via férrea. Geraldo Hasse (1996) descreveu em detalhes a confecção dessas carroças: as molas eram feitas na marreta. Nas pontas em que se encaixam as rodas, o eixo, originalmente quadrado, era malhado na bigorna até ficar redondo. Emendava-se, então, o aro da roda por caldeamento. A solda com eletrodo foi uma inovação implementada mais tarde, apenas, a partir de 1950 e, mesmo assim, nem todos os ferreiros conseguiram adotá-la.
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Carroças utilizadas no transporte de açúcar no século XIX
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Na estruturação do madeirame, o segredo estava na fabricação dos cubos, feitos preferencialmente de madeira mais resistente. Desse material, eram feitos os varais, corrimão e fueiros. Para completar as rodas, eram cortadas as cambotas (seções curvas das rodas) com serra-fita, de acordo com moldes apropriados à altura de cada carroça. Os carrinhos comuns tinham rodas com 1,30 metro de diâmetro. A linha de montagem terminava com a confecção da caixa de carga, que era, geralmente, decorada com pinturas pelo artesão.
A Oficina Dedini No interior do país, a produção de carrinhos, carretas, carroças, carroções, charretes, trolleys e semitrolleys só perdeu o vigor a partir dos anos 1960, com o advento da indústria automobilística. Nessa época, a maioria das oficinas fechou. Outras transformaramse em fábricas de carrocerias
de caminhão. Em Piracicaba, já conhecida como a “capital do açúcar”, no entanto, uma dessas modestas oficinas evoluiu de forma muito diferente de tantas outras existentes na época. Adquirida em 1920, pelos irmãos Mario e Armando Cesare Dedini, esta oficina passou, logo depois, a fornecer peças de reposição para os inúmeros engenhos existentes na região. Desmontando-as, desenhando e modelando-as, conseguiu-se, em 1929, construir um conjunto completo para moagem de cana-de-açúcar. Ao longo do tempo, o pequeno estabelecimento transformou-se em uma empresa de porte, sempre de caráter familiar e genuinamente nacional. Diversificou sua produção, acumulou vantagens competitivas, soube aproveitar as oportunidades de mercado, e tornou-se, nos anos 1950, líder na produção de equipamentos para o setor sucroalcooleiro, posição que ocupa até os dias atuais, apesar das incertezas da economia brasileira e das inúmeras crises que foi obrigada a enfrentar ao longo do tempo. Tudo começou em meados de 1920, quando Mario Dedini chegou de charrete, com seu
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cunhado Bepe Corrente, ao bairro da Vila Rezende, reduto dos imigrantes italianos (ver boxe p. 42), para verificar a situação da oficina de ferraria e carpintaria que José Sbravatti queria vender. Nela, consertava e fabricava veículos de tração animal, como trolleys, tílburis, carroças, carroções, charretes e alguns equipamentos agrícolas, como bicos de arados e grades. O estabelecimento funcionava em um prédio alugado, com 400 metros quadrados, situado à avenida Conceição 3, 5 e 7, e, na época, havia oito pessoas ali trabalhando. Compunha-se de uma seção de carpintaria e ferraria, e possuía torno mecânico inglês, serra de fita, rebolo, esmeril, motor elétrico de 3 hp, máquina para aplainar madeira, máquina para perfurar e outra para prensar ferro. O preço pedido inicialmente pela oficina era de oito contos e quinhentos mil réis, mas Mario Dedini só possuía três contos. Juntando a poupança de quinhentos mil réis do irmão Armando Cesare, faltavam, ainda, cinco contos de réis, emprestados pelo seu patrão Luiz Lombardi, da usina Santa Bárbara, onde o jovem Mario trabalhava,
para serem descontados de seus pagamentos futuros. Após as negociações e formalizada a venda no tabelião por sete contos de réis, Armando Cesare assumiu o comando do negócio, enquanto o irmão Mario continuou trabalhando na usina Santa Bárbara durante certo tempo; conseguia, no entanto, ser liberado às sextas-feiras para auxiliar no trabalho em Piracicaba. Devido à presteza e qualidade dos serviços e à localização estratégica da oficina, em uma rua pela qual passavam obrigatoriamente os veículos que transitavam pelo bairro da Vila Rezende em direção à zona rural, os clientes não paravam de chegar. Em 1922, a oficina passou a chamar-se Mario Dedini & Irmão, com capital elevado para dez contos de réis. O objeto social da empresa era, então, “explorar o fabrico de veículos em geral, máquinas agrícolas e outras, e vendas a varejo”.
Piracicaba, uma pequena oficina de ferraria e carpintaria evoluiria de forma diferente das outras e tornaria-se, ao longo do tempo, o mais importante complexo industrial da cidade.
Atendimento nos engenhos Dessa forma, com o crescente aumento das encomendas, Mario resolveu afastar-se da
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No bairro da Vila Rezende, em
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A VILA REZENDE NOS ANOS 1920 A Vila Rezende pode ser considerado o bairro mais antigo
Os veículos de tração animal eram também muito im-
do município. Aos poucos, deixou suas características rurais,
portantes no começo do século XX, transportando bens
para tornar–se urbanizado, principalmente, com a chegada
e passageiros. Aos sábados, domingos e feriados, por
dos imigrantes italianos, estabelecidos em peso naquela
exemplo, o pátio da propriedade da família Valler, na
parte da cidade. Situado à margem direita do rio Piracica-
avenida Santo Estevão, ficava repleto de trolleys, carro-
ba, era ligado ao centro, na década de 1920, por uma única
ças e até carroções. Nas cocheiras, os animais recebiam
ponte, chamada de “nova”. Entre o rio e a avenida (hoje Rui
cuidados e alimentação, enquanto seus proprietários,
Barbosa) serpenteava a linha férrea da Sorocabana.
moradores da zona rural, aproveitavam para fazer com-
As vias que cortavam o bairro, sem pavimento, eram chamadas de avenidas, por serem mais largas que outras exis-
O local mais bonito do bairro era, sem dúvida, o parque
tentes na cidade. Assim, por ocasião das chuvas, enchiam-se
do Mirante, onde se contemplava as águas ainda límpidas
de barro e, na falta delas, ficavam cobertas por uma densa
do Piracicaba despencarem no salto, formando ondas si-
nuvem de pó, que invadia casas e estabelecimentos comer-
nuosas e levantando uma garoa fina que alcançava as mar-
ciais, causando inúmeras reclamações.
gens. Nos meses chuvosos, o barulho da queda era tão alto
Em 1923, pelos jornais, os moradores cobravam do prefeito municipal providências a respeito, solicitando
que impedia qualquer conversa. Era o lugar predileto dos casais de namorados.
que os livrasse “do flagelo horrível e pestilento da poeira
O futebol era o esporte mais praticado na Vila, que che-
imunda, que tudo invade!”. O problema era amenizado,
gou a ter várias agremiações como o Esporte Clube Ipiran-
precariamente, por um cidadão chamado Dominguinho,
ga, a Associação Atlética Sucrérie, o Luzitano Futebol Clu-
que, várias vezes por dia, passava com sua carroça, jogan-
be, o River Plate e o Atlético Piracicabano. Fiel à tradição
do água no leito das vias.
italiana, havia, também, muitos adeptos do bocce, cujos
O principal meio de transporte público, naquela época, eram os bondes, que passavam com intervalos de
Capitulo1
pras e passear.
praticantes misturavam, em seus diálogos, palavras dos dois idiomas, português e italiano.
quarenta minutos. Enquanto esperavam, os rezendinos
Nas casas do bairro da Vila Rezende, não faltava mú-
aproveitavam para colocar a conversa em dia e saber as
sica. O rádio estava começando, mas muitas famílias pos-
novidades. Os jovens mais afoitos e corajosos especiali-
suíam precários gramofones. Além disso, muitos morado-
zaram-se em uma “aventura”: descer do bonde em movi-
res tocavam instrumentos musicais: os sons dos violões,
mento. Alguns o faziam com grande facilidade, descendo
cavaquinhos, violas, bandolins e flautas enchiam as ruas
tanto de frente como de costas.
de alegria nas serenatas noturnas. O bairro teve até uma
No grupo que fazia a façanha “com graça e estilo e cora-
orquestra formada por jovens, organizada pelo pároco da
gem” havia muitas moças, como a jovem Ada, filha de Ma-
igreja da Imaculada Conceição, o padre italiano Julião Ca-
rio Dedini, e Janeth, conhecida como a “francesinha”, filha
ravello, que era um músico nato.
de Jean Joseph Morlet, técnico francês de destilarias, que
Outro orgulho do bairro era a Corporação Musical União
morou durante algum tempo na Vila Rezende. Já os garo-
Operária, fundada em 1906, que durante anos a fio esteve
tos, mais travessos, divertiam-se de outra forma: passavam
presente em todas as cerimônias e eventos importantes de
sabão nos trilhos para ver o bonde “escorregar”. O que de
Piracicaba. O escritor Alcides Aldrovandi, cujo pai foi “pre-
fato acontecia. O motorneiro tinha, então, de jogar areia nos
sidente” da banda durante muitos anos contou em seu li-
trilhos para restabelecer o tráfego.
vro (1991) que era praxe, no feriado de 1º de Maio, o Dia do
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Margens do rio Piracicaba no início do século XX. Ao fundo, o bairro da Vila Rezende
Trabalho, os músicos “fazerem a alvorada”, percorrendo as
trechos de livros para um grupo de vizinhos semi-analfabe-
casas das principais autoridades da cidade.
tos, mas com grande curiosidade e interesse para conhecer
A primeira parada era, invariavelmente, em frente à resi-
Capitulo1
os romances famosos.
dência do patrono e mentor da banda União Operária, Ma-
A Vila Rezende tinha vida própria e foi, ao longo do
rio Dedini. Até hoje, os músicos conservam essa tradição,
tempo, desenvolvendo-se, juntamente com as indústrias
tocando neste dia, bem cedinho, para seus descendentes.
Dedini. Muitas das famílias que ali viviam tinham, porém, o
Naquele longínquo bairro da cidade do interior, aconte-
sonho de atravessar a ponte sobre o rio e galgar uma me-
ciam verdadeiros saraus literários: na residência de Alberto
lhor posição na sociedade. Os sinais mais visíveis dessa es-
Bergamin, que trabalhava na Oficina Dedini, reuniam-se,
calada eram quando conseguiam ganhar o suficiente para
de tempos em tempos, cerca de dez a quinze pessoas, na
que seus filhos prosseguissem os estudos e para construir
maioria casais, muito compenetrados, para sessões de lei-
uma residência no centro da cidade, onde habitavam as
tura. Ali o membro mais velho, João Bosni, lia, em voz alta,
pessoas mais influentes.
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usina Santa Bárbara, ainda, durante os anos 1920, para auxiliar o irmão, sobrecarregado de trabalho. Naquela época, eles perceberam que poderiam partir, também, para consertar algumas peças mais simples dos numerosos engenhos de açúcar e de aguardente existentes na região, cujos proprietários sofriam para obter material de reposição que, muitas vezes, tinha de ser importado, obrigando-os a paralisar suas atividades.
Escritura de compra da Oficina Dedini, em 23 de agosto de 1920
Surgia, assim, um interessante mercado para a Oficina Dedini, que logo se viu obrigada a aumentar o número de funcionários, e, ao mesmo tempo, adquirir mais máquinas, com os lucros advindos da própria
atividade, ou então, recorrendo a empréstimos dos empresários ligados à produção açucareira. Todos tinham interesse em auxiliar os irmãos Dedini, devido à inexistência de profissionais capacitados à tarefa de prestarlhes assistência técnica. Inicialmente, os dois irmãos residiam em uma casa vizinha à oficina, pequena e desconfortável, e trabalhavam ao lado de seus primeiros empregados. Armando Cesare casou-se com Stella Biondo (1900-1968), com quem teve cinco filhos (Emilia Helena, Leopoldo, Ermelinda, Iracema e Edna). O segundo filho do casal, Leopoldo, nasceu na usina Ester, onde seu pai estava trabalhando por certo período, fazendo reparos nos equipamentos. Mario Dedini chegara da Itália por volta de 1914 (ver boxe p. 43). Após passar algum tempo em Santa Rosa de Viterbo (SP), entre outros imigrantes italianos, conseguiu, por meio deles, obter um emprego em uma usina de açúcar que começara a se instalar em Santa Bárbara (SP), e levava o nome da cidade (hoje Santa Bárbara D’Oeste). Pouco tempo depois, animado com a nova pátria, mandou
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Grupo de funcionários pioneiros da Oficina Dedini, por volta de 1920. Da esquerda para a direita: Virginio Rizzoto, Guido Spessotti, Angelo Rizzolo, Eugenio Daniotti, Ledemar Castellani, Dante Cardinalli, João Stockmann, Armando Cesare Dedini, Angelo Sega, António Baroni, Amador (?), João Daniotti (na fresta da porta) e Desiderio Pescarim
chamar o irmão Armando Cesare, que necessitou de uma autorização especial para viajar, pois era, ainda, menor de idade. Ele veio acompanhado da irmã Clementina, casada com um dos membros da família Rossin, que também se estabeleceria no Brasil. Enquanto Armando Cesare instalou-se na cidade de Pirajuí (SP) como ferreiro, Mario participou da montagem da usina Santa Bárbara, cujos equipamentos eram importados da França. Logo dominava a técnica de fabricação e tornou-se seu
encarregado, apesar de não ser engenheiro. Mais tarde foi promovido a chefe geral, recebendo, sempre, melhores remunerações, à medida que acumulava mais funções e responsabilidades. Mesmo depois de desligar-se da usina Santa Bárbara, ao montar seu próprio negócio, Mario continuou, durante vários anos, prestando assistência técnica àquela empresa. Ao que parece, nos primeiros tempos, era comum os irmãos Dedini se deslocarem para fazer serviços no campo. Segundo
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a força de um ideal
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Mario Dedini (segundo da esquerda para a direita) e seus companheiros na usina Santa Bárbara, na cidade paulista de mesmo nome, nos anos 1920
relato de Jovelino Furlan ao médico e escritor Alcides Aldrovandi (1991), eles cuidavam da manutenção do engenho de pinga na Fazenda Santo Antonio, de propriedade da sua família. Enfrentando dificuldades para vender sua cachaça, os Furlan resolveram montar um moinho de fubá movido a força hidráulica. Quando as pedras do moinho ficavam lisas, Mario vinha “picoteá-las”. Por muito tempo, a família guardou como lembrança a alavanca de ferro por ele utilizada para fazer esse serviço.
Doença nos canaviais Quando Mario Dedini se estabeleceu na Vila Rezende, a lavoura açucareira vivia um
bom momento no estado de São Paulo, e, conseqüentemente, em Piracicaba, importante região produtora. O crescimento teria sido ainda maior, não fosse a ocorrência de grave doença nas plantações, o chamado “mosaico”, que, naquela época, dizimou muitos canaviais brasileiros. O problema foi contornado, porém, graças ao importante trabalho realizado na Estação Experimental existente na cidade, onde foi desenvolvida uma variedade conhecida como cana javanesa, ou POJ, resistente à moléstia. Piracicaba foi a primeira localidade a proceder à substituição das lavouras afetadas. Além de ser resistente ao “mosaico”, a nova variedade era mais rica em sacarose, e enfrentava melhor as geadas, contribuindo, assim, para aumentar a produtividade. Graças a essas vantagens, expandiu-se rapidamente para outras regiões do estado. Dessa forma, no período de 1925-1926 a 1928-1929, a produção de açúcar em São Paulo cresceu seis vezes, atingindo quase um milhão de sacas (de sessenta quilos). Mesmo assim, não se conseguia atender à demanda do mercado interno, avaliada
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MARIO DEDINI: UMA VIDA DEDICADA AO TRABALHO, À FAMÍLIA E À COMUNIDADE Mario Dedini nasceu em 23 de setembro de 1893, na pequena Lendinara, situada ao norte da Itália. Os primeiros habitantes da vila, repleta de histórias e glórias de um passado longínquo, foram os sobreviventes da Guerra de Tróia. Mais tarde, ficou
Assim, Mario Dedini embarcou, sozinho, no navio Principessa Elena, em Gênova, com destino ao porto de Santos. Tinha apenas 21 anos e muita vontade de vencer. Viajava com simplicidade, mas não em condições precárias, como
em poder dos romanos. Foi domina-
vieram tantos imigrantes. No bol-
da, também, pelos austríacos por
so, carregava o dinheiro para a
muito tempo. Essa cidade vêneta
passagem de volta, caso não
denominada a Atena do Pole-
acostumasse na nova pátria.
sine, banhada pelo rio Adige,
Ao chegar no Brasil, Ma-
hoje com 13 000 habitantes,
rio Dedini foi, inicialmen-
viveu seu apogeu durante a
te, para a usina Amália,
República de Veneza.
em Santa Rosa de Viterbo
Foi ali que Mario Dedini
(SP), do grupo Matarazzo.
cresceu, cercado da família:
Segundo relato de Ottilia
os pais, Leopoldo e Amalia, e
Furlan Dedini, em setem-
os irmãos (Clementina, Palmira
bro de 2005, havia, na épo-
e Armando Cesare). Era, ainda,
ca, muitas dificuldades para
quase criança, quando resolveu
arrumar emprego, e, por isso,
ser mecânico, pois preferia, muito
nos primeiros tempos de Brasil,
mais, sujar as mãos de graxa, lidando com máquinas, do que de terra, cuidando da lavoura.
Sua vocação para consertar máquinas,
Contrariando a vontade do pai, Leopoldo, que preferia vê-lo trabalhando ao lado dos irmãos no
porém, logo foi descoberta pelo gerente da usina, Ferrucio Silviero.
campo, montou uma pequena oficina nos fundos da casa,
Este senhor, competente profissional e especialista em
onde consertava máquinas e implementos agrícolas da fa-
cozimento de açúcar a vácuo, o encaminhou, então, para a
mília e dos vizinhos. Estudou desenho mecânico na Escola
usina Santa Bárbara, em fase de montagem, em Santa Bár-
Técnica da cidade e, ao que consta, teria trabalhado, tam-
bara D’Oeste. Enviou, antecipadamente, um telegrama com
bém, um certo tempo, na usina de açúcar de beterraba ali
a mensagem: “Segue o Mario”. O encarregado de recebê-lo
instalada, uma das maiores da Itália.
na estação foi Adolfo Lourencini, que havia conhecido Mario
Diante da instabilidade econômica e política reinante
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o jovem imigrante não recusou nenhum serviço, até lenha cortou.
Dedini na infância, ainda no país natal.
na Europa e ameaças da guerra iminente, a família confor-
Segundo depoimento de Vidal Florindo Lourencini, em
mou-se com sua vinda para “fazer a América” no início da
1991, seu tio Adolfo, no entanto, não distinguiu o amigo do
década de 1910. Antes da partida, sua mãe, Amália, teria
passado entre os passageiros que desembarcaram na esta-
jogado uma moeda para o alto: dependendo do resultado,
ção ferroviária de Santa Bárbara. Seguiu pelo caminho da
ele se estabeleceria na América do Norte ou na do Sul. A
usina até encontrar o hóspede mais adiante, andando a pé
sorte decidiu pela segunda.
pela estrada, carregando sua mala.
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Após breve diálogo em italiano e um abraço efusivo, quando se reconheceram, Lourencini levou Mario até sua casa, onde ele residiu durante algum tempo. Mais tarde, o jovem instalou-se em uma pensão. Ali conheceu a cunhada do proprietário, Mariana Corrente (1899-1928), chamada de a “More-
Em depoimento de maio de 2005, a filha mais velha de
na”, que morava em Piracicaba, por quem se apaixonou e se
Mario Dedini, Nida, relembra uma história que ouviu muitas
casou, em maio de 1918. Logo depois, ele chamou seu irmão
vezes do pai: a persistência e o amor ao trabalho ajudaram-no
Armando Cesare (1897-1926) para estabelecer-se no Brasil.
a impor-se diante dos novos patrões. Ele conseguiu, depois
Inicialmente, o trabalho de Mario Dedini era auxiliar os engenheiros franceses na instalação da usina que ali estava sendo montada. Terminada essa tarefa, já dominava a técnica de fabricação de açúcar de cana. Tão bem e tão
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Retrato de família: Mario Dedini, sua mãe, Amalia, e a segunda esposa, Ottilia, com netos (sentados). De pé, da esquerda para a direita: sua filha Ada e o marido Dovilio Ometto; os filhos Armando e Nida (com o marido Arnaldo Ricciardi)
de muito empenho, colocar em funcionamento um equipamento desativado, apesar da descrença e das caçoadas dos colegas que o observavam, durante muitos dias, consertando e emendando, incansavelmente, as tubulações.
depressa que, quando se iniciou a Primeira Guerra Mun-
Mario Dedini já desempenhava com competência suas
dial (1914-1918), e o então chefe da usina, Louis Cutieux,
funções, quando recebeu um convite dos colegas para tra-
precisou voltar para a França, ele pôde assumir seu lugar.
balhar em Cachoeiro do Itapemirim (ES). Segundo contam, o
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jovem teria recusado, comentando: “No, no, grazie. Preferis-
recorda que, em um desses difíceis momentos, Mario Dedini
co stare qui, perche qui devo fare fortuna”. (Não, não, obri-
precisou empenhar seu relógio para pagar seus funcionários.
gado. Prefiro ficar aqui, porque aqui vou fazer fortuna.) Firme nessa decisão, Mario adquiriu, em agosto de
O começo de tudo
1920, juntamente com o irmão, a oficina de José Sbravatti, instalada nos fundos de uma casa pertencente a sua sogra,
Durante a década de 1930, quando ocorreu a moderni-
no bairro da Vila Rezende, em Piracicaba. Começaram a tra-
zação dos antigos engenhos, incentivada pelo Instituto Na-
balhar, inicialmente, no conserto de veículos e implementos
cional do Açúcar e Álcool, Mario Dedini, hábil negociante,
agrícolas, depois na reforma e fabricação de equipamentos
ofereceu condições favoráveis aos usineiros para troca de
e máquinas para usinas de açúcar.
equipamentos, aceitando os usados como parte do paga-
Quando uma epidemia de tifo levou seu irmão, Armando Cesare, em 1926, e dois anos depois, sua esposa, Marianna Corrente, Mario precisou de toda coragem para refazer a vida. Na Itália, foi buscar a mãe, Amália, já viúva, para ajudar a criar seus três filhos: Nida, então com seis anos, Ada, com quatro, e Armando, com seis meses.
mento, e entrando como sócio de vários empreendimentos. Dez anos mais tarde, já vendia usinas de fabricação própria e abria novas empresas. Assim, conseguiu amealhar grande fortuna. Desse modo, o empresário atravessou a crise econômica de 1930 e, dez anos depois, já se permitia produzir usi-
A avó cuidou da educação das crianças e ensinou-os a
nas completas. Seu sócio nesses empreendimentos, o filho
rezar na língua italiana, hábito que levaram pela vida. A filha
de imigrantes Pedro Ometto, também enriqueceu e ficou
mais velha, Nida, que também contraiu tifo, e quase morreu
conhecido como o “rei do açúcar”. Atualmente, a família
naquela época, relembra que, quando foi matriculada na
Ometto é a maior produtora de álcool e açúcar do país.
escola, falava muito pouco o português, pois se comunicava com sua avó somente em dialeto vêneto.
Nos anos 1960, Mario Dedini separou-se de Ottilia Furlan. Casou-se, então, na Bolívia, com Ignes Seghessi, que o acom-
Foram tempos muito difíceis. Quem conta é a piracicaba-
panhou até o fim de seus dias. “Mario está sempre presente
na Ottilia Furlan Dedini, com quem Mario Dedini se casou em
em minha vida, tenho a nítida impressão que está sempre ao
1938. Ela decidiu que não teria filhos, para criar os do marido.
meu lado”, contou Ignes, em depoimento de setembro de
“Completamente sem experiência, tive de aprender a fazer
2005. “Até hoje faço suas comidas prediletas, como spaghetti
todo o serviço da casa, inclusive costurar roupas para a famí-
alio e olio e ouço as óperas que ele tanto gostava.”
lia. Costumávamos, também, preparar lanches para o pessoal
Homem simples e afável, Mario Dedini era sempre mui-
que trabalhava na oficina. Quando alguém se machucava, fa-
to elegante; nunca saía sem o relógio no pulso e sem o
zíamos os curativos. Não tínhamos dinheiro para nada”. Ela se
maço de cigarros da marca Petit Londrinus no bolso. Quan-
O filho de humildes camponeses italianos não se conformou com as difíceis condições impostas pelo regime autocrático e pela rígida sociedade do seu tempo, onde um pequeno número de proprietários de terras, de capital de crédito submetia uma vasta multidão de homens que só contavam com os próprios braços para sobreviver. Espírito audacioso e aventureiro, Mario Dedini deslocou-se da Itália para o Brasil para aqui implantar uma empresa sempre pautada nos princípios da liberdade, valorização do trabalho e do espírito do dever. (Depoimento da escritora piracicabana Myria Machado Botelho, em maio de 2005).
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do surgiram os problemas cardíacos, chegou a parar de fumar por conselho médico, mas já era tarde, pois sua saúde estava irremediavelmente comprometida. A tenacidade e engenhosidade de Mario Dedini permitiram que ele criasse, ao longo do tempo, um impressionante conglomerado empresarial: em 1987, dezessete anos depois de sua morte, o grupo Dedini era, ainda, o maior da cidade, com 24 empresas e 11 365 funcionários. O faturamento naquele ano foi de 282 milhões de dólares. Esse império permitiu que Piracicaba se tornasse um dos mais importantes pólos de desenvolvimento da indústria de base nacional. Mario Dedini gostava de novidades tecnológicas. Apesar de ser o maior fabricante de moendas do Brasil, não hesitou, nos anos em 1960, em trazer da Alemanha um
Em tempos de guerra, Mario
“Mario Dedini provou que
Dedini também colaborou: por
a vida se constrói do chão para
apoiou a luta dos paulistas, fa-
as alturas e a riqueza não demora em casa, sem a severidade do
bricando granadas de mão em sua oficina para serem doadas ao exército revolucionário. Mais
trabalho. Em vida, soube criar o
tarde, durante a Segunda Guerra Mundial, colocou à disposi-
hoje e o porvir, assim permitindo
ção das forças aliadas sua in-
que, no monumento que esta
para soldados e peças (pés) para
terra lhe ergueu em praça pública, se inscrevesse o aviso letreiro:
dústria para produzir capacetes metralhadoras. Muitas vezes, suas doações extrapolavam os limites da ci-
Contemporâneo da posteridade.
dade: certa vez, atendendo ao
E, na verdade, esse gigante do
rio Dedini desembolsou, no
insofreável surto de industrializa-
apelo do governo federal, Maanonimato, a quantia de quase dois milhões de cruzeiros para
ção do Brasil moderno foi só o que
restaurar e adaptar o Palácio
foi, porque assim deveria sê-lo.”
maria na sede da embaixada do
(Theobaldo de Nigris, em 18-12-
Panphili Doria, que se transforBrasil em Roma. Paralelamente à sua brilhan-
sistema diferente – o difusor – ad-
1970, por ocasião da inauguração
te trajetória, desenvolveu-se,
quirindo a licença de fabricação.
da herma em sua homenagem na
também, a cidade de Piracica-
Escola do Senai, em Piracicaba).
centro agrícola, a importante
Ouvindo conselho dos especialistas, principalmente, da Escola de
ba, que passou, de modesto
Agronomia, foi pioneiro, também,
centro industrial, em grande
na aplicação de vinhaça nas lavou-
parte pelo mérito do filho ado-
ras de cana de sua propriedade, em vez de descartá-la nos
tivo, Mario Dedini. Bairros inteiros, como a Cidade Jardim,
cursos d’água, como era, então, costume das usinas.
surgiram com seu apoio. De seu bolso, saiu dinheiro para
A atuação mais expressiva de Mario Dedini, no entanto, foi a extensa obra social realizada em benefício da comunidade e a favor da cidade que adotou. Durante toda sua
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ocasião da Revolução de 1932,
alargar pontes, rasgar avenidas, construir o estádio de futebol, e, até mesmo, para resolver o problema do precário abastecimento de água da cidade.
vida, ele deu inúmeros exemplos de humanismo, criando
Em 1960, a população, agradecida e reconhecendo o
e ampliando hospitais (como a primeira maternidade da
extenso legado de seu cidadão benemérito, erigiu-lhe, na
Santa Casa de Misericórdia, que leva o nome de sua mãe,
praça principal da cidade, um monumento em granito rosa,
Amalia Dedini), escolas (Vila Rezende), asilos (Oratório São
obra do artista Luis Morrone. O grupo de três figuras es-
Mario, para os padres Salesianos), igrejas (como a da Vila
culpidas em bronze mostra Mario Dedini ladeado por um
Rezende, réplica da existente na sua distante Lendinara),
ferreiro e uma cortadora de cana, representando as duas
postos de puericultura, além de contribuir para inúmeras
forças de trabalho que o auxiliaram a construir sua obra.
obras assistenciais.
As honrarias e a grande manifestação de afeto recebidas
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em vida, no entanto, nunca o fizeram esquecer do passado
sua vida. “Tive o privilégio de conviver bastante com ele e
de operário humilde e modesto, nem sua origem italiana, à
receber sua atenção. O nonno sabia ser, ao mesmo tempo,
qual permaneceu fiel até o final da vida.
impositivo e gentil e valorizava muito as mulheres.”
Mario Dedini faleceu em 1970, de insuficiência cardíaca.
Outra neta, Maria Beatrice, comentou, em entrevista
Sua última aparição pública tinha sido vinte dias antes, na
aos jornais, que sempre lhe surpreendia o fato de que o
inauguração das novas dependências da loja Dedini, por
avô, apesar da origem humilde, ter-se tornado um homem
coincidência, instalada exatamente no mesmo local onde,
tão fino e educado, com grande cultura, que encantava a
cinqüenta anos antes, montara a oficina com seu irmão.
todos. A essas palavras, o neto Mario Dedini Ometto com-
Seu cortejo fúnebre foi acompanhado por centenas de
pleta, em depoimento de junho de 2005: “Meu avô tinha o
pessoas a pé, como tributo ao seu expressivo trabalho. Para
dom de convencer cada um de nós, os netos, de que era
seus descendentes, Mario Dedini foi sempre uma presença
seu predileto. Isto era o resultado de sua liderança natural.
marcante. A filha mais velha, Nida, guarda até hoje um con-
Com essa idéia, nós crescemos”.
selho importante do pai: ”Seja trabalhador, organizado, honesto e sempre vencerás!”.
Mario Dedini tentou aposentar-se duas vezes. Na primeira, disse à filha Nida que, para marcar o evento, deixaria de lado
Os netos, por sua vez, sabiam que a aparência autoritária
o inseparável relógio do pulso. Embarcou, então, para a Itália,
e requintada do avô escondia um temperamento amoroso
em uma longa viagem. Quando voltou, não gostou do rumo
e gentil, demonstrado freqüente-
que suas empresas tomavam, e re-
mente na intimidade familiar, im-
solveu reassumir. Continuou tra-
pondo respeito e contribuindo
balhando por mais algum tempo,
para sua educação. O neto mais
até sua saúde permitir.
velho, Marcos, lembra-se que,
O seu escritório, no entan-
sistematicamente, Mario Dedini
to, só foi desmontado após sua
recebia todos eles em seu escri-
morte. Hoje, a sala foi restaurada,
tório, fazendo elogios ou censu-
sendo cuidadosamente mantida
rando-os, quando preciso. Todos
pelo neto, Mario Dresselt Dedi-
sabiam que aquela era a hora da
ni, tornando-se uma espécie de
verdade: ninguém conseguia
museu dentro da empresa. Em
esconder nada do avô. No final
depoimento de abril de 2005,
do encontro, havia sempre uma
“Malo”, como é conhecido, co-
mesa montada com aperitivos
menta que o avô possuía três
para a confraternização.
características marcantes: era
Juliana, uma das netas, re-
visionário, pois antevia os fa-
corda-se, em depoimento de
tos, idealista, pois lutava para
abril de 2005, que, certa vez,
realizar seus sonhos e, princi-
uma amiga contou-lhe que
palmente, um grande altruísta,
o pai costumava acordá-la,
pensando sempre nos outros.
quando adolescente, dizen-
É nesse exemplo de coragem
do: “Acorde, nessa hora o
e determinação que ele e os
Mario Dedini já está há mui-
outros descendentes de Mario
to tempo trabalhando na fá-
Dedini procuram espelhar em
brica!”. Sua irmã, Cláudia,
suas vidas.
também, confessou, em ju-
Monumento em homenagem a Mario Dedini na praça principal da Vila Rezende, em Piracicaba (SP)
nho de 2005, que o avô foi a figura mais marcante em
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em 2,5 milhões de sacas. Com o aumento das vendas do produto, foi possível diminuir a grande capacidade ociosa da indústria açucareira paulista, observada em anos anteriores. Na esteira desse desenvolvimento, a pequena oficina expandiu-se, tornando-se as Oficinas Dedini, passando por grande transformação qualitativa. Para atender à demanda das usinas da região, foram adquiridas a fundição de ferro, equipada com um forno Cubillot, e algumas máquinas de segunda mão. Essa expansão era de interesse dos empresários do setor, que se viam assistidos com mais presteza e rapidez, libertando-se das dificuldades de importação de peças e das visitas esporádicas de técnicos vindos de centros distantes.
Aprendizes e funcionários da Oficina Dedini
Como morador vizinho às Oficinas Dedini, Alcides Aldrovandi, já falecido, sempre foi muito ligado à empresa. Ele conta em seu livro (1991) que a fundição, instalada à avenida Salaz, era um prédio amplo e alto. No fundo, estava instalado o forno e o restante da área ficava reservada para a modelagem das peças a serem fundidas. As caixas compunham-se de duas partes. Uma,
abaixo do nível do chão, onde era feito o molde, e, a segunda, sobreposta à primeira, onde era posta a outra metade do modelo. Para sua confecção, usava-se uma terra especial, de cor cinza e de textura muito fina. Após a operação, a caixa era separada, retirando-se a parte superior, e, em seguida, o molde de madeira. Recolocada a parte superior, já com orifício e canal ligado ao vazio da modelagem, a peça era encaminhada para a etapa seguinte: a fundição. Essa fase atraía até pessoas de fora. “Era um verdadeiro espetáculo pirotécnico: os cadinhos de ferro derretiam, eram retirados do forno e levados para encher as caixas, explodindo em grande número de estrelas”, escreveu Aldrovandi em seu livro. O ferro fundido preenchia o volume vazio das caixas, modelando as diversas peças encomendadas. Após alguns dias, já resfriados, os recipientes eram abertos, sendo as peças retiradas e enviadas para usinagem e acabamento. De tanto observar o trabalho nas Oficinas Dedini, Aldrovandi conta que, quando garoto, ele e seus amigos resolveram abrir sua própria “fundição” no quintal da
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te improvável e desaconselhável, na verdade, naquela época, era uma solução perfeita para os pais: preferiam muito mais ver seus filhos aprender um ofício, do que ficarem vagando pelas ruas, ou irem nadar no traiçoeiro rio Piracicaba. Esse era o divertimento predileto dos moleques, brincadeira muito perigosa, que tirou a vida de muitos deles.
casa. Ali, em um rancho improvisado, montaram caixas e, com restos de terra recolhidos na indústria, “fundiram” soldadinhos para brincar, pesos para linhas de pesca, uma pequena barra de ferro inscrita com a palavra “Paris”, e até um crucifixo.
Recrutando aprendizes Entre os funcionários pioneiros das Oficinas Dedini podem ser citados os nomes de Carlos Mahn (Carlão), Amadeu Galani, Humberto Perozzi, Pedro Segatto, João Baptista Galvani (Imbica), Ledemar Castelani, António Galvani, Virgínio Magagnato, Orlando Galvani, Ângelo Rizzolo e Alberto Bergamin. O treinamento do pessoal era feito dentro do próprio estabelecimento: admitiam-se menores de idade, como auxiliares de determinado funcionário, do qual se tornavam aprendizes, adquirindo conhecimentos para, depois de algum tempo, poderem operar sozinhos as máquinas. Observando o trabalho dos mais velhos, muitos deles tornaram-se bons profissionais. Esse costume de trazer crianças para a oficina, hoje totalmen-
Alcides Aldrovandi relata em seu livro (1991), que também freqüentou a oficina, quando garoto. Ajudava seu “padrinho”, Pedro Segatto, como podia, trazendo-lhe ferramentas, parafusos e cola. Assim como os outros meninos, muitas vezes era requisitado para comprar cachaça para o pessoal nos bares próximos. Segundo ele, quando a tarefa era mais difícil, como, por exemplo, ferrar rodas, os operários pediam mais a bebida, “para resfriar”, como diziam. Nessas situações, os meninos revezavam-se, e iam a bares diferentes, “para não dar na vista” que se estava bebendo muito na oficina. O trabalho desinteressado dos garotos chamou atenção de Carlos Mahn, o Carlão, que resolveu incentivá-los, fazendo uma surpresa. No dia do pagamento, eles também receberam
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um envelope com cinco mil réis. Todos ficaram muitos felizes, pois, assim, passaram a “fazer parte” da equipe de Mario Dedini. Outro desses aprendizes foi Euclydes Rizzolo. Em depoimento de 2005, relata que o pai, Alcides, um dos primeiros funcionários das Oficinas Dedini, sabia de suas travessuras, e exigiu que fosse trabalhar em sua companhia. Inicialmente, Rizzolo era menino de recados. Mais tarde, foi transferido para o escritório. Sua vivacidade chamou a atenção de Mario Dedini, que perguntou a seu pai por que ele não prosseguia nos estudos. “Manca i soldi” (Falta dinheiro), foi a resposta. Mario Dedini não respondeu, mas, no mês seguinte, ao abrir o envelope que recebia todo mês como pagamento, Rizzolo percebeu, com surpresa, que, em vez do costumeiro valor de cinco mil réis, recebera muito mais. Com esse dinheiro, a mãe comprou-lhe roupas novas e ele pôde cursar a Escola de Comércio Cristóvão Colombo, sem deixar suas obrigações nas Oficinas Dedini. Ali permaneceu até os anos 1950, quando foi convidado para trabalhar na recém-fundada Cooperativa Piracicabana de Usinas de
Açúcar e Álcool (Copira), embrião da futura Copersucar. Além do trabalho na oficina, o então garoto Alcides Aldrovandi também foi testemunha de cenas marcantes na residência dos Dedini, na avenida Conceição, onde residiram Mario e Armando Cesare Dedini, com suas respectivas famílias. Em seu livro, ele conta o entra-e-sai interminável e a comoção causada pela doença e morte precoce da primeira esposa de Mario Dedini, Mariana Corrente, vítima de febre tifóide, que deixou três filhos: Nida (que se casaria com Arnaldo Ricciardi), Ada (primeira esposa de Dovilio Ometto) e Armando (que se casaria com Norma Dresselt Dedini). “Ela não resistiu à epidemia, apesar de todos os cuidados do médico André Ferreira dos Santos, o ‘Dr. Preto’, como era conhecido, por causa da cor de sua pele, e das orações da conhecida benzedeira Carolina Martins, que se revezaram na sua cabeceira”, recordou-se Aldrovandi. Veiculado pela água, alimentos crus, moscas, esgotos e pelo contato direto com portadores da doença, o tifo encontrou, naquela época, condições
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Reformando peças e máquinas para usinas de açúcar, Mario Dedini já era, no final de 1920, capaz de fazer alguns equipamentos em sua oficina. Assim, a evolução para a fabricação foi uma decorrência natural do empreendimento.
ideais para sua proliferação na cidade. A moléstia, que, desde 1911, se espalhara pelo estado de São Paulo, trazida pelos imigrantes espanhóis e portugueses, atingiu Piracicaba com maior intensidade na década de 1920, levando as pessoas aterrorizadas a abandonar a cidade. A epidemia só foi controlada quando a prefeitura modificou o sistema de coleta de lixo, passou a adicionar cloro na água destinada ao abastecimento e combateu focos do mosquito transmissor. Mario Dedini também perdeu seu irmão, em 1926, vitimado pelo tifo. Passou a dirigir a oficina sozinho, mudando sua denominação para M. Dedini. Na vizinha Santa Bárbara d’Oeste, foi buscar o único filho homem do irmão, Leopoldo (1919-1976), “para encaminhá-lo na vida”. Com dez anos, então, o menino foi trabalhar como aprendiz na oficina. Apesar de muito inteligente, não gostava de estudar. Aprendeu o ofício na prática, e, muito jovem, com catorze anos, nos anos 1930, marcou sozinho no campo a estrutura da usina Santa Elisa, que a Dedini estava montando em Sertãozinho (SP). Quem conta é sua esposa, Dulce Cardinalli Dedini, em
depoimento de maio de 2005, com quem Leopoldo se casou em 1943, e lhe deu quatro filhos (Roberto, Elisabeth, Renata e Amália). Leopoldo Dedini tornou-se um dos principais assistentes do tio, durante vários anos, acompanhando a expansão da modesta oficina, sempre presente no seu dia-a-dia e participando de seus grandes momentos. Nos anos 1960, saiu para dirigir uma das empresas do grupo, a Mausa, cujo controle acionário assumiria mais tarde.
Da reforma à fabricação Em meados de 1920, Mario Dedini já estava apto para fabricar o primeiro conjunto de moagem de cana. Para tanto, o empresário inspirou-se em equipamentos semelhantes, que já havia consertado ou reformado. Como possuía uma pequena fundição de ferro e bronze, ele reproduzia inúmeras peças, quebradas ou desgastadas durante o processo e fabricação de açúcar, que precisavam ser substituídas durante a safra ou para a seguinte. Eram, principalmente, eixos, engrenagens, luvas, camisas, mancais, facas, rodetes,
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Projeto de moenda elaborado na Oficina Dedini, em fevereiro de 1930
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entre outras. Começava, assim, a diversificação da produção. Quando desmontava as moendas de seus clientes, com certeza aproveitava para copiar seus componentes, desenhando e preparando os modelos para serem fundidos em ferro e, posteriormente, submetê-los à usinagem. Nesse momento, o conhecimento de desenho mecânico que possuía foi de grande valia, permitindo, inclusive, melhorar a qualidade e o desempenho das moendas e de outros equipamentos das usinas.
Medalha de ouro oferecida por Mario Dedini aos funcionários com 25 anos de trabalho na sua empresa
No final de 1920, o estabelecimento da família Dedini já se espalhava por vários barracões vizinhos, abrigando várias forjas para trabalhos de ferreiros e carpinteiros, em oficinas de consertos e de modelagem em madeira para fundição de peças. A antiga fundição situava-se na avenida Salaz (hoje Mario Dedini), atrás da avenida Conceição. A empresa contava com 36 funcionários e continuou a expandir-se ao longo dos anos. O progresso da indústria repercutiu no bairro da Vila Rezende, que ganhou, naquela época, até um banco próprio, denominado Agrícola de Piracicaba.
O estabelecimento, no entanto, durou pouco tempo: seu gerente especulou na bolsa de valores de São Paulo com o dinheiro dos clientes, e levou-o à falência. Segundo Aldrovandi, Mario Dedini era comparado ao rei Midas: “Tudo que fazia, dava lucros. Comprava uma caldeira velha, abandonada no canto de uma usina, reformava e vendia e assim a oficina foi crescendo”. Segundo ele, o serviço aumentou tanto que seu irmão, José Aldrovandi, chefe do escritório da empresa, precisou contratar mais um guarda-livros (contador) para auxiliar o primeiro encarregado dessa tarefa, Sebastião de Oliveira. O escolhido foi Lázaro Pinto Sampaio, que trabalhara como telegrafista da Estação Ferroviária da Vila Rezende, e se tornou um dos principais assistentes de Mario Dedini durante longo período.
Trabalho social Desde aquela época, o industrial costumava ajudar seus colaboradores e os moradores do bairro. Parece ter sido pioneiro ao conceder ao pessoal o direito de consultar o médico e o hospital
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de sua preferência. Também não hesitou em despedir um técnico estrangeiro que para ele trabalhava por haver desrespeitado um dos operários da oficina. A cada cinco anos, Mario Dedini promovia um grande almoço de confraternização na sua própria residência para aqueles colaboradores pioneiros, entregando-lhes, ao final, presentes valiosos. Nessas festas, os participantes se emocionavam. Nunca faltava música. O próprio industrial dava o exemplo, dançando alegremente com seu pessoal. Nos primeiros tempos, os colaboradores da empresa formavam uma grande “família”, ajudando-se entre si e aos mais necessitados. Um fato ocorrido nos anos 1930 ilustra bem isso. Sabendo da morte de um morador da Vila Rezende, após longa moléstia, que deixou viúva e três filhos na miséria, morando em um barracão improvisado, um grupo de funcionários uniu-se para construir-lhes uma casa nova, em regime de mutirão, nos seus dias de folga. Os trabalhado-
res da Dedini ajudaram, também, a erguer a Capela da Vila Rezende. Em seu livro sobre a Santa Casa de Misericórdia de Piracicaba (2004), a jornalista Nilma de Oliveira Moratori relata um dos exemplos da generosidade de Mario Dedini para com aquele hospital. Por ocasião da desativação do Sanatório São Luiz, ele adquiriu, por dois contos e quinhentos mil réis, uma caldeira e a autoclave da instituição, indicados pelo médico Coriolano Ferraz do Amaral. Os equipamentos, que valiam muito mais, foram reformados e instalados na oficina, contribuindo para impulsioná-la. Pouco tempo depois, Ferraz do Amaral procurou Mario Dedini, propondo-lhe vender os equipamentos para a Santa Casa, da qual era provedor. O empresário pediu tempo para pensar, e depois de visitar o local onde seriam instalados, cedeu-os, sem aceitar nada em pagamento. Ele mesmo encarregou-se do transporte e da instalação do maquinário. Esta seria uma de suas inúmeras doações àquele hospital.
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CAPÍTULO 2
Modernização das usinas “O trabalho sempre me divertiu e nunca achei minha vida difícil. Sempre fui otimista e confiei no futuro.” Mario Dedini (1893-1970), fundador das empresas Dedini, em setembro de 1967.
N
o dia 29 de outubro de 1929, conhecido como a “Quintafeira Negra”, o centro financeiro de São Paulo foi abalado pelas informações da derrocada da Bolsa de Nova York. As ruas centrais da principal cidade brasileira ficaram repletas de pessoas perplexas e atemorizadas, em busca de notícias mais detalhadas sobre a falência do maior mercado de ações do mundo – o norte-americano. A grande depressão amargada pelos países desenvolvidos, verificada a partir de então, não arrefeceu, no entanto, o ânimo de muitos empreendedores instalados no Brasil. Nas primeiras décadas do século XX, continuaram investindo e expandindo suas fábricas, apesar dos reflexos inevitáveis da grave crise internacional. A extraordinária produção de máquinas e equipamentos para todos os setores, observada nos anos seguintes, principalmente em São Paulo, abriu caminho para a consolidação definitiva do parque industrial brasileiro (ver boxe p. 62). O governo fez sua parte, tomando medidas para resguardar a economia nacional dos impactos negativos vindos do exterior: queimou os excedentes da produção de café, então, enfrentando grave crise; desvalorizou a moeda vigente, o mil-réis, e elevou o preço dos produtos estrangeiros, obrigando os empresários a fabricar no país tudo aquilo que vinha do exterior.
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CRISES CONSTANTES NAS LAVOURAS ESTIMULAM A INDUSTRIALIZAÇÃO NO BRASIL Nas primeiras décadas do século XX o dinheiro mudou
bricas paulistas eram voltadas, principalmente, para os bens
de mãos mais de uma vez no Brasil. Os tradicionais proprie-
de consumo: alimentos, tecidos simples, bebidas e utensí-
tários rurais sofreram duramente com a instabilidade do
lios. Aos poucos, começaram a diversificar-se, produzindo,
mercado internacional. Ao mesmo tempo, nasceram muitas
também, alguns itens para construção civil, além de móveis.
fortunas, algumas construídas por imigrantes como Mario
Em 1925, seria inaugurada a primeira linha de montagem de
Dedini, que, com trabalho e tenacidade, contribuíram para
automóveis da General Motors do Brasil que, em apenas um
o progresso industrial do país.
ano de funcionamento, fabricou 25 000 veículos.
Até 1914, o estado de São Paulo, assim como o Brasil,
Somente 4% dos produtos industrializados eram, na épo-
vivia acomodado em sua condição de exportador agrícola,
ca, bens de produção, como máquinas industriais e agrícolas.
principalmente de açúcar e, depois, de café. A constante
Assim, durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), peque-
produtividade e a decidida intervenção do governo paulis-
nas oficinas instalaram fundições e forjarias destinadas a recu-
ta sobre as condições de mercado mantinham este último
perar peças gastas, e foram rapidamente elevadas à condição
como principal item da pauta de exportações. Houve tem-
de fábricas. Terminado o conflito, no entanto, a maior parte
pos em que a renda obtida com o café suportou todos os
dessas empresas acabou, quando os proprietários rurais recu-
investimentos de São Paulo, a ponto de as taxas incidentes
peraram seu poder de compra, e voltaram a encomendar suas
sobre ele dispensarem qualquer outro imposto estadual.
máquinas agrícolas no exterior. Foram poucas aquelas fábricas
A situação da economia cafeeira tornou-se preocupante nas primeiras décadas de 1900. O Brasil fornecia 60% do
seus proprietários. A Dedini estava incluída nessa lista seleta.
produto consumido no mundo, quando, em 1915, os Es-
Para tanto, é preciso lembrar que se aproveitou da con-
tados Unidos – o maior comprador – taxaram-no como su-
juntura favorável. Diante da derrocada do café, os empresá-
pérfluo naquele país. Três anos depois, uma grande geada
rios aplicaram seus capitais na montagem de usinas de açú-
causou grande destruição nos cafezais paulistas.
car no sul do país, pois ali já havia infra-estrutura instalada:
Para contornar a crise iminente, o governo tentou montar uma estratégia para manutenção dos preços por
população, capital, mão-de-obra, facilidade de transporte do produto destinado à exportação e consumo.
meio do Instituto Paulista de Defesa Permanente do Café
A qualidade do açúcar fabricado deixava, ainda, no en-
(IPDPC). Foi em vão: em 1928, os produtores amargavam
tanto, muito a desejar. O Brasil só conseguiu abastecer os
grandes estoques e dívidas ainda maiores, devido à queda
mercados dos países desenvolvidos por um certo período,
acentuada das vendas externas.
durante os dois conflitos mundiais, quando as produções
A gota d’água foi a grande depressão internacional, mar-
das nações envolvidas na guerra praticamente ficaram
cada pela quebra da bolsa de Nova York, a maior do mundo,
paralisadas. Quando a situação se normalizou, o mercado
no dia 29 de outubro de 1929, que deixou, de uma hora para
internacional voltou a enfrentar grande instabilidade, com
outra, dezesseis milhões de títulos sem nenhum valor. Ruim
descompasso entre a oferta e a demanda, com inevitáveis
de um lado, bom de outro. Com a crise que sacudiu a econo-
conseqüências negativas sobre os preços.
mia internacional, os preços dos importados foram às alturas.
