Jornal TAMO LÁ! Maio/Junho Nº3 Ano3

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Nº3 ANO 3

MAIO E JUNHO DE 2016

GRATUITO

PÁGINAs 4 e 5 Qual é a sua cara? A partir do questionário das fichas de inscrição no cursinho, traçamos um perfil do aluno Esperança 2016. Abre lá na matéria de capa e vê como ficou!

PÁGINA 2 editorial Os educadores do Esperança fizeram uma nota de apoio às ocupações de escolas do RS, dando força ao movimento e se disponibilizando a contribuir com aulas, oficinas e com a sua presença na luta!

PÁGINA 6 e 7 comunidade Prazer, Beleza! Conheça este cidadão do bem, figura de importante atuação na Restinga, com um texto de sua autoria e um relato comovedor da Profa. Ana Tettamanzy, que fala de sua convivência com Beleza.

PÁGINA 3 futuro Só pensar na prova de redação já te deixa nervoso? É assim pra muita gente! Mas relaxa e aproveita pra exercitar a leitura com o texto sobre redação no vestibular, com dicas sobre os temas de redação.

PÁGINA 8 experiência O pessoal da empresa Organiza! fez bonito em palestra com os educandos do Esperança. Agora nos instigam com um texto sobre escolha profissional e dão algumas dicas. Não perde essa!

www.pvprestinga.blogspot.com.br | www.facebook.com/groups/pvprestinga

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AGENDA

EDITORIAL “Se a educação sozinha não pode transformar a sociedade, tampouco sem ela a sociedade muda.” Paulo Freire

É muito lindo ver a juventude tomando conta de uma luta histórica. A educação não deve ser restrita à sala de aula, entretanto, a importância de uma escola com o mínimo de infraestrutura é essencial para que a escola possa funcionar. Vivemos em um momento em que a valorização da Educação não existe. Todos os dias vemos cortes por parte do Estado e verbas não sendo passadas, ou, como em São Paulo, sendo desviadas para bolsos de políticos e empresas privadas. Aqui no Rio Grande do Sul, vemos um governo que vem parcelando o salário de professores, uma forte repressão e criminalização de movimentos sociais, indicativos de privatização da educação pública, trazendo retrocesso às conquistas dos últimos anos. Realidade que não se restringe ao nosso estado, estas estão sendo práticas adotadas pela maioria dos Estados brasileiros. Hoje já são mais de 140 escolas ocupadas em todo o Rio Grande do Sul. Todas lideradas e ocupadas pelos próprios alunos de cada escola, tomados de um espírito de união e de um pertencimento ao local ocupado – a ESCOLA. Há prática mais bela que essa? Dentre as reivindicações dos alunos, também estão em pauta dois projetos de leis que põem em risco a autonomia das escolas. O primeiro projeto, intitulado “Escola Sem Partido”, estabelece que não se deve dogmatizar os alunos com pensamentos políticos. Mas qual partido não deve ser passado na aula? Lembrando que práticas de cunho partidário, dentro das salas de aulas, já são proibidas pela Lei de Diretrizes e Bases Educacional. Há um grande problema de conceitos, sobre o que é “opinião” e conteúdo de aula. Como ensinar sobre Guerra Fria, sem falar em blocos Capitalistas e Socialistas? É papel do professor abranger e apresentar todas as linhas, prós e contras, para que o aluno/ educando construa sua próprias conclusões sobre o mundo. Nós, educadores do Cursinho Pré-Vestibular Esperança Popular da Restinga, apoiamos as ocupações e nos colocamos à disposição para aulas de revisões para o ENEM/Vestibular e oferecimento de oficinas temáticas para todas as escolas ocupadas da região Metropolitana. Entendemos esse movimento como legítimo e essencial para o fortalecimento da educação gaúcha. Porto Alegre, 1 de junho de 2016. Educadoras e educadores do Esperança Popular da Restinga.

Te liga nessas dicas do Cursinho Pré-Vestibular Esperança Popular Restinga. Não esquece dessas datas! Anota, memoriza, copia, recorta, circula, mas não perde!

