Novidade [ O Lutador Kids: O Semeador, em quadrinhos... Ano lxxxviI / Nº 3876 MAIO / 2016 olutador.org.br
A Alegria do
Amor
[ VIII Peregrinação
foto/ansa
Nacional das Famílias
R$ 9,90
[ Nos subterrâneos da indústria farmacêutica
programa
Manhã América
Comece o dia com oração, informação e música!
segunda a sexta, às 7h30 americabh.com.br
Espaço do Leitor [ Escreva, envie seu e-mail, co Especial [ Encontro Matrimonial Mundial Ano lxxxvii / nº 3875 ABRil / 2016 olutador.org.br
Misericordiosos como o Pai R$ 9,90
[ Caratinga: um canteiro dos Grupos de Reflexão [ A Igreja do lado mais fraco
@ [ MARIA ESTRELADA “Estes votos e louvores são para todos do Instituto dos Missionários Sacramentinos de Nossa Senhora, e muito especialmente para a cronista Maria estrelada dorense, que gentilmente me dedicou uma obra-prima de sua nobre sabedoria, ou seja, a Crônica “Mulata da sala”, conforme transcrita na edição nº 3874 da Revista O Lutador – março 2016, por Maria das Dores Caetano Guimarães. Imensamente agradecido e honrado, estou com tamanha alegria que guardo meu presente de Deus debaixo de 7 chaves, a Revista e o Livro (Horas Mágicas) uma bela obra às crônica de Maria. Grato.”] [ Pedro F r a n c i s co dos Sa n tos ,
Belo Horizonte, MG - araujomalta@yahoo.com.br
@ [ VISITA DE AMIGO “Lembranças felizes e recordações hoje revividas pela presença mensal da Revista O Lutador. Recordo quando, em minha adolescência nos anos 50, residindo no Córrego Januário, Inhapim, fui várias vezes a Manhumirim no Seminário, em companhia do meu pai, Astolfo de Oliveira Lucas (in Memoriam) visitar o
sobrinho dele (Milton), que lá estava. Tenho lembranças de tudo. Essas imagens riquíssimas vividas ficaram gravadas como marcas profundas na minha vida. Tenho certeza de que essas idas e vindas, nessa contemplação adolescente junto com meu saudoso pai, fizeram uma grande diferença, contribuindo para eu ser hoje uma pessoa mais humana. Procuro sempre somar, tentando passar à frente tudo de bom que posso colher dos teólogos Sacramentinos de Nossa Senhora e através da Revista O Lutador, que é de fundamental importância para mim. É como um fogo que queima. É inexplicável, quero divulgar a mensagem, não consigo conter minha emoção com cada exemplar que chega. Fico imaginando o número imenso de pessoas recebendo esta revista! E tantas que ainda não a conhecem e necessitam conhecer. Quando a recebo fico ansioso e tenho vontade de ler tudo ao mesmo tempo. Cada exemplar surpreende mais que o outro, é como se eu recebesse em minha casa a visita de um amigo muito estimado. É tão fácil de ler, vejo uma infinita importância em suas informações para todo cidadão e seus familiares. É mesmo uma questão de Cidadania. Toda família precisa conquistar essa riqueza – é simples, assinando a Revista O Lutador, todo mês chegará em casa essa grande maravilha que não tem valor que pague. Uma multidão de pessoas faz parte dessa História: leigas, leigos, teólogos, sacerdotes, que estão por trás de tudo, por dentro de tudo. Lembro-me de cada um que conheço e oro por todos, também para aqueles que não tive a oportunidade de conhecer pessoalmente. A Revista O Lutador é única, é fundamental, ela traz ensinamentos genuínos. Vou divulgá-la sempre e incentivar os meus familiares e amigos das comunidades a assiná -la. Meus filhos assinam e todos valorizam e não perdem a mensagem. Sou feliz e grato por isso. A Esperança é aquela que nunca pode morrer. E assim eu encerro afirmando que, enquanto eu existir, assinarei e divulgarei a Revista O Lutador. Louvado seja Nosso Jesus Cristo.] [ Wolber Dias de Oliveira
– Coimbra, MG
Reavivemos o Mês de Maria Dom Miranda, por ocasião dos seus de vida
O
Mês de Maria, consagrado à Mãe do Cristo, perdeu, já desde muito o seu antigo esplendor. Não se celebram mais, em nossas igrejas, as rezas de maio, com as lindas coroações de Nossa Senhora, nem mesmo se recita o Terço. Embora se celebre a Missa, qual o padre que se lembra, em sua homilia, de referir-se à Mãe de Jesus? As transições de época trouxeram mudanças no modo de orar e invocar a Mãe de Jesus. Profundas modificações nas práticas religiosas e na liturgia abalaram, talvez, muitas convicções arraigadas no coração do povo. O fato é que Nossa Senhora não é mais cultuada como era dantes. Um bem ou um mal? Até certo ponto um bem porque havia exageros, no entanto, existem valores que não se podem perder, pois se enraízam em dogmas, riquezas advindas de séculos de teologia e, sacrificar tudo isso, seria um grande mal. A Mãe Igreja não aboliu a devoção à Mãe de Jesus. Nenhum documento apostólico ou do Concílio Vaticano II suprimiu os hinos à Virgem Maria ou a recitação do Terço e do Rosário, tão popular, evangélico e evangelizador. O desaparecimento das formas tradicionais do culto mariano, em não poucos lugares, deve-se a uma natural absorvência do “novo” sobre o “antigo”, tradicional. Mas o Vaticano II, na riquíssima Constituição sobre a Igreja – Lumen Gentium (Luz das Nações) – consagrou o capítulo VIII à “Bem-aventurada Mãe de Deus no mistério de Cristo e da Igreja”. Nele, reafirma, com acento teológico peculiar, todas as solenes verdades anteriormente definidas sobre Nossa Senhora. Seria muito proveitoso relembrar tudo isto em preleções e homilias durante o mês de Maio. Reavivemos, sim, o Mês de Maria! Viva a mãe de Deus, a Mãe da Igreja, a nossa Mãe! Dom Miranda. Louvado seja Deus pelos seus 96 anos de vida. Sua família religiosa se alegra com o dom de sua vida. Deus o abençoe sempre! Que sua vida e seu testemunho continuem fecundando a Igreja e ajudando na construção do Reino de Deus. Parabéns, Felicidades, saúde e muitas bênçãos de Deus.] A redação
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P a 0 a r
ail, comente no site e no facebook... [NOVIDADE
F/reprodução
Quadrinhos para “KIDS” (de todas as idades...) Pe . Cássio Murilo
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Revista digital
Para assinar: 0800-940-2377 assinaturas@olutador.org.br revista.olutador.org.br
A artista Luciane Colbeich, com grande carinho e beleza, retrata as parábolas de Jesus. Em cada história, o universo das crianças: cores, flores, bichinhos e, é claro, crianças. Tudo isso para que possamos ver e imaginar as parábolas de Jesus e, o que é mais importante, aprender o que Jesus quis nos ensinar. Todo mês, uma parábola. Em cada parábola, uma aventura que nos ajudará a refletir sobre como nos relacionamos com nossa família, com nossos amigos e com Deus. Vamos começar?
F/reprodução
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F/album pessoal
F/arq., sdn
uem visita uma igreja que tenha vitrais e pinturas nas paredes não consegue resistir: tem de parar, olhar os desenhos e ler as palavras ajudam a compreender a mensagem que as figuras querem transmitir. Mas não só nas grandes catedrais. Desde o seu início, a Igreja utiliza histórias em quadrinhos para anunciar o Evangelho e nos ajudar a visualizar o que Jesus ensinou. Por isso, é com grande alegria que hoje começamos uma série de história em quadrinhos que recontam as parábolas de Jesus. As parábolas são histórias cheias de imagens e comparações, que Jesus usou para explicar o que é o Reino de Deus. Jesus contou as histórias, mas não deixou nenhum desenho. Esta tarefa ele deixou para os artistas, mas com uma condição: que eles adaptassem sempre as parábolas à sua própria cultura e ao seu próprio tempo. Por isso, é com grande alegria que, a partir desta edição, a página Kids da Revista O LUTADOR publicará uma história em quadrinhos que nos ajudará a visualizar as parábolas de Jesus.
Editorial
[ Expediente O LUTADOR é uma publicação mensal do Instituto dos Missionários Sacramentinos de Nossa Senhora O Lutador
ISSN 97719-83-42920-0
Fundador
Pe. Júlio Maria De Lombaerde
Superior Geral
Pe. Aureliano de Moura Lima, sdn
Diretor-Editor
Ir. Denilson Mariano da Silva, sdn
Jornalista Responsável
Pe. Sebastião Sant’Ana, sdn (MG086063P)
Redatores e Noticiaristas
Pe. Marcos A. Alencar Duarte, sdn Pe. Sebastião Sant’Ana, sdn Frt. Henrique Cristiano, cmm Frei Patrício Sciadini, ocd, Frei Vanildo Zugno Dom Paulo M. Peixoto, Antônio Carlos Santini Pe. Reginaldo Manzotti
Colaboradores Vários
Revisão
Antônio Carlos Santini
Projeto gráfico e Diagramação Valdinei do Carmo
Assessoria de Comunicação Melt Comunicação
Assinaturas e Expedição
Maurilson Teixeira de Oliveira
Impressão e Acabamento
Gráfica e Editora O Lutador, Certificada FSC®, Praça, Pe. Júlio Maria, 01 - Planalto 31730-748 - Belo Horizonte, MG - Brasil
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Tiragem desta edição 4.500 exemplares
As matérias assinadas são deresponsabilidade de seus autores, não expressam, necessariamente, a opinião de olutador. ]
Os papéis desta revista são oriundos de empreendimentos florestais que seguem normas
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Papel Certificado, o papel da revista!
A Alegria do Amor
M
aio, mês das flores, mês das mães, e também mês do amor, da presença de Deus com rosto materno, que é ternura e misericórdia. Um mês que foi precedido de uma bela e importante Exortação Apostólica dirigida às famílias, a “Amoris Laetitia” [AL], que significa “A Alegria do Amor”. Esta Exortação vem carregada de um amor sincero e profundo para com as pessoas, para com os casais e as famílias já tão marcadas pelo sofrimento e pela dor. Trata-se de uma Carta amiga, de um pai que olha com amor e misericórdia para seus filhos, assim é esta Exortação Apostólica do Papa Francisco. Em certo sentido, vamos encontrar aqueles que julgam que esta Carta ainda avançou pouco e que não deu uma resposta decisiva à questão da comunhão para os divorciados em segunda união, nem abriu caminho para a união dos “casais” homossexuais. E, por outro lado, outros julgam que o Papa teria aberto demais o leque do acolhimento às famílias em situação irregular, a ponto de enfraquecer a doutrina da Igreja sobre o Matrimônio. Estas posições extremistas parecem ambas carentes de uma experiência mais profunda do Deus Ternura e Misericórdia, tal como Ele se manifesta na pessoa de Jesus revelada nas Escrituras. Manifestam que ainda precisamos crescer muito na prática da Misericórdia. Deixemo-nos, porém, tocar pela alegria do Amor nas famílias. Deixemos que esta Carta cumpra o papel de ser um bálsamo para aliviar um pouco das muitas feridas das nossas famílias. Que ela ajude a devolver um pouco de alegria aos casais em segunda união, que “não só não têm de se sentir excomungados, como também podem viver e evoluir como membros ativos da Igreja”. (AL, 299.) Abramos nosso coração para reconhecer que “já não se pode dizer que todos os que se encontram em uma situação dita irregular vivem em pecado mortal”. (AL, 301.) Que também os ministros da Igreja possam espalhar essa Alegria do Amor ao agir com maior misericórdia na hora de definir as questões sobre o Matrimônio: “É mesquinharia considerar apenas se a obra de uma pessoa responde, ou não, a uma norma ou lei geral”. E, seguindo o conselho do próprio Papa, não convém fazer uma leitura apressada. Será melhor “aprofundar pacientemente uma parte de cada vez ou procurar nela aquilo de que precisam em cada circunstância concreta. [...] Espero que cada um, através da leitura, se sinta chamado a cuidar com amor da vida das famílias, porque elas ‘não são um problema; são, sobretudo, uma oportunidade’”. (AL, 7.) E isso é pra começo de conversa.] [ i r . D en i l s o n M ar i an o, s dn
[
olutador •
revista mensal
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A no L X X X V I I
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Nº 3 876
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maio
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2016
• F/reprodução
Sumário
[ A família no coração da igreja
A nova Exortação do Papa Francisco de olho na inclusão e no cuidado pastoral
6–9
[ Da sacramentalização à evangelização
10
[ Resistência para me converter
12
[ Outra criança... 13 [ Preparando a Verbum Domini 15 F/reprodução
[ O rosto da misericórdia 18
VIII Peregrinação e VI Simpósio Nacional das Famílias
16
O aplicativo WhatsApp na evangelização
20
[ A presença do sacerdote 22 [ Um presbítero em saída 23 [ Força da Palavra 24 [ Missa é festa? 25 [ As duas religiões 26 [ O paroquiano, esse chato... 27 [ Quando o céu não responde... 30 [ Roteiros Pastorais 31–41 [ Microcefalia: a fuga dos pais 44 [ Nos subterrâneos da indústria farmacêutica 46 [ Reflexão da ADCE sobre a Encíclica Laudato Si´ 48
[ São Paulo testa ônibus a bateria 44
F/vaticano
Capa [ Postar-se junto da família como companheira de caminhada ... A
A Alegria do Amor
❝
❞
A nova Exortação do Papa Francisco de olho na inclusão e no cuidado pastoral
V
ários papas já escreveram mensagens, exortações e encíclicas sobre o tema da família, entre os quais João Paulo II, autor da encíclica “Familiaris Consortio”, publicada em 1981. Nos últimos tempos, a mídia fica à espreita de mudanças na visão da Igreja a respeito da família, em especial no que tange ao controle da natalidade e à situação dos casais divorciados e “recasados”. Em recentes documentos enviados às dioceses de todo o mundo, o Sínodo dos Bispos explica que a nova Exortação apostólica “Amoris Laetitia” [A Alegria do Amor], [ 6 • olutador [ maio ] 2016
a ... A arte do acompanhamento... assinada pelo Papa Francisco, não pretende produzir alterações na doutrina da Igreja sobre o casamento e a família, mas acima de tudo “recontextualizar” a sua visão. Para tanto, deve insistir na necessidade de uma “conversão da linguagem” e de um discernimento mais refinado.
❝...às vezes, é necessário permanecer ao lado e escutar em silêncio; em outros casos, deve-se preceder para apontar o caminho a percorrer; em outros, ainda, é oportuno seguir, sustentar e encorajar.❞. Em matéria publicada pelo jornal católico “La Croix” [4/04/2016], o jornalista Nicolas Senèze trazia informações da agência de notícias romana “I. Media”, segundo a qual os bispos já teriam recebido cerca de quinze extratos de catequeses do Papa Francisco sobre o tema da família, bem como passagens de João Paulo II, datadas de 1980 e 1981, acerca da teologia do corpo. Um panorama mais rico Segundo as fontes romanas, a “Amoris Laetitia” fará referência a esses mesmos textos, mas também incluirá partes inteiramente novas, com base na Sagrada Escritura. O objetivo é o de ampliar “um quadro mais vasto, rico em indicações e em inspirações para a vida, a espiritualidade e a pastoral familiar”. Outra carta, enviada aos bispos em 31 de março, oferece orientações e pistas para a leitura da nova Exortação, explicando que “o estilo do Papa Francisco está ligado à necessidade
de renovação e, mais ainda, de uma verdadeira ‘conversão’ da linguagem”. Natural, setores mais conservadores ficaram de orelha em pé. “Para falar da família e às famílias – observam os responsáveis pelo Sínodo –, a questão não está em alterar a doutrina, mas em inculturar os princípios gerais a fim de que eles possam ser compreendidos e postos em prática.” E realçam o fato de que Francisco prefere expressar-se em uma linguagem mais atenta aos interlocutores, o que requer “discernimento e diálogo”. Companheira de caminhada Este foi um dos pontos-chave do relatório final da assembleia sinodal sobre a família [outubro de 2015], quando a Igreja era chamada a ser não somente “mestra da verdade”, mas também a desenvolver uma “arte do acompanhamento”. Nas palavras do texto, “postar-se junto da família como companheira de caminhada significa, para a Igreja, assumir uma atitude sabiamente diferenciada: às vezes, é necessário permanecer ao lado e escutar em silêncio; em outros casos, deve-se preceder para apontar o caminho a percorrer; em outros, ainda, é oportuno seguir, sustentar e encorajar”. Segundo a carta enviada aos bispos, “o discernimento exige que não se dê por adquirida uma formulação da verdade nem as escolhas a realizar”. A preocupação de Francisco é a de “recontextualizar a doutrina a serviço da missão pastoral da Igreja”, realçando que “não se trata de adaptar uma pastoral à doutrina, nem de arrancar da doutrina o seu selo pastoral original e constitutivo”. A visão do Papa é que “a doutrina deve ser interpretada em relação ao coração do querigma cristão e à luz do contexto pastoral no qual ela será aplicada”. Isto, sem esquecer jamais aquilo que dita o cânon do Código de Direito Canônico, isto é, que “a salvação das almas deve ser sempre na Igreja a lei suprema”. (ACS)] olutador [ maio ] 2016 • 7 ]
Oração à Sagrada Família Jesus, Maria e José, em Vós contemplamos o esplendor do verdadeiro amor; confiantes, a Vós nos consagramos. Sagrada Família de Nazaré, tornai também as nossas famílias lugares de comunhão e cenáculos de oração, autênticas escolas do Evangelho e pequenas igrejas domésticas. Sagrada Família de Nazaré, que nunca mais haja nas famílias episódios de violência, de fechamento e divisão; e quem tiver sido ferido ou escandalizado, seja rapidamente consolado e curado. Sagrada Família de Nazaré, fazei que todos nos tornemos conscientes do caráter sagrado e inviolável da família, da sua beleza no projeto de Deus. Jesus, Maria e José, ouvi-nos e acolhei a nossa súplica. Amém.
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Qual o grau de autoridade de uma Exortação apostólica? Na Igreja Católica, a autoridade de um texto não está diretamente ligada à sua forma (Encíclica, Constituição apostólica, Exortação apostólica etc.). A Exortação apostólica, tal como a Encíclica, inclui-se no magistério extraordinário do Papa. Assim, mesmo não sendo solene, o ensinamento que ele contém é definitivo e envolve a infalibilidade, ou seja, as verdades que nele contidas possuem um vínculo orgânico direto com as verdades de fé divinamente reveladas. Deste modo, tal magistério supõe a submissão religiosa da vontade e da inteligência.
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Capa [ A Alegria do Amor... Encorajar a todos a serem sinais de misericórdia e p
Amoris ❝ Laetitia ❞ a família no coração da Igreja
F/reprodução
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N
o dia 8 de abril, o Papa Francisco publicou a Exortação Apostólica sobre a família. A “Amoris Laetitia”, sobre a “Alegria do Amor”, reúne os resultados do Sínodo da Família, que ocorreu em duas etapas: uma em 2014 e outra em 2015, e trouxe a questão da família para o coração da Igreja e do mundo. A Exortação é publicada no contexto do Ano da Misericórdia e quer ajudar as famílias a apreciarem os valores como a generosidade, o compromisso, a fidelidade, e “encorajar a todos a serem sinais de misericórdia e proximidade para a vida familiar”. (AL, 5.) Um cuidado especial O documento começa por situar a família “À luz da Palavra” (Cap. I) e depois aborda a “A realidade e os desafios das famílias” (Cap. II). Mas, diferentemente do costume, não se busca na Palavra de Deus apenas um modelo de família já pronto, acabado; antes, acena para as situações concretas das famílias como elas são. E revela que as exigências de Jesus não se afastam da fragilidade concreta da vida das pessoas.
