Religião [ Vida Consagrada: os jovens respondem... Ano lxxxviI / Nº 3873 feverEIRo / 2016 olutador.org.br
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A Campanha dos Devotos de Nossa Senhora da Piedade é uma força na ação evangelizadora e também no amparo aos mais pobres. A partir da sua doação e amor, é possível transformar e melhorar muitas vidas. Com a sua ajuda, os serviços e o cuidado social com os mais pobres serão intensificados.
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O cerco ao Papa [ Jesus, amor maior... [ Guerras climáticas...
Resposta aos leitores Em atenção a vários leitores que nos ligaram, a partir desta edição, passamos a evitar os fundos escuros e letras pequenas afim de facilitar a leitura. Agradecemos as observações que nos ajudam a tornar a Revista O Lutador mais acessível a todos. Mande-nos sempre suas sugestões. Atenciosamente,
@ [ AGRADECIMENTO “Ao ler o ‘Lutador’, senti-me muito feliz pelas palavras sobre minha irmã Anneunyce. Estava junto com ela na Igreja da Boa Viagem na missa de lançamento da Revista ‘O Lutador’, onde Dom Joaquim Mól pronunciou palavras maravilhosas sobre a revista. Quero deixar aqui meu agradecimento pelo carinho e manifestação da redação e tenho certeza de que lá do Céu, ela nos ajudará a viver pelo Reino de Deus. Abraço fraterno! [ E míl ia M ol S ta r l in g
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A Redação. @ [ MOTIVAÇÃO “Neste ano de 2015 tive alegria de poder contar com valiosa motivação expressa na Revista O Lutador, pela qualidade de seus artigos, pela apresentação. Rogo a Deus que permaneça iluminando o Redator desta conceituada revista para que continue neste trabalho colaborando na formação de nossos irmãos leitores em 2016. Receba nossos votos de Feliz 2016 e parabéns pelo trabalho de vocês. Entrego um anexo que, se julgar de utilidade, podem aproveitar. É uma reflexão fruto da fé e da experiência.” [ Pe. J os é d e Olive ir a da S ilva
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[ VOTOS (1) Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo! A todos que trabalham e colaboram com O Lutador, desejo um Santo Natal e um abençoado Ano Novo!” Ron a ld o Be r n a d e s A n d r ade
B e lo H o r i zo n t e , M G
[ VOTOS (2)
“Não podemos dormir a Noite Santa. Devemos acordar para acolher os pobres da terra, os pequenos do Reino. Devemos viver, cada dia, a Noite Santa do Reino.” [ D om P e d ro C a s a ldá l ig a
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mail, comente no site e no facebook... @ [ LIÇÃO DE VIDA “Vocês são uma lição de vida que jamais será apagada. O sonho de construir uma família começou em 17 de fevereiro de 1950, quando vocês disseram “Sim” para o sacramento do matrimônio e agora já contam 66 anos. Assim aconteceu uma linda vitória do amor. O sentimento de vocês venceu os desafios, as diferenças e os obstáculos. Vocês nos mostraram o trabalho caseiro, a escola e a Igreja como o rumo certo para as nossas vidas. E Deus foi generoso ainda quando permitiu ao papai viver 90 anos, cercado de carinho de todos aqueles que o amam. Aqui estamos nós, seus oito filhos, suas noras, seus genros, seus netos e bisnetos, terceira geração do amor de vocês, tão queridos.” [Néria Ester
- Governador Valadares, MG
Curso de Cânticos 2016 “Cantando o Direito e a Justiça”. Em sintonia com a Campanha da Fraternidade Ecumênica 2016, aconteceu o Curso de Cânticos Litúrgicos Pastorais. Esta iniciativa, que nasceu há 43 anos, com o Pe. João Rodrigues e Mons. Raul Motta de Oliveira, é continuada hoje pela “Equipe Pe. João”. O Curso, realizado nos dias 8 a 10 de janeiro, reuniu na Casa do Mobon, em Dom Cavati, Diocese de Caratinga, MG, mais de 260 participantes. Com muita disposição e grande calor, cantores, compositores e instrumentistas de várias paróquias de Minas e do Espírito Santo puderam ensaiar e aprender as músicas que, em sua quase totalidade, eram de compositores das próprias comunidades. Uma riqueza que enaltece a vida litúrgica da Igreja. Em cada edição, a Revista O Lutador publica uma música na sessão “Juventude Encanto”. Confira!
[ “Que neste Natal os sentimentos de paz, fraternidade e solidariedade inundem nossos corações e a harmonia da data se estenda por todos os dias do novo ano que se inicia. Na oportunidade, encaminho-lhes o meu novo livro ‘Tempos Sombrios – Escritos Políticos – 2015’, no qual apresento uma compilação de artigos que publiquei no decorrer deste ano. Agradeço a todos que caminharam conosco e desejo um 2016 com muita paz, saúde e alegrias.” [Dep. Durval Angelo
– Belo Horizonte, MG
Como os pastores evangélicos veem o Papa? O LifeWays Research ouviu as opiniões de mil pastores evangélicos dos Estados Unidos sobre o Papa argentino Francisco. A pesquisa apontou que, no geral, os pastores têm começado a gostar do Papa. Metade considera o líder católico um “irmão em Cristo”. Quase 4 em cada 10 dizem que o Papa, conhecido por sua humildade e preocupação com os pobres, tem tido um impacto positivo sobre as suas opiniões da Igreja Católica. No entanto, metade dos pastores protestantes dizem que não valorizam opinião do Papa Francisco em questões de teologia. [ E n t r evis ta completa : w w w.c hr ist ia n it y today.com
R e v i s ta U lt i m ato j a n - f e v 2 016
Editorial
[ Expediente O LUTADOR é uma publicação mensal do Instituto dos Missionários Sacramentinos de Nossa Senhora O Lutador ISSN 97719-83-42920-0
Fundador Pe. Júlio Maria De Lombaerde
Superior Geral Pe. Aureliano de Moura Lima, sdn
Diretor-Editor Ir. Denilson Mariano da Silva, sdn
Jornalista Responsável Pe. Sebastião Sant’Ana, sdn (MG086063P)
Redatores e Noticiaristas Pe. Marcos A. Alencar Duarte, sdn Pe. Sebastião Sant’Ana, sdn Frt. Henrique Cristiano, cmm Frei Patrício Sciadini, ocd, Frei Vanildo Zugno Dom Paulo M. Peixoto, Antônio Carlos Santini Pe. Reginaldo Manzotti
Colaboradores Vários
Revisão Antônio Carlos Santini
Projeto gráfico e Diagramação Valdinei do Carmo
Assessoria de Comunicação Melt Comunicação
Assinaturas e Expedição Maurilson Teixeira de Oliveira
Impressão e Acabamento Gráfica e Editora O Lutador, Certificada FSC®, Praça, Pe. Júlio Maria, 01 - Planalto 31730-748 - Belo Horizonte, MG - Brasil
Telefax [31] 3439-8000 | 3490-3100
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odos os anos a Igreja do Brasil propõe um exercício de comunhão eclesial que é a Campanha da Fraternidade. Este ano a Campanha será ecumênica. Trata-se de uma proposta abraçada pelas Igrejas que compõem o CONIC – Conselho Nacional de Igrejas Cristãs. Somos convidados a somar forças na busca do saneamento básico para todos. Creio que estamos diante de, pelo menos, dois grandes desafios: a comunhão dentro da Igreja e com as outras Igrejas cristãs, e a questão do saneamento básico, cuja falta prejudica a todos. Problemas comuns pedem esforços conjuntos, envolvimento de todos, pois a responsabilidade é comum: é minha, é sua, é nossa. Quando se propõe a Campanha da Fraternidade, o desejo é que haja um esforço conjunto de toda a Igreja não apenas na reflexão e nas iniciativas de culto e oração sobre determinado tema, mas que, de fato, ações concretas possam sinalizar nossa conversão diante situação abordada pela Campanha. Infelizmente, muitos, sejam leigos, clérigos ou consagrados, e também vários grupos e movimentos na Igreja parecem ignorar a Campanha. Alegam até que ela desfoca a atenção do mistério da Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo. Bem entendida, porém, a Campanha da Fraternidade nos leva a contemplar o Cristo sofredor crucificado nas situações que ferem a vida e dignidade do ser humano nos dias e contextos atuais. Longe de desfocar, ela nos faz aprofundar nos mistérios Pascais do Redentor frente a uma situação ou realidade concreta que fere a vida, na qual o mesmo Cristo continua sendo crucificado hoje. Toda Campanha da Fraternidade é um esforço de comunhão, de soma de forças e busca de objetivos comuns. Quando não se abraça a Campanha, a comunhão na Igreja fica também enfraquecida. Este ano, sendo uma Campanha Ecumênica, exigirá um esforço de comunhão ainda maior. Somos convidados a somar forças com outras Igrejas. O desafio do saneamento básico e as consequências geradas com a sua falta são comum a todos. Abraçar esta Campanha fará um bem enorme a todos. Ainda mais quando, segundo avaliação da Confederação Nacional das Indústrias, o Plano Nacional de Saneamento vai sofrer atraso de pelo menos 20 anos. As metas do Plano previam chegar a 2023 com a universalização do serviço de água (100%) e, dez anos depois, com o de esgoto (cerca de 90%). No ritmo atual, estes percentuais somente serão alcançados em 2043 e 2053, respectivamente. Eis a importância de abraçarmos juntos esta Campanha da Fraternidade. O lema da Campanha – “Quero ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca” (Am 5,24) – manifesta o desejo de Deus e atualiza o dever de todos nós cristãos, católicos e evangélicos, e todas as pessoas tementes a Deus, nos empenharmos na reconstrução da nossa Casa Comum de uma maneira justa, sustentável e habitável para todos os seres humanos. E isso é pra começo de conversa.] [ i r . De n i l s o n M ar i a n o, s d n
[
olutador •
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•
A no L X X X V I I
• F/reprodução
Sumário
[ Campanha da Fraternidade Ecumênica 2016
06
[O Coaching
na evangelização
F/album pessoal
09
13
feverE I Ro
•
2016
•
[ Igreja-comunidade 10 [ Transmitir a Boa Nova da família 16 [ O envolvimento das famílias do iniciando 18 [ 2016 Ano do Convite 22 [ O catequista da misericórdia de Deus 23 [ Ofertar a vida 24 [ Quebrar os potes 25 [ A porta, o parto, o porto... 26 [ O que eles pensam de nós? 27 [ Comunidade: sonho e realidade 30 [ Roteiros Pastorais 31 [ O Lutador Kids 36 [ Guerras climáticas 44
a pena ser padre hoje em dia?
[ Relembrando a Dei Verbum 50 anos depois
14
20 F/reprodução
Consagrada:
•
[ Vale
[ As 14 obras
12
[ Vida
Nº 3 87 3
[ Na crise
da mineração
46
[ Capa [ É missão de todas as pessoas...
Casa comum, nossa responsabilidade Campanha da Fraternidade Ecumênica–2016 J oão da S i lva Re s e n d e , SDN *
Que tipo de mundo queremos deixar a quem vai suceder-nos, às crianças que estão crescendo? [ Papa Francisco ]
A
Campanha da Fraternidade é o grande projeto de evangelização da Igreja do Brasil. Ela tem seu tempo forte no período da Quaresma. Sua meta é fortalecer a vivência da fraternidade e os laços comunitários de solidariedade através do nosso envolvimento em um tema concreto de nossa realidade. Trata-se de contemplar a Paixão de Cristo nos rostos sofredores apontados por uma realidade concreta que nos desafia. Este ano a Campanha da Fraternidade será ecumênica – CFE. Ela foi elaborada pelas Igrejas que fazem parte do Conselho Nacional das Igrejas Cristãs – CONIC, formado pelas Igrejas: Católica, Cristã Reformada, Episcopal Anglicana do Brasil, Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, Igreja Síria Ortodoxa de Antioquia, Presbiteriana Unida. Uma Campanha da Fraternidade Ecumênica vem reforçar a ideia de que a busca da paz e da harmonia do Planeta não é trabalho de um grupo isolado. É missão de todas as pessoas de fé e de boa vontade. O ecumenismo feito a partir da dor do povo nos une mais. Um apelo urgente vem do Papa Francisco: “Precisamos de um deba[ 6 • olutador [ fevereiro ] 2016
te que nos una a todos, porque o desafio ambiental que vivemos e as suas raízes humanas dizem respeito e têm impacto sobre todos”. (LS, 14) O tema da CFE deste ano é: “Casa Comum, nossa responsabilidade”. O lema é: “Quero ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca” (Am 5,24). O cuidado com a casa comum nesta CFE será feito a partir de um problema concreto que afeta o meio ambiente e a vida de todos os seres vivos: Saneamento básico. É dever de todos nós cristãos, católicos e evangélicos, reconstruir a Casa Comum de uma maneira justa, sustentável e habitável para todos os seres humanos. O Papa Francisco, na sua carta Laudato Si’ – [Louvado Sejas], sobre o cuidado da Casa Comum, explicita de um modo mais amplo e profundo a questão colocada por esta CFE. Por isso, cada encontro desde estudo terá sempre um aceno a esta carta do Papa. Será de grande proveito um estudo atento deste documento. Cultivar e guardar a terra A CFE nos vem recordar que temos a responsabilidade de “cultivar e guardar” esse jardim que é mundo, nosso planeta Terra (cf. Gn 2,7-15). Não somos proprietários do mundo. Somos cuidadores dele. Cuidar é mais que um ato, é uma atitude. Abrange mais que
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gerações futuras; exige-se ter consciência de que é a nossa própria dignidade que está em jogo”. (Laudato Si’, 160.) Saneamento básico O problema da água em Jericó (2Rs 2,1922) nos coloca frente a uma questão fundamental em nossa sociedade: o saneamento básico. Trata-se de um trabalho coletivo que envolve autoridades, governos, órgãos públicos e privados, entidades não governamentais (ONGs) e a participação da população. O saneamento básico implica o desenvolvimento de uma política pública e social que cuida do abastecimento e do tratamento da água, da coleta de lixo, do tratamento de esgoto, do manejo de águas de chuva, e o controle ambiental. Trata-se do melhor investimento em relação à saúde pública, o saneamento básico ou a falta dele, tem um efeito direto na qualidade de vida de uma população. Basicamente três situações são prioridade num saneamento básico: água, lixo e esgoto.
um momento de atenção. O cuidado inclui atenção permanente, preocupação, inquietação, responsabilidade e envolvimento com o outro. O contrário de cuidado é descaso, descuido, depredação. O nosso cuidado com a casa comum deve ser testemunhado no empenho de levar a efeito o objetivo principal da CFE: “assegurar o direito ao saneamento básico para todas as pessoas e empenharmo-nos, à luz da fé, por políticas públicas e atitudes responsáveis que garantam a integridade e o futuro de nossa casa comum”. Assim nos alerta o Papa Francisco: “Que tipo de mundo queremos deixar
a quem vai suceder-nos, às crianças que estão crescendo? Esta pergunta não toca apenas o meio ambiente de maneira isolada, porque não se pode pôr a questão de forma fragmentária. [...] Se não pulsa esta pergunta de fundo, não creio que as nossas preocupações ecológicas possam alcançar efeitos importantes. Mas, se esta pergunta é posta com coragem, leva-nos inexoravelmente a outras questões muito diretas: Com que finalidade passamos por este mundo? Para que viemos a esta vida? Para que trabalhamos e lutamos? Que necessidade tem de nós esta terra? Por isso, já não basta dizer que devemos preocupar-nos com as olutador [ fevereiro ] 2016 • 7 ]
Água Dela depende a nossa sobrevivência e o futuro nosso e do planeta. Ela é um bem natural, vital e insubstituível. A cada dia cresce mais o seu uso e ela, cada vez, é mais escassa. A situação exige cuidado, a crise não passou. Grande parte da população brasileira tem água tratada. Mas 37 % desta água é desperdiçada em vazamentos e usos indevidos. Cresce a poluição de nossas águas, através de mineradoras, produtos tóxicos da indústria e da agricultura. A escassez da água está provocando no mundo uma corrida para a sua privatização. A água vai deixando de ser um bem comum para ser fonte de lucro. Lixo A produção de lixo doméstico e industrial é cada vez maior devido à cultura do descartável. Em quase todas as cidades existe coleta de lixo. O problema para o saneamento é o destino do lixo. Lixões - São grandes áreas a céu aberto onde é depositado o lixo das residên-
[▶
[ Capa [ É missão de todas as pessoas... [▶ cias, comércios e indústrias. Localizados geralmente nas periferias das cidades, estes lixões são responsáveis pela concentração de ratos, baratas e outros insetos, verdadeiros focos de proliferação de doenças, além do mau cheiro que exalam. Aterro controlado - É um depósito de lixo coberto de terra. Evita o mau cheiro e a proliferação de insetos. Mas, como não tem impermeabilização de base, não evita a contaminação do so-
não seca”. (Am 5,24.) Não é apenas uma frase isolada para ser citada. Ela deve ser refletida a partir do contexto da época de Amós, que tem muito a ver com a nossa situação hoje. A partir da iluminação de Amós, a CFE quer nos ajudar a fazer uma leitura da real situação de nosso saneamento básico. Por que há tanto interesse na privatização deste serviço? A CFE não pode ser apenas um momento em nossa vida de comunidade. Ela deve ser como um riacho que
digam com as suas ações; será necessário insistir para que se abram novamente à graça de Deus e se nutram profundamente das próprias convicções sobre o amor, a justiça e a paz. Se, às vezes, a má compreensão dos nossos princípios nos levou a justificar o abuso da natureza [...], nós, crentes, podemos reconhecer que então fomos infiéis ao tesouro de sabedoria que devíamos guardar”. (LS, 200.) Atitudes sugeridas pela CFE Educação para a sustentabilidade: Tomar consciência na corresponsabilidade de todos(as) na criação de novos hábitos em relação ao uso e reuso da água, energia, uso de descartáveis, coleta seletiva de lixo, reciclagem, destino do lixo e esgotos, não jogar comida fora. Esta educação é indispensável para a criação de uma sociedade totalmente sustentável. Conhecer o Plano Municipal de Saneamento Básico e a criação do Conselho Municipal de Saneamento Básico. E procurar participar deste conselho para garantir sua efetividade. O texto base da CFE sugere um esquema para uma ação mais concreta: – Não gerar lixo. – Se gerar, buscar minimizar tal produção. – Agir sempre na possibilidade de reutilizar. – Sempre que possível, reciclar. – Caso possa, tratar. – Não havendo outras possibilidades, buscar, de forma conjunta, uma deposição adequada em aterros sanitários. – Conscientizar as pessoas sobre a importância da coleta seletiva de lixo. Não deixe de abraçar esta Campanha! Participe das iniciativas promovidas em sua paróquia e em sua comunidade.]
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lo e o lençol de água. Não trata o chorume nem o biogás. Aterro sanitário - É um descarte de resíduos sólidos que utiliza técnicas buscando minimizar os impactos que o lixo provoca na natureza. Não faz reciclagem. Através de um consórcio municipal, vários municípios participam de um mesmo aterro sanitário. Esgoto A coleta de esgoto está presente em 55% dos municípios brasileiros. Já o tratamento desses resíduos só é feito em 29% deles. Cada município deve elaborar seu Plano de Saneamento Básico - PMSB. A coleta seletiva ainda é um desafio para o nosso saneamento básico. A tarefa da CFE é fazer com que o saneamento básico seja a prioridade número um para os poderes públicos e para a população. O direito e a justiça O lema da CFE foi tirado da profecia de Amós: “Quero ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que
corre sempre. Uma fonte sempre jorrando, que impulsione nossas Igrejas a cuidarem do bem-estar das pessoas, a deixarem de lado uma religiosidade de fachada e distante das reais necessidades do povo. Deus não se agrada de ricas e bonitas celebrações quando elas desviam a atenção do povo das enormes injustiças sociais e ambientais. Bem nos recorda o profeta Oséias: “Pois eu quero amor, e não sacrifícios, conhecimento de Deus mais do que holocaustos”. (Os 6,6.) O lema desta CFE deve ser uma mística que alimente uma espiritualidade libertadora. Esta espiritualidade é a incorporação da sensibilidade de Deus que vê, ouve, conhece e desce para libertar seu povo (cf. Ex 3,7-8). Palavra do Papa Francisco: “Qualquer solução técnica que as ciências pretendam oferecer será impotente para resolver os graves problemas do mundo [...]; será preciso fazer apelo aos crentes para que sejam coerentes com a sua própria fé e não a contra[ 8 • olutador [ fevereiro ] 2016
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* Missionário Sacramentino de Nossa Senhora, trabalha com formação e animação de comunidades, MOBON, Dom Cavati, MG. E-mail: jresendesdn@yahoo.com.br
Igreja Hoje [ Precisamos garimpar...
O Coaching na evangelização Dom Edson José Oriolo dos Santos*
O
Papa Francisco nos deu a exortação apostólica Evangelii Gaudium (EG) como ecos das proposições do Sínodo sobre a “Nova Evangelização para a Transmissão da Fé Cristã”. Mas, para surpresa, ele responde, nesta exortação, à sua leitura atual sobre a situação da Igreja no mundo e as intervenções feitas no conclave, em 2013.