HORA DO ENEM A Plataforma Hora do Enem (http://tvescola.mec.gov. br/tve/serie/hora-do-enem) é uma ferramenta gratuita que reúne simulados, videoaulas, entre outros, para auxiliar na preparação dos estudantes. Ao acessar de um computador, tablet ou celular, o estudante marca o curso em que quer passar e quanto tempo tem para estudar por dia para o Enem. A partir disso, é oferecido um plano de estudo com pontos fortes e fracos na medida do participante, com exercícios, resumos e videoaulas direcionados. Simulado: ao completar o simulado, você poderá comparar a sua nota com a necessária para ser aprovado no curso e faculdade em que você quer entrar, com base nas notas dos aprovados no ano passado. Universidades e Institutos Federais, instituições privadas e escolas estaduais de Ensino Médio também vão ceder espaço para a realização do simulado para os alunos que não tiverem acesso à Internet. O próximo simulado on-line será em: 25/06. PROVAS: 05 e 06 de novembro, sábado e domingo, às 13h30 (portões fecham 13h)

CURSINHO PRÉ-VESTIBUlAR ESPERANÇA POPULAR RESTINGA EDUCADORES

COMISSÃO EDITORIAL

Adriele Albuquerque Alexandre Rodrigues Bernardo De Carli Davi Vergara Denise Aires Ramos Érick Barcelos Goulart Henrique Maciel Leão Israel Teixeira Sasso Kamila Costa Lucas Dalenogare Márcia Reckziegel Marilize Ribeiro Alfaro Matheus Penafiel Patrícia Goulart Pinheiro Pedro I. C. Figueiredo Rodrigo Dos Santos Ronaldo Beraldin Saul Bastos William de Oliveira Silva

Daiane Moraes Débora Simões Rita Camisolão

ILUSTRAÇÃO E DIAGRAMAÇÃO

Margit Anton Bersch

REVISÃO Débora Simões *As matérias assinadas nesta edição são de exclusiva responsabilidade de seus autores.

TÁ SABENDO DE ALGUM EVENTO LEGAL? COMPARTILHA! Envie um e-mail para o informativo Tamo Lá! : deds@prorext.ufrgs.br

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FUTURO

REDAÇÃO NO VESTIBULAR – APONTAMENTOS (IN)ÚTEIS José Antônio dos Santos | Servidor do DEDS/PROREXT/UFRGS Textos dissertativos e argumentativos são exigências constantes em nossas vidas, não apenas no vestibular. Para realizar uma boa redação é necessário traçar uma estratégia de escrita que deve iniciar pela leitura e entendimento da questão principal, seguir com uma introdução do assunto a ser tratado e partir para o seu desenvolvimento. Os argumentos devem ser razoáveis e encaminhar o texto para a conclusão, esses são os “passos” fundamentais para um texto dissertativo. Por outro lado, o autor pode ir direto ao ponto a ser tratado, mas pode também usar recursos discursivos para tangenciar ou ironizar, como fiz no título em que defini como (in)úteis apontamentos que considero fundamentais. Pode não ser esse o seu caso, caro leitor. Indo direto ao ponto, nesse texto, inicialmente, vou elencar as questões abordadas nas cinco últimas provas de redação do vestibular da UFRGS e, a partir disso, argumentarei como somos expressões da Língua Portuguesa plasmadas em texto, e terminarei prospectando sobre algumas questões para futuras redações. A redação do vestibular UFRGS 2012 foi realizada a partir do texto de Maria Eduarda Boal, intitulada “Os Adamastores da Língua Portuguesa”, e deveria contemplar uma reflexão sobre a dispersão da Língua Portuguesa pela África, Ásia e América e a sua constante renovação e adaptação às necessidades de cada nação. Em 2013, a prova teve como tema “O papel e os limites do humor na sociedade”, o que exigiu dos candidatos discorrer sobre a liberdade de expressão e os eventuais excessos cometidos. Como