Várias tentativas de normatização foram efetuadas e,
Muitas indústrias de porte que forneciam para o Brasil foram
finalmente, em 1937, conseguiu-se fechar um acordo na
à falência, e o país viu-se obrigado a produzir os bens para
Conferência Internacional do Açúcar em Londres, que vi-
abastecer seu mercado interno.
gorou até 1953. Pela primeira vez, o Brasil participava de um
A indústria nacional, tímida e incipiente, foi obrigada a adequar-se aos novos tempos. No início do século XX, as fá-
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que conseguiram sobreviver, graças à tenacidade e visão de
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acordo no gênero, cabendo-lhe uma cota de exportação de 60 000 000 de toneladas por ano.
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Assim, alguns setores da indústria – siderúrgico, químico, metal-mecânico e de implementos agrícolas – puderam desenvolver-se como nunca. Para tanto, os empreendedores aproveitaram o mercado e o consumo criados durante o ciclo do café, que proporcionou as divisas necessárias à importação de bens de produção e os capitais necessários para a instalação de seus estabelecimentos. Em Piracicaba, a Dedini, foi uma das empresas que soube aproveitar as oportunidades surgidas, alcançando grande expansão, conquistando clientes e ampliando sua linha de produtos. Foi a época de absorção de tecnologias, não mais para atender os engenhos de açúcar, mas, também, para suprir as novas usinas, que estavam se estabelecendo, exigindo equipamentos cada vez mais pesados e sofisticados. Em 1929, foi dado um grande passo nesse sentido, com o desenvolvimento do projeto e fabricação de um conjunto completo de moendas, com todos os acessórios. Era composto por três cilindros horizontais, nas dimensões de dezoito por trinta polegadas, capaz de moer cerca de cem
toneladas de cana por dia, possibilitando a produção de 15 000 a 18 000 sacas (sessenta quilos) de açúcar por ano. O equipamento foi vendido a Virgolino de Oliveira, proprietário da usina Nossa Senhora da Aparecida (em Itapira, SP), um dos melhores amigos de Mario Dedini (ver boxe p. 66). Presteza, garantia e manutenção: esse trinômio constituiu a chave do sucesso das Oficinas Dedini em seus primeiros tempos. Aos poucos, as usinas passaram a exigir um dimensionamento maior dos aparelhos de extração de caldo da cana e de todo o processo de fabricação. Dessa forma, a empresa foi ampliando, aos poucos, o peso e a escala de seus produtos, enquanto criava uma imagem comercial altamente positiva, baseada na qualidade. Quando eclodiu a crise de 1929, os preços dos equipamentos importados ultrapassaram os dos produtos Dedini, que já possuíam a vantagem de não pagarem royalties pela tecnologia, nem eram onerados pelos elevados fretes marítimos. Por todos esses fatores, a demanda pelas moendas fabricadas em Piracicaba foi grande, desde o início. Havia, ainda, outra
ocorrido em São Paulo, a partir da década de 1930, aumentou a densidade populacional dos centros urbanos e melhorou o nível de renda. Conseqüentemente, o consumo de muitos bens e alimentos cresceu bastante, inclusive do açúcar, que até então era trazido de outros estados.
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O processo de industrialização
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Transporte de equipamentos para a usina Nossa Senhora da Aparecida, em Itapira (SP)
vantagem: os clientes contavam com assistência técnica imediata, devido à proximidade da oficina com as usinas de açúcar, e não dependiam mais das visitas esporádicas de profissionais vindos de pontos distantes. Com a expansão, o capital social da M. Dedini, que, em 1926, era de 50:000$000 (cinqüenta contos de réis), foi elevado para 150:000$000 (cento e cinqüenta contos de réis), em 1932, sendo esse valor totalmente integralizado. As máquinas operatrizes eram, ainda, de pequeno porte e
a maioria delas foi adquirida de segunda mão. Além das peças de carpintaria e ferraria, havia, na época, na oficina, uma seção mecânica, com seis máquinas de furar, três grandes tornos mecânicos, outros cinco menores, três plainas limadoras, seis plainas de mesa, uma vertical, além de outros acessórios. Funcionava, também, a fundição, com seus fornos, seções de modelagem e de caldeiraria leve. O número de funcionários passara para quarenta, crescendo, pelo menos, cinco vezes em dez anos.
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Regulamentação do mercado açucareiro Com a crise do café, em 1929, os agricultores passaram a investir na lavoura canavieira, principalmente os paulistas, tornando o estado auto-suficiente na produção de açúcar, e privando a outra grande área fornecedora, o Nordeste, do seu maior mercado consumidor. Dessa forma, a produção paulista de açúcar, que foi de 155 348 sacas de sessenta quilos em 1925, passou para 1 853 937 sacas em 1934.
Paralelamente, com a finalidade de incentivar a fabricação de álcool, o governo Vargas ofereceu um prêmio de cinqüenta contos de réis à primeira destilaria construída no país até 31 de março de 1932, capaz de produzir, no mínimo, 15 000 litros por dia, e tornou obrigatória a adição de 5% de álcool à gasolina importada. Estimulou-se, também, a instalação de destilarias que produzissem álcool diretamente da cana-de-açúcar. Sem seu maior comprador A partir de 1932, foram e diante da impossibilidade de firmados contratos com parexportação, por causa dos preços ticulares para a implantação desestimuladores, a agroindústria dessas destilarias e, em novembro açucareira nordestina viu-se diante daquele ano, limitou-se a prode uma grave crise. Para salvá-la da dução de açúcar pela média das bancarrota, o governo de Getúlio safras dos cinco anos anteriores. Vargas decidiu intervir no assunto, Essa restrição só seria, no entaninicialmente, por meio da Coto, amplamente aplicada, quatro missão de Defesa da Produção de anos mais tarde. O governo estaAçúcar e da Comissão de Estudos beleceu, ainda, estoques regulasobre o Álcool-motor. Esses dois dores para o açúcar e incentivou órgãos seriam incorporados, pouco as exportações. depois, em 1933, pelo Instituto do O IAA manNos anos 1930, Açúcar e do Álcool teve estáveis os a Dedini se beneficiou (IAA), que passou preços internos do a estabelecer a do apoio governamental açúcar, tomando política para o setor como base aqueles ao setor sucroalcooleiro sucroalcooleiro. vigentes no Rio de
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Janeiro, o que favoreceu ainda mais a produção do Centro-Sul. Outra medida de impacto foi a proibição da montagem de novos engenhos e usinas, em julho de 1933, sem prévia consulta e aprovação. A licença só seria concedida quando a usina utilizasse canaviais já existentes, ou modernizasse engenhos desativados. A finalidade expressa do IAA era assegurar o equilíbrio interno entre as safras anuais e o consumo de açúcar e estimular o fabrico do álcool anidro, por meio das destilarias centrais. Para tanto, a produção de açúcar foi limitada a cotas, proporcionais à capacidade instalada de cada usina e à produção dos cinco anos anteriores. Nessa altura, São Paulo já se tornara o segundo produtor nacional, só superado por Pernambuco. Todas essas medidas adotadas acabaram por estabilizar o mercado interno de açúcar. Se, de um lado, a política do novo órgão, que estipulou o sistema de cotas de produção por estados da federação, salvou a economia açucareira nordestina da falência, de outro, levou a indústria paulista à auto-suficiência. Segundo estudiosos, essa atuação
governamental impediu a concorrência prejudicial entre usinas demasiadamente próximas, além de possibilitar a melhor alocação de recursos financeiros, antes utilizados na aquisição desenfreada de terras para cultivo de cana. Nos anos 1930, Piracicaba produzia cerca de 20% do açúcar do estado. Aproveitando a possibilidade de financiamento para aquisição e instalação de destilarias de álcool anidro, anexas às usinas, entrou em funcionamento a primeira unidade do Brasil em Piracicaba (1933), com capacidade de produção de 12 000 litros por dia. Nessa época, a Societé des Sucrèries Brésiliennes começou, também, a fabricar álcool anidro em todas as suas unidades.
Concorrência fraca Essa conjuntura foi muito benéfica para a M. Dedini, que passou a auxiliar os empresários paulistas a transformar os arcaicos engenhos turbinadores (que não possuíam cozedores a vácuo) em modernas usinas. Assim, quando ocorreu o deslocamento do pólo açucareiro do Nordeste para o Sudeste brasileiro, a empresa era praticamente a
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Equipamentos Dedini instalados em usina de açúcar, na década de 1940
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única em todo o território nacional com condições de fornecer máquinas e equipamentos específicos para atender a esse novo mercado em expansão. Pelo que se tem conhecimento, no início do século XX, estavam em funcionamento a antiga Fundição do Brasil, do Recife, que prestava serviços de reparos e reformas, e a Esperança. Esta pequena indústria instalada em Itabira (MG) fabricou, durante algum tempo, máquinas para o setor açucareiro, vendidas em São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Ao longo do tempo, surgiram outros estabelecimentos para atender o setor canavieiro, mas a maioria era constituída de pequenas oficinas, mal aparelhadas, com mão-de-obra sem especialização e, portanto, de vida efêmera. Nos anos 1920, atuavam, no estado de São Paulo, a Martins Barros, na Capital, fabricante de pequenas moendas de cana; a Tonanni, em Jaboticabal, produzindo centrífugas para engenhos turbinadores; e a da família Krähenbühl, em Piracicaba, que também fabricava moendas e alguns implementos agrícolas (cujo maquinário foi, mais tarde, adquirido pela Dedini).
No Rio de Janeiro, já operava, também, desde 1935, a Companhia Federal de Fundição, que produzia vários equipamentos, como centrífugas, cristalizadores, bombas, trilhos e prensas, entre outros. Também naquela cidade, a Fundição Guanabara – Cia. Metalúrgica fabricava alguns itens para usinas e destilarias. No início da década de 1940, surgiu, na Capital de São Paulo, ainda, a primeira empresa especializada na construção de destilarias, a Sociedade Construtora de Destilarias e Indústrias Químicas (Codiq), que passou a fornecer equipamentos nacionais aos interessados. A empresa foi fundada e administrada por engenheiros franceses, que haviam trabalhado na Societé des Etablissements Barbet, responsável pela instalação de inúmeras fábricas de álcool anidro e retificado e indústrias químicas no país, até então importadas. A maioria dos estabelecimentos era constituída, portanto, de pequenas oficinas pulverizadas na Capital, no interior de São Paulo ou na cidade do Rio de Janeiro, fabricando apenas determinados tipos de equipamentos. Como a concorrência no setor de bens para produção sucroalcooleira era, então, quase inexis-
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tente, a Dedini viu-se estimulada a investir, ainda mais, na ampliação da sua linha de produtos.
A primeira usina Uma experiência considerada decisiva para que a Dedini passasse à condição de empresa nacional fabricante de equipamentos ocorreu em 1932. Nessa ocasião, Mario Dedini foi até a região de Campos (RJ), tradicional pólo açucareiro, para avaliar as condições de uma usina, velha e desgastada, que seu compadre e amigo Pedro Ometto desejava adquirir para instalar na fazenda Boa Vista, em Iracemápolis (SP), próximo a Piracicaba. Surpreendidos pela eclosão da Revolução Constitucionalista de 1932, os dois amigos foram obrigados a permanecer no Rio de Janeiro até o restabelecimento do sistema de transportes. O negócio, porém, se concretizou, e as pesadas máquinas da usina foram desmontadas e transportadas para as Oficinas Dedini por trem, onde seriam reformadas; inclusive o conjunto de dois ternos de moendas, com dimensões de vinte por trinta polegadas, e um conjunto esmagador, acionado
por máquina a vapor. Eram equipamentos maiores e mais complexos do que aqueles construídos até então, e a experiência adquirida nesse trabalho permitiu a acumulação de maior conhecimento técnico sobre o assunto. Pouco tempo depois, a Dedini construiu e vendeu ao comendador Virgolino de Oliveira outro conjunto de moagem com a mesma capacidade, com projetos dos próprios técnicos da empresa. A partir daí, a linha de produtos ampliou-se ainda mais, com a fabricação de outros equipamentos para as usinas. Outro passo importante daqueles tempos foi a aquisição de um forno, inicialmente a óleo e, depois, elétrico, que possibilitou a produção de peças de aço. Com a instalação de um forno da marca Fulmina, foi possível, também, fabricar eixos das moendas que obtiveram muito sucesso, pois os utilizados até então, importados da Alemanha, quebravam facilmente. Nessa época, em um ato patriótico, Mario Dedini resolveu colaborar com a Revolução Constitucionalista de 1932. Para tanto, efetuou algumas modificações na estrutura e programação da oficina, e passou a fabricar ma-
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O TRIO INCOMPARÁVEL Por volta de 1928, o imigrante Pedro Ometto (1893-
sação importar em alguns milhares de réis, e recusou o fia-
1966) procurou Mario Dedini na sua oficina, estabelecida
dor oferecido por Virgolino, respondendo que “sabia estar
no bairro da Vila Rezende. Desejava ampliar e modernizar
tratando com um homem de bem, e que isto lhe bastava”.
seu engenho, no bairro da Água Santa, nas proximidades
Bons tempos aqueles em que as negociações se baseavam
de Piracicaba, onde, juntamente com os irmãos, plantava
na confiança mútua. Estava formado, assim, o trio de ami-
cana e fabricava aguardente.
gos, inseparáveis no trabalho e no lazer, fortalecido por inú-
A conversa rendeu muito mais que uma simples venda: nascia, naquela ocasião, uma amizade entre os dois empre-
meras sociedades em negócios, e por laços de compadrio e de parentesco, estabelecidos ao longo do tempo.
sários, que duraria todas suas vidas. Era, também, o início de
Com Pedro Ometto, Mario Dedini encontrava-se qua-
parceria frutífera em inúmeros negócios bem-sucedidos, que
se diariamente em Piracicaba. Nos finais de semana, ele
contribuíram para transformar Pedro Ometto no “rei do açú-
costumava, sistematicamente, visitar o amigo Virgolino em
car”, pioneiro de um grupo que até hoje domina a produção
Itapira, onde promoviam, com as respectivas famílias, chur-
sucroalcooleira do país, e Mario Dedini no maior fabricante
rascos e festas sempre muito alegres e animadas.
nacional de bens de capital para o setor de açúcar e álcool.
Em 1936, Mario Dedini ficou sócio de Pedro Ometto na
Logo depois, em 1930, foi a vez de Virgolino de Oliveira
usina Costa Pinto, até hoje em funcionamento em Piracica-
(1901-1962), um jovem moreno e alegre, visitar a Oficina,
ba, fornecendo equipamentos não só para essa, mas para
à procura de Mario Dedini. Ele queria conversar sobre a
muitas outras indústrias da família Ometto. Mario Dedini só
reforma de seu engenho de açúcar “batido”, próximo à
deixaria de ser sócio da família Ometto em 1965, um ano
cidade paulista de Itapira. Após longa conversa, o negócio
antes da morte do amigo Pedro.
foi realizado. Mario facilitou o pagamento, apesar da tran-
Em 1941, Mario convidou o filho de Pedro, Dovilio, que acabara de formar-se em engenharia agronômica na “Luiz de Queiroz” para trabalhar com ele na oficina. Dois anos depois, Dovilio se casaria com a filha do grande amigo Mario, Ada. Mais tarde, tornou-se o sucessor do sogro, no comando do conglomerado de empresas por eles formado. A amizade entre os três empresários durou enquanto viveram: Virgolino de Oliveira foi o primeiro a falecer, vítima de trágico acidente aéreo; depois, em 1964, foi a vez de Pedro Ometto, e, finalmente, Mario Dedini, em 1970. Quem conviveu com os três amigos, costuma
Os amigos Pedro Ometto, Mario Dedini e Virgolino de Oliveira
dizer que, onde quer que estejam, com certeza, eles ainda estão juntos, entabulando negócios, trocando idéias, fazendo piadas e inventando novidades...
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terial bélico para suprir o exército paulista com peças de reposição e munição para serem utilizadas pelas tropas em combate. O principal destaque nesse esforço de guerra foi a fabricação de granadas, em ferro fundido, com formato de abacaxi, como passaram a ser chamadas; na verdade, lembravam a aparência da fruta, com sua cúpula arredondada, a outra extremidade cilíndrica e o invólucro, modelado com pequenos quadrados. Não se sabe quantas unidades foram produzidas, mas o certo é que o industrial não recebeu nenhuma remuneração pelo trabalho.
Vetor de progresso A partir da década de 1930, o carro-chefe na produção da empresa passou a ser os conjuntos de moagem de cana, inicialmente, feitos em ferro fundido. Para comercializá-los, Mario Dedini adotava método peculiar e muito eficiente, praticado até os anos 1960. Por meio de acordos pessoais, ele oferecia novos equipamentos para ampliação e modernização das usinas, aceitando as máquinas obsoletas como parte do pagamento.
Muitas vezes, oferecia conjuntos completos de moagem atualizados e com maior capacidade. Segundo o relato de seu genro, Dovilio Ometto, em abril de 2005, presidente do grupo Dedini, desde os anos de 1970, que assistiu inúmeras vezes a essas negociações, elas realizavam-se na base da confiança: o empresário não se importava de vender menos, quando percebia que o comprador não necessitava de equipamentos de maior capacidade. “O cliente vinha, geralmente, com dinheiro contado para a compra do maquinário. Meu sogro, então, fazia-lhe um planejamento, aconselhandoo a não gastar tudo com máquinas e investir, também, na melhoria de suas plantações de cana. Quando obtivesse lucros, voltaria para ampliar a usina.” A forma de pagamento, geralmente, era parcelada: um terço por ocasião do pedido, um terço na entrega do equipamento, e o restante, somente, quando terminasse a primeira safra. Mario Dedini
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Caldeira tipo locomotiva na usina Nossa Senhora da Aparecida, em Itapira (SP), em 1944. Em destaque, seu proprietário, Virgolino de Oliveira
escrevia os pedidos em blocos de notas, e supervisionava diretamente sua fabricação. As máquinas usadas, recebidas como parte do pagamento, por sua vez, eram reformadas e revendidas às unidades de menor porte. Por isso, o economista Barjas Negri afirma, em seu estudo sobre a Dedini (1977), que esse tipo de comercialização funcionou, naquela
época, como um importante vetor irradiador de progresso tecnológico no setor açucareiro. De um lado, permitiu a consolidação da posição da empresa, ampliando significativamente sua participação no mercado, e, de outro, exerceu papel ativo na dinamização daquele tipo de agroindústria, por meio do incremento da produtividade média.
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Associação benéfica Mario Dedini ia, ainda, mais longe: quando identificava interessados em investir no setor açucareiro sem capital suficiente, associava-se para viabilizar o empreendimento, fornecendo os equipamentos. A primeira usina da qual entrou como sócio foi a Costa Pinto, instalada em Piracicaba, em 1936, juntamente com as famílias Ometto e Bassinelo, cujo capital na época era de 600:000$000 (seiscentos contos de réis). A produção inicial daquela usina foi de 6 055 sacas de açúcar. A maior parte dos equipamentos foi fornecida pela própria empresa, e apenas uma parte importada da Europa. Mais tarde, quando fossem exigidas peças de reposição, ou houvesse necessidade de adquirir novos produtos para ampliar a capacidade, eles teriam, com certeza, a marca Dedini. Nos anos seguintes, além da Costa Pinto, outras usinas foram instaladas, também, nesse regime de associação: a São Francisco do Quilombo, em Charqueada (SP), e a Bandeirantes, no Paraná, ambas em 1942. Tais parcerias foram benéficas para a empresa, uma vez que Mario Dedini era, ao mesmo tempo, fabricante de equipamentos para o
setor e proprietário de usinas; estas funcionavam como verdadeiros laboratórios para seus produtos, constantemente aperfeiçoados e testados nas unidades em que participava como acionista. No período de 1939-1945, coincidindo com o aumento da produção paulista de açúcar, a Dedini vendeu a diversas unidades fabris pelo menos catorze conjuntos de moagens, com grande porte para a época (29 por 36 polegadas, 24 por 48 polegadas e 26 por 48 polegadas). Esses maquinários já possuíam mais de 90% de capacidade de extração de caldo. Em São Paulo, dentre as usinas que adquiriram equipamentos estavam: Pedra (Serrana), Santa Cruz (Capivari), Santa Elisa (Sertãozinho), Santa Lucia e São João (Araras), Paraíso (Charqueada), Costa Pinto (Piracicaba). Havia também, compradores de outros estados, como as usinas Porto Real (Floriano, RJ), Bandeirantes (Bandeirantes, PR) e Fundação Brasil Central (Rio Doce, GO), entre outras.
Auto-suficiência paulista Nessa época, com a política de estímulo do IAA para ampliar e modernizar antigos engenhos, o número de usinas instaladas em
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São Paulo dobrou, passando de vinte, em 1929, para quarenta, em 1945. Dessa forma, o estado deixou, nos anos seguintes, de ser dependente do açúcar proveniente de outros locais, passando a produzir as quantidades necessárias para atender a demanda do mercado. Ao término da Segunda Guerra Mundial, os usineiros paulistas reforçaram a pressão junto ao IAA para ampliar suas cotas de produção, o que acabou ocorrendo em 1946. Com o objetivo de modernizar a obsoleta fabricação nacional de açúcar, o governo concedeu cotas aos engenhos turbinadores para transformaremse em usinas. Autorizou, também, a instalação de novas unidades. Em decorrência dessa situação, a cidade de Piracicaba, um dos mais tradicionais centros produtivos de açúcar e álcool, recebeu impacto positivo dessa onda de desenvolvimento. A substituição dos engenhos pelas usinas ocorreu no mesmo ritmo do resto do país, mas a concentração e a modernização dos estabelecimentos, no entanto, foram impressionantes. Máquina fresadora na Oficina Dedini, na década de 1940
Em 1953, o IAA havia registrado 56 pequenos engenhos de açúcar e aguardente, disseminados
pela extensa área rural do município. Dez anos depois, a relação oficial estava reduzida a cinco grandes usinas responsáveis pela produção local de açúcar: Piracicaba (antigo Engenho Central), Costa Pinto, Modelo, Santo Antônio e Monte Alegre. Destas, apenas uma sobreviveu até os dias atuais, a Costa Pinto, pertencente ao grupo Cosan. Piracicaba não conseguiu, no entanto, manter a hegemonia da produção em relação a outros municípios paulistas. A grande expansão das lavouras na década de 1950 ocorreu nos municípios canavieiros da Média Depressão Periférica e, principalmente, em áreas novas do planalto paulista, onde não haviam sido instaladas usinas. Regiões como as de Ribeirão Preto e a vizinha Sertãozinho tornaram-se rapidamente as maiores produtoras do estado. Um dos maiores beneficiados com a modernização da indústria açucareira paulista, e, especialmente, de Piracicaba, foi o empresário Mario Dedini, proprietário da única fábrica capaz de fornecer equipamentos para esses estabelecimentos. Sua empresa determinou e influenciou profundamente a expansão industrial na cidade.
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Diversificação da produção Com o crescimento do parque açucareiro paulista, foi necessário produzir conjuntos de moagem com maior capacidade e, também, diversificar a linha de produtos para atender de forma mais completa as necessidades das usinas. Assim, nos anos 1940, a M. Dedini fabricava, além dos conjuntos de moendas, tanques, caldeiras, evaporadores, cristalizadores, aquecedores, turbinas, motores a vapor, secadores de açúcar, bombas, ejetores e condensadores, entre outros. Para fabricar caldeiras e seus acessórios, a M. Dedini enfrentava grandes dificuldades naquela época. As chapas de aço utilizadas na sua confecção eram importadas dos Estados Unidos e a técnica muito rudimentar, com o emprego de um sistema de soldar as chapas na base de “rebite a quente”, operação que demandava muito tempo e esforço. Somente no final dos anos 1930 foi introduzida a solda elétrica, mas, mesmo assim, a empresa ainda ficou na dependência do fornecimento de eletrodos importados. Durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), a Dedini fabricou dois conjuntos de
moendas dos tamanhos 24 por 48 polegadas e 26 por 48 polegadas, sendo o primeiro entregue para a usina Costa Pinto, então, ainda, de propriedade das famílias Ometto e Dedini. Era um conjunto com quatro ternos de moendas dessa dimensão, muito maior que as produzidas na época, capaz de processar 1 000 toneladas de cana por dia, o que permitiu a grande expansão daquela unidade. Naquela ocasião, a empresa passou a fabricar os equipamentos preparadores de cana, os jogos de facas rotativas, cortadoras e niveladoras de cana. Produzia, também, motores a vapor verticais, destinados ao acionamento dos jogos de facas e esteiras de cana, com tecnologia adquirida, também, a partir das inúmeras reformas e consertos feitos para clientes.
Cresce a produção de álcool Outro fato que influenciou grandemente o setor canavieiro, durante os anos 1940, foi a política do IAA para incrementar a produção nacional de álcool. Até então, sua fabricação era uma atividade marginal e irregular, geralmente vinculada às
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Caldeira fabricada pela Dedini, em 1946
usinas. Basta lembrar que, em 1933, havia no Brasil somente uma destilaria de álcool anidro, instalada em Piracicaba, cuja real capacidade de produção era controvertida. Alguns falavam em 5 000 litros, outros em 12 000 litros por dia. Em 1934, mais três destilarias iniciaram suas atividades, em Pernambuco e no Rio de Janeiro. Aos poucos, o setor privado respondeu ao chamado do governo e, diante dos estímulos, foram criadas várias unidades anexas às usinas. Esse crescimento deveu-se, principalmente, à isenção de tarifas de importação de vasilhames para transporte e armazenamento
do produto, e, também, à obrigatoriedade de adição de álcool anidro à gasolina. Em 1941, o teor mínimo da mistura passou de 5% para 20%. O governo concedeu, ainda, outros incentivos para estimular a fabricação de álcool, incluindo facilidades para compra no exterior de máquinas e equipamentos para essa finalidade. Em decorrência da política do governo, em 1939, já funcionavam 39 destilarias no Brasil, que podiam fabricar 33 milhões de litros de álcool anidro por ano, embora sua capacidade nominal fosse maior. Em 1941, o número havia-se elevado para 44 unidades, com produção anual
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Antigas instalações da Construtora de Distilarias Dedini – Codistil, no bairro da Vila Rezende, na década de 1940
efetiva de 76,6 milhões de litros anuais. Era, ainda, no entanto, muito pouco para atender a demanda de todo o país pelo carburante nacional. Dessa forma, abriu-se um atrativo mercado para a indústria de bens de capital voltada para o setor alcooleiro, que soube aproveitar essa oportunidade, aumentando sua capacidade de produção.
Construção de destilarias Investir na produção de equipamentos para fabricação de álcool era uma idéia antiga,
que Mario Dedini conversava há tempos com seus amigos, os irmãos Waldomiro, Américo e Alcides Perissinotto, todos moradores da Vila Rezende. Eles foram pioneiros na confecção de artefatos em cobre, em Piracicaba, consertando panelas, baldes e outros utensílios. Depois de algum tempo, passaram a fazer alambiques para destilação de aguardente e a oficina cresceu, mudando-se para novo ponto, situado no primeiro quarteirão da avenida Dr. Eulálio (hoje Monsenhor Jerônymo Gallo). Na década de 1940, Américo Perissinotto montou uma fábrica
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de destilarias em sociedade com o especialista francês, Jean Joseph Morlet. A coluna por eles idealizada destilava a pinga, transformando-a em álcool puro. Uma delas foi vendida a Umberto Aldrovandi, que a instalou em seu engenho na chamada Estrada do Meio, na zona rural de Piracicaba. Por ocasião da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), devido à falta de combustível, os proprietários de carros de aluguel da cidade enfrentaram o racionamento; para continuar trabalhando, eles enchiam metade do tanque com gasolina e completavam-no com álcool proveniente do engenho do Aldrovandi. Assim, a mistura de álcool com gasolina para abastecimento de veículos já ocorria com sucesso em Piracicaba, em 1940, muito antes de generalizar-se pelo país. Diante da conjuntura, Mario Dedini decidiu fundar a Construtora de Distilarias Dedini – Codistil, constituída em 8 de fevereiro de 1943, e instalada à avenida Dona Francisca, 215, na Vila Rezende, próxima à Oficina Dedini. Ocupava, inicialmente, área total de 1 470 metros quadrados, sendo 885 m2 constituídos por edificações.
Quando iniciou as atividades possuía, apenas, seis funcionários; algum tempo depois, a equipe era formada por 165 pessoas. O objeto social da nova empresa era a fabricação e o comércio de máquinas, alambiques, aparelhos, peças, acessórios e instalações do ramo, bem como a montagem de destilarias para álcool e aguardente. Nos primeiros tempos, a nova empresa foi dirigida por Waldomiro Perissinotto e Lázaro Pinto Sampaio. Depois, pelo sobrinho de Mario Dedini, Narciso Gobbin, conhecido como “Nino”, que permaneceu no posto até os anos 1990, quando saiu do grupo para dirigir sua própria empresa. O capital social registrado da Codistil era de Cr$ 400 000,00, distribuído entre os seguintes acionistas: Waldomiro Perissinotto (Cr$ 100 000,00), Nida Dedini Ricciardi e Ada Dedini (Cr$ 75 000,00 cada uma), Dovilio Ometto e Leopoldo Dedini (Cr$ 50 000,00 cada um), Ottilia Furlan Dedini (Cr$ 25 000,00), Arnaldo Ricciardi (Cr$ 15 000,00) e Lázaro Pinto Sampaio (Cr$ 10 000,00). A Codistil operava de forma semelhante à Oficina Dedini: no
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início, fazia apenas alambiques de pequena capacidade, além de reformar e consertar equipamentos já existentes nos engenhos de aguardente do município. Gradativamente, passou a fabricar algumas peças, cuja tecnologia era de domínio público. Dessa forma, habilitou-se para construir uma destilaria completa, em 1943, instalada na usina da Barra (Barra Bonita, SP), então propriedade de Pedro Ometto, cuja capacidade de produção era de 12 000 litros de álcool retificado por dia. Quando terminou a Segunda Guerra Mundial, em face da expansão da empresa, o capital social foi elevado para Cr$ 1 200 000,00, e foram admitidos novos acionistas, além dos já existentes: Mario Dedini, Armando Dedini e Américo Perissinotto. Os alambiques fabricados pela Codistil para fabricação de aguardente de cana, de melaço ou de cereais englobavam vários tipos: com caldeiras simples ou múltiplas, com ou sem retificadores, aquecidos a fogo ou a vapor, em serpentinas, “borbotores”, ou camisas. Podiam operar a banho-maria, serem fixos ou móveis, com capacidade de carga que variava de cinco litros, para análises de amostras, até 5 000
litros para cada corpo ou caldeira de produção diária. As colunas destilatórias para fabrico do álcool podiam utilizar diversos tipos de “vinhos”: de cana, melaço, matérias amiláceas, suculentas ou alcoólicas. Sua capacidade de carga atendia também, desde a escala de laboratório, até produções maiores do que 60 000 litros por dia. No primeiro decênio de atividades, a Codistil já havia fabricado, pelo menos, 140 destilarias para aguardente, e trinta para produção de álcool. Sua atuação englobava inúmeras instalações industriais de destilação para fabricação contínua de aguardente, de álcool retificado de baixo e alto grau; para retificação de flegmas ou aguardentes; para destilação-retificação (contínua direta e indireta) para obtenção de álcool retificado industrial, fino e extra-fino e destilação-retificação-desidratação contínua, direta para álcool anidro. As instalações para destilarias Codistil eram fornecidas completas, com os equipamentos destinados ao preparo do mosto, do levedo alcoólico, de fermentação, reservatórios diversos, estruturas metálicas e outros acessórios.
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No setor de construção de alambiques e destilarias, a Codistil enfrentou, na década de 1940, a concorrência da Morlet S.A., também instalada em Piracicaba, com uma centena de funcionários aproximadamente, constituída com capitais locais que teve grande expansão nos anos seguintes. Em 1960, a Dedini adquiriu a parte majoritária de suas ações, então, em poder do grupo Bardella, de São Paulo. Posteriormente, em 1969, a empresa foi totalmente absorvida e incorporada à Codistil.
Evolução tecnológica Durante a Segunda Guerra Mundial, as oficinas Dedini também se engajaram ao esforço bélico e produziram capacetes e pés de metralhadoras para as tropas aliadas. Mario Dedini não deixou, entretanto, de ajudar seus compatriotas. Por volta de 1943, ele trouxe marinheiros de um navio italiano para trabalhar em suas oficinas. Eles haviam ficado detidos no porto de Santos, devido à proibição de navegação que os aliados, entre eles o Brasil, impuseram aos países do chamado Eixo (Alemanha, Itália e Japão). Os italianos viveram durante algum
tempo em Piracicaba, e só regressaram ao continente europeu depois do término do conflito. Paralelamente, prosseguiam na empresa os esforços para melhorar a tecnologia de produção, com o aperfeiçoamento dos conjuntos de moagem de cana, bastante superiores em tamanho e produtividade. Com dimensões de 34 por 54 polegadas, passaram a contar com quatro ternos de moendas, podendo processar 1 500 toneladas de cana por dia. Um pouco mais tarde, em 1954, as moendas passaram a ser construídas com maiores dimensões, acionadas por turbinas da marca GHH, importadas da Alemanha. As primeiras foram instaladas na usina Central de Piracicaba. Tais equipamentos seriam capazes de atender a demanda do setor nos vinte anos seguintes. Nessa mesma época, a Dedini já produzia motores a vapor horizontais, de até 1 000 hp, destinados a movimentar os conjuntos de moendas, até então importados. No decorrer do tempo, muitos outros aparelhos entraram na linha de produção da empresa, com destaque para as caldeiras geradoras de vapor, de vários tipos, indis-
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pensáveis ao funcionamento das usinas que, juntamente com as moendas, se tornaram os principais equipamentos produzidos pela indústria. Dessa forma, ao término da Segunda Guerra Mundial (19391945), a M. Dedini consolidou-se como uma empresa nacional de grande porte, capaz de produzir todos os equipamentos para usina de açúcar, passando a atender, em nível nacional, as necessidades dos produtores. Intensificou seu ritmo de produção, em virtude da expansão da indústria açucareira paulista. Assim, o aumento de capacidade produtiva, aliado à valorização das reservas financeiras, acumuladas pela empresa durante o conflito, permitiram seu fortalecimento e reequipamento. Em 11 de novembro de 1945, a empresa deixou de ser individual, adquirindo a denominação M. Dedini & Cia., elevando seu capital social de Cr$ 1 000 000,00 para Cr$ 6 000 000,00, dividido entre os seguintes acionistas: Mario Dedini (Cr$ 2 000 000,00), seus filhos Armando, Ada e Nida com Cr$ 1 000 000,00 cada um; seu sobrinho Leopoldo Dedini e seu genro Dovilio Ometto, com Cr$ 500 000,00 cada um.
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Montagem de moendas nas Oficinas Dedini para a usina Santa Elisa, Sert達ozinho (SP), em 1948
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Buscando o equilíbrio Durante o pós-guerra, o setor açucareiro voltou a enfrentar problemas. Para contorná-los, o governo instituiu, em 1947, o Estatuto da Lavoura Canavieira, que estabeleceu o máximo de 60% do consumo de matéria-prima a ser fornecido pelas lavouras próprias das usinas, devendo o restante ser obrigatoriamente proveniente de plantadores autônomos. Essa política governamental teve grandes repercussões; passados os primeiros anos de restrições e dificuldades, o mercado reencontrou o equilíbrio entre a oferta e demanda. Para tanto, foi necessário que o IAA comprasse e estocasse grandes quantidades de açúcar durante várias safras. Estimulado por aquele órgão, o tradicional segmento canavieiro pôde modernizar-se, ao longo do tempo. Gradativamente, os velhos engenhos desapareceram, abrindo espaço para as usinas. Em 1925-1926, eles eram responsáveis por 42% do total fabricado pelo país. Essa participação caiu para 20%, em 1947-1948, até tornar-se inexistente, nos anos posteriores. Embora não conseguisse corrigir a instabilidade do setor,
inerente à própria natureza do produto, a política do IAA consolidou a indústria açucareira em bases mais sólidas, organizada para crescer e para melhor enfrentar os impactos das crises internacionais. Apesar das reclamações dos produtores paulistas, que se viram limitados no crescimento, o IAA assegurou ao Nordeste a manutenção dessa atividade, vital para seu desenvolvimento; no entanto, em ritmo muito menor do que no Centro-Sul.
Abertura das importações Com o término da Segunda Guerra Mundial, cessou a proibição das importações de equipamentos, e a economia nacional viveu um breve momento de euforia, diante do acúmulo de reservas monetárias decorrentes da suspensão das compras no exterior no período em que durou o conflito. A conseqüência imediata dessa política cambial para a economia açucareira foi, em um primeiro momento, o aumento das importações para aquisição de máquinas e equipamentos. Nessa época, o estado de São
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Paulo foi favorecido pelo IAA, com aumento da sua cota de produção para que pudesse suprir a demanda de açúcar no mercado interno. Assim, precisava importar diversos equipamentos para modernizar ainda mais seu parque fabril. Quando o governo acenou com a possibilidade de aquisição de máquinas no exterior, em vez de prejudicada, a Dedini também beneficiou-se com a elevação dos preços de seus produtos para um patamar mais alto, nivelando-os com os dos importados. Segundo Barjas Negri (1977), esse dinamismo eficiente da empresa, perfeitamente ajustado às condições de mercado, expressava-se no contínuo avanço tecnológico verificado naquela época, nos equipamentos produzidos, no que se refere à capacidade e à escala, ou na introdução de novos aparelhos na linha de produção. A política cambial praticada com a retomada das importações de bens de consumo e de capital, no entanto, foi desastrosa para o país, provocando grande endividamento. No ano de 1947, já havia vultosos déficits nas transações correntes e, diante
dessa situação, o governo decidiu introduzir novamente rígidos controles administrativos às importações consideradas supérfluas, em substituição à desvalorização cambial antes adotada. Dessa forma, no início da década de 1950, foram tomadas diversas medidas visando estimular o desenvolvimento econômico, tais como investimentos em sistemas de transporte e energia e a instituição de uma reforma cambial. Essas modificações influenciaram positivamente o processo de industrialização em curso do país, consolidando uma reserva de mercado para as produções que possibilitassem substituição de importações; estas, por sua vez, passaram a obedecer a taxas de câmbio mais elevadas. A concessão de subsídios e o favorecimento à entrada de capital estrangeiro destinados à expansão da indústria de bens de capital sob encomenda, de bens de consumo durável e de bens intermediários e insumos necessários ao desenvolvimento industrial, acabaram, no entanto, contribuindo para aumentar o processo inflacionário. Desde meados da década de 1940, a indústria pesada vinha se
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consolidando no Brasil, estimulada pelo governo Vargas. Esse setor da economia caracterizavase pela forte intervenção direta ou indireta do Estado, e pela participação do capital estrangeiro. Assim, surgiram, nessa época: a Cia. Vale do Rio Doce (1942), a Acesita (1944), e a Companhia Siderúrgica Nacional (1945), entre outras. No início da década seguinte, instituiu-se o monopólio estatal sobre o petróleo, com a instalação da Petrobras, após campanha com grande mobilização popular, e estabeleceu-se o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE, hoje BNDES), que se tornaria, nos anos seguintes, o principal agente financiador de projetos na área siderúrgica e de geração elétrica. Por outro lado, os preços do açúcar no mercado internacional haviam-se elevado durante a Segunda Guerra Mundial, mas o Brasil tinha dificuldades para exportá-lo, devido à precariedade do transporte marítimo. O escoamento das safras era mais problemático no Nordeste, o que contribuiu, ainda mais, para acelerar o processo de decadência das usinas ali instaladas e a transferência do eixo produtivo para São Paulo.
Aumenta a diversificação Em 1948, surgiu em Piracicaba a Metalúrgica de Acessórios para Usinas S.A. – Mausa, como resultado da associação do industrial Lino Morganti, até então diretor da Refinadora Paulista S.A., do engenheiro Rubem de Souza Carvalho e do técnico João Bottene, perito em indústria mecânica e ex-proprietário de um estabelecimento de consertos e reparos dos trens da E. F. Sorocabana, entre 1925 e 1940. Mais tarde, Mario Dedini e outros membros de sua família associaram-se à Mausa, adquirindo, sucessivamente, ações da empresa, até obterem seu total controle acionário. Essa indústria tornou-se um importante estabelecimento da cidade, em funcionamento até os dias atuais, fornecendo produtos para usinas de açúcar e de álcool e para outros setores, como petroquímico e de fabricação de papel. No início, a Mausa utilizava a seção mecânica da M. Dedini para usinagem de suas peças. Em pouco tempo, a nova fábrica estava produzindo 30% dos equipamentos necessários à instalação das usinas de açúcar. A Dedini fornecia o restante. Tanto uma como
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outra empresa trabalhavam pelo sistema de encomendas. O objetivo social da Mausa era “fabricar máquinas e acessórios, consertos e instalações industriais, realizar importações e exportações de máquinas”. Um belo prédio para abrigar a fábrica foi erguido no centro de Piracicaba. Com capital de Cr$ 1 600 000,00 (um milhão e seiscentos mil cruzeiros), a empresa tinha como sócios: João Bottene, Romeu de Souza Carvalho, Lino Morganti, Mario Dedini, com participação de 15% cada um; Armando Dedini, Leopoldo Dedini, Dovilio Ometto e Arnaldo Ricciardi, com participação de 10% cada um. A Mausa fabricava aqueles equipamentos para as usinas não produzidos pelas outras duas
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unidades (Metalúrgica e Codistil), e cuja tecnologia não havia sido assimilada ainda. Assim, recorreu-se ao conhecimento de profissionais especializados para desenvolver novos produtos, como foi o caso de João Bottene, que além de possuir participação acionária, também tornou-se diretor-gerente da nova empresa. Com a instalação da Mausa, pretendia-se obter uma divisão de trabalho mais eficiente, permitindo produção em maior escala e, conseqüentemente, com maior economia. A fabricação abrangia uma linha mais diversificada para atender as usinas como filtros para caldos, diversos tipos de filtros rotativos, centrífu-
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diversificação das linhas de progas convencionais, decantadores dução. Com isso, a rentabilidade (clarificadores), redutores de do grupo cresceu, auxiliada por velocidade, bombas para diversos uma política de vendas eficiente, fins industriais, mesas alimentaque oferecia doras de cana, assistência técpontes rolantes, Em agosto de 1949, nica localizada além de muitos a Dedini comemora novo e facilidades de outros. financiamento Em 1950, as feito: no tempo recorde de aos clientes. oficinas Dedini sessenta dias conseguiu transformamAlém disso, fabricar e embarcar no se em sociedao setor açucade anônima, reiro vivia um porto de Santos (SP), com com a denomibom momento, destino a Maceió (AL), nação M. Dedini com o desloMetalúrgica S.A. cerca de 1 500 toneladas camento do Dessa forma, eixo produtor de máquinas diversas e nessa época, as para o sudeste destilarias para ampliação três empresas brasileiro e a – a Metalúrgica, transformação da indústria sucroalcooleira a Codistil e a dos velhos do Nordeste. Mausa – posengenhos em suíam conmodernas dições de atender às principais usinas, como já foi dito antenecessidades das usinas e, por riormente. Um bom exemplo isso, tiveram um extraordinário disso foi o caso da família Zanin. crescimento. Naquela época, o Aproveitando a experiência na número de funcionários ultraprodução do açúcar “batido”, passou os mil, sendo quase 30% eles resolveram acatar um deles empregados junto às duas conselho de Mario Dedini, amigo empresas mais novas do grupo. da família de longa data, para abandonar a produção de aguarEssa expansão foi resultado dente na Fazenda São Joaquim, em do contínuo aperfeiçoamento Araraquara (SP), e montar uma técnico, que possibilitou o usina de açúcar cristal. aumento da produtividade e a
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Por volta de 1947, o industrial visitou o amigo e sugeriu o empreendimento a Domingos Zanin. A conversa entre os dois ficou gravada na memória de seus descendentes. Mario Dedini teria comentado que “Ci vuole uma spinta per crescere!” (É preciso um esforço para crescer!). O amigo, Domingos, respondeu: “Ma dove sono gli sghei?” (Mas, onde está o dinheiro?). O Sr. Mario retrucou: “Ma certo! Si lavora e si paga!” (Ora! Trabalha-se, e paga-se!). Assim surgiu a usina Zanin. Em 1947, a produção da Dedini já estava bastante diversificada, a ponto de fabricar unidades completas de fabricação de açúcar. Entre 1945-1948, colocou em funcionamento as usinas: Palmeiras (Araras), Modelo (Piracicaba), Barra Grande (Lençóis Paulista), no estado de São Paulo, e Adelaide, em Ilhota (SC). Participou, também, como acionista da usina Fronteira,
em Frutal (MG), fornecendo equipamentos para sua reforma. Em 1950, Dovilio Ometto já aparece nos documentos da sociedade como diretor-gerente, ao lado de Mario Dedini. O diretor comercial era seu sobrinho, Leopoldo Dedini. Quando a empresa tomou a denominação de M. Dedini S.A. Metalúrgica, naquele ano, foi criado mais um cargo na diretoria, ocupado por Armando Dedini. Em um contexto de fraca concorrência, aliada à grande capacidade produtiva, a Dedini firmou-se como líder do mercado naquela época, dominando o cenário industrial da cidade. Além da M. Dedini S.A. Metalúrgica, da Mausa e da Codistil – Construtora de Distilarias Dedini S.A., todas pertencentes à família Dedini, havia, em Piracicaba, naquela época, apenas um estabelecimento com atuação significativa no setor, a Morlet S.A. Equipamentos para Indústrias.
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DOVILIO OMETTO: A GARANTIA DE CONTINUIDADE Corria o ano de 1941. O piracicabano Dovilio Ometto, um dos filhos do “rei do açúcar”, Pedro Ometto, acabava de formar-se engenheiro agrônomo pela Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, sem sentir, na verdade, nenhuma vocação para o trabalho rural. Sua intenção era aprofundar mais seus estudos, principalmente na área da mecânica, que o atraía bastante. Esse homem calmo e ponderado que, quando jovem, passava horas olhando as estrelas, intrigado com o que havia no infinito, define-se como um incansável otimista e idealista: “Sonhava até acordado, gostava de imaginar o que havia no céu e com esses pensamentos, chegava à sublimação”, recorda-se, emocionado, em depoimento de abril de 2005. Assim, quando recebeu o convite do melhor amigo de seu pai, o industrial Mario Dedini, para trabalhar em suas empresas, recusou de forma educada, mas firme. Foi, então, para a cidade de Campinas (SP), juntamente com o amigo André Tosello, onde fez cursos na área de seu interesse. Sua negativa, entretanto, não convenceu o interlocutor, que, na verdade, queria encaminhar a vida profissional do filho do dileto amigo Pedro. Passados seis meses da conversa inicial, o comendador voltou à carga, comentando: “Chega de teoria, vamos à prática!”. Dessa forma, Dovilio voltou para Piracicaba e começou a
Dovilio Ometto, presidente das empresas Dedini, em seu escritório situado na matriz, Piracicaba (SP), em outubro de 2005
trabalhar nas Oficinas Dedini. Inicialmente, acompanhou as montagens de peças, e logo descobriu que aquele era o lugar ideal para desenvolver sua enorme curiosidade. Considerava um desafio colocar máquinas desativadas em funcionamento.
48 anos), com quem teve os filhos Mario, Claudia e Juliana. É
Certa vez, ele encontrou um forno com acionamento
casado em segundas núpcias com Carmen Eugenie Ometto.
hidráulico abandonado na área da sucata e não descansou
Dovilio permaneceu ao lado do sogro todas as horas e
enquanto não o consertou. Assim, o próprio Mario Dedini, quando havia equipamentos com problemas, costumava dizer: “Chama o Dovilio que ele dá um jeito!”. Em outra ocasião, quando estava sendo instalado um forno elétrico de última geração na Siderúrgica, acompanhou de perto sua montagem, a ponto de ficar 48 horas sem voltar para casa.
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acompanhou ativamente o crescimento do império por ele criado. Por ocasião da maior crise vivida pela empresa, em meados de 1960, vendeu toda a sua participação no grupo Ometto e empregou o dinheiro na Dedini, sem exigir nenhuma data para retorno do empréstimo. “Meu sogro não gostava de pegar financiamentos junto a bancos. Por
Em 1943, Dovilio casou-se com a filha do meio de Mario
isso, quando lhe ofereci dinheiro para saldar os compro-
Dedini, Ada (que viria a falecer precocemente, em 1974, aos
missos urgentes, ele não hesitou. Aceitou, dizendo que eu
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era muito inteligente, pois o dinheiro voltaria com muitos
executivo que comandou a multinacional General Electric
dividendos. Para mim, isso foi um grande estímulo”.
até 2001, tornando-a uma das corporações mais admiradas
Muito tempo depois, Dovilio ficou sabendo que seus ir-
do mundo. Seguindo esse caminho, está implantando em
mãos ficaram muito preocupados com sua atitude drástica.
suas empresas o famoso processo de gestão, o Seis Sigma,
E formaram um fundo financeiro para auxiliá-lo, caso ele
preconizado por aquele administrador.
precisasse mais tarde. Não foi necessário. A Dedini venceu
Com um estilo completamente diferente do sogro, Do-
aquela crise e, muito depois, Dovilio converteu o dinheiro
vilio freqüenta diariamente a sede administrativa da Dedi-
emprestado em ações, demonstrando, mais uma vez, sua
ni. Formou, ao longo do tempo, uma equipe competente,
confiança no futuro das empresas.
recrutada dentro da própria empresa e em indústrias do
Aos poucos, Dovilio foi-se impondo como gerente-geral
setor de bens de capital, que vem implantando conceitos
do grupo, recebendo, segundo ele, todo o apoio do sogro.
modernos de administração, e buscando imprimir a marca
Assim, quando Mario Dedini faleceu, em 1970, Dovilio assu-
da excelência na tradicional indústria.
miu naturalmente o comando das empresas, por consenso
Dovilio Ometto objetiva agora “enxugar” e modernizar
dos acionistas. Para ele, foi um momento difícil: “Era im-
a estrutura operacional da Dedini. Preocupa-se, também,
possível substituir um homem tão carismático como Mario
em torná-la uma empresa cidadã. Para tanto, espelha-se na
Dedini. Por isso, procurei profissionalizar as empresas, con-
imagem do fundador, de quem é grande admirador: “Mario
tratando pessoas conceituadas e altamente qualificadas
Dedini foi um grande homem, teve uma vida emocionante.
para dar conta dessa tarefa”.
Foi um grande empreendedor, muito trabalhador, demons-
Ao longo do tempo, vieram muitas outras crises, e a Dedini resistiu a todas, graças ao comando firme de Dovilio Ometto.
Aprendi muito com seu exemplo”.
Não sem sacrifícios. Nessa luta pela sobrevivência, precisou
O empresário não gosta de recordar fatos passados.
desfazer parte substancial de seu patrimônio. Agora, no início
“Não sou bom para guardar datas”, comenta, sorrindo.
do terceiro milênio, a empresa navega em águas mais calmas,
Prefere falar do futuro, pois o considera mais intrigante.
com boas perspectivas de expansão nos próximos anos, im-
Considera que o setor de bens de capital sob encomenda
pulsionada por uma conjuntura econômica favorável.
está prestes a viver um momento de grande crescimento,
Recentemente, em abril de 2005, o espírito empreendedor de Dovilio Ometto foi reconhecido em nível nacional.
