Jornal TAMO LÁ! Março/Abril Nº2 Ano 3

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Nº2 ANO 3

MARÇO E ABRIL DE 2016

GRATUITO

PÁGINAs 4 e 5 Neste ano de 2016, vinte e cinco esperançosos, que sonhavam junto com outros tantos mais do cursinho Esperança, realizaram seus sonhos de entrar em uma Universidade! Conheça um pouco da história de conquista de quatro desses bixos 2016 nesta edição! “Sonho que se sonha só é só um sonho que se sonha só. Mas sonho que se sonha junto é realidade.” Raul Seixas

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PÁGINA 3 futuro

editorial Edilson Nabarro, da CAF/UFRGS, dá boas-vindas aos bixos cotistas de 2016 e traz alguns dados do histórico do sistema de cotas nessa Universidade.

PÁGINA 6 dicas Tá precisando de ajuda para se organizar nos estudos? Então vai lá conferir algumas dicas!

A escrita pode ser um instrumento para que o indivíduo seja autor de suas ideias, capaz de posicionar-se perante a sociedade. A Prof.ª Magali Endruweit fala um pouco sobre esse assunto e sobre o Curso de Extensão “A escrita como um direito de cidadania”.

PÁGINA 7 experiência Muitas vezes a vida nos surpreende com encontros inesperados. Já aconteceu com você? Conheça uma história emocionante de um ex-educador dos primórdios do cursinho Esperança.

PÁGINA 8 comunidade Oriô Jah é uma banda da Restinga que vem alcançando sua popularidade dentro e fora da comunidade, levando o Reggae da periferia para vários cantos do Brasil. Confira a entrevista com o baixista e produtor da banda!

www.pvprestinga.blogspot.com.br / www.facebook.com/groups/pvprestinga

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AGENDA

MENSAGEM AOS ESTUDANTES COTISTAS SEJAM BEM-VINDOS! Em 2016, todas as Universidades Federais ofereceram o percentual de 50% de suas vagas para estudantes egressos de escolas públicas e autodeclarados PPI (Pretos, Pardos e Indígenas). A UFRGS completou esse ano o seu 9º Concurso Vestibular nesse sistema, já que antes da promulgação da lei 12.711/2012 – LEI DE COTAS, já adotava programa de ações afirmativas. Pelo segundo ano também teve o ingresso pelo sistema SISU/ENEN, comtemplando 30% do total de vagas. Trata-se da mais importante política pública patrocinada pelo Estado Brasileiro, visando incorporar ao sistema público de ensino superior, estudantes de grupos étnicos e classes sociais que sempre sonharam em estudar em escola pública, mas não tinham a garantia da igualdade de oportunidades. Na UFGRS, nesse período de 2008 a 2016, foram mais de 12 mil estudantes de escolas públicas e mais de 4 mil estudantes autodeclarados negros, que obtiveram classificação em todos os 89 cursos disponíveis. Alguns cursos tiveram a ocupação total por alunos autodeclarados negros. Mesmo que nem todos os estudantes diplomem-se no tempo médio esperado, já é possível celebrar as conclusões de cursos de cerca de 220 estudantes negros que ingressaram pelo sistema de cotas. Nos próximos anos, um número maior de estudantes estará concluindo seus cursos. Para os calouros que, esse ano, iniciam seus estudos, o seu sucesso na disputa por vaga e o compromisso da Universidade para oferecer as condições de diplomação devem merecer toda a atenção. Passados os festejos pela vitória, os estudantes cotistas estarão agora diante da merecida e grande oportunidade de efetivarem seus sonhos. Todos devem se considerar alunos regulares na Universidade, independentemente da modalidade de ingresso. Os programas e experiências de integração que a Universidade dispõe, garantindo o respeito às especificidades de todo os alunos, devem impulsionar os estudantes para o seu adequado desenvolvimento acadêmico. Se estudar nas Universidades Públicas é o sonho de muitos, o ingresso nas mesmas é a oportunidade que poucos usufruem. Por isso, valorize seu esforço, usufruindo dos benefícios e direitos disponibilizados e identifiquem os problemas que devem ser superados. A Universidade agora também pertence a todos vocês. Desejamos muito êxito em suas vidas acadêmicas. Edilson Nabarro Vice-Coordenador da CAF/UFRGS (Coordenadoria de Acompanhamento do Programa de Ações Afirmativas)

Te liga nessas dicas do Cursinho Pré-Vestibular Esperança Popular Restinga. Não esquece dessas datas! Anota, memoriza, copia, recorta, circula, mas não perde!