Fala sobre o anúncio do Evangelho no mundo atual e solidifica a máxima da “Igreja em saída”. A Igreja “em saída” é uma Igreja com as portas abertas. Sair em direção aos outros para chegar às periferias humanas não significa correr pelo mundo sem direção nem sentido (cf. EG 46). Significa que todos podem participar, de alguma forma, da vida eclesial. Todos podem fazer parte da comunidade, e nem sequer as portas dos sacramentos se deveriam fechar por uma razão qualquer (cf. EG 47). Penso que esta máxima revela sinais da eclesiologia do Papa Francisco que tem suas raízes nas considerações do Vaticano II, aprofundadas na
Conferência de Aparecida. Na expressão “Igreja em saída”, constatamos o acento eclesiológico da missionariedade. Manifesta uma eclesiologia conciliar quando afirma uma Igreja povo de Deus, povo escolhido, convocado, com a missão de ser fermento de Deus no meio da humanidade (cf. EG 113-114). Nesta dinâmica, exortando a uma nova evangelização na Igreja, o Papa quer que o anúncio traga algo relevante para a vida e não “quer correr o risco de falar ao vento” (EG 158). Apresenta, assim, como interlocutor um sujeito humano e histórico, criado à imagem e semelhança de Deus, que é movido pela sedução e liberdade. Francisco coloca o “humano” no centro da Evangelii Gaudium. O ser humano é “criado à imagem da comunhão divina, pelo que não podemos realizar-nos nem salvar-nos sozinhos” (EG 178). Precisamos dos outros para sermos nós mesmos, já que somos intersubjetividades. “Chegamos a ser plenamente humanos quando somos mais do que humanos, quando permitimos a Deus que nos conduza para além de nós mesmos, a fim de alcançarmos o nosso ser mais verdadeiro” (EG 8). Não sobrevivemos sem os outros, sem a natureza, sem o cosmos. O outro me convoca, me tira do fechamento em mim mesmo e, precisamente assim, permite um acesso a mim mesmo. Deus é aquele que devolve o sentido da vida, é fonte de alegria porque é amor manifestado em Jesus Cristo (EG 7). No entanto, necessitamos de aprofundar este “ser humano” para fazer a experiência cristã de Deus e fornecer ferramentas para a evangelização. Penso que o coaching pode nos ajudar nesta realidade. Coaching esolutador [ fevereiro ] 2016 • 9 ]
tá-se tornando cada vez mais conhecido no mundo da liderança, principalmente, no meio empresarial. Trata-se de um conjunto de técnicas, metodologias e ferramentas com o propósito de melhorar significativamente os aspectos da vida pessoal e profissional de alguém. O coaching ajuda no autoconhecimento, no planejamento pessoal, na potencialização de recursos, na eliminação de limitações e de bloqueios e na busca de benefícios. Acredito que contribua para transformar sonhos em realidade através da boa formulação de objetivos, da melhor compreensão do pensamento e dos estilos de comunicação entre as pessoas. Gera rapport, confiança e empatia na comunicação. Leva a reconhecer como a linguagem exerce influência sobre as pessoas, a melhorar a autoimagem e a autoconfiança. Capacita o profissional para gerenciar o seu próprio desempenho e preparar pessoas para lidar melhor com as mudanças ocasionadas pelo desenvolvimento do seu potencial. Destarte, precisamos garimpar, nesta metodologia de resultados, sinais, luzes, caminhos, métodos, ações para que possa ajudar “a paróquia a não se tornar uma estrutura complicada, separada das pessoas, nem um grupo de eleitos que olham para si mesmos” (cf. EG 28). Esta metodologia de resultados vai fornecer ferramentas para a paróquia ser “comunidade de comunidades, santuário onde os sedentos vão beber para continuarem a caminhar, e centro de constante envio missionário” (EG 28), o que significa um apelo para abraçarmos o projeto da CNBB: “Comunidade de comunidades: uma nova paróquia”.] * Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte, mestre em Filosofia Social pela PUC Campinas. E-mail: edsonoriolo@uol.com.br
Igreja Hoje [ Em quê o Vati
De uma Igreja-massa a uma Igreja-comunidade P e . Ag e n o r B r i g h e n t i
F/reprodução
E
[ 10 • olutador [ fevereiro ] 2016
m sua “volta às fontes” bíblicas e patrísticas, uma das grandes mudanças do Vaticano II foi o resgate de uma “Igreja-comunidade’ e a consequente superação do velho e caduco modelo de uma “Igreja -massa”. Da nova autocompreensão da Igreja como Povo de Deus, veio a passagem do binômio clero-leigos para comunidade-ministérios, o surgimento da pastoral orgânica e de conjunto, a criação dos secretariados diocesanos de pastoral, dos conselhos e assembleias, das equipes de coordenação dos diferentes serviços e níveis da Igreja, enfim, os planos de pastoral, fruto de processos participativos. Na América Latina, a Igreja foi mais longe na recepção da renovação conciliar. Superando a paróquia tradicional, lançou-se na criação das comunidades eclesiais de base, segundo Medellín (1968), “focos de evangelização e célula inicial da estruturação eclesial”. (Med 6,1.) Hoje, passados cinquenta anos, depois de se ter avançado bastante, nas últimas décadas entramos num processo de “involução eclesial” em relação à renovação do Vaticano II, ainda que recentemente atenuado com instauração de um pontificado novo. Muitos padres, com determinados movimentos de Igreja, têm ressuscitado a velha Igreja barroca: uma Igreja massa, visi-
uê o Vaticano II mudou a Igreja [ 4 ] bilidade, prestígio e poder. Na contramão do modelo eclesial neotestamentário, em lugar de multiplicar o número das pequenas comunidades, preferem aumentar o tamanho de seus templos. Da Igreja doméstica às paróquias massivas Os primeiros cristãos haviam entendido muito bem que a fé cristã é “eclesial”, isto é, vivência em comunidade da vida e obra de Jesus, que é o Reino de Deus. Quem aderia a Jesus e à Boa Nova, se juntava com os companheiros de fé, conformando pequenas comunidades, que se reuniam nas casas – a domus ecclesiae – ou a “Igreja domés-
cristianismo da mais alta qualidade. A prática da caridade causava admiração até ao Imperador. As escolas de catecumenato geravam cristãos convertidos, com espírito de pertença e profetismo. E o sangue dos mártires era semente de novos cristãos (Tertuliano). Com a anexação do cristianismo à sorte do Império romano e as “conversões” em massa, rapidamente, já no século V, praticamente se perdeu tudo isso. As pequenas comunidades incharam de cristãos não-convertidos. Da Igreja nas casas, se passa para as paróquias, grandes templos, nos quais a assembleia dos irmãos vira massa anônima. Os fiéis, antes membros ativos
O desafio é muito maior do que simplesmente “renovar a paróquia”. Renovar a paróquia é partir dela, criando “grupos” dentro da matriz e das capelas, sem que se chegue a configurar uma Igreja-rede de pequenas comunidades tica”. Os primeiros cristãos viviam a fé em pequenas comunidades não porque eram poucos. Tanto que, quando o número de pessoas da comunidade crescia, em lugar de aumentar o tamanho da casa, repartiam a grande comunidade, criando outras pequenas comunidades. No final da era apostólica, só em Roma, havia mais de quarenta destas Igrejas pequena-comunidade. Como atestam os Atos dos Apóstolos, as pequenas comunidades permitiam aos cristãos serem assíduos na oração e partilha, tendo tudo em comum. Não que as primeiras comunidades não tivessem defeitos e problemas. Mas foi por causa deste modelo de Igreja que, nesse tempo, tivemos um
de comunidades, passam a ser clientes que só vêm à Igreja para receber os sacramentos. A maioria dos ministérios, inclusive o diaconato, desapareceu. A Igreja passa a ser os bispos e os padres, que comandam a massa dos cristãos (cristandade). A vida cristã tende a se restringir ao espaço intraeclesial, a atos de culto. É a denominada por Medellín, “pastoral de conservação”, que reinará do início da Idade Média até à renovação do Vaticano II. Da paróquia a uma Igreja de pequenas comunidades Para uma Igreja-comunidade, o Vaticano II propõe renovar a paróquia. A Igreja na América Latina foi mais ouolutador [ fevereiro ] 2016 • 11 ]
sada, assumiu o desafio de reconfigurá -la, a partir das comunidades eclesiais de base. Toma-se consciência de que a Igreja só será verdadeiramente comunidade se for comunidade de pequenas comunidades. Uma comunidade eclesial, para ser realmente comunidade, precisa ter tamanho humano, condição para a ministerialidade e a corresponsabilidade de todos. Para Medellín, não é a paróquia a unidade eclesial mais básica, mas as CEBs, denominada a “célula inicial da estruturação eclesial”. Para Aparecida, as CEBs descentralizam e articulam as ‘grandes comunidades’ impessoais ou massivas em ambientes simples e vitais. Elas são fonte e semente de variados serviços e ministérios, a favor da vida, na sociedade e na Igreja”. (DAp 179.) Consequentemente, o desafio é muito maior do que simplesmente “renovar a paróquia”. Renovar a paróquia é partir dela, criando “grupos” dentro da matriz e das capelas, sem que se chegue a configurar uma Igreja-rede de pequenas comunidades. Grupos e movimentos não são comunidade, são grupos. Podem e até precisam existir, mas desde que seus membros estejam dentro da comunidade. Na realidade, o verdadeiro desafio consiste em “reconfigurar a paróquia”, o que implica em repensá-la a partir das comunidades eclesiais de base ou das pequenas comunidades, inseridas profeticamente no seio da sociedade. O resultado deste processo, até pode continuar sendo chamado de “paróquia”, mas será outra coisa totalmente distinta, uma reconfiguração da Igreja no seio da Igreja Local, fruto do resgate do modelo normativo neotestamentário da domus ecclesia. Numa sociedade fundada no “triunfo do indivíduo solitário”, não se trata de uma tarefa fácil. O Papa Francisco, na Evangelii Gaudium, fala de uma “crise do compromisso comunitário”, algo contracultural, que encontra resistência, quase generalizada. Entretanto, o cristianismo é portador de uma diferença, que precisa fazer diferença.]
Religião [ Quais são as obras de misericórdia?...
F/album pessoal do autor
As 14 obras de misericórdia
F r e i Pat r í c i o Sc i ad i n i , o c d
D
esde o início do seu pontificado, o Papa Francisco se apresentou como o Papa que vem do fim do mundo, o Papa dos pobres e da misericórdia. Um dia ele disse publicamente: “Estou lendo um livro de um meu irmão cardeal, sobre a misericórdia, e me faz muito bem”. Este irmão cardeal é o Cardeal Walter Kasper, que escreveu “As 14 obras de misericórdia”, sem dúvida um livro belo e interessante, que todos deveríamos ler. Não sei se foi publicado em português, porque agora vivo na terra das pirâmides, no Egito. Eu li o livro e me fez e me faz bem, para compreender o que é a misericórdia, uma palavra que se presta a interpretações sentimentais ou a uma leitura distante da vida, que não toca o nosso coração. Na verdade devemos fazer desta palavra, neste Ano da Misericórdia, uma chave de leitura e de prática da vida de todos os dias.
Deus não pode deixar de ser o Deus misericordioso, isto é, que se abaixa sobre os sofrimentos do ser humano e desce para libertar-nos de todo mal, dá-nos um coração de carne, cheio de ternura e de bondade. A misericórdia não pode ser um sentimento que nos comove um minuto e, depois, voltamos a ter um coração de pedra, duro. O profeta Ezequiel nos fala de um transplante de coração: “tirarei o teu coração de pedra e te darei um coração de carne”. Uma imagem forte da palavra de Deus. Terrível é ter um coração de pedra, isto é, um coração que se comove por um minuto e, depois, esquecemos. São lágrimas de crocodilo e uma pele de jacaré.
A porta da misericórdia, que deve ser aberta, não é só a da Igreja, mas especialmente a porta do nosso coração Durante este ano devemos praticar todos os meses duas obras de misericórdia, uma obra de misericórdia corporal e uma espiritual, e escolher um mês em que devemos viver quatro obras. Mas sabemos quais são as obras de misericórdia? Às vezes as conhecemos mais ou menos, mas não em profundidade, e não falam forte ao nosso coração e sensibilidade. Ei-las: Obras de misericórdia corporais: dar de comer a quem tem fome; dar [ 12 • olutador [ fevereiro ] 2016
de beber a quem tem sede; vestir os nus; dar abrigo aos peregrinos; assistir aos enfermos; visitar os presos; enterrar os mortos. Obras de misericodia espirituais: instruir; aconselhar, consolar, confortar, perdoar, suportar com paciência e rogar pelos vivos e pelos mortos. Não e difícil recordá-las. E sempre encontraremos ao nosso lado pessoas que têm necessidade de nossa ajuda. Mas, especialmente, devemos reconhecer que nós somos as primeiras pessoas que necessitamos de encontrar alguém que tenha misericórdia de nós e nos estenda a sua mão para levantar-nos do desânimo, do sofrimento, e retomar o caminho com esperança e com alegria. Pode ser que, durante este ano, nós vamos meditar juntos estas obras, para poder praticá-las melhor. Vamos, portanto, gravá-las no coração e na mente. Se nós paramos um pouco e observamos com os olhos do coração a vida que nos circunda, vemos que o ser humano é cada vez mais “adorador das leis, da justiça”. Escuta-se por aí uma frase terrível: “errou, deve pagar!” A linguagem de Deus é diferente: “errou, está perdoado, recomece o caminho... e pague um pouco para não cair de novo”. É a linguagem da misericórdia. A porta da misericórdia, que deve ser aberta, não é só a da Igreja, mas especialmente a porta do nosso coração, para que todos os que esperam o nosso perdão possam encontrá-lo, recebê-lo. E nós receberemos o perdão de Deus e dos que temos ofendido. A cada dia, somos ofendidos e ofendemos. E o único remédio é o perdão.]
Religião [ Ouvido o chamado...
A
Em baixa desde os anos 60, as vocações à vida consagrada começam a surgir de novo. Os jovens são os mais sensíveis a esse apelo
explosão de rebeldia dos anos 60, a maré baixa do pós-Concílio, a onda materialista, a inundação do hedonismo e a descristianização das famílias têm sido apontadas como causas da falta de vocações religiosas. Mas as coisas estão mudando. Muitas instituições registram um crescimento vocacional, seja nas congregações tradicionais, seja no seio das Comunidades Novas. Um exemplo é o da Comunidade Aliança de Misericórdia, com sede em São Paulo. Em 7 anos de existência, os fundadores já haviam atraído 300 jovens missionários, muitos deles com formação universitária. Hoje, com 15 anos de vida, a Comunidade já conta com 11 sacerdotes ordenados e vários seminaristas a caminho das ordens. Outra fonte inesgotável de vocações consagradas é o Caminho Neocatecumenal, que rapidamente se espalhou por todo o planeta. Autorizado pela Santa Sé, abriu seus próprios seminários, já insuficientes para acolher os candidatos. No dia 26 de março de 2010, em Roma, 320 rapazes e 200 moças do Caminho Neocatecumenal acolheram o chamado a doar totalmente suas vidas ao Senhor, com vistas ao sacerdócio e à vida monástica. Participaram do encontro, na praça S. Pe-
F/reprodução
Vida Consagrada: os jovens respondem... dro, em preparação à XXV Jornada da Juventude - JMJ, mais de 26 mil jovens. Deus continua chamando Se os candidatos ao sacerdócio e à vida consagrada estavam escassos, não é porque Deus não estivesse chamando. Recente pesquisa realizada por Opinion Way, a pedido da Conferência dos Religiosos e Religiosas da França, publicada com exclusividade pelo jornal católico “La Croix”, revelou que a imagem da vida religiosa tem evoluído favoravelmente naquele país, em especial entre os jovens.
Os dados podem impressionar Dez por cento dos franceses já pensaram em ser monge ou freira. O percentual sobe a 15% entre os jovens na faixa de 18 a 24 anos de idade, e a 14% entre 18 e 24. Conforme diz o Pe. Jean-Pierre Longeat, “ainda que, para alguns, tenha apenas aflorado em seu espírito, isto quer dizer que as vocações existem”. A escolha que assusta Ouvido o chamado, as dificuldades se oferecem, diz a pesquisa: o desejo de formar uma família (58%), o medo de se comprometer por toda a vida (25%) ou de não conseguir ser fiel aos compromissos assumidos (12%). O aspecto radical olutador [ fevereiro ] 2016 • 13 ]
da vida a ser assumida elimina previamente muitos eventuais candidatos. No entanto, entre os jovens que acolheram o chamado e professaram os votos religiosos, a imagem é bem positiva: sentem-se úteis à sociedade (85%) e próximos da realidade (93%). Predomina o sentimento de que sua vida e seu ministério são realmente preciosos. Segundo o Anuário Pontifício 2013, “o número de padres passou de 405.067 em 2001 para 413.418, dez anos depois, aumento sustentado pelos continentes africano (39,5%) e asiático (32,0%), que compensam a diminuição de sacerdotes na Europa (menos 9%). Esta tendência deverá manterse nos próximos anos, dado que há mais seminaristas em todo o mundo (7,5%), com destaque para África (30,9%) e Ásia (29,4%); na Europa, os candidatos ao sacerdócio são menos 21,7% do que em 2001”. Entre os fatores que teriam reanimado as vocações entre jovens, são apontados a ação da pastoral vocacional, a Jornada Mundial da Juventude, os encontros de Taizé, retiros e peregrinações. (ACS)]
Bíblia [ Os católicos tiveram que recuperar o tempo perd
Relembrando
a Dei Verbum 50 anos depois D o m Pau l o Jack s o n N . S o u s a*
P
arece bastante natural que, hoje, tenhamos duas mesas nas igrejas – a mesa do pão (altar) e a mesa da palavra (ambão) – com igual dignidade. Mas, houve tempo em que não foi assim. Até pouquíssimo tempo, a Igreja continuava a assegurar a autoria de Moisés para o Pentateuco e novelas edificantes presentes na Bíblia eram tidas como livros absolutamente históricos. A Bíblia, no século XVI, foi tomada como elemento de identidade das Igrejas da Reforma. Fazendo a sua própria reforma, a Igreja Católica, no início, teve dificuldade de lidar com a Bíblia, ao menos no que diz respeito ao grande público. Ela estava presente em conventos, mosteiros e seminários. Era praticamente coisa para bispos e padres. Somente recentemente é que começou a ser devolvida ao povo.
O processo de redação da Dei Verbum é talvez o mais conturbado do Concílio Vaticano II. Passou por sucessivas etapas e por muitas disputas Entre as Igrejas da Reforma, a exegese bíblica científica começou bem antes. Os católicos tiveram que recuperar o tempo perdido. O surgimento, o avanço e o uso maciço de algumas ciências, tais como a crítica textual e literária, a filologia, a hermenêutica, a arqueologia, a história, a epigrafia, [ 14 • olutador [ fevereiro ] 2016
a história das religiões comparadas, entre outras, deixou um legado importantíssimo para a redescoberta da Bíblia no ambiente católico. Na Segunda Guerra mundial, católicos e evangélicos se colocaram diante do absurdo e do horror do Nazismo. Houve uma nova busca de sentidos. Per-
F/reprodução
mpo perdido...
cebeu-se que o inimigo era outro e que as várias igrejas e comunidades cristãs tinham muito mais pontos em comum do que discordantes. Nos campos de concentração ou na clandestinidade, tentando reler as origens da Europa destruída por duas grandes guerras, surge um imenso movimento ecumênico em favor da paz. Percebe-se que a vida humana está acima dos credos. E a Palavra de Deus vai sendo gradativamente descoberta como veículo promotor deste movimento em favor da unidade. Assim, o movimento bíblico se associa ao movimento ecumênico. A Providentissimus Deus convidou os estudiosos católicos a adquirirem competência científica para o estudo da Bíblia por meio do conhecimento das línguas antigas e da exegese científica. A Divino Afflante Spiritu destacou o alcance teológico do sentido literal e dos gêneros literários, ligando, assim, a interpretação científica da Bíblia com o objetivo pastoral e espiritual. O sentido espiritual deve apresentar
garantias de autenticidade: a simples inspiração subjetiva não é suficiente. Numa palavra: a Igreja afirma Jesus Cristo, Deus e homem. Estas duas encíclicas rejeitam a ruptura entre o humano e o divino, entre a investigação científica e o olhar da fé, entre o sentido literal e o sentido espiritual, mantendo-se a plena harmonia do Mistério da Encarnação. Esse é o clima que predomina na preparação da Dei Verbum, o documento sobre a revelação e a Palavra de Deus do Concílio Vaticano II. O processo de redação da Dei Verbum é talvez o mais conturbado do Concílio Vaticano II. Passou por sucessivas etapas e por muitas disputas. O Concílio foi anunciado no dia 25/01/1959 por João XXIII. Ficou logo claro que o Papa queria um concílio com índole pastoral. Foram criadas as comissões de trabalho, entre elas, a Comissão Teológica, responsável pela reflexão sobre a revelação. Mas havia outra força que refletia a partir da Palavra de Deus: o Secretariado para a Unidade dos Cristãos, tendo à frente o Cardeal Bea. O primeiro esquema para a Dei Verbum, preparado pela Comissão Teológica, chamou-se De fontibus Revelationis [Sobre as fontes da Revelação]. Foi duramente criticado por amplos setores do episcopado por dois motivos: segue a ideia de uma Igreja inimiga da modernidade; era um típico produto da concepção escolástica, sem preocupação pastoral. Em suma, o esquema era uma traição da intenção do Papa, pois não fugia ao antiprotestantismo ultrapassado. As críticas vieram, sobretudo, de teólogos germânicos – entre eles: Schillebeeckx, Rahner e Ratzinger –, da parte do Secretariado para a Unidade dos Cristãos e dos episcopados da Europa Central, especialmente Alemanha, Holanda, França e Bélgica. Muitos estavam descontentes com o centralismo curial e com a preparação do Concílio como tal. O esquema não resistiu. Se você quiser saber o que aconteceu depois deste primeiro esquema da Dei Verbum, leia o artigo da próxima edição.] * Bispo da Diocese de Garanhuns e Doutor em Teologia Bíblica
olutador [ fevereiro ] 2016 • 15 ]
Livro indicado [ Concílio Vaticano II ] – 2ª edição –
henrique cristiano josé mattos
A celebração dos 50 anos da Abertura do Concílio Vaticano II (11-101962), oferece uma oportunidade singular para conhecermos, em maior profundidade, sua história e seu riquíssimo legado. Mergulhar na herança do Vaticano II nos faz ser mais Igreja, tornando-nos homens e mulheres que querem ser verdadeiros discípulosmissionários, experimentando que exatamente nessa condição serão felizes e encontrarão o sentido pleno de sua existência. FORMATO: 17x24cm, 160p.