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trando, sempre, bastante iniciativa em seus negócios.
semelhante ao do Proálcool, nos anos 1970, devido ao interesse despertado, em especial, pelo biodiesel.
Ele recebeu o prêmio de Líder Setorial – categoria indústria
Sua equipe já fez os cálculos: quando se efetivar
de base (bens de capital), concedido pelo jornal Gazeta
a adição desse carburante fabricado a partir de óleos
Mercantil. Dessa forma, passou a fazer parte de um seleto
vegetais ao diesel, já prevista em legislação no Brasil, a
grupo de mil empresários do Brasil que discutem e suge-
demanda será maior ainda de quando se iniciou a mistu-
rem soluções para o desenvolvimento do país.
ra de álcool à gasolina. Se isso se concretizar, mais uma
Dovilio Ometto é um homem introspectivo, sempre
vez, o grupo empresarial que Dovilio Ometto comanda
muito interessado em novidades e leitor incansável, o que
será bastante beneficiado, mostrando que sua fé inaba-
lhe permite estar sempre atualizado. No momento, confes-
lável em um futuro melhor e seu otimismo contagiante
sa sua admiração pelo norte-americano Jack Welch, alto
serão justamente recompensados.
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A todo vapor “Olha com que amplidão no horizonte das várzeas O áspero manto das chaminés se perde ao longe”... Ribeiro Couto, escritor brasileiro, no final da década de 1930.
“S
Vapor d’água em chaminés de usina paulista de açúcar e álcool
ão Paulo não pode parar.” Essas palavras de ordem retratavam a nervosa transformação ocorrida na economia paulista que, nos anos 1950, congregava quase 40% dos operários da indústria nacional. Segundo o historiador Sergio Buarque de Holanda, as grandes concentrações de massa, altamente urbanizadas e alfabetizadas, em torno dos estabelecimentos fabris, passaram a dar um cunho inédito e peculiar ao estado paulista, em relação ao restante do território brasileiro, bem distante dos tempos em que predominavam os interesses dos grandes proprietários rurais. Observa-se que, no período de 1948 a 1960, a taxa média anual de crescimento industrial foi de 11,2%, enquanto o da agricultura, 4,3% por ano. Data dessa época, a chegada ao país das empresas multinacionais, implantando a indústria automobilística e de eletrodomésticos. A expansão aumentou a capacidade de trabalho e fez emergir a chamada “primeira geração do consumo”. Assim, ao mesmo tempo em que se fortaleceu o operariado e os movimentos sociais, ampliou-se a classe média no Brasil. Esse progresso foi impulsionado ainda mais pela política do presidente Juscelino Kubitschek (1956-1961), que queria dar ao país “cinqüenta anos de progresso em cinco”. Seus planos previam a industrialização acelerada e a transferência do exterior para o território nacional das bases
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do desenvolvimento. Pela implantação do seu famoso Plano de Metas, com pesados investimentos em energia e transportes, o presidente abriu a economia para o capital estrangeiro, e possibilitou aumento de 80% na produção da indústria nacional. Kubitschek atingiu muitas das metas planejadas. A produção de aço dobrou no período, foram instaladas as hidrelétricas de Três Marias e Furnas e construída a nova capital do país, Brasília. Mais de 20 000 quilômetros de novas estradas foram abertos, privilegiando o transporte rodoviário, em detrimento do ferroviário. Eram objetivos ambiciosos para um país que, no início daquele governo, ainda amargava uma renda de apenas US$ 205 per capita, exibia altos índices de mortalidade infantil e analfabetismo, e possuía um estágio tecnológico equivalente ao dos Estados Unidos há um século atrás, ou seja, 1860.
Diversificação e expansão Diante dessa política desenvolvimentista, na década de 1950, a Dedini já fornecia a maior parte
dos equipamentos para a indústria açucareira, principalmente, com a entrada em funcionamento da Mausa e da Codistil, quando ocorreu maior diversificação da linha de produção. Nessa época, o mercado apresentava grande expansão (cerca 16% ao ano) e a Dedini beneficiou-se desse momento: no período de 1947 a 1952, suas vendas aumentaram seis vezes e meia, apresentando taxa média anual de crescimento de 60%, principalmente com a comercialização de onze usinas no período. O momento coincidiu com a efetivação de grandes investimentos na capacidade produtiva da empresa. As instalações foram reformadas e ampliadas para receber o maior torno vertical existente na América do Sul, pesando 120 toneladas, que possibilitava trabalhar peças com até 4,50 metros de diâmetro. Haviam sido adquiridas, também, duas possantes fresas para peças com até cinco metros de diâmetro, além de um novo torno e uma plaina horizontal, com sessenta toneladas de peso cada. Convidado para conhecer as novas máquinas da Dedini, no início de 1950, o então presidente
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do IAA, Edgard de Góis Monteiro, reconheceu o importante papel exercido pela empresa piracicabana no reequipamento da indústria açucareira nacional, declarando, na ocasião, ao periódico São Paulo Açucareiro: “Vi hoje máquinas admiráveis, de comprovada eficiência técnica, o que assegurará às usinas de açúcar do país maiores facilidades para aquisição de maquinaria, desde as mais simples, até grandes moendas de até 2 500 toneladas diárias, sem as protelações na aquisição de material estrangeiro”.
Nacionais substituem importados Em 1953, os jornais noticiavam que as sete usinas e destilarias instaladas em Piracicaba produziam 1,5 milhão de sacas de açúcar, 3,31 milhões de litros de álcool comum e 3,5 milhões de litros de álcool anidro. Nessa época, ocorreu um fato novo, quando um decreto do governo proibiu as importações de equipamentos para o setor de açúcar e álcool. Os estudiosos do assunto acreditam que tal fato possibilitou à Dedini absorver a fatia de mercado pertencente aos fornecedores estrangeiros, pois era, então, a única instalada no país
com capacidade para fornecer quase a totalidade dos equipamentos necessários às usinas de açúcar e destilarias de álcool. Na opinião de Barjas Negri (1977), essa expansão possibilitou sua consolidação definitiva como uma fabricante de nível nacional. “A partir do momento em que a empresa começou a produzir usinas de açúcar completas, a importação declinou consideravelmente, representando, em 1953, apenas 18% da oferta dos equipamentos. Nos anos seguintes, foi praticamente inexistente, restringindo-se a um ou outro item mais sofisticado.”
A usina mais bonita do Brasil Em janeiro de 1954, a conceituada revista norte-americana The Sugar Journal publicava em reportagem de capa a notícia da construção pela Dedini da usina Nossa Senhora da Aparecida, em Itapira (SP), de propriedade de Virgolino de Oliveira. Na opinião da revista, aquela era, certamente, “a mais bonita e moderna usina do Brasil, combinando o melhor que existe em projeto de arquitetura com o que há de mais arrojado em performance
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de moagem”. A matéria informava, também, que a Oficina Dedini era uma “gigantesca fábrica instalada em mais de 300 000 metros quadrados, provavelmente, a maior fundição da América do Sul, brilhando com suas modernas máquinas de grandes dimensões”.
Participação social Nessa época, a Dedini já influenciava fortemente a vida de Piracicaba. Um exemplo disso foi quando viabilizou a compra, pela prefeitura municipal, da empresa de Melhoramentos Urbanos, responsável pelo precário e deficiente abastecimento de água na cidade. No dia 15 de maio de 1952, o comendador Mario Dedini entregou um cheque pessoal de Cr$ 4 000 000,000 ao prefeito Samuel de Castro Neves, para pagamento da primeira parcela da aquisição da companhia, ficando, outro tanto, para vencer dois meses depois. Dessa forma, ocorreu considerável melhoria nesse imprescindível serviço público para a população da cidade. A iniciativa foi considerada quase tão importante como o dia Torno vertical de 120 toneladas instalado na Dedini no início dos anos 1950: o maior da América do Sul, na época
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em que a água encanada jorrou pela primeira vez em um chafariz na praça principal de Piracicaba, no final do século XIX. Depois do pico de crescimento observado no final dos anos 1940, o mercado de bens de capital para o setor açucareiro estabilizou-se. A comercialização de unidades completas diminuiu, e passou a ser mais direcionada para ampliações e modernizações. Tal situação ocorreu porque as usinas deram um salto qualitativo, aumentando a escala da produção para obter maior rendimento industrial. Assim, o ritmo das vendas da Dedini arrefeceu um pouco, diante da queda da demanda. Nessa época, a empresa procurou melhorar a qualidade técnica de seus produtos e pôde, assim, manter sua posição de líder no mercado. Procurou, também, abrir novas áreas de atuação.
Produção de refratários Um passo nesse sentido foi a instalação da Cerâmica Dedini Ltda., em 1952, destinada à “fabricação de tijolos, telhas, manilhas, ladrilhos e outros produtos de barro cozido, indústria e comér-
cio”. O capital social da nova empresa, de Cr$ 1 200 000,00, era, assim, constituído: Mario Dedini, Ottilia Furlan Dedini, Armando Dedini, Nida Dedini Ricciardi e Ada Dedini Ometto, com Cr$ 200 000,00 cada um; Alfredo Rossini e Aldrovando Fleury, com Cr$ 50 000,00 cada um, e Osmany Junqueira Dias com Cr$ 100 000,00. Como acontecera antes, os integrantes da sociedade, não-pertencentes à família, eram técnicos especializados com bastante conhecimento ou, então, pessoas de confiança dos outros acionistas. A Cerâmica parece ter sido criada para atender às necessidades da M. Dedini S.A. Metalúrgica e de outras ligadas ao grupo, no que se refere ao fornecimento de materiais de construção civil. No início, fabricava basicamente itens feitos de cerâmica vermelha – manilhas, telhas, tijolos e congêneres. No final dos anos 1950, a Cerâmica Dedini deu um salto tecnológico e passou a fabricar materiais refratários para revestimento interno de caldeiras, fornos industriais e canais de chaminés destinados às indústrias em geral. Novas
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máquinas foram adquiridas e houve elevação no capital social. Na alteração de 23 de outubro de 1957 retiraramse os acionistas que não eram membros da família, e outros foram admitidos. Mais tarde, essa indústria, que funciona até hoje, passou a chamar-se Dedini Refratários. Outra empresa do grupo, a Siderúrgica, que seria criada dois anos depois, tornou-se consumidora cativa dos produtos da Cerâmica e serviu, durante muito tempo, como campo de testes para seus produtos.
Surge a Siderúrgica A instalação da Siderúrgica Dedini parece ter surgido da necessidade de melhor atender as outras unidades do grupo, com relação ao fornecimento de peças fundidas em aço, ferro e bronze. Foi constituída em 17 de março de 1955, ocupando uma área próxima à Metalúrgica, com oito alqueires, à avenida 1º de agosto, Vila Rezende. Seu capital social inicial era de Cr$ 100 000 000,00, sendo 10% subscritos por ocasião
de sua instalação, e, o restante, a ser integralizado pela diretoria. O presidente da Siderúrgica era Mario Dedini, e os diretores, Dovilio Ometto, Leopoldo e Armando Dedini. Os acionistas eram os mesmos da Metalúrgica, com a seguinte distribuição: Mario Dedini e Arnaldo Ricciardi, 1,7% cada um; Dovilio Ometto e Leopoldo Dedini, 8,3% cada um; Nida Dedini Ricciardi, 20%; Ada Dedini Ometto, 22%, e Armando Dedini, 38%. A nova sociedade tinha como objetivo “a siderurgia propriamente dita, consecução de laminação de ferros, fabricação de pregos, parafusos e afins, tubos de
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Anúncio no The Sugar Journal (1954) considera a usina Nossa Senhora da Aparecida, em Itapira (SP), projetada e construída pela Dedini, como uma das mais bonitas e eficientes do mundo
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Siderúrgica Dedini implantada em meados de 1950, no bairro da Vila Rezende, Piracicaba (SP)
ferro, semelhantes para industrialização e respectivo comércio”. A laminação e a produção de tubos destinavam-se a completar os aparelhos da caldeiraria do setor de açúcar e álcool, e, também, de vácuos, evaporadores etc. Os pregos fabricados, por sua vez, visavam atender à demanda do setor ferroviário, pois, naquela época, efetuaram-se muitas ampliações na rede existente.
No início, as instalações da Siderúrgica receberam forno para fundição de bronze, depois, ampliado, também, para ferro e aço. Operava, basicamente, com sucata. Quando inaugurou, em 1955, uma linha de montagem da laminação de vergalhões para a construção civil, a nova indústria expandiu-se bastante. Em dois anos, o número de funcionários passou de 45 para 225, e a pro-
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dução anual saltou de três para dezesseis toneladas. Mais tarde, foi instalado um alto forno para processar minério de ferro, mas, até os anos 1970, ele não funcionava regularmente. Além dos setores de aciaria e laminação dos vergalhões, possuía, em anexo, uma fábrica de parafusos e uma divisão cerâmica, cuja produção se destinava à constante renovação dos refratários dos fornos Siemens-Martin.
Arrojo da indústria piracicabana Uma prova do prestígio das indústrias comandadas por Mario Dedini foi a visita, a Piracicaba, do então presidente da República, Juscelino Kubitschek, em 13 de março de 1958, para inaugurar a expansão da Siderúrgica, que acabara de instalar um dos maiores fornos elétricos do Brasil e sua moderna laminação. O presidente estava acompanhado do governador do Estado, Jânio Quadros, do general Nelson de Mello, dos deputados Ulisses Guimarães, João Pacheco e Chaves, Ivette Vargas, Athiê Jorge Coury e outras autoridades.
O presidente foi recebido com bastante entusiasmo por populares, funcionários e diretores da Dedini, e, no final do dia, Kubitschek fez questão de deixar um bilhete escrito de próprio punho, em que ressaltava o “arrojo e a imponência das instalações da indústria de Mario Dedini”. A Metalúrgica e a Siderúrgica operavam em perfeita integração: a primeira recebia aço líquido da aciaria da segunda, e, também, chapas de aço da Cia. Siderúrgica Nacional, da Cosipa e da Usiminas. A Metalúrgica possuía três divisões: fundição, caldeiraria e mecânica. Da fundição, saíam peças de ferro carbono, de aço carbono e de aços-liga, destinadas ao abastecimento de outras áreas do grupo. Fabricava, também, produtos para outros ramos industriais, tais como corpos de prensas, matrizes para estamparia, barramentos para tornos e outras peças de alto valor agregado. A caldeiraria fornecia todos os equipamentos necessários às usinas de açúcar, inclusive, caldeiras de vários tipos. A mecânica chegou a ter em operação, mais tarde, nos anos 1970, cerca de 370 máquinas operatrizes de grande porte para usinagem de peças
Cia. Paulista de Força e Luz, concessionária responsável pelo fornecimento de energia elétrica na região, tiveram de rever o planejamento da demanda de eletricidade para Piracicaba, diante do crescimento industrial da cidade, alavancado, principalmente, pela expansão das Oficinas Dedini. Para tanto, foi necessário instalar uma potente sub-estação própria, que exigiu altos investimentos da empresa. Nesta época, o município estava entre os cinco mais progressistas do Brasil.
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No final dos anos 1950, os engenheiros da
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maiores, além de equipamentos especializados no preparo de peças médias e pequenas. Na Metalúrgica havia, ainda, a divisão de estudos e projetos, responsável pela criação da maioria dos equipamentos de sua linha de produção. No bem equipado laboratório físico-químico existente eram examinados, analisados e testados todos os produtos utilizados e fabricados pelas empresas do grupo.
Contabilizando resultados Por volta de 1950, um impresso publicitário informava que a Dedini contava com mais de 2 000 clientes em vários pontos do Brasil, e possuía a capacidade para produzir mais de 10 000 toneladas de peças por mês. Nessa época, a empresa já havia fabricado 64 usinas completas e 178 equipamentos de moagem, movidos à energia hidráulica, elétrica e a vapor. O catálogo dizia, ainda, que as moendas da empresa processavam mais de 760 000 toneladas de cana por dia em terras brasileiras. A maior parte era destinada a São Paulo, mas houve forne-
cimentos para Minas Gerais, Paraná e Santa Catarina. Nesse número não estavam computadas as pequenas máquinas manuais e as de tração animal, destinadas, ainda, aos pequenos engenhos de aguardente, de açúcar “batido” e de rapadura. As dimensões das moendas fabricadas variavam desde quatro por quatro polegadas até 38 por 78 polegadas, com capacidade de esmagamento de cem quilos até 5 000 toneladas por dia de cana. Eram projetadas detalhadamente na seção técnica da empresa, que contava com desenhistas, copistas e orçamentistas. Ali eram, também, elaborados os projetos de construção de usinas completas, além de reformas e ampliações. Outro carro-chefe da produção eram as caldeiras. Nessa época, já haviam sido fabricadas mais de duzentas unidades de vários tipos: verticais, multitubulares horizontais com tubos de fumaça, do tipo locomóvel ou locomotiva, ou marítimas. Havia, ainda, as caldeiras aquotubulares: de tubos verticais (tipo Stirling), ou de tubos retos e câmaras seccionais, além das caldeiras especiais com paredes d’água na fornalha.
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Pioneirismo tecnológico Naquela época, a empresa líder do grupo em vendas continuava a ser a Metalúrgica, que conseguiu sustentar o faturamento global das unidades fabris nos final dos anos 1950 e na década seguinte, devido ao avanço tecnológico verificado, principalmente, na fabricação dos conjuntos de moagem e das
caldeiras a vapor, que representavam, então, 30% das vendas. Assim, em 1954, a Dedini forneceu à usina Piracicaba (antigo Engenho Central) um conjunto de moendas composto por quatro ternos (do tamanho 37 por 78 polegadas), com capacidade de moagem diária superior a 3 500 toneladas de cana por dia. Esse equipamento permitiria à usina fabricar quase um milhão
Conjunto de moendas fabricado pela Dedini em 1954 para a usina Piracicaba (antigo Engenho Central)
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Projeto de caldeira Dedini, elaborado na década de 1940
de sacas de açúcar, de 60 quilos, por safra (em cerca de 180 dias de trabalho), produção, então, inédita no país. Somente mais tarde, na safra de 1957-1958, uma indústria de Pernambuco conseguiria igualar esse feito. Com relação às caldeiras a vapor, a inovação tecnológica foi constante: no início eram multitubulares (as chamadas “tubos de fogo”, rebitadas). Mais tarde (1949), passaram a ser fabricadas para as linhas de produção de açúcar aquelas com tubos curvos verticais, e com três corpos. Posteriormente, elas tornaram-se verticais, com dois balões e quatro paredes de água
(V2/4) e vertical com dois balões e cinco paredes de água (V2/5). Até 1940, as caldeiras fabricadas pela Dedini não possuíam superfície de aquecimento superior a 350 metros quadrados. Visando atender à expansão das usinas brasileiras, a capacidade foi aumentando e, em 1958, já apresentavam 1 000 metros quadrados de superfície de aquecimento. Como não havia, ainda, legislação específica no Brasil para a construção, instalação e manutenção desses equipamentos, as Oficinas Dedini seguiam, na fabricação, as normas internacionais, usadas em pesquisa e desenvolvimento, testes de produtos, sistemas de qualidade e transações comerciais em todo mundo, estabelecidas pela ASTM International, na época, conhecida como American Society for Testing and Materials. Para aperfeiçoar a produção de caldeiras aquotubulares, pela primeira vez, a Dedini foi obrigada a recorrer à tecnologia estrangeira, adquirida da firma norte-americana Combustion Engineering Inc., à qual pagou royalties, entre 1954 e 1957. Na construção das caldeiras empregavam-se
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(óleo, lenha, bagaço, cascas, chapas especiais, de várias espesserragem, cavacos, sabugos etc). suras, provenientes da Companhia Siderúrgica Nacional, de Volta RedonTais avanços tecnológicos, da (RJ); os tubos eram que demandaA Dedini já da Mannesmann, adequavam grandes dos a suportar altas investimentos possuía condições pressões; os vigamentos, na fabricação, para exportar seus patamares, corrimãos asseguraram a e demais acessórios de liderança nacioequipamentos no sua estrutura metálica, nal da Dedini no final da década de construídos em ferros setor açucareiro 1950. Em agosto de perfilados, e adquiridos ao longo do de terceiros; todas as tempo. Assim, 1958, uma comitiva partes em ferro e aço até meados de de usineiros da Refundido, no entanto, 1950, não havia pública Dominicana eram desenhadas e consainda nenhum truídas pelos técnicos visitou as instalações outro produtor da Dedini. Os fundos nacional, exceto da indústria piraciboleados e as bombas de ela, que produalimentação das caldeicabana, que, pouco zisse caldeiras a ras eram, também, de vapor e conjuntempo depois, fabricação própria. tos de moagem começou a vender completos de Atenção especial maior porte. A para vários países foi dada aos superaempresa era, quecedores, economida América Latina. então, responsázadores, aquecedores vel por mais de de ar e sopradores de 95% do valor total das vendas de fuligem, aparelhos das caldeiras equipamentos para o setor. indispensáveis para se obter Os estudiosos verificaram que, maior aproveitamento do vapor, naquela época, outras indústrias maior economia de combustível e estabelecidas exploravam uma aumento da capacidade de profatia de mercado em que não dução. As fornalhas, por sua vez, enfrentavam concorrência tão foram projetadas para trabalhar forte, concentrando o foco em com diversos materiais de queima
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unidades de menor porte. Dedicavam-se a produzir determinados equipamentos de caldeiraria leve, como tanques, aquecedores, cristalizadores, evaporadores, entre outros, que apresentavam tecnologia mais simplificada e exigiam menores investimentos em máquinas operatrizes.
Ampliando a atuação Mais uma diversificação do grupo foi a criação, em 1957, da Dedini Capellari S.A. Transformadores, também em Piracicaba, com capital de Cr$ 300 000,00. A sociedade apresentava, inicialmente, a seguinte composição: 43,7% pertenciam à família Capellari, 26,7% à família Dedini e o restante dividido entre Dovilio Ometto (18%), Narciso Gobbin (8,3%) e outros (3,3%). O objeto social era a “fabricação de transformadores de voltagem de corrente elétrica e afins”. Esse produto destinava-se, principalmente, a atender as usinas de açúcar, embora fosse comercializado para indústrias de outros setores. Com a denominação de Superkavea S.A., essa produtora de transformadores elétricos, passou, em 1968, a ser
controlada integralmente pelo grupo Dedini. Adquiriu a denominação de Dedini Equipamentos Elétricos Ltda (mais tarde, nos anos 1990, esta empresa foi vendida e, depois, desativada). Barjas Negri (1977) relata, que, nessa época, a Siderúrgica Dedini já vinha operando com maior escala de produção, e seus transformadores elétricos de alta voltagem queimavam e desgastavam-se constantemente, devido ao excesso de atividade: “Assim, a Dedini Capellari operava como uma eficiente oficina de reparos da Siderúrgica, evitando eventuais paralisações prolongadas dos fornos elétricos”. Outra empresa do grupo surgiu em 31 de janeiro de 1959 para atuar, também, no setor canavieiro: a Motocana S.A. Máquinas e Equipamentos Agrícolas. Com capital de Cr$ 3 000 000,00, seu objetivo era “fabricar, em estabelecimento próprio, ou de terceiros, máquinas e implementos para a moto-mecanização canavieira”. Situava-se, também, na Vila Rezende, em Piracicaba, nas proximidades das outras unidades da Dedini, utilizando tecnologia basicamente francesa.
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No início, a Motocana tinha como sócios uma espécie de “holding” – a Administração e Participações Dedini (com Cr$ 1 000 000,00) – e uma empresa francesa, proprietária de diversas usinas na região, a Societé de Sucreries Brésiliennes (Cr$ 1 000 000,00), além de outros acionistas individuais: Jean Gallois (Cr$ 250 000,00), Pierre Navarro (Cr$ 200 000,00), Marc Mouros (Cr$ 200 000,00), Dourival Cruz Lima (Cr$ 250 000,00) e Francisco Antonio Costa Netto (Cr$ 100 000,00). Assim, ao iniciar a fabricação de implementos agrícolas, o grupo Dedini conseguiu atuar nos diversos níveis da produção açucareira, da lavoura até a usina, abrangendo o atendimento a industriais e a fornecedores de cana.
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Logo depois de sua instalação, a Motocana foi também bastante auxiliada pela política governamental, que estimulava o aumento da produção de açúcar e álcool, garantindo financiamentos para ampliação e modernização das usinas (resolução 1761, de 12-12-1963). Por meio desse instrumento, o IAA estabeleceu o Plano de Expansão da Produção Açucareira, cuja meta era a obtenção de cem milhões de sacas de açúcar, a ser atingida na virada daquela década, ou seja, na safra de 1970-1971. Para tanto, permitiu o aumento das cotas de produção das usinas existentes, o que exigiria, naturalmente, sua ampliação e,
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Colheita mecanizada de cana-de-açúcar, na década de 1960
que a iniciativa era muito benéfica: em 1955, a Copira enviou o empresário Homero Correa de Arruda à sede do IAA, no Rio de Janeiro, para expor o alcance da crise decorrente de uma geada, que havia castigado os canaviais, e buscar soluções.
também, a construção de mais cinqüenta novas unidades para fabricar mais de quinze milhões de sacas de açúcar por ano. Diante desse estímulo, a Dedini tratou de equipar-se para atender a essa demanda, efetuando grandes investimentos em maquinários, que somaram, na época, mais de US$ 800 000,00. Assim, seria possível garantir a fabricação, no prazo seguinte de dois anos, de, pelo menos, 32 usinas, com capacidade total de produção de mais de dez milhões de sacas de açúcar. Com a mudança do cenário político e econômico nacional, a empresa, no entanto, pagaria caro por esse vultoso investimento.
Diante do êxito dessa iniciativa, a nova instituição foi se firmando, passando a atuar como eficiente interlocutora, discutindo e encaminhando os problemas do setor. Assim, abriuse um canal de comunicação entre o empresariado e governo, que contribuiu para regularizar o mercado do açúcar, cujos preços estavam aviltados.
Maioridade da indústria açucareira Demonstrando a força da economia canavieira na região de Piracicaba, surgiu, em 1953, a Cooperativa Piracicabana de Usinas de Açúcar e Álcool (Copira), a partir da organização de um grupo de usineiros, coordenados por Dovilio Ometto. A idéia inicial era facilitar a compra de insumos em conjunto para as usinas, mas logo percebeu-se
Em 1959, a Copira fundiu-se com outra cooperativa, a Coopereste, da região de Ribeirão Preto, para formar a Copersucar (Cooperativa Central dos Produtores de Açúcar e de Álcool do Estado de São Paulo). Com o objetivo principal de disciplinar a comercialização do açúcar, a instituição inovou no mercado, embalando, com maior higiene e praticidade, o açúcar cristal das usinas associadas em sacos de cinco quilos. Mais tarde, a partir de 1969, em vez de representantes de vendas, passou a ter entrepostos para comercializar seus produtos
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e chegou a congregar 80% das usinas paulistas. Outro exemplo da grande influência do setor açucareiro em Piracicaba foi a realização, a partir de 1958, das Semanas Canavieiras, reunindo representantes de diversas empresas e instituições estaduais. Os encontros incluíam passeatas com carros alegóricos pelas ruas da cidade, mostras de produtos, e serviam como boas oportunidades para entabular novos negócios.
Celeiro de indústrias e formação de especialistas Para Silvia Sampaio (1972), as empresas Dedini funcionaram, ao longo do tempo, como verdadeiras escolas de aprendizado técnico e aperfeiçoamento de mão-de-obra; foram, também, embriões de novas fábricas, pois muitos de seus funcionários, após adquirirem experiência técnica e profissional, estabeleceramse por conta própria. Assim,
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Equipe de projetistas das Oficinas Dedini na década de 1950
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determinado artigo que os grandes industriais não forneciam”.
Descarregamento de cana-deaçúcar em usina, nos anos 1950
surgiram a Santin S.A. Indústria Metalúrgica (1948) e a Mario Mantoni – Metalúrgica. Segundo a pesquisadora, “independentemente da ação direta do grupo industrial M. Dedini, mas, por efeito de sua influência, outros estabelecimentos mecânicos e metalúrgicos desenvolveram-se na cidade; geralmente, eram de proporções médias e pequenas, e procuraram preencher as lacunas ainda existentes no fornecimento de peças, acessórios e aparelhos para usinas e destilarias de álcool e de aguardente, especializando-se em um
Entre os anos 1950 e 1960, verifica-se que o dinamismo da indústria mecânica transformou Piracicaba no maior centro fornecedor da América Latina de equipamentos para usinas e destilarias de álcool e aguardente. São exemplos desse fato e evidências da especialização técnica existente em Piracicaba: a Metalúrgica Piracicabana S.A. – Mepir (1952), a Metalúrgica Conger S.A. (1962), a Metalúrgica e Fundição Santo Antonio – MEFSA (1967), a Metalúrgica São Carlos (1968), a Fundição Bom Jesus (1969), a HIMA S.A. Indústria e Comércio (1969) e a Indústria e Comércio Fazanaro Ltda. (1970). Embora o objetivo inicial de quase todas essas empresas instaladas tenha sido o atendimento do mercado sucroalcooleiro, a maioria diversificou suas atividades para outros setores. Com essa expansão industrial, a cidade apresentou significativo crescimento, atraindo outros estabelecimentos, principalmente devido à existência do enorme contingente de mão-de-obra especializada. Assim, instalaramse fábricas destinadas ao atendimento do setor automobilístico.
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Outro segmento que ganhou, também, grande impulso na cidade, a partir dos anos 1950, foi o de papel e papelão, aproveitando o bagaço resultante do processamento da cana para produção de celulose. Data dessa época, a instalação da Refinadora Paulista S.A. – Celulose e Papel, pela família Morganti, mais tarde, em 1969, adquirida pelo grupo Silva Gordo, e hoje unidade da Votorantim. A Dedini também atuou nessa área, com a empresa Cimape. Visando a verticalização da produção, a família Morganti instalou, também, em 1953, a Itelpa S.A., destinada à fabricação de telas metálicas, peças indispensáveis ao fabrico de papel e, mais tarde, a Indusfios, que fornecia fios de bronze para a Itelpa. A expansão canavieira seria, ainda, responsável direta ou indireta pelo estabelecimento de várias indústrias no município, ligadas à produção de álcool e seus subprodutos, como adubos, solventes e desinfetantes para usinas, máquinas e aparelhos para cultivo e corte de cana e engarrafamento de aguardente. A grande oferta de açúcar, por sua vez, contribuiu para o estabelecimento de várias fábricas de doces e balas.
Crise à vista Em decorrência dessa política desenvolvimentista de Kubitschek, em 1961, o Produto Interno Bruto brasileiro alcançava taxa de crescimento expressiva, 10,3%, para declinar, nos anos seguintes, a taxas inferiores a 4% ao ano, em média. Esse esforço acabou levando o país a uma grande crise econômica. O estímulo à instalação de empresas estrangeiras constituiu-se uma medida controvertida, pois, se de um lado permitiu a incorporação de novas tecnologias, ameaçou, de outro, a sobrevivência da indústria nacional. O temido fantasma da inflação começou a rondar a economia, e colocou em xeque, principalmente, as empresas nacionais, mais descapitalizadas. No caso da indústria, houve grande desajuste entre a capacidade instalada e a demanda do mercado interno, quadro agravado, ainda mais, pela instabilidade política do país. A partir de 1958, o saldo da balança comercial tornou-se negativo, e ocorreu crescimento das despesas com o serviço da dívida externa. Aumentaram os conflitos com as instituições de
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Placa afixada nos produtos de fabricação Dedini no passado
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Embarque de equipamentos fabricados pela Mausa para a Venezuela
financiamento internacionais, como o Banco Mundial, culminando com o rompimento do acordo com Fundo Monetário Internacional (FMI), em 1959. No setor açucareiro, em meados de 1960, ocorreu uma superprodução, principalmente em São Paulo, obrigando as usinas a deixarem a matéria-prima no campo para evitar maiores prejuízos com seu processamento. Naquela época, a cana não-colhida correspondeu a treze milhões de sacas de açúcar. Muitas indústrias não conseguiram sobreviver. Em Piracicaba, a tradicional Societé de Sucrèries Bresiliennes teve de encerrar suas atividades, vendendo suas usinas e ações a outros grupos.
Enfrentando a crise Para enfrentar a queda do faturamento, o grupo Dedini apos-
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tou firme na diversificação de sua linha de produção, no final dos anos 1950. Quando agravou-se a crise no setor açucareiro, a indústria passou a incrementar, não só a fabricação de pregos e parafusos para o setor ferroviário, como a de bens de capital sob encomenda para outros tipos de indústria. Dessa forma, passou a oferecer tanques estacionários para gases liquefeitos de petróleo, vasos para a indústria química e petroquímica, moinhos “de bolas” para mineração, máquinas diversas para produção de cimento, autoclaves e cozinhadores para processamento de papel e celulose, entre outros. A Siderúrgica, por sua vez, integrada à Metalúrgica, fabricava cilindros, engrenagens, bases e outras peças
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em ferro, aço e bronze, garantindo à Dedini destaque nacional nesse setor. Essa empresa havia sido favorecida pela política de incentivos, estabelecida pelo governo de Juscelino Kubitschek no Plano de Metas (1957-1958), que pretendia implantar uma estrutura industrial integrada no país, prevendo a modernização nos transportes e geração de energia. Esses objetivos beneficiaram os setores de siderurgia e construção civil, que receberam
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com satisfação a realização de grandes obras, como a transferência da capital brasileira do Rio de Janeiro para o Centro-Oeste brasileiro, com a construção de Brasília, a ampliação de portos, construção de novos aeroportos e rodovias. A expectativa, também, era de que, até 1960, a produção nacional de aço em lingotes e laminados fosse duplicada. Outra planta do grupo que apresentou grande
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desenvolvimento, a despeito da situação desfavorável do setor açucareiro, no final dos anos 1950, foi a Mausa. No decênio compreendido entre 1950-1960, chegou a duplicar seu faturamento. A explicação dos economistas para esse fato foi a pequena concorrência na sua área de atuação e a proibição das importações pelo governo, em 1953. Além disso, aquela empresa diversificou e modernizou sua linha de produção, fabricando diversos acessórios para refinarias de açúcar. As centrífugas foram os equipamentos que mais receberam inovações no decorrer do tempo: no início, eram manuais, depois passaram a ser semi-automáticas e, no início da década de 1970, tornaram-se completamente automáticas. Para aperfeiçoar tais aparelhos, a Mausa adquiriu no exterior, em 1956, licença para utilizar a marca de uma indústria de centrífugas para fermento. A empresa passou a atuar, também, em outros setores, além do açucareiro, como papel e celulose, alimentício e farmacêutico, fabricando pontes rolantes, motores elétricos, filtros de segurança e de pressão, balanças etc.
Ao sabor da política do álcool Paralelamente, a Codistil apresentou desempenho irregular entre os anos 1950 e 1960, pois dependia basicamente da política governamental estabelecida para o álcool. Quando sua produção era incentivada, as encomendas aumentavam; caso contrário, sofria instabilidade nas vendas. Na década de 1950, a Codistil já havia fabricado mais de 200 destilarias capazes de produzir, no total, mais de 1,1 milhão de litros de álcool e de aguardente por dia. A empresa tinha sido pioneira na construção e aplicação industrial do chamado processo Melle-Boinot-Almeida, suprimindo a utilização do ácido sulfúrico na fermentação dos mostos de cana, melaço e matérias amiláceas. Naquela época, acreditava-se que tal método garantiria maior economia de insumos, como o enxofre, maior conservação dos aparelhos de destilação e melhor desempenho da fermentação. Apesar desses esforços, verifica-se que, durante a década de 1950, os preços do petróleo importado não estavam em patamares elevados; desse modo, a produção de álcool foi
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desestimulada e sua mistura à gasolina apresentou percentuais irregulares ao longo dos anos. Em conseqüência, sua fabricação era uma atividade marginal nas usinas, realizada principalmente para dar um destino ao melaço, subproduto do açúcar. As destilarias possuíam grande capacidade ociosa e não atraíam investimentos dos empresários. Tal fato prejudicava as vendas de equipamentos para os fabricantes de álcool; mesmo assim, para consolidar sua posição no setor, a Dedini adquiriu, em 1969, o controle de uma empresa concorrente, a Morlet S.A. Equipamentos para Usinas de Açúcar e Álcool, também, estabelecida em Piracicaba, desde 1936, que atuava na mesma faixa de mercado. A negociação envolveu uma cifra significativa na época (Cr$ 550 000 000,00); foi, porém, muito simples e sem formalidades, entre Mario Dedini e Américo Perissinotto, acertada em uma simples folha de papel. Destaque especial estaria assegurado à Codistil, no entanto, alguns anos depois, com o advento do Programa Nacional do Álcool (Proálcool).
União de esforços Com o objetivo de racionalizar a administração de suas empresas, a Dedini resolveu efetuar a fusão da Metalúrgica com a Siderúrgica, em 12 de dezembro de 1958. Na verdade, a medida procurava, também, melhor aproveitar a política de incentivos concedidos à indústria pelo governo Kubits-
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Acerto entre Mario Dedini e Americo Perissinotto para aquisição de ações da Codistil e Morlet, em julho de 1969
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chek, destinados especificamente à siderurgia. Assim, tornava-se mais fácil repassá-los às áreas da metalúrgica e da mecânica, em que o grupo atuava. Assim, a Siderúrgica transformou-se na Administração e Participação Dedini S.A. Esta sociedade era a maior acionista da Metalúrgica, representando a primeira tentativa de administração por meio de uma espécie de “holding”. Outro fato beneficiou o grupo Dedini naquela época. Em 1963, o governo, por meio do IAA, que ditava a política para o setor sucroalcooleiro, instituiu o Plano de Expansão da Produção Açucareira, garantindo financiamentos às usinas de açúcar para aquisição de equipamentos para ampliação e modernização. Dessa forma, no período de 1958 a 1970, as vendas da Metalúrgica representaram, em média, metade do faturamento do grupo. Com exceção da Siderúrgica, todas as empresas do grupo Dedini possuíam alguma ligação com o setor sucroalcooleiro, sujeito a muitas instabilidades. Apesar de trabalharem de forma integrada, permitindo crescimento harmônico nas vendas, não estavam livres dos impactos negativos da conjuntura econômica.
Assim, em 1967, a Metalúrgica viveu uma de suas maiores crises. Pela primeira vez, a empresa encerrou seu balanço contábil com prejuízo, o que a obrigaria a arcar com uma enorme dívida financeira nos anos seguintes. Em 1968, foi obrigada a dispensar, pelo menos, 30% de sua força de trabalho.
Instabilidade e conflitos sociais Enquanto isso, em nível nacional, o sucessor de Kubitschek, Jânio Quadros (1961), não soube contornar a crise emergente. Sua política de combate à inflação incluiu uma reforma cambial, que exigiu o corte de subsídios a diversos produtos, entre eles, o trigo e a gasolina, e ocasionou o aumento do custo de vida. Para piorar a situação, os salários estavam congelados e o crédito restrito. A política de austeridade ganhou tantos opositores que levou à renúncia do presidente, em agosto de 1961. Assumiu a presidência seu vice, João Goulart (1961-1964), que tomou posse sob um novo regime: o parlamentarismo. A crise na economia agravou-se, com o recrudescimento da
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inflação, a desaceleração do desenvolvimento industrial, o desequilíbrio das finanças públicas e o agravamento dos conflitos sociais, em torno da posse da terra e redistribuição de renda. Na opinião de alguns, 1961 marcou o fim da época da rápida industrialização. Nos dois anos seguintes, houve acentuado declínio na evolução do Produto Interno Bruto, cuja média mal superou o crescimento demográfico. O produto industrial verificado em 1963 teve taxa negativa de incremento. Em meio a sérias apreensões e angustiosas
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Embarque ferroviário de engrenagens de moendas para o Nordeste
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A Dedini vence em agosto de 1965 a concorrência internacional para o fornecimento de uma usina completa para instalação na cidade argentina de San Martin, com capacidade de moagem de 1 500 toneladas diárias equivalente a 250 000 sacas de açúcar e 2,5 milhões de litros de álcool por safra. A indústria brasileira competiu com quinze empresas especializadas da França, Inglaterra, Polônia, Holanda e Japão.
expectativas, ocorreu a queda de João Goulart, em março de 1964, substituído por uma junta militar no comando do país. Inaugurou-se uma era de autoritarismo, marcada pela cassação de mandatos e de direitos políticos, fim das eleições diretas, que culminou com o fechamento do Congresso nacional. O general Humberto de Alencar Castello Branco foi empossado presidente em abril de 1964 para governar até 1966, mas ficou no poder até 1967. Um novo modelo econômico foi projetado, com a reforma bancária, a criação do Banco Nacional da Habitação (BNH) e do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). Previa-se a modernização da máquina estatal, o fortalecimento da empresas privadas e o estímulo à entrada de capital estrangeiro. O novo regime adotou o Plano de Ação Econômica do Governo (PAEG) dependente e associado a investimentos internacionais, mas manteve a matriz industrial implementada pelo Plano de Metas. Na tentativa de conter a inflação, a política empregada foi recessiva. Dessa forma, o custo social dessas mudanças foi muito alto.
Para o setor açucareiro e de bens de capital sob encomenda, uma medida do regime militar teria, particularmente, impacto muito negativo. Em 1964, revogou-se o programa de construção de cinqüenta novas usinas para a produção de mais quinze milhões de sacas por ano, formulada pelo governo anterior, deixando de homologar a concorrência para essa finalidade. A indústria de bens de capital, que havia se equipado para atender aquela demanda, sofreu um duro golpe com o cancelamento das encomendas. A situação econômica nacional, na verdade, melhoraria somente mais tarde, a partir de 1968, quando o ritmo de crescimento das atividades foi retomado, provocando o fenômeno conhecido como “milagre econômico”, no período de 1967 a 1973. Foi quando o então ministro da Fazenda, Antônio Delfim Neto, reverteu a política restritiva de seu antecessor, Roberto Campos. Reduziu os juros, injetou crédito na economia, e retomou os investimentos do governo. O Brasil viveu, assim, época de grande desenvolvimento.
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Mantendo posição A Codistil, que monopolizou o fornecimento de destilarias no Brasil até o final dos anos 1960, procurou, a partir daí, diversificar sua produção para tentar escapar das incertezas do mercado do álcool, que flutuava ao sabor das políticas governamentais. Dessa forma, além de destilarias completas, com todos os acessórios, passou a fabricar alguns equipamentos para o setor açucareiro, como secador-esfriador de tambor rotativo a contra corrente; turbo secador-esfriado vertical, unidade para transporte de recuperação de pó; unidades a granel ou ensacado (empilhadeiras e transportadoras de correia ou helicoidal) e equipamentos para calagem contínua. Para a indústria de fertilizantes, a Codistil fornecia unidades completas de fabricação e para o setor químico e petroquímico, vasos de pressão, reservatórios, autoclaves e agitadores. Em menor escala, atendia, também, os setores de papel, alimentos e cerâmica. Em face do aumento da concorrência, com o estabelecimento de outra empresa em Piracicaba, na década de 1960, a Metalúrgica
Conger, que também fabricava destilarias, a Codistil procurou maior aperfeiçoamento técnico, visando aumentar a produtividade de suas plantas industriais. Nessa época, procurou incrementar as exportações, fornecendo equipamentos e destilarias para diversos países América Latina.
Recuperação da economia A recuperação da economia brasileira iniciou-se no final da década de 1960. Dois fatos marcaram essa época: em primeiro lugar, a criação do Sistema Financeiro de Habitação, que favoreceu o crescimento da construção civil e, em segundo, a expansão dos sistemas de crédito ao consumidor, e a instituição de consórcios para aquisição de bens duráveis. Dessa forma, entre os anos de 1967 e 1969 tais fatores beneficiaram o desenvolvimento dos seguintes setores da economia nacional: material de transporte (53,1%), material elétrico (37,2%); minerais não-metálicos (39,4%) e metalurgia (32,8%). Todos eles estavam, de alguma forma, ligados à construção civil e à indústria de bens duráveis.
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Bomba para motor a vapor fabricada pela Dedini
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O progresso industrial verificado, nessa época, procurou aproveitar a capacidade já instalada, e foi favorecido pela diminuição do processo inflacionário então verificado. Os investimentos públicos e privados foram retomados praticamente até 1973. Um dos setores beneficiados com essa expansão foi de bens de capital sob encomenda. A partir de 1968, a Dedini conseguiu recuperar o nível das vendas, principalmente na Metalúrgica. Entre os anos de 1967 e 1969, o fornecimento de acessórios para as usinas de açúcar aumentou, para decair nos anos seguintes. Nessa época, também, o mercado
tornou-se mais competitivo e a Dedini começou a enfrentar a concorrência de outras empresas que haviam se instalado nos anos anteriores, principalmente na área de caldeiraria leve. A crise ocorrida no setor canavieiro, a partir de 1969, no entanto, não atingiu somente a Dedini; muitas empresas piracicabanas tiveram de encerrar suas atividades, como, por exemplo, a Metalúrgica Santa Cruz Ltda., que possuía mais de 250 trabalhadores, e produzia inúmeros equipamentos para as usinas de açúcar. Também a Mepir – Meta-
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lúrgica Piracicabana S.A., após sofrer inúmeras dificuldades financeiras, foi obrigada a vender suas instalações industriais a alguns dos acionistas do grupo Dedini. Por outro lado, a produção da Siderúrgica estava fortemente atrelada às decisões governamentais, sofrendo as variações das encomendas do setor público, seu principal cliente. Assim, em 1967, além de receber o impacto dos efeitos da desaceleração da construção civil, a empresa foi prejudicada pelas medidas de contenção das despesas do governo, com a diminuição das vendas e atrasos nos pagamentos. Pela primeira vez em sua história, os salários dos funcionários não foram pagos em dia. Mario Dedini fez o que pôde para livrar suas empresas da crise, autorizando, até, a venda de imóveis particulares e de algumas usinas (São Francisco, Catanduva e São Jorge). Apesar disso, a situação agravou-se nos anos seguintes, exigindo transformações estruturais no grupo. Para promover o saneamento financeiro, o genro do fundador, Dovilio Ometto, vendeu toda sua participação acionária no grupo Ometto, e injetou os recursos na
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Incansável em busca de novidades tecnológicas, Mario Dedini trouxe da Alemanha, por volta de 1967, a patente de um novo processo de extração do caldo de cana – o difusor –, que permitia a obtenção de maior produção de açúcar por tonelada de cana. Uma unidade piloto foi instalada em usina de sua propriedade, a São Francisco, em Charqueada (SP), para avaliação de resultados.
Dedini, sem data marcada para retomo desses investimentos. Somente mais tarde, foi efetuado acerto de contas, com a capitalização do crédito, cujo valor foi baseado em um levantamento efetuado por empresa de auditoria de padrão internacional, e aprovado, de comum acordo, pelos acionistas. Mesmo a melhoria do panorama econômico, verificada no final da década de 1960, que possibilitou a recuperação gradativa no volume de vendas na Dedini, foi insuficiente para devolver a autonomia financeira existente no passado. Apesar disso, sua atuação continuava vital para o progresso da cidade onde se instalou, gerando empregos, possibilitando constantes inovações tecnológicas e incrementando o desenvolvimento da economia local.
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A revolução do álcool “O álcool é o combustível do futuro. Há bastante álcool na colheita anual de um acre de batatas para fazer funcionar o maquinário necessário para cultivar esses campos durante cem anos.” Henry Ford, empresário norte-americano, pioneiro na fabricação de automóveis em 1925.
Q
Produtos Dedini em pavilhão de exposições, na década de 1970
uando os grandes produtores de petróleo do Oriente Médio surpreenderam a todos, em 17 de outubro de 1973, com a decisão de suspender os embarques do produto por tempo indeterminado, o mundo não foi mais o mesmo. Naquela época, a maioria dos países havia construído suas riquezas alicerçadas na matriz petrolífera, e verificou, com amargura, a fragilidade de suas economias. A notícia do embargo repercutiu fortemente na Europa ocidental, nos Estados Unidos e no Japão. Os árabes, responsáveis por cerca de 25% do fornecimento do petróleo consumido no mundo, impuseram um boicote seletivo aos compradores, dividindo-os em três categorias – amigos, neutros e inimigos – e estabeleceram diferentes cotas no suprimento do precioso óleo. No início, o embargo foi recebido com certo descrédito, mas logo se percebeu a gravidade da situação, tornando necessária a adoção de medidas de racionamento dos combustíveis. O Brasil vivia, desde o início de 1970, o que se convencionou chamar de “milagre econômico”. A situação nacional era considerada excelente: o Produto Interno Bruto (PIB) apresentava, então, crescimento da ordem de 12% ao ano. O saldo da balança comercial girava entre o relativo equilíbrio e o déficit, nunca superior a um bilhão de dólares.
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Em 1972, a dívida externa estava, aparentemente, contida. Por isso, no início, a crise internacional parecia não afetar o país. Foi o tempo dos empreendimentos grandiosos, com a instalação das hidrelétricas de Itaipu e Tucuruí, a abertura da rodovia Transamazônica, cortando a maior floresta tropical do mundo, e a construção da ponte ligando o Rio de Janeiro a Niterói, maravilha da engenharia nacional. Muitas dessas obras, como a Ferrovia do Aço, não chegaram a se concretizar, embora tenham consumido recursos gigantescos. Como a maioria delas foi viabilizada com financiamentos externos, a dívida nacional, tanto interna como externa, cresceu muito, a partir de então. Em contrapartida, o PIB continuava apresentar elevadas taxas de crescimento. O êxito dos primeiros anos estimulou os responsáveis pela condução da economia brasileira (Antônio Delfim Neto e João Paulo dos Reis Velloso) a anunciarem novos “milagres”. O Primeiro Plano Nacional de Desenvolvimento (I PND) estabelecia metas ambiciosas e previa o “ingresso do Brasil no
mundo desenvolvido, até o final do século XX”. Nessa época, a Dedini esteve presente em algumas das obras mais significativas do país, como as usinas hidrelétricas de Itaipu, Urubupungá, Capivara, Água Vermelha, Ilha Solteira, Promissão, Salto Santiago e de Avanhandava. Contribuiu, também, com material e equipamentos, para a usina nuclear de Angra dos Reis, ponte Rio-Niterói, aeroporto internacional do Rio de Janeiro, metrô de São Paulo e do Rio, pólo petroquímico e o porto do Rio Grande do Sul, Ferrovia do Aço, além das rodovias dos Imigrantes e dos Bandeirantes.