sabemos, os humoristas invadiram os meios de comunicação, a internet, os teatros, e, não têm tido limites em suas reproduções caricaturais da sociedade. A prova de redação do vestibular 2014 questionou os candidatos sobre qual livro consideravam “ser um clássico”. Dissertar sobre o tema exigiu dos estudantes citar uma obra, explicar por que ela mereceu lugar de destaque em sua vida e apresentar argumentos que justificassem a escolha. Introduzida pelos versos “Amigo é coisa pra se guardar / no lado esquerdo do peito”, da “Canção da América”, de Milton Nascimento e Fernando Brant, a prova de redação de 2015, trouxe o tema da amizade e as possibilidades de aproximação e afastamento trazidos pelas redes sociais. Gravada em 1980, “Canção da América” está associada à época em que a amizade se dava pela aproximação entre amigos e à construção de laços afetivos que resistiam à distância e ao tempo. “O livro na era da digitalização do escrito e da adoção de novas ferramentas de leitura”, foi o tema da redação de 2016. Para contextualizar o assunto, foi colocada uma charge com referência à Feira do Livro de Porto Alegre. No desenho, enquanto caminham, os visitantes não tiram os olhos de seus celulares, tablets e smartphones, deixando de lado o principal produto oferecido na Feira. Como podemos ver acima, a Língua Portuguesa e alguns de seus principais meios ou produtos de divulgação – os livros e as letras de músicas – foram o mote de quatro dos cinco temas elencados nos últimos vestibulares. Apenas em 2013 a questão da redação fugiu aos meandros da nossa

língua ao tratar do humor, embora, como subsídio à construção do texto, tenha sido fornecido aos vestibulandos um trecho extraído do livro “O riso”, uma reunião de três artigos publicados por Henri Bergson 1859-1941), em 1899. Portanto, fazer parte de uma mesma estrutura linguística e estar imerso na Língua Portuguesa é fator preponderante no trato com a mesma. Ler, escrever e falar, com estatutos diversos, são partes das estratégias de apreensão da norma culta, do reconhecimento de suas estruturas textuais e de acúmulo de vocabulário qualificado. Ao construir um texto o indivíduo se revela, demonstra experiência, sentimento e capacidade argumentativa que formatou em diálogos com pessoas, com livros ou com outros meios de comunicação. Sem dúvida, os temas das redações dos vestibulares futuros não fugirão aos desígnios do mundo que criamos. Seguiremos tendo como questões a dissertar, as relações da humanidade com os seus principais problemas e soluções – felicidade, riqueza e realização – e os meios que podem ajudar nessa jornada – televisão, smartphones, livros, e-books, internet, cinema, Facebook. A redação não é um bicho de sete cabeças, é o resultado de repertório acumulado sobre temas controversos e complexos, adquiridos ao longo da vida e expressos em análises e opiniões nos mais diversos diálogos. A diferença é que na prova de redação temos um tempo e um espaço (entre 30 e 50 linhas), onde o conhecimento e a experiência devem ser plasmados em texto.

“Mas é uma barbaridade o que a gente tem de lutar com as palavras, para obrigar as palavras a dizerem o que a gente quer”. - Mário Quintana

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CAPA

Através da análise das fichas de inscrição da seleção de educandos do cursinho, de 2016, traçamos um perfil dos estudantes, a fim de conhecer e fazer conhecer essa gente bonita, elegante e sincera, com propósito de vida, que frequenta as noites frias desse outono/inverno na ASALA, sede do cursinho, em busca de informação, conhecimento, compartilhamento de ideias, amizade e, acima de tudo, realização! Desde o início deste ano, alguns educandos tiveram uma breve experiência no cursinho, tendo que sair por diferentes motivos, dando espaço para novos e também esperançosos alunos, cada um com sua história peculiar de vida, mas com um sonho em comum: começar a estudar em uma universidade. A grande maioria já busca realizar este sonho há algum tempo, tendo prestado provas do Enem ou vestibular outras vezes (83%). Algumas características do grupo do ano passado se mantêm neste ano, como a faixa etária predominante, que é de jovens entre 16 e 20 anos (65%), e a forte presença das mulheres, compondo 70% do grupo. Além disso, os educandos continuam vindo, em sua maior parte, do sistema de ensino público, como podemos ver no gráfico, que mostra que 86% deles concluíram ou concluirão o ensino médio em escola pública e apenas 2% em escola particular. A maioria dos estudantes, no momento da pesquisa, não exercia atividade remunerada, mas cerca de 39% deles declarou trabalhar em turno integral ou parcial, tendo uma jornada diária mais atarefada, mas sem perder a esperança! Apenas quatro estudantes se revelaram casados, dentre os 66 que responderam o questionário, e, na questão sobre cor ou raça, 48% se autodeclararam brancos, 38% negros e 9% pardos. Neste ano o cursinho está com a novidade de oferecer uma disciplina de língua inglesa, devido à demanda dos estudantes, já que 35% deles tem preferência por esta língua estrangeira nas provas. Confira os gráficos e conheça um pouco mais desses alunos que fazem o Esperança ser o que é!