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P
esquisas diversas têm mostrado que, depois de Deus, a família ocupa o primeiro lugar no coração das pessoas. Assim também compreende o Documento de Aparecida ao considerar a família “o valor mais querido por nossos povos” (DAp, 435). O Instrumentum Laboris do Sínodo Ordinário foi além: “Um grande número de Conferências Episcopais faz notar que, onde se transmite com profundidade o ensinamento da Igreja (sobre a família), com a sua genuína beleza humana e cristã, este é acei-
P e . Seb a s t i ão S a n t´A na S i lva , SDN *
to com entusiasmo por grande parte dos fiéis”. (IL, 13.) Por sua vez, o Papa não se cansa de pedir que, com linguagem atraente e jubilosa, seja anunciada às novas gerações esta Boa Nova da família. O Papa e a Igreja fazem o apelo Na homilia de abertura do Sínodo Ordinário da Família (4/10/2015), o Papa Francisco já destacava a importância da formação das novas gerações “para viverem seriamente o amor, não como pretensão individualista baseada apenas no prazer e no ‘usa e jo-
[ 16 • olutador [ fevereiro ] 2016
ga fora’, mas para acreditarem novamente no amor autêntico, fecundo e perpétuo, como o único caminho para sair de si mesmo, para se abrir ao outro, para sair da solidão, para viver a vontade de Deus, para se realizar plenamente, para compreender que o matrimônio é o espaço onde se manifesta o amor divino, para defender a sacralidade da vida, de toda a vida, para defender a unidade e a indissolubilidade do vínculo conjugal como sinal da graça de Deus e da capacidade que o ser humano tem de amar seriamente”.
f/familia ANTONIO VITTI
Transmitir a Boa Nova da família às novas gerações
Família [ Queridas famílias, alegrai-vos... No discurso de encerramento (24/10/2015), sugeriu “uma pastoral familiar renovada, que esteja baseada no Evangelho e respeite as diferenças culturais; uma pastoral capaz de transmitir a Boa Nova com linguagem atraente e jubilosa e de tirar do coração dos jovens o medo de assumir compromissos definitivos”. O que Jesus Cristo traz à família? O Papa Francisco, ao convocar os dois Sínodos sobre a família (2014 e 2015), pediu que as assembleias sinodais não se reduzissem a debates sobre as crises impostas pela cultura atual, mas que se buscasse, acima de tudo, oferecer a “Alegria do Evangelho” às famílias concretas, sofridas, mergulhadas em crises profundas, para que elas tenham um horizonte de esperança e possam vislumbrar o projeto maior, que Jesus Cristo lhes oferece. Não é ópio nem propaganda enganosa. Sobretudo aos jovens deve ser anunciado que, no projeto de Jesus, estão incluídos não só desafios, sofrimentos, cruzes, calvários, mas a alegria do verdadeiro amor, do sentido pleno da vida, da liberdade, da felicidade presente e futura, da colaboração na obra do Criador e Redentor, da identidade “divina” da qual a família é chamada a ser sinal. “Família, torna-te aquilo que és!” – é o convite de São João Paulo II (FC, 17), ao mostrar que, no plano divino, a família descobre a sua identidade (ser comunidade de vida e de amor) e sua missão (revelar e comunicar o amor de Deus pela humanidade e o amor de Cristo pela Igreja, sua esposa). Na Carta às Famílias [1994], afirmava: “À luz do Novo Testamento, é possível entrever como o modelo originário da família é buscado no próprio Deus, no mistério trinitário da sua vida. O Nós divino constitui o modelo eterno do nós humano; daquele nós, antes de tudo, que é formado pelo homem e pela mulher, criados à imagem e semelhança divina”. (Nº 6.)
Unidos Eucaristia e Matrimônio Dom Jean Lafitte, secretário do Pontifício Conselho para a Família, em conferência em Salvador, Bahia (7/10/11), destacou a contribuição de Bento XVI para realçar a Boa Nova da família. Na Exortação pós-sinodal Sacramentum Caritatis – sobre a Eucaristia, fonte e ápice da vida da Igreja (22/02/2007) –, o Papa emérito consagrou três parágrafos (27–29) à união inseparável entre Eucaristia e Matrimônio. Mostrou, em primeiro lugar, a Eucaristia como sacramento nupcial; em seguida, o laço que une a Eucaristia ao Matrimônio, de um
[ O Papa não se cansa de pedir que, com linguagem atraente e jubilosa, seja anunciada às novas gerações esta Boa Nova da família lado pela unicidade, de outro, pela indissolubilidade deste sacramento. O primeiro parágrafo (27) serve de fundamento aos outros dois: a Eucaristia reforça, de maneira inesgotável, a unidade e o amor indissolúveis de todo matrimônio cristão. Em virtude do sacramento, o laço conjugal é intrinsecamente ligado à unidade eucarística entre o Cristo esposo e a Igreja esposa (perfeita a referência paulina a Efésios 5, 31-32). Foram tiradas, a partir daí, duas implicações imediatas, decisivas no plano pastoral, sobre dois temas que os últimos Sínodos (2014 e 2015) não conseguiram evitar: a questão da olutador [ fevereiro ] 2016 • 17 ]
poligamia e a questão dos divorciados em segunda união. “O parágrafo 28 fundamenta, com muita sutileza de expressão, a incompatibilidade entre a prática poligâmica, referindo-se à qualidade exclusiva da união Cristo-Igreja: o laço fiel, indissolúvel e exclusivo, que une Cristo e a Igreja, e que encontra sua expressão sacramental na Eucaristia, descobre esse dado antropológico original, pelo qual o homem deve estar unido, de modo definitivo, a uma só mulher, e vice-versa.” O testemunho das famílias Papa Francisco, Bento XVI, São João Paulo II, Beato Paulo VI, o Concílio Vaticano II (Gaudium et Spes), os Sínodos da Família (2014 e 2015), o Documento de Aparecida e todo o magistério da Igreja, todos têm ressaltado a importância do testemunho alegre e entusiasta das famílias cristãs. Isto pode significar muito para que as novas gerações possam acreditar na Boa Nova da família. Encerramos com um trecho da mensagem de Bento XVI às famílias de Zagreb, na Croácia (5/06/2011): “Queridas famílias, sede corajosas! Não cedais à mentalidade secularizada que propõe a convivência como preparação ou mesmo substituição do matrimônio. Mostrai com o vosso testemunho de vida que é possível amar, como Cristo, sem reservas, que não é preciso ter medo de assumir um compromisso com outra pessoa. Queridas famílias, alegrai-vos com a paternidade e a maternidade! A abertura à vida é sinal de abertura ao futuro, de confiança no futuro, tal como o respeito da moral natural, antes que mortificar a pessoa, liberta-a!”]
* Assessor da Pastoral Familiar e Pároco de São Sebastião, Espera Feliz, MG.
Catequese [ O ponto de partida da catequese é a vida do iniciando... P e . Va n i ld o Pa i va *
A inspiração catecumenal [2
É
na família que o catequizando convive boa parte de seu tempo e é lá que preferencialmente se dará o testemunho cristão. Descobrir meios para envolver e atingir a família daqueles que são acompanhados no processo de iniciação é de grande importância, principalmente em nosso tempo, quando nos deparamos com novas configurações familiares. Urge que a pastoral orgânica assuma o acompanhamento das famílias do iniciando, de tal modo que ela também cresça na mesma proporção e possa ser sementeira fértil, onde se desenvolvam cristãos convictos e coerentes com sua fé. Entendendo a Iniciação Cristã como essencialmente missionária, não dá para ficar entre as quatro paredes da igreja aguardando que venham a nós as famílias. Cumpre-nos imbuirnos da “mística do Bom Pastor”, que hoje certamente deixaria uma ovelha no redil para ir em busca de noventa e nove que estão dispersas e feridas pelos caminhos da história. Catequese a partir da vida e para a vida do iniciando O ponto de partida da catequese não é o livro, nem as definições teológicas, mas sim, a vida do iniciando. O acompanhamento personalizado e o bom senso do iniciador/catequista permitem uma consideração do iniciando a partir de seu contexto, de sua realidade social, econômica, política, cultural, religiosa, existencial... Se o processo de iniciação não incidir na vida, não a transformar, se envidarão muitos esforços por quase nada! Processo gradual e permanente O processo catequético precisa respeitar o desenvolvimento natural da pessoa, em seus aspectos essenciais. Absorver, introjetar e assumir certos
conteúdos fortes e relevantes demanda tempo, paciência, construção diária, foco no essencial. Por isso fala-se de catequese permanente, desde o útero materno até a hora da morte! Acolhida e sustentação do cristão no caminho de Jesus Cristo são duas dimensões que não podem ser esquecidas por nenhum itinerário de iniciação e evangelização. Mais uma vez apontamos para a necessidade de uma pastoral orgânica, centrada nos objetivos da iniciação, que proporcione ao caminhante possibilidades de se reconhecer membro da comunidade continuamente alimentado e sustentado por ela, que siga feliz o seu caminho, como aquele servo da rainha da Etiópia, evangelizado e batizado por Filipe (cf. At 8,26-39). Isso requer a sensibilidade da comunidade e do iniciador/catequista para que respeite o tempo, o “kairós” de cada iniciando, sem pressões para que tome decisões, receba sacramentos ou assuma trabalhos na comunidade. Esse elemento também reforça a ideia de uma catequese mais personalizada, que acompanhe melhor a diversidade do ritmo de crescimento de cada um, sustente itinerários diversificados conforme as várias faixas etárias dos iniciandos, e conheça as suas dificuldades no discernimento e adesão ao projeto de Jesus. [ 18 • olutador [ fevereiro ] 2016
O lugar essencial da Palavra de Deus A Palavra de Deus, escrita na Bíblia e na vida, precisa ocupar um lugar de destaque na catequese, pois o seu conhecimento e a sua meditação ajudam o iniciando a perceber a história de salvação que continua hoje e a presença constante de Deus na vida na sua história pessoal, com força de libertação. Inseridos na mais antiga e rica tradição cristã, cabenos salientar a importância da Palavra de Deus como despertadora da fé e mobilizadora de conversão: “Logo, a fé provém da pregação e a pregação se exerce em razão da palavra de Cristo”. (Rm 10,17.)
A Palavra de Deus como despertadora da fé e mobilizadora de conversão Uma catequese reducionista e a preocupação extremada com as espécies eucarísticas são responsáveis pela pouca atenção à Palavra, não reparando na veneração equiparada que o Concílio Vaticano II destacou entre as duas modalidades da mesma e única presença do Cristo, Pão do Céu a alimentar os fiéis.
o... Educação para o Ecumenismo e para o Diálogo Religioso Em um mundo globalizado e plural, no qual a diversidade é cada vez mais entendida como valor e riqueza, é de grande importância que o cristão maduro na fé assuma atitudes de respeito e valorização das diferenças individuais e de grupos, especialmente religiosos. O processo de iniciação deve colaborar na educação do cristão para que este saiba acolher o seu próximo sem preconceitos, abrir-se ao diálogo religioso e a perceber as sementes do Reino de Deus espalhadas em todos os povos e culturas. Consciente de sua fé católica, mas sem fundamentalismos ou proselitismos, a pessoa que trilha o caminho da iniciação cristã é o homem/mulher da paz, do entendimento e, sobretudo, do amor que a todos aproxima, muito além das divisões sociológicas ou culturais da religião ou de qualquer outro partidarismo.
A unidade teológica dos Sacramentos de Iniciação Cristã Nos primeiros séculos do Cristianismo, quem queria tornar-se cristão fazia uma caminhada séria de iniciação, permeada por ritos, encontros humanos, aprofundamento da Palavra, inserção na comunidade e testemunho na vida cotidiana. E os sacramentos de iniciação eram celebrados numa festa só, na solene liturgia da Vigília Pascal. Historicamente, isso muda com a obrigatoriedade do cristianismo pelo Império Romano. A unidade sacramental se fragmenta, e até hoje os sacramentos do Batismo, Crisma e Eucaristia são celebrados e, infelizmente, entendidos separadamente. Se, cronologicamente, será difícil conseguir uma unidade dos Sacramentos de Iniciação, importa que o iniciando perceba a unidade teológica que há entre eles, não fragmentando as vivências sacramentais ou isolando um do outro, sob pena de vincular-se efetivamente a nenhum deles e empobrecer a vida cristã.
Compromisso sociotransformador O princípio de interação Fé-Vida, fundamental característica da Catequese Renovada, na mais fiel tradição da Igreja latino-americana, é princípio que deve iluminar todo itinerário de iniciação cristã, garantindo que a opção preferencial de Jesus Cristo pelos pobres e marginalizados seja sempre atualizada e assumida no testemunho do cristão amadurecido e implicado com sua fé. É na vivência do compromisso sociotransformador da sua realidade que o iniciando (e iniciado!) vai dando sinais de adesão a Jesus Cristo e ao seu projeto de justiça, vida e fraternidade, especialmente em nosso continente marcado pela exclusão social e pelo desrespeito à vida de tantos irmãos empobrecidos, muitos na linha de miséria. Ênfase seja dada à defesa da qualidade de vida no planeta e a ações transformadoras que garantam ao ser humano a dignidade e a vida em plenitude. olutador [ fevereiro ] 2016 • 19 ]
Conclusão Pentecostes acontece toda vez que a Igreja acolhe, com renovado entusiasmo e ardor missionário, as inspirações do Espírito, que “sopra onde quer” e quando quer, e “renova a face” da Igreja e do mundo. Retomando um pensamento inspiradíssimo de João XXIII a respeito de seu empenho pela realização do Concílio Vaticano II, podemos fazer ecoar também hoje, quando o mesmo Espírito nos sugere mudanças, esta certeza: “Não é o Evangelho que muda; nós é que começamos a compreendê-lo melhor. Chegou o momento de reconhecer os sinais dos tempos, de aproveitar a oportunidade e olhar longe”. É hora de olharmos para um horizonte que nos encanta, ao mesmo tempo que nos atrai. Ele nos encanta, pois nos faz vislumbrar uma Igreja mais madura e mais fiel ao projeto de Jesus. Atrai-nos pela imperiosa tarefa que temos de assumir, jamais como um peso, mas sim, com paixão, gosto, afeto, arte e alegria...] * Especialista em Catequese e Liturgia e Professor do IRPAC
Juventude [ Ser Padre...
Vale a pena ser padre hoje em dia? D i o n e Af o n s o *
C
om uma inquietação bastante presente no meio dos que se dedicam à vida religiosa, Mons. Guillermo Meguizo Yepes, em vista da celebração dos seus 50 anos de sacerdócio, publica, em 2007 a sua obra “¿Vale la pena ser sacerdote hoy?” [Vale a pena ser padre hoje em dia?]. São cinquenta anos de experiência ministerial que enriquecem este livro. Yepes pretende, através de seu estilo original, suscitar uma esperança no âmbito ministerial. “Questiono-me se vale a pena ser sacerdote hoje, apesar dos pesares, apesar das circunstâncias dolorosas, apesar do contexto socioeclesial adverso, apesar do desencanto que nos invade por toda a parte.” Sua obra culmina com o encerramento do V CELAM – Conferência Episcopal Latino-americana e Caribenha – e traz reflexões pertinentes diante de um contexto histórico abrangendo a cami-
nhada da Igreja até apresentar os desafios que nos angustiam na era pós-moderna, sobretudo a crescente crise de sentido que assola o ser humano hoje. Onde fica a motivação vocacional diante disso? Como ficam os jovens de hoje, diante dessa crise de pobreza de sentido da vida? Como o sacramento da Ordem é visto hoje?
Para conduzir o povo O sacramento da Ordem é constituído de três graus: o diaconato, o presbiterado e o episcopado, sendo que estes dois últimos pertencem ao sacerdócio ministerial de Cristo. Isso significa que são sacerdotes de Cristo, pois os diáconos carregam, como afirma Aparecida, o “rosto de Cristo Servidor como modelo dos Discípulos Missionários”. Não pertencemos a um modelo piramidal de Igreja, é importante frisar com convicção isso: em Aparecida, reafirmamos a comunhão de todos, pois na Igreja todos somos discípulos missionários guiados pelo Chamado que Deus nos faz.
[ 20 • olutador [ fevereiro ] 2016
Tanto o bispo como o presbítero, o diácono, o leigo, o consagrado e a consagrada, todos vamos a caminho do seguimento de Jesus Cristo. Então, qual é a diferença? “Somos Discípulos Missionários de Jesus Cristo com vocações específicas.” A figura de Moisés, “tirado das águas” [cf. Ex 2,10] apresenta-nos este modelo de seguimento ao chamado de Deus. Moisés faz a experiência de um encontro com Deus. Uma experiência que o convida a entrar no projeto de Deus: “Moisés, Eu vi a miséria do meu povo, ouvi o seu clamor contra seus opressores, e conheço os seus sofrimentos”. (Ex 3,7.) Este encontro pessoal transformou Moisés. Deus o escolheu como um líder para conduzir o povo rumo à Terra Prometida, à liberdade. Moisés, iluminado pela Palavra de Deus, conduz o povo revelando o projeto de vida e de salvação. Deus, hoje, em sua “sarça ardente”, continua apresentando-se aos nossos jovens, revelando o seu desejo de escolher, no meio do povo, líderes para guiar o próprio povo. Eis a missão do Sacerdote, “tirado do meio do povo para servir o próprio povo”, ser um guia à sua frente, conduzindo todos rumo à terra “onde corre leite e mel”, ou seja, a um Reino de paz, justiça, e de amor. “Vocês serão para mim um reino de sacerdotes e uma nação santa. É o que você deverá dizer aos filhos de Israel.” [Ex 19,6.] O Povo de Israel foi consagrado por Deus como um Povo Sacerdotal [cf. Is 61,6]. Entre as Doze tribos de Israel, a tribo de Levi recebeu uma missão “específica”: sua função era anunciar a Palavra de Deus e restabelecer a comunhão com Ele através dos sacrifícios e da oração; “os lábios do sacerdote guardavam o conhecimento, e de sua boca se procurava o ensinamento, pois ele era um mensageiro do Senhor”. [Ml 2,7.] Diante das interpretações que a Igreja faz diante desta relação do Povo de Deus com o sacerdócio, importa perceber que fica bem claro, desde o Êxodo, desde Moisés, que a principal e “primeira missão deste escolhido por Deus é de anunciar a Palavra de Deus” [PO, 4]. Vive-se o sacramento da Ordem em
dre... mostra que não se pode separar o culto da vida e a vida do culto. E este só se torna verdadeiro quando se põe a serviço da vida, na busca da justiça e da paz. Um canto para o momento das oferendas que nos sintoniza com os apelos de conversão próprios do período quaresmal: “Eis, Senhor, a grande oferta!”]
[ As músicas desta seção podem ser baixadas no nosso site: olutador.org.br V ouça isite no ss as m úsi a pági da C e fique sa cas, baix na na inte asa d e as o M bendo letr rnet, cate obon. Tu da progr as cifra qu da a Refle ese, litu do isso e mação s, rg xão, galeri ia, grup muito m ais: os a de foto de www s... .m
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Vale a pena... Então, “vale a pena ser padre hoje em dia?” O encontro de Moisés com Deus o fez entender que sua vocação e missão consistiam em salvar a vida de seu povo, que vivia escravizado e perseguido por um tirano que não valorizava a vida, nem se importava com as dores do outro, nem de ninguém. Hoje, é possível viver essa experiência de um encontro pessoal com Cristo, mesmo que não seja no alto de uma montanha, mas que seu coração se torne essa montanha de encontro com Deus; que a sua Igreja, a sua comunidade se torne essa montanha onde Deus possa conversar com você e você possa ouvi-lo. Então, vale a pena, sim! Vale a pena abraçar com fé e coragem a missão que Deus nos confiou, seja no sacramento da Ordem, seja em outra especificidade. O importante é que, como diz Mons. Yepes, “mesmo diante de tanta falta de sentido numa sociedade fragmentada, mesmo nos deparando com tantas famílias que nos procuram desistindo da família, desistindo dos filhos, se entregando às doenças da sociedade, mesmo nos deparando com tantos jovens que nos questionam, interrogam-nos, cobramnos uma coerência de vida, ser padre é a melhor coisa que já me ocorreu. Talvez, o segredo foi fazer da minha paróquia uma montanha onde Deus pode se encontrar com seu povo, com as famílias, com os casais, com os jovens, com todos!” Então, jovem? Quer fazer uma experiência de Deus no rumo da Vida Religiosa Consagrada? Venha! Estamos esperando por você!]
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comunidade como povo de Deus é convidada a preparar a mesa da grande oferta que é Jesus, o Filho amado do Pai. O chamado à conversão se torna claro e exige conversão, que passa pelo cuidado da terra e pela busca da justiça. Se, na ceia, Jesus se dá no pão e vinho, ele mesmo nos
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prol de outrem, ou seja, para levar à salvação ao outro que nos surge. A Ordem nos lança, através de uma convivência coerente, convicta e edificante, a anunciar Jesus Cristo. O padre não ensina a sua própria sabedoria, “mas a Palavra de Deus, convidando a todos, pela sua pregação - onde se anuncia o Mistério de Cristo aos que creem; pela transmissão da Sagrada Escritura - e pelo estudo, à luz de Cristo, dos problemas que surgem, à conversão e à santidade” [PO, 4].
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Encontro Matrimonial [ Qualidades fundamentais...
2016 Ano do Convite
Um momento especial para casais [1 R eg i o n a l S u l III – S í n tese
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ada um de nós que fez o Fim de Semana (FDS) do Encontro Matrimonial Mundial – EMM, já ouviu a frase: “Levar o FDS ao maior número possível de pessoas”. No entanto, temos muitas dificuldades de concretizar este pedido. Divulgamos em igrejas, distribuímos panfletos, mas ficamos esperando que as pessoas nos procurem e, como isso não acontece, nos decepcionamos e mais uma vez deixamos de partilhar esta bela experiência com tantos casais, fora o investimento feito, despesas de aluguel da casa de retiros etc. Um erro muito comum entre nós é utilizar o mesmo tipo de argumento e abordagem com todos os casais como se fossem todos iguais. Casais diferentes se sensibilizam com argumentos diferentes e, portanto, precisam de uma comunicação distinta para serem sensibilizadas. Existem três tipos de pessoas com relação à forma como captam e organizam sua visão de mundo: Pessoas visuais, auditivas e sinestésicas.
Pessoas visuais São do tipo: “é preciso ver para crer”. Percebem melhor o mundo através de imagens. Só após verem de fato o produto e observarem todos os seus detalhes visuais é que conseguirão tomar decisões. Costumam incluir em suas conversas, expressões como: “o dia está azul”, “deixa eu te mostrar uma coisa”, “a situação está preta” e “é preto no branco”. Com estas pessoas, é preciso incluir os mesmos tipos de argumentos visuais que elas utilizam: as imagens. Só assim conseguiremos sensibilizá -las para aquilo que queremos. Exemplo: ter algumas fotos do EMM com grupos grandes, casais muito felizes, frases com depoimentos, panfletos, algum depoimento de alguém que fez o FDS ou, se o ambiente e tempo permitir, pequenos vídeos do Encontro.