UFRGS PORTAS ABERTAS 2016 - 14/05, das 8h às 14h O evento tem o objetivo de divulgar as atividades de ensino, pesquisa e extensão da UFRGS. Acontecerão visitações aos laborátorios, palestras de apresentação dos cursos, rodas de conversa, oficinas, exposições. Escolas, cursinhos pré-vestibulares e comunidade em geral podem agendar sua participação nas atividades através do site www.ufrgs.br/portasabertas, de 25/04 a 11/05. OBSERVATÓRIO ASTRONÔMICO DA UFRGS Aberto para visitas diurnas (para conhecer o prédio, o acervo histórico do museu e os telescópios) e noturnas (para observação do céu). Público em geral: terças e quintas-feiras, a partir das 14h. Escolas ou grupos: segundas, quartas e sextas-feiras a partir das 14h e também quartas-feiras pela manhã. Entrada gratuita! Agendamento no site: www.ufrgs.br/observastro Contato: 3308 3352 Av. Osvaldo Aranha, s/nº (próximo à Praça Argentina)

CURSINHO PRÉ-VESTIBULAR ESPERANÇA POPULAR RESTINGA EDUCADORES

COMISSÃO EDITORIAL

Adriele Albuquerque Alexandre Rodrigues Bernardo De Carli Davi Vergara Denise Aires Ramos Érick Barcelos Goulart Henrique Maciel Leão Israel Teixeira Sasso Kamila Costa Lucas Dalenogare Márcia Reckziegel Marilize Ribeiro Alfaro Matheus Penafiel Patrícia Goulart Pinheiro Pedro I. C. Figueiredo Rodrigo Dos Santos Ronaldo Beraldin Saul Bastos William de Oliveira Silva

Daiane Moraes Débora Simões Rita Camisolão

ILUSTRAÇÃO E DIAGRAMAÇÃO

Margit Anton Bersch Heloisa Bastos Marques

REVISÃO Débora Simões *As matérias assinadas nesta edição são de exclusiva responsabilidade de seus autores.

TÁ SABENDO DE ALGUM EVENTO LEGAL? COMPARTILHA! Envie um e-mail para o informativo Tamo Lá! : deds@prorext.ufrgs.br

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FUTURO

A escrita como um direito de cidadania

O Curso de Extensão “A escrita como um direito de cidadania” trata da escrita de textos que se pretendem participantes da discussão estabelecida fora das paredes da sala de aula, instrumentalizando o aluno para que seja autor de suas ideias e, consequentemente, capaz de se posicionar em relação aos problemas que acometem a comunidade que o rodeia. Entender a escrita como um direito significa mostrar aos alunos que eles têm o que dizer e podem acrescentar novas perspectivas de análise aos assuntos em que se acostumou a ser apenas espectador passivo, olhando primeiramente para seus problemas, objetivando questões até então confusas, postas a claro no momento da escrita. Ao ser levado a argumentar por escrito, tomando partido, o aluno sente-se engajado em sua comunidade e valorizado como participante do mundo em que vive. A escrita que nos torna cidadãos é para todos e não apenas para alguns eleitos dotados de talento especial. Não precisamos ser escritores para termos o direito de participar da realidade que nos cerca e nos diz respeito e para isso precisamos nos inserir no meio letrado de textos escritos que circula na mídia, nas instituições e na escola. Mas a visão que temos do texto escrito é bem outra, pois ele passou a ser apenas o passaporte para concursos – entre eles o vestibular –, deixando escondido, atrás da forma e de seu caráter representacional, a possibilidade do autor de mostrar-se sujeito do dizer. Pois o maior desafio do professor de português sempre foi ensinar a escrever. E aqui podemos entender esse ensinar a escrever como a confecção de qualquer texto escrito para a escola em resposta a uma proposta feita pelo professor. Em todos os níveis de ensino a situação se repete: no fundamental, nos consagrados textos sobre as férias; no médio, na infindável preparação para o vestibular e, finalmente, na universidade, quando o aluno se depara com textos acadêmicos sem que tenha conseguido entender como se expressar na língua escrita. E em consequên-