[ 8 • olutador [ maio ] 2016
dia e proximidade para a vida familiar... “Nas situações difíceis em que vivem as pessoas mais necessitadas, a Igreja deve pôr um cuidado especial em compreender, consolar e integrar, evitando impor-lhes um conjunto de normas como se fossem uma rocha, tendo como resultado fazê-las sentir-se julgadas e abandonadas precisamente por aquela Mãe que é chamada a levarlhes a misericórdia de Deus.” (AL, 49.) Depois, com “o olhar fixo em Jesus: a vocação da família” (Cap. III), que se ocupa dos ensinamentos da Igreja sobre o matrimônio e a família, reúne várias contribuições dos Padres Sinodais, lembrando também do dever dos pastores diante desta realidade tão bonita e complexa da família. E destaca que “o amor vivido nas famílias é uma força permanente para a vida da Igreja”. (AL, 88.) Depois, trata do “Amor no matrimônio” (Cap. IV), retomando cada atitude expressa no hino ao amor presente na Carta aos Coríntios (cf. 1Cor 13,4-7), e termina reforçando que “a alegria matrimonial, que se pode viver mesmo no meio do sofrimento, implica aceitar que o matrimônio é uma combinação necessária de alegrias e fadigas, de tensões e repouso, de sofrimentos e libertações, de satisfações e buscas, de aborrecimentos e prazeres, sempre no caminho da amizade que impele os esposos a cuidarem um do outro”. (AL, 126.) E ainda, “não é possível prometer que teremos os mesmos sentimentos durante a vida inteira; mas podemos ter um projeto comum estável, comprometer-nos a amar-nos e a viver unidos até que a morte nos separe, e viver sempre uma rica intimidade”. (AL, 163.) Fecundidade no amor Segue-se depois para “o amor que se torna fecundo” (Cap. V). “A família é o âmbito não só da geração, mas também do acolhimento da vida que chega como um presente de Deus.” (AL, 166.) Alarga-se o horizonte de compreensão da família olhando para o matrimônio em seu caráter social e a necessidade de um contínuo cresci-
mento na relação para com os outros. “Deus confiou à família o projeto de tornar ‘doméstico’ o mundo, de modo que todos cheguem a sentir cada ser humano como um irmão.” (AL, 188.) A Exortação Apostólica debruça-se também sobre “algumas perspectivas pastorais” (Cap. VI), onde as famílias, pela graça sacramental, são apresentadas como os “sujeitos principais da pastoral familiar”. (AL, 200.) E a pastoral familiar “deve fazer experimentar que o Evangelho da família é resposta às expectativas mais profundas da pessoa humana”. (AL, 201.) [ Aborda-se com clareza a necessidade da preparação para o matrimônio, o acompanhamento dos casais nos primeiros anos de vida matrimonial e a ajuda para os momentos de crise: “Uma das causas que leva a rupturas matrimoniais é ter expectativas demasiado altas sobre a vida conjugal. Quando se descobre a realidade mais limitada e problemática do que se sonhara, a solução não é pensar imediata e irresponsavelmente na separação, mas assumir o matrimônio como um caminho de amadurecimento, onde cada um dos cônjuges é um instrumento de Deus para fazer crescer o outro. [...] Cada matrimônio é uma ‘história de salvação’.” (AL, 221.) ] Recomenda, ainda, o acompanhamento depois das rupturas e divórcios. E quanto às pessoas divorciadas que vivem numa nova união, salienta que “é importante fazer-lhes sentir que fazem parte da Igreja, que ‘não estão excomungadas’ nem são tratadas como tais, porque sempre integram a comunhão eclesial”. (AL, 243.) E reafirma a necessidade de “tornar mais acessíveis, ágeis e possivelmente gratuitos de todo os procedimentos para o reconhecimento dos casos de nulidade” [...] e de “colocar à disposição das pessoas separadas ou dos casais em crise um serviço de informação, aconselhamento e mediação, ligado à pastoral familiar”. (AL, 244.) olutador [ maio ] 2016 • 9 ]
Acompanhar, discernir e integrar “Reforçar a educação dos filhos” – este é o assunto do Cap. VII, e destaca a necessidade da formação ética, o valor da sanção como estímulo, o realismo paciente, a educação sexual, a transmissão da fé. Trata da educação sexual de uma forma positiva – “Sim à educação sexual” – seguida do tripé “acompanhar, discernir e integrar a fragilidade” (Cap. VII), que explicita o exercício da misericórdia para tratar pastoralmente as situações que não correspondem plenamente ao que o Senhor propõe. “Trata-se de integrar a todos, deve-se ajudar cada um a encontrar a sua própria maneira de participar na comunidade eclesial, para que se sinta objeto duma misericórdia ‘imerecida, incondicional e gratuita’. Ninguém pode ser condenado para sempre, porque esta não é a lógica do Evangelho!” (AL, 297.) O Papa assim se expressa: “Convido os fiéis, que vivem situações complexas, a aproximarem-se com confiança para falar com os seus pastores ou com leigos. [...] E convido os pastores a escutar, com carinho e serenidade, com o desejo sincero de entrar no coração do drama das pessoas e compreender o seu ponto de vista, para ajudá-las a viver melhor e reconhecer o seu lugar na Igreja”. (AL, 312.) A Exortação termina tratando da “espiritualidade conjugal e familiar”, na qual tudo, “os momentos de alegria, o descanso ou a festa, e mesmo a sexualidade são sentidos como uma participação na vida plena da sua Ressurreição”. (AL, 317.) “Não percamos a esperança por causa dos nossos limites, mas também não renunciemos a procurar a plenitude de amor e comunhão que nos foi prometida.” (AL, 325.) Em nossas mãos, um rico conteúdo que expressa como a família está no coração da Igreja. Esta Exortação precisa ser lida, estudada, aprofundada e assimilada para que se converta em práticas misericordiosas para vida de todas as famílias na Igreja e na sociedade. Ir. Denilson Mariano, sdn]
Igreja Hoje [ Em quê o Vaticano II mudou a Igreja [ 7 ]
Da sacramentalização à e
O
Concílio Vaticano II mudou profundamente a Igreja. Entretanto, passados já cinquenta anos, as mudanças estão ainda mais nos documentos do que nas práticas eclesiais. Também em relação a uma das grandes mudanças da renovação conciliar: a passagem da sacramentalização a uma evangelização integral. Ainda na primeira hora da recepção do Concílio na América Latina, a Conferência de Medellín [1968] chamou a atenção para a necessidade de uma “nova evangelização”, capaz de superar o modelo pastoral de cristandade,“baseado numa sacramentalização com pouca ênfase na prévia evangelização”; a pastoral de “uma época em que as estruturas sociais coincidiam com as estruturas religiosas...” (Med 6,1.) O que se ressalta, aqui, não é que os sacramentos não sejam importantes. Ao contrário, são tão importantes para a vida cristã, que não podem ser oferecidos a pessoas não evangelizadas. No itinerário da fé, para o Vaticano II, os sacramentos são mais pontos de chegada do que ponto partida, tal como eram concebidos na Igreja primitiva e antiga. Naquela época, a recepção do Batismo estava condicionada ao catecumenato, um processo de evangelização, que durava entre dois e três anos. Sacramentos a católicos não convertidos Na história da Igreja, o catecumenato como processo de iniciação à vida cristã, praticamente desapareceu ainda no século IV. O cristianismo, de religião perseguida passou a ser religião protegida pelo Império Romano. Com isso, houve a entrada em massa de “cristãos” na Igreja, mais por “decreto’ do imperador do que por conversão pessoal. Passaremos de um cristianismo de alta
A centralidade da Palavra na vida cristã No contexto da renovação do Vaticano II, a Evangelii Nuntiandi afirma que antes de sacramentalizar é preciso evangelizar, isto é, levar os interlocutores a se conectarem com Jesus de Nazaré e a Boa Nova do Reino de Deus, inaugurado e anunciado por Ele. Evangelizar não é implantar a Igreja, mas propor a Boa Nova do Reino, pela vivência e proclamação da Palavra de Deus. A Igreja é fruto da Palavra acolhida na fé. Para a Constituição do Vaticano II Dei Verbum, “desconhecer a Escritura é desconhecer a Cristo” (cf. DV 25). Por isso, o Vaticano II voltou a colocar a Bíblia no centro da vida cristã, consciente de que os membros de nossas comunidades eclesiais só serão verdadeiros discípulos de Jesus Cristo
qualidade, espelhado no exemplo dos mártires enquanto modelo de santidade, a um catolicismo mais de conveniência social, sem pertença eclesial. Estranho é que a Igreja, em lugar de reagir, se acomodou à nova situação: passa a pressupor que os novos cristãos já estejam evangelizados, oferecendo-lhes os sacramentos, quando na realidade se trata de católicos não convertidos, sem a experiência de um encontro pessoal com Jesus Cristo. Já não vai mais haver processo de iniciação cristã, catecumenato ou catequese permanente. Generaliza-se a ideia que a mera recepção dos sacramentos salva por si só. Os sacramentos são concebidos e acolhidos como uma espé-
Antes de sacramentalizar é preciso evangelizar, isto é, levar os interlocutores a se conectarem com Jesus de Nazaré e a Boa Nova do Reino de Deus cie de “remédio” ou “vacina espiritual”. Basta recebê-los para ser salvo. São mais graça simplesmente a acolher do que um dom a frutificar na vida pessoal, comunitária e social. Neste contexto, como se trata de sacramentalizar, em lugar da Bíblia coloca-se na mão do povo o catecismo da Igreja. Em lugar de teologia para formar cristãos adultos, enquadram-se os fiéis na doutrina e nos dogmas da fé católica. E a vida cristã, praticamente, passa a se reduzir ao culto em torno à paróquia, a qual, em lugar de fiéis, terá clientes, que acorrem esporadicamente ao templo, para receber bens espirituais fornecidos pelo clero. [ 10 • olutador [ maio ] 2016
f/Periodistadigital
P e . Agen o r B r i ghent i
à evangelização se estiverem em condições de levar a proposta da Palavra de Deus aos seus irmãos. E só estarão aptos para isso quando conhecerem e acolherem a Palavra, fazendo-a vida em sua vida. Em outras palavras, para que haja a passagem da sacramentalização a uma evangelização integral, é necessário que a Palavra seja a seiva que nutre, a partir de dentro, a globalidade da vida pessoal e eclesial, incluindo os serviços, os organismos e as estruturas. Segundo a Dei Verbum, “toda a vida e ação da Igreja precisa alimentar-se e regerse com a Sagrada Escritura”. (DV 21.) A Palavra de Deus “precisa animar as três vertentes da vida e ação eclesial: a profecia, a liturgia e a diaconia”. (DV 21.) A animação bíblica da pastoral Daí a importância da animação bíblica da pastoral como um todo, a come-
çar por um processo de iniciação à vida cristã, centrado na Palavra. Sem a Palavra, não há catecumenato. E sem catecumenato ou iniciação à vida cristã, os sacramentos estarão sendo recebidos de modo inadequado, uma vez que administrados a pessoas não evangelizadas. É a animação bíblica da pastoral que assegura que os cristãos sejam introduzidos no conhecimento e na vivência da Palavra, tanto na vida pessoal como na vida eclesial e social. Sem esquecer, entretanto, que a iniciação cristã inclui também a introdução na vida comunitária, preferencialmente em pequenas comunidades eclesiais, a exemplo das CEBs. Nelas se dá o momento privilegiado para a vivência da Palavra e a maturidade de uma Igreja missionária, inserida profeticamente na sociedade.]
Livro indicado [ Concílio Vaticano II ] – 2ª edição –
henrique cristiano josé mattos
A celebração dos 50 anos da Abertura do Concílio Vaticano II (11-101962), oferece uma oportunidade singular para conhecermos, em maior profundidade, sua história e seu riquíssimo legado. Mergulhar na herança do Vaticano II nos faz ser mais Igreja, tornando-nos homens e mulheres que querem ser verdadeiros discípulosmissionários, experimentando que exatamente nessa condição serão felizes e encontrarão o sentido pleno de sua existência. FORMATO: 17x24cm, 160p.
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Religião [ Retomar o caminho...
Resistência para me converter F r e i Pat r í c i o Sc i ad i n i , o cd
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az mais de 50 anos que celebro a Quaresma, e faz anos que às vezes celebro duas quaresmas, como este ano. Entre a Quaresma latina e da Igreja Copta católica, há quase um mês de diferença. A nossa Páscoa será no dia 1º de maio. E sempre tenho escutado repetir que a Quaresma é um tempo privilegiado para se converter, mudar de vida e ser uma pessoa nova. Tenho recebido muitas vezes as “cinzas”, como sinal de caminho de conversão. Escutei as mensagens de vários Papas e concordo com tudo que escuto. Mas neste ano entrei numa crise existencial, porque depois de tantos anos não consigo considerar-me uma pessoa “convertida”, mas sim me reencontro com um acúmulo de defeitos e certa desilusão diante desta realidade pessoal. Pode ser que esta análise leve alguns dos meus 25 leitores a pensar que estou desanimado e que entreguei os pontos, crendo que não seja possível converter-
me, que com a idade tenha acabado por ser pessimista. Nada disto. Continuo a retomar o caminho e tentando encontrar, porém, uma razão das resistências que há dentro do meu coração, e por que não consigo superar as barreiras que me impedem de deixar que a palavra de Deus me transforme numa criatura nova. A minha análise me leva a colocar em evidencia três causas: [ Jesus, para mim, não é ainda uma pessoa viva, que bate à minha porta e me pede para entrar na minha história como “protagonista”, e não como hóspede estranho. Escutar o grito de Jesus que diz “convertei-vos” são, para mim, palavras que fortalecem a minha vontade para mudar de atitude, para ser capaz de dizer não aos ídolos que preenchem minha vida. Sinto que ainda a minha vontade é fraca, frágil. ] Mas tenho a certeza de que, com a graça de Deus, vou conseguir superar tudo isto e um dia vou ser um “convertido”, capaz de não deixar-me influenciar pela minha fra[ 12 • olutador [ maio ] 2016
gilidade e limitação, mas crer na força de Jesus, que me chama para uma vida nova. Esta resistência se destrói, não sozinho, mas com a graça de Deus e com o amor. O segundo motivo por que ainda não me converti é que acho que os meus pecados são, como diz o povo, “pecadinhos” que não fazem mal, podem coexistir com a palavra de Deus, com minha vida de cristão, de sacerdote e de carmelita. Sinto, como dizem os autores de espiritualidade e os místicos, a “mediocridade”. Não sou nem muito ruim e nem muito bom, sou “passável”. Parece-me que sou chamado, e gostaria de convidar a todos para verem que não é suficiente ser bom, devemos ser ótimos. Às vezes peco por um pouco de perfeccionismo, que é um pecado “eclesial e de frades”, quer dizer, devo tomar consciência de que o pecado não se mede com metro, nem com balança, mas sim, com o amor. O que prejudica o caminho para Deus são as pequenas faltas, com as quais fazemos um acordo: “não é grave, tranquilo”. Mas o pecado é como uma gripe que, mal curada, se transforma em pneumonia e em doença grave. O terceiro motivo que me impede de me converter é que quero discutir com o “diabo” que me tenta. Quando Jesus, no Evangelho, nos ensina que com o diabo nunca se deve discutir, é porque corremos o risco de perder. Devemos resistir e combatê-lo com a própria palavra de Deus, como fez Jesus quando o demônio o tentou. Não são perigosos os grandes diabos, mas os pequeninos diabos que se divertem a fazer-nos perder o sentido da vida. Espero que esta minha confissão e que esta radiografia me ajudem e ajude também aos outros para começarmos o caminho para a Páscoa que está aí, mas mesmo que o artigo seja publicado depois da Páscoa, não faz mal, porque conversão não é só no tempo da Quaresma, mas todos os dias da nossa vida. Conversão não é um momento da vida, mas em todos os momentos nunca somos totalmente convertidos. Não estou desanimado. Levanto-me de novo e retomo o caminho e vou em frente. E peço que Deus me doe a sua misericórdia e reforce a minha vontade fraca e medrosa.]
Religião [ Funcionários da ONU observam e tentam ajudar...
Garoto de 4 anos é encontrado sozinho em deserto na Jordânia M ar i a C lar a B i ngeme r*
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le tem quatro anos e leva uma sacola na mão. O olhar assustado percorre as areias do deserto e os funcionários da ONU que o observam e tentam ajudá-lo. É sírio e chama-se Marwan. Vagava no deserto sozinho quando foi encontrado depois de haver-se perdido de seus pais durante a fuga da violência que dizima seu país. Andava a esmo, errante pelo deserto hostil, sem saber para onde. Desde os tempos do Antigo Testamento o deserto é uma imagem poderosamente evocativa para o povo de Deus. Se algo é concordância na exegese bíblica, é que o deserto é fundamental na autocompreensão que o povo de Deus tem sobre sua identidade. Povo liberto pela mão poderosa de Deus, o povo de Israel teve que vagar longamente pelo deserto antes de finalmente chegar à terra prometida. Ali os hebreus libertos viveram a dúvida, a vulnerabilidade e a insegurança que os fez muitas vezes duvidar e desejar voltar à escravidão do Egito, onde pelo menos havia comida. Estar no deserto é sentido como estar próximo da morte, longe da terra dos vivos, que depois se tornará a Terra Santa. Assim se entende a pergunta que faz o povo indignado a Moisés em Ex 14,11-12: “Não havia sepulcros no Egito, para nos tirar de lá, para que morramos neste deserto? Por que nos fizeste isto, fazendonos sair do Egito?” Não é esta a palavra que te falamos no Egito, dizendo: ‘Deixa-nos, que sirvamos aos egípcios?’ Pois que melhor nos fora servir aos egípcios, do que morrermos no deserto”. Beijo quente da fome e da sede, o deserto era visto desde muito cedo pelos israelitas como um lugar difícil e perigoso, vazio de pessoas, cheio de solidão. Lugar de animais perigosos e demô-
nios que tentam. Na Bíblia, o deserto é muitas vezes sinônimo de desolação, e esta é fruto da destruição, sentida como abandono ou castigo de Deus. O deserto, sobretudo no Antigo Testamento, é o contrário do paraíso; é o caos originário, no seio do qual nada se distingue e nada se pode perceber com clareza. O deserto é igualmente o lugar da errância, do nomadismo. Enquanto o povo andava pelo deserto, sem vislumbrar a terra da promessa, sofria com o desejo da estabilidade e da sedentarização que não vinham. E assim como o ser humano rejeita e detesta o caos, que o atira na anomia e na anarquia para as quais não foi feito, igualmente odeia e rejeita a errância e o vagar sem descanso e sem lugar para repousar a cabeça, sem uma terra para pisar e sentir que é sua. [ Até hoje isso pode ser observado na luta de tantos povos e tantos grupos humanos por uma terra, um lugar para cultivar, um teto para cobrir-lhe a cabeça. O ser humano não é nem pode ser a-tópico; ao contrário, necessita de um espaço no mundo a fim de sentir-se vivo, protegido, abrigado. ] Isso se torna ainda mais grave e evidente quando esse ser vulnerável e desamparado que luta contra a atopia é uma criança. E uma criança de quatro anos de idade. Nesta idade, a criança ainda é totalmente dependente dos pais, da casa, do lar, do espaço familiar. Estar longe de tudo isso, da proteção dos pais e da família, do espaço da casa e da pátria, vagando sozinho por um lugar hostil, com sede e com fome... O que pode haver de mais cruel e pungente do que o estado dessa criança, desse menino cujos primeiros contatos com o mundo e a vida são tão carregados de perigo e sofrimento? Impressiona-me sua foto olhando com medo e desconfiança aqueles que tentam ajudá-lo. Impressiona-me o fato de que há olutador [ maio ] 2016 • 13 ]
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Outra criança...
menos de um ano a imprensa e as redes sociais já nos chocaram com a foto de outro menino com idade equivalente morto afogado nas praias da Síria. E com a foto de uma menina síria, da mesma idade, diante de uma câmera fotográfica com pavor nos olhos, pensando tratar-se de uma arma. A violência terrível que assola a nossa época é chocante. Porém, mais ainda quando atinge crianças, porque são pequenos, indefesos, vulneráveis e tudo pode atingi-los mortalmente. Porque não podem defender-se nem tomar providências para proteger-se de todas as ameaças que pesam sobre suas vidas. Não à toa o Deus de Israel identificou-se desde o princípio como porta-
voz do pobre, da viúva, do órfão e do estrangeiro. Ou seja, daquelas categorias de pessoas mais desprotegidas e vulneráveis, que não têm quem fale por elas. O próprio Deus toma a defesa delas e é fiador de sua dignidade. Nossa única esperança é que esse mesmo Deus seja a garantia da vida e do futuro do pequeno Arwan. E de todas as crianças que, como ele, vagam sem rumo por esse mundo à procura de um lugar onde repousar sua corporeidade infantil e frágil, cheia de insegurança e medo diante do mundo que ameaça engolir a infância delas. Uma humanidade que não sabe garantir o futuro de suas crianças está no caminho da perdição sem remédio. Ainda bem que pode sempre voltar-se para o Deus da vida e implorar socorro. Ele não deixará que Marwan, Aylan e a menina síria vaguem para sempre por um deserto inclemente sem encontrar a fonte de água viva que poderá lhes aplacar a sede.] *Teóloga, professora e decana do Centro de Teologia e Ciências Humanas da PUC-Rio Fonte: Dom Total
Bíblia [ Bento XVI propõe dois objetivos:
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1) Diretrizes para a redescoberta da Palavra divina 2)
na 2) Redescobrir a urgência do anúncio da Palavra de Deus à humanidade...