Otimismo em Piracicaba Nos primeiros anos da década de 1970, acompanhando o ufanismo e otimismo generalizado em decorrência do bom desempenho da economia, foi idealizado um Distrito Industrial na zona leste de Piracicaba, que deveria receber, inicialmente, uma unidade de produção de tratores e motoniveladoras da empresa norte-americana Caterpillar Tractor Company. A fábrica foi construída e, muito tempo
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depois, a companhia desativou todas suas instalações na Capital de São Paulo e mudou-se definitivamente para a cidade. A Dedini, por sua vez, resolveu erguer uma sede administrativa própria, um magnífico edifício com oito pavimentos, somando 4 500 metros quadrados de área construída, situado, como não podia deixar de ser, na Vila Rezende, nas proximidades do seu parque industrial. A obra, cuja arquitetura, considerada revolucionária
na época, assinada pelo escritório paulista Croce, Aflalo e Gasperini, foi concluída em 1980 e inaugurada com grande festa. No hall de entrada, ficavam expostas algumas maquetes das inúmeras usinas e destilarias construídas pela empresa. O prédio, no entanto, nunca chegou a ser totalmente ocupado. Nos anos 1990, fez parte do patrimônio desmobilizado e, hoje, funciona como um centro empresarial, que leva o nome de
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Antigo prédio da administração central do grupo Dedini, em Piracicaba (SP), construído em 1980, hoje um centro comercial
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Mario Dedini, abrigando dezenas de estabelecimentos.
Anúncio da Codistil comemora bons resultados do Proálcool
Outra grande obra do período foi a instalação da Dedini Caldeiraria Pesada (mais tarde, desativada e, atualmente, transformada na Fundição, no bairro do Capim Fino, às margens da rodovia que liga Piracicaba a Rio Claro). A construção do enorme galpão foi uma verdadeira obra-prima de engenharia, devido às suas dimensões. Considerada, na época, o maior espaço de trabalho livre existente no Brasil, possuía cerca de 6 000 metros quadrados de área construída, com altura máxima de 43 metros. A edificação permitia a execução de testes dinâmicos de grandes equipamentos e apresentava total flexibilidade e rapidez nas operações, conseqüentemente, maior produtividade. A Caldeiraria Pesada Dedini abrigou o maior
torno com eixo horizontal do hemisfério Sul, que possibilitava o trabalho de peças de grandes dimensões (sete metros de diâmetro e 24 metros de comprimento). Somente a National Aeronautics and Space Administration (Nasa) possuía um maquinário com maiores dimensões, destinado à usinagem de componentes de foguetes espaciais. O projeto das instalações da Caldeiraria Pesada foi aprovado em janeiro de 1977, e o início das obras ocorreu no mês seguinte. Em outubro do mesmo ano, a nova unidade já entrava em funcionamento, pois já havia uma encomenda urgente: a fabricação de um forno de cimento, em parceria tecnológica com a Kawasaki Heavy Industries Ltd.
Modernização do parque açucareiro No que se refere à economia canavieira, verifica-se que, até os finais dos anos 1960, apresentava problemas estruturais, decorrentes da baixa produtividade agrícola, e do elevado número de usinas de pequeno porte. O parque industrial, além de obsoleto, encontra-se com a capacidade de
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produção esgotada, obrigando a realização de moagens prolongadas, com grandes prejuízos, advindos do baixo rendimento. Havia, ainda, o grande fracionamento das cotas agrícolas, com o estabelecimento de minifúndios improdutivos. Além disso, a reduzida lucratividade do setor ocasionava a demanda de capitais com custos financeiros elevados, praticamente proibitivos para a realização dos investimentos necessários. Por volta de 1970, as previsões indicavam que o ritmo de crescimento da produção mundial de açúcar seria mais lento do que o aumento do consumo, prevendo-se uma situação de desequilíbrio no mercado, em favor dos produtores, o que causaria elevação nas cotações. O IAA decidiu, então, em agosto de 1971, implementar um programa que procurava corrigir as distorções do setor, visando o reaparelhamento do parque industrial, com a redução dos custos das empresas, por meio de várias medidas. A principal foi a concessão de financiamentos para fusão, incorporação e relocalização de usinas, eliminando as pequenas
e médias unidades de baixa eficiência. Incentivou, também, a mudança de usinas situadas em áreas impróprias para outras regiões com maior potencial, e até pioneiras naquela atividade. O governo acenou, ainda, com a possibilidade de financiamentos para racionalização da agroindústria, permitindo a aquisição de equipamentos mais modernos e o desenvolvimento de novas tecnologias para solucionar os problemas de produtividade industrial e de qualidade operacional, possibilitando a correção dos pontos de estrangulamento existentes. Em conseqüência, a distribuição física das empresas sofreu várias transformações durante a década de 1970: muitas unidades, consideradas improdutivas, encerraram suas atividades. Suas cotas de moagem foram transferidas para outras usinas mais eficientes e capazes de capitalizar os ganhos da economia de escala. Um exemplo típico dessa mudança foi o que aconteceu com a tradicional usina Monte Alegre, em Piracicaba. Em 1975, foi incorporada ao grupo Ometto. Seus equipamentos estavam superados, mas suas lavouras de
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cana, produtivas ainda, foram divididas entre outras unidades: Iracema, Costa Pinto, Santa Bárbara e as indústrias Dedini. Continuou funcionando até 1980, moendo cana de seus fornecedores, até ser completamente desativada. Paralelamente, com o objetivo de estimular a expansão da lavoura canavieira, foram desenvolvidos programas de melhoria da assistência técnica aos agricultores. O resultado foi a elevação da capacidade de fabricação de 5,4 milhões de toneladas de açúcar (1971-1972) para, aproximadamente, 11,4 milhões, a partir de 1978, permitindo que o Brasil assumisse a liderança da produção mundial, posição que manteria durante vários anos seguintes. Para viabilizar o programa foram alocados recursos provenientes do Fundo Especial de Exportação do IAA, que apresentava, então, grande saldo positivo, em decorrência do bom comportamento dos preços internacionais do açúcar naquela época. Dessa forma, as usinas recomeçaram a adquirir equipamentos de grande porte, uma vez que as fusões e o fechamento de unidades menos produtivas eram incentivados pelo órgão estatal.
Os produtos mais requisitados eram moendas de cana, caldeiras geradoras de vapor e turbo-redutores de velocidade. Nesses itens, a Dedini dominava completamente a tecnologia, e só havia, na época, dois concorrentes significativos. Tais empresas, no entanto, não possuíam a mesma capacidade produtiva e, por isso, muitas vezes, perdiam o cliente pelo preço. Assim, em 1973, em decorrência do programa de apoio à agroindústria açucareira, a Dedini recebeu inúmeras encomendas para ampliação de usinas existentes, que trabalhavam com financiamentos a juros subsidiados. A isso, somou-se a melhoria do mercado internacional, que propiciou exportações de açúcar a preços compensadores. Dessa forma, quando surgiu o Programa Nacional do Álcool, em 1976, a agroindústria canavieira estava plenamente capacitada para aproveitar parte da capacidade de moagem instalada, direcionando-a à produção de álcool nas destilarias anexas às usinas.
Segundo choque O Brasil vivia, assim, uma ilusão de prosperidade, quando, no
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Dovilio Ometto recepciona o presidente Ernesto Geisel e autoridades no stand da Dedini, em feira industrial realizada em meados da década de 1970
primeiro dia de 1974, no entanto, chegou outra má notícia: o preço do petróleo seria duplicado ou triplicado, exigindo medidas urgentes. A ação do governo na área energética contemplou, então, investimentos para a exploração de petróleo em território nacional e a adição de álcool à gasolina importada. O povo brasileiro verificou, com tristeza que o “sonho acaba-
ra” quando começou a enfrentar o desabastecimento de produtos básicos e foi obrigado a recorrer ao crédito fornecidos pelos agentes financeiros para cumprir seus compromissos rotineiros. Além disso, a inflação começava a prejudicar as atividades do país. Em função da crise mundial do petróleo e dos efeitos negativos na balança de pagamentos, os produtores de açúcar e álcool
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do estado de São Paulo reivindicavam insistentemente, desde o início da década de 1970, a definição de uma política de estímulo à mistura de álcool anidro à gasolina, com o objetivo de reduzir o impacto da crise externa sobre a economia brasileira. Para tanto, os produtores solicitaram a fixação de um preço de paridade entre o açúcar e o álcool, para estimular a fabricação desse combustível. A idéia era, então, aproveitar a capacidade instalada das destilarias anexas nas usinas, ainda, com considerável índice de ociosidade, financiar sua modernização, ou a construção de novas unidades junto às usinas que ainda não as possuíam. Atendendo aos apelos dos empresários, o presidente Ernesto Geisel (1974-1979) instituiu, em 11 de novembro de 1975, o Decreto n. 76.595, fixando as diretrizes do Programa Nacional do Álcool, que se tornaria o maior programa energético de sucesso no mundo para substituir o petróleo. Paralelamente, Geisel investiu, também, maciçamente, na produção de insumos básicos (petróleo, aço, energia elétrica,
entre outros) e na indústria de bens de capital. Sem a euforia do “milagre”, ficara mais difícil conter as manifestações políticas no país. Por isso, o presidente iniciou um processo de abertura com a passagem do poder para os civis, de forma lenta e gradual. Um legado negativo de sua gestão, no entanto, foi o aumento da dívida externa, que triplicou seu valor, em relação ao governo anterior. O II PND, que estabelecia as metas para a economia entre 1975 e 1979, continuava, ainda, a apresentar um cenário otimista para o Brasil, estimulando a substituição das importações de bens de capital. Acredita-se que este tenha sido o período mais favorável para a nacionalização de tecnologia e de crescimento para esse setor.
Proálcool: energia verde e amarela O Programa Nacional do Álcool teve duas fases bem distintas: a primeira, entre 1975 e 1979, visando a produção de álcool anidro, destinado à mistura com a gasolina; e a segunda, no período de 1980 a 1985, consolidando-se como programa energético al-
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ternativo, por meio da fabricação de álcool hidratado utilizado em substituição à gasolina. No início dos anos 1970, existia no Brasil quase uma centena de usinas de açúcar que produziam álcool esporadicamente, quase todas situadas no Nordeste e em São Paulo. Com o advento do Proálcool, aquelas já existentes utilizaram os financiamentos disponíveis para ampliação das unidades produtoras de etanol. Surgiram, também, mais de 180 unidades autônomas em outras regiões, como no CentroOeste e no Paraná. Somente em São Paulo, responsável, naquela época, por 70% do fornecimento de álcool no Brasil, a produção cresceu sete vezes, entre as safras de 1975-1976 e 1979-1980. Assim, as lavouras do interior do estado paulista transformaram-se em um verdadeiro “mar de cana”. A cultura passou a ser novamente de grande importância econômica: era a primeira em produção, a segunda em valor agrícola e a terceira em área cultivada. A fabricação de álcool alastrou-se por quase todo o estado, concentrando-se, principalmente, nas regiões
de Campinas e Ribeirão Preto, com a instalação de dezenas de destilarias autônomas ou anexas, produzidas pela indústria mecânica e metalúrgica instalada em Piracicaba e Sertãozinho. Nessa época, os técnicos da Codistil, uma das empresas Dedini, fizeram grande esforço de venda. Em inúmeras reuniões com empresários rurais e líderes políticos em várias cidades, explicavam detalhes do Programa, forneciam informações sobre a instalação de destilarias, mostrando as possibilidades de negócios. Com essa iniciativa, surgiram muitos novos empreendimentos na área. Dessa forma, quase todas as destilarias de álcool, não só em São Paulo, mas no país, foram fabricadas no interior paulista, como, também, os demais equipamentos e acessórios: moendas, turbinas, redutores e aparelhos de caldeiraria leve e pesada. O pesquisador Renato Sérgio Maluf (1984) contabilizou que, entre 1974 e 1983, as únicas duas fábricas de destilarias do país – Codistil e Conger –, localizadas em Piracicaba, forneceram 471 novas unidades. A consolidação do Proálcool teve reflexo alta-
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Montagem de usina fabricada pela Dedini, na Venezuela, em 1972
mente positivo no nível de renda e de emprego na cidade. Dessa forma, em 1976, a Codistil produziu a maior destilaria do mundo da época, para a usina São Martinho (Pradópolis, SP). Apresentava avançados recursos em destilação, com comandos à distância, representando o primeiro passo para automatização. No ano seguinte, a empresa venceu, também, a concorrência da Petrobras para fornecer a primeira usina de álcool a partir da mandioca
(Curvelo, MG), com capacidade de 60 000 litros por dia.
Estimulando as exportações Enquanto isso, a Mausa destinava grande parte de sua produção ao reequipamento e expansão das usinas brasileiras, principalmente as do Nordeste, e a M. Dedini começou, nos anos 1970, a aventurar-se no mercado externo, amparada por
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financiamentos concedidos pelo Banco do Brasil. O grupo estava, então, capacitado a fornecer desde os parafusos necessários à instalação de uma usina até os equipamentos pesados, como os conjuntos de moendas, passando por todos os acessórios, inclusive, os transformadores. Em 1971, a Dedini venceu uma concorrência internacional (da qual participaram empresas da Inglaterra, França, Japão, Alemanha e Estados Unidos) para fabricação e montagem de uma usina de açúcar completa na Venezuela, a Central Santa Maria, em Maturin. Com capacidade inicial para processar 2 400 toneladas de cana por dia, a planta representou, na época, uma venda de US$ 6,5 milhões. Depois dessa unidade, muitos outros negócios concretizaram-se no exterior. Após essa transação, a empresa brasileira venceu mais uma concorrência em Honduras, para fabricação e montagem de uma unidade, capaz de moer, inicialmente, 2 000 toneladas de cana por dia, e outras duas, na Venezuela, para fornecimento de fábricas de xarope concentrado. Essas últimas foram as primeiras do tipo no mundo e destinavam-
se a abastecer as refinarias de açúcar durante todo o ano, uma vez que, por causa do regime de chuvas daquele país, muitas regiões açucareiras sofriam a falta de matéria-prima durante vários meses do ano. Nos anos 1970, a Codistil, também já fornecia para o mercado externo, exportando para a Venezuela, Bolívia e Paraguai. A empresa utilizava aço inoxidável sueco e japonês, cobre e alumínio, produzindo destilarias para álcool e aguardente, instalações para fábricas de adubos e fertilizantes, além de aparelhos para outras indústrias químicas e petroquímicas.
Dedini. O condutor, o dínamo propulsor de nossa grandeza industrial. Escultor do monumento erigido ao progresso da agroindústria álcoolaçucareira, que combinou audácia com inteligência, fé com trabalho, constância com pugnacidade, fazendo surgir de uma humilde oficina de conser-
Morte do fundador Nesse contexto, a Dedini prosseguiu sua trajetória, abalada em fevereiro de 1970, pela morte de seu fundador, Mario Dedini, depois de cinqüenta anos de trabalho dedicado a suas indústrias. Em conseqüência, ocorreram muitas mudanças administrativas. Assumiu o comando do grupo o genro de Mario Dedini, Dovilio Ometto, que procurou, antes de tudo, profissionalizar todas as atividades.
tos de máquinas agrícolas, o maior complexo industrial dedicado à fabricação do açúcar construído na América Latina.” Assim foi a manchete do Jornal de Piracicaba de 1º de março de 1970, dia seguinte da morte do empresário.
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“Perdemos o grande líder: Mario
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Dovilio Ometto assina contrato de associação da Dedini com as empresas japonesas Kawasaki Heavy Industries e C. Itoh, em 1973
Ampliando o leque Por causa das dificuldades surgidas naquela época, muitas vezes, a Dedini foi obrigada a reduzir as horas de trabalho de seus funcionários, chegando até a paralisar a produção, e conceder férias coletivas. Além de incentivar as vendas externas, o grupo tentou diversificar suas atividades, passando a atender outras áreas, além do setor sucroalcooleiro, como a indústria petroquímica, de mineração, usinas hidrelétricas, celulose e papel. Passou a fabricar, também, equipamentos para manuseio de cargas, tratamento de lixo, além de estruturas metálicas para várias finalidades.
Segundo o estudo efetuado pela pesquisadora Silvia Sampaio (1972), no início da década de 1970, o grupo Dedini era responsável, sozinho, pela maior concentração financeira de Piracicaba, detendo 3,6% dos estabelecimentos fabris existentes, e reunindo 38,9% do capital total investido. Além disso, seu faturamento representava 34,4% das vendas totais do município e empregava 33,5% de toda a mão-de-obra industrial. A Dedini foi, também, pioneira no desenvolvimento de turbinas a vapor no Brasil, utilizadas tanto na geração de energia elétrica, como mecânica. O primeiro contrato foi firmado
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em 1965, com a empresa alemã Gutehoffenngsshutte Sterkrade (GHH). Posteriormente, para aperfeiçoar ainda mais esse item, foi firmada outra parceria, em 1972, com a companhia alemã Siemens, que duraria até os anos 1990. Mais tarde, em 1976, a Dedini adquiriu também licença para fabricar turbinas com tecnologia inglesa, da empresa Allen (mais tarde absorvida pela Rolls Royce).
A primeira medida foi a constituição de uma holding, no mês de março daquele ano, com o nome M. Dedini S.A. Participações. Foi criada outra empresa nova, com o nome de M. Dedini S.A. Metalúrgica, com capital de Cr$ 38 100 000,00, sendo Cr$ 38 040 000,00 integralizados após a conferência dos bens existentes e o saldo restante, Cr$ 60 000,000, completado em dinheiro por diversos acionistas.
A joint venture com japoneses
A nova sociedade tinha como objetivo “a fabricação, montagem, reformas e comercialização, inclusive no exterior, de máquinas, equipamentos, aparelhos componentes e acessórios para as indústrias açucareira, de cimento, celulose, petroquímica, química em geral, de mineração, naval, termoelétricas, hidrelétricas, e outros setores da mecânica e caldeiraria pesada em geral, bem como a fundição de ferro, aço e metais não-ferrosos, tubos de ferro e materiais refratários”.
Procurando consolidar o processo de diversificação de suas atividades, sem abandonar o mercado de açúcar e álcool, a Dedini precisou recorrer a associações com as empresas estrangeiras, vendendo-lhes parte de suas ações e recebendo em troca capital para aquisição de novas máquinas e ampliação de instalações, bem como tecnologia avançada, principalmente, nas áreas de mineração, siderurgia, cimento, entre outras. Para tanto, recorreu à associação com as empresas japonesas Kawasaki Heavy Industries Ld. e C. Itoh Co. Ltd. (hoje Itochu), o que propiciou grandes transformações no desempenho do grupo em 1973.
Para atender a esses novos setores da produção, o grupo incorporou tecnologia internacional. Assim, logo após a constituição da nova empresa, a participação acionária dos japoneses ficou definida em
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Assembléia Geral Extraordinária de 30 de março de 1973. O capital social da Metalúrgica foi elevado para Cr$ 50 800 000,00, sendo a diferença, de Cr$ 12 700 000,00, subscrita em dinheiro pelas empresas japonesas. A composição acionária ficou assim constituída: Dovilio Ometto, Pedro Duarte, Waldyr Antonio Gianetti, Mario Dedini Ometto, Claudia Dedini Ometto Gianetti e Juliana Dedini, e os participantes da empresa M. Dedini Participações, com 75%; o restante (25%), com as empresas Kawasaki Heavy Industries (17,5%) e C. Itoh & Co. Ltd (7,5%). Além do aporte de capital, essas empresas obrigaram-se a transferir tecnologia e assistência técnica na fabricação de
turbinas a vapor até 10 000 kw, para uso terrestre; caldeiras power boiler, para recuperação de lixívia preta e de calor; equipamentos para siderurgia e para a produção de cimento. Depois de muitas negociações, surgiu a Dedini-Kawasaki Engenharia Ltda., com sede em Piracicaba e escritório instalado em São Paulo. No primeiro ano de funcionamento, já contava com quase noventa funcionários e consumira investimentos da ordem de Cr$ 115 milhões. A associação com os japoneses permitiu à Dedini aumentar sua atuação nos setores de siderurgia, cimento, mineração e energia, fornecendo equipamentos que, até então, eram totalmente importados. Exemplo disso foi a comercialização, em
Transporte de chaminé incineradora fabricada pela Codistil
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1976-1977, da maior usina do mundo de hidratação de cal, para a Companhia Vale do Rio Doce, com capacidade de produção de 66 toneladas por hora. Essa unidade permitiu a expansão das usinas de pelotização do minério de ferro, necessária para atender à demanda de exportação daquela companhia. A Dedini era responsável por 70% dos equipamentos, fornecendo britadores, moinho “de bolas”, separador, conjunto de tanques de compressão, entre outros. O restante foi importado do Japão, sob a responsabilidade da Kawasaki. Os negócios em parceria com a empresa japonesa continuam até os dias atuais (ver Capítulo VII).
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Informatização e qualificação Nessa época, a Dedini apresentava mais exemplos de pioneirismo, ao proceder à informatização da sua área de engenharia. Foi a primeira empresa nacional de bens de capital a implantar o programa Computer Assistent Design (CAD), para elaborar projetos, em 1976. Foi, também, a primeira empresa de bens de capital nacional a receber a certificação da American Society of Mechanical Engineers (ASME), conceituada associação de engenharia norte-americana, que estabelece os procedimentos de excelência em fabricação de diversos itens. Naquela ocasião, os selos de qualidade (“S” e “U”) foram obtidos para produção de caldeiras e vasos de pressão.
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Ainda em 1976, foi criado dentro da Metalúrgica um sistema de contabilização de custos industriais que obteve grande projeção no setor. O processo foi elogiado até pelos técnicos do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social, o BNDES, que recomendaram sua aplicação junto a seus mutuários.
Atuação no Nordeste Em meados da década de 1970, a Dedini resolver instalar uma subsidiária no Nordeste. Até então, as usinas e destilarias daquela região adquiriam equipamentos, principalmente, da Cosinor, Noraço, Fives Lille Nordeste, todas em Pernambuco, e das Máquinas Piratininga. Em um primeiro momento, começou a fornecer peças de reposição e, logo depois, passou a efetuar reformas nos maquinários. Havia muitos problemas para realizar tais trabalhos; os mais graves eram a longa distância das fábricas em Piracicaba, com muitas dificuldades no transporte dos equipamentos e de comunicação com a matriz. Normalmente, demorava-se
um dia inteiro para realizar uma ligação interurbana para o interior de São Paulo e isso prejudicava o atendimento ao cliente. Para as comunicações escritas, os funcionários utilizavam aparelhos telex, hoje, completamente obsoletos. Mesmo assim, o escritório começou a concretizar negócios em vários estados do Norte e Nordeste do país. Montou-se uma equipe de técnicos que vinham de São Paulo para resolver eventuais problemas nas usinas e destilarias e, aos poucos, a indústria piracicabana conquistou a confiança dos empresários locais. Naquela época, foi ofertada à Dedini uma unidade industrial, recém-construída, localizada em Jaboatão, com 31 000 metros quadrados. Em face das boas perspectivas de negócios, as instalações foram adquiridas e a fábrica (Codistil Nordeste) iniciou suas operações em 1979, prestando serviços de construção e montagem de equipamentos, nas áreas de caldeiraria e mecânica. Foi um choque para a concorrência existente. Quando se instalou no Nordeste, a Dedini tinha menos de 10% do mercado, e por volta de
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O ÁLCOOL BRASILEIRO VENCE DESAFIOS E CONQUISTA NOVOS MERCADOS Quando os árabes impuseram boicotes ao fornecimento do petróleo, na década de 1970, diversas alternativas para sua substituição foram consideradas e depois descartadas, quer por seu alto custo, quer por sua difícil implementação. O Brasil foi um dos únicos países que conseguiu atravessar a crise energética mundial de forma inovadora, criando o primeiro programa de substituição da gasolina com a utilização de um combustível limpo, renovável, totalmente nacional. O aproveitamento da energia gerada a partir da fotossíntese tornou-se possível por causa da ampla oferta de cana-de-açúcar existente no país. Graças ao Programa Nacional do Álcool – Proálcool – foi possível desenvolver várias regiões do Brasil, “interiorizando” e descentralizando o progresso, antes restrito às grandes cidades. Criou-se, também, uma ampla oferta de emprego e beneficiou-se a economia, com significativa economia de divisas, por meio da redução das importações. Destilaria fabricada pela Codistil com capacidade de produção de 150 000 litros de álcool por dia
A partir de 1986, o Proálcool começou a ser desativado por diversas circunstâncias conjunturais. E a produção de carros a álcool foi drasticamente reduzida no Brasil nos últimos anos, apesar de todos os efeitos
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positivos da sua utilização. Para muitos analistas, isto foi
sejam renováveis, e que possam diminuir a dependência
um grande equívoco.
dos derivados de petróleo.
Com a fabricação dos veículos com motores com com-
O Brasil é, ao mesmo tempo, o maior produtor e o maior
bustível flexível no Brasil, o álcool recuperou seu lugar
consumidor de álcool do mundo. A preocupação em conquis-
na matriz energética nacional. Além disso, é cada vez
tar novos mercados tem sido uma constante no setor canaviei-
maior o número de países interessados em combustíveis
ro, que não tem poupado esforços para abrir novas fronteiras
alternativos, que não causem prejuízos ao ambiente, que
para o combustível verde-amarelo, limpo e renovável.
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1983, já era responsável por 60% das vendas no setor.
No balanço consolidado do grupo, de 1979, a Dedini registrou um patrimônio líquido de Cr$ 5,5 bilhões, com vendas de Cr$ 7 bilhões. Segundo
Somente no período de 1975 a 1983, foram instaladas dezenove novas destilarias naquela região. A Dedini fornecia as fábricas completas, incluindo estudos de viabilidade econômica, elaboração dos projetos técnicos, assessoria nos financiamentos bancários para sua viabilização, e sua colocação em marcha.
notícia de jornais da época, essa cifra era, então, quase o dobro da arrecadação de Porto Alegre, e o equivalente a 30% da receita da Capital de São Paulo.
Crescimento acelerado Uma das unidades do grupo Dedini que mais apresentou expansão, durante a década de 1970 foi, sem dúvida, a Codistil. Ao completar 37 anos, em 1979, a empresa orgulhava-se de ser a responsável indireta por 89,7% do volume de álcool produzido no país naquele ano, ou seja, 3,41 bilhões de litros. Era considerada uma das maiores fábricas de destilarias do mundo e exportava para vários países das Américas, como Bolívia, Costa Rica, Paraguai, Venezuela e Honduras, entre outros. Naquela época, a Codistil possuía 1 600 funcionários e era capaz de fornecer, por mês, até cinco unidades completas
com capacidade para produzir 120 000 litros de álcool por dia. Na linha de açúcar e álcool, havia processadores para tratamento de caldo, secadores, transportadores, armazenadores e vários outros acessórios. Para destilarias de álcool e aguardente, fabricava equipamentos completos para vários tipos de etanol, incluindo prédios metálicos, trocadores de calor, aquecedores, painéis de comando, reservatórios etc. Na linha de fertilizantes, fabricava tambores rotativos (granuladores, secadores e resfriadores), misturadores, peneiras vibratórias, elevadores, moinhos, ciclones, lavadores, silos e outros estruturas, além de unidades inteiras para preparo de determinados tipos de adubos, conhecidos como supertriplos. A Codistil atendia, ainda, à indústria de processamento de argila (com atomizadores para massa cerâmica, separadores de pó e vasos agitadores) e, também à química e à petroquímica, construindo vasos de pressão, torres de fracionamento, intercambiadores de calor, reservatórios, autoclaves, reatores, bandejas de destilação e apuração, estruturas metálicas e caldeiraria em geral.
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Em 1979, a Codistil comemorava a entrega, no tempo recorde de dez meses, de uma destilaria de álcool anidro para a Codesa Corporación Costarricense de Desarrollo, da Costa Rica. No ano seguinte, vendeu equipamentos para a usina São Martinho, em Pradópolis (SP), possibilitando que esta indústria se tornasse a maior do mundo, com capacidade para fabricar um milhão de litros de álcool, a cada 24 horas. Nessa época,
a empresa já fornecera, desde 1946, quase 400 destilarias. O sucesso do Proálcool fez com que o otimismo tomasse conta das indústrias de bens de capital instaladas em Piracicaba voltadas, principalmente, para atendimento do setor sucroalcooleiro. Contando com a facilidade de investimentos, a maior parte das empresas pôde ampliar suas instalações, modernizar seus equipamentos e aperfeiçoar sua base tecnológica.
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Vista aérea da Codistil, às margens da rodovia Rio Claro-Piracicaba, na década de 1980, hoje matriz das empresas Dedini
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CAPÍTULO 5
Tempos difíceis O álcool é uma das soluções brasileiras mais imediatas, mais consistentes e, sobretudo, de duração infinita para o problema energético; nenhuma das dificuldades que possam ocorrer têm caráter intransponível ou duradouro...” João Guilherme Sabino Ometto, empresário do setor sucroalcooleiro, em 1986.
N
Detalhe de equipamento fabricado pela Dedini, em Sertãozinho (SP)
o início dos anos 1980, o Brasil viveu tempos de glória em termos de geração de energia. O álcool – o combustível “verde” – movimentava a maior parte da frota nacional de veículos. A Petrobras comemorava: em 1980, conseguiu superar suas marcas na extração de petróleo, o que contribuiu para diminuir a dependência do óleo estrangeiro. No ano seguinte, inaugurava-se, também, a maior hidrelétrica do mundo, a de Itaipu (PR), e entrou em funcionamento a usina de Angra dos Reis (RJ), colocando o país no seleto grupo de produtores e usuários da energia nuclear. A partir daquela época, no entanto, a economia nacional mergulharia em profunda crise, com atividade econômica em baixa e inflação em alta. O produto da indústria de transformação decresceu 6,4%, e os setores de bens de capital e de consumo duráveis foram os maiores responsáveis por esse resultado negativo. A dívida externa atingiu a marca assustadora de US$ 100 bilhões em 1983. No exterior, o Brasil passou a ser um investimento de risco. A forte resistência dos bancos estrangeiros em continuar financiando o déficit brasileiro do balanço de pagamentos exigiu drásticas mudanças na política econômica. A crise foi agravada por novo aumento dos preços do petróleo e pela elevação das taxas de juros. A recessão
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veio acompanhada da aceleração da inflação, que ultrapassou o patamar dos 100% ao ano. Em 1983, o governo brasileiro fechou acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), que passou a monitorar a economia. O desemprego aumentou, trazendo, como conseqüência, o aumento das tensões sociais. Naquele ano, o governo do general João Baptista de Oliveira Figueiredo (1979-1985) assinou, seguidamente, quatro cartas de intenções com o FMI, assumindo compromissos que não conseguiu honrar. A inflação saltou para 211% e o PIB caiu 3,5%. Vivia-se um clima de crescente liberdade. Com o final do governo Figueiredo, encerrou-se, definitivamente, o regime militar, terminando com o longo período de autoritarismo. O Brasil ganhou uma nova Constituição (1987) e reconquistou o direito de escolher seu presidente pelo voto direto (1989). A luta pela redemocratização foi, no entanto, penosa para o país: uma sucessão de escândalos financeiros e pacotes econômicos marcaram os anos 1980. Com a difícil tarefa de contornar a situação e em
momento de grande comoção nacional, com a morte do presidente Tancredo Neves, recém-empossado, assumiu o vice, José Sarney (1985-1990), que, logo depois, lançou programa de estabilização econômica, substituindo a moeda nacional, o cruzeiro, pelo cruzado. A este plano, conhecido como “Cruzado”, seguiram-se outros, contendo medidas fiscais (“Cruzadinho” e “Cruzado II”), sem atingir resultados efetivos, pelo menos, no que se refere à melhoria da qualidade de vida da população: 35% das famílias brasileiras viviam, ainda, abaixo da linha de pobreza, com renda mensal inferior a meio salário mínimo. Os salários estavam congelados e a inflação ultrapassava a taxa anual de 365%. Em 1986, o governo declarou a moratória unilateral da dívida externa, e demitiu o ministro da Fazenda, o empresário Dilson Funaro. Assumiu a pasta Luiz Carlos Bresser Pereira, que instituiu outro plano econômico, conhecido com seu nome. Também não conseguiu se manter no cargo: foi substituído por Maílson da Nóbrega, que, em janeiro de 1987, lançou o chamado “Plano
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Verão”, substituindo o cruzado pelo cruzado novo. Simples questão de semântica: a inflação continuava a subir, até atingir, naquele ano, a estratosférica taxa de 1 765%, quase inviabilizando as atividades econômicas no país e estimulando a especulação financeira. A atividade industrial decresceu e o desemprego aumentou ainda mais. Um dos setores mais afetados foi o de bens de capital por encomenda, onde a Dedini atuava. Nessa época, muitas outras indústrias fecharam suas portas. Para piorar a situação, por volta de 1986, o governo começou a desestimular o Proálcool, que tanto contribuíra para manter as atividades de algumas empresas do grupo.
Dificuldades à vista Mesmo com a crise, duas empresas do grupo Dedini – a Siderúrgica e Metalúrgica – apareciam, respectivamente, como a primeira e a terceira indústrias do município em arrecadação do Imposto sobre Circulação de Mercadorias (ICM), segundo levantamento da Prefeitura de Piracicaba realizado em 1986.
O grupo iniciara os anos 1980 com planos ambiciosos de investimentos e o desenvolvimento de várias novidades tecnológicas. O conglomerado era, então, constituído por vinte empresas, onde trabalhavam cerca de 11 000 colaboradores. Na área de açúcar e álcool, estudava-se o aumento da extração na moagem da cana e o aprimoramento do sistema de difusores, a melhoria do rendimento e eficiência da fermentação e destilação, o menor consumo de vapor, e o aproveitamento da vinhaça como fonte de energia para destilarias. Além disso, pesquisava-se o estudo da tecnologia do plasma e o desenvolvimento de novos produtos siderúrgicos; a produção de escavadeiras para utilização na mineração de carvão, e, também, de vários tipos de caldeiras: de pequeno porte e com leito fluidizado, para queima de lixo e recuperação de calor. Trabalhava-se, ainda, para desenvolver técnicas de mistura de óleo com carvão vegetal e água para substituir o óleo combustível, bem como o projeto de uma nova turbina multiestágios. Dois processos que resultariam em inovações tecnológicas
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Selo comemorativo do 60º aniversário das empresas Dedini
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– o Methax e o Biostil – seriam responsáveis pela manutenção do pioneirismo do grupo Dedini durante a década de 1980. O primeiro consistia na produção de gás metano combustível, a partir de um resíduo industrial, a vinhaça; o segundo, pretendia incrementar a produção de álcool, a partir de um sistema com fermentação e destilação acopladas, permitindo baixo consumo de energia e grande redução na geração de efluentes.
Combate à poluição Desde 1982, a Dedini vinha se preocupando em desenvolver sistemas para diminuir a poluição causada pelas agroindústrias. Uma das primeiras iniciativas foi a tecnologia para tratamento da vinhaça, ou seja, a biodigestão anaeróbia (sem a presença de ar) para produção de gás, por meio do sistema Methax. Este projeto obteve grande repercussão. Um convênio com a Prefeitura de São João da Boa Vista (SP) viabilizou seu uso em ônibus urbanos, mediante adaptações nos motores. Com a queda dos preços do petróleo, no entanto, na segunda metade da
década de 1980, cessou, praticamente, o interesse em combustíveis alternativos, e o Methax caiu no esquecimento. Há alguns anos, porém, o assunto voltou à tona: acredita-se que esse sistema seja, até hoje, uma solução viável para implantação em plantas industriais onde a vinhaça provoque impacto ambiental e não possa ser descartada nas lavouras. Em 1986, foi oferecida à Codistil (coligada da Dedini), pela Paques Water System, uma tecnologia semelhante ao Methax. Essa empresa desenvolveu know-how no tratamento de efluentes. Assim, foi firmado um contrato de parceria para fornecimento do sistema no Brasil, também, para alguns setores, como, por exemplo, o cervejeiro. Desde então, já foi comercializada mais de uma centena de unidades industriais para essa finalidade. Ao longo desse período, inúmeras modificações de engenharia foram efetuadas no sistema anaeróbio empregado. Para completar o tratamento, a Paques desenvolveu, também, um sistema aeróbio, denominado Circox, para substituir, por um simples reator, as extensas
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lagoas anteriormente utilizadas para essa finalidade. A preocupação da Dedini com o destino de efluentes continuou nos anos mais recentes, oferecendo, a partir de 2003, um processo de tratamento de esgotos domésticos, mais compacto e flexível, conhecido como Ubox.
Maior produção de álcool Por volta de 1982, a Dedini, por meio de sua coligada, a Codistil, continuava a estudar formas de otimizar ainda mais a produção de álcool. Assim, identificou uma planta piloto na Austrália, desenvolvida pela empresa Alfa Laval, que vinha obtendo bons resultados, com a vantagem de gerar baixo nível de efluentes. Era um momento oportuno, pois havia bastante preocupação com o destino da vinhaça produzida nas usinas. Surgiu, assim, o sistema Biostil, que permitia a obtenção de alto rendimento alcoólico, baixo consumo de energia e grande redução de efluentes: enquanto as destilarias convencionais geravam de dez a treze litros de vinhaça para cada litro
de álcool produzido; com esse processo, poder-se-ia reduzir esse volume a menos de um litro. Trabalhava com matéria-prima concentrada (xarope, melaço etc.), utilizando a fermentação contínua em uma única dorna. Com a tecnologia Alfa Laval, a Codistil, mediante pagamento de royalties, desenvolveu e forneceu a primeira planta no Brasil em escala comercial para a usina São Luiz, em Pirassununga (SP). Posteriormente, produziu, também, equipamentos para a destilaria Goioerê, em Goioerê (PR), e Coamo, em Campo Mourão (PR), e, ainda, uma para o Paquistão, em Islamabad. Diante do recente aumento da produção do álcool, nos anos 2000, esse assunto foi reativado, principalmente, por causa do risco ambiental decorrente da aplicação de milhares de litros de vinhaça no solo. A Dedini retomou o tema por acreditar no grande potencial de comercialização desse sistema. Assim, localizou um processo mais avançado, de concentração da vinhaça, desenvolvida pela empresa austríaca Vogelbusch, com a qual assinou contrato de transferência de tecnologia em 2005.
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ANTECIPANDO O FUTURO Pode-se dizer que a Dedini antecipou o futuro, quan-
culos. O maior benefício, no entanto, era o ambiental: de-
do, em 1984, lançou o Methax, sistema que permitia a
pois de passar pelo processo de gaseificação, o que restava
transformação da vinhaça – subproduto poluente e mal-
da vinhaça era um líquido quase sem carga orgânica, mas,
cheiroso resultante da destilação do caldo fermentado da
ainda, altamente nutritivo, utilizado para fertilizar o solo.
cana-de-açúcar – em gás combustível. A primeira unidade foi instalada na usina São Luiz,
ção técnica com a Prefeitura de São João da Boa Vista (SP)
em Pirassununga (SP). O empreendimento foi feito em
para uso do metano no transporte coletivo. A distribuição
parceria com a PEM – Planejamento, Engenharia e Manu-
e o abastecimento da frota municipal ficou a cargo da
tenção Ltda. e podia fabricar dois tipos de gás: o biogás,
distribuidora Cia. Brasileira de Petróleo Ipiranga, que já
de poder carburante menor, ideal para consumo caseiro, e
vinha efetuando outros testes com o gás natural em várias
o biometano, mais puro e mais caro, utilizado como com-
capitais do país.
bustível para veículos.
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Em 1989, a Dedini assinou um protocolo de coopera-
A Mercedes Benz se encarregou das adaptações dos
O biogás obtido em Pirassununga foi utilizado, no início,
motores dos ônibus. Caso optasse pelo metano, estaria-
para movimentar a frota de caminhões e veículos da usina.
se obtendo benefícios econômicos, pois seu uso permitia
Era uma grande vantagem, pois as destilarias empregavam,
ganho de 10% a 15% por quilômetro, com aumento da
então, até 6% do álcool fabricado para movimentar seus veí-
vida útil do motor em até 50%.
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Unidade pioneira Methax, em São João da Boa Vista, para produção de gás. Página ao lado: ônibus abastecido com o produto.
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O projeto teve grande repercussão e foi um dos doze
sionar saturação do solo em potássio e não será mais am-
que a Mercedes selecionou, em nível mundial, para divulgar
bientalmente correta, exigindo o tratamento prévio. Este
durante a Eco-92, realizada no Rio de Janeiro, como exem-
torna-se mais imprescindível, ainda, quando se trata de
plos de soluções ecologicamente corretas. Essa experiên-
plantações instaladas em áreas com lençol freático pouco
cia inédita de uso veicular do gás foi pioneira no Brasil.
profundo, em que pode haver eventual contaminação.
Nos últimos anos, tem aumentado bastante o interes-
Por isso, a Dedini fechou, recentemente, parceria com
se no destino final da vinhaça. Calcula-se que para cada
empresa austríaca, a Vogelbusch, para fabricar um equi-
litro de álcool produzido obtém-se de dez a treze litros do
pamento que reduzirá, por evaporação, 40% da vinhaça.
sub-produto. O material continua a ser utilizado na fertirri-
Com isso, será possível obter significativa redução dos
gação dos canaviais, mas, em algumas circunstâncias, com
custos no transporte e na logística despendida para sua
o aumento da produção de álcool, tal solução poderá oca-
aplicação no campo.
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Vento a favor A Codistil, por sua vez, depois de enfrentar um pequeno decréscimo nas vendas no início dos anos 1980, recebeu novo impulso com a aprovação, pela Comissão Nacional de Álcool (Cenal), de uma centena de projetos de novas destilarias, financiadas com recursos do Banco Mundial. Pelo contrato firmado com aquela instituição, as operações de crédito no âmbito do Proálcool, relativas a equipamentos, serviços e obras deveriam ser adquiridas por meio de licitações internacionais, envolvendo fornecedores préqualificados do país e do exterior. Assim, na concorrência realizada no início de 1984, entraram cinco empresas e consórcios nacionais, e outras três, envolvendo firmas e consórcios estrangeiros. Na aprovação dos primeiros quarenta projetos, cujas encomendas somavam cerca de US$ 242 milhões, 38 ficaram a cargo de empresas genuinamente nacionais – a Dedini, a Zanini e o consórcio CCVP. As duas licitações restantes foram vencidas por consórcios com participação de companhias estrangeiras, mas apresentavam índices de nacionalização de 92% a
97%. Segundo comunicado do Ministério da Indústria e do Comércio (Carta Cenal no 06, de 6-2-1984), “esse fato atestava o elevado grau de competitividade da indústria nacional de equipamentos”. Favorecida pelo Proálcool, a Codistil tornou-se a maior fabricante de destilarias do mundo. Em 1980, as unidades que construiu eram responsáveis por quase 90% da produção de álcool do país. Naquele ano, possuía 1 600 colaboradores e inaugurou sua nova sede administrativa, no bairro do Capim Fino, à margem da rodovia Piracicaba-Rio Claro. Em 1983, a Codistil comemorava seus quarenta anos de existência com a venda da sua 500ª destilaria de álcool. Era, então, a maior do mundo, com capacidade de produzir 300 000 litros por dia, considerado um modelo de quarta geração, de alto rendimento, com drástica diminuição do consumo de vapor.
Campo de testes Sempre buscando novos negócios e testar novos produtos, a Dedini implantou, entre 1981 e 1982, a destilaria São João, em São João da Boa Vista (SP). A insta-
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lação dessa unidade industrial constituiu-se em recorde mundial de prazo: decorreu um ano, entre a aprovação do projeto, instalação e funcionamento. A planta começou a moer em julho de 1982, com capacidade para fabricar 180 000 litros de álcool hidratado por dia. Era uma indústria modelo: a idéia era contemplar as tecnologias mais avançadas e promissoras. Ali foi instalado o primeiro aparelho, patenteado com o nome de Flegstil. Era uma novidade no mercado: uma coluna de destilação que possibilitava menor consumo de vapor. Esse equipamento é, até hoje, um dos mais vendidos pela empresa. Naquele período, foi lançado, ainda, na destilaria São João, o Ionic, processo pioneiro para garantir a qualidade do álcool, mediante o uso de resinas que atuam sobre as impurezas do álcool, reduzindo sua acidez. Durante muito tempo, esse sistema teve seu espaço no mercado, mas com o aperfeiçoamento do Flegstil, ao longo dos anos, ele se tornou desnecessário. Outra tecnologia inovadora implantada naquela unidade, entre 1983 e 1984, foi o Methax, citado anteriormente.
Na base do desenvolvimento brasileiro Por ocasião do seu 65º aniversário, em 1985, o grupo Dedini reunia, além da holding, Dedini S.A Administração e Participações, um grupo de 32 empresas, onde trabalhavam mais de 11 000 colaboradores, produzindo variada linha de produtos, destinados aos mais diferentes setores da economia. Além da constante presença no mercado sucroalcooleiro, o grupo direcionava sua atuação para a metalurgia e siderurgia, concentrando esforços na pesquisa e desenvolvimento de alternativas na geração e transformação de energia. As três principais plantas eram a Metalúrgica, a Codistil e a Siderúrgica. A primeira, embrião de todo o complexo, evoluíra a partir da antiga oficina, na década de 1920, tornando-se uma das maiores fabricantes de bens de capital sob encomenda do país, destinados, principalmente, ao setor sucroalcooleiro. Mais tarde, passou a atender outros segmentos. Estava, então, instalada em área de 970 000 metros quadrados, sendo 93 000 m2 construídos. Empregava 2 300 funcionários, e produzia cerca
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de 4 500 toneladas por mês de equipamentos variados. A Metalúrgica havia realizado importantes avanços na geração de energia, fabricando turbinas a vapor para atender as necessidades de diferentes mercados. As turbinas de simples estágio possuíam potência variável, entre 12 e 4 000 hp, destinando-se às indústrias química, sucroalcooleira, petroquímica, entre outras. Por sua vez, as turbinas de multi-estágios (de 1 000 a 100 000 kW) podiam ser usadas para acionar geradores, compressores, sopradores e bombas, atendendo, além das indústrias citadas, siderúrgicas, fábricas de papel e celulose, fertilizantes, madeireiras etc. Para desenvolver ainda mais esse item, a Dedini firmou, naquela época, contrato de cooperação técnica com a alemã Siemens A.G., especializada nessa fabricação. A divisão de caldeiras produzia, por volta de 1985, geradores de vapor que utilizavam materiais alternativos sólidos (carvão, bagaço, refugos, borra
Unidade Biostil na usina São Luiz, em Pirassununga (SP), no final da década de 1980
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com capacidade para fabricar 2 000 toneladas de peças por mês, em todos os tipos de metais ferrosos.
de café e outros) para substituir o emprego de combustíveis considerados críticos em siderurgia, petroquímica, plantas térmicas, usinas de açúcar, destilarias de álcool, indústrias alimentícias e outras. Além desses produtos, fabricava caldeiras para recuperação de enxofre, de hidrogênio, e um avançado sistema de recuperação de gases. O alto padrão de qualidade internacional da Metalúrgica evidenciava-se, então, pelo fato de exportar tecnologia em açúcar e álcool para as companhias Andritz Machinenfabrik, austríaca, e Soracen, francesa. A Siderúrgica, por sua vez, era, então, uma das maiores usinas privadas brasileiras, ocupando área construída de 78 567 metros quadrados, em terreno de 358 620 m2. Contava com 2 300 funcionários, aproximadamente, e dentre suas principais divisões estavam a aciaria, com oito fornos elétricos e dois lingotamentos contínuos; a laminação, com três unidades capazes de produzir mensalmente 25 000 toneladas de barras de aço para a construção civil e para fins mecânicos, obtidas em leito de resfriamento; as fundições leve, média e pesada,
A tecnologia adquirida ao longo do tempo, obedecendo a padrões internacionais de qualidade, permitia o fornecimento de diferentes produtos aos mais variados segmentos: cimento, mineração, hidrelétrico, naval, siderurgia, sucroalcooleiro e de máquinas em geral. O grupo englobava, ainda, empresas que atuavam na área de destilação (Codistil), material refratário (Dedini Refratários Ltda.), comercialização de barras de aço para concreto armado (Dedini Comércio de Aços), projetos de engenharia industrial (Dedini-Kavasaki Engenharia S.A.), na fabricação de equipamentos de corte e carregamento para o setor canavieiro (Dedini Máquinas e Sistemas), e na fabricação de transformadores e prestação de serviços elétricos (Dedini Equipamentos Elétricos Ltda.). Sua tradicional “loja”, a Dedini Comercial Ltda., fundada no passado, vendia mais de 10 000 itens para consumo e manutenção das indústrias em geral, funcionando como verdadeiro “pulmão” para os clientes do grupo, pois seu estoque
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permitia o pronto atendimento de peças de reposição e minimizava os investimentos em almoxarifados por aquelas empresas. Havia, ainda, as usinas. Uma delas era a Açúcar e Álcool São Luiz S.A., em Pirassununga (SP), fundada nos anos 1960, com 750 funcionários, que produzia açúcar e álcool. Ali foi, também, desenvolvido um processo pioneiro para obtenção de açúcar invertido a partir da cana-de-açúcar: o produto Gludex, que apresentava qualidades específicas de higroscopicidade, viscosidade e resistência à cristalização. Por isso, era bastante utilizado pelas indústrias alimentícias e farmacêuticas. A outra unidade era a destilaria São João, em São João da Boa Vista (SP), instalada em 1982, que fabricava e comercializava álcool. Servia como verdadeiro laboratório para testar novos produtos desenvolvidos pela Dedini (ver p. 146).
Em busca de ajuda A conturbada conjuntura nacional atrapalhou, no entanto, os planos de expansão e a performance da Dedini durante a
década de 1980, a exemplo do que ocorreu nas outras companhias estabelecidas no país. No final de 1989, o conglomerado previa investimentos de US$ 165 milhões durante os próximos cinco anos, mas foi abalado por planos econômicos recessivos e o desaquecimento da economia; suas empresas acumularam sucessivos prejuízos, agravados pelos vencimentos dos investimentos efetuados na década anterior. Para administrar seu endividamento, a diretoria do grupo procurou, primeiramente, os parceiros japoneses – Kawasaki e C. Itoh –, para tentar convencêlos a manter suas participações, comparecendo no aumento do capital. Diante da negativa, dirigiu-se ao BNDES, conseguindo obter o parcelamento de seus compromissos, e, inclusive, capitalização com emissão de ações resgatáveis. Mesmo com as grandes dificuldades conjunturais, o grupo instalou, naquela época, duas empresas: a Dedini Corretora de Seguros S/C. Ltda., para melhor proteger seus ativos, e a Codismon Metalúrgica Ltda., destinada à prestação de serviços de montagens dos produtos fabricados.
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Medidas extremas No término de seu governo, José Sarney acumulou pontos muito negativos para o país. Sob seu comando, a economia atingiu a maior taxa de inflação (mensal e anual) e o menor salário mínimo real. Em conseqüência, enfrentou inúmeras greves e amargou baixos índices de popularidade, agravados por denúncias de escândalos. Fernando Collor de Mello (1990-1992) foi o primeiro civil eleito pelo voto direto desde 1960. Foi, também, o primeiro escolhido dentro das regras da Constituição de 1988, com plena liberdade partidária. Collor, ex-governador de Alagoas, assumiu com o apoio das forças conservadoras, derrotando, no segundo turno, o ex-metalúrgico e líder da esquerda, Luiz Inácio Lula da Silva. Entre suas promessas de campanha, estavam a moralização da política e o fim da inflação. Acenava, também, com a modernização do país, a redução do papel do Estado e a eliminação dos controles burocráticos da política econômica, oferecendo apoio às empresas nacionais para que aumentassem sua eficiência e competitividade no mercado global.