cia, também, o maior desafio do aluno sempre foi aprender redação. Na verdade, o desafio é maior, pois bem antes de aprender a fazer uma redação para a escola, o aluno precisa aprender a escrever. Fala-se de redação. Outra coisa é falar de escrita. Quem escreve, escreve redação para a escola, para o vestibular ou para qualquer outro concurso. Escreve também qualquer tipo de texto ou de gênero e, com o mínimo de dedicação, pode escrever um artigo acadêmico. Saber essas diferenças de gênero é o final do ensino, apenas uma adequação de um longo processo que o aluno deveria fazer na escola. Deveria, mas não faz. Começa-se pelo fim, ensinando a diferença entre uma receita de bolo e uma receita médica, solicitando textos com os quais os alunos não têm o menor interesse. Mas isso não é de hoje. O ensino da escrita parece ter sido, e ainda é, o calcanhar de Aquiles do professor de português e a denúncia do fracasso da escola: nossos pais fizeram “composição”, nós fizemos “redação”, e nossos alunos “produzem textos”. E os escândalos rondam as provas de seleção, denunciando a pouca intimidade dos alunos com o texto escrito e a abissal distância entre ensinar redação na escola e aprender a escrever para a vida. Como se vê, tomar a escrita unicamente como representação foi um equívoco. Dele resultaram os problemas que tornaram o ensino da escrita o grande desafio da escola, fazendo o aluno pensar que escrever era apenas passar para o papel o que já havia pensado antes. Grande engano. Antes de mais nada, há a necessidade de o locutor se desvincular da representação da língua falada como exteriorização e comunicação. A escrita é outro estatuto da mesma língua. Se na fala como atividade é possível a exteriorização dos pensamentos, na escrita, há a transposição da linguagem interior: rápida e incoerente, na medida em que retorna apenas sobre o próprio locutor. É a escrita que deve tornar inteligível essa linguagem. Magali Endruweit Professora do Instituto de Letras UFRGS

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CAPA

Depoimento dos BIXOS 2016 Feliphe G. Schroeder Minha história no cursinho não é breve, nem fácil, mas sim uma história, como todas as outras, de superação. Iniciei o curso no segundo semestre de 2013, com uma turma pequena. Meu primeiro vestibular foi para administração. Essa opção de curso não durou muito, pois me apaixonei pela disciplina de História. Claro tive ótimos professores de humanas que me arrancaram da administração. Fiz um ano de estudos focados na história, nos últimos três meses abandonei meu emprego e fiquei o dia todo estudando. Graças a ajuda do meu grande amigo e professor, Lucas Ebbesen, que sempre deu apoio e sempre esteve totalmente à disposição, consegui uma boa nota no vestibular de 2014. Não foi o suficiente para passar, mas foi o suficiente para eu me apaixonar mais ainda por dar aula e aprender sobre história. No ano de 2014 tive que trabalhar e estudar, consequentemente, não tive muito tempo para os estudos, mesmo assim consegui uma boa nota no Enem. Me mudei para SC e aqui consegui uma bolsa de estudos pelo Sisu na UDESC. Fiquei muito feliz e devo isso a todos os professores: Lucas Ebbesen, Saul Bastos, Gabriel Gonzaga, e todos os outros. Obrigado, cursinho, por me fazer uma pessoa melhor, não para o vestibular, mas para a minha vida e para a sociedade, que deve ter mais pré-vestibulares como o da Restinga.

Charline Avila De Arruda O ano de 2015 foi o primeiro em que me dediquei ao vestibular e contei com a ajuda do Cursinho Esperança. No início, foi bem tumultuado, sofremos por não ter lugar fixo, perdemos algumas aulas e colegas, mas eu não desisti do meu sonho e corri atrás. Graças aos professores do Esperança, hoje eu estou comemorando minha vaga na UFRGS, estou feliz demais com o meu nome no listão. Então, aproveito esse momento para agradecer aos professores que nos apoiaram, não nos deixaram desistir e não desistiram de nós. Serei eternamente grata, MUITO OBRIGADA! Super recomendo o curso, vale muito a pena!