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12a Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos sobre a Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja aconteceu entre os dias 5 e 26 de outubro de 2008, no Vaticano. Deste Sínodo sobre a Palavra, nasce a Exortação Apostólica PósSinodal Verbum Domini, assinada pelo Papa Bento XVI no dia 30 de setembro de 2010, memória de São Jerônimo. A palavra “sínodo” vem da língua grega e pode ser traduzida livremente por “trilhar o mesmo caminho”. Diferentemente do Concílio, que é universal e para todos os bispos, o Síno-
to a partir destas contribuições. A este documento se chama “exortação póssinodal”. O sínodo pode ser ordinário, extraordinário e especial. O primeiro sínodo ordinário aconteceu em 1967: sobre a preservação da fé católica. Em seguida, vieram outros: o sacerdócio e a justiça no mundo (1971); a evangelização do mundo moderno (1974); a catequese no nosso tempo (1977); a família cristã (1980); a Penitência e a reconciliação (1983); vocação e missão dos leigos (1987); a formação dos sacerdotes (1990); a vida consagrada (1994); o bispo, servidor do Evangelho (2001); e a Eucaristia (2005). Destes sínodos, a partir de 1974, nasceram
Preparando aVerbum
Domini
D o m Pau l o Jac k s o n N ó b r ega de S ou s a*
do é universal, mas realizado com bispos representantes das várias regiões do mundo, eleitos por suas respectivas conferências episcopais, acompanhados de peritos sobre a temática específica a ser tratada. O Sínodo é, na verdade, um instrumento consultivo, convocado pelo Papa, fruto da eclesiologia do Concílio Vaticano II, que quis uma maior comunhão entre o Papa e os bispos. Assim, o Sínodo ajuda o Papa a refletir, assessorando-o sobre um determinado assunto. Inicialmente, as conclusões eram somente entregues ao Papa. Contudo, desde o Sínodo de 1974, o Papa passou a escrever um documen-
documentos valiosíssimos, tais como: Evangelii Nuntiandi (1975); Familiaris Consortio (1981); Christifideles Laici (1988); Pastores Dabo Vobis (1992); Sacramentum Caritatis (2007) e Verbum Domini (2010). Como se pode perceber pela lista, a Verbum Domini está em profunda comunhão com a exortação apostólica anterior, pois Eucaristia e Palavra foram as temáticas dos dois últimos sínodos. Além dos sínodos ordinários, o Papa já convocou dois sínodos extraordinários: o primeiro, sobre a relação da Santa Sé com as conferências episcopais (1969); e o segundo, para avaliar a caminhada do Concílio Vaticano II no seu 20o aniolutador [ maio ] 2016 • 15 ]
versário (1985). Também foram inúmeros os sínodos especiais sobre alguma região específica do mundo: Países Baixos, Europa, África, Líbano, América, Ásia, Oceania e Oriente Médio. A Exortação Apostólica Pós-Sinodal Verbum Domini é uma “exortação”, pois não tem caráter de decreto nem estabelece dogmas como uma constituição dogmática; é “apostólica” porque escrita pelo Papa a partir do contributo dos bispos; é “pós-sinodal” porque nasce a partir da assembleia geral ordinária do Sínodo dos Bispos; e tem o nome de Verbum Domini porque é sobre a Palavra do Senhor. Este documento está dividido em três partes: 1) Verbum Dei (A Palavra de Deus); 2) Verbum in Ecclesia (A Palavra na Igreja); 3) Verbum Mundo (A Palavra ao Mundo). Para escrever o documento, o Papa retomou tudo que foi produzido em torno do Sínodo: o primeiro esquema e as primeiras orientações sobre o Sínodo (Lineamenta); o documento de trabalho (Instrumentum Laboris); os relatórios vários; os textos das intervenções, tanto os que foram lidos na sala, como os apresentados por escrito; os relatórios dos círculos menores e os seus debates; a mensagem final ao Povo de Deus; e, sobretudo, algumas propostas específicas (Propositiones) que foram consideradas de especial relevância. O Papa Bento XVI propõe dois objetivos para o seu documento: 1) indicar algumas diretrizes para a redescoberta da Palavra divina na vida da Igreja, a fim de que ela se torne o coração de toda atividade eclesial, especialmente na catequese e na liturgia; 2) redescobrir a urgência do anúncio da Palavra de Deus à humanidade por meio de testemunhas convictas e credíveis. Aliás, duas testemunhas especiais acompanharam todo o Sínodo e a elaboração do documento: o apóstolo Paulo (Ano Paulino) e o evangelista João, especialmente com o prólogo do seu Evangelho.] * Bispo da Diocese de Garanhuns, PE, e Doutor em Teologia Bíblica
Família [ A Família e Misericórdia...
VIII Peregrinação e VI Simpósio Nacional das Famílias
Família e Misericórdia se encontram no coração da Mãe P e . Seba s t i ão Sant ’A na , S D N *
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“
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dia de nos encontrarmos está chegando. A Peregrinação e o Simpósio são os nossos grandes momentos de celebração na casa da Mãe Aparecida. Pois é na casa da mãe que se encontram os filhos”, motiva o Bispo de Osasco, SP, e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Vida e a Família da CNBB, Dom João Bosco Barbosa de Sousa. O VI Simpósio e a VIII Peregrinação Nacional da Família – nos dias 21 e 22 de maio, com o tema Família e Misericórdia: se encontram no coração da Mãe – são organizados pela Comissão Nacional da Pastoral Familiar – CNPF, organismo vinculado à Comissão Episcopal Pastoral para a Vida e a Família da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB. Como começou a Peregrinação Nacional das Famílias? Por ocasião do encerramento do XII Congresso Nacional da Pastoral Familiar (Rio de Janeiro, 5–7/9/08), Dom Orlando Brandes, então presidente da Comissão para a Vida e a Família da CNBB, convocou oficialmente os congressistas e todas as famílias do Brasil para a Peregrinação Nacional da Família, a se realizar no Santuário Nacional de Apareci-
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da, SP, nos dias 23 e 24 maio de 2009. O objetivo do evento era dar maior visibilidade à luta pela vida e a família. Houve uma boa participação dos Regionais, sobretudo dos Estados mais próximos. Aquela Peregrinação foi avaliada como muito positiva pelo Conselho Episcopal Pastoral e pelo Conselho Permanente da CNBB. Idêntico o parecer dos mais de 50 Reitores de Santuários do Brasil, reunidos em Juazeiro do Norte, CE, que se somou às muitas manifestações e pedidos vindos de todo Brasil para que a “Peregrinação Nacional das Famílias” ao Santuário de Aparecida continuasse a se realizar anualmente. Houve a sugestão de fazê-la, sempre que possível, no penúltimo domingo de maio. A cidade de Aparecida, no Vale do Paraíba, a 168 km de São Paulo, foi escolhida por sua importância no cenário religioso brasileiro e latino-americano. Pela presença do Santuário da Padroeira do Brasil, a cidade é carinhosamente aceita e proclamada como a “capital da fé”, ou “capital mariana” do país. Informações dão conta de que Aparecida acolhe, anualmente, mais de dez milhões de peregrinos. A Exortação Apostólica Amoris Laetitia estará no foco do evento Se as sete peregrinações e os cinco simpósios já realizados consolidaram esta experiência gratificante e pastoralmente oportuna para a Igreja e para as famílias do Brasil, o VI Simpósio e a VIII Peregrinação prometem muito mais. Dom João Bosco já havia esclarecido que as temáticas e conferências de 21 e 22 de maio, em Aparecida, retomarão os caminhos apontados pelo Sínodo dos Bispos sobre a Família. Garantiu que as principais motivações trazidas pelos Sínodos de 2014 e 2015 estarão presentes nas reflexões e celebrações durante o VI Simpósio e a VIII Peregrinação. Para se somar a todo este estímulo, no dia 8 de abril, no Vaticano, foi apresentada ao mundo a Exortação Apostólica Amoris Laetitia (Sobre o amor na família), do Papa Francisco. É a palavra oficial da Igreja, esperada ansiosa-
mente, sobre os principais pontos debatidos nos dois sínodos. Com esta motivação especial, dioceses, paróquias e comunidades já começaram a organizar suas caravanas rumo ao Santuário Nacional, para celebrar a família como “o valor mais querido por nossos povos”, na certeza de que Família e Misericórdia se encontram no coração da Mãe. “Será bonito ver as romarias do Brasil – caravanas, movimentos, associações, casais, famílias –, chegando para rezarmos juntos e pedirmos a Ela que o ‘rosto da misericórdia’, que é seu Filho, acolha todas as nossas famílias”, é a expectativa de Dom João Bosco. Programação em Aparecida No sábado, 21, o Simpósio terá início às 8h, com recepção e credenciamento dos peregrinos no Centro de Eventos Padre Vitor Coelho de Almeida, ao lado da Praça de Alimentação do Santuário Nacional. No Simpósio, diferentes aspectos da realidade familiar serão debatidos por especialistas, bispos, padres e casais, tendo como referência os Sínodos de 2014 e 2015 e a recente exortação Amoris Laetitia, do Papa Francisco. Já à tarde, a programação contará com testemunhos de casais, animação musical e show. Haverá, ainda, procissão luminosa, marcando o encerramento do Simpósio e o início da Peregrinação das Famílias, na Basílica. No domingo, 22, a programação continua com missas às 5h30, às 8h (com olutador [ maio ] 2016 • 17 ]
transmissão ao vivo pela TV Aparecida), às 10h e às 12h, sendo presididas pelos bispos da Comissão para a Vida e a Família da CNBB. E quem não pode ir a Aparecida? É óbvio que as pessoas, em sua maioria, mesmo interessadas pela rica proposta do Simpósio e da Peregrinação, não conseguirão marcar presença em Aparecida. No entanto, devem ser motivadas ao máximo de sintonia com o duplo evento familiar, para que suas famílias também “se encontrem no coração da Mãe e sejam acolhidas pelo rosto da Misericórdia que é seu Filho”. O dia 15 de maio, além da festa de Pentecostes, é também o Dia Internacional da Família. Que tal, na semana (15 a 22), em grupos de famílias ou em comunidade, serem promovidos encontros de oração e reflexão que motivem a sintonia com os eventos de Aparecida e levem a conhecer um pouco da exortação Amoris Laetitia? Que tal se prevenir e se preparar para participar, através das TVs católicas, das conferências e dos debates sobre o tema central no dia 21 de maio, e acompanhar as Missas que serão transmitidas do Santuário Nacional? Que tal fazer, com muita criatividade, nas comunidades ou paróquias, na tarde de 22 de maio, festa da SSma. Trindade, família divina, uma bonita Caminhada das Famílias com Maria?] * Pároco da Paróquia São Sebastião de Espera Feliz, MG
Catequese [ Que seu grito se torne o nosso e, juntos, po
Jesus Cristo, rosto da m O P e . V i n í c i u s Au g u s t o R i be i r o T e i x e i r a , C . M .
amor misericordioso do Pai é o espelho da vida de Jesus de Nazaré e a força dinamizadora de sua missão: “O Filho só faz aquilo que vê o Pai fazer” (Jo 5,19). A misericórdia do Pai inspira e alimenta a paixão de Jesus pelo Reino e sua compaixão por todos os que sofrem. Porque conhece o coração do Pai e em tudo procura realizar a vontade daquele que o enviou (cf. Jo 6,38), Jesus não teme acolher as pessoas, aproximar-se dos excluídos, perdoar os pecadores, alegrarse com os que se alegram, chorar com os que choram, consolar os aflitos e encorajar os desanimados: “Porque o Pai me ama, dou a minha vida para recebê -la novamente”. (Jo 10,17.) Assim, “com sua palavra, seus gestos e toda a sua pessoa, Jesus de Nazaré revela a misericórdia de Deus”. (Misericordiae Vultus, 1) Ninguém melhor do que Jesus se fez misericordioso como o Pai, de modo a ensinar-nos a “ser generosos para com todos, sabendo que Deus derrama sua benevolência sobre nós com grande magnanimidade”. (MV, 14.) Contemplando em Jesus Cristo “o rosto da misericórdia”, somos envolvidos por este mistério de graça, “fonte de alegria, serenidade e paz”, “caminho que une Deus e o homem, porque nos abre o coração à esperança de sermos amados para sempre, apesar da limitação de nosso pecado”. (MV, 2). Fixemos, então, nosso olhar na misericórdia de Jesus, misericórdia para com os pobres, os doentes, os pecadores e os discípulos. Em seu caminho e a seu exemplo, nossa vida se tornará “sinal eficaz do agir do Pai” (MV, 3) junto aos irmãos.
A misericórdia de Jesus para com os pobres O Filho de Deus assumiu a condição humana, identificando-se com os pobres e fazendo de sua vida uma boa nova de misericórdia para os pequenos: “O Es-
pírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou pela unção para evangelizar os pobres”. (Lc 4,18.) Em Jesus de Nazaré, os pobres podiam encontrar um abrigo de paz, um alento de esperança, uma promessa de vida plena, um impulso de transformação (cf. Mc 3,7-8). Jesus sabia se comover diante da dor e da carência daqueles “que vivem nas mais variadas periferias existenciais” (MV, 15), cansados e abatidos, sem rumo e direção (cf. Mt 9,36). E tudo isso se deve ao fato de que “a pessoa de Jesus não é senão amor, um amor que se dá gratuitamente. Seu relacionamento com as pessoas que se abeiram dele manifesta algo de único e irrepetível [...]. Tudo nele fala de misericórdia. Nele, não há nada que seja desprovido de compaixão”. (MV, 8.) Atraídos pelo exemplo de Jesus, interpelados por sua compaixão para com os pobres, “abramos nossos olhos para ver as misérias do mundo, as feridas de tantos irmãos e irmãs privados da própria dignidade e sintamo-nos desafiados a escutar seu grito de ajuda. Nossas mãos apertem suas mãos e estreitemo-los a nós para que sintam o calor de nossa presença, da amizade e da fraternidade. Que seu grito se torne o nosso e, juntos, possamos romper a barreira de indiferença que frequentemente reina soberana para esconder a hipocrisia e o egoísmo”. (MV, 15.) A misericórdia de Jesus para com os doentes Também os doentes eram alcançados pela compaixão de Jesus e acudidos por sua solicitude (cf. Mc 1,32-34). Sabia escutá -los com atenção, tratá-los com respeito, atendê-los com ternura, manifestando a misericórdia do Pai em seus gestos e palavras de entranhado amor (cf. Lc 6,1819): “Em virtude deste amor compassivo, curou os doentes que lhe foram apresen-
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tados [...]. Em todas as circunstâncias, o que movia Jesus era apenas a misericórdia, com a qual lia no coração de seus interlocutores e dava resposta às necessidades mais autênticas que tinham” (MV, 8). Sua sensibilidade humana levava Jesus a curar de modo integral, erguendo os encurvados, restituindo a capacidade de ver e ouvir, libertando os atormentados, reintegrando ao convívio social, restaurando diante de todos a face misericordiosa do Pai, que “deseja o nosso bem e quer ver-nos felizes, cheios de alegria e serenos”. (MV, 9.) Por isso, ao despedir uma dessas pessoas restabelecidas pelo poder revitalizador de sua compaixão, Jesus recomendou: “Conta tudo o que o Senhor fez por ti em sua misericórdia”. (Mc 5,19.) A postura misericordiosa de Jesus diante dos enfermos se traduz num apelo a romper com a indiferença que nos fecha no comodismo e a qualificar nossa presença junto aos que padecem alguma dor, de modo a “cuidar de suas feridas, aliviá-las com o óleo da consola-
os, possamos romper a barreira de indiferença...
a misericórdia ção, enfaixá-las com a misericórdia e tratá-las com a solidariedade e a atenção devidas”. (MV, 15.) A misericórdia de Jesus para com os pecadores Muitas pessoas tidas publicamente como pecadoras se sentiam cativadas por Jesus, por sua simplicidade, coerência e bondade. Ele não receava tornar-se próximo delas, acolhê-las, ajudá-las e convidá-las à conversão (cf. Jo 8,10-11), revelando-lhes, dessa forma, “o grande dom da misericórdia que busca os pecadores, a fim de oferecer-lhes o perdão e a salvação”. (MV, 20.) Em seus gestos e palavras de compaixão, todos podiam contemplar e apalpar esta boa notícia: o Deus de Israel é um pai paciente e misericordioso, que “não se cansa de nos estender a mão”. (MV, 19.) Assim como Jesus, ele jamais rejeita, afasta ou condena a quem o procura com sinceridade e a quem decide regressar ao seu convívio (cf. Lc 15,1132). Ao contrário, sai à procura daquele que se perdeu e se alegra quando o reencontra (cf. Lc 15,4-10). Em tudo o que diz e faz, “Jesus revela a natureza de um Deus como a de um Pai que nunca se dá por vencido enquanto não tiver dissolvido o pecado e superado a recusa com a compaixão e a misericórdia”. Este é o cerne do Evangelho: “A misericórdia é a força que tudo vence, enche o coração de amor e consola com o perdão”. (MV, 9,) A vivência da misericórdia passa pelo paciente exercício do perdão (cf. Mt 18,35). Jesus nos ensina que, “sem o testemunho do perdão, resta apenas uma vida infecunda e estéril, como se se vivesse num deserto desolador”. (MV, 10.) De fato, como filhos amados de Deus, “somos chamados a viver de misericórdia, porque primeiro foi usada misericórdia para conosco”. (MV, 9.)
A misericórdia de Jesus para com os discípulos Para estender a obra que o Pai lhe confiou, Jesus quis constituir ao redor da causa do Reino uma comunidade de pessoas empenhadas em continuar sua missão, formando-as para “levar uma palavra e um gesto de consolação aos pobres, anunciar a libertação a quantos são prisioneiros das novas escravidões, devolver a vista a quem já não consegue ver porque vive curvado sobre si mesmo e restituir dignidade àqueles que dela estão privados”. (MV, 16.) Mas os discípulos de Jesus eram pessoas concretas, com limites e possibilidades, qualidades e defeitos, pecadores para os quais o Senhor olhou com misericordioso amor (cf. Lc 5,27-28). Ao longo do caminho, os discípulos nem sempre se mostravam alinhados com o pensamento e o coração do Mestre (cf. Mt 16,21-23). Jesus os repreende, mas não desiste deles. Ao contrário, em distintas ocasiões, passa a instrui-los e a convidá-los a um compromisso mais convicto e audacioso: “Aquele que dentre vós quiser ser grande, seja vosso servidor, e aquele que quiser ser o primeiro, seja o servo de todos”. (Mc 10,45.) Uma e outra vez, o Senhor perdoa a seus escolhidos, permitindo que permaneçam em sua companhia e convidando-os a “contemplar a misericórdia de Deus e assumi-la como estilo de vida”. (MV, 13.) Ontem e hoje, os discípulos de Cristo são escolhidos entre pecadores. Somos reconfortados por esta certeza: apesar de nossa fraqueza, o Senhor conta conosco. Pede que assumamos “a misericórdia como ideal de vida e critério de credibilidade para nossa fé” (cf. MV, 9), convida-nos a “cuidar das fraquezas e dificuldades dos irmãos”, ensinando-nos que “a credibilidade da Igreja passa pela estrada do amor misericordioso e compassivo”. (MV, 10.)] olutador [ maio ] 2016 • 19 ]
Na Escola de Maria, Mãe de Misericórdia Somos sempre acompanhados pela doçura do olhar de Maria. Em sua solicitude materna, redescobrimos a ternura de Deus. Ninguém conheceu tão profundamente como Maria o mistério da misericórdia encarnado na pessoa de seu Filho. Ela foi preparada pelo amor do Pai para ser a Arca da Aliança (cf. Lc 1,26-38). Guardou a misericórdia em seu coração, em perfeita sintonia com a missão Jesus Cristo. O hino de louvor colocando em seus lábios proclama a “misericórdia que se estende de geração em geração” (Lc 1,50) e chega até nós. Junto à cruz (cf. Jo 19,25-27), Maria testemunha o perdão supremo que seu Filho oferece, mostrando até onde pode chegar a misericórdia de Deus, da qual ninguém está excluído (cf. Lc 23,34.43). “A Mãe do Crucificado Ressuscitado entrou no santuário da misericórdia divina, porque participou intimamente no mistério de seu amor”. (MV, 24.) Solícita e diligente em face das necessidades humanas (cf. Jo 2,1-12), presente junto aos apóstolos à espera do Espírito (cf. At 1,14), Maria é o modelo da Igreja misericordiosa, chamada a desenvolver sua capacidade de se compadecer diante das misérias humanas, exercitando-se na arte da caridade e do perdão. Peçamos à Mãe de clemência e piedade que jamais se canse de volver para nós seu olhar misericordioso e nos torne dignos de contemplar o “rosto da misericórdia”, seu Filho Jesus.]
Juventude [ wi-fi...