Ao assumir o poder, o jovem presidente informou que “só possuía uma bala na agulha para matar o ‘dragão’ da inflação”. Assim, “puxou o gatilho” às 7h15 da manhã da sexta-feira, 16 de março daquele ano. Algumas das medidas anunciadas eram já conhecidas em planos econômicos anteriores: congelamento de preços e salários, troca de moeda (cruzado novo pela volta do cruzeiro), aumento de tarifas públicas, prefixação da inflação quinzenal e depois, mensal, entre outras. A grande novidade ficou por conta do bloqueio das aplicações financeiras (no over night e nos fundos), das contas bancárias e das poupanças, que deixou empresas e pessoas físicas, do dia para a noite, sem nenhum dinheiro para cumprir seus compromissos. O cruzeiro tornou-se dinheiro raro e caro. Quem tinha dólares, trocou. Quem possuía algum patrimônio foi obrigado a desfazer-se dele por preços irreais, e quem não tinha outra alternativa quebrou. Em seguida, Collor tomou rígidas medidas de enxugamento da máquina estatal, como a demissão em massa de funcio-
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nários públicos e a extinção de autarquias, fundações e empresas públicas. Ao mesmo tempo, anunciou providências para abrir a economia nacional à competição externa, facilitando a entrada de mercadorias e capitais estrangeiros no país. Inicialmente, as elites políticas e empresariais apoiaram a desregulamentação da economia e a redução da intervenção estatal no setor.
Nos primeiros meses, o Plano Collor parecia dar certo, com a estabilização momentânea da inflação, mas, logo depois, começaram a aparecer os problemas: a atividade industrial caíra 10,3% – a pior taxa obtida desde 1981. Crescia a economia informal e, no final do ano, o “dragão” da inflação mostrava que não havia sido abatido: em dezembro de 1990, atingiu a taxa de 1 118,54% ao ano.
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Chapas de aço inoxidável na fábrica de Piracicaba (SP)
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condições especiais. O parque fabril destinado à produção de bens para o setor sucroalcooleiro, instalado no município obteve, naquela época, notável crescimento, sendo responsável pela maior parte dos equipamentos fornecidos para todo o Brasil.
Em fevereiro do ano seguinte, a então ministra da Fazenda, Zélia Cardoso de Mello, ainda tentou salvar o plano, instituindo novo aumento de tarifas públicas e o congelamento de preços, salários e das prestações da casa própria; promoveu a desindexação da economia (abolindo o índice de correção, BTN); criou um índice (TR) para remunerar a poupança e extinguiu as aplicações financeiras, do tipo over night. Sem obter resultados, a ministra e toda sua equipe foram demitidos. Marcílio Marques Moreira foi nomeado em seu lugar. Modificou o comando da economia, mas a recessão continuou a mesma.
Reflexos em Piracicaba A consolidação do município de Piracicaba como pólo industrial retirou de sua economia o caráter sazonal conferido pela agricultura. A região passou a ser mais influenciada pela conjuntura nacional do que pelas safras agrícolas. O advento do Proálcool havia possibilitado a manutenção do nível de emprego e permitiu a modernização de suas usinas, graças aos financiamentos em
Paralelamente, a lavoura canavieira apresentou grande expansão, com o processamento de mais de 10,6 milhões de toneladas de cana, em 1985-1986. Para tanto, houve significativo aumento na área plantada, que substituiu, até, florestas e pastagens. Naquela safra, a produção de álcool atingiu seu pico: quase seiscentos milhões de litros, 192,3% superior ao total fabricado em 1981-1982. Nos anos anteriores, a cidade havia apresentado notável crescimento, com a chegada de grande número de trabalhadores, especializados ou não, que vieram em busca de emprego na indústria e nas lavouras. No período de 1974 a 1983, a população piracicabana cresceu 83,88%, enquanto a área urbanizada expandiu 124,57%, superando bastante as necessidades de ocupação. A cidade enfrentou, ainda, problemas na sua infra-estrutura,
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com o aparecimento de inúmeros loteamentos periféricos, normalmente afastados do centro, que provocaram a ocorrência de enormes vazios na malha urbana. Ocorreu, assim, uma especulação descontrolada e mau uso do solo, com evidente prejuízo sobre a qualidade de vida. No início dos anos 1980, surgiu uma nova característica no desenvolvimento de Piracicaba, que modificou consideravelmente sua paisagem: a verticalização das construções, fenômeno também observado em outras cidades brasileiras. Naquela época, Piracicaba já se destacava como centro regional de comércio e serviços. A rede bancária era bastante ampla e a cidade continuava a destacar-se na educação, com inúmeras universidades. Os tradicionais estabelecimentos comerciais, concentrados na área central, foram obrigados a enfrentar a concorrência do Shopping Center Piracicaba, instalado em 1987, em terras da Dedini, à margem direita do rio, nas proximidades da ponte conhecida como “Lar dos Velhinhos”. No final dos anos 1980, observou-se a deterioração das
condições de vida da população, aumentando o número de favelas e o desemprego. A crise atingiu em cheio o próspero município e uma de suas principais indústrias, a Phillips, fechou suas portas, transferindo-se da cidade. A desaceleração fez-se sentir na queda da arrecadação de impostos e foi agravada, ainda mais, pelo desaquecimento do Proálcool.
Crise no setor de bens de capital O agravamento da crise do álcool, no entanto, podia ser observado na safra 1988-1989, quando o setor canavieiro passou a priorizar, em lugar do combustível, a fabricação do açúcar. O resultado foi verificado, assim como em outras regiões brasileiras, pela falta do produto para o abastecimento dos veículos, seguida pela queda progressiva e acelerada da demanda por carros a álcool. O esvaziamento do Proálcool, na segunda metade dos anos 1980, foi compensado pela alta dos preços do açúcar no mercado internacional. Assim, diversas destilarias autônomas, que só produziam álcool, equi-
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param-se para produzir também açúcar. Sensivelmente prejudicada pela recessão, a indústria de bens de capital ficou aliviada com essa safra de novas encomendas. Muitos chegaram a acreditar que os bons tempos haviam voltado. Naquela época tão auspiciosa, nos anos 1970, esse segmento industrial, representado pela Associação Brasileira da Infra-estrutura e Indústrias de Base (ABDIB), empregava 150 000 pessoas e faturava mais de US$ 8 bilhões por ano. No final de 1980, o número de trabalhadores caíra para 30 000 e obtinha cerca de US$ 2 bilhões com suas vendas anuais. Logo, os empresários perceberam que o aumento das encomendas era ilusório. A situação agravou-se ainda mais quando Collor cancelou reajustes previstos e, também, muitos contratos firmados com as companhias estatais siderúrgicas, como a Cosipa e Companhia Siderúrgica Nacional, que supriam, com seus pedidos, as empresas de bens de capital. O jornalista Geraldo Hasse (1996) comenta que, de um grupo empresarial de elite que, em 1980, assumira a liderança no debate sobre qual seria o projeto de
desenvolvimento mais adequado para realizar o sonho de “Brasil Potência”, a ABDIB transformouse, em 1990, em um “autêntico clube de falidos”. Todas as empresas do setor sofreram profundas transformações: algumas simplesmente desapareceram, outras fundiram-se, deixaram-se absorver, ou foram obrigadas a reduzir suas atividades. Dessa forma, não surpreendia que, nas próprias reuniões da ABDIB, na década de 1990, os empresários começassem a admitir algo que, até então, significaria uma capitulação: a fusão entre eles. Como recurso extremo, os industriais ainda tentaram promover sua atividade, por meio de uma campanha publicitária, elaborada gratuitamente pela agência MPM Propaganda, cujo lema era: “Um país que não investe no futuro não tem futuro”. A primeira tentativa de fusão entre a Confab e a Filsan, no âmbito da ABDIB, não obteve sucesso. A Zanini S.A. Equipamentos Pesados, por sua vez, iniciou negociações para se associar à Nardini, uma fundição de Limeira (SP), e, quando essa iniciativa fracassou, passou a estudar a fusão com a Dedini, retomando uma antiga conver-
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sação. Nos anos 1960, quando Mario Dedini ainda dirigia a empresa, já haviam sido entabuladas algumas negociações com a família Biagi, para a realização de algumas operações em conjunto, que não obtiveram êxito. A oportunidade de formar uma parceria surgiu, novamente, no início de 1990, com a idéia de um consórcio entre as duas empresas para trabalhar no Irã. O objetivo era “consolidar uma forte posição competitiva nos mercados nacional e internacional, mediante um processo de racionalização operacional a ser executado por uma administração profissionalizada, sem interferências familiares”, dizia um documento redigido naquela época.
A proposta do Irã A possibilidade de fornecimento de cinco usinas no Irã foi apresentada à diretoria da Dedini pelo empresário Wolfgang Sauer, que fora presidente da Volkswagen do Brasil e estava, na época, atuando no comércio exterior. Tratava-se de um empreendimento com finalidade estratégica, pois o governo
Catálogo de divulgação dos produtos da antiga empresa DZ, em meados de 1990
iraniano pretendia desenvolver uma região muito pobre daquele país, procurando aumentar a oportunidade de emprego com a instalação das indústrias. O valor do “pacote” estava estimado em mais de US$ 600 milhões, valor bastante significativo para a Dedini. Dessa forma, a empresa aliou-se à Zanini para tentar concretizar o interessante negócio e, juntas, investiram mais de US$ 2 milhões na
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Fabricação de equipamentos pesados na unidade fabril da Dedini, em Sertãozinho (SP)
elaboração da proposta. As duas companhias concorriam com quinze consórcios de várias partes do mundo. Os engenheiros encarregados desse trabalho demoraram um ano nessa tarefa e recordam-se da correria e das noites passadas em claro para preparar os documentos exigidos para seleção dos fornecedores. Depois de embalados, os volumes contendo as propostas, em sete vias, pesaram setecentos quilos e lotaram uma caminhonete de grande porte.
Foi preciso até atrasar em três horas a partida do vôo para embarcá-los, a tempo de participar da concorrência internacional. Os brasileiros tinham todas as vantagens competitivas, mas não conquistaram o negócio. O governo iraniano preferiu entregá-lo para o Egito, com quem possuía créditos. Aliás, das cinco usinas previstas, acabou concretizando-se a construção de apenas uma unidade. De qualquer forma, essa proposta serviu de “balão
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de ensaio” e acabou unindo as tradicionais concorrentes no Brasil – Dedini e Zanini –, que passaram, a partir de então, a estudar a participação conjunta em outros empreendimentos.
A fusão Dedini e Zanini Assim, ainda no embalo do consórcio para venda de equipamentos ao Irã, em 1990, as duas empresas emitiram uma nota oficial, manifestando a intenção da fusão. A iniciativa recebeu o apoio do então ministro da Administração, João Santana, e foi estimulada por Wolfgang Sauer, mentor da criação da indústria Autolatina (consórcio entre a Ford e a Volkswagen do Brasil), o mesmo que fizera a prospecção da venda para o Irã. Sauer tornara-se presidente do conselho da Zanini e, com a colaboração do prefeito Waldyr Trigo e do Sindicato dos Metalúrgicos de Sertãozinho, conseguiu um empréstimo-ponte junto ao BNDES para viabilizar o empreendimento. Os preparativos para a fusão duraram dois anos, consumidos em discussões e estudos para compatibilizar ativos, passivos, débitos e créditos. Da fusão
ficaram de fora algumas empresas pertencentes ao grupo Biagi, como a Zanini Internacional, a Sermatec e a Renk-Zanini, e, também, a divisão de turbinas, da Dedini. As duas ferrenhas concorrentes que, muitas vezes, mediram suas forças para conquistar clientes, implantar novas tecnologias e superar recordes de produção tiveram trajetórias, até certo ponto, semelhantes. A Zanini havia iniciado suas atividades nos anos 1950, a partir de uma oficina mecânica, que prestava serviços na região de Sertãozinho (SP). Em 1951, fabricou seu primeiro equipamento: uma caldeira, fornecida à usina Bela Vista. Sete anos depois, produzia sua primeira moenda. A primeira usina completa, a Vale do Rosário, foi projetada e instalada em 1965. O crescimento dessa empresa familiar foi rápido. Em 1964, já era uma sociedade anônima com a denominação de Zanini S.A. Equipamentos Pesados, atuando, além do mercado sucroalcooleiro, em mineração, papel e celulose, controle ambiental e transporte de cargas industriais. A nova empresa formada pela Dedini e Zanini chamou-se
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DZ S.A. Engenharia, Equipamentos e Sistemas, e desde a sua criação, já era a maior fornecedora para o setor sucroalcooleiro. No ano seguinte, aumentou seu capital com o ingresso da ATB-Badoni, representante brasileira do conglomerado italiano E. Fochi, com sede em Bologna, detentora de tecnologia sofisticada e muito bemsucedida. A multinacional atuava nas áreas de petróleo e petroquímica, mineração, portos, energia, cimento, aço e meio ambiente, por meio de sua coligada no Brasil. Acreditava-se que este grupo estrangeiro auxiliaria no aumento da participação da DZ fora do país, pois possuía no currículo atividades nas áreas da petroquímica, mineração, portuária, energia, cimento, aço e meio ambiente. A DZ tinha áreas distintas de atuação: equipamentos para açúcar e álcool e equipamentos industriais para atender outros setores, como petroquímica, petróleo, portos, mineração, siderurgia, papel e celulose, cimento, controle ambiental, energia, hidroelétrica, elevação e transporte de cargas industriais.
Somando a capacidade instalada das duas empresas, a DZ apresentava números impressionantes: a sede era em Piracicaba, onde, também, havia unidades fabris, além de Sertãozinho. Possuía escritórios regionais no Nordeste e representantes comerciais em vários países. Seu parque industrial ficou com 74 200 metros quadrados de área construída, e com capacidade de produção de 154 000 horas/homem por mês, segundo propagandas da época. As duas empresas somaram, também, seus acervos tecnológicos, as parcerias firmadas ao logo do tempo e seu histórico de certificações de qualidade. Dessa forma, tornou-se a maior fabricante mundial de equipamentos para o mercado de açúcar e álcool. Procurando oferecer tratamento mais ágil e personalizado a seus clientes, e buscando maior controle de qualidade, a DZ criou o conceito de “células-de-produtos”. Cada célula era especializada em determinada área de produção, com organização interna própria, e “sub-células” de engenharia, custos, administração de contratos, engenharia industrial e planejamento de controle da produção.
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PROGRAMA RGD: GARANTIA DE QUALIDADE O Programa de Reposição Garantida
Para tanto, a equipe de técnicos
Dedini (RGD) foi criado em 1982, com
do RGD vive sempre a campo, agindo
o objetivo de oferecer ao cliente “o
como elo de ligação entre o fornecedor
melhor preço, o melhor prazo, a melhor
e seus clientes, buscando atender suas
qualidade e o melhor atendimento ao
necessidades, ouvindo atentamente
mercado”. Estava voltado, também,
suas sugestões e detectando as difi-
para efetuar um trabalho de pós-venda, fornecendo informações sobre o andamento das encomendas, e oferecendo serviço de assistência técnica permanen-
rar a qualidade dos serviços ao longo do tempo.
te ao setor sucroalcooleiro.
O sistema RGD tornou-se tão forte dentro do grupo que
Naquela época, foi feito um zoneamento para cobrir
hoje permeia todas suas atividades industriais, e está sendo,
todo o campo de atuação da empresa, criando-se “territó-
inclusive, difundido por outros locais, como Estados Unidos,
rios” para melhor racionalizar o trabalho da equipe de ven-
Américas e Indonésia. Segundo seus idealizadores, o progra-
das e planejando cuidadosamente as atividades de atendi-
ma alavanca a venda de outros equipamentos e fornece mui-
mento ao mercado de açúcar e álcool em todo Brasil.
ta segurança para os clientes: eles sabem que podem contar
O programa foi importantíssimo para a Dedini, quando o setor mergulhou em profunda crise, no final da década de 1990, e os projetos de construções de novas unidades, ampliações e modernizações ficaram completamente paralisados. Foi a reposição de peças que conseguiu sustentar o nível de faturamento do grupo na virada do milênio. Com as mudanças implementadas, a partir de 1983, o sistema RGD obteve um crescimento espetacular: o volume de negócios, equivalente a R$ 8 milhões naquele ano, deve atingir, em 2005, mais de R$ 100 milhões no mercado nacional.
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culdades do dia-a-dia. Dessa forma, foi possível aprimorar as tecnologias de produção e melho-
com assistência técnica, a qualquer dia e hora, pois existem, sempre, plantonistas para efetuar serviços de emergência. A assistência técnica opera em três níveis: dimensionando o maquinário de acordo com a capacidade produtiva prevista; efetuando análises críticas para sua melhor utilização, e realizando a manutenção propriamente dita. Além disso, os profissionais do RGD fornecem consultoria na aquisição de peças de reposição, em otimização de equipamentos (repotenciamento), na atualização tecnológica e nas reformas e ampliações. Desde 2004, o RGD vem sendo implementado em outras áreas de atuação do grupo, principalmente no setor de energia (caldeiras). Procura, também, divulgar, tanto
Esse sucesso é decorrência do trabalho integrado de
interna como externamente, sua filosofia de trabalho de
todas as áreas que compõem o sistema RGD: desde a
“fornecedores de soluções”, pois, afinal, estão plenamente
equipe de prospecção de negócios, passando pela en-
conscientes de que o sucesso de qualquer empreendimen-
genharia, áreas fabris, controle de qualidade, expedição
to envolve sempre uma equipe bem entrosada e eficiente
e assistência técnica pós-venda.
para deixar o cliente cada vez mais satisfeito.
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Para que todo o esquema montado funcionasse, contava com o apoio da estrutura dos departamentos já instalados das duas empresas, como, por exemplo, o Sistema de Reposição Garantida da Dedini (RGD), serviço de atendimento personalizado, que garantia, inclusive, serviços de emergência durante 24 horas aos clientes (ver boxe p. 165). Formalizada a união, a DZ nasceu com um passivo de cerca de US$ 50 milhões, equacionado em longo prazo, com taxas de juros máximas de 12% ao ano. Segundo Geraldo Hasse (1996), se a nova empresa tivesse conseguido implementar adequadamente o plano de fusão, poderia ter-se sustentado com a simples unificação operacional, pois possuía tecnologia e mercados para prosseguir.
Choque cultural Ocorreu, no entanto, o que foi chamado de “choque cultural”, entre Piracicaba e Sertãozinho. O primeiro problema foi o atraso em oito meses nas medidas de saneamento previstas no documento de fusão. Em vez de representar uma solução, a DZ produziu mais prejuízos. O
grupo italiano Fochi, que entrou para auxiliar no processo, acabou atrapalhando mais ainda. Houve muitas dissensões e a cisão acabou sendo oficialmente assinada em 31 de dezembro de 1994. Pelo acordo, a Zanini retiravase da sociedade, ficando com os imóveis em Sertãozinho. A Dedini assumiu o controle da DZ, para evitar sua falência, com a missão de promover o saneamento financeiro e dar continuidade às atividades em Sertãozinho, e, desde então, não tem economizado esforços e sacrifícios nesse propósito. Nesse empreendimento, as duas companhias perderam considerável patrimônio, mas o realismo acabou impondo uma reengenharia em ambos os lados. A demissões inevitáveis de trabalhadores, voluntárias ou não, ocorridas em Sertãozinho, acabaram por ter um aspecto positivo: muitos desses ex-funcionários da DZ aproveitaram seu conhecimento e acabaram se estabelecendo por conta própria. Em conseqüência, surgiram inúmeras indústrias metalúrgicas e mecânicas de pequeno porte, geridas com eficiência, que hoje são bastante significativas para a economia local.
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Agrava-se a crise Ao assumir o controle acionário da DZ S.A. Engenharia, Equipamentos e Sistemas, em 1995, a primeira medida tomada pela Dedini foi efetuar a divisão da empresa em duas unidades de negócios, uma exclusiva para atender o mercado de açúcar e álcool, a outra para variados tipos de equipamentos industriais. As altas taxas de juros praticadas naquela época inibiam os investimentos das indústrias, provocando diminuições das encomendas. A diretoria da Dedini estimava redução de 22% nas suas atividades entre 1995-1996. Na Siderúrgica, a situação era, também, difícil, devido à estagnação do setor de construção civil. Dessa forma, o consumo de vergalhões permaneceu estacionado entre 1995-1996, em níveis de 1,65 milhão de toneladas anuais, representando consumo de onze quilos por ano por habitante. Assim, a Dedini foi obrigada a efetuar uma recomposição financeira, tanto acionária, como de seus débitos. Nessa época, o presidente, Dovilio Ometto, teve, segundo seus assessores mais diretos, uma postura muito firme e não permitiu que
a crise da empresa prejudicasse os acionistas, ou seus credores. Ele sinalizou de forma clara à comunidade e ao mercado que a situação era séria, mas que a empresa estava disposta a honrar seus compromissos. Segundo esses observadores, tal atitude não é muito comum, quando se trata de companhias de propriedade familiar, como é o caso da Dedini. Só foi possível devido à personalidade singular de Dovilio Ometto, caracterizada por grande confiança na tradição da sua indústria, e na crença inabalável de uma reação positiva do mercado. Com uma visão otimista e dinâmica, ele agiu como sempre fez: continuou trabalhando em negócios não-especulativos, preocupando-se em desenvolver tecnologias e preservando seus colaboradores. De qualquer forma, foi forçado a desfazer-se de muitos ativos importantes, que apresentavam maior liquidez, para saldar seus débitos.
Denúncias e impeachment Desde de 1991, no entanto, as dificuldades encontradas
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pelo plano de estabilização econômica, que não acabou com a inflação e aumentou a recessão no país, começaram a minar o governo de Fernando Collor. A situação se agravou com denúncias de corrupção e mau uso do dinheiro público, envolvendo ministros, altos funcionários e familiares do presidente. Assim, foi instalada uma Comissão Parlamentar de Inquérito, em maio de 1992. Diante da confirmação das denúncias, a população se manifestou em todo o país, pedindo o impeachment (impedimento) do presidente, votado em setembro daquele ano pelo Congresso Nacional, sob forte pressão da vontade popular. Collor foi afastado do cargo e teve seus direitos políticos cassados por oito anos. Foi denunciado, também, pela ProcuradoriaGeral da República por crimes de formação de quadrilha e de corrupção. Dessa forma, em 29 de dezembro de 1992, assumiu, em caráter definitivo, o vicepresidente, Itamar Franco. Na tentativa de debelar a crise econômica e controlar a inflação, o novo presidente chamou para ocupar a pasta da
Fazenda o sociólogo e senador Fernando Henrique Cardoso que, no final de 1993, anunciou várias medidas para estabilização da moeda. Em 1º de julho de 1994, implantou o Plano Real, novo pacote econômico que, entre outras disposições, mudou a moeda de “cruzeiro real” para “real”. O Plano Real, lançado em julho de 1994, foi o programa de estabilização de maior êxito no país. Ao contrário de outros, com apenas alguns meses de duração, conseguiu ultrapassar a gestão de Itamar Franco e perpetuar-se no governo seguinte. Além do sucesso no declínio da inflação, procurou preservar as atividades econômicas e manter o nível do emprego. As denúncias de irregularidades, no entanto, não pararam. Entre 1993 e 1994, nova Comissão Parlamentar de Inquérito do Congresso Nacional investigou problemas na elaboração do Orçamento da União, provando o envolvimento de ministros, parlamentares e altos funcionários em um esquema de manipulação das verbas públicas, desviadas para empreiteiras e apadrinhados políticos.
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A autoridade do presidente, contudo, não foi abalada pelo resultado das investigações. Em janeiro de 1995, Itamar Franco deixou o governo com um dos mais altos índices de popularidade verificado na República, apoiando a candidatura de seu ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso.
Novo governo Senador e ex-chanceler, Fernando Henrique apresentou-se
à disputa eleitoral como o idealizador do Plano Real. Seu programa de campanha foi centrado na estabilização da moeda e na reforma da Constituição. Assim, conquistou a presidência no primeiro turno das eleições, derrotando inúmeros candidatos. Seu primeiro mandato foi de janeiro de 1995 a dezembro de 1998. Com sua reeleição, pôde permanecer no cargo até o final de 2002. Em ambos os pleitos, teve como principal concorrente o candidato
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do Partido dos Trabalhadores (PT), Luiz Inácio Lula da Silva. No dia em que Fernando Henrique assumiu a presidência pela primeira vez, passou a vigorar o Tratado de Assunção, negociado durante o governo Collor, com o objetivo de implantar o Mercosul. Esse acordo, assinado pela Argentina, Uruguai, Paraguai e Brasil, estabelecia a criação de uma área de livre-comércio. Houve muitos atritos entre os países-membros, mas, apesar dos desentendimentos, o Mercosul propiciou um melhor intercâmbio comercial na América Latina.
Reforma constitucional No início de sua administração, Fernando Henrique esforçou-se para conseguir a aprovação de suas propostas. Dentre as principais, destacaramse: a quebra dos monopólios do petróleo e das telecomunicações e a alteração do conceito de empresa nacional, para não discriminar o capital estrangeiro. Diversas outras reformas foram discutidas pelo Congresso Nacional, nos anos seguintes, nos âmbitos tributário, financeiro e
político, mas os conflitos de interesses impediram sua aprovação. O presidente deu continuidade ao Plano Real. Em seguida, promoveu alguns ajustes na economia, como o aumento da taxa de juros para desaquecer a demanda interna, e a desvalorização do câmbio, para estimular as exportações e equilibrar a balança comercial. Com a implementação do plano, obteve-se, finalmente, o controle da inflação em níveis mais baixos: no final de 1995, situava-se em torno de 23% ao ano. No segundo semestre de 1996, porém, surgiram sinais de recessão econômica, como a queda nos níveis de consumo, demissões de empregados em massa e o aumento da inadimplência. A redução da atividade econômica provocou desemprego nos setores industrial e agrícola. Por outro lado, a demora na implementação da reforma agrária agravou os conflitos no campo. Outro problema enfrentado pelo governo foi o aumento da dívida interna que passou de US$ 60 bilhões de dólares para mais de US$ 500 bilhões. A situação piorou no final de 1997, com a crise na bolsa de valores
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de Hong Kong, que se alastrou pelo resto do mundo, atingindo fortemente o Brasil. As reservas monetárias brasileiras caíram de US$ 74 bilhões, em abril de 1998, para US$ 42 bilhões, em outubro daquele ano. O governo procurou salvar o Plano Real e impedir a saída de divisas, mediante a elevação das taxas de juros e com o anúncio de novas medidas econômicas. Foi obrigado, também, a recorrer ao Fundo Monetário Internacional, obtendo um empréstimo emergencial da ordem de US$ 40 bilhões. Em contrapartida, teve de adotar um rigoroso reajuste fiscal, com desvalorização cambial, aumento da arrecadação e diminuição de gastos públicos. Tais medidas agravaram, ainda mais, a recessão no país.
Sacrifício inevitável Diante da difícil conjuntura nacional, que continuava abalada devido a dificuldades para se pro-
mover a estabilização econômica, a Dedini viu-se com alto nível de endividamento. A situação ficou ainda pior com o fracasso da fusão com a Zanini, que impingiu prejuízos à companhia. Completamente descapitalizada, a empresa foi obrigada, em 1994, a vender 49% das ações da Siderúrgica para a BelgoMineira, com sede em Minas Gerais. Desde sua fundação, em 1921, essa companhia pertencia ao grupo Arbed, de Luxemburgo; em 2002, uniu-se à Usinor (França) e Aceralia (Espanha), para formar o maior conglomerado siderúrgico do mundo: Arcelor. Mesmo diante das dificuldades financeiras, o grupo Dedini promoveu, em 1996, a ampliação da destilaria São João, transformando-a em uma usina de açúcar e álcool para processar cerca de um milhão de toneladas de cana. O projeto, que consumiu investimentos de US$ 13 milhões foi instalado em 1998.
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Retomada do desenvolvimento “A Dedini tem uma história de tenacidade e esperança, fé e coragem, vitórias e crises, e, principalmente, de muito trabalho e desprendimento.” Dovilio Ometto, em 1980, por ocasião do 60º aniversário da empresa, que dirige desde 1970.
N Na página seguinte, detalhe de trabalho na unidade fabril de Sertãozinho (SP)
o final do século XX, a Dedini apresentava-se como sobrevivente de um passado tumultuado, sofrendo, ao longo do tempo, todos os reflexos das crises econômicas ocorridas no país, que, praticamente, destruíram a indústria de bens de capital nacional. Segundo um de seus diretores, o que mais impressiona na empresa é sua enorme capacidade de resistência às inúmeras dificuldades, além do firme propósito de gerar e manter empregos. Devido ao fato de ser familiar e ter capital nacional, a grande vantagem competitiva da Dedini é a agilidade nas decisões, por meio de uma administração – formada por executivos e acionistas – com visão compartilhada, que sabe conviver com suas diferenças e chegar ao consenso. Tal fato compensa, em parte, as dificuldades para atrair capitais para transformá-los em investimentos, geralmente, mais fáceis de serem obtidos pelas empresas multinacionais. Por volta de 1996, o tradicional grupo se via mergulhado em profunda crise, e só conseguiu sobreviver promovendo a desmobilização de parte de seu patrimônio. Paralelamente à venda de ações da Siderúrgica e de outros ativos, a Dedini apresentou ao BNDES um projeto de reestruturação econômica e financeira, propondo o equacionamento de suas pendências.
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O grupo passou a constituirse, basicamente, de duas unidades operacionais: a Dedini S.A. Agro Indústria e a Codistil S.A. Dedini. A primeira reunia as usinas e fazendas, e a segunda englobava as atividades de produção de bens de capital, agindo como âncora dessa sociedade. No âmbito desse projeto, foi adquirido, em junho de 1996, o controle acionário total da Codistil (34,664% das ações, que se encontravam nas mãos de terceiros). Parte do pagamento foi efetuado com a cessão da unidade de fabricação de turbinas. O endividamento com bancos e tributos, no entanto, continuava alto: em dezembro daquele ano, ultrapassava os R$ 351 milhões, equivalentes, na época, a mais de US$ 338,2 milhões. O plano de reestruturação societária foi aprovado por unanimidade pelos acionistas em dezembro de 1996. Estabeleceu que parte do acervo patrimonial da Dedini S.A. Administração e Participações – investimentos que possuía nas empresas controladas Dedini S.A. Agroindústria e Codistil – seria separado, e passaria a compor uma nova empresa, denominada DDN Participações Ltda.
As demais coligadas do grupo continuaram a ser controladas pela holding Dedini S.A. Administração e Participações. Dessa forma, em 1997, a Dedini vendeu o restante de suas ações da Siderúrgica (51%) para a BelgoMineira, e desfez-se de mais alguns imóveis. Pôde, assim, saldar suas dívidas, pagando, inclusive, as ações resgatáveis adquiridas pelas holdings dos acionistas: Doado S.A. Participações (constituída pelos descendentes de Dovilio e Ada Dedini Ometto), AD Participações Ltda. (descendentes de Armando e Norma Dedini) e Nidar Participações Ltda. (família Arnaldo e Nida Dedini Ricciardi). O BNDES forneceu fundings necessários para os bancos privados prorrogarem algumas pendências mais cruciais do grupo: o débito da DZ com os bancos privados e o da Dedini Agro Indústria com o Banco do Brasil. Diante desses acertos financeiros, as dívidas caíram, passando para R$ 257,3 milhões em dezembro de 1997, equivalentes a US$ 230,7 milhões. Eram, ainda, valores muitos altos, constituídos, principalmente, por empréstimos em bancos e por débitos com impostos.
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Livre mercado Apesar da grande diversificação da Dedini, a atuação no mercado sucroalcooleiro continuava a ser, ainda, bastante significativa na transição para o século XXI. Por isso, a situação desse setor apresentava grande influência no desempenho do grupo. E, naquela época, a conjuntura não poderia ser pior. Segundo a pesquisadora Márcia Azanha Ferraz Dias de Moraes (2004), enquanto o governo ditou a política de comercialização para os produtos da cadeia da cana-de-açúcar, os efeitos do excesso de oferta dessa matéria-prima ficaram minimizados. Quando, a partir de 1998, diminuiu a intervenção do Estado no setor, sentiram-se os impactos negativos, com reduções importantes no preço do álcool e, também, no do açúcar, cujas cotações apresentaram queda no mercado internacional. A situação se agravou ainda mais com uma supersafra obtida em 1998-1999. Em conseqüência, houve diminuição no número de usinas em operação. A oferta de empregos foi menor e os fornecedores de cana enfrentaram inúmeros problemas. Reforçou-se
a necessidade de encontrar um novo modelo de gestão para o setor, capaz de associar ações públicas e privadas, assegurando a estabilidade dos preços e a disponibilidade dos principais produtos. Devido às suas características especiais, ou seja, à possibilidade de gerar produtos tão distintos – como o açúcar, o álcool e a energia elétrica –, a cadeia canavieira encontrou grandes dificuldades para atuar em ambiente de livre mercado, pois são muitas as variáveis que a influenciam. Se por um lado, a redução da intervenção governamental, como era exercida, com controle nos preços, a definição nas quantidades fabricadas e a interferência na comercialização, aumentavam a eficiência do sistema, por outro, impuseram novos desafios para o setor privado. Dessa forma, um dos ramos do grupo, a Dedini S.A. Agro Indústria (DAI) enfrentou grandes dificuldades naquela época, prejudicada pela queda da receita, devido ao “achatamento” dos preços do açúcar e do álcool, e, também, pela forte pressão dos bancos para receber dívidas vencidas, ameaçando sua execução. Por causa disso, outra empresa da Dedini, a
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Visão noturna da usina de açúcar e álcool Vale do Paranaíba, em Capinópolis (MG)
Dulcini, fabricante de açúcar líquido e do açúcar invertido (Gludex), apresentou grande prejuízo no seu balanço de 1999. Diante dessa difícil situação, a administração da Dedini resolveu vender a terceiros seus negócios na área de açúcar líquido e invertido, mantendo o patrimônio da usina instalada em São João da Boa Vista. Com os recursos obtidos na transação, pôde adquirir títulos do tesouro nacional, enquadrando-se no Programa Especial de Securitiza-
ção Agrícola (PESA), oferecido pelo governo, naquela época, para auxiliar as empresas rurais a escapar da insolvência. A Dedini Agro Indústria conseguiu, assim, regularizar sua situação junto ao Banco do Brasil. Posteriormente, em 2001, o controle acionário dessa empresa foi transferido para outros membros da família Ometto, deixando de fazer parte do grupo, com uma nova denominação: Dedini S.A. Indústria e Comércio, englobando as usinas São João e São
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Luiz. Viviam-se, então, momentos difíceis na conjuntura nacional, que prejudicavam bastante as atividades empresariais.
Problemas políticos Turbulências na área econômica marcaram o início do segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso, iniciado em janeiro de 1999 e finalizado em dezembro de 2002. Simultaneamente, fortes ataques especulativos à moeda, o real, reduziram as reservas financeiras do país, obrigando o governo a abandonar a política de sobrevalorização cambial. Mesmo assim, foi feito novo acerto com o FMI. O Brasil conseguiu obter empréstimo de US$ 41,5 bilhões de dólares, com o compromisso de reduzir gastos públicos, incrementar as exportações e aumentar a arrecadação por meio de impostos. Em conseqüência, a taxa de juros foi elevada mais uma vez. A mudança do sistema cambial, porém, não conseguiu trazer segurança ao mercado. O desgaste na área econômica repercutiu em outros setores do governo. O processo de privatizações foi posto em dúvida, quando o fornecimento de
energia elétrica para dez estados do Centro-Sul sofreu interrupção, em virtude da queda do sistema, atingindo cerca de sessenta milhões de consumidores. Com a popularidade em queda, Fernando Henrique promoveu uma reforma ministerial e anunciou um plano para aumentar as exportações e a produção de grãos. Os ruralistas, por sua vez, exigiam a renegociação de suas dívidas para corrigir o descompasso entre os preços dos produtos agrícolas, e os valores dos financiamentos, reajustados pelas elevadas taxas de juros. O governo cedeu às pressões, revendo débitos de R$ 25 bilhões. Mesmo assim, em 1999, o presidente obteve os mais baixos índices de popularidade, desde quando assumiu a presidência pela primeira vez. Em agosto, os partidos de oposição organizaram a Marcha dos Cem Mil, em protesto contra o governo. A reação de Fernando Henrique veio com o anúncio do Plano Plurianual (PPA), em outubro de 1999, que previa investimentos de R$ 1,1 trilhão de reais em várias áreas. Para o ano de 2000, o governo estabelecia as seguintes metas: crescimento de 4% do
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Produto Interno Bruto (PIB), inflação em torno de 4% e geração de 8,5 milhões de empregos. O plano de reformas sofreu, porém, duro golpe, com a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de considerar inconstitucional a cobrança de aposentadoria de servidores ativos e inativos. Com a decisão, o governo deixou de arrecadar cerca de R$ 2,4 bilhões de reais; para compensar o rombo no orçamento, anunciou cortes de investimentos e passou a considerar novo aumento de impostos.
Recuperação Reconhecendo o alto endividamento tributário apresentado pelas empresas em geral, o governo promulgou a Lei no 9964/2000, que instituiu o Programa de Recuperação Fiscal (Refis), permitindo o parcelamento de débitos tributários federais, vencidos até fevereiro de 2000. Em troca, as companhias recolheriam aos cofres públicos, mensalmente, um percentual que variava entre 0,3% a 1,5% sobre sua receita, dependendo da sua atividade. Este programa possibilitou que muitas firmas em dificulda-
des continuassem trabalhando e, em conseqüência, a partir de 2000, o desempenho da economia nacional melhorou. Contribuiu, também, para esse fato, a acomodação ao ajuste cambial efetuado no ano anterior. A Dedini pôde, assim, retomar seu ritmo normal de produção, compensando as quedas ocorridas nos anos anteriores e logo estava, novamente, operando no limite máximo da capacidade instalada. A expansão teria sido maior no ano seguinte, se não fosse a instabilidade ocorrida em nível internacional, como a crise políticofinanceira ocorrida na Argentina e os atentados terroristas nos Estados Unidos, que ocasionaram elevação na cotação do dólar e geraram novas incertezas nos mercados. Com a globalização, a economia nacional ficara mais suscetível ainda às turbulências provenientes do exterior. Às voltas, também, com uma crise energética, que exigiu grande esforço de toda a sociedade para economizar energia elétrica e evitar um temido “apagão” – o colapso no fornecimento de eletricidade –, o empresariado brasileiro foi obrigado a enfrentar, ainda, a drástica redução das
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linhas de crédito internacionais, tanto para exportação como para capital de giro. Além disso, no mercado cambial, a forte desvalorização do real em relação ao dólar, ocorrida na segunda metade de 2002, teve um impacto negativo, aumentando os custos das empresas, principalmente, daquelas que tinham seus passivos indexados à moeda norte-americana. Todos esses fatos refletiram negativamente, prejudicando o desempenho das atividades econômicas. Ao final de dois mandatos, Fernando Henrique exibia um balanço social positivo de suas realizações, mostrando que, por exemplo, entre 1993 e 2000, a percentagem da população abaixo do nível de pobreza diminuíra de 43% para 30%. O número de crianças fora da escola tinha se reduzido, assim como a mortalidade infantil. Além disso, de 1994 a 2001 foram criados 1,8 milhão de novos empregos, o que permitiu manter a taxa de desemprego por volta de 6%. Na área econômica, além do controle da inflação, a administração de Fernando Henrique conseguiu estimular o fluxo do comércio exterior, possibilitando
que o saldo da balança comercial deixasse de ser negativo. De 1993 até 2001, o Brasil não parou de crescer, a taxas médias de 3,3% ao ano. O país conseguiu um fato raro: estabilizar sua economia e, ao mesmo tempo, desenvolver-se em todos os setores. Mesmo diante de tantas conquistas positivas, o desgaste político do governo, aliado à grave recessão, impediram que Fernando Henrique fizesse seu sucessor à presidência, José Serra. Após três derrotas em pleitos anteriores, foi eleito, com mais de 60% dos votos válidos, o candidato da oposição, o ex-metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva, em outubro de 2002. Foi o primeiro líder de esquerda que chegou ao poder no Brasil e, logo depois de sua posse, as preocupações com uma eventual instabilidade política se dissiparam. O novo mandatário assumiu o cargo em momento de normalidade e manteve, em parte, a política monetária do governo anterior, com taxas de juros altas para conter a inflação, e procurando trazer a taxa de câmbio a patamares mais compatíveis. Verificando que o primeiro programa de recuperação fiscal
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A mais nova fábrica Dedini é a Fundição, ocupando uma área construída de 18 000 metros quadrados. É a maior do Brasil no seu segmento e uma das maiores da América Latina, com capacidade projetada de produção de 22 000 toneladas por ano. Pode fundir peças pesando até 35 toneladas.
Canavieira de São Paulo (Unica), as usinas processaram cerca de 256 milhões de toneladas de matéria-prima, o volume mais baixo dos dez anos anteriores, mas logo depois, em 2003-2004, no entanto, observou-se uma recuperação: moeram quase 360 milhões de toneladas, representando incremento de mais de 40%. A reação do mercado exigiu novos equipamentos para seu processamento. Essa era a grande especialidade da Dedini, que possuía, então, dois focos de negócios: um, de equipamentos para açúcar e álcool e, outro, englobando todos os demais.
não tinha sido suficiente para que as empresas cumprissem seus compromissos tributários e previdenciários, o governo acenou com um novo Refis (Lei n. 10.684, de 30-5-2003). Abria-se, assim, a possibilidade de parcelar débitos com vencimento até fevereiro de 2003.
Volta à normalidade Ao enquadrar-se no primeiro programa de parcelamento de débitos fiscais, em 2000, a Dedini pôde equacionar todas suas pendências com a Receita Federal e com o Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), passando a operar com maior tranqüilidade. Nos anos seguintes, o grupo assistiu, também, à lenta retomada do nível de vendas, inclusive no setor sucroalcooleiro, cujas atividades estavam restritas à simples reposição de peças. Entre 1997 e 2000, a Dedini não fabricara nenhuma moenda nova – o tradicional carro-chefe das vendas. Isso significava estagnação, pois a indústria canavieira havia paralisado os investimentos no aumento da capacidade de moagem. Na safra de 2000-2001, segundo a União da Agroindústria
Procurando, também, aproveitar todas as oportunidades, a empresa forneceu, durante algum tempo, equipamentos para usinas termoelétricas, que sempre tiveram um papel reduzido na matriz energética brasileira. Em decorrência da crise, que atingiu o auge em 2001, o uso dessas unidades passou a ser aventado, para que funcionassem como reguladoras de oferta de eletricidade, compensando situações críticas de escassez de chuvas e de extremo esvaziamento dos reservatórios. Dessa forma, a Dedini buscou parceiros estratégicos para
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viabilizar tais empreendimentos e conseguiu, naquela época, efetuar algumas vendas nessa área.
Novos investimentos Mesmo sem completar seu saneamento financeiro, a Dedini viu-se obrigada, no final de 2002, a investir na implantação de uma nova unidade fabril, para cumprir seu acordo com a BelgoMineira, efetuado por ocasião da transferência do controle acionário da sua siderúrgica para
aquela companhia, que previa a mudança da fundição existente para outro local. Essa instalação deu-se em momento desfavorável, em que muitas plantas congêneres estavam sendo desativadas em várias partes do mundo, por falta de encomendas. Foi considerado, na época, um “verdadeiro ato de coragem” do presidente Dovilio Ometto, que tirou do próprio bolso o investimento necessário à adaptação da fábrica existente (antiga Caldeiraria Pesada) ao
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Colaborador da Fundição Dedini em 2005
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TECNOLOGIA DHR PERMITE AUMENTAR O RENDIMENTO NA PRODUÇÃO DE ÁLCOOL O sistema Dedini Hidrólise Rápida (DHR) é um projeto
vel a celulose e a hemicelulose. A hidrólise pôde ser feita,
muito especial dentro da empresa, pois, no Brasil, é raro o
então, em apenas quinze minutos, em vez de quatro a seis
envolvimento tão grande de uma indústria na pesquisa e
horas, como antes. Sendo assim, os açúcares não precisam
no desenvolvimento de um sistema, desde protótipos em
ficar tanto tempo dentro de um meio tão agressivo.
laboratório, até sua implantação em larga escala.
do para essa finalidade, interrompendo-se sua degradação,
ção dada pelo setor sucroalcooleiro ao bagaço e à palha
com resfriamento da temperatura (“flasheamento”); o cal-
da cana-de-açúcar (conjunto de pontas e folhas, de alto
do obtido era enviado para fermentação e, posteriormente,
potencial energético, responsáveis por 2/3 da energia
para a destilação (ver esquema).
contida na planta). Durante quase quinhentos anos de exploração, praticamente, só se utilizou o caldo da cana nas usinas, e a tecnologia desenvolvida visava, principalmente, sua máxima extração e seu máximo aproveitamento. Por ocasião do Proálcool, nos anos 1980, no entanto, começou-se a pensar em otimizar o aproveitamento do bagaço para produção de mais açúcar e álcool, disponibilizando o restante para diversos fins. Além da geração elétrica excedente, sabia-se que o material podia ser aproveitado na produção de ração animal para engorda de bovinos em confinamento, e na fabricação de celulose e papel. Na busca incessante para agregar mais valor à cana, a Dedini começou a investigar a hidrólise, a partir de uma sugestão do próprio presidente da empresa, Dovilio Ometto, que estudara a literatura pertinente. A seu pedido, a equipe de pesquisa e desenvolvimento começou a analisar o estado da arte mundial desse processo, que consiste na transformação da celulose em açúcares. A reação é feita, por meio da água, em meio ácido, por catalisadores, mas precisa, para tanto, vencer a lignina, material resistente, que bloqueia o acesso à celulose e à hemicelulose, outros componentes do bagaço, responsáveis pela formação dos açúcares.
Capitulo6
O produto formado era, então, retirado do reator utiliza-
O que animou sua implementação foi a pouca aten-
O projeto começou a ser desenvolvido em escala de laboratório pela Dedini, entre 1981 e 1982. Tempos depois, em 1991, foi montada uma unidade piloto, no bairro Capim Fino, ao lado do prédio da Fundição, com capacidade para produzir cem litros de álcool por dia, a partir do bagaço, que funcionou durante três anos. A conclusão dos testes foi que, utilizando a palha da cana e o bagaço gerado pela usina, poder-se-ia, praticamente, dobrar a produção de álcool hidratado em uma mesma área: 12 050 litros, em vez de 6 400 litros de álcool por hectare de cana plantada. Outra vantagem é essa fabricação ter um custo 40% menor do que o produto obtido a partir do caldo. Segundo os responsáveis pelo projeto Dedini Hidrólise Rápida (DHR), foram enfrentadas dificuldades de todo o tipo para o desenvolvimento dessa tecnologia. Inicialmente, foram usados dois reatores para o processo, mas, depois, decidiu-se utilizar apenas um, contínuo, para obter-se o mesmo resultado. Em determinados momentos, o trabalho envolveu uma equipe de quase vinte pessoas, pois o projeto demandava especialistas em várias áreas. Calcula-se que já foram investidos aproximadamente US$ 12 milhões. Para
Delineou-se, assim, uma tecnologia que utilizava sol-
viabilizá-lo, a Dedini obteve financiamento do Banco
ventes da lignina menos agressivos, mais eficientes e mais
Mundial, por meio do governo brasileiro. Em novembro
rápidos. Dessa forma, a fibra do bagaço era colocada, em
de 1997, a empresa assinou contrato de cooperação téc-
alta temperatura, em um meio contendo água e ácido. Em
nica com a Copersucar, visando otimizar algumas fases
alguns minutos, a lignina se solubilizava, tornando acessí-
desse processo.
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Planta industrial com o processo Dedini Hidrólise Rápida: aproveitando o bagaço e a palha da cana-de-açúcar para produzir mais álcool
Essa parceria teve desdobramento: em fevereiro de 2002, a Dedini, Copersucar e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) assinaram novo convênio para instalação de uma unidade semi-industrial, na usina São Luiz, em Pirassununga (SP), para produção de 5 000 litros de álcool por dia, a partir do bagaço, que começou a funcionar no ano seguinte. Assim, a escala do projeto foi aumentada em cinqüenta vezes. Nessa etapa, os técnicos trabalharam inicialmente com a hidrólise por carga (batelada) e, depois, em sistema contínuo. Várias modificações foram efetuadas ao longo do tempo, principalmente com relação à alimentação do reator com o bagaço. O objetivo é estabelecer parâmetros de engenharia para trabalhar em escala industrial, pois não há, ainda, nada conhecido na literatura a respeito. Por isso, os técnicos estão realizando cuidadosas medições. Já existem várias usinas interessadas em implantá-lo, ao final do estágio de desenvolvimento. Acredita-se que essa tecnologia, mais acessível em termos de custos de implantação, terá, em breve, grande impacto na produção de álcool, principalmente em países com poucas áreas destinadas ao plantio de cana. É importante, também, pelo valor conferido à palha e ao bagaço, materiais desperdiçados pelas usinas no passado, que estão adquirindo, hoje, um significado econômico cada vez maior.
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novo uso, orçado, na época em R$ 40 milhões. A iniciativa acabou se tornando um sucesso. Em 2005, a Fundição operava no limite máximo de sua produção, sendo que, a maior parte é destinada ao consumo de outras unidades fabris da Dedini e o restante vendido a terceiros. O mercado apresenta-se em expansão, efetuando, inclusive, negócios em outros países (Suécia, Estados Unidos, Áustria, França). A inauguração da nova Fundição realizou-se no dia 16 de janeiro de 2004, com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, da então ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff, e do prefeito de Piracicaba, na época, José Machado. Além dessas autoridades, estiveram presentes os deputados Antonio Carlos de Mendes Thame (federal) e Roberto Moraes (estadual), o então secretário estadual da Habitação, Barjas Negri, o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, José Luiz Ribeiro, entre outros. Esse evento marcou uma nova etapa na vida do tradicional grupo empresarial piracicabano, que passou a concentrar suas atividades, principalmente, na área
de produção de bens de capital: a antiga Codistil S.A. Dedini transformou-se em Dedini S.A. Indústrias de Base. A nova companhia passou a ter quatro focos principais de negócios, que apresentam independência entre si nas ações comerciais e na elaboração de projetos. São eles: equipamentos pesados, para açúcar e álcool, para energia e em aço inoxidável.