Pessoas auditivas Precisam “ouvir para crer”. Para estas pessoas, ouvir uma argumentação é mais importante do que ver uma imagem. Interessa a maneira como são proferidas as palavras e como o som é utilizado na argumentação. Elas preferem mais ouvir os argumentos relacionados aos benefícios que o Encontro irá lhe trazer. Estas pessoas utilizam expressões como: “ouça aqui uma coisa”, “deixa eu te contar”, “preste atenção no que digo”, “me fala uma coisa”, que mostram como é sua forma de expressar. Exemplo: Teremos que argumentar com convicção a mudança de vida que casais tiveram, como fulano estava até separado e voltou, outros estavam vivendo juntos e quiseram casar-se, outro era agressivo em casa e agora até os filhos perceberam a grande mudança... Pessoas sinestésicas Preferem as “sensações do corpo”. Comunicam-se mais através da ação corporal, pelo sentimento, inclusive as táteis, viscerais e emocionais. A visceral é uma reação emocional intensa, que brota do mais profundo do interior da pessoa. O tipo sinestésico exagera nos abraços, beijos, carinhos, fazendo ser notado através de algum movimento ou barulho. Percebe o mundo através do sentido tátil. Utiliza frases como: “estou sentindo um peso em minhas costas”, “a barra está pesada”,
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“a coisa vai esquentar”; “estou me sentindo leve depois desta notícia” e outras que identificam o sentido tátil. A estas pessoas devemos facilitar o acesso, fazê-las tocar, sentir em suas mãos. Ao invés de falar, primeiro abrace, bata nas costas, coloque nas mãos deles fotos, vídeos de casais bem felizes que fizeram o Encontro. Para se comunicar bem com todos existem duas qualidades fundamentais: – Sensibilidade: é necessário que prestemos atenção ao comportamento de cada pessoa, observando sua linguagem, as expressões que utilizam, a forma como processam as informações para distinguir com qual tipo de pessoas estamos lidando; – Flexibilidade: é preciso desenvolver uma comunicação adequada àquela pessoa, acompanhando sua linguagem e sua forma de se expressar e compreender o mundo. Aprender a utilizar argumentos diferentes para pessoas diferentes é a melhor forma que temos para obter sucesso, para facilitar os trabalhos e cumprirmos com nossa meta de passar todo este ano fazendo convites permanentes para lotarmos nossas casas nos FDS e outras Formações. Reunimos uma equipe de vendedores profissionais de produtos de saúde e formadores para executivos, que nos deram boas dicas de sensibilização das pessoas, levando em conta as percepções acima. Veremos no próximo artigo.]
Família Julimariana [ O compromisso social...
O catequista da misericórdia de Deus Pe. Marcos Antônio A. Duarte, SDN*
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e. Júlio Maria De Lombaerde foi um catequista por excelência. Sua missão foi marcada pela tarefa de instruir, apresentar o caminho da fé, tomar o fiel pela mão e levá-lo a Deus. Na Holanda e na Bélgica, temos relatos de suas catequeses, nas várias missões pregadas por ele e seus companheiros.
F/arq., sdn
Um catequista que interagia com o grupo Em Macapá, AM, junto às crianças, adultos e anciões, fez todo um movimento ca-
Não sei!… Que o digam os fisiologistas e psicologistas. O que sei é que não me esqueço de Natal. O que sinto é que continuo a amar aqueles e aquilo que lá amava. O que experimento é que o corpo pode ausentar-se sem que o coração se desprenda do lugar. [...] Quando se apresenta qualquer reunião de homens, penso em meus queridos homens da Liga Católica. Quando presencio um grupo de crianças, penso em meu grupo alegre de criancinhas do Catecismo. Quando estou pregando em qualquer igreja, meu olhar procura na multidão qualquer conhecido de Natal.” [Diário de Na-
tequético de apresentar a beleza da fé cristã. No Rio Grande do Norte, em Alecrim, reuniu 540 homens da Liga Católica, trabalhou com eles as verdades da fé a ponto de contagiá-los no caminho do seguimento a Jesus Cristo. Esse trabalho o animou tanto, que o Servo de Deus deixou vazar de seu coração o seguinte sentimento: “Coisa curiosa é a saudade! Tudo perde o seu valor, o seu brilho, a sua arte e o seu entusiasmo, para só deixar aparecer num como nimbo glorioso, aquilo que se ama e que se colocou no altar do seu coração. Nem eu mesmo julgava estar tão identificado com as pessoas e coisas de Natal. Coloquei Natal no centro do meu coração… ou o meu coração ficou preso em Natal?
tal – artigo, escrito depois de sua chegada a Manhumirim.] Pe. Júlio Maria não só transmitia uma doutrina, criava verdadeira amizade com seus catequizandos. Acreditamos que o apogeu dessa prática aconteceu em Manhumirim, MG. A Paróquia do Senhor Bom Jesus tornou-se o seu grande centro catequético. Foi do púlpito da Igreja Matriz que anunciou as mais belas catequeses sobre os mistérios de Cristo, a espiritualidade eucarística e mariana, os sacramentos, a vida litúrgica, o compromisso social dos cristãos.
Catequese do Deus Misericordioso De suas catequeses, centremos nosso olhar sobre o tema da misericórdia de Deus por olutador [ fevereiro ] 2016 • 23 ]
estarmos no Ano Santo da Misericórdia. Valioso é o ensinamento do Servo de Deus, quando nos diz que o melhor atributo dado a Deus não é dizer que Ele é todo-poderoso, onipotente, onisciente... Mas, sim, que Ele é misericordioso. “Deus é a própria misericórdia, sendo este o atributo de que mais se glorifica: ‘Misericórdia eu quero, não sacrifícios’”. (Mt 12,7.) Pe. Júlio Maria nos lembra que a misericórdia é o jeito próprio de Deus revelar sua bondade. Por isso afirma: “A misericórdia é uma manifestação da bondade de Deus. Concedendo favores aos que não os merecem, esta bondade intitula-se graça; e dando auxílio aos que sofrem, chamase misericórdia”. Para salientar a imensa misericórdia de Deus, ele repetiu o ensinamento de São Leonardo do Porto Maurício: “A mãe seria menos apressada em socorrer a seu filho caído no fogo, do que Deus em socorrer a um pecador arrependido”. Deus tem pressa em perdoar, em ser misericordioso com todo aquele que se arrepende. Por isso Deus não espera o pecador; como na parábola do Pai misericordioso, ele mesmo vai e corre ao encontro do filho arrependido. A misericórdia de Deus é ilimitada. Ela sempre nos alcança. Não podemos temer pedir a Deus o seu perdão: “Ó homens, temos que confessar ser Deus bastante bom e misericordioso para perdoar os nossos crimes. E a sua bondade se estende a tanto, que temos todo o direito, e até o dever, de alimentar em nós esta esperança de que Ele nos perdoará todas as nossas fraquezas, pois os nossos crimes não chegam às suposições que acabamos de ouvir”. Aproveitemos o Jubileu da misericórdia de Deus, para nos aproximarmos deste Deus Misericordioso a partir do Servo de Deus, o Pe. Júlio Maria, que nos ensina em suas catequeses que a misericórdia é o melhor caminho para experimentar e conhecer quem é, de fato, Deus.] * Pároco de Manhumirim, MG e Mestre em Teologia
Espiritualidade [ O egoísmo fecha os nossos OlhOs para a oferta da vida...
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D o m Pau l o Me n d e s P e i xo t o – A r c e b i s p o d e U b e r a b a , M G
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vida é bela. É dom a ser preservado, que não pertence à pessoa, mas foilhe dado de graça para ser fonte de realização humana. É divina, mas o contexto de sua existência temporal é humano. Ela tem sido ameaçada em diversas circunstâncias e ferida em sua dignidade, atacada pela ampla violência na cultura dos povos. Por trás de muitos acontecimentos está a revelação da vida, que surge de situações, às vezes, totalmente simples, sem muita evidência, mas com força de esperança e coragem. A vida se fortalece na oferta dos simples, sinal de que Deus é a sua causa motiva-
dora. Vida ofertada é vida feliz e cheia de vitórias. Na cruz, Cristo ofertou sua vida para resgatar a justiça para todos, mas muitas pessoas não entenderam seu propósito e não se beneficiam dos frutos da cruz. Foi um esvaziamento para superar as práticas de competição, de ciúmes e invejas que contradizem a vida cristã. Supera também a ideologia do poder e da busca de satisfação a todo custo. O egoísmo fecha os nossos olhos para a oferta da vida. Torna a pessoa incapaz de enfrentar sacrifícios para construir uma vida com mais solidez. Temos mais disputa de poder do que de doação de vida na generosidade. A Bíblia diz: “Aquele que quiser ser gran[ 24 • olutador [ fevereiro ] 2016
de, seja o vosso servidor, e aquele que quiser ser o primeiro dentre vós seja o servo de todos”. (Mc 10,43-44.) Os critérios de Cristo subvertem os valores apresentados pela ideologia que domina hoje. São critérios do Reino de Deus e não do reino do mundo. Critérios de justiça, de paz e fraternidade, que ajudam nos relacionamentos sociais. Eles são autenticados pelo testemunho coerente de vida e de doação. Ofertar a vida é um gesto sagrado. Exige determinação e propósito firme de estar fazendo o bem. Corremos o risco da influência das ideologias do poder, que em vez de doação, suga com práticas injustas e de exploração. Com isto a vida perde o sentido de beleza e de dignidade.]
Caderno Direito de Cidadania de ser criança
ANO 13 * Nº 275 * FEVEREIRO * 2016 * BELO HORIZONTE * MG
CRAS
ilustração: Marcelo Ramos
CREAS
Edital
❝ O que se quer e precisamos evitar são as situações de trabalho forçado... ❞
❝Direito de ser criança❞
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composição de Gildásio Mendes “O direito de ser criança” expressa muito bem o espírito deste Caderno de Cidadania. Que nossas crianças tenham os seus direitos respeitados para que possam crescer felizes, amparadas, amadas e cuidadas. Muitos até se revoltam dizendo: “Não se pode mais educar os filhos para o trabalho”. Ou: “Se eles não podem trabalhar, vão crescer na vagabundagem”; “nós perdemos até a autonomia com nossos filhos”... Afirmar e defender o direito de ser criança não significa não poder educar para o trabalho, significa que o prioritário para a criança é ter tempo, espaço e oportunidade para brincar, estudar, descansar. E não se pode apelar para o simples fato de que no passado não era assim. O que se quer e precisamos evitar são as situações de trabalho forçado, esquemas de escravidão disfarçados em atividades que prejudicam o rendimento escolar, o desenvolvimento humano, afetivo e psicológico da criança. Vivemos num tempo que exigem de pai e mãe muita doação para o serviço, os filhos ficam sozinhos ou por conta de terceiros. Muitas crianças crescem pelas ruas e são conduzidas à marginalidade. Tudo isso exige mais iniciativas familiares e também da rede pública para que o direito da criança seja preservado. Veja as iniciativas em nosso Caderno de Cidadania. Percorra os versos da canção abaixo como se fosse seu filho, neto, sobrinho, ou mesmo aquele menino da rua que você conhece, cantando ternamente ao seu ouvido. Isso ajuda a compreender o direito de ser criança. Eu quero um lugar onde eu possa brincar. Eu quero o sorriso de quem sabe amar. Eu quero um pai que abrace bem forte. Eu quero um beijo e um abraço de mãe. Eu quero o direito de ser criança, De ser esperança de um mundo melhor. Eu crescer como gente. Eu quero um mundo diferente. Será que eu posso contar com você? Eu quero meus passos marcando esse chão. Eu quero o direito de ter o meu pão. Eu quero uma mão que me mostre o caminho. Eu quero a vida, eu só quero o amor. Eu quero os homens unindo as mãos. Eu quero um mundo mais justo e irmão. Eu quero os jovens vivendo a esperança. Eu quero as crianças cantando assim.* denilson mariano [2
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A Gráfica e Editora O Lutador, filial do Instituto dos Missionários Sacramentinos de Nossa Senhora, torna público o EDITAL PARA SELEÇÃO DE MATÉRIAS que regulamenta inscrições de participantes do público em geral, que tenham interesse em publicar matérias no encarte CADERNO DE CIDADANIA. As inscrições serão gratuitas e realizadas entre os dias 25 de janeiro a 19 de fevereiro de 2016. O resultado será enviado por E-mail a todos os participantes e publicado na página da Gráfica Editora O Lutador, no dia 1º de março de 2016. Confira Edital e mais informações no nosso site: www.olutador.org.br
Fórum
O Fórum de Erradicação e Combate ao Trabalho Infantil e Proteção ao Adolescente Trabalhador, nasceu por meio de uma iniciativa prioritária do Dr. Marilton Velasco, então Delegado Regional do Trabalho em Minas Gerais, através da Portaria DRT/MG N.º 201, de 23 de dezembro de 1994 com a criação da CIPTA – Câmara Interinstitucional de Proteção ao Trabalhador Adolescente, cuja finalidade era propor medidas que visavam à erradicação do trabalho infantil, à profissionalização e à proteção ao trabalho do adolescente contra toda forma de negligência, discriminação e exploração. As reuniões mensais de articulação das ações do Fórum acontecem nas últimas quartas-feiras do mês, de 9h a 12h, na Superintendência Regional do Trabalho, à rua Tamoios, entre Curitiba e Paraná, no Centro de Belo Horizonte.
Proteja Brasil
O Proteja Brasil é o aplicativo para iPhone ou celular com sistema Android criado para facilitar denúncias e informar sobre violência contra crianças e adolescentes. Ele indica telefones e endereços e o melhor caminho para chegar a delegacias especializadas de infância e juventude, conselhos tutelares, varas da infância e organizações que ajudam a combater a violência contra a infância e adolescência nas principais cidades brasileiras. Confira!*
olutador [ fevereiro ] 2016 [ Caderno de Cidadania ]
J u l i a S i lva , M a r c e l o M o r e i r a e P o l lya n n a L i m a
Trabalho em rede:
uma realidade nas comunidades do Norte de Minas Gerais olutador [ fevereiro ] 2016 [ Caderno de Cidadania ]
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trabalho infantil é um tema de grande preocupação no país. Governantes, justiça e população em geral articulam-se para erradicar crianças e adolescentes de trabalhos que violem ou impossibilitem o acesso a seus direitos fundamentais, conforme disposto do artigo 4º do Estatuto da Criança e do Adolescente/1990. Com o objetivo de contribuir para esse avanço, o CEDUC Virgilio Resi tem atuado em municípios do norte de Minas Gerais com projetos sociais que buscam a prevenção e o combate à exploração do trabalho infantil por meio da valorização do indivíduo e sua família, da cultura e do artesanato local e fortalecimento dos vínculos comunitários. Entre os anos de 2008 e 2012 o Projeto Reciclando Oportunidades para Crianças atendeu 540 famílias (aproximadamente 2100 pessoas) em 10 municípios do Norte de Minas Gerais, onde foi identificado elevado índice de exploração do trabalho infantil, inclusive em lixões irregulares. Nesta fase do projeto foram desenvolvidas ações para fomentar a construção dos planos municipais de enfrentamento ao trabalho infantil, elaboração do diagnóstico sociofamiliar das famílias atendidas pelo projeto e repasse para a rede sócio assistencial dos respetivos municípios, realização de cursos para capacitação profissional de adultos e elaboração de planos de negócios com potenciais empreendedores identificados. Reciclando oportunidades para crianças A partir desta experiência e com a construção dos planos de negócios, foi vislumbrada a necessidade de estruturar um processo com as famílias que possibilitasse a desconstrução/construção de novas possibilidades de vida e trabalho digno, respeitando a cultura local. Após quatro anos de execução do Projeto Reciclando Oportunidades para Crianças, em 2013, o CEDUC Virgilio Resi, com financiamento da União Europeia, iniciou o Projeto Reciclando Oportunidades – Gerando Trabalho e Renda, que busca o fomento da rede de artesanato no
Fotos: arquivo CEDUC Virgilio Resi
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Norte de Minas Gerais e a inserção desses produtos no mercado, ao ponto de possibilitar o desenvolvimento humano por meio da geração de renda às famílias envolvidas. “Simultaneamente a essa ação do projeto, atuamos fortemente com o fortalecimento dos vínculos e no relacio[4
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namento interpessoal dos membros dos grupos, sempre oferecendo ferramentas para que os mesmos pudessem melhorar o relacionamento dentro de casa e se conscientizar sobre o papel de cada um dentro da família, respeitando o direito do outro e também os das crianças”, conta a psicóloga Ellen Dias.
olutador [ fevereiro ] 2016 [ Caderno de Cidadania ]
A artesã do grupo Riacho da Cruz, Neusa Nery dos Santos, conta que todas essas intervenções, desde 2008, reduziram muito o trabalho infantil dentro da comunidade. “Estamos sempre nos reunindo para tratar deste tema, orientando as famílias e levando nossas crianças para a escola integral, de modo que elas realizam atividades extracurriculares dentro do próprio ambiente escolar. Estamos mudando o endereço da nossa cooperativa para termos mais espaços e voltar com nossa brinquedoteca. Lá, enquanto trabalhamos, as crianças que ainda não estão na escola integral podem aproveitar os brinquedos que disponibilizamos”, explica Neusa. “A ISONOMA foi uma maravilha para a valorização do nosso artesanato, para a geração de renda e para recebermos muitos ensinamentos que acontecem durante as visitas dos técnicos. Crescemos com tudo isso, reconhecendo a importância do nosso trabalho e a importância de proteger nossas crianças da exploração infantil, ao mesmo tempo que repassamos todo esse conhecimento às outras famílias. Estou muito satisfeita com os resultados que temos alcançado”, conclui a artesã. Atualmente são 28 grupos produtivos atendidos em 14 municípios do Norte de Minas Gerais.* Isonoma Em novembro de 2014, o Projeto apresentou, como resultado de sua atuação na região, a ISONOMA - Incubadora de Empreendimentos Econômicos Solidários, que tem como objetivo fomentar a expressão do trabalho artesanal dos EES de forma digna, solidária e susten-
tável. Com a ISONOMA em ação, o Instituto Lojas Renner aderiu à proposta e, por meio do projeto Mulheres Solidárias em Ação, investiu na estruturação de um Centro Comercial de Economia Solidária, espaço onde os EES atendidos pela ISONOMA podem comercializar seus produtos de forma competitiva e sustentável.
olutador [ fevereiro ] 2016 [ Caderno de Cidadania ]
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Sede
Rua Joventina da Rocha, 289 Heliópolis, Belo Horizonte / MG
Unidade 1
SIBS Quadra 03 conjunto B lt 13 Núcleo Bandeirante, Brasilia / DF (31) 2103 2712 (Empresas) (31) 2103 2713 (Jovens)
Secretaria Municipal Adjunta de Assistência Social
Trabalho infantil não é brincadeira
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egundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e EstatísticaIBGE, mais de 3,3 milhões de crianças e adolescentes entre cinco e 17 anos são vítimas do trabalho infantil no Brasil e, de acordo com o Tribunal Superior do Trabalho- TST, mais da metade do público infantojuvenil que trabalha não recebe qualquer remuneração fixa pelo serviço prestado. Além disso, de quatro crianças que trabalham uma está fora da escola ou, quando ainda mantém os estudos, acaba vendo o rendimento escolar diminuir, em decorrência do pouco tempo para se dedicar às atividades extraclasse e para o descanso. Vender balas, flores ou amendoim, fazer malabarismo nos sinais de trânsito são algumas das formas mais visíveis socialmente do trabalho infantil. Todavia, nos territórios com altos índices de vulnerabilidade social, passar “pretinho” nas rodas dos carros em lava-rápido, cuidar em tempo integral dos irmãos mais novos ou de filhos de vizinhas, trabalhar como empregada doméstica ou até na construção civil e na capina de lotes são atividades comumente realizadas por jovens. Considerando essa particularidade, a Secretaria Municipal Adjunta de Assistência Social- SMAAS- BH inicia, em março e abril de 2016, uma campanha específica nas áreas de abrangência dos Centros de Referência de Assistência Social - CRAS, com o objetivo de combater os tipos de trabalho infantil mais incidentes nesses territórios. 34 vilas e favelas da Capital serão atingidas com as ações da campanha Brincar, Estudar, Viver... Trabalhar, só quando crescer!, que prevê a
Se atuarmos bem na prevenção e na conscientização das pessoas, consequentemente diminuiremos esse tipo de violação de direitos
distribuição de material informativo e a integração entre pais e filhos a partir de atividades lúdicas realizadas nos CRAS. “Pensamos em produzir um jogo da memória com cartas gigantes para que pais e filhos pudessem brincar juntos e ir formando os pares do que é permitido e proibido para os jovens em cada faixa etária. Temos como negativo crianças em trabalho doméstico, fora da escola, lavando carro, vendendo balas, entre outros, e como positivo temos crianças brincando, estudando, fazendo esportes e adolescentes no trabalho protegido”, explica a gerente de proteção social básica da SMAAS, Magali Ceotto. Além das ações de prevenção ao fenômeno, a SMAAS também realiza, nos Centros de Referência Especializado de Assistência Social- CREAS, o atendimento das famílias cujos filhos foram encontrados em situação de trabalho infantil, até que a situação de violação seja integralmente superada. Além disso, a situação financeira da família também é verificada no intuído de incluí-la em programas de transferência de renda, a criança é inserida em atividades de contraturno escolar e o adolescente encaminhado para o trabalho protegido. [6
*
Para o secretário municipal adjunto de assistência social, Marcelo Alves Mourão, a campanha é uma maneira de sensibilizar a população quanto ao fenômeno e desmistificar a ideia de que o trabalho infantil traz benefícios para a criança. “A sociedade tende a pensar que o trabalho é bom para as crianças que vivem em territórios de alta vulnerabilidade social, mas o correto são essas crianças estarem na escola, fazendo esportes, atividades de cultura como qualquer outra criança de classe média, por exemplo. É isso que queremos garantir e esclarecer para a população. Se atuarmos bem na prevenção e na conscientização das pessoas, consequentemente diminuiremos esse tipo de violação de direitos na cidade”, comenta Mourão. Todos juntos! Lembre-se de que comprar produtos na mão de crianças e adolescentes é uma forma de contribuir para o trabalho infantil! Ao ver esse tipo de situação, denuncie! Disque 100! Para contribuir financeiramente, deposite qualquer quantia na conta corrente, vinculada ao Fundo Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, e ajude a custear as ações contra o trabalho infantil.* Banco do Brasil Beneficiário: Combate ao Trabalho Infantil Agência: 1615-2 Conta: 6466-1
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A legislação brasileira e o trabalho infantil
trabalho de menores, e ainda, em alguns segmentos desta, aceitá-la com naturalidade. A elite política e econômica, composta de empresários sem compromisso social e políticos ultraconservadores, acabaram fomentando as injustiças sociais na maioria do povo brasileiro [...].