SEXO

IDADE

4,5% 3,1% 1,5%

Feminino

21-25 anos

Masculino

30,3% 69,7%

16-20 anos

25,7%

26-30 anos

65,2%

31-40 anos 41-60 anos

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PERFIL DOS EDUCANDOS DO ESPERANÇA 2016 COR OU RAÇA 9,2%

4,6%

ESTADO CIVIL 6%

Branca

47,7% 38,5%

1,6%

Preta

Casado(a)

Parda

Divorciado(a)

Indígena

92,4%

PREFERÊNCIA DE LÍNGUA ESTRANGEIRA Inglês Espanhol

64,6%

EXERCE ALGUMA ATIVIDADE REMUNERADA Não

15,4% 12,8% 23%

Sim

33,4%

Em tempo parcial Eventual

15,4%

Não respondeu

TIPO DE ESCOLA ONDE CONCLUIU/ CONCLUIRÁ O ENSINO MÉDIO

JÁ PRESTOU ENEM OU VESTIBULAR Sim

16,6%

Separado(a) Viúvo(a)

Deseja não declarar

35,4%

Solteiro(a)

Não

1,5% 3,05% 3,05% 6,2%

Pública Supletivo EJA público Supletivo EJA particular Particular

83,4% 86,2%

Particular com bolsa integral Supletivo EJA particular com bolsa integral

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COMUNIDADE Sou José Carlos dos Santos, nasci em 18 de outubro de 1950, em Sto. Antônio da Patrulha, “cidade onde se come o bagaço de cana de açúcar e se cospe o caldo fora ou terra da rapadura e cachaça”, residi ali dos dez aos dezenove anos de idade junto com meus pais e os quatro irmãos. Vim residir em Porto Alegre em 1969 para estudar e trabalhar. Estudei no ensino técnico de mecânica geral da Escola Técnica Parobé e na Unisinos. Conheci a Restinga em 1975, através de colegas de trabalho que moravam na Flor da Restinga.Conheci a Leonor na cidade de Osório e, em 1975, casamos. No ano seguinte viemos residir na Restinga, na 3ª unidade, e depois na 2ª unidade, onde estamos até hoje. Sou casado com D. Leonor há 34 anos e temos os filhos Cláudio Maurice, Lisiane e Liliane. Somos avôs de dois netos, Gabriel e Julia, e temos os genro e nora Jackson e Juliana.

Beleza Sou conhecido na comunidade pelo apelido de Beleza, do tempo em que trabalhei no Estaleiro Só, onde ingressei, em 1973. Era comum apelidos no meio da “peãozada”. Trazia comigo outro apelido, o de Bonito, da escola Parobé onde estudava desde 1970. Estes dois apelidos na época de escola era devido a ter amigos e colegas que eram “sarados”, de olhos azuis, altos, mas não tinham assuntos que interessassem as namoradas. Então os colegas mais tímidos diziam: o baixinho “bunitão aí” é bom de papo e está sempre rodeado dos amigos da escola. E ainda tinha atuação em teatro (Grupo UM) e no ENERSCAPO - Festival de Música Estudantil (1972/73) onde colegas foram premiados. Trabalhei no Estaleiro Só S.A. de 1973 a 1979, como técnico de montagem naval, lugar onde fiz muitos amigos e parceiros, e no Senai Restinga, como Instrutor de mecânica geral. Eventualmente, nos sábados e à noite, realizava atividades esportivas com os alunos de escolas na Restinga. Trabalhei com automação hidráulica industrial de 1984 a 1992 no Senai, onde realizei trabalhos profissionais e sociais em mais de quarenta cidades. Trabalhei com grupos de jovens na Igreja católica da Restinga, fui vice e presidente do CPM da Escola Estadual Raul Pila, membro da Executiva Estadual do Sindicato dos Professores