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Thayná Barbosa

Eu fiz dois anos de cursinho, no primeiro ano não rolou de passar, mas eu não desisti e tentei de novo. O ano de 2015 foi bem desgastante, mas valeu a pena, pois eu evolui muito, principalmente em redação. Eu passei na UFRGS pelo Sisu em Matemática e passei na PUCRS pelo Prouni, também em matemática. O vestibular da UFRGS eu prestei para Engenharia Ambiental, mas infelizmente não passei. Porém, nesses dois anos, descobri que tenho muita dificuldade em matemática, por isso a decisão de fazer matemática antes da engenharia. Para os novos vestibulandos: não vai ser fácil, mas a família Esperança vai estar aí pra te apoiar.

Angelina Reis Só tenho a agradecer ao Esperança pela experiência maravilhosa no ano passado. No cursinho, eu me sentia bem como em nenhuma outra sala de aula. Os professores e colegas, direta e indiretamente, me faziam querer estar ali, me motivavam a estudar. Isso é que faz a diferença. Como resultado, atingi meu objetivo, assim como muitos outros colegas do Esperança, e acredito que esse ano não será diferente. E deixo uma dica: o cursinho é só um guia, é essencial revisar as matérias e estudar em casa. Todo o esforço será recompensado, basta teimar e acreditar!

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FIQUE LIGADO!!! Novos chamamentos da UFRGS, para ingressantes classificados pelo Concurso Vestibular 2016 e pelo Sistema de Seleção Unificada (SiSU) ocorrem durante TODO O ANO. Quem prestou vestibular em 2016 deve acompanhar as demais convocações pelo site da UFRGS, pois alguns estudantes desistem durante o processo de matrícula. Classificados para o segundo semestre poderão ser convocados para fazer a matrícula presencial com vistas ao ingresso no primeiro semestre letivo. É preciso estar atento aos chamamentos no site da UFRGS (www. ufrgs.br), sob pena de perder a vaga.

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DICAS ORGANIZE SEUS ESTUDOS

Utilize uma agenda para marcar as atividades futuras, como matérias que precisam de mais atenção para serem compreendidas, e organize seu tempo entre atividades extracurriculares, estudo e lazer.

Planeje tudo o que você tem que estudar para não esquecer de nenhuma disciplina e organize os materiais que serão utilizados.

Escolha um lugar calmo, claro e bem ventilado para estudar. Procure deixar objetos que desviem a sua atenção, como rádio, televisão, telefone, longe do ambiente de estudo.

Separe um tempo para cada matéria e comece sempre pelas mais difíceis! Não esqueça de reservar 20 minutos de descanso entre uma disciplina e outra!

Além de mudar de matérias, alterne entre materiais usados no estudo como ilustrações, fotos, vídeos e áudios.

Evite as “desculpas” para fugir do estudo! Prepare seu kit sobrevivência: tenha por perto um copo de água, ou um suco, uma fruta, um sanduíche ou um pacote de biscoitos.

Dormir é importante. Mas não em cima dos livros!!! É durante o sono que o nosso cérebro armazena na memória o que aprendemos durante o dia.

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EXPERIÊNCIA Curso Pré-Vestibular Esperança Popular da Restinga: cenários e sentidos, possibilidades e reflexões