M a r i a D a l v a D i a s Co n c e i ç ã o *
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ilustraçÕES: Marcelo Ramos
o ponto de vista jurídico, o Brasil é apontado como um dos países que mais avançou no combate ao trabalho infantil. Seu conjunto de leis sobre o assunto remonta a 1891, com a criação do Decreto 1.313, que definia a jornada de trabalho mínima para os menores do sexo masculino e feminino, passando pela CLT- Consolidação das Leis Trabalhistas, respaldado pela atual Constituição Federal e finalmente atacado de frente com a criação do ECA- Estatuto da Criança e do Adolescente, através da Lei 8.069/90,que traz no seu bojo inovações fundamentais no trato dessa questão, alterando mudanças já existentes de método e de ação.
Importância do ECA Entre as mais diversas ações criadas pelo ECA- Estatuto da Criança e do Adolescente, está a criação dos Conselhos Municipais, Estaduais e Nacional, que fazem a defesa dos direitos da Criança e do Adolescente, determinando que “ a política de atendimento dos direitos da criança e do adolescente far-se-á através de um conjunto articulado de ações governamentais e não governamentais da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios” (Art.86). O embasamento para a promoção e a proteção dos direitos da criança e do adolescente, em alguns documentos internacionais apoiados pela ONU- Organizações das Nações Unidas, são inspirados no ECA, numa demonstração da importância deste documento para o combate ao trabalho infantil. Na sua demonstração de erradicar o trabalho infantil, as autoridades brasileiras têm participado, de forma exemplar, de eventos internacionais que abordam este assunto sob diferentes ângulos. Apesar de o trabalho infantil ser um dado nacional negativo para o país, o Brasil nos encontros internacionais tem sido aplaudido pelos seus projetos e ações na erradicação deste tipo de trabalho. Fatores históricos, políticos e sociais, independente de recursos naturais escassos, contribuíram e contribuem para empurrar a sociedade a permitir a prática do
olutador [ fevereiro ] 2016 [ Caderno de Cidadania ]
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Ação conjunta No Brasil, é preciso avançar na universalização de uma educação de qualidade em todos os níveis de ensino, especialmente em educação básica, na aceleração do crescimento econômico, no incentivo ao desenvolvimento tecnológico e na geração de trabalho e renda [...]. A sustentabilidade dessa tendência de o poder aquisitivo do brasileiro continuar crescendo e até, em alguns segmentos, mudando de classe social, saindo da faixa de pobreza para a classe média, vai depender muito da capacidade do Estado brasileiro de manter e administrar melhor as medidas estruturais na atual economia. Entretanto, uma ação conjunta da sociedade civil, organismos internacionais e organizações não governamentais e o próprio Estado, em todas suas esferas federais, daria mais consistência à luta contra a exploração da mão-de-obra infantil. Essas entidades teriam ações distintas, porém o resultado final seria a erradicação dessa praga social. Essas intervenções poderiam ser assim entendidas: a) das empresas, seria exigido compromisso social, transparência e prestação de contas; b) da sociedade civil, a obrigação de denunciar práticas desleais e lutar pelo cumprimento de direitos sociais fundamentais com relação ao trabalho; c) dos governos, a fiscalização implacável no cumprimento das leis de proteção e amparo à criança e ao adolescente e exigência da aplicação de projetos políticos que visem a combater as injustiças sociais.* * Advogada Fonte: www.ambito-juridico.com.br
Cidadania na realidade carcerária...
Para aprender valores wagner dias ferreira*
H
á milhares de formas de aprender coisas para a vida cotidiana, que podem contribuir para o desenvolvimento de valores humanos, sociais, ecológicos e de comprometimento com uma causa ligada a esses valores ou situações sociais que se pretende promover ou modificar. O acompanhamento diário dos noticiários é um meio. Assistir a filmes e documentários também. O profissional do direito tem um leque enorme e excelente de opções para aprender e desenvolver valores humanos, sociais e ecológicos. A exploração mineral do quadrilátero ferrífero de Minas Gerais sempre foi tida pela população do Estado como algo comum. Muitas pessoas festejavam a presença da atividade econômica e seu potencial para o desenvolvimento de municípios e regiões inteiras vinculadas a esta exploração econômica. Há os que ansiavam e ainda anseiam pelo emprego nessas empresas proeminentes do Estado que leva o nome de Minas Gerais. Os profissionais do direito que já atuaram na defesa de interesses de pessoas que trabalharam para empresas mineradoras, contra os interesses dessas exploradoras de minério, sabem muito bem que este é um anseio que certamente será frustrado pela realidade. Doenças decorrentes da insalubridade da atividade minerária, acidentes
que levam à morte e violação a direitos básicos do trabalhador é parte do cotidiano das empresas. Cidades que recentemente emergiram na exploração mineral apresentaram o aparecimento forte da prostituição e do tráfico de drogas e do constante temor de acidentes com barragens. Todos estamos precisando adquirir valores humanos, sociais e ecológicos para observar os fenômenos que ocorrem ao redor. Filmes como o que explicita o massacre dos índios isolados de Corumbiara, o que conta a história de Ganga Zumba e Zumbi de Palmares, o novo filme do
Betinho da Fome, os filmes sobre Cazuza e Renato Russo e o documentário sobre o Quilombo do Campo Grande, em Minas Gerais, ou mesmo filmes de histórias brasileiras “comuns” de pessoas extraordinárias são opções. Filmes estrangeiros como “As Trombetas de Gideão” sempre ajudam as pessoas a revisarem seus valores e a aprenderem sobre o que é realmente mais importante para o homem e para sua vida. Considerando que o povo brasileiro está convidado a refletir sobre seus valores sempre que chega o mês de novembro, quando somos lembrados que somos uma República Democrática, onde a participação de todos é imprescindível à sobrevivência, e que esta sobrevivência, no caso brasileiro, não foi, não é, e não será possível sem a consciência do valor do negro na cultura brasileira, coroados esses processos pela reflexão sobre a supremacia dos direitos humanos no planeta Terra, datas que no país são o 15 de novembro, o 20 de novembro e o 10 de dezembro, nada melhor do que levar essas reflexões para o Natal e o Ano Novo que são datas em que mais se abre o coração humano para a solidariedade e o que há de melhor no homem.* * Advogado e Membro da Comissão de Direitos Humanos da OAB/MG
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As matérias assinadas são de responsabilidade de seus autores.
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olutador [ fevereiro ] 2016 [ Caderno de Cidadania ]
Liturgia [ É preciso aprender...
Quebrar
P e . J o s é A n t o n i o d e Ol i v e i r a
F/reprodução
H
á uma tribo indígena cuja especialidade é a cerâmica. Lá, quando um cacique idoso vai passar para outro a sua função, oferece ao que está chegando o vaso mais bonito e precioso que confeccionou durante toda a sua vida. O novo cacique recebe o vaso, quebra -o e mói; e, misturando água, faz argila e modela um vaso novo. O velho cacique não vê isso como uma afronta ou desrespeito. Entende que o outro irá conservar a essência, a substância, a Tradição, mas lhe dá uma nova forma. Na vida e na fé deve acontecer o mesmo. Não podemos abrir mão da essência, mas a vida exige novas formas. O Espírito Santo continua a agir e suscitar coisas novas. Mesmo porque as transformações do mundo o exigem: “Eis que faço novas todas as coisas”. (Ap 21,5.) Jesus disse a Simão: “Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja”. (Mt 16,18.) Deve estar claro que ‘pedra’ é só o fundamento, o alicerce. Essa base é a fé que Pedro revela na pessoa de Jesus e na proposta do Reino. A Igreja não pode ser toda ‘petrificada’, pronta, acabada. Pedro chega a falar que somos ‘pedras vivas’ (cf. 1Pd 2,5), mas tudo o que é vivo se transforma, se desenvolve. O alicerce da Igreja é imutável. Jesus Cristo não muda. Nossa fé é única. O Evangelho é o mesmo. Há verdades e valores que são eternos. Mas a Igreja precisa se adaptar a cada tempo, a cada cultura, a cada circunstância. Em sua Exortação Evangelii Gaudium, o Papa Francisco nos lembra que “o dom de Deus encarna-se na cultura de quem o recebe. O cristianismo não dispõe de um único modelo cultural, mas, permanecendo o que é, assume o rosto das diversas culturas e dos vários povos onde for acolhido”. Aí está a “beleza deste rosto pluriforme” (cf. EG 115 e 116). Por isso a nossa fé passa por mudanças e adaptações em sua forma de se expressar.
potes
Mudanças ao longo da história A própria celebração eucarística já passou por várias mudanças ao longo da história. E como foi bom! A oração do Pai-Nosso, ensinada por Jesus Cristo, sofreu modificação e é recitada de forma diferente pelas Igrejas. É natural. Ninguém sabe ao certo como ela era, porque até os evangelistas a registram de modo diferente. Basta conferir na Bíblia: Mt 6,9-13 e Lc 11,2-4. E é claro que, se a oração é conversa entre pessoas que se amam - nós e Deus -, não faz sentido obrigar alguém a orar sempre com as mesmas palavras, sem poder expressar o que sente. Há ritos que mantemos e são importantes, mas a prece deve brotar bem livre de um coração que ama e confia. Há orações que, mesmo sendo mantidas oficialmente pela Igreja, podem ser modificadas por quem as recita. Cito, por exemplo, a prece de louvor que fazemos durante a Bênção do Santíssimo: “Bendito seja Deus...” Ela expressa o louvor ao Pai duas vezes, ao Filho cinco vezes, ao Espírito Santo uma vez, e a Maria quatro vezes, mais que ao Pai e ao Espírito Santo. Numa oração essencialmente cristológica, a invocação a Maria poderia ser tranquilamente omitida, ou aparecer apenas uma vez. Contudo, como surgiu num tempo em que se negava a importância de Maria na História da Salvação, olutador [ fevereiro ] 2016 • 25 ]
houve a preocupação, talvez exagerada, de reforçar a sua presença. Hoje não faz mais tanto sentido. Descer à casa do oleiro O alicerce não pode mudar, mas o formato, a cor, os acessórios, isso precisa ser atualizado. É bom que a Igreja não seja construída de pedras imutáveis, mas de tijolos e massa, algo que seja mais maleável, moldável. A Bíblia registra um texto muito bonito, quando Jeremias é convidado por Deus a descer até a casa do oleiro e aprender com ele. O Profeta percebe que o vaso precisa ser, às vezes, quebrado, refeito, novamente moldado. Deus, o grande Oleiro, não quer gente de cabeça dura. Muito menos de coração duro. Quer gente que se entregue à ação transformadora da Graça, à força renovadora do Espírito. Somos – ou devemos ser – como o barro nas mãos do oleiro (cf. Jr 18,1-6). O Papa Francisco chama a atenção para o perigo de se desenvolver “a psicologia do túmulo, que pouco a pouco transforma os cristãos em múmias de museu” e “corrói o dinamismo apostólico”. (EG 83.) Para isso, é fundamental quebrar potes e criar vasos novos. Mesmo porque a Igreja é chamada a ser “casa acolhedora” (cf. DAp 370), e toda casa exige contínua limpeza e periódicas reformas.] * zeantonioliveira@hotmail.com
Atualidade [ Quando a Igreja abre as portas...
A porta, o parto, o porto...
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o dia 29 de novembro de 2015, o Papa Francisco abriu a “Porta Santa” na Catedral de Nossa Senhora da Conceição, na cidade de Bangui, na República Centro-africana, abrindo as celebrações do “Ano da Misericórdia”, proposto a toda a Igreja através da Mensagem “Misericordiae Vultus” [O Rosto da Misericórdia]. A imagem da porta é rica de harmônicos, pulsante de conotações. A porta é um limiar, uma divisória entre os que estão fora e os que estão dentro. A porta é a páscoa, a passagem que se abre ao visitante. A porta dá acesso aos mistérios e aos tesouros acumulados no coração da Igreja. Por isso mesmo, a pia batismal se localiza logo à entrada do templo, pois o Batismo é o pórtico pelo qual os novos filhos são incorporados à família de Deus. Assim, é na por-
A n t ô n i o C ar l o s S a n t i n i
ta do templo que ocorre o parto de um novo cristão, gerado pela mãe-Igreja. Em muitos lugares, a porta entre o mar e a terra era o “porto”. Por exemplo, o porto de Roma é a cidade de Óstia [em latim, a “porta”]. Porto e porta se confundem como o lugar de asilo, refúgio e proteção. O navegante que encontrava o porto estava seguro, pois as portas da terra se abriam à sua chegada. Quando a Igreja abre as portas, ela faz um convite, como já o fizera João Paulo II: “Abri as portas ao Redentor!” Há um duplo movimento no gesto ritual da Porta Santa que se abre: o templo se abre ao fiel e este se abre a Cristo. Afinal, o próprio Jesus Cristo se apresenta como a entrada para o Pai: “Eu sou a porta; se alguém entrar por mim, será salvo; tanto entrará como sairá e encontrará pastagem”. (Jo 10,9) A porta é o lugar da acolhida. Todos os mosteiros deixavam um monge em permanente plantão junto à porta [ 26 • olutador [ fevereiro ] 2016
de entrada, para acolher os peregrinos. Era o “ostiário”, isto é, o porteiro. As modernas portas giratórias das agências bancárias foram copiadas das portas rotatórias dos conventos femininos, onde a irmã “rodeira” – que vigiava a “roda” – estava sempre pronta a recolher o recém-nascido abandonado na cestinha do lado de fora. O Papa Francisco vem insistindo na atitude de misericórdia e de acolhida a todos nós, os pecadores abandonados. Deve haver sempre um espaço para nós. Mas não nos esqueçamos de Alguém que também costuma estar do lado de fora e bate à nossa porta. Ele diz: “Eis que estou à porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz e me abrir a porta, entrarei em sua casa e cearemos juntos, eu com ele e ele comigo”. (Ap 3,20) E com tantas portas fechadas, nenhum andarilho tem sido mais rejeitado do que Jesus Cristo...]
O que eles pensam de nós? C ar l o s Sc h e i d
N
ós somos os consumidores. Eles são os marqueteiros. Nós, de olhos e bocas abertas (todas elas!). Eles, de olho em nós. Mas antes de olharem para nós, eles se ocupam em adivinhar nossos desejos, nossas ansiedades, nossas expectativas. É assim que eles poderão apresentar na telinha os produtos capazes de fazer a nossa felicidade ainda aqui, neste vale de lágrimas. Ou será que não? Eles, os conspiradores, habitam sem alarde os porões da mídia, porões cercados de eletrônica e vidro fumé. Dotados de uma inteligência acima da média (e de polpudos orçamentos!), sabem cooptar os melhores profissionais, músicos e diretores de imagem, de modo a produzirem mensagens publicitárias que levem o consumidor (é o nosso caso...) a comprar. Assim combinado, o objetivo deles é... vender! Para vender, vale tudo: o verde da paisagem rural, o ar puro da montanha, a força monstruosa dos motores, as curvas sensuais da modelo, as promessas de um Éden no aquém-túmulo. Esse exército do marketing e do merchandising (e outros babados ianques), devidamente armado de som e imagem, conta ainda com a retaguarda de estudiosos da psicologia do indivíduo e da psicologia social. Em suas planilhas, o mais detalhado raio-X do coração do homem. É com base nesse design de Adão, o barrento, que eles criam suas mensagens conhecidas como “o comercial” – quase sempre mais criativo que os programas por ele fatiados. E que pensam eles sobre nós? Bem, até onde as mensagens veiculadas deixam supor, eles pensam que somos gulosos. Examine bem um comercial da Sadia. Eles pensam que somos levemente depravados em nossa sexualidade. Contemple a saia curta da mocinha que vende cerveja. Eles pensam que somos vaidosos. Leve em conta os comerciais de perfumes, cremes e xampus. Eles pensam que somos movidos pela cobiça. Tente contar a variedade de propostas para ganhar dinheiro... Peço licença para não completar a lista dos pecados capitais, incluindo a inveja, a preguiça e a avareza. De qualquer modo, é tudo isso que eles pensam de nós. E se a linguagem empregada pela mídia-que-vende revela profundo desrespeito pelo pobre (que não compra...), pelo homem comum (podado pelo salário mínimo), pelo simples cidadão, isto é mera consequência de seus objetivos. E “eles” estão errados? Talvez não. Pode ser que, de fato, nós sejamos exatamente aquilo que eles pensam de nós (em ordem alfabética): avarentos, gulosos, invejosos, lascivos, preguiçosos, raivosos e vaidosos. Se somos assim, eles vendem bastante. Se não fôssemos, já teriam ido à falência...] olutador [ fevereiro ] 2016 • 27 ]
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Crônica [ Maria
Chuva antiga [ 28 • olutador [ fevereiro ] 2016
B
em q u e t en t o en v elh e c er m e u s m ed o s. Bem que tento envelhecer minhas emoções. Qual nada! É um descompasso total! Se cá fora o tempo passou, lá dentro, bem dentrinho do meu coração, ele nem chegou perto. E vivo aqui, essa velhota-menina, acompanhando meus netos em seus medos pequenos. Eu, que deveria ser uma “rocha” para eles, na hora das chuvas bravas, sou a primeira a desmoronar. Perco o rumo, não sei quantos anos tenho mais, fico neném, fico com dez anos, querendo colo de mãe, querendo presença de pai. Quando passa a tormenta, recomponho meus cabelos grisalhos, arranjo uma cara de vó, faço um olhar de corajosa e me espanto de a casa estar no lugar, de a rua ser a mesma, de os vizinhos estarem sorrindo nas janelas. Será que a chuva passou só dentro do meu coração? Será que choveu só para mim? Será que os relâmpagos eram de mentirinha e que fui que inventei os trovões e o vento maluco? Foi há muitos anos. A vó que sou hoje era uma jovem mãe. Antes, ontem, a vó era criança. O medo de chuva sempre foi o mesmo, trago-o desde Estrela, desde meus tempos de pai, de mãe, de Ana e irmãos. Sou a repetição de minha mãe, que enfrentava as tempestades da terra estrelada com ramos bentos, terço na mão, cantando o Bendito e o Ofício de Nossa Senhora. A casa recendia a incenso, era um grande barco à deriva, onde mãe, Ana, madrinha Maria e filhotes esperavam ser lançados num mundo escuro e desconhecido... Papai, o herói das minhas chuvas infantis, chegava — para meu espanto —, chegava intacto da loja: vinha socorrer sua prole que, já sabia, ia encontrar aninhada debaixo da mesa grande da sala de jantar. Meu pai chegava, salvava os náufragos da tormenta e o sol brilhava de novo. Por isso, para mim, meu pai sempre foi o sol. Mamãe, tímida, calada, séria, perdia a majestade na hora das chuvas bravas. Ela achava todas as chuvas perigosas... Hoje, quando o vento sopra aqui do lado, o capim se deita com humildade, ouço vozes antigas, vindas da luz dos relâmpagos, sussurradas no canto do vento, choradas nas lágrimas da chuva: — Não fica debaixo da luz, menina! — Não pega o garfo! — Tapa os espelhos! Esconde a tesoura! — Não respira, que é perigoso! — Não fica perto da janela! — Sai de perto da cerca de arame! — Essa árvore atrai raios! Ah! Meu Deus, ainda hoje sou criança, sou neném, quero pai, quero uma mesa grande pra me esconder com meus irmãos. Porque, no tempo de Deus, não cresci, não sou avó, não aprendi a ser corajosa na hora que os relâmpagos incendeiam minhas janelas. Só que, quando tudo passa, olho pela porta, esperando meu pai trazer o sol. Só que, nessa hora, viro vó, viro bisavó, fico enrugada, tenho quinhentos anos. Porque, nas chuvas antigas, eu tinha um barco onde me esconder. E meu pai chegava. Como sol aceso. Agora, eu tenho de ser o sol. Mas onde buscá-lo, se tenho coração de filha pequena? Se meu coração até se esqueceu de crescer? Ah! Quem cantará o Ofício de Nossa Senhora para mim? Quem entoará o Bendito, louvado seja para acalmar meu coração? Onde estão meus ramos bentos? Quem vai acender o sol dentro de minha casa? Dentro do meu coração?] [Do livro Água Doce, Belo Horizonte, 2003
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Páginas que não passam [ Comunidade...