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m visita à cidade de José Bonifácio, SP, surpreendeu-me a atitude de um garoto que, minutos antes do início da celebração eucarística, ignorando que eu era um visitante, solicitou-me a senha do wi-fi da igreja. Achei inusitada a pergunta e questionei o porquê. A resposta foi imediata: “Para acessar o WhatsApp”. Recentemente um jovem perguntou-me a mesma coisa. Em visita a minha família, ouvindo a conversa de dois sobrinhos (um de 6 anos e outra de 7 anos), fiquei surpreendido pelo nível do debate. Conversavam sobre senhas. Minha sobrinha defendia que sua senha era virtual e, portanto, muito segura, ao passo que seu primo garantia que as senhas de ipad são também de difícil acesso e muito confiáveis. Essas motivações, que inicialmente me pareceram inusitadas, levam-me a constatar que de fato vivemos uma nova época, para a qual nos percebemos neófitos e que podemos chamar era virtual. Os protagonistas da virtualidade somos todos nós, mas sem dúvida, as crianças e jovens sofrem o maior influxo da rápida mudança dos conceitos de relacionamento e convivência. Já Pierre Levy, estudioso do assunto, ainda que em contexto diverso, defende que a palavra “virtual não se opõe ao real, mas sim, ao atual. Contrariamente ao possível, estático e já constituído, o virtual é como o complexo problemático, o nó de tendências ou de forças que acompanha uma situação, um acontecimento, um objeto ou uma entidade qualquer, e que chama um processo de resolução: a atualização”. (LEVY, P., “O que é Virtual”, p.16.) O fato de vivermos a época da virtualidade sem medida, em contraste com a oportuna reflexão do filósofo, leva-nos a questionar sobre a maneira mais adequada de abordar, inclusive no plano pastoral, desafios como este. Creio que, da parte dos líderes e formadores de opinião, deve haver uma postura otimista com relação ao virtual, que viabilize o seu verdadeiro sentido para a convivência.
F/reprodução
Dom Edson Oriolo*
O aplicativo WhatsApp na evangelização É evidente que há o risco de o virtual subverter a ordem das relações, tornando-as ilusão e mesmo alienação, mas não creio que essas realidades sejam necessariamente sinônimas. Penso que o virtual seja uma resposta para um novo estilo de vida, marcadamente urbano, em
Interessante perceber a aplicação que essas novas formas de comunicação rápida poderiam ter na catequese que as relações se dinamizam na mesma medida em que a demanda do rápido e do imediato se impõem. Não se trata de uma opção, mas de uma realidade inquestionável e muito próxima de todos que vivem o novo estilo de vida. Pastoralmente, as consequências do relacionamento virtual também se fazem perceber e se apresentam desafiantes. Para além dos adolescentes e jovens preocupados com a senha do wi-fi durante as celebrações eucarísticas, resta a grave questão: Como evangelizar esse “novo areópago”, fazendo uma síntese entre as suas contribuições e a mensagem do Evangelho? Tenho conhecimento de que, em muitas paróquias e setores pastorais, os [ 20 • olutador [ maio ] 2016
ministros extraordinários da comunhão eucarística criam grupos no WhatsApp, por onde se comunicam e resolvem questões mais urgentes, com grande facilidade e proveito para todos. Sabemos que a tendência é que iniciativas como essa se multipliquem. Como abordá-las e delas extrair o melhor resultado para a missão evangelizadora? Interessante perceber a aplicação que essas novas formas de comunicação rápida poderiam ter na catequese. Não se trata apenas de mais um instrumento, mas de possibilidade de adentrar no universo dos adolescentes e jovens, que cada vez mais, aderem ao uso corriqueiro das novas tecnologias de comunicação para orientá-los e ajuda-los. Não seria essa uma nova linguagem na qual o Evangelho precisa ser anunciado? A catequese quer ser espaço privilegiado de convivência para aprimoramento das relações genuinamente cristã e precisa ser, também, o lugar em que os conteúdos da fé são transmitidos de maneira vivencial. Assim, as novas tecnologias abrem diversos horizontes para a catequese e para outras mediações evangelizadoras. Também na Pastoral da Comunicação, grande desafio da Igreja nos nossos tempos, se avista um universo das novas formas de comunicação ao lado daquelas tradicionais.
Juventude [ "em canto"... Maria, ensina-nos
* Bispo auxiliar de Belo Horizonte, MG
A
pessoa de Maria sempre nos aponta para Jesus. Seu exemplo de vida e seu testemunho de seguimento a Jesus permanecem como referência para todo cristão. Ela, que tão bem cumpriu a sua missão, nos anima a cumprir a nossa e nos ensina a amar no dia a dia da nossa vida. Este canto, com sua melodia suave, nos conduz para o encontro comunitário de nossa fé. E aí, reunidos como irmãos, nos encontramos com o Salvador, cuja mãe nos ensina a amar com ardor. No mês de maio ou em uma festa dedicada a Nossa Senhora, este canto serve como um canto de abertura de uma celebração, ou mesmo como um canto de homenagem à Mãe do Salvador.
Maria, ensina-nos! - Dó+ Pop
L. e M.: Luizão e Marlene – Belo Horizonte, MG
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1. Foste, então, desde o princípio, escolhida.
GC
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Em
/ Foi doando sem pensar a tua vida, / linda foi tua missão,
C
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G7 C
/ determinada e sem temor. / O teu Sim te fez, Maria, mãe da vida e mãe do amor.
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Mari a, Mari a! Nos trouxeste o Salvador, com alegria.
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G7 C Am F G7 C
/ Mari ia, Mari ia! Vem, ensina-nos amar no dia a dia.
2. É por causa deste amor que nós viemos. / Com carinho te entregaste ao Deus Supremo. / Com ternura acalentaste o Teu Filho e Teu Senhor. / Ó Senhora, ensina a gente amar também, com tanto ardor. 3. Pois “tu és cheia de graça”, assim orou, / ao saudar-te o anjo que o Pai enviou. / Hoje, nós te bendizemos, consagrando-nos a vós. /Abençoa, Mãe querida, e roga a Deus por todos nós. [ As músicas desta seção podem ser baixadas no nosso site: olutador.org.br V ouça isite no ss as m úsi a pági da C e fique sa cas, baix na na inte asa d e as o M bendo letr rnet, cate obon. Tu da progr as cifra qu da a Refle ese, litu do isso e mação s, rg xão, galeri ia, grup muito m ais: os a de foto de www s... .m
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Penso, por exemplo, nos aplicativos de celular que viabilizam relacionamentos rápidos, com diálogos instantâneos, bem como contatos interpessoais, ligações afetivas, profissionais e lúdicas. É o caso do WhatsApp (aplicativo) que deriva de uma palavra em inglês, muito usada como gíria, e que substituiu o hi ou olá, como forma mais popular de saudação casual. Trata-se de mensagens instantâneas para smartphones. Não apenas mensagens de texto, mas de diversas mídias como imagens, vídeos e mensagens de áudio. Este aplicativo impõe um novo jeito de interagir entre as pessoas: agora, boa parte da população prefere escrever em vez de falar. Além disso, pesa o fato de que o uso de aplicativos de mensagens é mais barato, rápido e acessível, pois você pode se comunicar o tempo todo sem grande custo ou sofisticação. Os dilemas que compõem os relacionamentos humanos se reinventam no virtual. Para algumas pessoas, isso pode causar ansiedade e, em certos casos, desconfiança e dúvidas. “Por que não responde?” “O que ele(a) estará fazendo?” - são questões comuns no universo relacional do WhatsApp. A questão complica-se ainda mais quando tratamos do quesito privacidade. O psicólogo Pablo Viudes explica que “a pessoa precisa saber administrar sua conectividade. Do contrário, o WhatsApp pode vulnerar a privacidade. A disponibilidade das pessoas é a base da sua autoafirmação. Se você não pode responder, simplesmente não pode”. Trata-se de transportar para esse universo relacional os valores da autonomia e dos limites que a liberdade impõe. O Papa Francisco fala constantemente do ideal de uma “cultura do encontro”, que desperte nas pessoas a dimensão da abertura do coração, da quebra do egoísmo e do cuidado. Assim, creio que o problema seria o uso desses canais de comunicação de forma exclusiva. Por outro lado, como fruto da evolução tecnológica, tais ferramentas devem ser um instrumento que conduza para as verdadeiras relações humanas, baseadas no encontro.]
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olutador [ maio ] 2016 • 21 ]
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[Apoio: Sonorplay
Encontro Matrimonial [ O sacerdote compõe a equipe...
A presença do sacerdote
no Encontro Matrimonial Mundial
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“
Encontro Matrimonial Mundial é um movimento eclesial que pretende renovar a vida cristã através dos sacramentos do Matrimônio e da Ordem Sagrada. É uma aproximação carismática. Toda a liderança vem da integração dos dois sacramentos e as decisões devem ser tomadas por meio destes.”1 Mais do que uma definição, este é um desafio para os que desejam ser os melhores sacramentos que puderem ser. O diálogo entre sacramentados do Matrimônio e da Ordem envolve muitos detalhes. Antes de tudo, é necessário lembrar: não existe sacramento mais elevado ou importante que os outros. Todos são meios para a santificação, para a salvação, com sua especificidade, seu carisma. No EMM o sacerdote não dirige, não coordena sozinho. Ele compõe equipe,
contribuindo com seu carisma e autoridade para o consenso e bom andamento dos trabalhos. No EMM, chamamos a comunhão de vida dialogada entre os sacramentados do Matrimônio e da Ordem de Intersacramentalidade. Esta é o ato de viver um relacionamento profundo, compartilhando a vida conjugada de dons e graças presenteados por Deus nos sacramentos, que se transforma em amor concreto para o relacionamento próprio e com os outros. Encontramos nos Atos dos Apóstolos [18,24-26], no acolhimento e vivência entre Paulo, Áquila e Priscila, o exemplo bíblico que ilustra nosso ideal de Intersacramentalidade. A vida partilhada por eles transbordava para a missão evangelizadora. A percepção de que era necessário criar oportunidade para que os sacerdotes servidores se encontrassem a fim de partilhar suas dificuldades no viver os valores do EMM, motivou o padre Jacob Inácio Kehl, MSF, a reservar tempo dentro das Assembleias Nacionais para reuniões de sacerdotes. Esta ideia evoluiu para a criação da Área Sacerdotes, pela Equipe Eclesial Nacional, que por sua vez incentivou a criação dessas Áreas nas Equipes Regionais e Diocesanas, tendo sempre como objetivo escutar os anseios dos sacerdotes, ajudar os casais a entenderem a especificidade da vida consagrada e a assumirem um relacionamento Intersacramental contínuo. Há tempos se chama a atenção para que o testemunho de Intersacramentalidade vivenciado nos Fins [ 22 • olutador [ maio ] 2016
de Semana sejam realmente testemunhos de vida Intersacramental. Na esteira do incentivo gerado pela criação das Áreas Sacerdotes / Religiosos(as), fomentaram-se as experiências de Entre-semanas para sacerdotes, realizadas em diversas dioceses nos últimos dois anos, e o 1º Encontro Nacional de Sacerdotes Servidores, realizado em Teresina, dia 30 de abril de 2015, um dia antes da Assembleia Nacional, reunindo 27 sacerdotes, nove destes, agendados para a Assembleia. A expectativa dos participantes era ter “tempo, em grupos pequenos, para falar de si mais à vontade, e fazer do encontro uma marca que fica e ajuda a viver mais plenamente o nosso sacramento”.2 Tanto o formato das reuniões com sacerdotes como o dos encontros, cuja realização tende a aproveitar a data das Assembleias Nacionais, precisam ser mais bem elaborados. Mas o desafio de viver a Intersacramentalidade é ainda maior quando refletimos sobre a importância dos religiosos e religiosas no EMM. A consagração e a dedicação da própria vida ao serviço do povo de Deus os equiparam aos sacerdotes. Na história da implantação do EMM, não apenas no nosso Brasil, mas em vários países do mundo, vemos a presença valiosa desses consagrados, que conseguiram motivar outros religiosos(as), sacerdotes e casais, a expandir o “sonho”. Há que se abrir espaço, também, para a discussão a respeito da Intersacramentalidade vivida pelos chamados “diáconos permanentes”, enquanto sacramentados do Matrimônio e da Ordem. Muito ainda há para fazer, tão vasto se mostra o campo a trabalhar. Contudo, “o caminho se faz caminhando”. Podemos dizer que os passos dados até aqui são muito animadores. Avante, Sacramentados Missionários!] 1. Regimento Interno do EMM – Brasil; Anexo 2.1. 2. Testemunho escrito do Pe. Philip Jacques Cromheecke.
Família Julimariana [ Sair da comodidade...
Um presbítero em saída
O
título do artigo soa um tanto estranho. Mas queremos significar uma espiritualidade presbiteral em saída, segundo as inspirações do Papa Francisco. Significa a opção de sair do templo para as casas. Da segurança das instituições para o concreto da vida dos pobres ou, como se diz: para as periferias. Este ministro ordenado em saída é sacramento da “Igreja em saída, é uma Igreja com as portas abertas. Sair em direção aos outros para chegar às periferias humanas não significa correr pelo mundo sem direção nem sentido. Muitas vezes é melhor diminuir o ritmo, pôr de parte a ansiedade para olhar nos olhos e escutar, ou renunciar às urgências para acompanhar quem ficou caído à beira do caminho. Às vezes, é como o pai do filho pródigo, que continua com as portas abertas para, quando este voltar, poder entrar sem dificuldade”. (Papa Francisco, Evangelii Gaudium, 46.) Não é fácil optar por esta espiritualidade presbiteral em saída, entretanto “cada cristão e cada comunidade há de discernir qual é o caminho que o Senhor lhe pede, mas todos somos convidados a aceitar esta chamada: sair da própria comodidade e ter a coragem de alcançar todas as periferias que precisam da luz do Evangelho”. (EG, 21.) Quando falamos de uma espiritualidade presbiteral em saída, não podemos nos esquecer do Servo de Deus, o Pe. Júlio Maria De Lombaerde. Ele nos ajuda a tocar nesta espiritualidade. Pe. Júlio Maria foi missionário da Congregação da Sagrada Família e veio para o Brasil em 1912. Sua primeira área de missão foi Macapá, AP. Ele entendia a paróquia não só como um espaço físico ou burocrático, mas sobretudo como um campo de evangelização. Ele não gastou tempo nem forças em obras paroquiais pesadas; pelo contrário, dinamizou a vida eclesial através de coisas simples, como visitas às famílias, catequeses e atendimento ao povo em geral. A necessidade do rebanho era a sua.
Foi assim que este servo de Deus viveu sua vocação presbiteral em Macapá, junto às crianças, famílias, doentes e pobres. A fim de exemplificar essa espiritualidade em saída do presbítero, podemos recorda o encontro do Pe. Júlio com um leproso em Macapá, que assim descreve o servo de Deus: “Muitas vezes havia visto essa cabana e havia passado ali, mas nunca penetrei nela julgando-a abandonada. Uma tarde, porém, recostei-me numa pedra junto de uma parede daquela choça, para tomar fôlego e enxugando suor, antes de continuar a peregrinação costumeira. De repente, ouvi um gemido angustiante, seguido a outro. Finalmente, distingui uma voz balbuciando palavras incompreensíveis. Sob o ímpeto do mistério, pus-me de pé com três passos e penetrei na cabana, vendo-me diante do pobre homem descrito. Ele sorria para mim amavelmente e me recebia com alegria nos olhos. – Oh! É o senhor, Pe. Júlio! Foi Deus que o mandou aqui. Há semanas que aguardava sua visita. Como não tenho ninguém para mandar buscá-lo, rezava para que o senhor aparecesse. Com sentimento de emoção e ao mesmo tempo de escrúpulo, tomei entre as minhas mãos trêmulas os restos daquelas mãos despedaçadas. Os pés deformados estavam cobertos de feridas violáceas e sanguino-
F/arq., sdn
Pe. Marcos Antônio A. Duarte, SDN
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lentas. As mãos sem forma, donde acabara de cair um dos dedos, apresentavam ossos descobertos, como enxertados em meio a uma chaga recentemente aberta. Ele me mostrava tudo isso com uma resignação admirável. Atingira o estado mais degradante do ser humano... era a figura viva do homem da dor. Instintivamente comecei a cuidar daquelas mazelas. Consolei-o e choramos juntos, ele, de felicidade e agradecimento, e eu, de piedade e de compaixão”. (Romance de um missionário no Amazonas, p.53.) Este relato emocionante, marcado com todo realismo, vale mais que muitos discursos elaborados sobre o que seria uma vocação presbiteral em saída. Pe. Júlio Maria De Lombaerde, no seu contexto eclesial, viveu esta espiritualidade não com esse nome, mas com esse sentido, que damos hoje a partir das inspirações do Papa Francisco. Enfim, este jeito de ser presbítero em saída exige que o ministro ordenado seja um homem do encontro, da ternura, da presença, do abraço e do perdão. É um homem que reflete as moções do coração do Cristo, o Bom Pastor. O servo de Deus, o Pe. Júlio Maria, e o Papa Francisco são luzes que nos ajudam a viver essa espiritualidade como um espaço de encontro como os irmãos e as irmãs no serviço ao Evangelho.]
Espiritualidade [ O agir concreto...