Novidades tecnológicas Firme na sua tradição de desenvolver e lançar novas tecnologias no mercado, a Dedini continuou investindo no aumento da produtividade no processamento da cana-de-açúcar. Esse assunto já vinha sendo pesquisado pelos técnicos da empresa, desde a metade da década de 1980, quando começou a estudar-se a utilização do bagaço e da palha para aumentar a produção de álcool. O sistema, denominado Dedini Hidrólise Rápida (DHR), foi submetido a inúmeros testes de laboratório. Em 1991, foi instalada uma unidade piloto para avaliar sua eficiência. Os resultados foram analisados durante vários anos e, em 2002, foi montada a operação em caráter
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semi-industrial, com capacidade de 5 000 litros diários. Os trabalhos prosseguiram em parceria entre o Centro de Tecnologia Canavieira (Copersucar), a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e a Dedini. Assim, o processo pôde ser aperfeiçoado e patenteado pela empresa no Brasil, União Européia, Rússia, Estados Unidos e diversos outros países. Atualmente, reúne equipamentos capazes de hidrolisar o bagaço da cana em alguns minutos, enquanto os convencionais levam horas para efetuar o trabalho. Hoje, o DHR está em fase final de testes na instalação semi-industrial na usina São Luiz, em Pirassununga (SP). Os pesquisadores acreditam que, com o uso do bagaço, será possível obter aumento de 87% no rendimento industrial, utilizando-se a mesma área plantada de cana. E explicam por quê: considerando uma produtividade média de oitenta toneladas de cana por hectare, e que toda ela será destinada à fabricação de álcool, haverá 6 400 litros de álcool produzido diretamente da cana e outros 5 600 litros a partir do bagaço e da palha. Em outras
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BIODIESEL: ALTERNATIVA ENERGÉTICA PROMISSORA Não foi por acaso, em visita recente a Piracicaba, que
fabricado a partir de várias matérias-primas – soja, mamona,
o ministro da Agricultura e Abastecimento, Roberto Ro-
palma (dendê), girassol, amendoim, caroço de algodão, entre
drigues, referiu-se à cidade como “a locomotiva da agro-
outras, conforme a disponibilidade regional. Este é o primeiro
energia brasileira”. Escolhida como o “pólo nacional de
consórcio formado para o fornecimento desse tipo de equipa-
biocombustíveis”, em 2003, por sua forte tradição em pes-
mento para plantas industriais que operam volumes superio-
quisa e desenvolvimento de energias renováveis, a cidade
res a 40 milhões de litros de biocombustível por ano.
se projeta, em nível nacional, como um centro articulador dessas políticas tão ecologicamente corretas.
de ser contínuo e de permitir a utilização de multi-óleos.
Por isso, o pólo, que funciona nas dependências da Es-
Pode operar tanto por rota metílica como por etílica. Permi-
cola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq-USP),
te, ao mesmo tempo, um alto rendimento de conversão da
pretende catalisar as discussões sobre o assunto, liderando
matéria-prima em produto final e apresenta baixo consumo
e estimulando o uso dessas fontes energéticas, iniciando
de utilidades. Além disso, apresenta geração reduzida de
seu trabalho com o biodiesel. O principal objetivo é trans-
efluentes e menor custo operacional.
formá-lo em uma commodity, facilitando sua inserção no mercado internacional.
A parceria firmada entre a Dedini e a empresa italiana Ballestra tem o respaldo do Programa Nacional de Produção e
O biodiesel é definido, quimicamente, como ésteres
Uso do Biodiesel, pelo qual a Agência Nacional do Petróleo
derivados de lipídeos ou ácidos graxos, que pode ser pro-
reconhece oficialmente o produto como combustível, acom-
duzido, juntamente como a glicerina, a partir de uma rea-
panhando-o por um conjunto de regulamentações, que de-
ção provocada por etanol ou metanol, na presença de um
finem suas especificações, estruturam a cadeia produtiva e
catalisador. Sua produção significa menor poluição, mais
apresentam critérios para tributação e fiscalização.
empregos no campo, menor dependência de importações e mais recursos na balança de pagamentos do país.
Capitulo6
Dentre as inúmeras vantagens do processo, estão o fato
Inicialmente, o programa prevê, até 2006, a mistura facultativa de 2% de biocombustível ao diesel derivado do petró-
Trata-se de uma alternativa inesgotável e renovável ao
leo. Com isso, cria-se uma demanda de 720 milhões de litros
uso do combustível de origem fóssil, com a grande vantagem
por ano do produto. A lei define, também, que a percenta-
de ser “limpo”. Os técnicos calculam que uma tonelada de
gem será maior até o final de 2005, com adição de 5%.
biodiesel evita a emissão de 2,5 toneladas de gás carbônico
Os analistas do setor acreditam que, até 2020, a mistura
na atmosfera, se comparado ao diesel. Contribui, também,
atinja 20% de combustível vegetal, criando uma demanda
para eliminação do enxofre, que
aproximada de treze bilhões de
provoca a “chuva ácida”.
litros por ano. Por isso, já prevê-
Dessa forma, apostando fir-
em que o Programa do Biodiesel
me no aumento desse mercado
adquirirá, então, uma relevância
no país, a Dedini firmou parceria
para o país semelhante a do Pro-
com a empresa italiana Ballestra,
álcool, nos anos 1970 e 1980.
em julho de 2004, para fabricação
Tal objetivo não é difícil de ser
no país de unidades industriais
atingido, principalmente quando
destinadas à produção em larga
se observa o uso de biocombustí-
escala de biodiesel, que pode ser
vel nos países mais desenvolvidos.
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A Alemanha, por exemplo, maior produtora mundial, já possui uma parcela bastante significativa de sua frota de veículos movida a esse tipo de produto, contando com uma rede de mais mil postos de abastecimento. Atualmente, o Brasil consome quase 40 bilhões de litros de diesel por ano. Desse volume, cerca de seis bilhões são importados, a um custo de US$ 1,1 bilhão. Portanto, a utilização de combustível vegetal possibilita a obtenção de expressivos benefícios econômicos, contribuindo para o equilíbrio da balança comercial brasileira e desenvolvendo, ainda mais, a agroindústria nacional. Para que o programa brasileiro de biodiesel se concretize, no entanto, é preciso, ainda, equacionar o problema do fornecimento de grãos para atender à demanda de matéria-prima e resolver a questão tributária que onera a cadeia produtiva. Como é feito na Europa, deve-se adotar uma política fiscal inteligente para conferir viabilidade à produção de biodiesel. Mesmo diante do impasse econômico, a Dedini já começa a atender os interessados na fabricação de biodiesel. Para a Agropalma, no Pará, forneceu recentemente a engenharia, e todos os equipamentos necessários: tanques para matéria-prima e insumos, reatores, destilador, condensadores, torre e acessórios para recuperação do metanol, reservatórios de produtos, caldeira de fluido térmico, torres de resfriamento, instalações elétricas e sistema de automatização. Inaugurada em abril de 2005, a usina tem capacidade para produzir 8,5 milhões de litros de biodiesel por ano, a partir de um subproduto da refinaria de óleo de palma (dendê), denominado borra ácida, que consiste basicamente de ácidos graxos. O processo é flexível, pois prevê a utilização como reagente tanto do álcool como do metanol. Posto de abastecimento de biodiesel na capital de São Paulo, em outubro de 2005
Os técnicos da Dedini vão ainda mais longe. Na sua visão, o que se apresenta para o futuro próximo é a instalação de usinas integradas para produção simultânea de açúcar, etanol e biodiesel, utilizando a infra-estrutura disponível em plantas que processam a cana como matéria-prima (ver boxe p. 194).
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Agropalma no Pará: produzindo biodiesel a partir de resíduos do óleo de dendê
palavras: a produção de álcool por hectare pode aumentar de 6 400 para 12 000 litros, ou seja, quase duplica, na mesma área cultivada (ver boxe p. 182). Outro assunto bastante estudado pelos profissionais da empresa foram as técnicas para desidratação do álcool. Desde que o uso do benzeno foi compulsoriamente “aposentado”, por ser considerado muito poluente, a indústria vem analisando diversas possibilidades para efetuar essa operação, sem
prejuízo ao ambiente, levando em consideração a relação de custo e benefício, economia de vapor e qualidade final do produto. A definição da alternativa mais adequada – sistema ciclohexano, destilação extrativa ou peneira molecular – fica por conta dos seus clientes, e, sabendo disso, a Dedini passou a oferecer, a partir de 2003, equipamentos de desidratação por ciclohexano otimizados, após testes em unidade piloto.
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Dessa forma, foi possível obter um consumo energético quase nulo de vapor em plantas industriais já existentes, efetuando somente a alteração de fluxos e refluxos e com o aproveitamento da energia utilizada na produção de álcool hidratado. Em unidades novas, o sistema consome pouco mais que o da peneira molecular (cerca de meio quilo de vapor por litro de álcool). Outro processo disponível para desidratação do álcool anidro que tem despertado interesse é a destilação extrativa (etileno glicóis). Esse sistema, desenvolvido com tecnologia nacional, apresenta as vantagens de ter custos de instalação e operação relativamente baixos, além de consumo razoável de vapor. A peneira molecular, por sua vez, cujo investimento exigido é maior do que para instalação da destilação extrativa, é extremamente vantajoso nas indústrias de grande porte. Como não utiliza produtos químicos, possibilita a produção de álcool anidro de qualidade, atendendo as exigências do mercado internacional. Em meados de 2004, a Dedini exportou a primeira planta desidratadora de álcool via peneira molecular para
a Petrojam Petroleos Jamaicanos, em Kingston, na Jamaica.
Apostando no biodiesel Em janeiro de 2004, a Dedini divulgou mais uma vez seu engajamento em programas de substituição ao diesel. Assim ocorreu nos anos 1980, quando lançou o Methax (ver Capítulo V). A partir de então, diversos estudos foram realizados, pois existem várias matérias-primas que podem ser utilizadas para a fabricação do biodiesel, principalmente, os derivados da soja, algodão, amendoim e dendê. Este último, de origem africana, também conhecido como palma, está sendo utilizado na primeira usina em funcionamento no país. Inaugurada em abril de 2005, com a presença do presidente Lula, a Agropalma, a planta industrial foi fornecida em regime de “chave-na-mão” pela Dedini. A usina, instalada em Tailândia, a 150 quilômetros de Belém, pertence ao grupo Faria, atualmente, o maior fabricante de óleo de palma da América Latina. O produto é usado na indústria alimentícia. Antes de serem transformados em combustível vegetal, os resíduos provenientes da indústria eram aproveitados na fabricação de sabo-
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PIRACICABA: RUMO AO FUTURO
Piracicaba em 2005: retomando o crescimento industrial
No final do milênio, Piracicaba atingiu a população de 328.312 habitantes. A seu redor, gravitam onze municípios
da cana-de-açúcar.
(Águas de São Pedro, Capivari, Charqueada, Jumirim,
O município deixou de ser, entretanto, grande produtor
Mombuca, Rafard, Rio das Pedras, Saltinho, Santa Maria da
dessa cultura, apesar da área plantada ter diminuído ao
Serra, São Pedro e Tietê), constituindo uma das microrregiões
longo do tempo. A cana continua a ser, no entanto, cadeia
do estado de São Paulo.
produtiva muito significativa, pois emprega (em 2005) qua-
Segundo o diagnóstico, elaborado em 2001 pela or-
se 4 000 trabalhadores, no campo e na indústria.
ganização não-governamental Piracicaba 2010, todos os
Dessa forma, o diversificado parque fabril instalado no
problemas decorrentes do modelo de desenvolvimento
município, que conta com empresas de porte e com tecno-
nacional, adotado a partir dos anos 1970, reproduziram-se
logia avançada e competitiva, é um de seus principais pon-
em menor escala no município nos anos seguintes, como,
tos fortes, vetor do desenvolvimento regional e permanen-
por exemplo, a concentração de terras e de renda, a dimi-
te gerador de riquezas, de empregos e de renda, que vem
nuição da produção per capita de alimentos e o êxodo ru-
contribuindo cada vez mais para a melhoria da qualidade
ral. A isto, podem ser acrescentados: o aumento do número
de vida da sua população.
de favelas e a pressão de demanda sobre a infra-estrutura existente de saúde, educação e transporte.
Capitulo6
fabricar um aminoácido utilizado na ração animal, a partir
Nesse contexto, a atual administração municipal está procurando consolidar Piracicaba “como uma cidade com
A cidade possui hoje um perfil agroindustrial, e continua
características industriais que constrói fábricas, monta
sendo bastante influenciada pela cultura da cana-de-açú-
usinas de açúcar e álcool, em momento que aumenta a
car, que tanto contribuiu para a formação sócio-econômica
demanda por combustíveis ecologicamente corretos e
da região. Exemplo recente desse fato é a notícia, em abril
crescem as vendas de veículos com combustível flexível”.
de 2005, da instalação de empresa multinacional da Coréia
Assim, pensa-se até em instalar um terceiro distrito indus-
do Sul, a Cheil Jedang Corporation, em uma área de cinco
trial no setor noroeste do município, para abrigar novos em-
milhões de metros quadrados, no distrito de Ártemis, para
preendimentos decorrentes da nova onda de progresso.
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netes. São ácidos graxos, espécie de borra, de pouco valor econômico. Para construir a planta de biodiesel, os técnicos da Dedini receberam informações sobre o processo dos docentes da Universidade Federal do Rio de Janeiro, proprietária da patente, com base em testes de laboratório. Coube à equipe da Dedini desenvolver a concepção, a engenharia (inclusive o sistema de automação) e efetuar o detalhamento do projeto. Também executou a montagem da unidade fabril, colocando-a em marcha (ver boxe p. 186).
Clima de otimismo Depois de muitos anos de dificuldades, a administração da Dedini pôde respirar aliviada, com a esperança de realizar bons negócios. A expectativa criada em torno do Protocolo de Kioto, que prevê a redução gradativa das emissões de gás carbônico (CO2) na atmosfera e a ampliação do uso dos combustíveis provenientes da biomassa, como o álcool, e sua mistura com a gasolina, aumentaram as chances de o Brasil tornar-se o maior exportador de biocombustíveis do mundo.
Diante dessa possibilidade, o setor sucroalcooleiro reagiu positivamente, retomando o nível dos investimentos em ampliação da capacidade produtiva, e impulsionando as vendas de equipamentos. Por outro lado, a reação positiva do mercado, aliada ao esforço para operacionalizar as atividades e equacionar os débitos, fez com que o nível de endividamento caísse, em 2003, para R$ 24,3 milhões. Contribuiu para esse resultado, a alienação de sua participação acionária junto à Dedini S.A. Indústria e Comércio, que controlava as usinas de açúcar e álcool. No final de 2004, a Dedini equacionou seus débitos fiscais e previdenciários, destinando 1% de seu faturamento para a Receita Federal e 1% para o INSS. Pôde, também, voltar a recolher em dia seus impostos. Estava, assim, preparada para retomar seu crescimento, expandir sua área de atuação e voltar a investir em recursos humanos, operacionais e, principalmente, em novas tecnologias, recuperando as marcas registradas que fazem parte de sua longa história: dinamismo, pioneirismo e competência.
contrato com o grupo Bertin, de Lins (SP), para fornecimento da maior planta do mundo de biodiesel a partir de sebo bovino, com capacidade de produção de 110 milhões de litros por ano.
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Em outubro de 2005, a Dedini fechou
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As empresas Dedini influenciam a vida da cidade de Piracicaba
Campus Unimep-Taquaral
Desde o passado, a participação da Dedini no desenvolvimento da cidade foi bastante significativa. Com o apoio de seu fundador, Mario Dedini, e de seus sucessores, foram construídos hospitais, pontes, creches, igrejas, espaços para lazer e esportes. Eis algumas contribuições mais recentes. Copersucar
Ceagesp-Piracicaba
Em 1953, Dovilio Ometto coordenou um grupo de empresários para criar uma associação, denominada Cooperativa Piracicabana de Usinas de Açúcar e Álcool (Copira), para cuidar dos interesses do setor sucroalcooleiro, que seis anos depois, foi transformada na Cooperativa Central dos Produtores de Açúcar e de Álcool do Estado de São Paulo (Copersucar). Esta, por sua vez, é uma das maiores do mundo na sua área de abrangência.
No início da década de 1970, Dovilio Ometto resolveu estimular o desenvolvimento na zona sul da cidade, onde a Dedini era proprietária de terras: a fazenda Taquaral. Dessa forma, doou uma área para implantação do entreposto municipal de hortigranjeiros, o Ceagesp-Piracicaba, em março de 1983. Atualmente, existem 130 permissionários atuando no local, que comercializam cerca de 4 600 toneladas de mercadorias por mês.
Sempre estimulando o desenvolvimento do município, a Dedini permutou, por uma área de cinco alqueires às margens do rio Piracicaba, uma gleba de terras da antiga fazenda Taquaral, com a Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep), onde foi instalado o novo campus daquela instituição de ensino, inaugurado em 1972. Ali estudam hoje mais de 14 000 alunos, em 39 cursos de graduação, várias especializações e sete cursos de pós-graduação. Shopping Center Piracicaba
Em outubro de 1987, a cidade ganhou seu primeiro centro de compras, o Shopping Center Piracicaba. O empreendimento foi erguido pela construtora paulista Chap Chap, em um terreno de 70 000 metros quadrados, às margens do rio Piracicaba, de propriedade da Dedini, com o apoio da prefeitura municipal. Atualmente, funcionam no local 140 lojas,
Nesta página, ao lado: aspecto do Ceasa que abastece Piracicaba com produtos hortifrutigranjeiros. Na página seguinte, alunos do Senai (acima) e crianças em atividades de esporte e lazer
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Capitulo6
Dedini 85 anos
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que empregam cerca de 1 500 funcionários. O local é visitado mensalmente por 600 000 pessoas. Casas populares
Por volta de 1995, começou a ser implantado o núcleo habitacional Comendador Mario Dedini, em terras pertencentes à Dedini na zona norte da cidade. O empreendimento resultou de uma parceria com a Prefeitura, por meio da Empresa Municipal de Desenvolvimento Habitacional de Piracicaba, que ali implantou a infra-estrutura necessária. Em 2005, o índice de ocupação do loteamento é de 70%, onde reside uma população de quase 10 000 pessoas.
Centro de Atividades “Mario Mantoni” (Sesi)
Para o Serviço Social da Indústria (Sesi), no bairro Vila Industrial, a Dedini doou uma área de 70 000 metros quadrados para construção do Centro de Atividades “Mário Mantoni”, inaugurado em maio de 1995. No local, são ministrados cursos de ensino e telecursos, com mais de 700 alunos em vários níveis. São, também, realizadas atividades sócio-culturais, de recreação e esporte.
Senai – Bairro Alto
Desde a sua criação, em 1947, a unidade do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) vem recebendo apoio das empresas Dedini. Por isso, leva o nome do seu patrono, Mario Dedini, permanente incentivador da capacitação profissional de jovens para atuar na indústria piracicabana. Atualmente, a escola possui 285 alunos. Muitos deles são contratados como aprendizes e, até hoje, encontram seu primeiro emprego na própria Dedini.
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NOVA ONDA DE PROGRESSO NA INDÚSTRIA CANAVIEIRA: A USINA INTEGRADA Observando a possibilidade cada vez mais próxima de alcançar-se uma perfeita integração da fabricação de álcool com a de biodiesel, os profissionais da Dedini acreditam que o setor sucroalcooleiro está prestes a ingressar no quinto estágio de sua evolução. As fases anteriores são: aumento da capacidade dos equipamentos; aumento dos rendimentos; maior aproveitamento da energia da cana-de-açúcar; e maior aproveitamento dos produtos e subprodutos da cana-de-açúcar. Na quinta fase, a usina deve se transformar em unidade de produção simultânea de alimentos e energia. De acordo com essa ótica, a integração oferece várias vantagens, pois a usina pode oferecer sua capacidade instalada na indústria e na lavoura, e todos seus recursos humanos, gerenciais, operacionais, logísticos na integração econômica, energética e de processos. Nos dias atuais, grande parte da agroindústria canavieira já produz grãos, principalmente soja, em rotação com a cana-de-açúcar, pois ela serve para incorporar nitrogênio no solo e, ao mesmo tempo, contribuem para que a cana-de-açúcar crie defesas para livrar-se de pragas e doenças. Além disso, a usina pode fornecer, ainda, a energia obtida a partir do bagaço e a outra matéria-prima necessária para o biodiesel: o álcool. Calcula-se que, para obter uma tonelada do biocombustível são necessários 130 litros de etanol. O desafio da Dedini é desenvolver equipamentos para promover essa integração. Aliás, isso é não é novidade para a empresa: em 1985, forneceu equipamentos para a Coamo, cooperativa que reúne produtores de soja, em Campo Mourão (PR). Essa usina, além de fabricar álcool, fornecia vapor de processo e energia elétrica para movimentar uma planta vizinha daquela associação, produtora de óleo.
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Filial Vale do Paranaíba da usina Laginha Agro Industrial S.A., em Capinópolis (MG)
Os técnicos acreditam que tal integração vai ocorrer
No sistema proposto, existe possibilidade do uso do
em três etapas: a primeira, na indústria – o setor agrícola
biodiesel na própria frota da unidade de produção – má-
cultiva os grãos, troca por óleo e produz o biodiesel na usi-
quinas, caminhões, veículos leves, motores –, possibilitando
na, aproveitando o álcool ali fabricado. Na segunda fase –
significativa redução no custo dos combustíveis.
agrícola e industrial –, o óleo já será processado na própria usina, e não trocado ou comprado de terceiros, utilizando a energia gerada pelo conjunto. Assim, o biodiesel será
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A Dedini se declara, desde já, disposta a encarar os desafios dessa tarefa de implementar esse novo conceito: o
fabricado de forma mais econômica. Na terceira etapa, a
Brasil é imbatível na produção de soja e de cana, e quando
idéia é promover a integração de processos nas cadeias
utilizar tal potencial da produção canavieira e de grãos em
produtivas de cana e de grãos. A planta industrial deve
sinergia, acredita-se que os resultados serão fantásticos.
aproveitar a sinergia de todas as operações da fabricação
Por isso, essa idéia está causando grande interesse e entu-
(ver esquema na página anterior).
siasmo no setor sucroalcooleiro.
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CAPÍTULO 7
Conquistando mercados “Não é necessário esperar para empreender, nem ter êxito para perseverar.” Guilherme de Orange, príncipe holandês, no século XVII.
A
Dedini ingressou no novo milênio como uma das poucas remanescentes da indústria nacional de bens de capital sob encomenda. A empresa suportou, nos últimos vinte e cinco anos, inúmeros planos econômicos. Conseguiu sobreviver à implantação de quinze diferentes regulamentações salariais, a dezoito políticas cambiais, cinco controles de preços e a 21 renegociações da dívida externa, segundo cálculos de seus diretores. Essa sobrevivência obstinada a tantas crises não foi por acaso. Dentre os fatores que contribuíram para isso, pode-se citar, entre outras, a diversificação oportuna da sua produção, com a atuação em novos mercados, como o de alimentos, sucos, bebidas, energia, equipamentos pesados e tratamento de efluentes, firmando, para tanto, parcerias tecnológicas com empresas de renome mundial. Além disso, conseguiu preservar as equipes de engenharia internas, altamente especializadas, e, ao mesmo tempo, aproveitou a flexibilidade da sua capacidade industrial para se ajustar aos diferentes ciclos de crescimento da economia nacional. Paralelamente, manteve um forte relacionamento com os clientes, embasado na confiabilidade da marca dos produtos e serviços Dedini e na imagem de uma empresa responsável no cumprimento de contratos.
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crescimento sustentado, voltando-se a investir. Ao completar 85 anos de existência, a Dedini S.A. Indústrias de Base, que concentra as atividades de fabricação de bens de capital sob encomenda, é a principal empresa. Suas atividades estão centradas, basicamente, em quatro focos de negócios, incluindo equipamentos pesados, de aço inoxidável, de energia e de açúcar e de álcool.
Com o recente conjunto de medidas adotado por sua administração, as empresas Dedini conseguiram recompor o capital de giro e salvaguardar boa parte do patrimônio. Essa atuação firme e corajosa baseouse, especialmente, no princípio da transparência, estabelecendo negociações com fornecedores e instituições financeiras. Permitiu que se mantivesse a visão para o
Principais focos de negócios e áreas de atuação da Dedini Indústrias de Base S. A. em 2005 SETOR
PRINCIPAIS ÁREAS DE ATUAÇÃO
FATURAMENTO (R$ MIL) 2004
2005 (*)
Açúcar e álcool (**)
Usinas de açúcar e de álcool; fornecimento de peças de reposição
214 708
324 000
Equipamentos de aço inoxidável e sistemas
Cervejaria, tratamento de efluentes, biodiesel (***)
142 663
179 000
Equipamentos pesados
Siderurgia, energia, petroquímica, mineração e fundidos
54 921
124 000
Plantas de co-geração, caldeiras
38 916
70 000
451 208
697 000
Energia Total (*)
Previsão
(**)
Inclui o Sistema Reposição Garantida Dedini (RGD).
(***) Nesses setores atua com tecnologia própria e, também, com licença de fabricação; nos demais (indústrias de alimentos, bebidas, sucos, química, papel e celulose, fertilizantes, estruturas metálicas, automotiva e tampos industriais) projeta e fabrica com base em informações de clientes, ou tecnologia licenciada.
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Além de liderar o mercado de bens para o setor sucroalcooleiro (inclusive de co-geração de energia), cervejaria e tratamento de efluentes industriais, a empresa é importante fornecedora para a indústria de sucos, estruturas metálicas, siderurgia, fertilizantes e controle ambiental. Está capacitada a fornecer, também, produtos para as indústrias de papel e celulose, cimento, mineração, hidromecânica, química, petroquímica, farmacêutica, metalúrgica, de petróleo, gás e automotivo. Fabrica peças fundidas, equipamentos para energia térmica e tampos industriais. Efetua, ainda, serviços de engenharia, executa montagens e oferece assistência permanente a seus clientes.
Açúcar e álcool O principal foco de negócios da Dedini sempre foi o atendimento ao setor sucroalcooleiro. Nessa área, produz usinas completas de açúcar e de álcool, além de equipamentos para recepção e preparo da cana-de-açúcar; extração e tratamento do caldo; estocagem de produtos e geração de energia. Por meio do sistema
Reposição Garantida Dedini (RGD) fornece peças e componentes de reposição, executa reformas, otimizações e presta serviços permanentes de engenharia e assistência técnica. Para ter idéia da importância da Dedini nesse mercado, basta dizer que, até 2004, já vendera mais de 730 destilarias e mais de uma centena de usinas de álcool completas, fornecidas em regime de ”chave-na-mão”, que produzem cerca de doze bilhões de litros de etanol por ano, o equivalente a 80% do total fabricado no país, atualmente. No exterior, 23 plantas industriais completas levam a marca da empresa.
Dentro da sua visão de procurar ser, antes de tudo, uma empresa de excelência, a Dedini tem como missão: “desenvolver, produzir e comercializar bens de capital sob encomenda e serviços, com tecnologia, qualidade e condições adequadas às necessidades dos clientes, visando assegurar e ampliar
Novos lançamentos Sempre atenta às necessidades dos clientes do setor sucroalcooleiro, a Dedini lançou em 2004, através do sistema de Reposição Garantida Dedini, algumas inovações que contribuíram para melhorar a performance das usinas de açúcar e álcool. As moendas foram otimizadas, possibilitando um aumento de 20% na capacidade de processamento. Além disso, uma nova concepção de seu acionamento propor-
a participação no mercado global, proporcionando retorno aos acionistas e promovendo o desenvolvimento sustentável”.
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Missão
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cionou dobrar a potência, sem modificações no layout original. A placa desfibradora, também, teve seu ângulo modificado, melhorando a operação de preparo da cana-de-açúcar.
Em agosto de 2005, a Dedini fechou contrato para fornecimento da maior destilaria de álcool hidratado do mundo, a partir do caldo de cana-de-açúcar, com capacidade de produzir 700 000 litros de álcool por dia. A planta, com tecnologia Destiltech, será instalada na usina Volta Grande, em Minas Gerais, e deve entrar em operação em 2006.
Outra tecnologia revolucionária em termos de refinação do açúcar foi apresentada em 2005, durante o Terceiro Simpósio Internacional e Mostra de Tecnologia da Agroindústria Sucroalcooleira (Simtec), em Piracicaba, com lançamento comercial previsto para o ano seguinte. Trata-se do sistema Dedini Refinado Direto (DRD), que consiste na produção de açúcar sem a necessidade de seu posterior deslocamento para a refinaria. Além de garantir maior qualidade, o novo processo reduz os custos de produção quase pela metade. O projeto, desenvolvido durante dois anos, atualmente, está, em fase de testes. Quando for implantado em larga escala, poderá dar às usinas uma importante possibilidade de escolha e de barganha: a fabricação de açúcar bruto ou refinado, de acordo com as variações do mercado e do andamento de negociações.
Caldeiras para biomassa As caldeiras são um capítulo à parte na produção da Dedini. Além de ser a mais tradicional fabricante nacional no setor sucroalcooleiro, possui o maior número de unidades instaladas nas indústrias, bem superior aos demais concorrentes. Com grande experiência e forte presença no mercado, a empresa possui parque fabril dotado de excelentes qualificações técnicas, que dispõe de certificação de qualidade (selo da American Society of Mechanical Engineers, ASME e ISO 9000, versão 2000). A linha atual compreende variados tipos para atender diferentes capacidades de geração e pressões de operação. Podem ser verticais e com um só passe de gases, com queima sobre grelha (linha AZ), ou sustentadas em estruturas metálicas, com queima predominante em suspensão (linha AT). A linha Cogemax é especialmente projetada para operação de plantas de co-geração com queima suplementar. Nesse segmento de caldeiras que consomem biomassa, a Dedini atua com sua própria tecnologia, fruto da experiência consolidada pelo fornecimento de mais de
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1 400 caldeiras, no Brasil e no exterior, nos seus 85 anos de existência. Antecipando a futura demanda por produtos de maior volume e pressão, motivada pela geração de maiores excedentes de energia, a empresa está preparando o lançamento de uma linha de caldeiras do tipo single drum, que podem suportar pressões superiores a 80 kg/cm2, e com capacidades superiores a 250 toneladas de vapor por hora.
Bom momento O mercado sucroalcooleiro, no qual a Dedini é tradicionalmente líder em fornecimento de produtos e serviços, é composto por mais de 300 indústrias em
atividade em todo o país, que entram em operação em dois períodos distintos: entre setembro e março, no Norte-Nordeste, e entre abril e novembro, no Centro-Sul. Com o passar do tempo, a maioria passou a produzir, ao mesmo tempo, álcool anidro e hidratado, além de açúcar, montando sistemas de grande flexibilidade. Em 2005, o setor canavieiro vive um bom momento; a maioria das usinas possui projetos de ampliação e estão previstos, nos próximos anos, investimentos significativos na instalação de quase cinqüenta novas plantas no país. O objetivo é aumentar a capacidade de fabricação de álcool, atualmente, no limite máximo.
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de liderança assegurada, devido às condições extremamente favoráveis de solo, clima, topografia, da disponibilidade de áreas agricultáveis em seu território, e do domínio completo da tecnologia. Mesmo diante da projeção de crescimento vegetativo da produção mundial, estimado em 2,5% ao ano, são processadas, atualmente, mais de 180 milhões de toneladas de cana para fabricação de açúcar.
Caldeira Dedini instalada na usina Coinbra Cresciumal S. A., em Leme (SP)
Os especialistas acreditam que essa expansão, no entanto, será insuficiente para atender às projeções da demanda interna e de exportações, diante do sucesso das vendas nacionais de veículos com combustível flexível e das elevações sucessivas nas cotações do petróleo, que fazem crescer, em todo o mundo, a procura por outras fontes alternativas de energia. Por outro lado, com relação ao açúcar, o Brasil tem posição
Além disso, com a recente decisão da Organização Mundial do Comércio (OMC) de reduzir os subsídios concedidos aos produtores de açúcar da União Européia, espera-se uma queda no volume da oferta naquele continente. Acredita-se que o Brasil tem grandes chances de suprir o mercado europeu, por possuir o menor custo de produção do mundo. Nessa área, a Dedini fechou, recentemente, importantes negócios: além de vender a maior usina de álcool hidratado do mundo, para o grupo Caeté (MG), assinou contrato com a empresa norte-americana U.S. Sugar Corporation para fornecer o maior conjunto de moendas (tandem) do mundo, com ca-
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pacidade de moagem de 28 000 toneladas de cana por dia.
Equipamentos pesados Ao longo do tempo, a Dedini vem abastecendo com equipamentos de grande porte alguns dos setores mais expressivos da economia nacional, tais como as indústrias de petróleo, de gás, petroquímica, mineração, siderurgia e hidrogeração. Atende, também, a produção de peças fundidas para terceiros. Até 1990, a participação nesses segmentos era bastante expressiva, mas, ao longo do tempo, diminuiu. Por volta de 2001, os negócios estavam concentrados na unidade de Sertãozinho, que contava, apenas, com 200 funcionários. Havia muitos problemas na execução dos contratos. A partir dessa época, o setor começou a se recuperar, principalmente, com a expansão dos investimentos no país em siderurgia, petroquímica, cogeração e energia termoelétrica. A preocupação passou a ser a reativação da carteira dos clientes. Nos dias atuais, os negócios estão bem ativos em diversas áreas desse mercado.
Petróleo e gás No caso do petróleo, o Brasil deu um grande salto na exploração marítima em águas profundas e hoje produz 90% do que consome, cerca de 1,6 milhão de barris por dia. Esta é uma atividade em expansão: a Petrobras sinaliza com o crescimento de 8% ao ano da produção nacional. Para tanto, aquela companhia planeja grandes investimentos globais, no Brasil e no exterior. Tais recursos serão aplicados em várias áreas, desde a exploração e produção, até transportes, passando pelas refinarias. A iniciativa implica na aquisição de variados equipamentos, tais como vasos, torres, tanques e trocadores de calor. Como há, ainda, muitos itens importados, a Petrobras vem incentivando, desde 2002, o aumento da participação da indústria brasileira em seus programas de desenvolvimento, trabalhando em conjunto com as entidades de classe, e procurando que, pelo menos, 60% do maquinário necessário seja adquirido no mercado nacional. Além disso, a Petrobras opera hoje onze refinarias; algumas possuem vários equipamentos instalados há mais de trinta
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anos, portanto, em fase final de sua vida útil. Assim, existe um mercado potencial para reposição que começa a apresentar demanda crescente. A estatal também trabalha com expectativa de crescimento na demanda de gás natural, o que exigirá grandes investimentos para dar maior segurança ao sistema e atender a um número maior de usuários. Nessa área, a Dedini espera também realizar bons negócios. Outro setor que apresenta boas perspectivas de crescimento é o petroquímico. Essa indústria está apostando na revitalização da economia e deve ter sua rentabilidade impulsionada, pois a demanda por tais produtos está diretamente relacionada com o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). Caso essa recuperação se confirme, haverá necessidade de novos empreendimentos e ampliação dos existentes. Para a indústria de petróleo, de gás e petroquímica, a Dedini vem fornecendo, principalmente, vasos de pressão, reatores, torres de resfriamento, trocadores de calor e tanques de armazenamento. Pretende-se,
no entanto, com a realização dos novos investimentos, aumentar a presença nessa área, melhorando as condições de competitividade e diversificando a linha de produtos. O setor em que se espera maior expansão é o petroquímico, onde a empresa possui maior tradição de atuação.
Geração hidrelétrica Hoje, a capacidade instalada de geração do sistema interligado nacional (considerando a metade brasileira de Itaipu), situa-se em 72 843 MW. A distribuição por fonte de geração é: usinas hidráulicas, com 87,6%, térmicas convencionais, com 9,6%, e nucleares, com 2,8%. Com a definição do Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia (Proinfa), que liberou, em março de 2004, a instalação de mais 3 300 MW, observa-se a retomada dos projetos de expansão, em grande parte, pelas usinas hidrelétricas. De acordo com as concessões já outorgadas, a geração de energia hídrica deverá crescer 29 000 MW, até 2010. Esta situação implicará no aumento de investimentos na capacidade instalada.
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redução de custos e economia de tempo. Dessa forma, tornou-se conhecida na indústria automobilística, fechando contratos para fornecer 2 500 toneladas de peças por ano. São bases, anéis, punções e outros componentes, utilizados em estampagem e laterais, portas, capôs e outros itens dos veículos.
Mineração
Teste de qualidade em equipamento para hidrelétrica fabricado pela Dedini
A Dedini pode contribuir para o fornecimento de equipamentos para atender essa demanda (diversos tipos de comportas, grades, caixas espirais, pré-distribuidores e partes de turbinas hidráulicas e de hidrogeradores), cujo mercado estava estimado em cerca de R$ 1,1 bilhão (em 2004).
Indústria automobilística A partir de 2004, a Dedini dominou e aprimorou a tecnologia para fornecimento de peças fundidas no processo full mold, que permite alta produtividade,
O minério de ferro é, hoje, o mais extraído no mundo. O Brasil lidera essa produção: em 2002, gerou 240 milhões de toneladas, das quais 170 milhões foram exportadas. Esse mercado vem apresentando, nos últimos anos, excelentes taxas de crescimento, até acima de 10% ao ano, por causa da maior demanda pelo aço. A grande consumidora é a indústria siderúrgica, principalmente a da China que, nos dias atuais, tem liderado os investimentos nesse setor. Em decorrência, os preços do minério de ferro subiram, estimulando os produtores a efetuarem novos investimentos. Por isso, as grandes empresas que atuam no setor, como a Companhia
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Vale do Rio Doce (CVRD), MBR e Samarco, de Minas Gerais, estão planejando um aumento de suas atividades para os próximos anos, não só na extração de ferro, mas em outros minerais, como o cobre e o alumínio, também bastante procurados. Para atender a esses investimentos, a Dedini pode fornecer vários itens, como britadores, moinhos, fornos e peneiras. A maior competitividade da empresa fica por conta dos equipamentos de maior porte, destinados à moagem e à britagem.
Siderurgia O crescimento da produção mundial de aço bruto continua em ritmo acelerado e o Brasil está inserido nesse mercado como o maior fornecedor da América do Sul, seguido pela Argentina. A expectativa é que a produção nacional de aço cresça cerca de 20% entre 2004 e 2010, exigindo novos investimentos, com expansão de usinas existentes e implantação de novas unidades. Para esse setor, a Dedini fabrica sistemas de lavagem e de recuperação de gases, convertedores, máquinas de
lingotamento contínuo, fornos de calcinação, equipamentos de movimentação e portas para coquerias, entre outros. Com a retomada das oportunidades comerciais nesse segmento, concretizadas a partir de 2004, bem como o aumento de produtividade e a atualização dos equipamentos decorrentes dos investimentos previstos, estimase que a participação da empresa seja bem expressiva. Para tanto, já vem mantendo entendimentos com os principais detentores de tecnologia, como a SMS, Voest Alpine e um grupo de empresas japonesas (Hitachi Metals Ltd., Sumitomo Heavy Industries Ltd., Kawasaki Heavy Industries Ltd., denominado JP Steel Plantech Company (SPCO). Na área de coqueria, possui licenciamento da SHI (equipamentos de movimentação) e YTT (portas).
Contrato recorde Em 2005, a Dedini assumiu a liderança do consórcio internacional para ampliação de uma unidade da aciaria da Companhia Siderúrgica de Tubarão (CST), em Vitória (ES). O contrato, no
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valor de R$ 250 milhões, prevê o fornecimento de equipamentos para o setor de lingotamento contínuo. A encomenda é um desafio para a fábrica, que há 25 anos não fazia algo no gênero. O conjunto sairá praticamente montado, para facilitar a instalação no local definitivo.
Consumidoras de vapor Dentro do foco de negócio da energia, um produto importante oferecido pela Dedini são as caldeiras industriais, adquiridas pelas grandes consumidoras de vapor, tais como as indústrias de alumínio, energia elétrica, papel e celulose, química, petroquímica, siderúrgica, alimentos, petróleo e gás. As melhores oportunidades de negócio estão nos seis primeiros segmentos. Até 2010, calcula-se que a maior parte das vendas para esses setores se destine a ampliações de plantas já existentes e a instalações de novas unidades. No futuro próximo, prevê-se, também, a substituição de equipamentos antigos, desgastados ou obsoletos, por outros mais modernos, para atender às exigências da legislação ambiental, cada vez mais rigorosa.
Este mercado apresentou uma boa expansão conjuntural em 2001, influenciado pela crise da energia elétrica, voltando depois à normalidade. Espera-se que, em médio e longo prazo, no entanto, com o aumento do uso do gás natural, retome o crescimento, pois as plantas de co-geração elétrica e de gás natural representam uma boa alternativa para certas indústrias que não dispõem de resíduos combustíveis suficientes para suprir suas demandas de vapor e eletricidade. A Dedini atua de forma ampla e flexível nesse mercado. Com tecnologia própria, a empresa fornece caldeiras convencionais de médio porte para queima de gás natural, óleo combustível e biomassa florestal. Em parceria com fornecedores brasileiros, comercializa caldeiras de pequeno e médio portes para recuperação de calor e de gases em indústrias químicas e de gases de exaustão de turbinas a gás em termelétricas do tipo heat and power. Possui, também, licença de detentores internacionais de tecnologia para fabricação de caldeiras especiais, de médio e grande portes, para queima de carvão,
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Detalhe da unidade fabril de Sertãozinho (SP), em 2005
oil-emulsion, óleo combustível, e biomassa florestal. Produz, ainda, caldeiras para combustíveis especiais e para recuperação de calor em plantas de co-geração e ciclos combinados. Finalmente, pode efetuar otimizações e reformas de produtos próprios ou de terceiros.
Energia dos ventos Bastante incentivada pelo Programa de Incentivo às
Fontes Alternativas de Energia (Proinfa), a geração de energia eólica é uma alternativa recente no Brasil, com maior potencial de expansão, basicamente, em três pólos: no Nordeste, na região de Cabo Frio (RJ) e no Rio Grande do Sul, próximo a Porto Alegre. Assim, atualmente, algumas empresas estrangeiras se instalaram no Brasil com a idéia de comercializá-la, colocando-a na rede de transmissão de energia elétrica.
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A Dedini está sendo procurada por esses grupos internacionais para estabelecer parcerias, devido à sua capacidade de fabricar as torres, que apresentam até cem metros de altura e, também, às peças de ferro fundido para suporte das pás, colocadas na parte superior. O mercado foi dimensionado para o fornecimento de cerca de 2 000 torres, até 2007.
Material imbatível O aço inoxidável participa, cada vez mais, da vida das indústrias de todo mundo, por permitir grande flexibilidade no uso e devido às inúmeras qualidades: é durável, resistente, bonito e limpo. Novos tipos estão surgindo, possibilitando aplicações, até então, impensadas, como, por exemplo, em revestimentos externos de prédios e paredes de estações metroviárias. A Dedini possui amplo domínio no processamento desse material, compreendendo a recepção da matéria-prima, passando por seu manuseio e por todas as etapas da fabricação, empregando as técnicas mais modernas disponíveis em dobramento, corte e soldagem.
Dessa forma, pode atender aos mais diversos ramos industriais: cervejaria, tratamento de efluentes, biodiesel, alimentos, bebidas, sucos, química, papel e celulose, fertilizantes, estruturas metálicas, automotiva e tampos industriais. Nos três primeiros, atua com tecnologia própria, nos demais, a empresa desenvolve a engenharia e se encarrega da fabricação, a partir de projeto básico fornecido pelo cliente. Hoje, esse foco de negócio, isoladamente, representa, na empresa, cerca de 30% a 35%, em termos de vendas e de produção. Nesse mercado, um fornecimento significativo ocorreu em julho de 2004. O Departamento Municipal de Águas e Esgoto de Poços de Caldas (MG), colocou em operação a primeira unidade do mundo para tratamento de esgotos domésticos com o reator Ubox, fabricada pela Dedini. A planta, que contempla o sistema aeróbio e anaeróbio em um mesmo tanque, objetiva a descontaminação das águas de uma represa e servirá a uma população de 10 000 pessoas, aproximadamente. Acredita-se que sistemas semelhantes possam ser instalados, também, em várias
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Cervejaria Lokal, em Teres贸polis (RJ)
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outras cidades do Brasil, pois são compactos e flexíveis.
Constante expansão Com a crise do Proálcool, a partir de 1985, a Codistil, uma das empresas Dedini, começou a buscar novos mercados para ocupar seu parque fabril já instalado. O foco centralizouse, em primeiro lugar, nas cervejarias, que apresentavam, então, grande potencial de expansão. O período áureo de fornecimento ocorreu entre 1991 e 1995, quando essas indústrias expandiram bastante sua produção, exigindo novos equipamentos e plantas. Nos anos seguintes, a Dedini tornou-se altamente capacitada para atender as necessidades de crescimento da indústria cervejeira, tanto em unidades completas (turn key), como em equipamentos isolados, como cozedores, reatores, fermentadores, reservatórios e tanques, silos, roscas transportadoras etc. Atualmente, a empresa é líder nacional, possuindo uma fatia de mais de 60% desse mercado, hoje bastante aquecido, inclusive, com vendas para o exterior.
Em maio de 2005, havia várias encomendas em andamento: uma sala de cozimento para a Cia. Ambev, na República Dominicana, e outra para a Lokalbier, em Teresópolis (RJ). Estava fabricando tanques fermentadores para a Cervejaria Petrópolis (Boituva, SP) e três plantas completas: uma para IBI, em Igaraçu (PE), outra para Coroa, em Domingos Martins (ES), e a terceira para Schincariol, em Três Lagoas (MS). Para melhor atender as demandas de mercado, a Dedini possui licenças tecnológicas de duas conceituadas empresas, a alemã Huppmann (desde 1991) e a suíça Filtrox (desde 1995). A primeira possibilita o fornecimento de unidades completas do tipo chave-na-mão (turn key), e a segunda fornece tecnologia para filtração e estabilização da cerveja. Buscando sempre maior aprimoramento nessa área de bebidas, a Dedini foi buscar na Holanda uma moderna tecnologia na fabricação de tanques cilíndricos verticais de aço inoxidável para armazenar líquidos. Adaptada às condições brasileiras, associa mesa rotativa, sistema de soldagem de serpentinas no
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costado, e pórtico, permitindo sua verticalização. Além disso, dispensa o uso de guindastes para movimentação na montagem.
em 2002, cada um deles com capacidade para armazenar mais de 3,7 milhões de litros de suco.
Atualmente, existe uma equipe de dez engenheiros para atender somente esse segmento, que apresenta grande potencial de vendas. A produção brasileira gira, hoje, em torno de 8,5 bilhões de litros de cerveja e doze bilhões de litros de refrigerantes por ano. A cerveja é feita em 47 fábricas, que geram 150 000 empregos diretos e indiretos. A AmBev lidera as vendas dessa bebida, com quase 70% do mercado. Quanto aos refrigerantes, os mais vendidos são os de sabor cola (46%) e guaraná (27%). A Coca-Cola detém 77,5% do mercado de refrigerantes com sabor cola (seguida pela Pepsi).
Tanques cilíndricos verticais
A categoria da bebidas nãocarbonatadas (sem gás) também vem apresentando crescimento, tanto no Brasil como no exterior, tais como sucos de fruta, águas e chás, por causa da maior procura por bebidas saudáveis e nutritivas. A Dedini espera expandir sua atuação nessa área. Recentemente, foi efetuado um fornecimento importante: a venda de 36 tanques de aço inoxidável para a Citrosuco,
A Dedini vive sempre em busca de inovações. Por isso, em janeiro de 2004, trouxe da empresa holandesa Oostwalder (OTS) a tecnologia de fabricação dos tanques cilíndricos verticais, construídos tanto em aço inoxidável como em aço carbono, em que a solda das virolas é realizada em um ponto fixo. Para que isso aconteça, o tanque precisa rotacionar. Dessa forma, o produto obtido é de qualidade superior e sua instalação se torna 40% mais rápida, comparado com a dos processos tradicionais, pois reduz-se a movimentação durante a montagem. Tais tanques são muito utilizados para armazenagem de sucos de laranja (tanks farms) e são construídos em várias dimensões. Para a unidade da Cutrale, em Conchal (SP), a Dedini fabricou oito deles, em tempo recorde. Esses produtos servem, também, para estocar aguardente. A Caninha 51, por exemplo, adquiriu várias
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unidades, com capacidade de três milhões de litros cada, para sua fábrica em Pirassununga (SP).
Indústria química A abertura do Brasil ao comércio internacional e à integração do Mercosul, levaram o setor químico a apresentar uma tendência de substituição de fábricas polivalentes de especialidades químicas, com até quatrocentos diferentes produtos em linha, por estruturas mais enxutas e especializadas, que passaram a atuar somente em determinados segmentos onde detém a tecnologia. Hoje, a tendência geral é produzir, por encomenda, um número menor de produtos, mas com maior valor agregado e em maiores volumes. A administração da Dedini acredita que a empresa possui grande potencial para aumentar sua atuação no segmento químico, fornecendo equipamentos em aço inoxidável e carbono, reatores, vasos de pressão, trocadores de calor, e outros equipamentos especiais sob encomenda. Para tanto, investiu na produção, de acordo com as mais modernas tendências tecnológicas, introduzindo inovações
Tanques em aço inoxidável na unidade de Piracicaba
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como corte a plasma, soldagem orbital e no uso de ligas dúplex no processo, entre outras. Dessa forma, pôde vender, em 2004, uma torre de processamento contínuo para secagem, destinada à fábrica de sabão em pó da Unilever do Brasil, situada em Indaiatuba (SP). A encomenda, com nove metros de diâmetro e cinqüenta metros de altura, foi fabricada e instalada no prazo recorde de seis meses.
Auto-suficiência
Equipamento Dedini destinado à produção de fertilizantes
Desde a década de 1970, o Brasil passou da condição de importador de papel e celulose para um dos maiores produtores do mundo. A indústria nacional passou a atender a demanda para os diversos tipos de papéis, e hoje, aquele destinado à imprensa (papel
jornal) é o único que ainda depende, em parte, de importações. Em condições normais, o consumo geral de papel é um dos melhores indicadores para a avaliação do desempenho da economia. E, no caso brasileiro, desde o início da década de 1990 até hoje, as fábricas do setor apresentam índices de ocupação acima de 80%. Os investimentos anunciados são voltados, principalmente, para produção da celulose. A participação da Dedini no setor de papel e celulose é bastante estimulada pela capacidade de produção e pelo excelente nível de qualidade. Engloba sistemas de evaporação, vasos de pressão, torres, colunas, reatores, trocadores de calor, digestores, tanques e reservatórios, entre outros.
Fertilizantes A produção nacional de fertilizantes é quase totalmente
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destinada ao abastecimento do mercado interno. O consumo anual gira hoje em torno de sete milhões de toneladas de NPK (nitrogênio, fósforo e potássio), sendo que mais de metade ainda é importada. Para aumentar a competitividade, ganhar escala e reduzir custos, o caminho encontrado pelo setor, recentemente, foi realizar fusões, aquisições e associações. O processo de concentração, caracterizado pela expansão ou entrada de grandes grupos multinacionais na área, veio acompanhado por novos investimentos. As indústrias que produzem matérias-primas básicas e fertilizantes estão melhorando o processo produtivo, ampliando a capacidade instalada, e aperfeiçoando a logística da distribuição. Com tecnologia de ponta desenvolvida em parceria com seus clientes, ou trabalhando sob licença de empresas especializadas, a Dedini detém cerca de 10% desse mercado e pode fornecer projetos completos para a indústria de fertilizantes, além de diversos equipamentos, como misturadores, secadores rotativos, silos de armazenamento,
sistemas de dosagem e pesagem, resfriadores rotativos, fornos de transferência e sistemas transportadores, entre outros. Nessa área, atualmente, a Dedini está fabricando tambores rotativos e secador granulador para a planta da Ultrafertil, em Indaiatuba (SP), com entrega prevista para 2005.