Comunidade: sonho e realidade D i e t r i c h B o n h o effe r
É da maior importância que isto fique claro desde o início: a fraternidade cristã não teve um ideal, mas uma realidade dada por Deus. É precisamente o cristão sério, ao entrar pela primeira vez em uma comunidade de vida cristã, que muitas vezes levará consigo um ideal bem preciso do que ela deve ser, e se esforçará por realizá-lo. Mas é a graça de Deus que rapidamente conduz ao fracasso todos esses tipos de sonhos. Então, somos submergidos por uma grande desilusão a respeito dos outros, dos cristãos em geral e, se tudo correr bem, a respeito de nós mesmos, que Deus quer conduzir ao conhecimento de uma verdadeira comunidade cristã. É por pura graça que Deus não permite que vivamos, talvez por algumas semanas, segundo uma imagem quimérica, que nos abandonemos a essas experiências exaltantes e ao entusiasmo gratificante que nos invade como uma embriaguez. É que Deus não é um Deus de emoções sentimentais, mas um Deus da verdade. Por isso, somente a comunidade que entra na grande desilusão experimentada com todos os fenômenos
desagradáveis e negativos que ela pode conhecer, começa a tornar-se aquilo que ela deve ser diante de Deus e a captar na fé a promessa que lhe é dada. Quanto mais cedo soar a hora desta desilusão, para o fiel e para a comunidade, tanto melhor será para os dois. Mas uma comunidade que não suporte tal desilusão e não a supere, e em consequência se apegue à sua ilusão, que ela deveria ver partida em pedaços, cedo ou tarde irá à falência. Deus odeia o devaneio, pois ele nos torna orgulhosos e pretensiosos. Aquele que sonha com a imagem ideal de uma comunidade, exige de Deus, dos outros e de si mesmo que ela se realize. Ele se apresenta à comunidade dos cristãos com suas exigências, erige uma lei que lhe é própria e em função da qual ele julga os irmãos e ao próprio Deus. Ele se impõe com dureza e como uma acusação viva contra todos os outros no círculo dos irmãos. Ele age como se tivesse a iniciativa de criar a comunidade cristã, como se seu ideal imaginário devesse tecer os vínculos que unem os seres humanos. Aquilo que não acontece segundo a sua vontade, ele o considera como um fracas[ 30 • olutador [ fevereiro ] 2016
so. Ali onde seu sonho se quebra, ele vê a comunidade afundar. Assim, ele se torna o acusador de seus irmãos, a seguir o acusador de Deus e, enfim, o acusador desesperado de si mesmo. De fato, é só porque Deus já estabeleceu o único fundamento de nossa comunidade, só porque há muito tempo, antes que entrássemos na vida comunitária com outros cristãos, Deus já nos tivesse ligado juntos em um só corpo, em Jesus Cristo, só por esta razão é que entramos na vida comunitária com outros cristãos, não com nossas exigências, mas com gratidão e prontos e receber.] DIETR I C H B ONHOE F F E R [19 0 6 -1945] nasceu
em Breslau, Polônia. Foi pastor luterano e professor de teologia em um seminário cuja vida comunitária foi por ele organizada. Adversário declarado do regime nazista, foi proibido de pregar e de escrever. Seu engajamento político e sua fé o levaram a participar de um complô contra Hitler. Preso em 5 de abril de 1943, foi enforcado em 9 de abril de 1945. Suas cartas, escritas na prisão, tiveram notável irradiação após sua morte e ainda apontam caminhos para a reflexão teológica. Entre seus livros, foram publicados em português: Ética, 2005; Discipulado, 2004; Resistência e Submissão: Cartas e Anotações Escritas na Prisão, 2003; Tentação, 2003; Vida em comunhão,1986 (todos pela Editora Sinodal), e Orando com Salmos, Editora Encontro, 1995.
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Roteiros Pastorais Leitura Orante 32 • Tudo em Família 33 Dinâmica para Grupo de Jovens 33 • Catequese 34 O Lutador Kids 36 • Homilética 37 olutador [ fevereiro ] 2016 • 31 ]
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Leitura Orante [ A clareza da missão...
Foi posto à prova pelo diabo durante 40 dias F/reprodução
Como você tem reagido às tentações que o rodeiam?
Busca da intimidade com Deus Procure um ambiente tranquilo, silencie, invoque a Santíssima Trindade, peça as luzes e faça a oração ao Divino Espírito Santo. Pode cantar um refrão para ajudar no recolhimento diante de Deus. Sugestão: “Envia teu Espírito, Senhor, e renova a face da terra!” (2x). A. Situando o texto O período quaresmal é um período de grande riqueza espiritual. Os 40 dias nos recordam os 40 anos do povo no deserto, tempo para que o povo mudasse a mentalidade. Recorda ainda os 40 dias de caminhada de Elias para o Monte Horeb, tempo para retomar sua missão. Jesus também passa 40 dias no deserto, vencendo as tentações que podiam desvirtuar a missão que o Pai lhe confiava. Vamos, com calma e atenção, ler o texto do Evangelho do 1º Domingo da Quaresma e deixar que Palavra nos conduza e converta. B. O que o texto diz em si Ler na Bíblia: Lucas 4,1-13. Chave de Leitura: Em que o diabo se baseia para tentar Jesus e baseado em que Jesus responde? Identifique no texto as três tentações. Em seu entendimento, o que significa: o diabo afastou-se dele até o tempo oportuno?
C. O que o texto diz para nós Há uma boa explicitação do texto acima na página 37 desta edição. Dom Emanuel aborda com propriedade a simbologia de cada uma das tentações de Jesus. Confira antes de continuar. Embora tenhamos bons propósitos, façamos promessas, assumamos compromissos, não estamos livres de nos desviar dos projetos que abraçamos. Jesus também teve de lutar contra as tentações. Chama a atenção o fato de o diabo usar as Escrituras para tentar Jesus. Isso mostra que não basta ter a Bíblia nas mãos, não basta pregar a Palavra de Deus como garantia de estar fazendo a vontade de Deus. Ninguém está isento de cair na tentação e, até com a Palavra nas mãos e na boca, podese agir em contrário à vontade Deus. Cantando: Palavra de Salvação /, somente o Céu tem pra dar. / Por isso o meu coração / se abre para escutar. (bis)
O povo percebia em Jesus um jeito diferente de anunciar. Ele ensinava com autoridade, isto é, ele ensinava vivendo o que pregava, testemunhando o que transmitia ao povo. O fio de prumo da pregação de Jesus não eram os interesses pessoais, mas o projeto do Pai. Infelizmente, vemos muitos pregadores nas igrejas, na televisão, nas novas mídias, desviando-se do projeto de vida do Pai. Anunciam uma falsa religião da riqueza e do poder, sem sensibilidade e sem solidariedade para com [ 32 • olutador [ fevereiro ] 2016
os pequenos e sofredores. Essa não é a religião de Jesus. É pelos frutos que conhecemos se a árvore é boa ou má... Rezando: Convertei-vos e crede no Evangelho! D. O que o texto nos faz dizer a Deus? a) Jesus, que na força da Palavra vencestes as tentações, ajudai-nos também a vencê-las. Rezemos: – Senhor, que a vossa Palavra nos fortaleça. b) Jesus, que o Ano Santo da Misericórdia acorde em nós o projeto de vida do Pai. Rezemos: c) Jesus, que o período da Quaresma nos faça mais praticantes da Palavra. Rezemos: E. O que o texto sugere para nossos dias? Jesus se firma nas Escrituras para vencer cada uma das tentações. Ele cultivava a leitura e a oração a partir das Escrituras e conhecia muitos salmos de cor.
– Qual tem sido o meu empenho no estudo e na reflexão da Palavra de Deus? O que posso fazer para melhorar? F. Tarefa concreta Procurar participar das iniciativas paróquias no período da Quaresma e encontrar formas de abraçar a Campanha da Fraternidade que é proposta para toda a Igreja do Brasil. Encerramento: Ofertar-se a Deus numa oração de confiança à sua vontade; Pai-Nosso e pedido de bênção a Deus.]
1. Coisas que acontecem Isto foi em Londres, nos anos 50. É a história de um jovem casal. Ela trabalhava como balconista em uma loja de roupas. Ele era auxiliar em um escritório de contabilidade. Na véspera de Natal, ambos pensavam como comprar um presente para o outro, pois o dinheiro era muito curto. Ele decidiu comprar um prendedor de cabelos para ela, já que admirava seus longos cabelos. Para isso, penhorou o relógio de ouro que herdara de seu avô e que guardava com extremo cuidado. Ela pensou em adquirir uma correntinha de ouro para aquele mesmo relógio de estimação. Para isso, cortou seus lindos cabelos e vendeu -os a uma fábrica de perucas. Ela chegou primeiro em casa e preparou o jantar natalino. Ele chegou depois e, quando abriu a porta, viu que a esposa cortara os cabelos. Ela teve de
explicar: fora a maneira de comprar a corrente de ouro para o relógio de ouro que ele... acabara de penhorar. Naturalmente, abraçaram-se chorando. Lágrimas de alegria, pois entenderam que o sacrifício é a prova do amor... 2. Pensando juntos Antigamente, estas coisas eram compreendidas com mais facilidade. Dizem os conselheiros e confessores que grande parte das separações entre casais resulta da incapacidade de sofrer, da recusa em sacrificar-se pelo cônjuge. Os mais jovens costumam encaminhar-se para o casamento na expectativa de alegrias e felicidade, o que devia incluir passeios, festas, encontros com amigos. Quando surgem as dificuldades ligadas à gravidez, à educação dos filhos, aos problemas profissionais, ao aperto financeiro, exigindo esforço, disciplina
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Tudo em Família [ 26 – Para reunião de casais
e sacrifício, facilmente optam pela separação. 3. Para uma reunião de casais – Que sentimentos você experimenta diante do exemplo daquele jovem casal londrino? – Qual tem sido a sua reação diante dos sofrimentos próprios do casamento e da vida de família? – Você percebe quando seu cônjuge se sacrifica por você? Pode dar exemplos? – Quais os sacrifícios que mais lhe custam na vida de família? – Você costuma recorrer à oração para aceitar os sofrimentos como prova de amor?]
Árvore da vida e árvore da morte — Dinâmicas para Grupo de Jovens [ 24
Material: um galho de árvore seco, um galho de árvore verde, caneta ou pincel e pedaços de papel. Desenvolvimento: em pequenos grupos, descobrir os sinais de vida e morte que existem no bairro, na família, no grupo de jovens... Depois, diante das árvores seca e verde, vão explicando para o grupo o que escreveram e penduraram na árvore. No intervalo das colocações, pode-se cantar algum refrão.
Iluminar com a palavra de Deus e em grupo refletir: Iluminados pela prática de Jesus, que fazer para gerar mais sinais de vida e enfrentar as situações de morte de nosso bairro? Fazer a leitura de João 15,1-8. Depois, cada participante toma um sinal de morte da árvore, faz uma prece de perdão e o queima. Em seguida, cada um pega um sinal de vida e leva como lembrança e desafio. Palavra de Deus: Jo 15,1-8; Sl 1.]
Fonte: limadajuventudedarcc.blogspot.com.br/
olutador [ fevereiro ] 2016 • 33 ]
F/reprodução
Objetivo: Refletir sobre os sinais de vida e morte no bairro, na comunidade, na família, no grupo de jovens.
FOTOS/reprodução
Catequese / Roteiros [ 3 encontros seguindo Perguntar: a) Quem conduzia Jesus no deserto? 1. Vencer as tentações (1º Dom. Quaresma)
b) Quem apareceu para tentar Jesus? c) Como Jesus venceu as tentações?
2. Este é o meu Filho amado. (2º Dom. Quaresma)
d) Como podemos vencer as tentações, hoje? Objetivo: Compreender o que é conversão para viver a fraternidade. Material: Quadro ou cartaz da CF e livrinho, Bíblia, Cartaz: “Convertei-vos e crede no Evangelho”. 1 – Ver (a realidade) Dinâmica: Vamos começar nosso encontro brincando de roda? Vamos dar as mãos e cantar um cântico bonito que todos saibam de cor. Agora, vamos levantar as mãos dadas, dar uns passinhos para o centro e dizer: “Nós somos uma turma de catequese muito unida e alegre!” Experiência de Vida: Que tempo iniciamos na quarta-feira passada? O que o padre ou ministro disse ao traçar o sinal-da-cruz com cinza na nossa testa? (“Convertei-vos e crede no Evangelho”). O que a Igreja quer dos cristãos no tempo da Quaresma? O que quer a CFE (Campanha da Fraternidade Ecumênica)? O tema da CFE deste ano é: “Casa Comum, nossa responsabilidade”. O lema é: “Quero ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca” (Am 5,24). O cuidado com a casa comum nesta CFE será feito a partir de um problema concreto que afeta o meio ambiente e a vida de todos os seres vivos: Saneamento básico. Teremos de enfrentar muitas dificuldades e tentações, mas com Jesus nós vencemos. 2 – Iluminar (Ensinamentos de Jesus) Canto: para aclamar a Palavra Leitura: Lucas 4,1-13.
Para refletir Jesus vence as tentações deixando-se guiar pela luz do Espírito Santo e pela força da Palavra de Deus. O diabo usou até as Escrituras Sagradas (Bíblia) para desviar Jesus com uma interpretação errada. Jesus vence as tentações sendo fiel à Palavra do Pai. Este é o caminho que devemos seguir. Muitos tentam nos desviar das coisas de Deus, da catequese, da Igreja, usam de falsidades e nos apresentam diversão, esporte e outras tantas coisas. Precisamos aprender com Jesus a vencer as tentações. Guardar no coração: “Não tentarás o Senhor, teu Deus”.
Objetivo: Perceber que João Batista anuncia a todos a Boa Notícia da vinda do Messias. Material: Bíblia, vela acesa. 1 – Ver (a realidade) Dinâmica: Fazer um círculo. Vamos olhar bem uns para os outros e observar o jeito de cada um (modo de rir, cor do cabelo, cor dos olhos, a roupa...). Quais as diferenças? Há uma coisa igual em todos nós? Comentar: Somos todos gente, pessoas, crianças inteligentes, alegres com vontade de crescer e aprender muitas coisas. Cada um de nós tem um nome. É importante conhecer os nomes de nossos colegas. [Com uma vela acesa que passa de um para o outro, cada um pega a vela e diz: “Eu sou uma luz de Deus, meu nome é... (diz o próprio nome)”].
3 – Celebrar Oração: Deus, Pai do teu Povo, a Igreja, nós te damos graças. Pelo Batismo e Confirmação, libertaste-nos das amarras da morte e do pecado para nos introduzir na nova Terra Prometida, a Eucaristia. Neste início de Quaresma, ajuda-nos a vencer as tentações e a voltar para a participação na vida de fé, firmes na tua Palavra. 4 – Agir (a realidade nos convoca para...) Compromisso Descobrir as atividades da comunidade ligadas à Campanha da Fraternidade. Final Terminar o encontro com um cântico alegre. Depois rezar o Pai-Nosso e a Ave-Maria.]
[ 34 • olutador [ fevereiro ] 2016
Experiência de Vida: Pode-se contar a seguinte história. Estou muito contente com a presença de vocês. Jesus também está muito contente com vocês. Na catequese nós vamos conhecer melhor Jesus, nosso grande amigo. Para conhecer Jesus, precisamos ter amor pela Palavra de Deus: ouvir com atenção, criar o costume de ler sempre a Bíblia. São Jerônimo sempre dizia: “Quem não conhece as Escrituras (Bíblia) não conhece Jesus Cristo”. Jesus é a chave para o entendimento da Bíblia. É a luz que ilumina todo o Antigo Testamento. 2 – Iluminar (Ensinamentos de Jesus) Canto de aclamação Leitura: Lucas 9,28-36. Perguntar: a) No monte, Jesus aparece ao lado de que figuras do Antigo Testamento?
os
ndo
os Evangelhos dos domingos 14, 21 e 28 de fevereiro ] b) O que diz a voz que vem do céu? c) O que os discípulos queriam fazer no alto do monte? d) Temos o costume de ler a Bíblia? Por quê? Para refletir Jesus aparece ao lado de Moisés e Elias, que são as maiores figuras do Antigo Testamento. Moisés representa toda a Lei de Deus, e Elias representa todos os profetas que transmitiam a Palavra de Deus. Mas só Jesus aparece com roupas brilhantes, só Jesus tem luz própria. Jesus é o Filho amado de Deus. Ele é quem ilumina todo o Antigo Testamento. Por isso a voz de Deus que vem do céu deixa claro para todos nós. “Este é o meu Filho, o Escolhido. Escutem o que ele diz!” (Lc 9,35.) Devemos sempre seguir o que Jesus ensina e nossa vida toda será sempre iluminada. Guardar no coração: “Este é o meu Filho, o Escolhido. Escutem o que ele diz!” 3 – Celebrar Oração: “Este é o meu Filho, o meu Eleito: escutai-o!” Pai, com tua voz vinda da nuvem, tu nos pedes para escutar Jesus. Ajuda-nos a prestar atenção ao que o outro diz… Isso nem sempre é fácil. Ajuda-nos a aprender a escutar, aprender a fazer silêncio para poder dar ao outro espaço para falar. Ajuda-nos a acolher o que o outro quer nos dizer, sem fazer resistências. Que a tua luz ilumine nossa vida, hoje e sempre. Amém. Rezar o Pai-Nosso e a Ave-Maria de mãos dadas. 4 – Agir (a realidade nos convoca para...)
3. É preciso produzir frutos (3º Dom. Quaresma)
Objetivo: Descobrir, juntos, a missão libertadora de Maria e Isabel. Material: Bíblia, papel cortado em forma de fruta (laranja, manga etc.) e caneta ou lápis, um vaso de planta ou um galho de árvore para colar os frutos. 1 – Ver (a realidade) Dinâmica: Entregar um pedaço de papel a cada participante e pedir para escreverem nela um serviço que sempre gostam de fazer. O(a) catequista explica que estamos no mundo para produzir bons frutos e vamos colocar na árvore da vida os frutos que temos para oferecer a Deus. Cada um diz o serviço que gosta de fazer e cola o seu fruto na árvore da vida. Canta-se: “Eu vim para que todos tenham vida, / que todos tenham vida plenamente”, ou outro canto apropriado. Experiência de Vida Temos uma missão no mundo. Deus não nos criou por acaso. Nossa missão é ajudar o mundo a ser melhor. Produzir frutos de paz, de justiça, de verdade. Deus confiou a nós a missão de cuidar do mundo, de cuidar da natureza, dos animais e sobretudo de cuidar uns dos outros, vivendo como irmãos. Deus sempre nos visita e espera encontrar em nós bons frutos. Por isso apresentamos a Ele os frutos que estão na árvore... 2 – Iluminar (Ensinamentos de Jesus)
Compromisso Ler em casa o texto do nosso próximo encontro: Lucas 13,6-9.
Canto de aclamação Leitura: Lucas 13,6-9.
Final Canto do Advento: “Vem, Senhor, vem nos salvar. / Com teu povo, vem caminhar.”]
Perguntar: a) O que o homem foi procurar? b) Quando não achou frutos, o que o homem ordenou? olutador [ fevereiro ] 2016 • 35 ]
c) O que fez o agricultor? d) Somos pacientes uns com os outros? Por quê? Para refletir Jesus utiliza a parábola da figueira para ilustrar as oportunidades que Deus concede para a conversão, para produzir frutos bons. O Antigo Testamento tinha utilizado a figueira como símbolo do povo de Deus (cf. Os 9,10). Deus espera, portanto, que a figueira (povo de Deus) dê frutos, isto é, aceite converter-se à proposta de salvação que lhe é feita em Jesus. Assim Deus revela a sua bondade e a sua paciência; no entanto, não está disposto a esperar indefinidamente, espera a nossa decisão. Jesus confia em que a nossa resposta será positiva, por isso o apelo para não cortar a figueira, mas cuidar dela... Guardar no coração: “Quem sabe, no futuro, ela dará fruto”. 3 – Celebrar Oração: Ó Deus paciente, sê bendito pelos sinais dos tempos através dos quais nos convidas sem cessar a nos voltarmos para ti. Nós te damos graças, porque nos deixas o tempo da conversão. Nós te pedimos pela nossa catequese, por nossas comunidades e por nossas famílias; que o teu Espírito guie os nossos pensamentos, as nossas palavras e as nossas ações, para que possamos sempre produzir bons frutos de paz, justiça e verdade, hoje e sempre. Amém. 4 – Agir (a realidade nos convoca para...) Compromisso Ensinar em casa o que aprendeu no encontro de hoje. Convidar seus familiares a participar da missa nesta semana, pondo em prática o que aprenderam. Final Encerrar o encontro com o Pai-Nosso, a Ave-Maria e um cântico animado.]
Um espaço descontraído e os alegre que leva ertar pequenos ao desp ento ntam da fé e ao enca com Jesus
O Lutador Kids [ Fraternidade... 2 3 4 5 6
1. Cruzadinha da Fraternidade 1. Creio, Senhor, mas aumentai a minha (...); 2. É (...) que se vive para a vida eterna; 3. Dai-nos, Senhor, a vossa (...); 4. Ano (...) da Misericórdia; 5. Eu sou o Caminho a (...) e a vida; 11 6. Só o (...) constrói; 7. A (...) faz a força; 8. A (...) está no coração de quem já conhece a Jesus; 9. Quem ama também dá seu (...); 10. “É preciso (...) como se não houvesse amanhã”; 11. Mais (...) que ser compreendido; 12. A (...) é a última que morre.
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F R A
1
T E R N I D A D E
[Conheça e acompa nhe cada tempo do Ano Litúrgico]
RESPOSTAS: 1. Fé; 2. Morrendo; 3. Paz; 4. Santo; 5. Verdade; 6. Amor; 7. União; 8. Alegria; 9. Perdão; 10. Amar; 11. Compreender; 12. Esperança.
[ 36 • olutador [ fevereiro ] 2016
Homilética [ 14•02•2016
“Não porás à prova o Senhor, teu Deus.” [Lc 4,12b]
Leituras da semana
Leituras: Dt 26,4-10; Sl 90 [91] 1-2.10-15; Rm 10,8-13; Lc 4,1-13. 1. Terra, dom de Deus. Estamos diante do “credo histórico de Israel”, trecho de fundamental importância para o povo de Deus, trazido à memória a cada ano, quando as famílias celebram o memorial de sua libertação. O que deve ser feito ao tomar posse da Terra Prometida? O povo deve pegar os primeiros frutos da terra e apresentá -los a Javé; cada família devia ir até ao sacerdote, levando o cesto, e professar a sua fé. Temos aqui todo o ritual com a oferta, a profissão de fé, a adoração e o grande banquete de confraternização (v. 11). Com a família participavam também o levita e o imigrante. Todos se alegravam com a fé no Deus libertador. Neste gesto, três grandes significados: 1. O processo da libertação e a posse da terra, dom de Deus que liberta, e conquista do povo que luta e se organiza. 2. Nesta profissão de fé, o israelita reconhecia a opção preferencial que Javé havia feito pelos oprimidos e marginalizados, Javé ouve o clamor do povo e o liberta. 3. O povo manifesta a sua fé através da gratidão da oferta, reconhece que tudo vem de Deus, a liberdade, a vida e os produtos da terra. A partilha e a generosidade superam a tentação da ganância e do acúmulo. Nossa fé no Deus que é dono de tudo e tudo nos dá, nos leva à partilha generosa através do dízimo e da oferta? 2. O caminho da salvação. Cristo é o próprio fim da Lei “como meta, como termo e como realização”, quer dizer, o objetivo da Lei é chegar até Jesus, e Jesus põe fim à Lei, pois agora a vida é encontrada em Jesus Cristo e não na Lei. Os vv. 5-13 mostram que o único caminho da salvação está na fé em Cristo.