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Particulares do RS, primeiro Conselheiro Tutelar de Porto Alegre da microrregião 07 - Restinga em duas gestões, gerente regional de assistência social da Restinga e extremo sul (Fundação de Assistência Social e Cidadania/PMPA). Isto tudo me rendeu a fama e tornou-me muito conhecido na comunidade. Passei a gostar do modo de vida simples. Minha participação efetiva em vários movimentos sociais da Restinga ocorreu de 1976 a 1999; depois tive a saúde debilitada e acabei me afastando da vida cotidiana dos movimentos sociais. Estou aposentado desde 2000. Mesmo assim ainda participei como conselheiro e delegado do Orçamento Participativo de Porto Alegre, de 1990 a 2004; fui ativista cultural e artista plástico no Ateliê Restinga, de 2003 a 2004; atuei na Rádio Comunitária como membro da direção, comunicador social e programador de usos de conteúdos da internet como incentivo ao ensino e aprendizagem. A partir de 2004, passei a ter participação eventual, pelas minhas limitações de saúde. Ultimamente, atuo no projeto Narradores da Restinga, incentivando e resgatando a história do bairro e suas multifacetas. Algumas coisas curiosas que passei ao longo da vida: LIVRO: o primeiro livro que li foi Os Três Mosqueteiros, de Alexandre Dumas. Raramente lia livros escolares, por não ter disponíveis na época. Hoje leio e releio romances de autores consagrados na literatura. FILME: O assalto ao trem pagador, com Grande Otelo, Tião Medonho... Assisti

quando excursionava pelos municípios do interior de Osório, juntamente com meus colegas do ginásio, para angariar fundos para formatura e viagem que faríamos no final do ano. MÚSICA: rock, MPB e algumas caipiras. Ouvia no rádio com antenas externas esticadas entre duas taquaras amarradas aos moirões das cercas de arame que ficavam no entorno da casa onde residia em Sto. Antônio da Patrulha. POETAS: Mario Quintana e alguns poetas gaúchos. ESCRITORES: Erico Veríssimo, Graciliano Ramos. QUALIDADE: teimoso. DEFEITO: muitas vezes sou prolixo. O QUE GOSTO: dos fandangos que até 1996 fazíamos nos arredores das comunidades próximas da Restinga no ambiente de amigos e conhecidos. Fazer rádio, política, contar e relembrar histórias marcantes nas vidas das pessoas. VIDA: tenho lutado por uma educação de qualidade, que esteja inserida na comunidade e que contribua na descoberta de seu papel social nas soluções de muitos dos nossos problemas. SONHO: transformar a escola numa das referências sociais e construir uma rádio comunitária a serviço da comunidade em geral, cada vez mais autônoma. Este é o resumo de atividades que muito me deram e continuam dando prazer, gosto de realizá-las e tenho felicidade nessacomunidade que tanto precisa ser incentivada a fazer suas realizações. José Carlos dos Santos/Beleza, em março de 2010.

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“A Restinga é uma cachaça” Ana Tettamanzy

Prof.ª do Instituto de Letras/ UFRGS Eu sou uma prova dessa máxima, dita por uma moradora para explicar porque insistiu com o marido para continuar morando no bairro. Depois que senti o gosto, difícil esquecer. E parte disso se explica pela lente com que aprendi a ver e sonhar a Restinga: a imaginação apaixonada de um de seus moradores mais representativos - o obstinado, resistente e engajado José Carlos dos Santos, mais conhecido como Beleza. Quando nos encontramos em 2006, ele participava de um programa da Extensão da UFRGS, o Convivências, que propiciava a membros da Universidade a experiência de estar junto com comunidades nos períodos de recesso letivo. Disse que gostaria de parceria para contar a história do bairro, para ele injustamente estigmatizada nas grandes mídias da cidade e desconhecida para a maioria de seus moradores. O passo inicial foram visitas para entrevistas na casa das pessoas escolhidas por ele, estratégia que se revelou pouco efetiva (interessava-lhes mais falar das urgências cotidianas e menos das memórias do bairro). O formato que adotamos - depois de alguma errância - foi o de encontros na casa do Beleza, que, já aposentado àquela altura, chamou alguns conhecidos que se animaram pelo interesse de “gente da Academia” por suas vidas e enredos. As rodas de chimarrão e os cafés com bolachas viabilizaram o espaço afetivo e a temporalidade lenta. Foi assim que surgiu o Beleza “contador de histórias urbano”, que dominava a cena com relatos enriquecidos por vozes dos personagens, gestos e performances que traziam para o presente o menino de Osório que aprendeu com a avó a costurar histórias e tecidos. Ali descobrimos sua longa trajetória como jovem militante, depois educador popular, agente comunitário, gestor, oficineiro, comunicador, enfim, um ser humano profundamente incomodado com a desigualdade social e a violência que dilaceram a vida nas periferias. Sua inconformidade resultava em ações: junto a entidades,