Força da Palavra D o m Pau l o M ende s P e i xo t o *
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onforme o ditado popular, “as palavras comovem, mas são os exemplos que arrastam”. A Palavra de Deus tem grande força de convergência, provoca práticas de unidade e forma comunidades. Podemos até dizer que nenhuma comunidade cristã se constrói sem a presença dessa Palavra. Por isso, ela precisa ser conhecida e aprofundada na vida das pessoas, criando motivação para a unidade. Um corpo sem alimento acaba perdendo as forças, a solidez de sua existência e desfalece. Quem tem firmeza e apoio na Palavra de Deus não se deixa influenciar pelas maldades do mundo e nem pelos falsos ensinamentos sempre presentes na história dos povos. Age com critérios maduros e responsáveis, colocando suas energias a serviço do bem e da construção do projeto de Deus. Existem uma sede e uma fome da Palavra bíblica que marcam a vida das pessoas. Podem correr o perigo de terem a mente vazia e caírem num profundo clima de desespero. Isso se torna mais evidente ainda diante dos desafios e problemas existenciais. Não conseguem enfrentar e sublimar as dificuldades do momento. Conforme outro ditado popular, “saco vazio não fica de pé”. A unidade do povo cristão faz parte das orientações da Palavra de Deus. Unidade enriquecida com a diversidade inspiradora do Espírito Santo. Cada membro, na comunidade, leva consigo virtudes próprias, que devem ser colocadas a serviço de todos. As
Ter os olhos fixos em Jesus, Ele tem palavras cheias de esperança e de sentido, que despertam a atenção das pessoas ações egoístas não deixam de ser uma grande traição ao princípio da unidade, muito querida por Deus. No corpo de Cristo, a Igreja, todos os cristãos devem estar integrados e contribuindo para o fortalecimento da unidade. Isto supõe respeito pela pessoa do outro e pela convivên[ 24 • olutador [ maio ] 2016
cia comunitária. As pessoas batizadas se beneficiam de um mesmo Espírito, Ele que é fonte da Palavra e da unidade, e marca cada cristão com a unção da responsabilidade com a vida de todos. É importante ter os olhos fixos em Jesus, porque Ele tem palavras cheias de esperança e de sentido, que despertam a atenção das pessoas. Mira nas questões de desigualdade e de marginalização, nos que vivem no anonimato e são excluídos do contexto da vida comunitária. O agir concreto de Jesus Cristo passa pelo caminho do exercício da solidariedade.] *Arcebispo de Uberaba, MG
Caderno de Cidadania
ANO 13 * Nยบ 278 * MAIO * 2016 * BELO HORIZONTE * MG
BORDAR UM BRASIL MELHOR
Projeto Miguilim
❝ Favorece um mundo melhor... ❞
❝ B O R DA R U M B R A S I L M E L H O R ❞
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IVEMOSum momento delicado em nosso país. Não sabemos em quem confiar. Há mentiras, corrupção, desvios por todos os lados. A grande mídia, com seus recursos e artefatos, muda até os fatos. Vestem os lobos de ovelhas e as ovelhas de lobos. Mas a imagem de lobo não parece ser a melhor para expressar esse momento. Melhor estar atentos aos ratos. De todas as espécies, de todos os tamanhos, de todos os escalões e repartições; de todos os poderes e partidos. E estes ratos vêm de longe, desde os porões dos navios portugueses que chegaram à nossa terra. Desde muito eles estão por toda a parte, roendo e corroendo, noite e dia, as instituições e a máquina pública, desde a esfera municipal até as instâncias federais. Corroem as ações e decisões, as mentes e os corações. Corroem a política, a lei, a ética, a moral, a justiça e até a religião... Por isso, uma “Operação Lava Jato”, seletiva como a que estamos vendo, não dá conta da mudança necessária. Ela caça alguns e faz vista grossas para outros. Será necessário uma “Operação Caça Rato”. Mas as moções que vemos no cenário nacional estão longe de ser um sinal desta operação, pois os que a movem são também roedores, desejosos apenas de uma fatia maior do “Queijo Brasil”. É por isso que, em meio um cenário tão desolador e instável, nosso Caderno quer ser um espaço de Cidadania, quer comunicar o que favorece um mundo melhor. Mais que linhas, ele tece sonhos, ele borda a esperança de uma vida nova, com novas oportunidades. Ele reforça a luta de todos aqueles que tecem políticas públicas responsáveis, que tecem direitos humanos, ética e liberdade de expressão. Ele reforça o bordado de ações que buscam a recuperação de detentos e sempre abre novos espaços para aqueles que se comprometem a tecer a inclusão social. Vamos juntos bordar, tecer um Brasil melhor. Mas cuidado: os ratos roem bordados...* denilson mariano Visite nossos sites e redes sociais
csfbh.org.br olutador.org.br facebook.com/ GraficaeEditoraOLutador Twitter:@Olutador_ facebook.com/pages/Projeto-BICABuscando-Integração-ComunitáriaPela-Arte/537285063055945
Centro Sacramentino de Formação Centro Sacramentino de Formação
Centro Sacramentino de Formação
Centro Sacramentino de Formação
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Belo Horizonte é a única capital brasileira que conta com um projeto de acolhimento de crianças e adolescentes em situação de rua. O CREAS-POP / Programa Miguilim, inaugurado em 1993, é um serviço público que atende a esse público. O programa foi concebido no âmbito da sociedade civil organizada, por meio da Frente de Defesa das Crianças e Adolescentes. Encontra-se temporariamente funcionando à Rua Mucuri, 24, bairro Floresta. Mais informações pelo telefone (31) 3277-4608 ou pelo e-mail miguilim@pbh.gov.br *
Lei de Acesso à Informação – LAI
A lei 12.527/2011 regulamenta o direito constitucional de acesso às informações públicas. Essa norma entrou em vigor em 16 de maio de 2012 e criou mecanismos que possibilitam a qualquer pessoa, física ou jurídica, sem necessidade de apresentar motivo, o recebimento de informações públicas dos órgãos e entidades. A lei vale para União, Estados, Distrito Federal e Municípios, inclusive os Tribunais de Conta e Ministério Público. Entidades privadas sem fins lucrativos também são obrigadas a dar publicidade a informações referentes ao recebimento e à destinação dos recursos públicos por elas recebidos.*
Diáspora Africana
Fundada em Belo Horizonte e com filial no Rio de Janeiro, a Nandyala Livraria e Editora tem um conceito diferenciado quando o assunto é editoração de livros. Desde 2006, sua proposta é apresentar um novo horizonte no universo livreiro do Brasil, focando-se em divulgar e comercializar publicações de referências africanas e indígenas, de modo a contemplar a demanda por ações pontuais de reeducação das relações étnico -raciais e das relações de gênero. Para saber mais sobre a editora, acesse nandyalalivros.com.br ou ligue (31) 3281-5894 / (21) 3852-8440.*
olutador [ maio ] 2016 [ Caderno de Cidadania ]
O bordado como meio transformador tat i a n a s a n ta n a da s i lva*
Representar imagens, memórias e afeto com agulhas e linhas permite, literalmente, “pegar o fio da meada” e dar sentido e continuidade a uma ideia e sentimento. Como artista plástica e educadora, acredito que o bordado tem o poder de transformar o indivíduo e permitir o tecer de novas possibilidades. olutador [ maio ] 2016 [ Caderno de Cidadania ]
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❝Às vezes o coração, rasgado pela dor, vira retalho. Recomenda-se, nestes casos, costurá-lo com uma linha chamada recomeço. É o suficiente.❞ (cora coralina) [▶ Uma arte de decorar
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bordado é basicamente a arte de decorar com figuras, utilizando linha, tecido e agulha. A história mostra que o bordado originou-se na pré-história, quando nossos ancestrais utilizavam agulhas feitas de ossos de animais e o fio de fibras vegetais. Eles costuravam as suas vestes, que eram feitas de peles de animais caçados para a alimentação. Com o passar do tempo, o bordado se transformou, tornando-se um trabalho industrializado e mais prático com a ajuda de máquinas. Porém, a beleza e a individualidade do trabalho plástico estão sendo retomadas e admiradas por muitas pessoas que têm a oportunidade de conhecer e praticar a técnica. A vida vivida é o fio da meada que nos liga durante anos e possibilita a criação, o fazer à mão, com emoção e com a alma, a arte de tantas pessoas. Fazer o bordado, passar o fio ponto a ponto faz com que registremos internamente um propósito. Há 15 anos atuo como arte-educadora em projetos so-
ciais, mas foi há sete anos, trabalhando na rede substitutiva de saúde mental de Belo Horizonte, que encontrei a técnica e a alegria de transformar pela arte. Surge o grupo “Duas Marias e uma Flor”, grupo de bordadeiras atendidas pelo Centro de Convivência Pampulha, formado por três usuárias da rede. De maneira
despretensiosa, criaram lindos trabalhos que chamamos de pintura com linha, exportaram seus trabalhos e participaram de exposições como a Mostra de Arte Insensata, realizada no Espaço 104, em 2012. Desde então, dedico grande parte das oficinas à arte do bordado e ao desenvolvimento de imagens que se transformam
❝Fazer o bordado, passar o fio ponto a ponto faz com que registremos internamente um propósito.❞
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olutador [ maio ] 2016 [ Caderno de Cidadania ]
em ilustrações, telas e objetos decorativos integrados a projetos de mobilização social. Escolhi, como didática, um fazer liberto de amarras e pontos marcados. São trabalhos com significado próprio e individual, tecidos com carinho e afeto.
Desconstruir e mudar a direção
O bordado tem feito diferença em diversas oficinas e trabalhos nos quais participo, e percebo que, pelo fato de poder ser feito e desfeito, auxilia no processo de se permitir descontruir e mudar a direção traçada inicialmente. É uma ponte entre o atendimento socioassistencial e o serviço de fortalecimento de vínculos, e abraça a todos os públicos sem distinção. Uma experiência maravilhosa também aconteceu com o grupo de adolescentes atendidos pelo Projeto BICA, do Instituto dos Missionários Sacramentinos de Nossa Senhora. Durante a oficina de bordado, eles representaram o íntimo, o desejo e o sonho através dos pontos de bordado livre. Uma das atendidas me surpreendeu com
seu trabalho, falando de sua angústia ao não saber se relacionar com outras pessoas. Este trabalho me fez mudar o olhar e construir novas perspectivas com esta adolescente. Meses depois, esta mesma atendida foi a idealizadora de um coletivo de adolescentes que tinha como objetivo circular por espaços culturais da cidade, e ganhou o nome de “Express’art”. O bordado possibilita a troca cultural e experiências de vida, desenvolve o sentimento de pertencimento e de identidade, fortalece vínculos entre as pessoas e incentiva a socialização. É também uma forma de expressar a criatividade e a comunicação, levanta questionamentos que são considerados tabus. Empodera mulheres e, sendo uma técnica antiga, também mantém tradições passadas de geração em geração.
Um olhar sobre os quintais
Atualmente realizo a oficina “Um Olhar sobre os quintais de Macacos”, que acontece na Associação de Moradores da cidade de São Sebastião das Aguas Claras -Macacos, cidade onde resido atualmente. A proposta é resgatar memórias dos moradores antigos e o registro afetivo dos moradores mais novos. Uma cantiga de roda, uma pessoa importante na história da comunidade, uma planta, árvore, a casa antiga... E principalmente a troca dessas pessoas durante a atividade. Podemos descobrir e trocar muitos aconteolutador [ maio ] 2016 [ Caderno de Cidadania ]
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cimentos e registros dessa comunidade pequena, mas rica em cultura. O bordado tem aparecido como uma forma de diálogo e troca, de possibilidades e descobertas, de realizações e conquistas, mas principalmente como um meio transformador, capaz de mudar a vida do indivíduo, desfazendo apenas um nó. Cito Cora Coralina, ao fim deste texto, representando a arte e o fazer artístico na Assistência Social, na Cultura e na vida. “Às vezes o coração, rasgado pela dor, vira retalho. Recomenda-se, nestes casos, costurá-lo com uma linha chamada recomeço. É o suficiente.” (Cora Coralina)* * Artista plástica. E-mail: tatianaguignard@hotmail.com
Secretaria Municipal Adjunta de Assistência Social
PBH inaugura primeiro CENTRO-DIA para Pessoa com Deficiência de Minas Gerais
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Prefeitura de Belo Horizonte, por meio da Secretaria Municipal Adjunta de Assistência Social – SMAAS e em parceria com os Governos Federal e Estadual, inaugurou, no mês de março, o primeiro CENTRO-DIA de Referência para Pessoa com Deficiência de Minas Gerais. O equipamento está instalado nas dependências do Polo de Educação Integrada POINT Barreiro (Praça Modestino de Sales Barbosa, 11, Barreiro de Cima), com execução por meio de convênio firmado entre a PBH e a União dos Paraplégicos de Belo Horizonte – UNIPABE.
O serviço oferece atendimento para adultos de 18 a 59 anos com deficiência, em situação de dependência, sendo esta agravada por violação de direitos, com o objetivo de prestar atendimento especializado em casos de situações de vulnerabilidades, risco pessoal e social vivenciados por pessoas com deficiência em situação de dependência e por sues familiares. Por meio da oferta de um conjunto de ações que contribuam para ampliar as aquisições dos usuários, o CENTRO-DIA atua na perspectiva da garantia das seguranças previstas na Política Nacional de Assistência Social – PNAS. Para o secretário municipal adjunto de assistência social, Marcelo Alves Mourão, o local representa um avanço nas políticas públicas, na medida em que amplia a possibilidade de atendimento ao esse público. “O Centro irá atender à
população da Regional Barreiro, e nossa expectativa é futuramente ampliarmos o atendimento para toda a capital, com a instalação de novos equipamentos nesse modelo. Esse foi mais um passo na perspectiva de garantirmos direitos e expandirmos as ofertas à pessoa com deficiência em Belo Horizonte”, aponta Mourão. O equipamento disponibiliza um conjunto variado de atividades, por meio de uma equipe multidisciplinar,
não apenas nos espaços físicos da unidade, mas envolvendo os domicílios e a comunidade local. “Além disso, também são ofertados cuidados básicos nas atividades da vida diária, na perspectiva de possibilitar o desenvolvimento de autonomia e independência, contemplando as dimensões individuais e coletivas no grupo. Esse é o diferencial do nosso serviço”, pontua Márcia Gurgel, coordenadora do equipamento.*
Entre em contato com o CENTRO-DIA de Referência para Pessoa com Deficiência e saiba mais sobre o serviço pelo telefone 3277-4080 [6
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olutador [ maio ] 2016 [ Caderno de Cidadania ]
Promoção, Pesquisa e Intervenção em Direitos Humanos e Cidadania
Migração haitiana
A importância do 18 de maio, Dia da Bandeira
V
c a ro ly n e re i s b a rro s
ivemos uma ampliação do espaço sem precedentes, propiciada pela produção de novas tecnologias e pelo desenvolvimento de técnicas de divisão, medição e mapeamento de dimensões físicas e temporais, e também pelo processo de expansão e circulação de mercadorias. Esse processo pode ser denominado de compressão tempo-espaço. E a partir da produção de novas tecnologias, intensificouse a mobilidade de pessoas pelo espaço. A migração, entendida como uma atividade humana transistórica, possui distintos sentidos no modo de produção capitalista, e é atravessada pelos recortes de classe social, gênero, raça e localização geográfica. É o caso da migração haitiana, que adquire diferentes formas e características ao longo da história e, muito embora seja difícil mensurar, calcula-se que mais de dois milhões de haitianos tenham migrado para diversos países do mundo, como França, Canadá e Estados Unidos e, recentemente, o Brasil. Se considerarmos a relação sócio-histórica da sociedade haitiana com a migração, o Brasil, como destino dos haitianos,
seria somente mais um país a ser escolhido. Contudo, tal escolha atrai atenção pelo fato de o Brasil, nos últimos anos, não ser um destino comum para imigrantes. O fluxo recente de imigrantes haitianos para o Brasil intensificou-se a partir de 2010, após o terremoto que agravou ainda mais a situação socioeconômica daquele país. Estima-se que aproximadamente 55.000 haitianos vieram para o Brasil, sen-
do que aproximadamente 10.000 deles estão em Minas Gerais e 4.000 residem na região metropolitana de Belo Horizonte. As motivações e escolha pelo Brasil são diversificadas: envolvem a situação econômica do país, a perspectiva jurídica, ou seja, leis que facilitam ou dificultam a entrada e permanência de imigrantes, e
olutador [ maio ] 2016 [ Caderno de Cidadania ]
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também o desejo de “viver o sonho de morar fora do Haiti”. Em busca de trabalho, enfrentam vários desafios intensificados com o estranhamento da língua e com a rigidez da lei em vigência tratando-se de migrações, o Estatuto do Estrangeiro. Tal legislação foi elaborada durante o período militar e concebe o imigrante como um estrangeiro potencialmente ameaçador. Na esfera jurídica, o Brasil busca construir alternativas que possibilitem o acolhimento dos haitianos no país, mas ainda é imprescindível a implementação de um novo marco legislativo. Mesmo com todas as dificuldades enfrentadas, a valorização da cultura e dos laços patrióticos não é esquecida. Neste mês de maio, o dia 18 é considerado a data mais importante do calendário haitiano. No dia 18 de maio de 1803, o Haiti tornou-se independente da colônia francesa e constituiu a primeira república negra do mundo, momento de destaque na Revolução Haitiana [1791-1804]. Na região metropolitana de Belo Horizonte, a associação Koren AYSIEN- Associação dos Haitianos de Contagem prepara atividades para comemorar o Dia da Bandeira.*
SeDESE
Secretaria de Estado de Trabalho e Desenvolvimento Social
Cidadania na realidade carcerária...
A família deve ser vista como um tesouro, um dom de Deus
F
amília representa um laço eterno, o que significa a enorme importância dela no cárcere. Aqui, o que mais necessitamos é a cumplicidade, amizade, carinho e um imenso bem-querer em primeiro lugar. Tudo isso deve ser cultivado e valorizado para que possamos resistir a todos os desafios e turbulências. É a família que contribui, e muito, para nos moldar e influenciar a forma como encaramos a vida e como fazemos dos nossos erros um grande e importante aprendizado. É com a família que se aprende a viver a generosidade, o amor, a partilha, compreensão e solidariedade, mesmo neste lugar onde nos encontramos. Erramos, pagamos por nossos erros, mas só aprendemos a nos tornarmos pessoas melhores com o apoio da família e aquele amor que socorre, cuida, ajuda e perdoa. É uma só atitude em um só sofrimento. Caímos e so-
Caderno de Cidadania Um Serviço de Defesa Social da:
mos ajudados a nos levantar, da mesma forma que ajudamos outras pessoas a se levantarem e prosseguirem sua caminhada. Esta é a função da família: tornar possível o nosso crescimento em sabedoria, estatura e graça. A família é um dos pilares que sustentam nossa formação humana e espiritual. É o apoio familiar que nos ensina a obter os valores que nos guiarão durante toda a vida. E é com esse apoio familiar que iremos aprender os valores morais e éticos, a usar corretamente a LIBERDADE, a formar nosso caráter e nos tornar pessoas de bem, adultos maduros e capazes de contribuir na construção de um mundo melhor. A importância da família é tão grande, que podemos afirmar serem os pais e familiares o nosso único refúgio.* W.C.F. de L.- 24 anos Ilustração: Igor Santos Cruz
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SEDESE Atende aos 853 municípios mineiros
lanejar, executar, monitorar e avaliar políticas que busquem o desenvolvimento social de Minas Gerais são as principais atribuições da Secretaria de Estado de Trabalho e Desenvolvimento Social – SEDESE, presente em todos os 853 municípios do Estado por meio de ações de enfrentamento à pobreza e de promoção de condições para a superação da vulnerabilidade social. A estrutura organizacional da SEDESE inclui as subsecretarias de Assistência Social e de Trabalho e Emprego. A Subsecretaria de Assistência Social – SUBAS tem por finalidade promover a formulação, a implementação, a coordenação e a avaliação da política pública de assistência social e do Sistema Único de Assistência Social – SUAS. Já à Subsecretaria de Trabalho e Emprego – SUBTE cabe a promoção do desenvolvimento econômico e geração de trabalho decente no Estado de Minas Gerais, por meio do planejamento, execução, articulação e monitoramento das políticas de trabalho e emprego e da excelência no atendimento ao trabalhador. Três conselhos de políticas públicas também integram a área de excelência da Sedese, garantindo o controle social das
ações. Dois deles são vinculados à SUBTE: Conselho Estadual da Economia Popular Solidária – CEEPS e Conselho Estadual do Trabalho, Emprego e Renda – CETER; e um vinculado à SubasConselho Estadual de Assistência Social – CEAS. Como gestora do Fundo Estadual de Assistência Social – FEAS, a SEDESE orienta, acompanha e controle a execução dos recursos alocados no FEAS, como o Piso Mineiro de Assistência Social, que repassou, em 2015, mais de R$ 54 milhões aos 853 municípios mineiros, recursos necessários ao funcionamento da estrutura da assistência social em Minas. Atualmente, o Estado dispõe de 1.129 Centros de Referência de Assistência Social – CRAS, em 846 cidades, com capacidade para atendimento a até 484 mil famílias. Existem ainda 240 Centros de Referência Especializados de Assistência Social – CREAS, em 225 municípios, prontos para atender a 12.120 famílias. No âmbito do Trabalho, a Sedese coordena 133 unidades do Sistema Nacional do Emprego – SINE espalhadas pelo Estado, nas quais o trabalhador pode buscar, diariamente, novas vagas de emprego.*
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olutador [ maio ] 2016 [ Caderno de Cidadania ]
Liturgia [ A festa da grande fraternidade...
Missa é festa? Que festa!? Se r g i nh o Valle *
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os irmãos para repartir o pão, o vinho, a vida. É uma festa onde sobra, exagera-se, na comunhão e na partilha. É a festa da grande partilha. Um modo gratuito de dividir o pão e o vinho, a paz, a oração, a alegria e, principalmente, a vida. Na verdade, a festa da Missa proclama que repartir a vida e fazer comunhão com Deus e com os irmãos é a grande festa do viver e do sentido da vida. Você começa a entender essa festa quando sente a presença de Deus dividindo com você e no meio da gente. “Ele está no meio de nós” – não é isso que aclamamos várias vezes na Missa? É uma festa sentir Deus repartir sua Palavra, o pão, a paz e serenidade durante aquele momento de celebra-
F/arq., sdn
enho certeza de que você já ouviu, quem sabe, leu em algum livro ou revista que a Missa é uma festa. Quem falou assim estava certo. Certíssimo! É verdade que a gente quase não vê sinais de festa na Missa, ao menos do jeito que nós brasileiros entendemos festa. Tem cantos, ornamentos, às vezes se batem palmas, uma que outra vez acontece uma coreografia ou dança... e termina por aí. Alguém já me disse que Missa é uma festa “séria”, sem riso nem alegria, com pouco pão e sem bebida. Parece verdade! Só que a Missa como festa tem outro significado e outra motivação. É a festa da grande fraternidade e da grande comunhão. É o encontro com Deus e com
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ção. É uma Páscoa. É Deus passando no nosso meio e dividindo vida. Que festa! Que bela festa! Tudo bem, até posso aceitar sua contestação quando me diz que toda festa tem fartura de comida e bebida. Concordo com você, mas em parte. Tem... e não tem... Se for fartura de comer e beber à vontade, isso não tem. Mas se é fartura de pão e vida para todo mundo, aí, sim, a Missa é uma grande fartura. Distribui-se o pão da vida para todos. Cada um tem um pedaço e Deus se faz todo inteiro em cada um. É fartura de pão, de vida, da partilha. Que festa!] * Coordenador Serviço de Animação Litúrgica - SAL www.liturgia.pro.br
Atualidade [ Em tempos de guerra...