O texto de Paulo faz duas citações: Lv 18,5 - a Lei plenamente cumprida leva à salvação; se o acento aqui está no agir humano, na realidade, ninguém é capaz de cumpri-la por causa da força do pecado. A segunda, Dt 30,11-14, sublinha o agir de Deus. Mostra que a Palavra de Deus não está distante do homem (no céu ou nos abismos), mas foi colocada por Deus ao seu alcance. No v.8, Paulo mostra que esta não é palavra da lei, mas a palavra da fé. Qual é o conteúdo dessa fé? É o v. 9 que nos traz o sintético e primitivo credo cristológico: “Se, pois, com tua boca confessares que Jesus é o Senhor e, no teu coração, creres que Deus o ressuscitou dos mortos, serás salvo”.
F/reprodução
1º Domingo da Quaresma
[ dia 15: Lv 19,1-2.11-18; Sl 18[19],8-10.15; Mt 25,31-46 [ dia 16: Is 55,10-11; Sl 33[34],4-7.16-19; Mt 6,7-15 [ dia 17: Jn 3,1-10; Sl 50[51],3-4.12-13.18-19; Lc 11,29-32 [ dia 18: Est 4,17n.r.aa-bb.gg-hh; Sl 137[138],1-2a.2bc-3.7c-8; Mt 7,7-12 [ dia 19: Ez 18,21-28; Sl 129[130],1-8; Mt 5,20-26 [ dia 20: Dt 26,16-19; Sl 118[119],1-2.4-5.7-9; Mt 5,43-48
3. O vencedor do mal. Os sinóticos querem mostrar, antecipadamente, a vitória de Jesus sobre o poder do mal. Nestas três tentações simbólicas, sintetizam todas as tentações que Jesus sofreu em sua vida pública. Jesus está no deserto e é guiado pelo Espírito. O deserto pode simbolizar o povo de Israel, e o demônio todos os obstáculos e antiprojetos que Jesus enfrentou e venceu para levar à frente seu programa libertador. Os 40 dias simbolizam o tempo da vida de Jesus – uma geração. Lembra o tempo em que Moisés passou no Sinai (Ex 34,28), a caminhada de Elias para o Horeb (1Rs 19,8) e, também, o tempo em que Israel passou no deserto. Jesus, novo Moisés e, para Lucas, principalmenolutador [ fevereiro ] 2016 • 37 ]
te, novo Elias, vai refazer de modo vitorioso a caminhada do povo com um novo projeto de libertação. Jesus é tentado a ser o Messias da abundância, transformando pedras em pão. Num mundo de famintos, Jesus teria pleno sucesso. Jesus responde com o texto de Dt 8,3: “Não só de pão vive o ser humano”. O projeto de Jesus vai além do alimento. Jesus é tentado a ser o Messias do poder. O demônio propõe dar a Jesus todos os reinos do mundo com toda a glória, contanto que Jesus o adore. Jesus sabe que um messianismo temporal e político não seria libertador, seria opressor como o projeto do faraó; por isso, Jesus responde de novo com Dt 6,13: “Temerás o Senhor teu Deus, a ele servirás e só por seu nome jurarás”. Jesus é tentado a ser o Messias do prestígio. Usar o poder de Deus em seu próprio favor, isto é, a fim de se livrar da morte. Dentro do simbolismo da terceira tentação, Jesus é convidado a pular do pináculo do Templo, pois conforme o Sl 91,11-12 os anjos de Deus o protegeriam e o livrariam da morte. Mas Jesus entendeu bem que o projeto de Deus, que é a libertação dos oprimidos, tinha de passar pelo sofrimento e morte, e Jesus não se acovardou. A reposta de Jesus é tirada de Dt 6,16: “Não tenteis o Senhor vosso Deus”. O v. 13 afirma que o demônio voltará no momento oportuno, quando Jesus tiver de enfrentar os chefes dos sacerdotes, doutores da Lei e anciãos, que representavam o poder (cap. 20, cf. 22, 3-53). Quais são as três principais tentações de hoje? Quem hoje faz o papel do demônio, promovendo as tentações?] [Comentários de: dom emanuel messias de oliveira Bispo Diocesano de Caratinga Fone Cúria: (33) 3321-4600 curiadiocesanacaratinga@hotmail.com]
Homilética [ 21•02•2016
“Este é o meu filho, o Eleito. Escutai-o!” [Lc 9,35]
Leituras da semana
Leituras: Gn 15,5-12. 17-18; Sl 26 [27],1.7-9.13-14; Fl 3,17-4,1; Lc 9,28b-36 1. Aliança e promessa. Deus fez uma promessa a Abraão. Abraão acredita. Esta fé lhe é creditada como justiça. O sinal de que Deus vai cumprir sua promessa é dado no rito da aliança. A aliança é sempre bilateral, quer dizer, as duas pessoas envolvidas tinham de assumir o compromisso. O rito da aliança era concluído assim: dividiam alguns animais e colocavam as partes uma diante da outra. Os contraentes passavam no meio. Quem violasse o contrato teria a mesma sorte dos animais. Em nosso texto, porém, é só Javé, através do símbolo do fogo, que passa entre os animais. Isto significa que Javé nunca será infiel à sua promessa de conceder vida e liberdade àqueles que nele confiam. Deus promete duas coisas, que eram as aspirações mais profundas de Abraão e de todo o povo da Bíblia: descendência e terra. 2. Uma pátria no céu. A Carta aos Filipenses pode ser lida como uma compilação de três cartas escritas em momentos distintos. A primeira 4,10-20: agradecimentos pelos auxílios recebidos na prisão. A segunda seria uma exortação à unidade e notícias pessoais: 1,1-3 + 4,27 + 4,21-23. A terceira seria um ataque a falsos doutores, inimigos da cruz de Cristo: 3,1b-4,1 + 4,8-9. Como vemos, nosso trecho pertence à terceira carta, apresentando de um lado os amigos da cruz de Cristo, sendo Paulo o modelo a ser imitado; do outro lado “os inimigos da cruz de Cristo”, um contramodelo a ser evitado. O interesse dos amigos da cruz de Cris-
to, os cristãos, está no céu. O interesse dos inimigos da cruz de Cristo está no ventre etc. Paulo, o modelo. Não se trata de orgulho ou vaidade de Paulo. Aliás, os filipenses são convidados a observar não apenas Paulo, mas também os que vivem com a mesma coragem de fazer uma opção radical por Cristo (cf. 3,7-8; 1,21). No fundo, a preocupação de Paulo é ajudar os filipenses a distinguir os verdadeiros dos falsos líderes e se colocar como ponto de referência para os filipenses, diante do contratestemunho dos inimigos da cruz de Cristo. Onde está o interesse dos que são de Cristo? No céu, pois eles, mesmo atuan-
F/reprodução
2º Domingo da Quaresma
[ dia 22: 1Pd 5,1-4; Sl 22[23],1-6; Mt 16,13-19 [ dia 23: Is 1,10.16-20; Sl 49[50],8-9.16bc-17.21.23; Mt 23,1-12 [ dia 24: Jr 18,18-20; Sl 30[31],5-6.14-16; Mt 20,17-28 [ dia 25: Jr 17,5-10; Sl 1,1-4.6; Lc 16,19-31 [ dia 26: Gn 37,3-4.12-13a.17b-28; Sl 104[105],16-21; Mt 21,33-43.45-46 [ dia 27: Mq 7,14-15.18-20; Sl 102[103], 1-4.9-12; Lc 15,1-3.11-32
do na terra, já são cidadãos do céu. A espera do retorno de Cristo é ansiosa, pois, com seu poder, ele vai transformar o nosso corpo, tornando-o semelhante ao seu corpo glorioso. Eis a importância do respeito ao corpo, pois nosso corpo tem um destino glorioso. Os inimigos da cruz de Cristo são os judaizantes, os que não acreditam no valor salvífico da cruz de Cristo. A salvação deles ainda está no fiel cumprimento da Lei antiga. Mas Paulo garante que o fim deles é a perdição, pois seus pensamentos estão nas coisas da terra, não nas coisas do céu (cf. Cl 3,2). Quem são hoje os inimigos da cruz de Cristo? [ 38 • olutador [ fevereiro ] 2016
3. O êxodo de Jesus. Enquanto rezava, Jesus se transfigura. Ele está sobre uma montanha para rezar e leva consigo Pedro, Tiago e João. A montanha é um lugar de oração a sós. O Jesus de Lucas está sempre rezando, principalmente antes de decisões importantes. A montanha relembra também o lugar de tentações de um projeto mundano. Mas Jesus vence o demônio e consolida o projeto divino de salvar os homens através da cruz. Moisés, Elias e Jesus conversam sobre o seu êxodo ( sua partida através da morte e ressurreição). Moisés representa a Lei; Elias, os profetas. É que as promessas do Primeiro Testamento vão se realizar em Jesus. Para Lucas, este v. 31 é o ponto alto do episódio. O que significa o êxodo de Jesus? A palavra relembra toda a caminhada da libertação do povo do Egito até à Terra Prometida. Jesus também quer libertar o povo oprimido. Isto ele vai fazer superando as tentações do comodismo, do egoísmo e do triunfalismo, e subindo para Jerusalém numa subida sem retorno, para lá enfrentar a morte e de lá continuar sua subida ou êxodo até à casa do Pai (cf. 9,51 que marca esta decisão de Jesus). Da nuvem, a voz de Deus declara: “Este é meu Filho, o escolhido, escutem o que ele diz”. Jesus é o Filho, superior aos servos Moisés e Elias. Só que ele vai assumir a missão de Servo de Javé, o escolhido (cf. Is 42,1) para a libertação-transfiguração do seu povo através da cruz. O Primeiro Testamento conduz a Jesus e se eclipsa com a sua chegada. A única voz autorizada agora é a dele. Diante desse mistério, ainda incompreensível, os discípulos se calam. Como ajudar, hoje, na transfiguração do rosto tão desfigurado do nosso povo sofrido?]
Homilética [ 28•02•2016
“Se vós não vos converterdes, perecereis.” [Lc 13,3]
Leituras da semana
Leituras: Ex 3,1-8a.13-15; Sl 102 [103],1-4.8.11; 1Cor 10,1-6.10-12; Lc 13,1-9 1. Deus libertador. Moisés foi pastoreando as ovelhas do seu sogro até à montanha de Deus, o Horeb (= Sinai). Ali, o Senhor lhe aparece no meio de uma sarça que estava em chamas, mas não se consumia. A experiência de Deus é um mistério que está além da compreensão humana, apresentado aqui como fogo que arde sem se consumir. Deus chama Moisés e se apresenta como o Deus de seus antepassados, o Deus que fez aliança com os patriarcas Abraão, Isaac e Jacó. É um Deus sensível e solidário, por isso escutou os clamores do povo no Egito e desceu para libertá-lo. É um Deus fiel às promessas feitas aos patriarcas, vai conduzir o povo a uma terra boa e espaçosa, onde corre leite e mel. Deus exige respeito e reverência. Moisés, de fato, deve tirar as sandálias, pois está pisando em lugar sagrado. Para que Deus o chama? Para ser o seu agente na libertação do povo, por isso Deus vai enviá-lo ao Egito. Moisés se sente incapaz dessa missão (v. 11), mas Deus garante Sua presença e promete que o povo chegará até o Sinai para prestar-Lhe um culto. Deus revela seu nome a Moisés - “Eu sou aquele que sou” - para que ele possa responder ao povo: “Eu sou me enviou até vocês”. E ele quer ser chamado sempre com este nome que está ligado à sua presença e a todo o processo de libertação do povo. Qual é a identidade de Jesus Cristo para você? Ele o chama para alguma missão? 2. Os erros do passado. Esta releitura do Antigo Testamento mostra que “estes fatos aconteceram como exemplos para nós”. A preocupação do apóstolo é a tentação da comunidade de recair nos erros do passado, “a falsa ilusão de estarem se-
guros e a indigna convicção de já terem atingido a libertação definitiva”. Quais os fatos que aconteceram como exemplos? A travessia pelo deserto, onde os israelitas eram protegidos pela nuvem de Deus, a travessia do Mar Vermelho, sob a ordem de Moisés. O maná, alimento de Deus para todos, a água da rocha. A nuvem e a água do mar lembram para Paulo o batismo que lava, congrega, compromete. No maná e na água da rocha, temos a prefiguração da Eucaristia. Essa rocha que nos acompanhava era Cristo. “Segundo as tradições dos rabinos, a rocha golpeada por Moisés (cf. Nm 20,1-3) seguia os hebreus para providenciar-lhes a água. Essa interpretação é aqui usada pa-
F/reprodução
3º Domingo da Quaresma
[ dia 29: 2Rs 5,1-15a; Sl 41[42],2-3; Sl 42[43],3-4; Lc 4,24-30 [ dia 1º: Dn 3,25.34-43; Sl 24[25],4bc-5ab.6-7bc.8-9; Mt 18,21-35 [ dia 2: Dt 4,1.5-9; Sl 147[147B],12-13.15-16.19-20; Mt 5,17-19 [ dia 3: Jr 7,23-28; Sl 94[95],1-2.6-9; Lc 11,14-23 [ dia 4: Os 14,2-10; Sl 80[81],6c-8a.8bc-9.10-11ab; Mc 12,28b-34 [ dia 5: Os 6,1-6; Sl 50[51],3-4.18-19.20-21ab; Lc 18,9-14
ra dizer que Cristo conduz o povo desde os tempos do Êxodo” (cf. Bíblia Pastoral). O v. 5 nos adverte: “Apesar disso, a maioria deles não agradou a Deus, e caíram mortos no deserto”. Quer dizer, com tantos favores de Deus, tinham tudo para serem ótimos e mesmo assim pecaram. E isso aconteceu como exemplo e instrução para nós, que vivemos no fim dos tempos. O que fazer então? É não fazer o que eles fizeram: cobiça, idolatria, imoralidade, provocar a Deus, murmurar. Eles cometeram esses erros e foram castigados. Eis a grande advertência final: “Portanto, aquele que julga estar de pé, tome cuidado para não cair”. Você é consciente de sua fragilidade e sempre confiante? olutador [ fevereiro ] 2016 • 39 ]
3. A paciência de Deus. Alguns achavam que certos desastres eram castigos de Deus pelos pecados deles. É a doutrina da retribuição: quem faz o mal deve pagar por ele já nesta vida. Como eles são justos, foram poupados. Jesus tira essa idéia errada da cabeça do povo: todos são pecadores, todos têm de se converter. Deus não é vingador. Esses fatos trágicos são falhas humanas (caso de Pilatos) e contingências da vida (queda da torre de Siloé). Entretanto, Jesus tira uma lição dos fatos da vida. As vítimas não são mais pecadoras do que os presentes, mas os acontecimentos podem ser vistos como advertências e convite à conversão. Uma vida de solidariedade no mal leva à ruína total. Uma vida de solidariedade no bem leva à construção do Reino de Deus. Jesus narra a parábola da figueira, que simboliza o povo de Israel, uma árvore generosa, pois dá frutos dez meses por ano. Ela estava plantada no meio da vinha, que também simboliza Israel. Foi Deus que a plantou. Só que esta figueira não dá fruto e já faz três anos de espera paciente – paciência de Deus. Deus diz ao agricultor que corte a figueira. O agricultor é Jesus, que pede mais um tempo. Vai investir além das expectativas. Vai desdobrar-se de cuidados pela sua figueira: cavar ao redor e adubar! Os agricultores sabem que não precisam adubar as figueiras, pois já eram plantadas no meio das vinhas e tratadas com esmero. Este cuidado retrata que a solidariedade, paciência e carinho de Deus chegam às raias do absurdo. Mas fica uma grande pergunta no ar. Será que para nós, que somos a figueira, não está terminando o ano da culpa? Quem sabe estamos abusando da paciência de Deus?] [Comentários de: dom emanuel messias de oliveira Bispo Diocesano de Caratinga
Homilética [ 06•03•2016
[Lc 15,24]
Leituras da semana
Leituras: Js 5,9a.10-12; Sl 33[34],2-7; 2Cor 5,17-21; Lc 15,1-3.11-32 1. A terra e o pão. O povo de Deus acaba de chegar à Terra Prometida e celebra a chegada com a circuncisão e a Festa da Páscoa. Como o v. 11 fala dos pães sem fermento, isto significa que a festa da Páscoa e dos pães ázimos já estavam reunidas em uma só. O que era a Festa da Páscoa? Antes do êxodo ela servia para os pastores afastarem da família e dos rebanhos os espíritos maus. Isto era feito matando um animal e tingindo a entrada da tenda com o sangue dele. Depois do Êxodo, a Festa da Páscoa adquire um novo sentido. Torna-se lembrança perpétua do Deus vivo que, para libertar o seu povo, derrota os opressores e seus ídolos. O que era a festa dos pães sem fermento? De início só era celebrada pelos agricultores na ocasião da colheita. A finalidade era não misturar o produto da colheita anterior com o produto da nova. Eles comeram pão sem fermento e trigo tostado, e só a partir do dia seguinte, comeram produtos da terra (v.11). Quando começaram a comer dos produtos da terra, o maná parou de cair (v.12). O que era o maná? A contraposição entre os produtos da terra e o maná marca o fim do período do deserto. O maná é uma figura da Eucaristia, no sentido de ser o pão do céu e alimento de um povo que ainda está a caminho para a pátria celeste. Você experimenta, ao comungar, o sentido libertador da Eucaristia? 2. Um novo tempo. Paulo desenvolve o tema da reconciliação. Ele é acusado de não ser apóstolo, pois não conheceu Jesus em sua vida terrestre, não ouviu suas palavras nem participou de suas ações. Por isso não pode ser testemunha do Evangelho. Paulo
[ dia 7: Is 65,17-21; Sl 29[30],2.4.5-6.11-12a e 13b; Jo 4,43-54 [ dia 8: Ez 47,1-9.12; Sl 45[46],2-3.5-6.8-9; Jo 5,1-16 [ dia 9: Is 49,8-15; Sl 144[145],8-9.13cd-14.17-18; Jo 5,17-30 [ dia 10: Ex 32,7-14; Sl 105[106],19-20.21-22.23; Jo 5,31-47 [ dia 11: Sb 2,1a. 12-22; Sl 33[34],17-21.23; Jo 7,1-2.10.25-30 [ dia 12: Jr 11,18-20; Sl 7,2-3.9bc-12; Jo 7,40-53
vai mostrar que o Evangelho não é simples história de Jesus e, sim, o anúncio de sua morte e ressurreição, que reconcilia o homem com Deus e inaugura uma nova era. Conhecer o Cristo segundo as aparências tem pouco valor, pois agora já não o conhecemos assim (v. 16). O importante é a novidade que Deus nos traz: a reconciliação em Cristo. Ele restaurou sua obra corrompida pelo pecado. Se alguém está em Cristo é nova criatura. Isso é que importa. Deus não levou em conta os pecados dos homens e por meio de Cristo ele reconciliou o mundo consigo. É a Paulo e aos apóstolos que Cristo confiou o ministério da reconciliação. Ele exerce assim a função de embaixador em nome de Cris-
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4º Domingo da Quaresma
“Este meu filho estava morto e tornou a viver.”
to e é através dele (de Paulo) que Deus fala, exortando os coríntios à reconciliação. O v. 21 significa: Deus fez de Cristo, que não tinha pecado nenhum, “uma pessoa solidária em tudo com a humanidade pecadora, para que por seu intermédio nos tornássemos justos”, agraciados, reconciliados. Você cuida de viver profundamente em paz com Deus, os irmãos e a comunidade? 3. A roupa nova. O capítulo 15 é o coração do Evangelho de Lucas. São três parábolas de misericórdia: a da ovelha perdida, da dracma perdida e do filho pródigo (melhor ainda, parábola do Pai misericordioso). O filho pede sua parte da herança ao pai e parte para bem distante. Pecar
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é distanciar-se da casa do Pai com experiências desligadas da fonte do amor e da vida. Mas ele acaba na “lama”, cuidando de porcos, animal imundo para os judeus. Nem comida de porcos ele tinha. Reconhece, na miséria absoluta, que na casa do pai até os empregados têm de tudo. Ensaia sua confissão e decide voltar. Sua esperança é de ser ao menos um empregado. Mas o Pai o aguardava ansioso (v. 20). Vendo-o, encheu-se de compaixão e correu ao seu encontro e o restabelece na família com toda a dignidade de filho: o beijo é o sinal do perdão; a veste festiva é para um hóspede de honra; a entrega do anel é a restituição de todos os direitos e plenos poderes na família; os sapatos eram luxo dos homens livres, escravos não usavam. Naquela casa voltou a alegria: “Vamos fazer um banquete, porque meu filho estava morto e tornou a viver, estava perdido e foi encontrado”. E começaram a festa. Mas... e o filho mais velho? O mais velho tem todas as qualidades, mas não é capaz de acolher o irmão que volta, nem quer partilhar da alegria do coração do Pai que insiste com amor e ternura que ele entre para a festa. Gabando-se de sua conduta justa e irrepreensível, chega a criticar a atitude do Pai. A parábola termina com o Pai justificando sua conduta misericordiosa. E o filho mais velho entrou, ou não, entrou na festa? Agora entenderemos os versículos iniciais. O filho mais novo são todos os pecadores com quem Jesus faz a festa. O filho mais velho são os fariseus e doutores da lei que se consideram justos, mas são incapazes de acolher os irmãos marginalizados e ainda criticavam a atitude de Jesus. E você? Qual a sua postura?] [Comentários de: dom emanuel messias de oliveira Bispo Diocesano de Caratinga
Homilética [ 13•03•2016
“Eu também não te condeno.” [Jo 8,11]
Leituras da semana
Leituras: Is 43,16-21; Sl 125[126], 1-6; Fl 3,8-14; Jo 8,1-11 1. Um mundo novo. Em pleno exílio babilônico, o profeta anônimo (Deutero-Isaías, por volta do ano 550) quer reanimar as esperanças de retorno à Pátria. Ciro, rei da Pérsia, está conseguindo seguidas vitórias sobre os caldeus. O profeta interpreta o fato à luz da fé. O Senhor, Criador, Redentor e Rei de Israel está se servindo do seu servo Ciro para libertar Israel (cf. vv. 14-15). Após as memórias das ações libertadoras de Javé, da passagem pelo Mar Vermelho, e da destruição do exército do faraó que perseguia os israelitas, curiosamente, o v. 18 convida a esquecer o passado. Por quê? Porque o que Javé vai fazer agora é uma coisa nova, muito mais fantástica do que as maravilhas do Êxodo. No v. 19 e seguintes, o profeta reanima as esperanças dos exilados. Esta coisa nova já começou a acontecer. As conquistas de Ciro são um pré-anúncio. No Êxodo o deserto foi cruel e hostil ao povo. Javé vai abrir uma estrada no deserto e fazer correr rios no sertão. Diante das maravilhas em favor de Israel, até os animais selvagens darão glória a Javé, pois dando água para a sede do seu povo, Javé favorece toda a Criação, renovando a vida. As ações de Javé são imprevisíveis. Assim, devemos rezar e alimentar nossas esperanças. Se Javé se serviu de Ciro, não poderia também servir-se de um novo governo para restaurar nossas estradas, suscitar vida nas favelas, despertar esperanças para os excluídos? Como poderemos ser instrumentos nas mãos de Deus? 2. Esquecer o passado. Podemos dividir a Carta aos Filipenses em três bilhetes: a) 4,10-20 – bilhete de agradecimento; b) 1,1-3-1a + 4,2-7 + 4,21-23 – exortações à
Rm 4,13.16-18.22; Mt 1,16.18-21.24
unidade e notícias pessoais; c) 3,1b-4,1 + 4,8-9 – ataques aos falsos doutores. Nosso texto faz parte do 3º bilhete. Um grupo de cristãos que vinha do judaísmo queria judaizar o cristianismo. Queriam forçar a comunidade a seguir as leis judaicas. Paulo critica o rito da circuncisão na carne e dá um sentido espiritual à circuncisão. O ponto de referência da vida do cristão é Cristo, e não a Lei de Moisés. Por isso Paulo descreve seu passado irrepreensível segundo a Lei. Mas afirma que, depois de ter conhecido Jesus Cristo, seu passado perdeu o sentido. Pode até ser considerado como uma perda. Nada é maior que o conhecimento que agora ele possui de Jesus Cristo.