Ao se apresentar, a estudante de 2º semestre do Curso de Pedagogia, Maria Elenisa Nobre, diz ter sido aluna do Cursinho Pré-Vestibular Esperança Popular na Restinga e que ingressou na UFRGS em 2015. Seu relato me inunda de emoção pois, há exatamente uma década atrás, participava do embrião e da gestação do Esperança Popular, que hoje viria a ser um dos responsáveis pela aprovação de Elenisa. Cenário 2: Quando e onde? Dez anos antes, em março de 2006, na Associação de Moradores Núcleo Esperança I - Restinga. No salão de festas (utilizado como sala de aula) da referida Associação de Moradores, uma aula inaugurava um sonho acalentado por lideranças da comunidade. Lembro, como se hoje fosse, de Dona Maria Teresa Raimundo de Almeida e Dona Djanira Correa empenhadas e empolgadas com o nascedouro do Esperança, prevendo e pressagiando que aquele Cursinho poderia vir a ser uma alternativa para a mudança por dentro da comunidade, instituindo novas perspectivas para os jovens da Restinga e colocando o ensino superior como um horizonte de possibilidades. O primeiro cursinho da/na Restinga foi inspirado no trabalho de outros Cursinhos Populares da região e, em sua concepção, contou com a parceria e o apoio de estudantes da UFRGS vinculados ao Programa Conexões de Saberes: Diálogos entre a Universidade e as Comunidades Populares. Daquele grupo de estudantes da UFRGS, vários eram oriundos da Restinga e mantinham relações comunitárias ou de militância no bairro. Vários foram os marcadores de aprendizagens que materializaram uma prática político-pedagógica amparada na perspectiva da educação popular. Do ponto de vista dos educadores, havia uma disposição ético-política em ver e conhecer a comunidade, suas pessoas e suas vidas, seus saberes e seus sonhos. Um aprendizado que passou pelo despertar de uma habilidade de diálogo, uma prática que permitiu e potencializou uma vivência efetivamente política de construção coletiva, dialógica e de saber compor com as diferenças. Os atores do Esperança constituíram sua ação em diálogo com os segmentos comunitários, estabelecendo um conjunto de articulações e participações, como o envolvimento nas plenárias públicas do processo de implantação da Escola Técnica da Restinga (atu-

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almente IFRS), nas reuniões na Igreja, no Salão Paroquial, nas caminhadas de divulgação do Cursinho no bairro. O Esperança impactou na comunidade, abriu um novo campo de possibilidades, mexeu com os sonhos e desejos de jovens da Restinga na perspectiva de concretizar o acesso ao ensino superior. Enfim, o Esperança Popular é fruto de um esforço coletivo em permanente construção. E o que estes dois cenários têm em comum? A trajetória e a vitória de Elenisa é também a trajetória e a vitória de outros 25 aprovados para o ensino superior em 2016 e 23 aprovados em 2015, todos oriundos e egressos do Esperança Popular. São histórias que nos enchem de Esperança. Trajetórias que afirmam ser possível, sim, que jovens estudantes da Restinga e do seu entorno – em sua maioria estudantes de origem popular – acessem, ingressem e ocupem seu lugar numa Universidade. A profecia daqueles que acreditaram no projeto se consubstancia. Dez anos se passaram e muitos jovens da Restinga chegaram na Universidade. O horizonte do ensino superior – além de ser movido pela/o Esperança – é uma possibilidade.

Primeira sede do Cursinho Esperança Popular Restinga. Fonte: Acervo DEDS

Cenário 1: Quando e onde? Março de 2016, primeira semana letiva deste semestre na UFRGS, numa disciplina da Faculdade de Educação na qual sou professor.

Rafael Arenhaldt Professor da Faculdade de Educação da UFRGS Tutor do Grupo PET / Conexões de Saberes – Políticas Públicas de Juventude

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COMUNIDADE Oriô Jah Integrantes da banda Oriô Jah