As duas religiões A nt ô n i o C ar l o s Sant i n i
razão de ser dos grandes romances: lembrar que a vida pode ser outra coisa... De acordo com a proposta do romancista, quando a rotina tranquila de uma sociedade se vê abalada por um desastre de proporções – como a peste em Oran ou como a Segunda Guerra mundial –, os velhos andaimes em que nos apoiávamos já não são suficientes para dar sentido à realidade envolvente. Neste ponto, ou rejeitamos a Deus ou rejeitamos a todo o resto. Existe, pois, uma religião para tempos de guerra, quando a tranquilidade cede lugar à tensão, o rito dá espaço ao risco e a iminência da morte nos oferece uma encruzilhada: fechar-nos no isolamento da loucura ou abrir-nos à dolorida solidariedade com aqueles que a morte vem rondar. Nos tempos de paz, ajuntávamos moedas; em tempo de guerra, doamos sangue. E esse terrível cavaleiro do apocalipse – a guerra – torna-se a ocasião de uma conversão profunda: estando tudo perdido, descobrimos a salvação. Afinal, que sentido faz acrescentar mais um dente de ouro quando já não há pão para comer? Bendita a guerra que vem relativizar os valores pelos quais nos vendíamos tão barato! Bendita a guerra
que vem denunciar nosso egoísmo e nossa inconsequência! A guerra que faz ruído para acordar aqueles que cochilavam ao sol. Com a sua chegada, a mesma bomba que abate uma casa abre as portas do vizinho para a família sem teto. A mesma bala que perfura o peito de uma criança abre um rio de lágrimas no coveiro que a enterra. A dor humana deixa de ser um assunto para poetas e se transforma no pão de cada dia. Para muita gente, hoje, vive-se um tempo de guerra. Há fome endêmica na Eritreia. Há perseguição religiosa no Sudão do Sul. Há medo do imigrante no túnel do Canal da Mancha. Há conflitos étnicos no Bronx. Há barracos incendiados no bairro do Limão. Claro que nós não temos nada com isso... Ou temos? Em tempos de paz, cremos que a religião é um assunto pessoal, envolvendo nossa relação com Deus. Em tempos de guerra, quando Deus se esconde com medo dos mísseis, a religião veste outra roupagem, pois alguém está morrendo ao nosso lado. E se Deus não se apresenta, deve ser a nossa vez de tomar providências. Pode ser esta a pergunta para meu exame de consciência: em que tempo estamos nós?]
F/reprodução
A
releitura de Camus, em seu inquietante romance “A Peste”, editado por Gallimard nos primeiros anos do pós-guerra, me força a meditar sobre o comportamento religioso. Exceto para os grandes convertidos, para quem a religião é sempre uma “novidade”, os fiéis habituais vivem uma fé tranquila, feita de ritos e gestos tradicionais, e simultaneamente estéril e sem consequências. Seria preciso um cataclismo de grandes proporções para arrancá-la de seu imobilismo. Existe, sim, uma religião para tempos de paz, quando o sol nasce exatamente na hora marcada e a serenidade permite que os pombos passeiem pela praça da cidade. Entre sorrisos contidos e abraços canônicos, os rituais são cumpridos religiosamente, segundo os manuais. Os pecados são os de sempre, pecadinhos da burguesia neutralizada pelo bem-estar, e logo compensados pelas penitências tradicionais de algumas Ave-Marias debulhadas às pressas. Em tempos de paz, a contrição é rara, o pecador nem sabe o que ele é de fato... Entretanto, como diz Albert Camus, “a religião do tempo da peste não pode ser a religião de todos os dias”. E o romancista tem razão. Aliás, está é a
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Atualidade [ O paroquiano... C ar l o s Sche i d
O paroquiano está muito chateado. Não faz mal. Todo chato vive chateado! Sabe qual é o problema do paroquiano? Ele pensa que a Igreja se resume à sua própria paróquia: uma igrejinha de quintal. Assim, quando o pároco anuncia que está deixando a paróquia para ser missionário entre os índios da Amazônia, o doutor paroquiano experimenta um sentimento de perda. Podia ser de orgulho, não é? Ver que sua paróquia dava um salto para a missão. Poderia até oferecer-se para acompanhar o sacerdote como catequista, não é? Ou, para não pedir muito, o paroquiano poderia dar um cheque bem gordinho para ajudar nos gastos da viagem...
F/reprodução
O
paroquiano está chateado. O pároco falou 15 minutos a mais no sermão e ele não gostou. Claro, o paroquiano não percebeu que, nesse mesmo instante, 15 mil jovens, de diferentes nações e Igrejas, estão reunidos na Comunidade de Taizé, em magnífico coral, louvando as misericórdias de Deus. O paroquiano está chateado. O sistema de som estava ruim e deu microfonia. Claro, o paroquiano não se lembrou de que, naquele mesmo instante, as irmãzinhas de Madre Teresa saíam de casa, com um sorriso luminoso, em direção à favela onde vão cuidar do Corpo de Cristo, isto é, dos mendigos, leprosos e drogados. O paroquiano está chateado. O vigário ousou observar que o dízimo diminuiu e a conta de luz aumentou. Claro, o paroquiano não prestou atenção no noticiário de ontem, que registrou a ação pacificadora do Papa Francisco, ao estender pontes entre cubanos e norte-americanos.
O paroquiano, esse chato... Mas não dá. Ele é o centro do mundo. Ele trocou o Catecismo, o Missal e o Direito Canônico pelo próprio umbigo. E este ponto central é que dita o rumo da barca de Pedro. O paroquiano lembra, astronomicamente, os chamados “buracos negros” do Cosmo, que atraem toda matéria próxima. A Igreja deve existir para ele; não lhe ocorre existir para ela... Bem, não sejamos ásperos... Talvez o paroquiano nem tenha culpa. A paróquia lhe oferece os sacramentos, a missa dominical, catecismo para as crianças, quermesses e barraquinhas. E o bingo, claro! Mas o pobre paroquiano não ouviu o Querigma, o olutador [ maio ] 2016 • 27 ]
primeiro anúncio do Evangelho. Tenho mesmo a impressão de que ele tem uma visão bem nebulosa acerca de Jesus Cristo, ignora os próprios pecados, não sente necessidade de conversão e, contando apenas com seu esforço e suor, dispensa em definitivo a ação do Espírito Santo em sua vida. Se o paroquiano confunde ressurreição com reencarnação, se ele pensa que a Imaculada Conceição é a gravidez de Maria, se ele acredita que o Juízo Final está vindo com o Dr. Sergio Moro, é apenas parte de sua ignorância. Quase sempre, é a ignorância que chateia o chato...]
Crônica [ Maria
H
oje a nossa rua voltou a ter mão única. Gostei da iniciativa, porque o movimento ensurdecia as pessoas, tremia as casas e impedia velhotas de atravessá-la com segurança... Eu mesma, com mil problemas de vista, já ousei a tal travessia por algumas vezes e estou triunfante... Eu que já atravessei pontes, pinguelas, enxurradas largas e que venho atravessando a mais arriscada estrada –a vida – alegro-me por atravessar de novo a rua amiga, onde moro há quase meio século. * * * E pensar que, entre minha casa e a Biquinha, existia uma ponte de sol! E pensar que, entre minha casa e a Biquinha, existia uma ponte de luar! E pensar que, entre minha casa e a Biquinha, existia uma ponte de estrelas! Eu passei a infância pisando luas, sóis e estrelas e... nem sabia! Cada parada no caminho era um encantamento: a casinha da Sá Cesária – amarradinha de cipó – escondida entre moitas de bambus, barreada com terra branca... Eu sempre achava que aquela casinha era um cupinzeiro, ou uma casinha de joão-de-barro, tão pequena, tão bem feitinha ela era... Lá dentro, três filhotes do passarinho-arquiteto, com nome de gente - ela e os netos, Genuína e o Erso, que sabiam as histórias mais arrepiantes de lobisomem e mula-sem-cabeça... Sá Cesária tinha um caminhado dançante, por causa dos dois dedinhos do pé bem virados para fora: pareciam duas tartaruguinhas se ar-
Deus nos pegava no colo e nos carregava caminho a fora... Outra parada de poesia pura – a casa da Sá Laurinda – no centro de um jardim com flores de nomes antigos: perpétua, cravina, jurujuba, bonina, esponjinha, meu-bem-chega-hoje, aleluia... E uma, com nome de lamento e cor de Semana Santa – saudade... – Cuidado! Vão devagarzinho, um pé na frente, outro atrás... O buracão tá desbarrancano e lá no fundo tem muita água... Certamente, algum anjo nos carregava – chegávamos lá em baixo abraçadinhas de flores... com sapatinhos verdes de lodo que, hoje, tem nome sofisticado: musgo. Se eu juntar o sol, a lua, as estrelas, as f lores, a rapadura e as rezas mágicas, ainda não teria uma palavra linda para eu batizar a Biquinha... Nenhuma das palavras que me encantam serve para dizer Biquinha: F/reprodução
Biquinha
rastando pelo chão. Diziam que ela era filha de escravos... Minha cabeça-menina imaginava mil histórias para explicar o formato de seus pés miúdos: será que algum feitor havia quebrado seus dedinhos? Era nessa casinha de joão-de-barro que um bando alegre parava pra beber água do pote e ganhar um pedacinho de rapadura... – Tira a água só com o copo de folha, aquele cheio de bicos, pra mode não babujar a água do pote... Mas... Era com o copo – que parecia uma coroa de rei – que a gente bebia a água... Ela fingia não ver... Da janelinha torta, Sá Cesária ensinava: – Vão rezano pra São Bento – a Biquinha é lon-on-on-ge-e-e!!! São Bento nos pegava pela mão e a felicidade ia recitando à nossa frente, embolando as palavras: – “SãoBentoáguabentaJesusCristonoaltar / arredacobraarredabichodeixaofilhodeDeuspassar...
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aurora, esperança, caminhos, morada, estrela, passos, magia, futuro... Nenhum gesto, nenhum olhar, nenhum verso que meus lábios aprenderam servem para eu dizer Biquinha... De longinho já escutávamos o canto das lavadeiras: as mais antigas passavam versos e segredos e rezas e benzeções para as mais novas... A voz da África atravessou montes, pontes, povoados e veio fazer morada na Biquinha da Estrela. Ali, era um Reino Banzo: pelotas de sabão -preto, saias grandes e ramadas, rodilha na cabeça, pito-de-palha atrás da orelha, bata de preguinhas por baixo da blusa comum e mil segredos e mistérios. – “Se a Perpétua cheirasse, / Seria a rainha das flores / Mas como a Perpétua não cheira / Não é a rainha das flores.... A vida imitava a simplicidade da letra da musiquinha: lavar roupa na Biquinha era tão bonito como fazer uma prece... Era tão puro, como uma cantiga vinda de longe, quebrantada por uma melancolia nascida nas velas dos navios em águas turvas... De vez em quando, enquanto a roupa quarava no capim, sob uma orquestra de passarinhos, uma das moças iniciava uma dança: a saia dançava junto e outras iam se achegando, formando uma roda colorida. Os pés marcavam uma coreografia singela e as mãos eram lenços, eram leques, eram folhas de palmeira dançando na brisa suave da Biquinha... Se alguém aparecia com cobreiro, a Inhana do João Messias era requisitada pra benzer: ali mesmo, pegava três talos de mamona e, com voz mole, olhos fechados, ela rezava, rezava, rezava... E meu coração aprendeu: “Não sou eu quem corto este cobreiro / é a Nossa Senhora do Desterro que tira este mal daqui. / Eu corto este cobreiro
em nome de Deus e a Virgem Maria. / Sapateiro, lagartixeiro e barateiro, / – O que corta?/ – Cobreiro bravo!/ – Corta na cabeça, no meio e o rabo...” Então, ela abria os olhos, aliviada e jogava os três talos verdes no fogo da fornalha que fervia a roupa... Como posso esquecer-me dos gritinhos dos talos verdes pulando no fogo, como? Meu Deus, meu coração ainda reza com a Merença, a benzeção mais milagreira pra curar queimadura... Esteva, menina magrinha – que tinha a voz mais bonita que já vi – caiu no braseiro... A ferida era tão grande, que a Merença tanto rezou, que a queimadura sarou, a cicatriz ficou e meu coração-menino guardou: – “Santa Porvilha / três filhas tinha, / uma fiava / a outra cozia /e a outra no fogo ardia / Com esta água de São João / que nesta queimadura eu jogarei / Não sou eu quem curo / é Deus e a Virgem Maria...” Quantas vezes almocei da comidinha das lavadeiras da Biquinha! O almoço era o mesmo da minha casa, que a gente levava, com dois pratos amarrados por um pano branquinho e uma colher que – mamãe não podia saber – servia para todo mundo comer junto, trocando “misturas”, torresmos e feijão-bebido... À tardinha, roupa enxombrada, sol querendo desmaiar lá no horizonte azul, as lavadeiras faziam o caminho de volta, com a trouxa de roupa limpa e cheirosa na cabeça, parecendo uma formiga-cabeçuda, uma formiga-lavadeira... Pois é... E pensar que, entre minha casa e a Biquinha, havia um caminho de luar... Um caminho de sol... Um caminho de estrelas... Que eu pisava com sapatinhos verdes de musgo... Sem saber que estava pisando no coração da poesia...] olutador [ maio ] 2016 • 29 ]
Livro indicado [ Uma bela Obra, as crônicas de 'Maria', publicadas em olutador ]
mar i a
O livro de crônicas de MARIA [Maria das Dores Caetano Guimarães]. Em cada página, a arte da cronista que extrai do cotidiano o lampejo de uma descoberta. Em cada crônica, o passado recuperado com o olhar da infância. Em um só volume, as páginas saborosas publicadas em O Lutador. FORMATO: 15,5x22,5cm, 320p.
R$ 30,00 + Porte
Pedidos
0800-940-2377 olutador.org.br
Páginas que não passam [ Resposta...
Quando o céu não responde... Él o i Lecle r c *
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ção ao que se passava. Os gritos não o atingiam. Compreendi, então, que se pode ser ateu por deferência a Deus. Pela honra de Deus. A f im de não o tornar cúmplice, por seu silên-
Eu tinha apenas pouco mais de vinte anos quando fui mergulhado no universo dos campos de concentração nazistas. Uma verdadeira descida aos infernos, no meio de milhares de seres humanos confinados, batidos, massacrados como gado. Toda a crueldade do homem, mas também seu sofrimento, seu abandono, seu esmagamento me envolviam subitamente e me submergiam como enorme vaga noturna. Neste cara a cara com o horror, experimentei até a angústia o silêncio de Deus, a ausência de Deus. Podiase erguer os olhos ao céu. O céu não respondia; parecia não prestar aten-
cio, dos crimes que eram perpetrados. Desde então, graves interrogações não cessaram de me atormentar e me assombrar. Logo tomei consciência de que aquilo que eu tinha descoberto nos campos da morte era vivido também em outra parte: em todo lugar onde o homem é oprimido, esmagado. Em toda parte onde ele morre sozinho, abandonado. Esta experiência-choque foi para mim o ponto de partida de um caminho muito longo. Eu já não podia satisfazer-me com a fé recebida. Precisava de outra coisa. O universo abrigado de minha infância e do seminário tinha
F/reprodução
riado em uma família piedosa, recebi uma educação toda impregnada de fé. Ao sair, porém, de uma juventude feliz e protegida, esperava por mim uma experiência terrível.
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explodido. Agora, era a errância pelo deserto. E a mesma pergunta voltava se cessar, incontornável: “O Evangelho ainda tem um sentido na noite da morte onde Deus se cala?” Eu quis, então, saber quem era o Cristo, qual era a sua mensagem, mas de forma diferente de uma lição aprendida, por mais sábia que ela fosse. Reli os evangelhos ao luar sinistro dos fornos crematórios. Procurei encontrar uma presença, uma face. Se o Evangelho não fosse mais que uma mensagem de amor, vinda de outro mundo, de um mundo estrangeiro à tragédia do homem, à experiência da ausência de Deus, ele talvez fosse uma bela utopia, mas nada mais. Ora, relendo os evangelhos, fiquei impressionado pelo fato de que o homem que anuncia ao mundo a ternura do Pai pela terra é também aquele que conheceu a experiência mais crucificante do abandono e da ausência de Deus. E ele a viveu indo até o fim de sua missão. Seu testemunho o conduziu até onde tudo gritava a ausência de Deus. E, por seu próprio abandono na cruz, ele tornou presente o absoluto de Deus em nossos infernos humanos. A revelação de Deus não se faz “de fora”, mas no próprio coração da condição humana mais abandonada (cf. Fl 2,6-8). O lugar do abandono e da ausência tornou-se a Sarça ardente.] (Do livro “Le Royaume Caché”, Ed. Desclée, Paris, 1987. Tradução de A. C. Santini.) *Nasceu em Landernau, França, em 1921, de uma família de 11 irmãos. Descobriu Francisco de Assis aos 12 anos e entraria para o noviciado franciscano em 1939. Cinco anos depois, com a invasão da França pelas tropas nazistas, foi deportado para o campo de Buchenwald. Finda a guerra, ensinou filosofia (1951-1983) e iniciou uma série de publicações de conteúdo bíblico e espiritual. Entre seus livros, todos editados por Desclée de Brouwer, destacam-se: “Sagesse d’un pauvre” (1959), “Le Cantique des Créatures” (1970). Depois de se recolher por muitos anos no eremitério de Bellefontaine, LECLERC voltou a publicar vários livros, como “Le Royaume caché” (1987), “Dieu plus grand” (1990) e “Le Maître du désir” (1998).
Roteiros Pastorais Leitura Orante 32 • Tudo em Família 33 Dinâmica para Grupo de Jovens 33 • Catequese 34 O Lutador Kids 36 • Homilética 37 olutador [ maio ] 2016 • 31 ]
Leitura Orante [ o Amor...
“Ficaram repletos do Espírito Santo...”
A. Situando o texto O medo ainda tomava conta dos discípulos. Estavam reunidos, mas as portas permaneciam fechadas. O medo impedia o anúncio da Boa Nova da ressurreição. Os discípulos já se haviam encontrado com o Ressuscitado, mas ainda faltava coragem para enfrentar os desafios do mundo. De repente tudo muda. O medo é vencido e a Boa Nova começa a ser espalhada com firmeza e coragem. Vamos, com muita fé, acolher o que o Senhor nos quer falar. B. O que o texto diz em si Ler na Bíblia: Atos 2,1-11. Chave de Leitura: Em que sinais pode ser sentida a presença do Espírito? Com a vinda do Espírito Santo, o que muda na atitude dos discípulos? O que é de admirar no anúncio feito pelos discípulos?
O que este texto tem a dizer para nós, hoje? C. O que o texto diz para nós O Espírito Santo vem para encher de coragem os discípulos e iluminar suas mentes. Se, na Criação, o Sopro divino torna o homem um ser vivente, aqui o Sopro divino, o Espírito Santo, devolve o ânimo, a força e a coragem para aqueles e aquelas que, temendo a perseguição, ainda se encontravam escondidos, fechados em suas próprias casas. O Espírito vem confirmar as palavras de Jesus: “Não tenham medo! Eu estarei com vocês até o fim dos tempos”. (Mt 28,20.) Cantando: Enviai o vosso Espírito, Senhor, (bis) / e da terra toda a face renovai! (bis)
E o fogo, que tudo aquece e ilumina, vem pousar sobre cada um deles para iluminar as mentes e aquecer o coração, como acontecera no caminho de Emaús (cf. Lc 24,32). Agora, o que os discípulos tinham visto, ouvido e convivido junto a Jesus, ganha um sentido ainda mais profundo. Isto faz que tenham novo ânimo, um novo ardor para a missão. O medo é vencido e a coragem de Jesus agora é partilha-
da por cada um de seus seguidores. É hora de abrir as portas e de anunciar a Boa Nova para todos. A vida venceu a morte e quem está com Jesus será sempre vencedor. Com a vinda do Espírito Santo, todos escutam a Boa Nova em sua língua de origem. O Evangelho é destinado a todos e a Igreja deve atingir todos os povos e nações. Cantando: Ide, pelo mundo (bis) / e anunciai, / e anunciai a Boa Nova a toda criatura. D. O que o texto nos faz dizer a Deus? a) Senhor, na festa de Pentecostes, todos entendem o anúncio da Boa Nova, ajudai-nos a vencer os desentendimentos existentes entre nossos grupos, pastorais e movimentos, rezemos: – Enviai sobre nós o vosso Espírito Santo! b) Senhor, ajudai-nos a vencer nossos medos e a nos tornarmos verdadeiros anunciadores da Boa Nova de Jesus, rezemos: c) Senhor, que a festa de Pentecostes seja a grande festa da unidade na Igreja, rezemos: E. O que o texto nos sugere para nossos dias? Cada um de nós os ouve em sua própria língua materna. Em Pentecostes houve confusão das línguas ou todos entendiam o que os discípulos anunciavam? O que isso tem a dizer para nós hoje? F. Tarefa Concreta Procurar vencer as diferenças entre grupos, pastorais e movimentos. O Espírito de Deus nos conduz para a unidade e para a paz.
F/reprodução
Busca da intimidade com Deus O Espírito sopra onde quer, não se deixa aprisionar. É preciso silenciar para descobrir sua presença em nosso meio e dentro de nós, bem como nas pessoas, na natureza e nos acontecimentos. Confie-se a Deus, invocando o Espírito Santo com um canto suave ou com sua oração.
[ 32 • olutador [ maio ] 2016
Encerramento Recolher-se no silêncio, procurando perceber a presença do Espírito Santo em sua vida, na vida de sua família e de sua comunidade. Pai-Nosso e pedido de bênção a Deus.]