Aliás, diante de Jesus Cristo, tudo que ele conquistou antes pode ser considerado como lixo desprezível. O mais importante agora é ganhar Jesus Cristo pela justiça que vem de Deus, através da fé em Jesus Cristo. Usando a imagem do atleta que corre para alcançar o prêmio, Paulo deixa claro que já foi conquistado por Cristo, mas a perfeição é meta que está no fim da corrida. O importante para ele não é gloriar-se das conquistas alcançadas, mas continuar a correr. E para você, o que é importante? Entrar em campo ou ser espectador ou, quem sabe, atleta aposentado?
de todos os excluídos da sociedade e da religião judaica. Para excluir Jesus, os senhores do Templo (fariseus e doutores da lei) condenam uma adúltera que, pelo adultério, deveria ser excluída, juntamente com o adúltero, não só da religião, mas até da vida, com pedradas. Era a Lei. Queriam saber a opinião de Jesus (v. 5), mas para eles a adúltera já está condenada. Serviam-se dela para condenar também a Jesus (v. 6). Diante da pergunta, Jesus se inclina e escreve com o dedo no chão. Depois se ergue e, com voz de quem conhece profundamente as fraquezas humanas, com o coração de quem veio para acolher, perdoar e não condenar, Jesus diz solenemente: “Quem dentre vós não tiver pecado, atire a primeira pedra”. A frase pulveriza os corações de todos os que ainda não vivem estas sentenças lapidares de Jesus: “Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados, perdoai e sereis perdoados”. (Lc 6,37.) Os pretensos juízes da mulher excluída são incluídos na categoria de réus. E devagar foram saindo conscientes de seus pecados. Os mais velhos saíram primeiro. Jesus e a mulher começam o diálogo libertador: “Ninguém te condenou?” “Ninguém, Senhor!” O círculo opressor que oprimia e queria condenar estava desfeito. Restava diante da mulher a única pessoa que, isenta de todo o pecado, poderia condená-la. Só que Jesus ficou não para condenar, mas para absolver, resgatar e salvar. É o coração do Pai misericordioso que fala por Jesus: “Eu também não te condeno. Vai e, doravante, não peques mais”. Jesus condena o pecado, não o pecador. Como o mundo seria diferente se aprendêssemos a lição de Jesus!]
3. Uma vida nova. Jesus ensina no Templo, local símbolo da exclusão de Jesus e
[Comentários de: dom emanuel messias de oliveira Bispo Diocesano de Caratinga
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5º Domingo da Quaresma
[ dia 14: Dn 13,1-9.15-17.19-30.33-62; Sl 22[23],1-3a.4.5.6; Jo 8,12-20 [ dia 15: Nm 21,4-9; Sl 101[102],2-3.16-18.19-21; Jo 8,21-30 [ dia 16: Dn 3,14-20.24.49a.91-92.95; Cânt. Dn 3,52-56; Jo 8,31-42 [ dia 17: Gn 17,3-9; Sl 104[105],4-9; Jo 8,51-59 [ dia 18: Jr 20,10-13; Sl 17[18],2-7; Jo 10,31-42 [ dia 19: 2Sm 7,4-5a.12-14a.16; Sl 88[89],2-3.4-5.27 e 29;
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Variedades [ Dicas de português & Humor
[ Não Tropece na Língua [ ALGUMAS REFLE XÕ ES SOBRE VÓS Por que nos cursos de português não se usa mais o pronome vós? Como usar vós, o que significa? [ Amélia, São Paulo, SP
Patê natural de cenoura Ingredientes
4 cenouras cozidas; 1 cebola pequena; 1 colher (sopa) de molho de soja; ½ limão; 1 colher (sopa) de mel; óleo de soja até dar ponto de patê (pode-se usar também óleo de milho ou girassol); sal marinho.
Modo de Fazer
Cozinhar as cenouras em quadradinhos. Colocar todos os ingredientes no liquidificador. Bater bem e guardar, bem fechado, na geladeira.]
Do livro
“Cozinhando sem Mistério”, de Léa Raemy Rangel & Maria Helena M. de Noronha Ed. O Lutador, Belo Horizonte, MG
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Precisamos começar lembrando que temos três pronomes pessoais no singular e três no plural. A primeira pessoa é a que fala: eu e nós. A segunda é a pessoa com quem se fala: tu e vós. A terceira é a pessoa de quem se fala: ele/ela e eles/elas. Ocorre que nós brasileiros deixamos de lado tu e vós em favor de você e vocês, que seriam pronomes de tratamento tanto quanto o senhor, a senhora, vossa senhoria, vossa excelência. O pronome pessoal tu é ainda usado em algumas regiões do Brasil (eu mesma tuteio a maioria das pessoas com quem converso), mas o seu correspondente no plural – vós – não é jamais falado neste país. Seu uso ficou restrito ao âmbito religioso e literário, podendo ser encontrado ainda em escritos de natureza bastante formal como um discurso. É por essa raridade que os livros didáticos não incluem mais este pronome na conjugação verbal, Amélia. Mas é interessante saber como ele funciona, ao menos como “conhecimento geral”.
VÓS SINGUL AR
Apesar de pertencer à categoria plural, vós pode ser usado em relação a uma só pessoa. É o caso, por exemplo, da Divindade: Pai Nosso, que estais no céu, santificado seja o Vosso nome... Também é muito comum os fiéis se dirigirem a Deus com a segunda pessoa do singular, sem que isso signifique menor respeito ou reverência. Assim sendo, a mesma oração pode ser feita com o uso do pronome Tu, mas neste caso é preciso observar a mudança dos verbos, naturalmente, e demais pronomes: Pai Nosso, que estás no céu, santificado seja o Teu nome... VÓS P LURAL
Para ilustrar o uso do pronome vós como segunda pessoa do plural, trago um trechinho do poema Versos, de Cruz e Sousa, escrito em 1881 na então Desterro, hoje Florianópolis: Eia, jovens, avante! Ser artista é brilhante, Trabalhar é uma lei! [...] Não temais os pampeiros, Sois gentis brasileiros, Deveis pois progredir! Quem vos traça na história Vossa augusta memória É um deus – o Porvir!]
humor Quando os índios crescem No barracão da fazenda, sempre apareciam índios da região. Um deles gostava de conversar com o velho fazendeiro sobre as coisas do dia a dia. Uma vez, o fazendeiro perguntou ao índio: – Você gosta de mulheres? – Minha é boa mulher! – disse o índio. – É... deve ser... afinal você está casado há 33 anos... Houve um longo silêncio. Depois o índio explicou: – Primeiros 10 anos, eu e mulher brigar, brigar. Segundo 10 anos, mulher e crianças brigar, brigar, brigar, eu
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calar boca. Terceiro 10 anos, crianças crescer, eu crescer, todos calar boca... Fé e política De férias em Cuba, um português conversa com um cubano. A certa altura pergunta-lhe o cubano: “Você vem de um país muito católico, até lá apareceu Nossa Senhora... Fátima. É católico?” “Mais ou menos” – responde o português. “Acredito, mas não pratico. Já agora, deixe-me fazer-lhe uma pergunta” – continua o português. “Você vive num país oficialmente comunista. É comunista?” “Mais ou menos” – responde o cubano. “Pratico, mas não acredito”.]
Mensagens [ Poesia & Sabedoria... [
P o e m a pa r a o m ês d e f e v e r e i ro
eco Cantara ao longe Francisco, jogral de Deus deslumbrado. Quem se mirara em seus olhos, seguira atrás de seu passo! (Um filho de mercadores pode ser mais que um fidalgo, se Deus o espera com seu comovido abraço...) Ah! Que celeste destino, ser pobre e andar a seu lado! Só de perfeita alegria levar repleto o regaço! Beijar leprosos, sem se sentir enojado! Converter homens e bichos! Falar com os anjos do espaço!... (Ah! Quem fora a sombra, [ao menos, desse jogral deslumbrado!) Do livro:“Antologia Poética”. Editora Global, S. Paulo, 2013
[
Fotos/reprodução
cec í l i a m e i r ele s
P a l a vr a d e s a b e d o r i a
“Todos os homens podem ser criminosos, caso sofram tentação; todos os homens podem ser heróis, caso sejam inspirados.” G . K. Ch e s t e rton
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Sociedade [ Norte da Nigéria: a degradação das terr Ag n è s S i na ï
N
o seu livro Climate Wars [Guerras Climáticas], o jornalista Gwynne Dyer descreve um mundo onde o aquecimento se acelera e onde os refugiados, esfomeados pela seca, perseguidos pelo aumento do nível dos oceanos, tentam chegar ao hemisfério Norte. Enquanto isso, os últimos países autossuficientes em alimentos, os de latitudes mais altas, devem defender-se, inclusive a golpes de armas nucleares, contra vizinhos cada vez mais agressivos do Sul da Europa e das margens do Mediterrâneo, transformados em desertos. Face ao que certos cientistas denominam uma “perturbação climática de origem humana”, a geoengenharia – ou seja, a intervenção deliberada para reduzir o aquecimento do planeta – tenta assumir o controle do clima. Ela consiste em um conjunto de técnicas
para remover parte dos excedentes de carbono da atmosfera (remoção de dióxido de carbono) e regular as radiações solares (gestão de radiação solar), o risco de uma maior desestabilização das sociedades e ecossistemas. A pulverização de enxofre, por exemplo, supõe que a camada comum na atmosfera é de espessura suficiente para ter um efeito ótico de obstrução da radiação solar e, desse modo, refrescar o planeta. Mas a observação de erupções vulcânicas leva os climatologistas a constatar que, se as partículas de enxofre concorrem para resfriar a atmosfera, elas também induzem secas regionais e podem reduzir a eficiência de painéis solares, levar à degradação da camada de ozônio e enfraquecer o ciclo hidrológico global. “Além disso, sem acordos internacionais que definam como e em que proporções usar a geoengenharia, as técnicas de gestão de radiação solar representam um risco geopolí-
tico. Como o custo desta tecnologia alcança dezenas de bilhões de dólares por ano, ela poderia ser assumida por atores não-estatais ou pequenos Estados agindo em seu nome. Isso contribuiria para os conflitos mundiais ou regionais”, adverte o último relatório do IPCC. As mudanças climáticas não criam apenas novos motivos para conflitos violentos, mas também novas formas de guerra, ressalta o psicossociólogo Harald Weizer. A violência extrema desses conflitos excede o quadro das teorias clássicas e “instaura espaços de ação para os quais nenhum quadro referencial é fornecido pelas experiências vividas no mundo, marcado pela paz, do hemisfério ocidental pós-segunda guerra mundial”. Combates assimétricos entre populações e senhores de guerra a serviço de grandes grupos privados ampliam os mercados da violência, galvanizados pelo aquecimento climático. O caos de Darfur, no Sudão, que per-
As mudanças climáticas não criam apenas novos motivos para conflitos vio novas formas de guerra, ressalta o ps
Guerras climáticas, a nova ameaça [ 44 • olutador [ fevereiro ] 2016
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dura desde 1987, é emblemático dessa dinâmica autodestrutiva agravada pela fragilidade dos Estados. No norte da Nigéria, a degradação das terras perturbou o modo de vida agrícola e de pastoreio e interfere com as rotas migratórias. Várias centenas de aldeias foram abandonadas e as migrações que resultaram disso contribuíram para desestabilizar a região, preparando o terreno para o movimento islâmico Boko Haram. O último informe do IPCC define a noção de “risco composto” [compound risk], que designa a convergência de múltiplos impactos numa dada área geográfica: “Como a temperatura média do globo pode aumentar de 2 a 4°C até 2050, em relação às médias do ano 2000, há um risco, mantendo-se todas as coisas iguais, de importantes mudanças nos padrões de violência interpessoal, conflitos entre grupos e instabilidade social no futuro”. O pesquisador Marshall B. Burke, da Universidade de Berkeley, na Cali-
fórnia, e seus coautores anteciparam um crescimento de conflitos armados, em 54%, de agora até 2030. Seu estudo propõe a primeira avaliação global dos impactos potenciais das mudanças climáticas sobre as guerras na África Sub-Saariana. Ele ilumina a ligação entre guerra civil, altas da temperatura e queda das chuvas, ao extrapolar as projeções médias de emissão de gases de efeito estufa do IPCC para estas regiões entre 2020 e 2039. O afluxo de refugiados às portas da ilha de prosperidade que é a Europa poderia continuar a aumentar no decorrer do século 21. “Existem hoje tantas pessoas deslocadas no mundo em razão da degradação ambiental como pessoas deslocadas pela guerra e pela violência”, estima o cientista político Francis Gemenne. Esses migrantes fogem de guerras que acontecem longe do Ocidente, o qual, a despeito de sua responsabilidade histórica pelo aquecimento global, resiste em reconhecer um status: “Refutar o termo de
Existem hoje tantas pessoas deslocadas no mundo em razão da degradação ambiental como pessoas deslocadas pela guerra e pela violência
“refugiado climático” significa refutar a ideia de que as mudanças climáticas são uma forma de perseguição contra os mais vulneráveis.” Estas são vítimas de um processo de transformação da Terra que está muito além delas. (Tradução: Inês Castilho)]
os violentos, mas também o psicossociólogo Harald Weizer
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Fonte: Outras Palavras
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das terras perturbou o modo de vida agrícola...
Mundo [ A crise do setor min
Na crise da mineração, chance para a América Latina [ 46 • olutador [ fevereiro ] 2016
P R aú l Z i bec h i
ela primeira vez em muitos anos, a mineração está retrocedendo na América Latina. À queda dos preços internacionais, e ao aumento de custos de produção, com consequente diminuição dos lucros, soma-se a crescente resistência da sociedade, alarmada com os impactos ambientais e sociais da atividade. “O modelo extrativo mineiro é um problema de poder e, portanto, político”, diz em seu último informe o Observatório de Conflitos Mineiros da América Latina - Ocmal. Apesar da queda dos preços internacionais dos minérios, a região continua recebendo a maior parte do investimento em exploração do subsolo, em plano mundial. O informe acrescenta: “O extrativismo mineiro é um problema de
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Preços dos produtos primários despencaram. Populações revoltam-se contra a exploração predatória. Como o continente pode tirar proveito destas novidades
etor mineiro não se deve apenas à queda dos preços... direitos humanos”, já que as grandes empresas multinacionais aproveitam-se das debilidades dos serviços públicos “para promover uma imagem de responsabilidade social e de que satisfazem necessidades da população”. O Ocmal chega a esta conclusão depois de constatar que “é falso que as empresas mineradoras desenvolvam infraestrutura para as comunidades, já que fazem obras para que trafeguem seus equipamentos e seu pessoal; que promovam o direito à saúde ou educação das comunidades, quando o que fazem é oferecer, aos pobres, migalhas dedutíveis de impostos, contaminando o ambiente e tornando piores a curto, médio e longo prazo a saúde e as condições de vida das pessoas. Em 15 de outubro, a Cepal – Comissão Econômica para América Latina, da ONU – informava que a América Latina viu a entrada de investimentos estrangeiros diretos cair 21%, no pri-
meiro semestre do ano, devido “à queda das inversões em mineração e hidrocarbonetos, causada pela redução dos preços internacionais, a desaceleração da China e o crescimento econômico negativo da região”. O investimento estrangeiro já havia caído 16% em 2014, o que mostra não se tratar de um declínio conjuntural. As inversões voltadas à extração de matérias-primas tende a se degradar. O Brasil concentra o maior declínio (-36%), em grande medida em razão da crise que afeta seu mercado interno. No Chile, Colômbia e Peru, a redução concentrou-se especialmente no setor minerador. Três são as razões que explicam esta queda: a consistente baixa nos preços internacionais dos minérios, o aumento dos custos de exploração e a forte oposição que a atividade mineradora encontra, junto às comunidades indígenas e camponesas, o que está levando os governos a serem mais exigentes com as multinacionais do setor.
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Um passo atrás? Muitos governantes e analistas lamentam o retrocesso nos investimentos mineiros, mas na realidade trata-se de uma nova oportunidade para alcançar um crescimento sustentável. O informe anual da Cepal sobre investimento estrangeiro assinala que a queda dos preços dos minérios começou em 2012 – dois anos antes da queda dos preços do petróleo – e que isso resulta em investimentos menores, a partir de 2014. O índice de preços das commodities, elaborado pela Agência Bloomberg, que inclui petróleo, ouro e soja, caiu pela metade, desde o pico histórico do primeiro semestre de 2011. A multinacional Glencor-Xstrata, que controla a maior parte da produção de minerais e grãos no mundo, registrou na Bolsa de Londres perdas superiores a 30% no final de setembro, totalizando uma queda acumulada de 74% no ano. Não é o único caso. “Na mesma tendência estão, entre outras transnacionais, a AngloAmerican, com perdas
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[▶ de 10% em setembro e 60% no ano; a BHP Billiton, com perda de 40% em 2015 e a Antofogasta Minerals (-33%). O crise do setor de mineração implica fechamento de minas, para reduzir a produção com objetivo de recuperar os preços, e perdas maciças de postos de trabalho.
Por um lado, há os fortes passivos ambientais e a grave contaminação das águas ... Por outro, as indústrias de extração consomem muita energia Em outubro, o grupo Goldman Sachs informou que os preços dos minérios continuarão caindo. No caso do cobre, principal produto mineral latino -americano, o preço caiu em agosto a 4.968 dólares a tonelada, o valor mais baixo em vários anos, mas espera-se que no final de 2016 esteja ainda mais
reduzido: apenas US$ 4200. Segundo os especialistas, os preços de mercado aproximam-se cada vez mais dos preços de produção (US$ 4000, no caso do cobre), e as empresas não são capazes de frear o declínio. [...] A América Latina é campeã em atrair capitais externos para mineração. A porcentagem de dinheiro estrangeiro, nos investimentos para o setor, não passa de 10% na média mundial – mas na região, atinge 26%, e chega a superar 50% em países como Bolívia e Chile. Quanto mais industrializado é um país, menos investimentos chegam aos recursos naturais. Um mar de conflitos Mas a crise do setor mineiro não se deve apenas à queda dos preços. Um fator decisivo são as resistências das populações, que muitas vezes conseguem fechar as minas ou interromper seus trabalhos. Segundo a Cepal, os conflitos mineiros ocorrem em todo o mundo “mas a América Latina concentra uma quantidade desproporcional”. Os conflitos desenvolvem-se de modos distintos em cada país. No Uruguai e Chile, por exemplo, costumam ter como canal o Judiciário. Em abril de 2013, a empresa canadense Barrick Gold foi obrigada a suspender indefinidamente a exploração da mina de ouro Pascua Lama, na fronteira de entre Argentina e Chile, após uma ação judicial que, baseada nas demandas das comunidades indígenas do local, acusaram a empresa de prejudicar o acesso à água. É o maior projeto de mineração interrompido no continente. Representou, para a empresa, perdas de 5 bilhões de dólares. No Peru, as comunidades apelaram à ação direta, que conseguiu paralisar a mina Yanacocha, bem como outros projetos ao norte e ao sul. O país converteu-se em epicentro dos conflitos mineiros. Regiões inteiras, com dezenas de prefeitos e milhares de camponeses implicados, foram arrastadas a conflitos graves, com feridos e mortos. O forte crescimento das inversões e a multiplicação dos projetos não são
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suficientes para explicar o aumento vertiginoso do número de conflitos. Há três razões adicionais. A primeira é que as comunidades afetadas têm maior acesso á informação e mostram uma capacidade renovada de lutar para que suas vozes sejam ouvidas. Camponeses e indígenas teceram redes de solidariedade com ONGs ambientalistas e organizações sociais, tanto rurais quanto urbanas, e contam com apoios institucionais em organismos de direitos humanos, prefeitos e autoridades estatais de todos os níveis, assim como meios de comunicação. A segunda razão é a Convenção 169, da Organização Internacional do Trabalho - OIT, um importante instrumento legal aprovado por 15 países da região, que obriga os governos a consultar os povos indígenas quando os projetos afetam suas comunidades. Quase todos os povos indígenas apelam a este mecanismo em seu processo de empoderamento diante dos governos. A terceira relaciona-se com a percepção da ocorrência de fortes danos ambientais nos lugares onde já existem empreendimentos mineiros e a certeza de que as multinacionais do setor obtêm enormes lucros. Por um lado, há os fortes passivos ambientais e a grave contaminação das águas. Por outro, as indústrias de extração consomem muita energia. Há um “uso mais intensivo da energia, porque as jazidas em exploração têm cada vez menos quantidade de mineral por volume de material extraído”. [...] É possível que a crise da mineração seja uma oportunidade para os povos. Se forem capazes de estabelecer as bases para um modelo econômico diferente, menos voltados às exportações de commodities,mais inclinado para o mercado interno e regional; menos agressivo diante da natureza e as comunidades; com mais trabalho especializado envolvido na fabricação de produtos de alta qualidade.] Fonte: Outras Palavras
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