Inovações tecnológicas Graças ao empenho de seus colaboradores, as empresas Dedini geraram, ao longo do tempo, treze invenções, que resultaram na concessão de doze registros de patentes, nas diversas áreas de atuação. Há, ainda, mais uma dezena de processos em andamento, com solicitações já depositadas no Brasil e em vários países do exterior. Somente no período de 2003-2004, as empresas Dedini investiram aproximadamente R$ 70 milhões, equivalentes a US$ 25 milhões, procurando manter a capacidade produtiva instalada. Além disso, confirmando seu histórico de pioneirismo e liderança tecnológica, continuam aperfeiçoando e lançando constantemente novos produtos.
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CAPÍTULO 8
A Dedini no terceiro milênio “Tudo é loucura ou sonho no começo. Nada do que o homem fez no mundo teve início de outra maneira, mas tantos sonhos se realizaram que não temos o direito de duvidar de nenhum.” Monteiro Lobato (1882-1948), escritor paulista.
A
estabilização das principais variáveis macroeconômicas, a redução das taxas de juros, a retomada dos créditos interno e externo e a redução do “risco” Brasil, que passou a atrair os desconfiados empreendedores estrangeiros, foram aspectos determinantes para a retomada dos investimentos da iniciativa privada, nos primeiros anos de 2000. Acreditando nas possibilidades do futuro, a Dedini se comprometeu com o crescimento e preparou um plano em longo prazo, que previa aplicação de recursos da ordem de R$ 270 milhões em expansão industrial, modernização tecnológica, incremento às exportações, conservação do ambiente e inclusão social. Com a implementação desse projeto, a Dedini pretendia, de acordo com as expectativas e projeções daquela época, atingir, em 2008, um faturamento bruto anual próximo a US$ 400 milhões, exportando cerca de 20% a 40% de sua produção e mantendo importantes posições de mercado nos seus quatro focos de atuação: equipamentos pesados, de açúcar e álcool, de aço inoxidável, e de energia. Dessa forma, em julho de 2004, a empresa encaminhou cartaconsulta ao BNDES, visando a obtenção de parte dos recursos para
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viabilização de seu projeto. Para tanto, em uma primeira etapa, pretendia financiar, junto àquele órgão governamental, cerca de R$ 130 milhões, em dez anos. O restante dos recursos necessários seria obtido com o lançamento de R$ 100 milhões em debêntures. Os recursos seriam empregados para atender às exigências do mercado, canalizados, basicamente, para a modernização de equipamentos, para o desenvolvimento tecnológico de processos e para a expansão da capacidade produtiva.
investimentos, calculados em cerca de R$ 90 milhões, para dar seqüência à proposta de atender, de forma satisfatória, ao crescimento do setor sucroalcooleiro, em função das possibilidades efetivas de exportação do álcool, principalmente para o Japão e países europeus. Nesse caso, o Brasil coloca-se com excelentes possibilidades de atender esse mercado. Tal atuação depende, no entanto, da assinatura de acordos governamentais com os países signatários do Protocolo de Kioto.
Na segunda fase do projeto, estavam previstos mais
Após o equacionamento dos seus débitos fiscais, a Dedini
Evolução do faturamento bruto em bens de capital das empresas Dedini*
(*) valores históricos em R$ mil (**) previsão
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precisou, novamente, efetuar reformulações no seu planejamento estratégico. Em consonância com essas modificações, deverá apresentar, brevemente, um novo projeto de investimentos ao BNDES. No documento, foram revistas as previsões de faturamento até o final da década, superadas antes do tempo, devido à melhora da conjuntura econômica e ao aumento das vendas no setor de bens de capital sob encomenda. Como no plano anterior, grande parte do financiamento se destina
ao parque fabril, visando sua modernização e adequação aos novos tempos de expansão.
Aniversário feliz Deixando as dificuldades no passado, a Dedini passou a encarar o futuro com maior confiança e otimismo, principalmente por causa da melhoria do cenário político e econômico, mais favorável à realização de negócios. Por isso, ao completar 85 anos de existência, não faltavam motivos para as comemorações.
Evolução dos investimentos* efetuados pelas empresas Dedini** (1999 – 2005)
(*) valores históricos em R$ mil (**) investimentos efetuados em manutenção de capacidade e treinamento de pessoal; tecnologia; desenvolvimento; produtividade; nova Fundição; sistema Oracle.
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Suas fábricas funcionavam em plena capacidade e as vendas ultrapassaram as previsões mais otimistas. Nos últimos dois anos, seu faturamento praticamente dobrou. Acredita-se que, nesse ritmo, o valor previsto de um bilhão de reais para 2010 talvez seja atingido até 2008. A nova estratégia para o primeiro decênio de 2000,
denominado “grande projeto Dedini”, pretende aumentar a receita líquida e criar centros de excelência de desempenho em todas atividades, implementando ações estratégicas e projetos de inovação e melhoria contínua. Assim, as empresas Dedini pretendem expandir sua atuação no mercado global e aumentar sua competitividade.
Sede das empresas Dedini em Piracicaba (SP), em 2005
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Para tanto, utiliza modernas ferramentas e métodos de gestão, com eficiência reconhecidamente comprovada.
Em busca da qualidade Desde sua fundação, a Dedini sempre trabalhou para aperfeiçoar a qualidade de seus produtos e serviços, e essa iniciativa tornou-se um diferencial no seu mercado de atuação. No início dos anos 1980, no entanto, começaram a ser exigidos vários requisitos na atuação das indústrias brasileiras. Adequando-se à nova realidade, a empresa passou a formular políticas específicas nessa área, envolvendo, entre outros fatores, os procedimentos mais adequados para planejamento, execução e controle de todas as operações e atividades. Assim, nessa época, foi desenvolvido o sistema de Garantia de Qualidade Dedini (GQD) na Metalúrgica, focado, principalmente, na produção, desde o processo de pré-venda até a entrega final. O objetivo era dotar a empresa de gerenciamento prático e estruturado, incrementando a produtividade e a eficiência operacional,
Capacidade fabril A Dedini S.A. Indústrias de Base possui, atualmente, uma das maiores estruturas produtivas de bens de capital sob encomenda instaladas no Brasil, com seis parques industriais e onze fábricas em operação, localizadas estrategicamente em quatro importantes regiões, duas no estado de São Paulo e duas no Nordeste (Pernambuco e Alagoas), representando uma área total de mais de um milhão de metros quadrados, em 2005. CAPACIDADE UNIDADE/
FÁBRICA
LOCAL
ANUAL (HORAS/ HOMEM)
Equipamentos em aço inoxidável Piracicaba (SP)
1 000 000
Perfis e estruturas metálicas Caldeiraria Tampos industriais
Piracicaba (SP)
Usinagem (mecânica pesada)
483 000
Piracicaba (SP)
Fundição
670 000
Caldeiras
714 000
Sertãozinho (SP)
Equipamentos pesados Usinagem (mecânica pesada)
Recife (PE)
Caldeiraria (aço carbono e inoxidável)
Maceió (AL)
Mecânica pesada
1 000 000 500 000 144 000
Fonte: Dedini.
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DE PRODUÇÃO
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EMPRESAS DEDINI Posição Acionária em 2005 A Dedini se constitui hoje de empresas com capital nacional, pertencentes às famílias Ometto e Dedini, conforme se vê no quadro:
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para atender plenamente os requisitos exigidos e garantir a satisfação dos clientes. Para desenvolver esse trabalho, organizaram-se equipes multifuncionais dentro da empresa, que elaboraram os manuais de procedimentos para atender os requisitos normativos e, também, as necessidades operacionais de todas os departamentos. Naquela época, a Petrobras contribuiu e incentivou bastante essa mudança de comportamento nas empresas brasileiras, apresentando uma série de exigências nas suas aquisições
de bens e serviços de terceiros. A Dedini tratou de habilitar-se como fornecedora, o que representava, então, uma referência e um diferencial importante no mercado. Assim, em 1988, obteve o certificado de cadastro, tornando-se qualificada, oficialmente, para vender à estatal brasileira do petróleo uma série de produtos, como caldeiras, turbinas, vasos de pressão e redutores, entre outros. Paralelamente, começou a trabalhar, também, na obtenção da certificação junto à conceituada American Society of Mechanical Engineers (ASME). Os
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Conselho de Administração da DDP Participações S.A., em outubro de 2005 (da esq. para a dir.): Sergio Leme dos Santos, José Luiz Olivério, Tarcisio Angelo Mascarim, Giuliano Dedini Ometto Duarte, Juliana Dedini Ometto (Presidente), Adriana Dedini Ricciardi, Marco Renaux Dedini Ricciardi, Márcia Farah de Toledo Dedini e Mário Dresselt Dedini
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primeiros produtos que conquistaram o direito de usar os selos concedidos pela instituição foram as caldeiras (selo “S”) e os vasos de pressão (selo ”U”), fabricados, respectivamente, pela unidade da caldeiraria da Metalúrgica e por uma das empresas do grupo, a Codistil. Os certificados são datados de 1988, e chegaram após rigoroso processo de avaliação pelos técnicos do National Board e da Lloyd’s Register do Brasil. Assim, a Dedini passou a fazer parte de um grupo seleto de companhias nacionais que obtiveram o reconhecimento internacional na fabricação de produtos determinados.
Cenas do trabalho na sede da Dedini, em 2005
Ao longo do tempo, a qualificação se estendeu para outros bens fabricados pela Dedini. Além das revalidações e ampliações para outros produtos, várias certificações específicas foram conquistadas junto a diversos órgãos, com destaque para aquelas obtidas junto à Coordenadoria de Projetos Especiais do Ministério da Marinha (Copesp), e ao Instituto Brasileiro de Siderurgia (1994). Em 1992, a Dedini tornou-se a primeira companhia de Piracicaba
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Evolução das Certificações de Qualidade na Dedini
a obter a certificação de aprovação ISO 9001, concedido pela Lloyd’s Register Quality Assurance do Brasil. O documento foi validado nos anos seguintes, e em 1996, quase todas as unidades da Dedini (mecânica, fundição, equipamentos pesados, caldeiraria) possuíam os certificados ISO 9001/9002.
Aperfeiçoamento constante Como a busca pela qualidade é incessante, os processos de revalidação e manutenção dos certificados prosseguiram nos anos seguintes, com a unificação dos sistemas de gestão aplicáveis aos projetos de fabricação de caldeiras, vasos de pressão, tanques de armazenagem e equipamentos para indústria de cimento, mineração, aço, papel e celulose, siderurgia, papel e celulose, química e petroquímica, açúcar e álcool, cervejaria, entre outros. Por outro lado, a Petrobras, que hoje modificou sua estratégia de avaliação, incluiu as unidades da Dedini situadas em Piracicaba e Sertãozinho no seu cadastro de fornecimento técnico “nível A”, em 2005. Dessa forma, no decorrer do tempo, estruturou-se na Dedini um sistema de gestão da qualidade na indústria que estabelece todos os
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procedimentos para fornecimentos de bens e serviços. A partir das solicitações dos clientes, são utilizados os recursos materiais e humanos disponíveis para materializar as soluções. Todas as operações realizadas são medidas por indicadores predeterminados. No final, realizam-se avaliações das diversas etapas para se definir eventuais correções. Os técnicos que atuam na área comentam que se, no passado, a busca pela excelência era um diferencial para as empresas, hoje tornou-se obrigação, um requisito básico para a produção.
Indicadores da qualidade na produção
•
Produtividade
•
Treinamento
•
Pontualidade na entrega
Nesse contexto, a política de qualidade estabelecida hoje para as empresas Dedini consiste em “atender plenamente às expectativas atuais e futuras dos clientes, através da responsabilidade e lealdade, como valores indiscutíveis na condução dos negócios; modernização tecnológica e capacitação dos recursos humanos como diferenciais no mercado; agilidade no fornecimento de soluções completas; parcerias com fornecedores para obter excelência na qualidade dos produtos e comprometimento de todos na busca de melhorias contínuas”.
•
Satisfação do cliente
•
Custos provenientes da não-qualidade
Essa política tem trazido resultados palpáveis e positivos. Os indicadores dos custos da não-conformidade são sistematicamente medidos, desde a implantação da gestão de qualidade, na década de 1980. Hoje, a Dedini está procurando implementar uma abordagem sistêmica, dividindo a empresa por processos, de acordo com o ISO 9001:2000, para facilitar a gestão e agregar melhorias na companhia.
•
Resultados de auditoria interna
A busca pela excelência já deu bons resultados. Em 2004,
A performance nas empresas Dedini é medida sistematicamente, por meio de indicadores preestabelecidos, definidos pelas metas a serem atingidas, comparadas com o real. Os fatores analisados são os seguintes:
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Colaborador da Dedini na fรกbrica de Piracicaba (SP), em 2005
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a empresa recebeu o prêmio de melhor desempenho, no setor de máquinas e equipamentos, concedido pela Fundação Instituto Miguel Calmon de Estudos Sociais e Econômicos. A homenagem procura estimular a busca da produtividade e lucratividade nas companhias brasileiras e foi recebida em cerimônia no Rio de Janeiro, por um dos acionistas, neto do fundador da empresa, Mario Dresselt Dedini.
Novas metas
Reprodução de um dos certificados de qualidade (ISO 9001:2000) recebido pelas empresas Dedini
Dentro de seu Plano Estratégico, traçado para o período de 2005 a 2010, o objetivo da Dedini é tornar-se uma empresa de excelência. Não se trata apenas de aperfeiçoar os produtos e o controle das operações, mas, também, de proporcionar a seus colaboradores melhoria na qualidade de vida. As metas envolvem, ainda, a consolidação da certificação. O caminho a ser traçado nessa área é longo e envolve a plena conscientização da diretoria e o constante treinamento de pessoal. O processo passa por várias etapas de
certificações. Em 2005, a Dedini se prepara para adquirir o selo ISO 14 000, relativo à gestão ambiental, nas unidades da caldeiraria e fundição. No ano seguinte, procurará credenciar-se para o ISO 18 000, que trata da segurança e saúde ocupacional; a etapa seguinte será a responsabilidade social (norma SA 8000). Finalmente, caminha para atingir, por volta de 2010, o sistema de gestão integrada, quando se tornará, então, uma empresa de excelência. No caso da gestão ambiental, o trabalho realizado procura identificar as atividades que, eventualmente, possam causar impactos ambientais, e define as formas para sua minimização. Essa tarefa prevê a implementação de ações preventivas e corretivas, tais como reciclagem de materiais, disposição final de resíduos e, também, o treinamento para o pessoal que atua nas várias unidades operacionais. Para tanto, está sendo efetuado o mapeamento de cada um dos processos, trabalho que envolve, praticamente, quase todas as áreas da produção.
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Programas de produtividade Para aumentar a competitividade nos mercados em que atua, a Dedini mantém, sistematicamente, os investimentos em programas de qualidade e produtividade, voltados para a melhoria de competitividade e atendimento a seus clientes. Buscando sempre a excelência, a companhia vem adotando várias ferramentas gerenciais
nos seus processos operacionais. Para controlar sua variação, é utilizada a metodologia Seis Sigma, de forma integrada ao sistema Kawasaki Production System (KPS), destinado à redução de desperdícios na indústria. Tanto um como outro método constituem-se em práticas modernas para a melhoria dos resultados e competitividade da empresa.
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CAPÍTULO 9
Atravessando fronteiras “Vivemos em uma aldeia global, um acontecimento simultâneo em que o tempo e o espaço desapareceram. Os meios de comunicação nos envolvem a todos e nos aproximam. Eles estão nos colocando, de novo, em contato com as emoções tribais das quais havíamos nos afastado.” Marshall McLuhan (1911-1980), pensador canadense, em 1967.
E
m agosto de 2004, um ônibus, trafegando pelas rodovias da região de Queensland, na Austrália, chamava a atenção de quem por ali passava. Na carroceria, levava escritas as mensagens “the clean green machine” e “ethyl: renewable fuel and home grown energy”. Algo que poderia ser traduzido como a “máquina verde e limpa” e “álcool: combustível renovável e energia produzida em casa”. Era o “Expresso Etanol”, conduzindo uma caravana de empresários, técnicos e membros do governo brasileiro, que viajou para o longínquo continente, com a missão de divulgar as vantagens do combustível nacional: o álcool. Distribuindo material publicitário, conversando com produtores de açúcar, dirimindo dúvidas, e realizando palestras para os interessados, os integrantes do Brazilian Ethanol Roadshow percorreram várias cidades, levando a proposta de montar um programa de uso do combustível naquele país, denominado Ethanol Program in Australia. A idéia foi muito bem-recebida e obteve grande divulgação nos meios de comunicação, tornando-se até assunto de uma matéria de capa em revista especializada. Atualmente, cresce o movimento para transformar a mistura de álcool, obrigatória na Austrália por motivos ambientais; hoje ela é apenas autorizada.
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Do grupo que participou da viagem, fazia parte um diretor da Dedini, José Luiz Olivério, hoje encarregado de uma missão muito especial: consolidar a posição da empresa no mercado internacional. Ele retornou ao Brasil com boas notícias. Um dos empresários locais, representante de uma associação de fornecedores de cana, lançou, há pouco tempo, o Austcane Project, que pretende utilizar a tecnologia Dedini na instalação da planta industrial já projetada. O empreendimento, cujo projeto foi aprovado em abril último, possibilitará a produção de açúcar, álcool e energia de forma integrada, processando 12 000 toneladas de cana por dia. De posse do projeto de uma usina ideal com base na tecnologia brasileira, os empreendedores solicitaram o apoio do governo local, obtendo o financiamento para a realização desse estudo; este estímulo significa uma espécie de “sinal verde” para o uso do etanol na Austrália. Acredita-se que o mercado para bens de capital na Austrália apresente bom potencial: existem hoje 29 usinas de açúcar em atividade, que podem
ser ampliadas para a fabricação de álcool. A partir de agora, prevê-se, também, a instalação de novas unidades. Oportunidades como essa demonstram que a Dedini está no caminho certo. Aliás, dentro de seu planejamento estratégico, considera-se a exportação como um dos principais pilares de sua expansão e ampliação de mercado. A premissa assumida é de que, nos próximos anos, as exportações estarão centradas, principalmente, em unidades de fabricação de álcool a partir da cana-de-açúcar, aproveitando o reconhecimento da marca Dedini no exterior, em face de sua liderança no mercado nacional. Afinal, a empresa é responsável por mais de 80% dos equipamentos instalados em usinas de álcool e destilarias do país. Na área de manutenção da indústria sucroalcooleira (fornecimentos de peças e componentes de reposição), a empresa exporta, atualmente, cerca de 20% de seu faturamento, com significativa participação em alguns mercados, como o do Paraguai, Colômbia, República Dominicana, Estados Unidos e América Central. Este comércio
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está em expansão, devido ao aumento do interesse mundial em torno da produção de etanol. Outro campo em que a Dedini espera obter bons resultados no exterior, em futuro próximo, é no fornecimento de caldeiras a biomassa, para co-geração de energia elétrica. Nessa área, a empresa detém a tecnologia e lidera as vendas nacionais. Acredita-se que, a exemplo da situação ocorrida no Brasil, esse setor deverá crescer em outros países significativamente nos próximos anos, em paralelo com a expansão da indústria de açúcar e álcool. Um sinal dessa abertura ocorreu recentemente, quando, em parceria com a empresa finlandesa Kvaerner, a Dedini forneceu tubulões e partes de pressão para caldeiras destinadas a indústrias do setor de papel e celulose, como a Arauco e CPMC Pacifico (ambas do Chile).
Mudança de mentalidade Até o ano 2000, existia na Dedini um setor de exportação, voltado, praticamente, a atender as consultas que vinham do
exterior. Não se atuava com foco, objetivos precisos ou cotas a serem atingidas. Havia cinco representantes, atendendo os Estados Unidos, América Central, Colômbia, Peru e Argentina. A partir de uma determinação direta do presidente Dovilio Ometto, a empresa passou a priorizar as exportações. Ele tratou pessoalmente da dinamização do novo departamento, acompanhando sua evolução e os acontecimentos. A seus subordinados contou que obter sucesso no exterior era um de seus maiores sonhos, pois enxergava o grande potencial de sua empresa lá fora, devido ao domínio da tecnologia e à qualidade de seus produtos. De olho na globalização, e diante da melhora da conjuntura nacional, que permitiu a retomada das atividades da Dedini no mercado interno, Dovilio Ometto decidiu que havia chegado a hora de investir na atuação junto a outros países. Além disso, observando a boa aceitação do sistema Reposição Garantida Dedini (RGD), cobrindo praticamente todo o território de um país com dimensões continentais como o Brasil, concluiu que poderia atuar, também, com sucesso no exterior.
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Para aumentar sua participação no mercado externo, a administração da Dedini está bem consciente que precisa acompanhar a tendência mundial do comprometimento com responsabilidade: hoje, não basta mais colocar produtos, é preciso vender performance. Isso implica em manter um relacionamento duradouro e aberto com o cliente, prestando-lhe assessoria em engenharia, manutenção, reposição de peças e eventuais expansões e reformas.
Vitrine para o mundo Aproveitando a conjuntura favorável à realização de negócios, a Dedini aumentou, nos últimos anos, sua participação em congressos, feiras e seminários, com o objetivo de aumentar sua visibilidade. Assim, enviou delegações às reuniões promovidas a cada quatro anos pela International Society of Sugar Cane Technicians Congress (ISSCT), realizadas em setembro de 2001 e fevereiro de 2005, respectivamente, em Brisbane (Austrália) e na cidade de Guatemala (Guatemala). Nesse último encontro, do qual participaram 54 países, os
técnicos da companhia efetuaram palestras e demonstraram a linha de produtos. Em um esforço de marketing, a empresa tornou-se também mais presente em acontecimentos como este, no Brasil e no exterior: a participação em feiras de negócio subiu de duas, em 2000, para dez, em 2005, e de cinco para trinta eventos por ano, no mesmo período.
Vendendo tecnologia Paralelamente, além de exportar bens e serviços, a Dedini está negociando a transferência de tecnologia no exterior. Historicamente, a empresa sempre preferiu vender os equipamentos, mas essa ação apresenta um limite logístico: pode haver perda de competitividade quando fornece para países muito distantes, levando em consideração o peso e as grandes dimensões das peças. Por isso, vem estudando a comercialização de suas tecnologias, o que, em alguns casos, pode ser mais interessante do que o próprio fornecimento de bens. Foi o que ocorreu em 2003, quando assinou contrato para transferência de conhecimentos sobre processo
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DEDINI EXPORTA O MAIOR E MAIS MODERNO CONJUNTO DE MOENDAS DO MUNDO Uma notícia promissora na área de exportação surgiu
Nessa venda, a Dedini concorreu com cinco outras em-
em dezembro de 2004, quando a Dedini assinou importan-
presas de vários países, inclusive do Brasil. Vários fatores
te contrato com a empresa norte-americana U.S. Sugar Cor-
parecem ter contribuído para o resultado final: desde a bem
poration, para fornecimento da engenharia de instalação,
elaborada proposta, que apresentou soluções inovadoras
diversos equipamentos, instalação e treinamento de pes-
em diversos aspectos, até as reuniões realizadas nos Estados
soal, destinados a ampliar a sua planta industrial, situada
Unidos pelos profissionais da empresa, quando os consulto-
em Clewiston, na Flórida.
res da U.S. Sugar Corporation ficaram satisfeitos com o alto
O “pacote” adquirido, no valor de US$ 13 milhões, englo-
nível de conhecimento técnico dos engenheiros brasileiros.
ba equipamentos para preparo da matéria-prima (picador,
Colaborou também para decisão a visita realizada pe-
jogo de facas, desfibrador e peneiras rotativas); condutores
los técnicos da companhia norte-americana ao Brasil. Na
de cana, instrumentação e controles; um tandem, com seis
ocasião, puderam verificar o desempenho e a performance
ternos de moendas (com dimensões de 56 por 100 polega-
dos equipamentos instalados em algumas usinas nacio-
das), com capacidade de moagem de até 28 000 toneladas
nais. A delegação ficou, também, bem impressionada com
por dia, além da supervisão de montagem e instalação.
a simplicidade de solução, tanto em nível dos equipamen-
Esse será o maior em capacidade e o mais moderno tan-
tos como na forma operacional.
dem do mundo. Contará com os mais avançados conceitos
O projeto incorpora uma série de avanços em relação
de engenharia, aplicação de materiais e controle já emprega-
aos já existentes: na mecânica, na configuração e no acaba-
dos em instalações similares. Trata-se de projeto inédito, pois
mento. Possui, também, alto grau de automação, sistemas
o maior conjunto de moendas fabricado pela Dedini, até então, possuía as dimensões de 54 por 90 polegadas.
especiais de travamento e de acompanhamento. Na sua fabricação estão sendo empregados materiais de alta qualidade, para diminuir os custos de sua manutenção, tais como aços inoxidáveis, ligados, temperados e revestidos (submetidos a tratamento térmico para aumentar sua durabilidade). As encomendas começam a ser entregues a partir de outubro de 2005, sendo necessários inúmeros embarques sucessivos no porto de Santos, com destino a Miami. O início da operação está previsto para setembro de 2006, possibilitando que a empresa norte-americana passe a processar, diariamente, 38 000 toneladas de cana, em uma só unidade. Atualmente, a U.S. Sugar Corporation possui duas plantas de fabricação de açúcar tipo cristal, mas pretende fechar uma delas para aumentar a produtividade, diminuir os custos e melhorar assim sua competitividade no mercado.
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Moenda fabricada para a U.S. Sugar Corporation (EUA), montada em Piracicaba, em outubro de 2005
de destilação para uma empresa indiana, a Uttan. O negócio, com duração de dois anos, objetiva aproveitar o grande interesse internacional no know-how brasileiro na fabricação de usinas de álcool.
Diferentes culturas Para atender essa nova política de expansão, foi reorganizado o departamento de exportação, pois, para atuar com eficiência em mercados externos
são necessários amplos estudos prévios, a respeito da legislação, cultura, gostos, preferências, hábitos de compra e diferenças políticas, entre outros fatores, dos países com os quais se pretende desenvolver negociações. Além disso, exige-se pessoal habilitado para essa tarefa, que pressupõe desde o perfeito domínio de idiomas estrangeiros, conhecimento dos procedimentos de exportação, até uma cultura exportadora de todos os
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setores participantes no processo. Envolve, ainda, a adequação dos documentos internos (manuais, desenhos, especificações etc.) às normas internacionais. Dessa forma, a empresa tratou de capacitar os colaboradores encarregados do trabalho. Cursos de idiomas foram disponibilizados para a equipe, ministrados na própria empresa. Foram organizados, também, treinamentos sobre os diversos aspectos da exportação, envolvendo logística, administração e legislação específica. Além disso, sabe-se que é preciso ter bastante sensibilidade e experiência para lidar com os diferentes costumes de cada povo.
Parcerias estratégicas Ao longo do tempo, a Dedini efetuou inúmeras vendas para o exterior, destacando-se o fornecimento de seis usinas completas, “chave-na-mão”, para a Venezuela e Paraguai, além de mais de vinte destilarias de álcool. O fornecimento englobava não só os equipamentos, mas, também, a engenharia civil, elétrica e de interligações. Além de trabalhar com equipes próprias, a empresa contratava serviços no local.
Considerando a grande dimensão das obras que envolvem a construção de uma planta industrial no exterior, a Dedini sempre buscou parcerias na implantação desses empreendimentos, com o objetivo de somar esforços e baratear custos. Na maioria das vezes, essa estratégia revelou-se acertada, pois cada empresa envolvida trabalha em sua área de especialidade, com entrosamento e foco bem definido nas atividades propostas, agregando, assim, maior valor ao produto final.
Bons resultados Nos dias de hoje, a Dedini atua no mercado externo oferecendo seus produtos e serviços, procurando expandir sua carteira de clientes, por meio de intermediários: tradings e empresas exportadoras. Trabalha, também, diretamente, com pessoal próprio, operando a rede de representantes mantidos no exterior ou, ainda, em parcerias. Dessa forma, por meio da multinacional Andritz, instalada no Brasil e nos Estados Unidos, a Dedini está conseguindo efetuar negócios interessantes. Recentemente, conseguiu comercializar
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partes de pressão de caldeira de recuperação química, que opera em temperatura de 441ºC e capacidade de processamento de 171 toneladas por hora. Transações internacionais podem ser efetuadas, ainda, pela empresa, com a utilização de programas bilaterais de governo, sendo o brasileiro uma das partes, ou, ainda, por meio de formação de joint ventures (associações) com companhias de outros países. Participa, também, de licitações de organismos financeiros internacionais e de auxílio a países em desenvolvimento. Em conseqüência dos esforços e mudanças implementadas, as exportações da Dedini evoluí-
ram onze vezes entre 2000 e 2004, passando de R$ 6,8 milhões para R$ 75 milhões, enquanto as transações globais da empresa cresceram três vezes: de R$ 203,5 para R$ 597,9 milhões. Assim, adquiriram maior significado nas vendas totais. O bom desempenho deve continuar em 2005, quando se espera atingir R$ 78 milhões. A meta da administração é dobrar sua participação no faturamento global da empresa até 2010. Existem, também, projetos para instalar unidades de operação em outros países, principalmente para atender os grandes centros produtores de açúcar e álcool, a partir da cana-de-açúcar. No início, tais locais efetuarão serviços de reformas em peças e fornecerão componentes de reposição, mas, no futuro, poderão se transformar em unidades produtoras. Atualmente, está sendo analisada a possibilidade de implantação de tais plantas no México e Estados Unidos e, também, em outros países na América Central. Nesses postos avançados pretende-se, no início, comercializar peças de reposição destinadas aos equipamentos de fabricação do setor sucroalcoo-
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leiro. Em uma primeira etapa, a Dedini está interessada em consolidar sua posição na América Latina, mas pretende, também, atuar nos mercados de vários países, como Estados Unidos, México, Índia, Filipinas, Senegal, Ilhas Maurício, Suécia, Paquistão e Etiópia, entre outros.
Desidratação de álcool Um passo importante para a internacionalização da Dedini
ocorreu em 2004, quando, em caráter pioneiro, a empresa vendeu no exterior uma planta desidratadora de álcool, por meio de peneira molecular, para a empresa Coimex Trading Company. Os equipamentos foram instalados na Petrojam – Petroleos Jamaicanos, na cidade de Kingston, na Jamaica. A unidade, que entrou em funcionamento no ano seguinte, objetiva desidratar o etanol exportado para os Estados Unidos, para adição à gasolina.
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Preparo para embarque de alguns componentes do maior conjunto de moendas do mundo, exportado para os Estados Unidos
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Para os técnicos que atuam na área, a parceria estabelecida com a Coimex coloca a Dedini num seleto grupo de fornecedores internacionais e abriu as portas de um mercado muito promissor: o de tratamento do etanol. Nos últimos anos, o produto se transformou em commodity, e vem apresentando grande procura.
sa holandesa Paques já forneceu, pelo menos, dezesseis unidades de tratamento de efluentes para diversos países. Estimulada pela aplicação de leis ambientais mais rigorosas e pelo aumento da conscientização ecológica, essa área apresenta grande potencial de negócios na América do Sul, com vendas estimadas, em 2005, em cerca de US$ 15 milhões.
Em conseqüência, será necessária a instalação de um maior número de unidades desidratadoras, normalmente próximas aos terminais portuários de descarga e embarque. Hoje, tais plantas existem em alguns portos, como nos de Roterdã (Holanda) e Mobile (Estados Unidos), bem como no da Rússia, entre outros. Nesses locais é efetuado o tratamento, que visa incorporar ao etanol as características e peculiaridades de cada país que irá consumi-lo.
Outro setor atraente é o de fornecimento de peças fundidas em aço e ferro, principalmente, de grande porte (acima de dez toneladas), com maior valor agregado. Os principais clientes são empresas fabricantes de bens de capital, na área de mineração, siderurgia, cimento e hidrogeração. Nesse campo, a Dedini exporta cerca de 3 000 toneladas por ano.
Novos caminhos Além da especial ênfase no mercado sucroalcooleiro, a Dedini vem procurando, também, expandir sua lista de clientes no exterior em outras áreas. Em parceria com a empre-
Exportação: importância estratégica Para a Dedini, a política de exportações não se constitui apenas em representação física fora do Brasil. Assume, antes de tudo, grande importância estratégica, sob diversos pontos de vista: •
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Insere-se na orientação da política global de marketing da empresa
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Representa a internacionalização da marca Dedini Reduz a dependência da empresa em relação ao mercado doméstico Pode ampliar o ciclo de vida de seus produtos Contribui para o aprimoramento da qualidade dos produtos e de seus colaboradores É compatível com a cultura, responsabilidade e visão delineadas para a empresa Possibilita a redução dos custos operacionais, à medida que oferece flexibilidade para trabalhar nos períodos de baixa carga nas fábricas Facilita o acesso às tecnologias mais avançadas
Vencendo obstáculos Para conseguir seu intento de internacionalização, os profissionais da Dedini sabem que é preciso ultrapassar muitas barreiras. Dentre as que mais dificultam os negócios no exterior podem ser citadas a burocracia, a estrutura deficiente dos portos marítimos, a política cambial, o protecionismo à importação nos
países compradores, assim como os subsídios concedidos aos concorrentes provenientes de países desenvolvidos, que possuem fartos recursos financeiros. Dessa forma, a administração da Dedini vem trabalhando para conseguir, junto às instituições governamentais brasileiras, a disponibilização de linhas de financiamento que operem com taxas de juros compatíveis com o mercado internacional para seus clientes, além de uma maior abertura para garantias diferenciadas. Acredita-se que estes são fatores relevantes para estimular o crescimento das exportações do país, especialmente do setor de bens de capital sob encomenda. Além disso, considerando a volatilidade cambial reinante em quase todos os países, e não apenas naqueles em desenvolvimento, é preciso haver um mecanismo de proteção contra as variações das moedas. Essa proteção é de grande importância para minimizar o risco das exportações, uma vez que, nesse segmento, as operações de venda são, sempre, de prazo mais longo, variando de seis a doze meses.
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A PRESENÇA DA DEDINI NO MUNDO Acordos tecnológicos • • •
Alemanha
•
Holanda
•
Suíça
Áustria
•
Itália
•
Suécia
Estados Unidos
•
Japão
Representantes e agentes (julho de 2005) •
Argentina
•
Guadalupe
•
Panamá
•
Austrália
•
Guatemala
•
Paquistão
•
Barbados
•
Guiana Francesa
•
Paraguai
•
Belize
•
Haiti
•
Peru
•
Bolívia
•
Honduras
•
Porto Rico
•
Chile
•
Ilhas Maurício
•
República Dominicana
•
China
•
Indonésia
•
Senegal
•
Colômbia
•
Jamaica
•
St. Kitts Trinidad Tobago
•
Costa Rica
•
Martinica
•
•
El Salvador
•
México
•
Uruguai
•
Equador
•
Nicarágua
•
Venezuela
•
Estados Unidos
•
Nigéria
Clientes •
Argentina
•
Filipinas
•
Paquistão
•
Austrália
•
Guadalupe
•
Panamá
•
Barbados
•
Guatemala
•
Paraguai
Belize
•
Haiti
•
Peru
•
Bolívia
•
Honduras
•
República Dominicana
•
Canadá
•
Ilhas Maurício
•
Senegal
•
Chile
•
Índia
•
Colômbia
•
Indonésia
Suécia
•
Costa Rica
•
Jamaica
•
•
Tailândia
•
Equador
•
Martinica
•
Trinidad e Tobago
•
Estados Unidos
•
México
•
Uruguai
•
El Salvador
•
Nicarágua
•
Venezuela
Etiópia
•
Nigéria
•
•
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CAPÍTULO 10
Responsabilidade corporativa “O desenvolvimento sustentável coloca um desafio ao tradicional modo de pensar das organizações, pois a melhoria de sua performance não depende apenas dos produtos vendidos, dos serviços prestados e do lucro auferido, mas, também, do impacto sobre o bem-estar humano e social e da manutenção do ambiente, do qual a vida depende.” Instituto Ethos, em 2005.
M
Colaborador da Dedini na fábrica de Sertãozinho (SP)
uito tempo antes que se tornasse uma prática comum nas empresas brasileiras, a Dedini já exibia uma extensa folha de serviços prestados a seus colaboradores e à comunidade em que se insere. Essa mentalidade pioneira, tão preconizada nos dias atuais, se deve a seu fundador, Mario Dedini. Ele deixou registradas, tanto na cidade em que viveu, como na memória das pessoas que amparou, inúmeras provas de solidariedade e, principalmente, de respeito por quem com ele trabalhava. A ponto de uma funcionária da empresa, com bastante atuação na área social comentar: “Mario Dedini foi um daqueles homens que nascem com uma aura clara, transparente, e uma vocação para se tornar uma alma solidária, que deixa marcas para sempre”. Quem concorda com esse testemunho é o advogado Gustavo Jacques Dias Alvim, hoje reitor da Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep), que atuou na Dedini durante dezessete anos, entre 1965 e 1982. Ele conta, em depoimento de junho de 2005, que, quando foi contratado, a empresa não enfrentava, na realidade, grandes problemas jurídicos; havia algumas questões tributárias, dúvidas na elaboração de contratos, cobranças e poucas pendências trabalhistas. Aliás, a respeito de seus funcionários, o advogado foi instruído por Mario Dedini, por ocasião de sua contratação: “Veja bem, não quero
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que sejam ignorados os direitos dos meus trabalhadores. Tudo deve ser pago e cumprido direitinho”. Gustavo Alvim diz que tal declaração o impressionou muito, pois na época a maior parte de seus clientes não adotava essa filosofia. O atual reitor da Unimep guarda boas recordações do trabalho na Dedini: “Para mim, foi uma verdadeira escola, pude crescer profissionalmente e aprendi muito com a figura inesquecível de Mario Dedini, homem simples, de pouca instrução, mas inteligente e criativo. Era um grande empreendedor, dotado de generoso coração, sempre preocupado em ajudar na solução dos problemas da comunidade”. Assim, em consonância com seu modo de ser, Mario Dedini fundou, em caráter pioneiro, a Caixa Beneficente dos Empregados da Oficina Dedini, em 1954. Era uma organização jurídica de direito privado, sem fins lucrativos, com autonomia administrativa para gerar recursos e oferecer benefícios de amparo aos trabalhadores. Os fundos necessários para seu funcionamento provinham dos próprios funcionários, que, a cada mês, colaboravam com 2% de seus vencimentos e, também, do próprio idealizador do siste-
ma. Mario Dedini contribuía com o equivalente ao dobro do valor arrecadado junto a seus colaboradores. Com isso, o empresário garantia, de forma sustentável, assistência médico-hospitalar e farmacêutica a todos. Exigia, também, que esse atendimento fosse sempre de boa qualidade. O sistema evoluiu com o tempo, acompanhando a expansão das empresas. Transformou-se em Serviço Social e Beneficente dos Empregados de M. Dedini S.A. Metalúrgica e, mais tarde, em Serviço Social dos Empregados do Grupo Dedini.
A Fundação Mario Dedini A partir dos anos 1980, passou a chamar-se Dedini Serviço Social, que cuidava, também, de outras unidades do grupo, sendo sucedido, em 2004, pela Fundação Mario Dedini, com objetivos mais abrangentes. É dirigida por um conselho deliberativo e uma diretoria executiva, que definem e coordenam os programas, as campanhas e os projetos solidários na área da ação comunitária. Os principais objetivos da Fundação são proporcionar
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assistência social, médica, hospitalar e farmacêutica, procurando oferecer melhor qualidade de vida a seus participantes, além de criar um elo de segurança e responsabilidade entre os colaboradores e a empresa. Dessa forma, age diretamente, mantendo serviços próprios, ou celebrando convênios, contratos e acordos com terceiros. Além disso, participa e promove congressos, seminários, fóruns, campanhas, feiras e outros encontros de interesse para o desenvolvimento da educação familiar. Organiza, ainda, oficinas de motivação com caráter educacional, artístico e cultural, bem como palestras, enfocando temas que estimulam valores éticos e a cidadania. Procura, ainda,
oferecer oportunidades de aprendizado, e incentivar ações de responsabilidade social e de preservação do meio ambiente. Outra missão da Fundação é intensificar programas de parcerias na comunidade, por meio de ações consistentes, principalmente, aquelas voltadas para o desenvolvimento social. Nesse sentido, promove doações a entidades assistenciais, cumprindo as condições e limites estabelecidos pelo seu Conselho Deliberativo. A Fundação Mario Dedini é composta por todos os colaboradores da Dedini que, com seus dependentes, somam mais de 8 000 usuários do sistema. Em 2004, possuía uma receita de aproximadamente R$ 4,5 milhões por ano. Os fundos para sua manutenção provêm da contribuição
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Controle automatizado de operações na Fundição Dedini, em Piracicaba (SP)
efetiva das empresas (70%) e dos funcionários associados (30%). Além das contribuições, fazem parte do seu patrimônio os recursos oriundos de diversas ações, como, por exemplo, doações espontâneas e receitas de promoções, entre outras.
Driblando a inflação No passado, outra importante iniciativa de cunho social foi a Cooperativa de Consumo das Firmas Dedini Ltda., onde os colaboradores da empresa podiam adquirir gêneros de primeira necessidade com excelentes condições de preço e qualidade. Surgiu em dezembro de 1964, pelo idealismo e entusiasmo de 62 fundadores, tendo Dovilio Ometto como presidente. Foi a segunda a
instalar-se na cidade (a primeira foi a Cooperativa do Engenho Central). O principal objetivo era restaurar o poder de compra dos operários, castigados pela inflação e pelos altos preços praticados pelo comércio local. Em 1965, a Cooperativa possuía novecentos associados e sede própria. A diretoria era constituída pelos próprios trabalhadores, enquanto a Dedini fornecia subsídios e toda a infra-estrutura necessária. A entidade funcionou durante muito tempo com sucesso, e foi desativada somente em outubro de 1996.
Mudança de mentalidade No decorrer do tempo, o trabalho na área social nas
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empresas Dedini abandonou o caráter, até certo ponto, assistencialista, em que se procurava cobrir quaisquer necessidades de seus colaboradores, em termos de orçamento, saúde e educação. Nos dias atuais, os conceitos e valores da moderna administração se modificaram e se ampliaram. As ações empresariais se afastam da simples benemerência; pensase mais em termos de inclusão social. Por isso, desenvolvemse na Dedini os projetos com potencial transformador, priorizando atividades culturais, educacionais, esportivas recreativas, entre outras. Nesse sentido, procura-se dialogar com as partes interessadas (stakeholders), mobilizando a rede de contatos, descobrindo formas de melhor inseri-las na estrutura corporativa, sempre respeitando sua diversidade ética, religiosa e cultural. Um exemplo disso são os programas desenvolvidos com voluntários, que contam, inclusive, com a participação de outras companhias. Uma das primeiras ações realizadas com esse enfoque nas empresas Dedini, foi a cons-
tituição, em 2003, do Comitê de Responsabilidade Social. Composto por acionistas, diretores e profissionais do setor, a entidade recebe, analisa pedidos e aprova doações para os programas considerados consistentes, e que possam agregar maior responsabilidade à sua imagem institucional. Segundo os especialistas da área, o trabalho de inserção social caminha em paralelo com a inovação tecnológica, priorizando a conservação do ambiente e o uso de energias “limpas”, como formas de reduzir o impacto das atividades econômicas sobre os recursos naturais, e beneficiando a comunidade como um todo.
princípios do seu comportamento e do seu processo decisório: a tradição, a qualidade, o empreendedorismo, o comprometimento, além da responsabilidade técnica, comercial e social. Esses valores são exercitados no cotidiano pela administração e colaboradores.
Valores imutáveis Dessa forma, a administração da Dedini tem plena consciência que seu maior patrimônio são seus colaboradores e, portanto, vem se adequando aos novos tempos para melhor cumprir as responsabilidades. Assim, formulou uma abrangente política com base em sua missão, valores e crenças, que norteiam seu desempenho.
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A Dedini tem como
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Política corporativa das empresas Dedini em 2005 •
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•
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•
Satisfazer as necessidades de seus clientes Proporcionar o mais alto nível de satisfação de seus colaboradores Promover a iniciativa, a criatividade, as competências técnica e gerencial, visando à permanente melhoria em todos os níveis da empresa Buscar a contínua utilização de novas tecnologias para operar com elevada qualidade, produtividade e lucratividade Conciliar o desenvolvimento de suas atividades com a preservação do ambiente Atuar com responsabilidade social na comunidade na qual está inserida Atender aos interesses de seus acionistas
Valorizando as pessoas Ao longo do tempo, buscou-se, também, maior profissionalização na companhia, sendo que, hoje, a Fundação Mario
Dedini atua em sintonia com o departamento de recursos humanos. A primeira proporciona a necessária assistência de saúde aos funcionários e seus familiares. Promove atividades educativas e culturais, cumprindo variado calendário anual de eventos, estimulando a comunicação social e a integração, por meio de diversas dinâmicas de grupo. Por sua vez, o departamento de recursos humanos cuida dos aspectos relacionados ao pessoal: provisão (planejamento, recrutamento e seleção); aplicação (administração e avaliação de desempenhos); manutenção (salários e benefícios); desenvolvimento (treinamento) e monitoração (segurança e relações de trabalho). Os profissionais dessa área são encarregados da organização do banco de horas de trabalho e do programa de participação nos resultados. O objetivo do setor é cumprir a legislação trabalhista e promover justiça social, por meio de benefícios e salários compatíveis. A atuação nessa área transformou a Dedini em uma verdadeira referência no mercado de trabalho.
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Evolução do número de colaboradores* (1999-2005) Dedini S.A. Indústrias de Base
A Dedini considera seu grande diferencial competitivo os colaboradores que contribuem na produção de bens e na prestação de serviços. Em 2005, eles somam quase 4 000 pessoas, atuando nas diversas unidades de São Paulo (Piracicaba e Sertãozinho) e do Nor-
Fonte: diretoria Dedini.
deste (Recife e Maceió).
(*) inclui efetivos e terceirizados (**) previsão
Saúde em primeiro lugar
Mantendo benefícios
A Fundação Mario Dedini tem procurado aperfeiçoar cada vez mais seu sistema administrativo. Ampliou o número de convênios com hospitais, com médicos de várias especialidades, e com laboratórios de análises clínicas, colocados à disposição dos colaboradores da empresa. Sistematicamente, ouvem-se os usuários para avaliar a qualidade do atendimento, e hoje o índice de satisfação com os serviços recebidos se situa por volta de 80%.
Apesar da grave crise enfrentada pela Dedini nos anos 1990, houve muita preocupação da administração em resguardar, na medida do possível, os benefícios adquiridos. Mesmo assim, foi inevitável a realização de algumas mudanças, de forma a assegurar esses ganhos e, ao mesmo tempo, adequar o nível de gastos na área com que a empresa poderia arcar, em tempos de dificuldades. A partir de 2001, foram firmados contratos para atendimento com três redes
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Atendimento ambulatorial a colaborador da Dedini, em Piracicaba (SP)
de farmácias da cidade, que dão abatimento de 20% sobre tudo que vendem. Além disso, os medicamentos com receita são comprados com 30% de desconto e debitados na folha de pagamento. Foram contratadas também duas cooperativas da cidade para prestar atendimento odontológico aos colaboradores da Dedini e suas famílias, que operam com tabelas de preços subsidiados e permitem, também, o desconto em folha. Atualmente, a Dedini possui, também, seis ambulatórios médicos para atendimento exclusivo dos colaboradores e prestadores de serviços, instalados em suas plantas industriais.
Passaporte para a modernidade Desde 2003, a Dedini vem preparando e divul-
gando, a cada ano, o balanço social de suas empresas. Este documento é, hoje, o ponto alto da gestão de responsabilidade social, ferramenta fundamental para a consolidação de uma cultura empresarial que privilegia a transparência e permite à sociedade conhecer e valorizar os esforços para conciliar o sucesso econômico com resultados positivos na área sócio-ambiental. É, também, um instrumento de diálogo entre as partes interessadas, permitindo que se situem em relação aos concorrentes e à comunidade, e aumentando a comunicação das oportunidades e dos desafios na área de abrangência. Uma pesquisa recente da Associação Brasileira dos Dirigentes de Vendas e Marketing (ADVB), de agosto de 2005, que recolheu dados junto a cerca de 3 000 empresas de todos os portes
Assistência médico-hospitalar oferecida aos colaboradores da Dedini REDE CREDENCIADA
2003
2004
2005 (*)
Total de atendimentos
32 727
38 480
45 290
Número de usuários
8 006
8 223
9 008
Fontes: Balanços Sociais (2003 e 2004). (*) previsão
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Investimentos sociais realizados pelas empresas Dedini (em reais) ITEM
2003
2004
2005 (*)
Remunerações de funcionários
53 906 292,63
59 436 626,00
79 830 830,30
Remunerações de terceiros
24 724 839,00
26 402 008,00
30 516 015,00
Encargos
48 162 861,96
52 151 887,99
61 498 945,77
Alimentação
5 972 176,31
6 260 355,17
7 957 178,67
Assistência à saúde
4 162 832,84
4 279 629,21
5 763 953,52
Transporte de pessoal/ treinamento/ comunidade e eventos educativos
2 452 674,88
2 461 756,93
4 879 163,11
139 381 677,62
150 992 263,30
190 446 086,37
Total
do que apostar nas pessoas, em sua capa-
Fontes: Balanços Sociais (2003 e 2004); diretoria Dedini. (*) previsão
cidade de aprender e
e regiões do Brasil, mostrou que a maioria delas – 72% – não publica balanços sociais, apesar de reconhecer sua grande importância. Além disso, o estudo detectou uma queda nos investimentos em ações sociais de 14% em 2004, em relação ao ano anterior. Nessa área, a Dedini segue caminho inverso, contrariando a tendência geral. Aproveitando a recuperação financeira de suas empresas nos últimos anos, retomou suas aplicações, ampliando o leque de atuação para beneficiar um número maior de pessoas, não só em suas fábricas, mas também junto à comunidade em que atua.
Participação dos lucros
multiplicar conhecimen-
Acreditando que o trabalho de seus colaboradores é fator decisivo na construção de seu sucesso, a Dedini criou e incentiva a participação de seus colaboradores no programa de resultados. O projeto estimula a melhoria contínua da qualidade e da produtividade e procura reduzir o absenteísmo, à medida que estabelece compensações financeiras por essas atitudes positivas.
tos e, assim, promover a transformação social.” (Zilda Arns Neumann, fundadora e coordenadora das pastorais da criança e da pessoa idosa, em 2004, no prefácio do balanço social Dedini 2004).
O sistema de participação nos lucros foi criado por uma medida provisória do governo, e, posteriormente, transformou-se em lei com o nome de política de
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“Não há melhor investimento
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firmados com os sindicatos de trabalhadores das duas cidades, e mediante a divulgação interna de gráficos e informações consolidadas dos resultados atingidos, foi possível efetuar, a mais de 2 600 colaboradores, o pagamento de valores em torno de R$ 1 100,00 a cada funcionário, referentes ao período e 2003 e 2004.