Tudo em Família [ 29 – Filhos...
Criança mimada... 1. Coisas que acontecem Silvinho era filho único. O pai tinha um bom emprego público e negociava nas horas vagas. Acumulou fortuna, era dono de vários edifícios, dois deles alugados para agências bancárias. Mimado desde o início, a mãe fazia todas as vontades de Silvinho, que fugia da escola e não perdia as matinês do cinema do bairro. Terminou com dificuldade o antigo ginásio e não enfrentou o 2º grau. Aos 18 anos, o pai adquiriu para Silvinho um “foto 5 minutos”, situado no centro da cidade, suficiente para se manter com folga. Em pouco tempo, Silvinho trocou o foto por um carro usado. A seguir, trocou o carro por uma lambreta e, logo depois, trocou a lambreta por um telescópio. Silvinho nunca assumiu um trabalho sério. Casou-se com uma boa moça, professora dedicada, mas logo veio a separação.
2. Pensando juntos “O filho único corre sempre o risco de ser ao mesmo tempo mimado e asfixiado. Mimado, porque os pais, tendo-o só a ele, curvam-se perante os seus caprichos, e tudo o que fazem é só para ele; asfixiado, porque vive de maneira demasiado exclusi-
va com os pais, os quais, desejando tê-lo consigo e podendo levá-lo a quase toda parte sem se incomodarem, fazem dele o seu companheiro.” (Jacques Leclercq, “O Matrimônio Cristão.) É um engano crer que os bons pais são aqueles que proporcionam aos filhos tudo o que eles podem desejar. 3. Para uma reunião de casais – Você teve a experiência de cuidar de um filho único? Como você a descreveria? – Conhece algum caso semelhante em sua família ou entre casais amigos? – Que teria feito se um filho começasse a ter o comportamento de Silvinho? – Você percebe os aspectos positivos de ter uma família numerosa? Quais são eles? – Você sabe dizer aos filhos o “não” necessário a cada ocasião? – Você e seu cônjuge costumam discordar sobre a maneira de tratar os filhos? Em que pontos há discordância?]
Abre o olho! — Dinâmicas para Grupo de Jovens [ 27 Participantes: 2 pessoas.
Descrição
iniciam uma briga de cegos, para ver quem acerta mais o outro no escuro. O restante do grupo apenas assiste. Assim que se inicia a “briga”, o coordenador, sem dizer nada, desamarra a venda dos olhos de um dos voluntários e deixa a briga continuar. Depois de tempo suficiente para que os resultados das duas situações sejam bem observados, o coordenador retira a venda do outro voluntário e encerra a experiência.
Dois voluntários devem ter os rostos cobertos e receber um porrete. Depois
Conclusão
Tempo estimado: 20 minutos. Material: Dois panos para fechar os
olhos e dois porretes feitos com jornais enrolados em forma de cassetete. Observação: Possíveis leituras do Evan-
F/reprodução
gelho: Mc 10,46-52 ou Lc 24,13-34.
Abre-se um debate sobre o que se presenciou no contexto da sociedade atual, onde forças desiguais se enfrentam. A reação dos participantes pode ser muito variada. A chave é tentar perceber no grupo como nós nos envolvemos diante das injustiças sociais. Por isso, é conveniente refletir algumas postu-
olutador [ maio ] 2016 • 33 ]
ras como: indiferença X indignação; aplaudir o agressor X posicionar-se para defender o indefeso; lavar as mãos X envolver-se e solidarizar-se com o oprimido etc. Alguns questionamentos podem ajudar. Primeiro, perguntar aos voluntários como se sentiram e por quê. Depois, dar a palavra aos demais participantes. Qual foi a postura do grupo? Para quem torceram? O que isso tem a ver com nossa realidade? Quais as cegueiras que enfrentamos hoje? O que significa ter os olhos vendados? Quem estabelece as regras do jogo da vida social, política e econômica hoje? Como podemos contribuir para tirar as vendas dos olhos daqueles que não enxergam?] Fonte: Pastoral da Juventude
FOTOS/reprodução
Catequese / Roteiros [ 3 encontros seguindo 1.
Continuadores
da missão de Jesus (Ascensão do Senhor)
Objetivo: Assumir o compromisso de partilhar o amor e a paz de Jesus em nossas vidas. Material: Bíblia, lenço para vendar os olhos, campainha ou latinha com pedrinhas, gravuras: pessoas se ajudando. 1 – Ver (a realidade) Dinâmica: Crianças de mãos dadas formam um circulo. “Jacó” com olhos fechados e “Raquel” com uma campainha ou latinha com pedrinhas no meio da roda. “Jacó” tenta pegar “Raquel”, que constantemente toca a campainha ou latinha. Quando “Raquel” for apanhada, os dois escolherão os substitutos. Experiência de Vida Mostrar gravuras de pessoas unidas, celebrando ou ajudando-se. Falar da importância de viver unidos em torno de Jesus e a sua mensagem. Buscar exemplos vivos na comunidade. Como ela se organiza e se ajuda (mostrar gravuras). 2 – Iluminar (Ensinamentos de Jesus) Canto: para aclamar a Palavra Leitura: Lucas 24,46-53. Vamos ler um fato contado por São Lucas, que aconteceu após a ressurreição de Jesus. O catequista lê com voz alta. Depois cada catequizando lê um versículo.
c) Quem continuou a missão de Jesus? d) E hoje, quem continua essa missão? e) O que é ser testemunha de Jesus? Para refletir Ascensão é a volta de Jesus para junto do Pai. Jesus se encarnou, foi dando sua vida dia a dia até a morte. Ensinou, transfigurou-se na Ressurreição e subiu ao Pai. É a caminhada libertadora de Jesus. Ele quer que sejamos seus continuadores vivos, dinâmicos, e não de braços cruzados. Jesus volta ao Pai, mas continua conosco, dando-nos a força do seu Espírito. Nós somos a Igreja de Jesus. Ele está conosco e nos dá força através dos sacramentos (lembrar do Batismo e da Eucaristia). As primeiras comunidades liam a Bíblia a partir da Ressurreição. Jesus é o centro de toda a Bíblia. A ressurreição é o fato mais importante da vida de Jesus: é a certeza plena da inauguração de seu projeto. É o projeto de vida para todos. Jesus viveu o projeto e nos deu a missão de continuar os seus gestos libertadores. Guardar no coração: “Jesus está conosco!” 3 – Celebrar Oração: Em silêncio, escrever uma oração agradecendo pela vida de Jesus na nossa comunidade. No fim, cada um reza a oração que escreveu. 4 – Agir (a realidade nos convoca para...) Compromisso: Escrever e enfeitar a frase: “Creio em Jesus Cristo, o Filho de Deus e nosso Salvador!” (Colocar essa frase no quarto da sua casa).
Participar da missa ou culto dominical. Perguntar: a) O que quer dizer “Ascensão de Jesus”? b) Quem é o centro de toda a Bíblia? Por quê?
Final: Rezar o Pai-Nosso e a Ave-Maria. Terminar o encontro com um cântico alegre.]
[ 34 • olutador [ maio ] 2016
2. O Espírito Santo renova o mundo. (Pentecostes)
Objetivo: Compreender a presença do Espírito Santo em nossa vida cristã. Material: Bíblia, dominó com nomes dos participantes num lado e as qualidades no outro. 1 – Ver (a realidade) Dinâmica: Distribuir um cartão para cada participante. Sorteia-se quem vai começar. Em torno da mesa, cada um vai completando: Ex.: foi sorteado o cartão Bondade / Márcia; o participante com esse cartão coloca-o na mesa. Quem tem o cartão com o mesmo nome ou a mesma qualidade, continuará: Paula / Bondade, Bondade / Márcia, Márcia / Justiça, Justiça / Júlio etc. Quando terminar a rodada, comentar: Quais as qualidades que apareceram na brincadeira? Quais destas qualidades mais aparecem na nossa comunidade? Experiência de Vida O (a) Catequista pergunta: “Quem faz o quê lá em sua casa”? (Ex: cozinhar, lavar roupa, fazer compras, lavar louça etc.). Se, um dia, aquele que faz, resolver não fazer mais, o que acontece? (deixar que as crianças falem). E na escola, quem faz o quê? Se, um dia, a pessoa resolve não fazer mais, o que acontece? (Deixar que as crianças falem). O mesmo em relação a: na comunidade, na loja, na Igreja, quem faz o quê? 2 – Iluminar (Ensinamentos de Jesus) Canto de aclamação Leitura: João 20,19-23. Vamos, com calma e atenção, ouvir o que o Senhor quer nos falar. Perguntar: a) Por que os discípulos estavam numa casa com as portas trancadas?
os
do
os Evangelhos dos domingos 8, 15 e 22 de maio ] b) Qual foi a saudação de Jesus aos discípulos? c) O que Jesus fala ao soprar sobre eles? Para refletir Jesus trouxe a paz aos discípulos que viviam medrosos. Jesus soprou sobre eles. O sopro simboliza o Espírito Santo que Jesus envia. Eles recebem o poder de perdoar os pecados. Só pode haver união na comunidade onde há perdão. O Espírito Santo forma a comunidade para viverem e anunciarem a Boa Nova. Os discípulos recebem o Espírito Santo, não para si mesmos, mas para o serviço aos irmãos. A Igreja não existe em função de si mesma. Ela é Dom do Espírito Santo ao mundo todo. Jesus dá a paz e também o meio de conservar esta paz: o poder de perdoar os pecados. Quando não estamos em paz, nos sentimos mal e até adoecemos. A paz verdadeira é fruto do perdão que Jesus quer nos dar através da Igreja, pelo sacramento da Reconciliação. Guardar no coração: “Recebam o Espírito Santo!” 3 – Celebrar Oração: a) Cantar: Vem, Espírito Santo, vem, / vem iluminar! (bis) A nossa Igreja vem, iluminar. / A nossa vida vem... b) Rezar: Um coração missionário – Dai-me, Senhor, um coração missionário, que saiba sentir a realidade e ajudar os que sofrem. – Dai-me, Senhor, um coração missionário que ame todas as crianças do mundo e lute pela vida digna das abandonadas. – Dai-me, Senhor, um coração missionário, que tenha coragem de seguir o chamado para anunciar a Palavra de Jesus. Rezar o Pai-Nosso e a Ave-Maria. 4 – Agir Compromisso Conversar com os pais sobre o seu Batismo. Quando foi? Quem celebrou? Quem são seus padrinhos? Final: Terminar com um cântico apropriado.]
3. A família do Pai, Filho e Espírito Santo (Santíssima Trindade) Objetivo: Compreender que a Santíssima Trindade mora em nós. Material: Bíblia, bacia com água, flor, pão e gravura da Santíssima Trindade. 1 – Ver (a realidade) Dinâmica: Recortar uma flor que contenha várias pétalas. Escrever no miolo da flor: “Creio no Deus-Amor: Pai, Filho e Espírito Santo”. Dobrar bem as pétalas da flor voltadas para o centro, cobrindo o miolo. (Fazer isso na preparação do encontro.) No dia do encontro, colocar a flor fechada sobre a água na bacia e pedir aos catequizandos que observem o que acontece. (As pétalas vão-se abrindo lentamente e os participantes leem a frase escrita no miolo.) Experiência de Vida Refletir com os participantes: Quem é o Deus-Amor? Em que oração invocamos Pai, Filho e Espírito Santo? Quando rezamos esta oração? (na família, na escola, na Igreja e nas refeições.) 2 – Iluminar (Ensinamentos de Jesus) Canto de aclamação Leitura: João 16,12-15. Deixar ler em silêncio. Depois o catequista lê com voz clara e muita animação.
isto é, as três pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo. Esta é a família que vive o amor de modo mais perfeito. (mostrar a gravura da Santíssima Trindade). O Pai enviou ao mundo o seu Filho Jesus para ensinar o jeito de viver este amor. Tudo o que pertence ao Pai é também do Filho, e o que é do Pai e do Filho, é também do Espírito Santo. Quando Jesus veio, comunicou tudo o que ouviu do Pai. Com seus gestos e suas palavras, Jesus revelou a todas as pessoas o segredo da Família da Santíssima Trindade: viver o amor. Este é o projeto de Deus. O Espírito Santo é o Espírito de Jesus, que anima a comunidade e conduz os cristãos no caminho da verdade completa. Imitamos Deus Trindade vivendo em comunidade, que partilha, reza e batalha por um mundo novo. A comunidade nos anima e nos renova. Guardar no coração: “O Espírito da verdade vos conduzirá”. 3 – Celebrar Oração: (Preparar um pão para ser partilhado por todos). – Fazer bem devagar o Sinal da Cruz, destacando as palavras da Trindade. – Silenciar e sentir a presença de Deus Pai, Filho e Espírito Santo em nós. – Vamos agradecer à Santíssima Trindade, presente em nós, rezando: Glória ao Pai... – Na família de Deus sempre existe o amor, a partilha, a união. Pelo Batismo, fazemos parte da família de Deus. Vamos formar uma corrente de partilha com esse pão: partir, servir-se e passar para o outro. (Pegar o pão e explicar)
Perguntar: a) Com quem Jesus estava falando? b) Por que Jesus falou tudo para os discípulos? c) Quem os fará compreender toda a verdade ensinada por Jesus?
4 – Agir (a realidade nos convoca para...) Compromisso Procurar fazer sempre o Sinal da Cruz bem feito e pensando nas palavras que rezamos: “Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”.
Para refletir Pai, Filho e Espírito Santo formam a Santíssima Trindade. É a família de Deus,
Final Encerrar o encontro com um cântico animado e o abraço da paz.]
olutador [ maio ] 2016 • 35 ]
O Lutador [ Parábolas de Jesus...
Todo mês, Luciane nos ajudará a conhecer as parábolas de Jesus de um jeito bonito e alegre. Aproveite!
Um espaço descontraído e alegre que leva os pequenos ao despertar da fé e ao encantamento com Jesus
[ 36 • olutador [ maio ] 2016
Homilética [ 15•05•2016
“Recebei o Espírito Santo.” [Jo 20,22]
Leituras da semana
Leituras: At 2,1-11; Sl 103[104]; 1Cor 12,3b-7.12-13; Jo 20,19-23 1. A Nova Aliança no Espírito. Como a “Páscoa” recordava a libertação da opressão egípcia e a “passagem” do povo de Deus para uma nova terra, também “Pentecostes” relembrava o dia em que Moisés, no Sinai, recebera a Lei, 50 dias depois da Páscoa. O Pentecostes cristão também acontece 50 dias depois da Páscoa de Jesus. É o nascimento da Igreja. Descrevendo o Pentecostes cristão, Lucas mostra que o Evangelho, graças à força do Espírito Santo, chegou a todos os povos, alcançou todas as línguas. Quando ele escreve, o Evangelho já se tinha realmente espalhado por todo o mundo. Para indicar a universalidade desse anúncio, Lucas usa a expressão “todas as nações do mundo” (v. 5) e enumera 12 povos (vv. 9-11): o número 12 simboliza totalidade. Ex 19 apresenta a aliança do Sinai e a entrega da Lei acompanhada de fenômenos da natureza. São Lucas descreve o Pentecostes cristão do mesmo jeito (vv. 2 e 3). Ele quer mostrar que, com o Pentecostes cristão, está acontecendo uma Nova Aliança, está surgindo o Novo Povo de Deus, regido não por uma nova Lei, mas pelo próprio Espírito de Deus. Gn 11 descreve o episódio da torre de Babel, quando Deus confunde as línguas para mostrar que a ambição e o orgulho prejudicam a comunicação e a comunhão. Lá, todos falavam a mesma língua e ninguém se entendia; aqui, todas as línguas diferentes conseguem se entender (v. 11). Lá a linguagem do orgulho e da ambição, aqui a linguagem do amor. Com a linguagem do amor a Igreja é capaz de falar a todos os povos da terra.
2. Unidade e comunhão. A comunidade de Corinto, rica em dons espirituais chamados carismas, experimentou também divisões internas, vaidades, ambições, orgulho, exclusões. São Paulo exorta seus fiéis à unidade e comunhão de vida. Podemos dizer que ele dá aqui dois exemplos:
O exemplo da Trindade: existem dons diferentes, mas o Espírito é o mesmo; existem serviços diferentes, mas o Senhor é o mesmo; existem diferentes modos de agir, mas Deus é o mesmo. Temos aqui uma formação trinitária. Pai, Filho e Espírito Santo vivem profunda unidade, na comunhão de três pessoas
F/reprodução
Domingo de Pentecostes
[ dia 16: Tg 3,13-18; Sl 18B[19B],8-10.15; Mc 9,14-29 [ dia 17: Tg 4,1-10; Sl 54[55],7-11a.23; Mc 9,30-37 [ dia 18: Tg 4,13-17; Sl 48[49],2-3.6-7.8-10.11; Mc 9,38-40 [ dia 19: Tg 5,1-6; Sl 48[49],14-20; Mc 9,41-50 [ dia 20: Tg 5,9-12; Sl 102[103],1-4.8-9.11-12; Mc 10,1-12 [ dia 21: Tg 5,13-20; Sl 140[141],1-3.8; Mc 10,13-16
e um só Deus. Nenhuma divisão. Absoluta harmonia. Perfeita comunicação. Infinito amor. Assim deve ser a comunidade cristã. Os dons do Espírito se destinam não à vaidade pessoal, mas ao bem da comunidade, para utilidade de todos, para a edificação do Corpo de Cristo. O exemplo de Cristo: como um corpo tem muitos membros e não perde sua unidade e harmonia, assim também o corpo social da Igreja, que forma o corpo de Cristo. Se não há divisões na vida trinitária, também não pode haver divisões na vida da Igreja – Corpo de Cristo. Fomos batizados num só Espírito para sermos um só corpo. Todos os poolutador [ maio ] 2016 • 37 ]
vos, através do batismo, se tornam irmãos, formam unidade, ficam fazendo parte de um só corpo, a Igreja, que é o Corpo de Cristo. E todos bebem de um só Espírito. Tem sentido na comunidade cristã o espírito de divisão, de violência, de ambição, de exclusão? 3. Enviados em missão. São João fala do Pentecostes – vinda do Espírito Santo – não 50 dias depois da Páscoa, como Lucas, mas no próprio dia da ressurreição de Jesus, na tarde do Domingo da Páscoa. Os discípulos tinham-se fechado numa sala, com medo das autoridades judaicas, que, ligadas a uma sociedade injusta e opressora, haviam matado Jesus. Jesus ressuscitado entra na sala, pois não há barreiras após a ressurreição. Jesus é o mesmo – “mostrou-lhes as mãos e o lado” –, mas o seu corpo é espiritualizado. Jesus deseja a paz messiânica para seus discípulos, transformando o medo deles em alegria. Jesus repete a saudação de paz e envia seus discípulos em missão. O Pai enviou o Filho, assim também o Filho envia seus discípulos. Através dos discípulos Jesus continua o projeto do Pai. Quem vai garantir a missão dos discípulos? O mesmo Espírito que garantiu a missão do Filho. Por isso Jesus sopra sobre os discípulos dizendo: “recebam o Espírito Santo”. É o sopro de Deus. Acontece aqui uma nova Criação mais perfeita que a primeira acontecida no paraíso (cf. Gn 2,7). Com este sopro de vida nova surge a comunidade messiânica, guiada não através da Lei, mas através do próprio Espírito de Deus. Os discípulos estão agora capacitados para serem missionários, para formarem a nova comunidade messiânica.]
Homilética [ 22•05•2016
“Tudo o que o Pai tem, é meu.” [Jo 16,15]
Leituras: Pr 8,22-31; Sl 8; Rm 5,1-5; Jo 16,12-15 1. A Sabedoria eterna. Temos aqui uma personificação literária da sabedoria. O Livro dos Provérbios, do capítulo 10º ao 29, reúne coleções de sentenças anteriores ao exílio Babilônico (séc. VI a.C.). Resultado das experiências dos antepassados, foram escritas como orientação para a geração presente no pós-exílio, quando o povo vivia sem a orientação de um rei. Quem deveria orientá-los agora? O bom senso, o senso da vida fruto da experiência do povo em ligação íntima com Deus. É essa Sabedoria que iria orientar o povo. No nosso trecho, a Sabedoria está intimamente ligada a Deus e à Criação. Sua importância está em ser o primeiro fruto da obra de Deus, estabelecida desde a eternidade, antes que a terra começasse a existir (vv. 22-26). Outro papel importante da Sabedoria é ser o mestre de obras, ou arquiteto na criação de todas as coisas. Ela colaborava com Deus, quando Deus fixava o céu, condensava as nuvens, fixava as fontes do oceano, punha limites para o mar e quando assentava os fundamentos da terra (vv. 27-29). Os Padres da Igreja serviam-se deste texto para elaborar a teologia sobre o Verbo de Deus e sobre o Espírito Santo. Paulo chama Jesus de poder de Deus e sabedoria de Deus (1Cor 1,24). Para João, Jesus é a sabedoria de Deus que se fez carne (cf. Jo 1,1ss.14; Ap 3,14) para conduzir os homens à plenitude de vida ( Jo 10,10; 20,31). 2. O Amor derramado. Nossa salvação vem pela fé em Jesus Cristo. A garantia de nossa salvação está no amor de Deus e no dom do espírito (v. 5), ou seja, na obra da Trindade Santíssima.