A banda Oriô Jah, representante do bairro Restinga, na cena de reggae porto-alegrense e gaúcha, vem levando em seu som traços de uma cultura escanteada por muitos, a da periferia. A banda vem mostrando seu trabalho desde 2008 e, atualmente, lançando seu novo EP “Oriô Jah”, que carrega o mesmo nome da banda. A Restinga é conhecida por ser um espaço potencial de cultura, e isso em diversos gêneros. Conversamos com o Maikão, baixista e produtor da banda, que contou um pouco sobre a história da banda e os planos futuros. Como a banda surgiu? Surgiu com meu irmão, Renan. Éramos de outro seguimento e ele começou a compor músicas de reggae. Chamou eu e o tecladista e falou: “cara, tô a fim de fazer outra história e largar o seguimento que a gente está” e eu falei “vamos embora”. Porque o reggae é bem forte na minha família, por conta do meu padrinho. Gravamos nosso primeiro disco, em Gravataí, no estúdio do Xilico, guitarrista do Alemão Ronaldo. Gravando lá, entre nós três, queríamos gravar um CD, não tínhamos a pretensão de lançar a banda pra rua. E a gente está lá, gravando, mixando, sentado na rua, quando entra o cara que ia fazer a mídia do Papas da Língua, que, na época, estava super estourada, e o cara foi ali e falou “vocês vão abrir o show do Papas”, mas naquele momento ainda não tínhamos banda, éramos só nós três. Então, chamamos a galera que gravou e dali não paramos mais. Como foi a recepção da comunidade com o som da banda? Aqui, na comunidade, sempre tive um acesso legal ao pessoal. Conheço algumas pessoas daqui, e, quando fizemos essa migração pro reggae, algumas ficaram meio sem entender “ah, vocês tocavam outra coisa”, até que ouviram o som e “pô! que massa!”. A comunidade viu a banda tocar ao vivo e viu que

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era bom. Teve uma recepção bem legal nas escolas também. Agora no verão, estive em Tramandaí, na Atlântida de Tramandaí, e dei o CD para a recepcionista passar para o Ki Fornali, e ela “ah! Eu conheço a banda de vocês!”. A guria era aqui da Restinga. “Eu era de uma das escolas que vocês visitaram” – disse ela. Isso foi bem bacana, ver o envolvimento da galera. Infelizmente, não tem muito evento pró-cultura, aqui. Nós conseguimos uma notoriedade por conta da comunidade. Hoje, a Oriô, em São Paulo, no Rio, principalmente no Rio de Janeiro, é vista como uma banda da Restinga. Entendeu? Somos convidados para ir a programas de TV, rádio, fazer alguns contatos na Lapa, porque mandamos um material e somos questionados por terceiros “cara, vocês não são de Porto Alegre, esse não é um som de Porto Alegre”, mas “Somos sim!”. Comento sobre o Udi – guitarrista gaúcho, nascido e criado na Restinga, atualmente guitarrista do Gabriel, o pensador –, que tem uma música do Udi no nosso CD. E daí os caras falam “manda o material”. Então, tem essa coisa muito forte. A galera do centro de Porto Alegre identifica a Oriô Jah como sendo da Restinga, uma banda nova, com força de expressão da Restinga. Circula no meio desses, como Chimarruts, Armandinho, Maskavo, Comunidade Nin-Jutsu, essas bandas mais tops. Ganhamos alguns festivais, graças à comunidade. Quais a desvantagens e as vantagens, por ser uma banda da Restinga? Por ser uma banda da Restinga, já teve lugares que sentimos certo preconceito por ser de periferia. Mas, tudo é como conversamos dentro da banda, tudo quebra, a partir do momento que tu sobe no palco. Muita gente, hoje em dia, passou a respeitar essa questão da Restinga, bandas de primeiro nível conhecem a banda. A própria Chimarruts gravou depoimento falando super bem da gente, mandando abraço pra comunidade. Isso mostra que o trabalho que hoje fazemos tem um braço muito forte para defender o nome da comunidade lá fora. Uma dica para quem está começando: Cara, o que eu falo pros músicos que estão começando é que tenham certeza no seu trabalho. Acredite no teu som, acredite no teu talento, tu tem que defender a tua verdade. Então, na música, algumas pessoas fazem sucesso, e tu acha que é porque têm dinheiro, mas tem espaço para todo mundo. Tu vai encontrar as pessoas certas, para curtir e respeitar o teu trabalho. Pro pessoal que está começando é isso: tomar cuidado com falsas promessas, coisas que a gente já passou. Muito cuidado com a gravação do seu primeiro trabalho, tem que ter algo apresentável, pois o pessoal de estúdio mente muito, deixa passar muita coisa, porque às vezes tu é meio leigo nessa questão de produção e, se vai passar para um produtor mais sério, os caras não vão pegar o material. É isso que eu deixo pro pessoal, procurar pessoas confiáveis para cuidar do teu primeiro trabalho. Entrevista feita por Henrique M. Leão

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