Capas dos Balanços Sociais da Dedini de 2003 e 2004
participação nos resultados. Trata-se de uma proposta defendida há tempos pelos sindicatos, nem sempre praticada pelas empresas. Em 1996, a Dedini instituiu o primeiro programa nessa direção. A partir de 2002, o projeto foi ampliado, contando com a representação de comissões dos funcionários, nas unidades situadas em Piracicaba e em Sertãozinho, discutindo-se metas e estabelecendo desafios. Assim, cada colaborador podia conhecer a influência de sua participação efetiva nos resultados do negócio. Dessa forma, através da assinatura de acordos coletivos
Essa quantia correspondia, na época, à de um salário médio dos funcionários que recebem o pagamento por hora trabalhada (horistas). Para a grande maioria dos colaboradores (cerca de 70%), esta participação representou o recebimento de um 14º salário no ano. A partir de 2005, também as unidades fabris do Nordeste se beneficiarão desse programa.
Perfeita simbiose Ao longo do tempo, as empresas Dedini conseguiram estabelecer um nível adequado de relacionamento com as entidades sindicais. Trata-se de um convívio mais amadurecido e responsável, privilegiando as
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negociações ponderadas, em vez de atitudes radicais que, eventualmente, conduzem a greves e conflitos trabalhistas. Um ato positivo nesse sentido foi o movimento liderado pela Dedini, por meio de seu diretor Tarcisio Angelo Mascarim, em 1991, para a criação de uma entidade patronal com sede na cidade de Piracicaba, o Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas, de Material Elétrico, Eletrônico, Siderúrgico e Fundições de Piracicaba, Saltinho e Rio das Pedras (Simespi). Nos primeiros tempos, a iniciativa contou com a adesão de apenas nove empresas locais, mas, em meados de 2005, possuía mais de 170 filiadas. A entidade passou a participar de todas as decisões importantes para os trabalhadores, principalmente aquelas relativas aos aumentos salariais, antes atreladas ao sindicato da categoria estabelecido em São Paulo. Dessa forma, foi possível estabelecer uma negociação mais direta, rápida e positiva, uma vez que a realidade da Capital é totalmente diferente daquela reinante nas cidades do interior.
Desde então, as convenções coletivas são negociadas em Piracicaba por meio de acordos. O resultado disso foi o fim das greves. Além disso, o Sindicato dos Metalúrgicos possui, hoje, uma liderança ponderada, mais voltada para a conservação de empregos, que dialoga bem com os empresários. Prova incontestável desse bom relacionamento ocorreu por ocasião das comemorações do 85º aniversário da Dedini, em setembro de 2005. Uma das homenagens prestadas à empresa, na Câmara municipal, foi iniciativa de um de seus colaboradores, o vereador José Luiz Ribeiro, o mais votado da história da cidade, que também é líder sindical. Na oportunidade, ele ofereceu à diretoria uma escultura em bronze, com 22 centímetros de altura, da artista plástica Shirley Xavier da Silveira, denominada Integração: são duas figuras, um executivo e um operário, fundidos em uma única peça, em perfeita simbiose, representando, como explicou Ribeiro, que na Dedini “uma não vive sem a outra, convivendo em harmonia”.
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Escultura em bronze denominada “Integração”, oferecida pelo Sindicato dos Metalúrgicos de Piracicaba a Dedini, por ocasião de seu 85º aniversário
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Geração de empregos A Dedini sempre praticou política de manutenção de postos de trabalho, evitando, dentro do possível, as temidas demissões. Mesmo em fases críticas, recorreu à alternativa de estabelecer “bancos de horas”, recurso previsto na legislação. Por essa estratégia, em tempos de recessão e de baixas encomendas, o funcionário permanece em casa, e, quando a situação melhora, volta ao serviço, recebendo as horas em haver. Em uma das suas fases mais difíceis, nos anos 1990, a Dedini foi obrigada a recorrer, pela primeira vez, ao mecanismo, também legal, de redução de salário e de trabalho, na sua unidade de Sertãozinho. Naquela época, havia necessidade de demitir cem dos trezentos colaboradores daquela fábrica. Graças a esse recurso, as dispensas puderam ser, então, evitadas. Com a recente melhoria da conjuntura, a unidade de Sertãozinho retomou o ritmo de trabalho, e hoje conta com 1 300 operários.
Investindo no pessoal A capacitação de todos os colaboradores sempre foi uma
preocupação constante da Dedini. Desde 2000, vem promovendo, em média, 55 000 horas de treinamento ao ano. Somente em 2004, cada funcionário recebeu, em média, 21 horas de cursos de aperfeiçoamento. A partir de agora, essas ações devem ser ampliadas mais ainda, pois uma das estratégias estabelecidas pela administração, para o primeiro decênio de 2000, é desenvolver seu capital humano. Como diz um dos diretores: “As máquinas podem ser vendidas, se deterioram, ficam ultrapassadas, mas as pessoas e o conhecimento adquirido são,
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Capacitação de pessoal em Escola Senai, em Piracicaba (SP), entidade apoiada pela Dedini
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Capacitação e aperfeiçoamento de mão-de-obra nas empresas Dedini
Número de pessoas treinadas
2000
2001
2002
2003
2004
2005(*)
2 131
2 644
2 682
2 520
2 600
3 111
Fonte: Departamento de Recursos Humanos. (*) previsão
realmente, nossa prioridade. Investindo nelas se ganha em comprometimento, em produtividade e em resultados”. Dessa forma, buscando a elevação gradativa das competências de seus colaboradores, a Dedini organiza sistematicamente vários programas de desenvolvimento profissional. Fiel ao objetivo de preparar futuros gestores e lideranças, desenvolvidos em paralelo ao crescimento previsto dos negócios, no Brasil e no exterior, o departamento de Recursos Humanos também iniciou, em março de 2005, o programa de trainees das empresas Dedini, que contou com a inscrição de 250 candidatos, dos quais dezoito foram selecionados. Inicialmente, os contratados passaram, durante sessenta dias, por período de integração e ambientação. Na oportunidade, conheceram em detalhes todas áreas, negócios e mercados de atuação das empresas Dedini.
Após a fase de adaptação, efetuou-se uma customização das atividades e projetos a serem desenvolvidos pelos novos profissionais, em suas respectivas áreas de trabalho. Nessas atividades, os jovens estiveram sempre acompanhados por funcionário experiente designado pela empresa, uma espécie de “padrinho”. Da mesma forma que ocorria no passado, na antiga Oficina Dedini, quando os aprendizes se desenvolviam com a bênção de um operário mais velho que ensinava e “avalizava” seu desempenho.
Buscando integração Propiciar condições favoráveis para melhorar a qualidade de vida de seus colaboradores é um desafio constante de todos os gestores das empresas Dedini. Procurando estreitar os relacionamentos e promover a inte-
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ESPORTE PARA TODOS As empresas Dedini possuem longa tradição no apoio
cidade de Piracicaba em competições esportivas, como,
aos esportes amadores em Piracicaba, revelando talentos
por exemplo, nos Jogos Regionais, pode ser creditada ao
e contribuindo para que a cidade se sobressaísse em inú-
trabalho esportivo de base, que propicia condições para o
meras competições esportivas. Desde 1989, por exemplo,
aprimoramento dos atletas.
patrocina o programa municipal Desporto de Base, criado com o objetivo de oferecer oportunidades para que os cidadãos – crianças, jovens, adultos, portadores de deficiências e grupos de terceira idade – possam praticar e vivenciar esportes, e não somente assisti-los. O projeto é considerado um sucesso e já recebeu até prêmios, por ter possibilitado a instalação de ampla e diversificada rede de inter-relações na cidade. Compõe-se de um grupo de vinte professores de educação física e dez estagiários, que se revezam, de duas a cinco vezes por semana, para atender cerca de 3 000 interessados por ano. As diversas modalidades (futebol, voleibol, basquetebol, futebol de salão, handebol, natação, tênis de mesa, canoagem etc.) são desenvolvidas em escolas, centros comunitários e outros locais disponíveis, em quinze diferentes
Uma das prioridades da iniciativa é tirar menores carentes das ruas, oferecendo-lhes boas opções de recreação, dirigindo-os para atividades positivas e educando-os, através da prática do esporte. Nesse quesito, os resultados têm demonstrado eficiência no desenvolvimento da capacidade física, motora e mental dessas crianças e, especialmente, na melhoria da sua socialização. Fiel à sua tradição de apoio na área dos esportes, a Dedini é, hoje, também, uma das patrocinadoras da Associação de Basquetebol XV de Piracicaba, nas categorias adulto e juvenil. Dessa forma, contribui para resgatar a tradição nessa modalidade, na qual, no passado, a cidade se destacou bastante. Ao mesmo tempo, colabora para a inclusão social de cerca de uma centena de jovens participantes.
bairros da cidade. A
metodologia
aplicada
envolve três fases distintas: a lúdica, de iniciação e recreação; a de aperfeiçoamento técnico-esportivo, de treinamento, e a de especialização e performance de alto nível. Não raramente, os participantes do programa passam pelas três etapas e alcançam bom nível técnico e competitivo. Acredita-se que parte do sucesso recente obtido pela
Atividades esportivas patrocinadas pela Dedini em Piracicaba (SP)
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gração de seus colaboradores e familiares, a Dedini desenvolve, sistematicamente, diversos programas para aumentar o bem-estar e a satisfação de uma população estimada em mais de 8 000 pessoas. Muitas atividades realizadas visam integrar a família no contexto da organização, promovendo, periodicamente, visitas de seus filhos e esposas às fábricas. Nessas ocasiões, são realizados eventos culturais e recreativos. São oficinas de artes, de reciclagem de materiais, palestras, apresentações de artistas, visitas monitoradas etc.
Atuação na comunidade Nos dias atuais, os profissionais que atuam na área social têm procurado aprimorar a consciência comunitária dos colaboradores, estimulando uma “visão para fora” em direção às pessoas mais necessitadas. O trabalho, realizado nas cidades onde existem unidades fabris instaladas, procura despertar a cooperação no fortalecimento de ações sociais que contribuam para amenizar os problemas da população mais carente.
Dessa forma, desde 2003, formou-se um grupo de uma centena de voluntários, que promove campanhas de doação (tais como alimentos e agasalhos), realizam visitas e prestam apoio financeiro a entidades assistenciais, hospitais, moradores de rua etc. As iniciativas recebem pleno apoio da administração da companhia. O pessoal envolvido já conhece o reforço que receberá no seu trabalho: normalmente, ao volume recolhido por meio de doações, a administração e os acionistas acrescentam o dobro. Para ter uma idéia da importância social dessas realizações, basta saber que, somente com a arrecadação obtida em uma das recentes campanhas de doação de leite, foi possível abastecer, durante três meses, as entidades sociais de Piracicaba com o produto. Além disso, a Fundação Mario Dedini realiza programas específicos, junto a seus colaboradores e à comunidade, visando à prevenção de doenças, combate aos vícios, ao estresse, à obesidade, entre outras. Estimula, ainda, práticas saudáveis como os esportes (ver boxe na página anterior).
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Firme na sua tradição, as empresas Dedini continuam, ainda, contribuindo para o embelezamento e progresso de Piracicaba, cidade onde está instalada desde os anos 1920. Recentemente, colaboraram, junto com a Prefeitura municipal, no desenvolvimento de vários projetos, como os de revitalização da orla urbana do rio Piracicaba, do Jardim Zoológico, das construções do Memorial à República, do projeto do Museu de Ciência e Tecnologia e da instalação de unidades de saúde em bairros carentes. Incentivam, ainda, a realização de inúmeras atividades culturais. Trabalho semelhante é realizado, também, em Sertãozinho (SP), onde está localizada uma de suas unidades fabris. Naquela cidade, a Dedini recebeu o prêmio Top of Quality 2003, da Ordem dos Parlamentares do Brasil e do Ministério da Educação e Cultura, pelos trabalhos sociais desenvolvidos na comunidade e pela colaboração na Campanha Nacional Contra as Drogas. Em 2003, foi homenageada, também, com o título de “Empresa Cidadã”, concedido por unanimidade pela Câmara Municipal de Sertãozinho, em
reconhecimento pela sua atuação junto à população local.
Cuidando da saúde da família Investindo na prevenção de doenças e na descentralização do atendimento médico, as empresas Dedini formaram, em 2003, parceria com a prefeitura municipal para desenvolver o Programa Saúde da Família em Piracicaba. O primeiro passo foi a viabilização da construção da unidade de saúde no bairro Mario Dedini II, levando assistência médica à sua população, estimada em cerca de 3 500 pessoas, por meio do trabalho de agentes comunitários – médicos, enfermeiros e auxiliares. Pelo convênio firmado, a Dedini doou os materiais necessários à construção do prédio, com cerca de 200 metros quadrados, orçado, na época, em quase R$ 30 000,00. A municipalidade ficou encarregada do fornecimento da infra-estrutura e da mão-de-obra, além da realização das obras. Por ocasião da inauguração do posto de saúde, Juliana Dedini Ometto, membro do
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prever os do futuro”, declararam, na época, as autoridades municipais.
Conselho da Dedini, declarou que a ação da empresa atendia solicitações da comunidade, proporcionando condições para que população, principalmente a de baixa renda, tivesse acesso à medicina preventiva e assistencial: “Esperamos que essa atitude sirva de exemplo a outras empresas, para que entendam que o poder público, sozinho, não consegue desenvolver ações que modifiquem a realidade. Esta parceria é muito positiva, e, certamente, será uma referência na cidade”. Com a instalação do programa, membros da administração municipal comentaram, na ocasião, que pretendiam “mudar o perfil da saúde na cidade”. Para tanto, mantinham, então, vinte grupos ligados ao Programa de Saúde da Família, trabalhando em diversos bairros, possibilitando a elevação do número de atendimentos de 10 000, em 2001, para 60 000, no ano seguinte, segundo dados da assessoria municipal de imprensa. A prefeitura considerava a participação da iniciativa privada fundamental para o processo: “Devido ao porte, tradição e competência técnica das empresas Dedini, essa parceria torna a cidade mais forte e preparada para enfrentar os problemas do presente e
Em dezembro de 2004, foi inaugurado mais um posto de atendimento desse importante programa municipal: a unidade de saúde “Armando Dedini”. Desta vez, no bairro Bosque dos Lenheiros, no setor oeste de Piracicaba, um dos mais carentes da cidade. Com recursos doados por membros da família Dedini, foram erguidos o prédio e adquiridos os equipamentos; o pessoal foi contratado pela prefeitura.
Respeito ao ambiente Paralelamente ao trabalho social, várias iniciativas são realizadas em defesa do ambiente e na utilização racional dos recursos naturais renováveis. A atuação se desenvolve em duas direções bem definidas. A primeira se revela no seu comprometimento em fornecer equipamentos destinados a reduzir a poluição e conservar os recursos naturais (como as unidades de fabricação de biodiesel e as unidades de tratamento de efluentes industriais e de esgotos domésticos), bem como os que propõem o uso de “energia limpa”.
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É o caso, por exemplo, daqueles direcionados para a co-geração de eletricidade com o aproveitamento da biomassa, para a fabricação do álcool, das peças fundidas para geração de energia eólica e das pequenas centrais hidrelétricas (PCHs).
de 80 275 quilos de demanda química de oxigênio por dia. É o equivalente à poluição diária gerada por uma população de 600 000 pessoas. Com esses equipamentos contribui, assim, para a conservação dos recursos naturais renováveis.
A atuação da empresa no combate à poluição é crescente. Durante 2004, forneceu oito plantas para tratamento de efluentes industriais, metade delas no exterior. O total de carga orgânica tratada somente por essas unidades é
A segunda vertente do trabalho ambiental realizado pela Dedini se refere à gestão praticada dentro de suas empresas, acompanhando a tendência mundial de maior conscientização em torno dessas questões. Dessa forma, por volta de 1980, foi iniciado trabalho
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Plantio de árvores nativas às margens do ribeirão Guamium, em Piracicaba (SP), promovido pela Dedini, que mereceu prêmio de “Destaque ambiental: 2005”, concedido pelo Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente (Condema)
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que objetiva otimizar o uso dos recursos naturais e minimizar os impactos causados pelos processos industriais no ecossistema. Ao longo do tempo, inúmeras ações vem sendo implantadas, procurando dar um destino adequado aos resíduos e efluentes, e aperfeiçoando o sistema de despoeiramento de materiais. Dessa forma, espera-se reduzir a emissão de particulados e melhorar a qualidade do ar. Além disso, a Dedini foi pioneira, na região, no aproveitamento de um dos resíduos gerados na produção, a escória (borra do forno), utilizando-a para pavimentar ruas de bairros carentes da cidade.
Resgate da cidadania Na nova Fundição, os fornos trabalham com gás natural, em substituição ao óleo, e o sistema de areia opera em circuitos fechados. Com isso, é possível recuperar cerca de 90% do material utilizado, que é processado para a fabricação de pisos de concreto. Esse trabalho é desenvolvido com cerca de quarenta detentos da unidade prisional de Piracicaba. Iniciado em 2001, faz parte do Programa “Construindo
um futuro solidário” e consiste na fabricação de artefatos de concreto para pavimentação e guias de proteção de calçadas, jardins etc. A produção obtida é doada a entidades carentes. Os resultados dessa iniciativa são significativos: permite o processamento e reaproveitamento de resíduos da areia de fundição, cujo descarte é sempre problemático para a indústria e representa um resgate da cidadania dos detentos, contribuindo para sua reintegração na sociedade. Além disso, favorece as entidades beneficentes que recebem, gratuitamente, o produto fabricado. A idéia de promover a ressocialização é constante dentro do sistema prisional, mas nem sempre pode ser implementada, por problemas de segurança. Em Piracicaba, foi preciso vencer muitos obstáculos. O sucesso da iniciativa se deve à ação conjunta do grupo Dedini, que patrocina o projeto, doa a matéria-prima e fornece os materiais e equipamentos necessários ao seu funcionamento; da Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo, e da empresa piracicabana Ambiental Paulista, encarrega-
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da da organização das tarefas e do treinamento de pessoal. Os participantes do programa possuem equipamentos de segurança, uniformes e contam com alimentação adequada. O mais importante, no entanto, é o recebimento de remuneração pelo trabalho, e a possibilidade de obter eventuais reduções na pena. Com a vantagem adicional de poderem aprender um ofício, que pode lhes ser útil quando ganharem liberdade.
Reconhecimento A Dedini possui, ainda, uma estação de tratamento de água (ETA), que atende ao consumo das unidades fabris de Piracicaba (da matriz e da Fundição). Por meio dela, é possível melhorar a qualidade da água e permitir sua reutilização, reduzindo a necessidade de captação. Investimentos estão sendo consolidados para a implantação, em breve, de estação de recepção de esgotos, sendo a água tratada obtida no processo reaproveitada no resfriamento dos fornos. Em relação ao reflorestamento, a Dedini iniciou, em 2004, projeto para recuperação da vegetação das margens do
ribeirão Guamium, em Piracicaba nas proximidades da matriz, de onde é feita a captação da água utilizada pelas fábricas. Em área de 70 000 metros quadrados, estão sendo plantadas 11 000 mudas de espécies arbóreas nativas. Uma quantidade equivalente de árvores está sendo plantada para formar um bosque em área de 50 000 metros quadrados, no entorno da Fundição. No futuro, o local deverá ser utilizado para atividades de Educação Ambiental e de lazer para os colaboradores da empresa. A significância do trabalho na área ambiental começa a ser reconhecida. Em outubro deste ano, a empresa recebeu o prêmio “Destaque Ambiental 2005”, categoria “Empresa”, concedido pelo Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente (Condema). A homenagem se refere à implantação do projeto de recomposição florestal, que envolveu o plantio de milhares de árvores, acima citado. Segundo os membros do Condema, “ao longo desses 85 anos, a Dedini tem recebido homenagens pela contribuição à economia nacional, mas é pouco lembrada pelas ações de proteção à poluição atmosférica, dos resíduos industriais”.
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Trabalhando pelo amanhã “O desconhecido de ontem é a verdade de amanhã.” Camille Flammarion, astrônomo francês (1842-1925).
P
or ocasião de seu 85º aniversário, completado em agosto de 2005, o clima é de otimismo e alegria nas empresas Dedini. Não é para menos. A economia nacional vive um bom momento. Após apresentar vários meses consecutivos de queda nos preços, a inflação poderá fechar o ano em 5,1%, atingindo a meta estabelecida. Em 2006, espera-se que esse índice fique abaixo dos 4,5% previstos. Com isso, o poder de compra dos consumidores e a renda das empresas devem crescer mais. Outro fator positivo foi a gestão bem-sucedida do agronegócio e do comércio exterior, que trouxe ao país superávits na balança comercial cada vez mais elevados. As vendas brasileiras bateram sucessivos recordes e atingiram pela primeira vez na história, em setembro de 2005, a marca de US$ 110 bilhões de dólares no período de um ano. Nesse mesmo mês, como conseqüência do bom desempenho da economia nacional o “risco Brasil”, ou seja, o indicador que demonstra a confiança do investidor na capacidade do país arcar com seus compromissos externos, atingiu os níveis mais baixos dos últimos anos. Ainda em setembro, o governo iniciou uma política de diminuição de juros, efetuando uma pequena redução na taxa básica (Selic), de 19,75% para 19,50% ao ano. Mesmo assim, os índices praticados
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no país continuam sendo um dos mais altos do planeta, dificultando os investimentos, encarecendo o consumo e prejudicando o crescimento do Produto Interno Bruto. Embora, em 2005, a expansão do PIB deva superar as metas previstas, situando-se em torno de 3,5%, ou talvez um pouco mais, ficará bem abaixo das marcas alcançadas por outros países sul-americanos. Venezuela, Chile, Argentina, Uruguai devem crescer em torno de 6% no ano. Sem falar nos gigantes asiáticos, como a China e Índia, que deverão apresentar expressivos incrementos no PIB, da ordem de 8,8% e 7%, respectivamente. Verifica-se que o Brasil está sendo “arrastado” pela conjuntura mundial favorável, que atravessa um ciclo de grande expansão. Os países ricos apresentam grande disponibilidade para investimentos e têm canalizado tais recursos para as nações emergentes. Devido às baixas cotações do dólar, as empresas brasileiras estão, também, com maior facilidade de captar fundos no exterior. Para completar o quadro favorável, o recente anúncio,
com sucesso, pelo tesouro nacional, da emissão de títulos da dívida externa no mercado internacional em reais ampliou, ainda mais, o clima de confiança na economia brasileira. Dessa forma, são vários os fatores que levam à crença da sua definitiva consolidação, a despeito dos graves problemas políticos enfrentados pela administração de Luiz Inácio Lula da Silva, a partir do segundo semestre de 2005. Parece interminável a sucessão de escândalos e denúncias de corrupção, envolvendo parlamentares e altos dirigentes do partido do governo. A crise abalou o índice de popularidade do presidente Lula e dificultou a votação, pelo Congresso, de matérias de grande interesse nacional, como as reformas política, tributária, trabalhista e previdenciária. Os analistas observam, no entanto, uma surpreendente maturidade e independência dos agentes privados – empresas, trabalhadores, consumidores, poupadores, donas-de-casa, estudantes, entre outros – em relação aos problemas políticos. Os mais diversos segmentos que constituem a sociedade brasi-
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leira continuam trabalhando, incrementando a economia e impedindo, pelo menos até agora, que a paralisia do governo prejudique seu cotidiano. Nem a expectativa de eleições em 2006, que costuma prenunciar incertezas e turbulências, reduz o ímpeto da onda otimista que toma conta dos sensíveis mercados no país. Atualmente, existe uma expectativa favorável, mesmo diante dos inúmeros problemas a serem resolvidos, alguns crônicos, que dificultam o desenvolvimento brasileiro. Dentre eles, podem ser citados a má distribuição de renda, os entraves da burocracia, as deficiências na infra-estrutura, a controvertida política cambial e os juros altos.
menos, trinta novas unidades até 2010. Estima-se que ocuparão, juntas, área de 805 000 hectares, e processarão cerca de sessenta milhões de toneladas de cana por volta de 2010, segundo cálculos da União das Usinas e Destilarias do Oeste Paulista, a UDOP. A produção nacional de açúcar bate recordes e o álcool, mais que nunca, está em alta, devido a seu grande apelo ambiental, como combustível renovável e não-poluente. Além disso, com o aumento dos preços internacionais do petróleo, a utilização do etanol volta a ser uma alternativa extremamente interessante, do ponto de vista econômico.
Mais açúcar e álcool
Mercado em alta
Nesse contexto, os negócios relativos ao setor sucroalcooleiro nacional, responsáveis, pelo menos, por metade da receita da Dedini, também estão bastante aquecidos. Em vários pontos do território nacional, expandem-se as lavouras e cresce o número de usinas.
No início do terceiro milênio, a cadeia sucroalcooleira movimenta cerca de R$ 36 bilhões por ano, o que corresponde, aproximadamente, a 3,5% do Produto Interno Bruto. Possui grande importância social, pois gera cerca de 3,6 milhões de empregos diretos e indiretos, congregando mais de 70 000 agricultores.
Somente em São Paulo, espera-se a instalação de, pelo
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Para se ter idéia do potencial desse mercado, basta citar que mais de 50 000 empresas brasileiras são beneficiadas com as aquisições de equipamentos e insumos e com a contratação de serviços, efetuadas pelas usinas de açúcar e de álcool. O setor apresenta hoje grande dinamismo, em termos de aumento de consumo e de recuperação de preços. No caso do álcool, os fatores que influenciaram positivamente foram a intensificação das vendas dos carros com combustível flexível, tendência que parece se estender para toda a frota nacional de veículos; a redução de impostos incidentes sobre o produto e a melhoria de seus preços de venda no mercado interno. Detalhe de equipamentos destinados à evaporação do caldo de cana-de-açúcar, fabricados pela Dedini
Dessa forma, a previsão dos empresários é de que, entre 2005 a 2010, a demanda por etanol dobre, exigindo que o Brasil passe de uma produção atual de 16,7 bilhões para 27 a 30 bilhões de litros. Para tanto, necessitará expandir a área plantada em cana-de-açúcar (hoje, são seis milhões de hectares). Com os investimentos em novas unidades, prevê-se que a capacidade de moagem seja 50%
maior do que a atual, que pode fechar o ano de 2005 com até 440 milhões de toneladas de cana-deaçúcar, segundo recente levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento, a Conab. Com relação ao açúcar, cujo comércio mundial vinha apresentando crescimento vegetativo, também há sinais recentes de expansão. Com se não bastasse o incremento nas compras da China (que afetou a cotação internacional da commodity) e a momentânea quebra na safra de alguns grandes produtores, como a Índia, há, ainda, outro fator positivo: a decisão da Organização Mundial do Comércio a respeito do produto europeu. A instituição condenou os subsídios concedidos às exportações de açúcar de beterraba, fabricado pelos países que compõem o bloco. Apesar da União Européia ter demonstrado intenção de acatar a decisão, ainda não foi tomada nenhuma medida a respeito. O fato, porém, foi suficiente para movimentar o setor. Especialistas acreditam que o Brasil possui todas as condições de preencher uma parcela significativa do mercado que se abrirá com o fim
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O setor sucroalcooleiro é o único do país a dominar todos os estágios da tecnologia e da produção agrícola e industrial. É altamente competitivo internacionalmente, pois possui o melhor desempenho, no que se refere às relações entre rendimentos, produtividade e custos. Essa situação se deve à integração entre as bases que sustentam esse desenvolvimento: os fabricantes de equipamentos, as unidades produtivas, os centros de pesquisa tecnológica, e o conjunto de consultores especializados.
dos subsídios, devido às condições extremamente favoráveis de solo, clima, topografia, tradição, disponibilidade de áreas agricultáveis, e domínio de tecnologias, que aumentam sua competitividade em relação a outros países.
Energia da biomassa Outro mercado que evoluiu bastante nos últimos anos foi o de geração de energia a partir da biomassa. As usinas brasileiras conquistaram, a partir da década de 1980, a auto-suficiência em energia térmica e, também, na elétrica, por meio de sistemas de co-geração com uso do bagaço. Essa cômoda posição lhes permite que vendam os excedentes para o mercado. Nesse item, sabese que existe, ainda, grande potencial de geração energética, com o aproveitamento da palha da cana. Essa disponibilidade está sendo avaliada, e é provável que esse resíduo seja, também, incorporado ao sistema de geração de energia no futuro próximo. A viabilização desse potencial adicional implica em utilização de ciclos a vapor de mais alta
pressão e em redução do consumo de vapor de processo. Estas tecnologias são comerciais e já utilizadas por várias usinas. A falta de garantias de mercado e de uma política de preços para vendas dos excedentes de energia elétrica, que causavam profunda insegurança aos investidores, tendem a ser superadas com o anúncio do Programa de Energias Alternativas, o Proinfa. Acredita-se que esse programa, aliado à abertura de linhas de crédito disponibilizadas pelo BNDES, específicas para compra de equipamentos para geração de vapor e energia elétrica, terão impacto positivo no setor sucroalcooleiro. Por isso, no decorrer do tempo, a maioria das usinas, buscando ganhos de competitividade, deverá aderir a esse programa. Nessa etapa de seu desenvolvimento, cada vez mais próxima, tornar-se-ão verdadeiras centrais energéticas, e não somente produtoras de açúcar e álcool. Tal fato pode abrir amplo mercado para a venda de novas unidades geradoras de vapor e de energia elétrica, incluindo as caldeiras, indispensáveis à
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modernização e ao aumento da eficiência no parque industrial. No fornecimento desses itens, a Dedini possui grande experiência e tradição e, sem dúvida, conquistará significativa fatia de mercado.
Revolução energética Outro fato novo que vem repercutindo positivamente no setor sucroalcooleiro é o advento do biodiesel. O programa lançado pelo governo federal, em dezembro de 2004, prevê a adição de combustível renovável ao de origem fóssil. Por enquanto, a mistura é opcional, mas, a partir de 2008, se torna obrigatória. Em 2013, a lei prevê o aumento da mistura ao óleo na proporção de 5%. Nesses níveis, não há necessidade de adaptação dos motores dos veículos. Ao contrário: segundo os especialistas, com seu uso, o desempenho torna-se melhor, devido a seu poder lubrificante. Apostando no sucesso da iniciativa, alguns postos de abastecimento de São Paulo e Belo Horizonte, da empresa mineira Ale, começaram, em 2005, em caráter pioneiro, a
comercializar diesel misturado com biodiesel, na proporção de 2% (B2). O combustível provém de duas usinas: a Agropalma (PA), e a Soyminas, que fabricam o produto a partir de palma (dendê) e de girassol, respectivamente. Alguns grupos empresariais (inclusive, estrangeiros) estão anunciando, também, pela imprensa, investimentos em plantas de biodiesel, o que deve aumentar, ainda mais, no futuro próximo, a disponibilidade do produto para os consumidores. Nesse campo, a Dedini sai à frente. A planta da usina Agropalma, recentemente inaugurada no Pará, foi concebida e fornecida pela empresa em regime de “chave-na-mão” (turn key). Seus técnicos têm recebido muitas consultas e, acredita-se que, a partir de agora, muitos negócios nessa área deverão se concretizar. Além dos benefícios ambientais, por ser menos poluente, o uso do biodiesel representará ganhos para a economia nacional, pois reduzirá as importações de diesel importado. O programa foi criado pelo governo, também, como instrumento de inclusão social, pois, com sua implementação, deverá
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haver maior oferta de emprego e aumento de renda para quem vive e trabalha no campo. Apesar de serem poucas, ainda, as usinas em funcionamento no país, espera-se grande expansão nesse setor. Especialistas afirmam que, caso o Brasil consiga implantar um programa nacional para utilização do biodiesel, deverá se tornar uma potência energética mundial, pois são quase ilimitadas as possibilidades de produção, e há muitos os países interessados na tecnologia desenvolvida no país. Essa iniciativa brasileira se insere perfeitamente na recente tendência observada nas nações desenvolvidas. Na Europa, por exemplo, a previsão é de que, até 2010, 5,75% da energia fóssil seja substituída pela renovável e, até 2020, 20%. A Agência Internacional de Energia prevê que, até 2020, cerca de 30% da matriz energética do planeta seja de biocombustíveis. Ainda, há, no entanto, algumas dificuldades a serem vencidas para a expansão do uso do biodiesel no Brasil. Essas barreiras são econômicas, e não tecnológicas. No momento atual, os empresários estão aguardando medidas de ordem
fiscal para viabilizar o Programa Nacional de Combustíveis. Hoje, o custo do combustível vegetal é equivalente ao do diesel derivado do petróleo, e isso não estimula os investimentos nesse campo. De acordo com a legislação em vigor que tributa o produto com altos impostos, o bioetanol perde mercado até para o metanol importado. Em visita recente a Piracicaba, em julho de 2005, o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Roberto Rodrigues, reiterou sua confiança no sucesso dos combustíveis renováveis: “Tenho certeza de que a única saída é produzir combustíveis líquidos de origem vegetal”. E anunciou a criação, em Piracicaba, do Consórcio de Agronegócios. O grupo envolverá todas as áreas ligadas à bioenergia, em uma integração que pretende a criação de uma nova commodity: o biodiesel. Em apoio a essa tese, foi anunciado, em agosto de 2005, que o governo federal estuda mudanças na lei do biocombustível para estimular o crescimento da produção até 2008, quando o Brasil deverá efetuar a mistura obrigatória de 2% ao diesel no mercado interno. Atualmente,
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Cervejaria Lokal, em Teresópolis (RJ)
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Nos oito primeiros meses de 2005, os anúncios de investimentos em energia, telecomunicações, petróleo, gás, transportes e logística pelas empresas privadas brasileiras ultrapassaram a cifra de US$ 18,7 bilhões, com crescimento de quase 75% em relação ao mesmo período do ano anterior, mostrando que, superada a crise, é hora de retomar as expansões.
Vista geral da unidade de calderaria Dedini, em Piracicaba (SP), em 2005
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a se explorar nesse campo no Brasil e vários empreendimentos estão em andamento.
a produção não chega sequer a cem milhões de litros; e quando a medida entrar em vigor, a demanda deverá atingir, aproximadamente, um bilhão de litros, segundo estimativas.
Espera-se a reação, também, no fornecimento de equipamentos para a indústria petroquímica, que vem operando no limite de sua capacidade e, cuja expansão estava paralisada, nos últimos anos. Devem surgir, ainda boas oportunidades no campo petrolífero, não só na exploração como no refino, principalmente, na região Nordeste do país. Novos investimentos deverão concretizar-se, também, no segmento de papel e celulose.
O governo poderá realizar, também, leilões de venda de biodiesel para os produtores e importadores de diesel. É uma maneira de criar um mercado "compulsório" para a oferta do produto, antes de 2008. Os leilões vão, prioritariamente, ofertar a mercadoria proveniente de usinas com uma espécie de selo, garantindo que parte de sua matéria-prima foi adquirida dentro da agricultura familiar.
Outras perspectivas Não é somente no segmento sucroalcooleiro que as empresas Dedini esperam expansão de seus negócios. Com a retomada dos investimentos públicos e privados, que devem se concretizar a partir de agora, outras áreas de atuação serão, também, beneficiadas. Acredita-se, por exemplo, que o mercado de siderurgia e mineração continue aquecido nos próximos anos, pois há muito
Outra área de interesse é o desenvolvimento de pequenas centrais hidrelétricas (dez a trinta megawatts), pois as unidades de maior porte (acima de 100 megawatts) vêm enfrentando problemas na área ambiental para conseguir licença de funcionamento. Como a tendência de demanda por energia elétrica é sempre crescente, a Dedini já está procurando aumentar sua participação nesse mercado, estabelecendo parcerias com outras empresas para acompanhar a expansão dessas instalações no país, fornecendo os equipamentos necessários.
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Grande motivação Dessa forma, diante de uma conjuntura mais favorável, as empresas Dedini se consolidam como centro de excelência na produção e buscam, agora, aumentar sua participação no mercado internacional, praticando uma política de exportação mais arrojada. Com sua liderança assegurada nos setores de sua especialidade, têm investido constantemente em novas tecnologias, firmando parcerias estratégicas para fornecer a seus clientes o que há de mais moderno no mundo em termos de eficiência, qualidade, produtividade e custos. Para atuar de forma globalizada, as empresas Dedini estão perfeitamente capacitadas e motivadas para atender duas das grandes demandas da humanidade nos dias atuais: aumentar a disponibilidade de energias renováveis, diante da “morte longamente anunciada” do petróleo, e contribuir para a conservação ambiental, procurando a sustentabilidade dos sistemas de produção.
A Dedini está plenamente consciente de que, hoje, para atender o mercado externo com eficiência, é exigida, cada vez mais, a prática da responsabilidade social e ambiental, principalmente, por parte das empresas instaladas em países com grande patrimônio em biodiversidade e recursos naturais, como o Brasil. Com essa visão, aproveitando a grande experiência e a tradição do passado, a administração da Dedini, perfeitamente integrada ao conjunto de seus colaboradores, continua trabalhando, hoje, com respeito, competência, ética e transparência, cumprindo seu papel de empresa cidadã para oferecer dias melhores para as futuras gerações. Dessa forma, respeitando seus valores imutáveis, a Dedini busca garantir sua perpetuidade no mundo dos negócios, alinhada aos conselhos de seu líder, Dovilio Ometto: “Não somos eternos, mas podemos ser perenes. Esta é uma missão audaciosa, e, ao mesmo tempo, nossa obrigação com a sociedade”.
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ADMINISTRAÇÃO ESTATUTÁRIA DAS EMPRESAS DEDINI SETEMBRO – 2005
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1. DDP Participações S.A. CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO PRESIDENTE
SUPLENTES
Juliana Dedini Ometto
Jason Figueiredo Passos José Marcelo Jardim de Camargo
MEMBROS
Mariana de Toledo Dedini
Adriana Dedini Ricciardi
Marcos Dedini Ricciardi
Giuliano Dedini Ometto Duarte
DIRETORIA
José Luiz Olivério
PRESIDENTE
Márcia Farah de Toledo Dedini
Tarcisio Angelo Mascarim
Marco Renaux Dedini Ricciardi Mário Dresselt Dedini
VICE-PRESIDENTE
Sergio Leme dos Santos
José Luiz Olivério
Tarcisio Angelo Mascarim
2. Dedini S.A. Indústrias de Base CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO SUPERINTENDENTES NOMEADOS
PRESIDENTE
Antonio Carlos Pereira
Dovilio Ometto
José Eduardo Ribeiro
MEMBROS
Josué Aparecido Vitti
Antonio Roberto de Azevedo Muller
Marcos José Ramalho
Juliana Dedini Ometto
Sidinei Maganhato Junior
Tarcisio Angelo Mascarim
GERENTES GERAIS NOMEADOS
SUPLENTES
Fernando de Souza Barini
Giuliano Dedini Ometto Duarte
Geraldo Rocha Menezes
Jason Figueiredo Passos
Nelson Pulitano Junior
José Marcelo Jardim de Camargo
CONSULTORES
DIRETORIA
Antonio Ernesto Ferreira Müller
PRESIDENTE
Basilio Vieira da Silva Netto
Dovilio Ometto
Hermann H. Wever
DIRETORES
Jason Figueiredo Passos
2.1
José Francisco Gonzales Davos
ADMINISTRADORES
José Luiz Olivério
José Luiz Olivério
Tarcisio Angelo Mascarim DIRETORES NOMEADOS
Antonio Carlos Christiano José Cássio Daltrini
Codistil do Nordeste Ltda.
Tarcisio Angelo Mascarim 2.2
Codismon Metalúrgica Ltda. ADMINISTRADORES
Renato Herz
José Luiz Oliverio
Sergio Leme dos Santos
Tarcisio Angelo Mascarim
Sergio Tamassia Barreira
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2.3
Denel – Dedini Energia e Equipamentos Ltda.
2.7
CONSELHO DELIBERATIVO MEMBROS
ADMINISTRADORES
2.4
José Luiz Olivério
Julio Astigarraga Aguirre
Tarcisio Angelo Mascarim
Julio Astigarraga Urquiza Mario Dresselt Dedini
Dedini S.A. Administração e Participações
Tarcisio Angelo Mascarim DIRETORIA
CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO
Edison Domingos Vitti
PRESIDENTE
Tarcisio Angelo Mascarim
Juliana Dedini Ometto 2.8
MEMBROS
Adriana Dedini Ricciardi José Luiz Olivério
José Luiz Olivério
Márcia Farah de Toledo Dedini
Tarcisio Angelo Mascarim
Marco Dedini Ricciardi
2.9
Mario Dresselt Dedini
José Luiz Olivério
Tarcisio Angelo Mascarim
Tarcisio Angelo Mascarim
DIRETORIA 2.10
PRESIDENTE
Tarcisio Angelo Mascarim
José Luiz Olivério
José Luiz Olivério
Tarcisio Angelo Mascarim Waldimir Roberto Tremocoldi 2.11
DIRETORIA
Jayme Pena Schutz
Jason Figueiredo Passos
Dedini Refratários Ltda. José Luiz Olivério Tarcisio Angelo Mascarim
Congonhas Serviços e Suprimentos Aeronáuticos Ltda. ADMINISTRADORES
Tarcisio Angelo Mascarim
ADMINISTRADORES
Dedini Corretora de Seguros Ltda. ADMINISTRADORES
VICE-PRESIDENTE
DZ S.A. Engenharia, Equipamentos e Sistemas
Comercial Paraisolândia Ltda. ADMINISTRADORES
Sergio Leme dos Santos
2.6
Dedini Service Projetos, Construções e Montagens Ltda. ADMINISTRADORES
Giuliano Dedini Ometto Duarte
2.5
Insertec Dedini Ltda.
Tarcisio Angelo Mascarim 2.12
Dedini International Trading Corporation ADMINISTRADORES
Dovilio Ometto Tarcisio Angelo Mascarim
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Bibliografia consultada ALDROVANDI, A. A vila e seus vilões (A história de um bairro). Piracicaba: Prefeitura Municipal de Piracicaba / Secretaria de Ação Cultural, 1991. 200p. ALLEONI, O.N. Uma fresta para o passado. A presença italiana em Piracicaba. Década de 1880 e 1890: vislumbres do século XX. Piracicaba: O. N. Alleoni, 2003. 294p. AMORIM, H. V. & LEÃO, R. M. Fermentação alcoólica: ciência e tecnologia. Piracicaba: Fermentec, 2005. BANESPA S.A. Banespa 60 anos. Fernando Milliet de Oliveira (Apresentação). São Paulo: Projeto/PW. 1986. 132p. BARREIRA, S. Produção de biodiesel integrada com usinas de açúcar e álcool. Piracicaba: Dedini (palestra). Jul.2005. In: www.dedini.com.br, consultado em agosto de 2005. CARRÃO, A.M. & BILAC, M.B. As empresas familiares e a geração de empregos em Piracicaba – Setores industrial, comercial e de serviços: agosto 1996 / julho 1999. Piracicaba: Unimep. CHRISTO, T. Histórias ao pé da cana. São Paulo: Segmento. 2003. 226p. GUIA INTERNACIONAL DO ÁLCOOL. Ribeirão Preto: Procana Informações e Eventos, s/d. 320p. GORDINHO, M.C. Álbum de lembranças de Pedro Ometto. São Paulo: Marca D’água, 1993. 52p. GORDINHO, M.C. Os Ometto. São Paulo: a autora, 1986. 152p. HASSE, G. Filhos do fogo. Memória industrial de Sertãozinho 1896-1996. Ribeirão Preto: Céu e Terra, 1996. IL BRASILE E GLI ITALIANI. Vitaliano Rotellini (apresentação). São Paulo: Fanfulla. 1906. 1 187p. LEÃO, R. M. Piracicaba: passado e presente. Piracicaba: Prefeitura Municipal de Piracicaba. 1988.
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LEÃO, R. M. Álcool: energia verde. São Paulo: Iqual, 2002. MALUF, R.S. (coord.) Aspectos da constituição e desenvolvimento do mercado de trabalho em Piracicaba. Piracicaba: Unimep / NPDR, 1984. MASCARIM, T. A. Evolução histórica do grupo Dedini. Piracicaba: Dedini, 20032005. Documento interno. MORAES, M.A.F.D. A cadeia produtiva da cana, em mercado desregulamentado. Piracicaba: Esalq / USP. In: Visão Agrícola, nº 1, jan.-jun.2004, pp.94-99. MORATORI, N.O. 150 anos de história da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Piracicaba: 1854 – 2004; Scientia et Caritas / Nilma de Oliveira Moratori; colaboração de Caio Tabajara... et al. Campinas: Somus Gráfica e Editora, 2004. 352p. MOURÃO, J.O.F. Piracicaba 2010 – realizando o futuro. Piracicaba: Piracicaba 2010, 2001. NEGRI, B. Um estudo de caso da indústria nacional e equipamentos: análise do grupo Dedini (1920 – 1975). Dissertação de mestrado apresentada ao Departamento e Economia e Planejamento Econômico do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas. Piracicaba, 1977. NEGRI, B. Concentração e desconcentração industrial em São Paulo (1880-1990). Campinas: Ed. da Unicamp, 1996. NEME, M. História da fundação de Piracicaba. 2ª. ed. Piracicaba: Instituto Histórico e Geográfico, 1974. OLIVÉRIO, J.L. O setor sucroalcooleiro. Relatório encaminhado à Comissão Parlamentar de Inquérito destinada a investigar as causas e as dimensões do atraso tecnológico nos processos produtivos da indústria brasileira. Piracicaba: Dedini, 1991. 54p. OLIVÉRIO, J.L. Evolução tecnológica na visão da indústria de equipamentos. São Paulo: Fórum dos Líderes Empresariais. nº 11. nov.2004, pp. 16-18. OLIVÉRIO, J.L. & HILST, A.G.P. DHR (Dedini Hidrólise Rápida) Revolutionary process for producing alcohol from sugar cane bagasse. Artigo apresentado no XXVI SSCT Congress Guatemala 2005. Piracicaba: Dedini. 2005. PERECIN, M.T.G. A síntese urbana (1822-1930). Contribuição à história de Piracicaba. Piracicaba: Instituto Geográfico e Histórico de Piracicaba, 1989. 294p. PICCAZIO, C. São Paulo: 110 anos de industrialização. São Paulo: Comunicação Três Editorial, 1992. 240p. PROENÇA, E.R. & RAMOS, H. R. O Processo de internacionalização no Brasil. Um estudo exploratório na Dedini. São Paulo: FEA / USP, 2004. ROSSIM, M.R.M. Centenário de nascimento de Mario Dedini: setembro de 1893 a setembro de 1993. Piracicaba: Dedini, 1993.
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SAMPAIO, S.S. Geografia industrial de Piracicaba. Um exemplo de interação indústria-agricultura. São Paulo: Instituto de Geografia / Universidade de São Paulo. 1976. 200p. SECRETARIA DE ECONOMIA E PLANEJAMENTO DE SÃO PAULO. São Paulo em exame: região de governo de Piracicaba. São Paulo: Secretaria de Economia e Planejamento de São Paulo,1990. pp.16-28. TELAROLLI, R. Vidas em três tempos: história da família Zanin a partir da união de Domingos Zanin e Maria Hermínia Zanin / Rodolpho Telarolli e Teresa Cristina Telarolli. Franca: Ribeirão Gráfica e Editora, 2004. 152p. TERCI, E. Indústria e comércio: economia urbana integrada à agricultura. Piracicaba: Unimep, s/d. TERCI, E. & PERES, M.T.M. Os impactos da expansão canavieira-açucareira no mercado de trabalho de Piracicaba. Piracicaba: Unimep, s/d. TRENTO, A. Os italianos no Brasil. São Paulo: Prêmio. 2004.154p.
COLEÇÕES DE PERIÓDICOS CONSULTADOS: Canal D (jornal interno)
Gazeta de Piracicaba
Dedini em notícia (jornal interno)
Gazeta Mercantil
Dedininforma (jornal interno)
Jornal de Piracicaba
Diário de Piracicaba
Jornal do Álcool (jornal interno)
Diário de S. Paulo
O Estado de S. Paulo
Fanfulla
Revista Mirante
Folha de Piracicaba
Revista Veja
Folha de S. Paulo
PESQUISA DOCUMENTAL E ICONOGRÁFICA: Arquivos da usina Monte Alegre Arquivos empresas Dedini Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba Museu Gustavo Teixeira de São Pedro Museu Histórico e Pedagógico Prudente de Moraes Museu Mário Dedini Museu Republicano Convenção de Itu Sociedade dos Técnicos Açucareiros e Alcooleiros do Brasil (Stab)
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Agradecimentos Ada Brentel
Marlene Tobaldini
Adriana Dedini Ricciardi
Maria Aparecida Sanches Antunes
Ahyrton Luppe Campos
Maria Cristina Moura Rocha de Andrade
André Augusto
Mario Dresselt Dedini
Antonio Aparecido Berto
Marta Regina Maganhato Rossin
Antonio Carlos Colognesi
Mônica Santana
Benedito Emerson Fernandes
Monclair Gomes de Almeida
Carla Cynthia Smanioto
Norivaldo Zimmermann
Carlos Rodrigues da Silva
Ophir Figueiredo Junior
Cássia Spinosa
Pablo Carjol Delvage
Cristiano Diehl Neto
Renato de Albuquerque Ferreira
Denise Maria Mainardi
Rodrigo Luiz dos Santos
Dulce Cardinalli Dedini
Rodrigo Marcos dos Santos
Eliana Maria Garcia
Rodrigo Sanches
Haldumont Nobre Ferraz
Sergio Leme dos Santos
Hebe Nouer Junior
Silvia Maria Morales Funes
Geraldo Rocha Menezes
Silvia Mendes Bueno
Giuliano Dedini Ometto Duarte
Renato de Albuquerque Ferreira
José Flávio Machado César Leão
Rudnei João Furlan
José Luiz Olivério
Tarcisio Angelo Mascarim
Juliana Dedini Ometto
Wilson Guidotti Junior
Márcia Farah de Toledo Dedini
Entrevistas e depoimentos
Finais
Antonio Carlos Pereira
José Luiz Olivério
Carlos Rodrigues da Silva
José Paulo Stupiello
Claudia Dedini Ometto Gianetti
Juliana Dedini Ometto
Dovilio Ometto
Luiz Francisco Bueno
Dulce Cardinalli Dedini
Marcos Dedini Ricciardi
Edna Dedini Nogueira
Marcos José Ramalho
Eliana Maria Garcia
Mario Dedini Ometto
Elisabeth Flora Adamoli Simões
Mario Dresselt Dedini
Emilia Helena Dedini Cenedese
Myria Machado Botelho
Euclydes Rizzolo
Nida Dedini Ricciardi
Gustavo Jacques Dias Alvim
Norma Dresselt Dedini
Ignes Seghessi
Ottilia Furlan Dedini
Jason Figueiredo Passos
Reginaldo de Mello
Jayme Pereira Schütz
Renato Herz
João Aldrigui Neto
Sergio Leme dos Santos
José Cássio Daltrini
Sérgio Tamassia Barreira
José Francisco Gonzales Davos
Tarcisio Angelo Mascarim
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Iniciais
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