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partidos políticos, órgãos públicos e escolas tentou de várias maneiras qualificar a educação e ampliar o acesso à arte a aos bens culturais. Para ele, apenas crianças e jovens que conhecessem sua origem e dela se orgulhassem poderiam modificar a realidade e adquirir autonomia. Essa era sua grande luta. Nesses encontros, a arte de narrar e o exercício da memória animavam a esperança de continuar intervindo na sociedade. Produzimos em parceria vídeos da série “Narradores da Restinga” e publicamos um livro de dois poetas do bairro, Jandira Consuelo de Brito e Alex Pacheco, participantes frequentes desses quase “saraus periféricos”. O passo seguinte foi percorrer as escolas do bairro propondo formação para os professores que se dispusessem a trabalhar em suas aulas com os vídeos e o livro. Neles, acreditávamos nós, encontrariam a história do bairro de uma forma atraente, pois os tons épicos engrandeciam as primeiras levas de moradores removidos de áreas centrais, as lutas para conquistar o básico (que costuma ser negado a todas as periferias urbanas: transporte, escolas, postos de saúde), a forte criação cultural (rádio comunitária, grupos de hip hop e samba, arte urbana). Para tornar mais concreta essa narrativa coletiva, surgiu a exposição itinerante “As Dozes Estações da Via Crucis da Restinga”, idealizada pelo inquieto e criativo Marco Maia, o Maragato. Composta por banners e objetos produzidos pelo grupo, a mostra sintetizava fatos reais, por vezes sofrimentos, mas também sonhos desses moradores: os restingueiros surgem como guerreiros, os barracos dos pioneiros e fotos antigas aparecem junto a maquetes do Museu de Arte, do Teatro, da Escola Técnica e do Hospital desejados pela população (estes últimos acabaram por se tornar realidade). Isso ocorreu com alguma regularidade até meados de 2011. Acabaram-se os encontros na casa do Beleza, o grupo dispersou-se, mas não terminou minha relação com a Restinga. Sigo frequentando o bairro, re-

alizando atividades pontuais com outros projetos e parceiros da UFRGS. Em 2013 voltei à casa do Beleza para conhecer outro morador, o adorável cantor de samba Jorge Domingos, do que resultou mais um vídeo e muitas conversas, histórias e música. Nos últimos anos o ânimo do Beleza enfraqueceu, mas, mesmo cansado, seguia participando de discussões como as que envolvem as recentes ampliações de moradias, implantações de postos de saúde e do Programa Territórios da Paz. Isso tudo até que se agravou uma saúde já frágil. Se dizem que a história se repete como farsa, é revoltante que esteja acontecendo com Beleza o que ele tanto combateu. O guerreiro que escolheu lutas coletivas está enfrentando solitariamente com sua família as mazelas de uma aposentadoria modesta, de uma rede pública precária que não atende adequadamente as demandas de um paciente que sobreviveu a uma sequência de acidentes vasculares cerebrais. Ainda assim, ele resiste, contrariando prognósticos e o senso comum, como parece ter feito em boa parte de sua vida. E, conforme me contou sua esposa, Leonor, em certas noites insones, ele revive os tempos de comunicador da Rádio Comunitária da Restinga misturando canções a discursos apaixonados que convocam os ouvintes a participar das lutas em defesa do bairro. Essa Restinga é mesmo uma cachaça. E das boas.

CACHAÇA

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EXPERIÊNCIA

Estudos e Escolhas No dia 30 de maio, o Cursinho Pré-Vestibular Esperança Popular da Restinga recebeu a empresa júnior da Psicologia da UFRGS, a Organiza! Fomos muito bem recebidos por professores e alunos dedicados. Foram quatro horas de palestra sobre três assuntos: controle emocional, motivação e técnicas de estudo. Acreditamos que tenha sido uma experiência tão boa para os alunos quanto foi para nós. Embora a palestra tenha acabado, a Organiza! ainda tem algumas dicas para você, leitor:

Senta que lá vem a história...

Eu gosto da minha escolha proFIssional? Essa pergunta, por mais básica que seja, é o começo de tudo. Não adianta seguir uma profissão só pelo dinheiro, ou só porque a família manda. Eventualmente, tu vai acordar um dia e perceber que precisa parar com isso o mais rápido possível. Acreditem no autor, gente.

Quais as opções para essa carreira? Então, essa é a hora de saber todas as possibilidades de atuação. Eu, por exemplo, pensava que psicólogos eram só pra terapia, mas descobri um mundo novo quando comecei a estudar: pesquisas científicas, consultoria para empresas, palestras e workshops... Novas opções surgem o tempo todo.

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Te imagina lá em janeiro de 2017. Sobreviveu a dias inteiros de prova, à noites sem sono pela ansiedade e à pressão da família te perguntando no final de cada dia “e aí? Como foi?”. A sensação de trabalho bem feito dura por dias a fio, já que o “trabalho” em questão era tão gigante. Dura até sair o resultado do seu concurso, seja esse resultado de quem passou no vestibular ou no ProUni. Enquanto olha a tua nota, a família toda grita de alegria. Passou em primeiro lugar no concurso e faculdade que todo mundo queria: Engenharia na UFRGS! Enquanto os outros comemoram, tu dá uma checada e vê que poderia ter passado no que realmente queria. Uma sensação de culpa vem chegando, de fininho, e se aninhando no teu peito. “Vai passar”, tu pensa. “O que importa é fazer o que dá grana.” Passam os meses, passam as aulas… e tu descobre que não gosta de engenharia. Cada aula é um tédio, preenchido pela vozinha na tua cabeça sussurrando “eu não queria estar aqui.” Eventualmente, um dia, ao acordar, tu tem uma epifania. Decide largar esse curso que não te traz alegria e fazer tudo de novo, dessa vez pra coisa certa. Alguns poderiam dizer que esse tempo todo foi necessário para tu perceber o que realmente quer da vida… outros poderiam dizer que já dava pra saber direitinho agora, não? Nós da Organiza! preferimos essa segunda opção. Por isso, vamos falar nesse texto de duas perguntas muito importantes para escolher tua carreira. Como já deve ter percebido, esse texto é mais voltado para quem ainda não decidiu o que quer ser quando crescer, mas recomendamos para quem já sabe também. No melhor dos casos, vai terminar o texto com mais certeza do que quer. Um ótimo jeito de descobrir se uma área de atuação te agrada é acompanhar a rotina de um profissional, mesmo que só por um dia. Ter alguém da família trabalhando nisso facilita as coisas, mas com certeza tem gente disposta a te mostrar o dia a dia, é só pedir com educação.

Mas e se eu nem sei o que quero ainda?

Se tu está com dúvida do que realmente quer ser quando crescer, ou tem mais de uma ideia e as duas estão competindo para ver quem vai primeiro, eu te recomendo falar com o SOP, o Serviço de Orientação Profissional, da UFRGS. Eles têm serviços baratíssimos para adultos e jovens, para te ajudar a esclarecer tuas dúvidas e aliviar esse peso. O site deles é: http://www.ufrgs.br/sop/servicos. Ah, mais uma coisa: se quiser, pode curtir nossa página no Facebook, OrganizaEJ, e ficar ligado nos conteúdos de psicologia e outros workshops que divulgamos.

Até a próxima. ;)

Daniel Dal Corso - Graduando em Psicologia da UFRGS Organiza! Empresa Júnior

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