[ dia 23: 1Pd 1,3-9; Sl 110[111],1-2.5-6.9.10c; Mc 10,17-27 [ dia 24: 1Pd 1,10-16; Sl 97[98],1-4; Mc 10,28-31 [ dia 25: 1Pd 1,18-25; Sl 147[147B],12-15.19-20; Mc 10,32-45 [ dia 26: Gn 14,18-20; Sl 109[110],1-4; 1Cor 11,23-26; Lc 9,11b-17 [ dia 27: 1Pd 4,7-13; Sl 95[96],10-13; Mc 11,11-26 [ dia 28: Jd 17.20b-25; Sl 62[63],2-6; Mc 11,27-33 São frutos da fé naquele que foi justificado pela fé em Cristo: – a paz com Deus, ou seja, a vida vivida segundo a vontade de Deus; – o acesso à graça de Deus, quer dizer, o benefício da amizade de Deus; agora, podemos nos aproximar dele; – a esperança da glória de Deus. Nosso desespero de uma vida condenada se transformou na esperança de um dia viver a salvação definitiva com Deus. As consequências de uma fé comprometida são as tribulações. Essa palavra se refere às repressões sofridas pelo povo diante de um sistema injusto e anticristão. Mas essas tribulações, próprias
F/reprodução
Solenidade da Santíssima Trindade
Leituras da semana
de quem quer seguir os passos de Jesus, não levam ao desânimo, mas à perseverança, à fidelidade e à esperança. E essa esperança não engana. Por quê? Porque através do dom do Espírito Santo o amor de Deus foi derramado em nossos corações (v. 5). O importante para nós é a certeza da caminhada. A dúvida perturba, desorienta e mata, mas a certeza abre caminhos e gera vida. Antes, no pecado, vivíamos sem chance de vida e salvação. Agora, através da fé na salvação trazida por Jesus caminhamos seguros enfrentando com amor e garra todo tipo de problema numa esperança firme, pois a Trindade caminha conosco. [ 38 • olutador [ maio ] 2016
3. O Espírito que ensina. Nos discursos de despedida, Jesus vai completando os ensinamentos aos seus discípulos. Ele ensina tudo o que ouviu do Pai (cf. 15,15), mas muita coisa os discípulos não conseguem captar em todo o seu alcance (v. 12). Assim, Jesus encarrega o Espírito Santo de interpretar o alcance de seus ensinamentos ao longo da história. A função do Espírito é, portanto, conduzir os discípulos à verdade completa e ao sentido profundo dos acontecimentos futuros (v. 13). No v. 14, o Espírito Santo é chamado de “Espírito da Verdade”, pois o Pai e o Filho são uma só coisa (17,11; cf. 10,30). O termo “verdade” em João está associado à Aliança de amor que o Pai fez com seu povo, aliança que se torna perfeita e definitiva através da revelação total do Pai através do Filho que dá sua vida por amor. O Espírito da verdade é o intérprete das palavras de Jesus e a garantia para os discípulos da fidelidade de sua Igreja ao projeto do Pai revelado no Filho. Quando o Espírito ajuda os cristãos a iluminar as trevas do erro, transformando-as em caminho de luz; quando o Espírito encoraja os cristãos a testemunhar a verdade através da Palavra, do testemunho e até mesmo do martírio; quando ele elimina divisões e provoca a comunhão, está manifestando a glória do Filho, na qual também o Pai é glorificado. Há uma comunhão profunda entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Um não age independente do outro. O Espírito, por sua vez, recebe aquilo que também pertence ao Filho e não fala em seu próprio nome, mas em nome do Pai e do Filho. Aqui a comunhão é total. Nós, Igreja, somos o Corpo de Cristo e cada cristão é templo do Espírito Santo. O que dizer das divisões entre nós?]
Homilética [ 29•05•2016
“Eu não sou digno de que entres em minha casa.” [Lc 7,6c]
Leituras: 1Rs 8,41-43; Sl 116[117]; Gl 1,1-2.6-10; Lc 7,1-10 1. A casa de Deus. Salomão construiu o primeiro Templo de Jerusalém. Sua oração é muito linda por ocasião da sua inauguração (cf. 1Rs 8,14-53). Ele relembra a promessa que Deus fizera de construir uma casa para Davi (2Sm 7), quando este queria construir uma casa para Deus (o Templo). A casa que Deus promete para Davi tem o sentido de “dinastia”, ou seja, a casa (dinastia) de Davi continuaria no trono. O Templo representa a presença de Deus no meio de seu povo; Salomão se alegra com isto e louva a Deus, enaltece seu nome entre as nações e pede para que Deus mantenha a promessa feita a seu pai Davi. Além disso, pede a Deus que, com sua presença, ele estenda sua misericórdia a todo israelita que invocar a Deus no Tempo, quando estiver em pecado. O texto de hoje praticamente estende este pedido a todo estrangeiro que, ouvindo falar da grandeza e do poder do Deus de Israel, vier ao Templo para rezar. Ele pede que Deus escute o pedido do estrangeiro para que todos os povos da terra possam conhecer o nome do Deus de Israel e o temam. Este texto se transformou em profecia que se realiza plenamente no novo Templo de Deus, que é Jesus, cuja vida foi entregue para a salvação de todos os povos. 2. A fé que liberta. Nas Comunidades da Galácia, alguns judaizantes (judeus cristãos vindos do judaísmo, mas ainda apegados à Lei) pregavam a necessidade da circuncisão (prescrição judaica) para a
[ dia 30: 2Pd 1,2-7; Sl 90[91],1-2.14-16; Mc 12,1-12
[ dia 31: Sf 3,14-18; (Sl) Is 12,2-3.4bcd-6; Lc 1,39-56 [ dia 1º: 2Tm 1,1-3.6-12; Sl 122[123],1-2; Mc 12,18-27 [ dia 2: 2Tm 2,8-15; Sl 24[25],4-5ab.8-10.14; Mc 12,28b-34 [ dia 3: Ez 34,11-16; Sl 22[23],1-6; Rm 5,5b-11; Lc 15,3-7 [ dia 4: Is 61,9-11; (Sl)1Sm 2,1.4-7.8abcd; Lc 2,41-51
salvação. Para se salvar, o cristão precisaria passar pelos ritos judaicos e pela estrita observância da Lei judaica. É a salvação através do mérito pessoal. Na prática, era a negação da salvação através da fé em Jesus Cristo e seu sacrifício salvífico, estendido a todos os homens. Paulo insiste que o que nos salva é a fé em Jesus Cristo. Acreditar diferente é eliminar a revelação que Paulo teve de Jesus ressuscitado, que ele chama de seu Evangelho, ou o mistério a ele revelado: agora, a salvação é dada a todos os povos, independentes dos ritos judaicos. De todos os povos, Deus fez um povo só e a salvação é dada a todos mediante
F/reprodução
9º Domingo do Tempo Comum
Leituras da semana
a fé em Jesus Cristo e não pelas obras da Lei. No fundo, ou se acredita no judaísmo ou em Jesus Cristo. Paulo é categórico e diz que a Lei não salva ninguém. Nos vv. 6ss., em tom severo, ele se mostra admirado de que os gálatas estejam, tão depressa, mudando de evangelho, ou seja, desprezando Paulo e dando atenção aos falsos apóstolos (os judaizantes), negando a gratuidade da salvação pela fé em Jesus Cristo, dando atenção aos que os estão perturbando, corrompendo o Evangelho de Cristo pregado por ele. Neste caso, Paulo não vê conciliação ou concessão. O mistério revelado a ele por Jesus Cristo ressuscitado, e que salva olutador [ maio ] 2016 • 39 ]
a todos, inclusive os pagãos, é o amor de Deus manifestado no sangue de Cristo derramado na cruz. O importante, portanto, é a fé no Cristo crucificado, e não no fiel cumprimento das obras da lei. 3. A fé que salva. O protagonista do episódio neste Evangelho não é o miraculado, mas o centurião, um estrangeiro. Vêse a universalidade da salvação de Deus, que não pensa só no povo judeu, mas em todos os povos, sobretudo quando envia o seu Filho Amado para salvar o mundo. O centurião é um pagão romano, mas temente a Deus, ou seja, simpatizante do povo judeu, embora não seguisse seus costumes. Ele não está preocupado consigo mesmo, mas com seu empregado, à beira da morte, por quem tinha muita consideração. Percebemos que, mesmo fora do povo cumpridor de suas obrigações religiosas, existe gente boa que merece respeito e que não está fora da salvação. As palavras do centurião se tornaram célebres. Nós até as usamos antes de receber a comunhão: “Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha morada, mas dizei uma palavra e serei salvo”. Em Lucas, o centurião não quer incomodar Jesus, pois ele se sente indigno de que Jesus entre em sua casa, e por isso nem tinha ido pessoalmente ao encontro de Jesus. Ele se coloca diante de Jesus com muita fé, confiança e humildade, reconhecendo que bastaria uma palavra de Jesus para o milagre acontecer. Jesus se admira e diz: “Eu vos digo que nem mesmo em Israel encontrei uma fé tão grande”. As palavras de Jesus nos ajudam a evitar nossos julgamentos e prepotências, achando-nos melhores do que aqueles que não frequentam a Igreja ou não têm nenhuma religião.]
Homilética [ 05•06•2016
Leituras: 1 Rs 17,17-24; Sl 29[30]; Gl 1,11-19; Lc 7,11-17 1. Devolver a vida. O profeta Elias se encontra em Sarepta, na casa de uma pagã. Foi lá que Elias fez o milagre para a viúva, não deixando faltar farinha na vasilha, nem azeite na jarra. Mas, depois de certo tempo, o filho dessa mulher adoeceu e morreu. O gênero literário deste trecho é chamado de “legenda profética”: as narrações se apoiam em fatos simples realizados por pessoas santas. Com o tempo esses fatos são engrandecidos pelo povo e querem mostrar a proximidade, o cuidado e a preocupação de Deus com seu povo. De fato, a personagem principal da narração é o próprio Deus, pois é ele que é invocado, é ele que realiza o milagre da restituição da vida ao garoto. O núcleo da narração carrega a mensagem de que Deus é o Deus da vida, e não o Deus da morte como num primeiro momento a viúva estava pensando. O problema da morte continua sendo um enigma para o homem. Realmente é um mistério. Mas o povo tem que tirar da cabeça o complexo de culpa e a concepção de que coisas ruins que acontecem são castigo de Deus. Enquanto não trocarmos, em nossa mente, o Deus que fabricamos pelo Deus que Jesus Cristo revelou, vamos andar pessimistas, cheios de complexos, medo da doença e da morte. E medo até mesmo do próprio Deus, que só quer nosso bem e a nossa felicidade, não quer a morte do pecador, mas que ele viva. 2. Escolhido por Deus. A Carta aos Gálatas é uma defesa de Paulo da autenticidade do seu evangelho e do seu ministério apostólico: “Mesmo que nós ou um anjo vindo do céu vos pregasse um evangelho diferente daquele que vos pregamos, seja excluído!”
[Lc 7,14b]
Leituras da semana
[ dia 6: 1Rs 17,1-6; Sl 120[121],1-8; Mt 5,1-12 [ dia 7: 1Rs 17,7-16; Sl 4,2-5.7-8; Mt 5,13-16 [ dia 7: 1Rs 18,20-39; Sl 15[16],1-2a.4.5.8.11; Mt 5,17-19
[ dia 9: 1Rs 17,1-6; Sl 120[121],1-8; Mt 5,20-26 [ dia10: 1Rs 19,9a.11-16; Sl 26[27],7a.-8.9.13-14; Mt 5,27-32 [dia 11: At 11,21b-26; 13,1-3; Sl 97[98],1-6; Mt 10,7-13
Ele quer também reconduzir os gálatas ao evangelho pregado por ele, já que falsos evangelizadores estavam perturbando a fé da comunidade ou comunidades: “Admiro-me de que tão depressa, abandonando aquele que vos chamou na graça de Cristo, tenhais passado a outro evangelho”. Seu evangelho não é invenção humana. Ele o recebeu diretamente de Jesus Cristo e, portanto, não é diferente do Evangelho pregado pelos apóstolos. Paulo recebe o seu evangelho por revelação divina e a essência de sua pregação é que a salvação nos é dada pela fé em Jesus Cristo e não pelo cumprimento das antigas prescrições da lei. Ele mostra como sinal de autenticidade do seu evangelho a reviravolta que
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10º Domingo do Tempo Comum
“Jovem, eu digo, levanta-te!”
Jesus fez na vida dele. Antes, como fiel e zeloso fariseu, enquanto acreditava na salvação vinda da lei, e não da graça, ele perseguia cruelmente os cristãos. Agora, apaixonado por Jesus Cristo, ele se entregou totalmente à evangelização e descobriu que Deus o escolheu para isso antes mesmo do seu nascimento. 3. Movido de compaixão. Estamos diante do milagre da ressurreição do jovem (v. 14) filho da viúva de Naim. Observando de perto, percebemos a afinidade da narração deste milagre de Jesus com a narração do milagre que lemos na primeira leitura. É o filho de uma viúva que é necessitado. O filho da viúva de Sa-
[ 40 • olutador [ maio ] 2016
repta era provavelmente uma criança, enquanto o filho da viúva de Naim era um jovem. Mas ambos filhos únicos. A viúva já sofria muito pela morte do marido e era marginalizada. O filho poderia ser a esperança de vida para a viúva. Enquanto Elias era chamado de homem de Deus, Jesus era chamado de profeta. No conjunto podemos perceber dois cortejos até à porta da cidade. O primeiro aparece no v. 11; Jesus está chegando para participar da vida da cidade. É uma caminhada bonita, alegre, festiva, com muita gente: além dos discípulos, numerosa multidão. O outro cortejo está saindo da cidade, deixando a vida (v.12). Este é triste, fúnebre, doloroso. A viúva, que já tinha perdido seu marido, perde agora o seu filho jovem, que poderia ajudá-la na sua sobrevivência. No primeiro cortejo Jesus vai à frente, ele é o Senhor da vida. No segundo, o sustentáculo da vida da mãe, é carregado imóvel, morto, num caixão. Qual seria o futuro daquela mãe, sem o marido e sem o filho único? Não seria possível perceber que o cortejo que entra representa a comunidade cristã, feliz, porque está acompanhada pelo Senhor da vida? No cortejo que sai vemos a humanidade perdida, imobilizada, sem vida, porque ainda não encontrou o Cristo. Mas o segundo cortejo encontrase com o primeiro. A morte encontra-se com a vida. Jesus, rompendo os preconceitos judaicos que massacravam as pessoas, toca no caixão e, movido de compaixão, pronuncia a palavra de vida: “Jovem, eu te digo, levanta-te”. A palavra de Jesus é transformadora, é palavra de vida. Tudo mudou. O choro foi substituído pela alegria, a morte deu lugar à vida. A multidão percebeu claramente a presença de Deus no meio do seu povo.]
Homilética [ 12•06•2016
Leituras: 2Sm 12,7-10.13; Sl 31[32]; Gl 2,16.19-21; Lc 7,36-8,3 1. Pequei contra o Senhor. Este trecho é o desfecho da parábola que Deus manda o profeta Natã falar a Davi. O rico tinha bois e ovelhas, mas roubou a única ovelhinha do pobre para servir a um visitante. Davi condena à morte o rico que fez esta barbaridade. No v. 7 o profeta conclui: “Esse homem és tu!” O abuso que Davi fez do poder é aqui centralizado no seu adultério e no crime. O texto é narrado no cap. 11. Trata-se do adultério de Davi com Betsabeia, mulher de Urias, e da trama para que Urias morresse na guerra e Davi pudesse ficar com sua mulher – a ovelhinha da parábola. Davi viola dois mandamentos de Deus: cobiça a mulher do próximo e comete assassinato (vv. 9-10) O v. 13 é o resultado final da Palavra de Deus iluminando os fatos da vida. À luz da Palavra, o rei toma consciência do seu pecado. Nesse momento em que arrependido o homem conhece sua nudez, sua pequenez, seu pecado, Deus mostra a grandeza do seu perdão e o envolve com sua graça. É claro, o pecado tem consequências gravíssimas que muitas vezes recaem sobre o pecador. No v. 5 Davi, sem saber, sentencia sua própria morte por causa do seu grande pecado. Mas Deus perdoou Davi. 2. A Lei não justifica. Paulo tomou consciência muito profunda da distinção entre Lei de Moisés e graça de Cristo. A Lei é a lei do mérito: se a observo, me salvo; se não a observo, me condeno. Assim pensavam os judeus, assim pensava Paulo antes de conhecer Jesus Cristo. Depois ele percebeu com clareza que o único caminho da salvação é a fé em Jesus Cristo crucificado pelo nosso pecado e para nossa salvação.
[Lc 7,50]
Leituras da semana
[ dia 13: 1Rs 21,1-16; Sl 5,2-3.5-7; Mt 5,38-42 [ dia 14: 1Rs 21,17-29; Sl 50[51],3-4.5-6a.11.16; Mt 5,43-48 [ dia 15: 2Rs 2,1.6-14; Sl 30[31],20.21.24; Mt 6,1-6.16-18 [ dia 16: Eclo 48,1-15; Sl 96[97],1-7; Mt 6,7-15 [ dia 17: 2Rs 11,1-4.9-18.20; Sl 131[132],11-14.17-18; Mt 6,19-23 [ dia 18: 2Cr 24,17-25; Sl 88[89],4-5.29-34; Mt 6,24-34
O v. 16 afirma que a Lei não tem força de salvar ninguém, “porque pela prática da Lei ninguém será justificado”. E o v. 21: “Se a justiça vem pela Lei, então Cristo morreu por nada”. Acreditar na salvação através dos próprios méritos do fiel cumpridor da Lei é elevar Moisés e eliminar Jesus; é retornar ao farisaísmo condenado por Jesus. Fique claro que o autor da nossa salvação é Cristo morto e ressuscitado. Nossas obras são apenas abertura do nosso coração para acolher a salvação já realizada na cruz de Cristo. Para isto é preciso fé, uma fé viva, uma fé com obras, pois uma fé sem obras é morta. Fé não é apenas acreditar, mas comprometer-se com aquele que nos amou e se entregou por nós – Jesus Cristo. Com isso não
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11º Domingo do Tempo Comum
“Tua fé te salvou. Vai em paz!”
queremos levar ninguém a ser um “fora da lei”. A lei é importante para a convivência humana. Mas não justifica nem salva ninguém! 3. Amar mais. Estamos num ambiente de refeição, sinal de comunhão de vida. O tema é a conversão e o perdão. Quer ilustrar a misericórdia de Jesus para com os pecadores (a prostituta) que, arrependidos, trazem sua fé em gestos de amor. O texto mostra também a inutilidade de uma religião baseada nos méritos da Lei e no sistema de pureza ritual (Simão). Aparece uma mulher conhecida como prostituta e traz um frasco de alabastro com perfume. Com toda a humildade, ela se coloca por trás de Jesus e, com olutador [ maio ] 2016 • 41 ]
suas lágrimas de arrependimento e gratidão, banhava os pés de Jesus e os enxugava com seus cabelos, cobria-os de beijos e os ungia com perfume. Os gestos da mulher eram símbolo da sua gratidão pelos pecados que lhe tinham sido perdoados. O fariseu Simão não difere de seus colegas fariseus. É arrogante, prepotente, preconceituoso contra Jesus e a mulher, desconfia maldosamente da atitude de Jesus e da mulher, não tem misericórdia para com a pecadora; pelo contrário, a denuncia. Ele falha como anfitrião. Tudo o que ele deixou de fazer a Jesus como obrigação, a mulher fez com o máximo de espontaneidade feminina e expressão de gratidão pela atitude salvífica de Jesus. Simão certamente partilhava da convicção de seus convidados de que Jesus não tinha poder de perdoar pecados. Sua segurança está em seu sistema religioso ancorado na Lei. Para ele, o fiel cumprimento da lei é que salva e, por isso, despreza a gratuidade da salvação que Jesus oferece aos pecadores. (cf. vv. 47-50) Jesus conta a parábola para Simão: dois devedores que não podiam pagar; um devia 500 moedas de prata, o outro apenas 50. O credor (o Pai do céu) perdoa a ambos. Aí Jesus pergunta: “Qual deles amará mais?” Simão responde certo: “Aquele ao qual perdoou mais”. Neste momento Jesus compara os dois, mostrando a ausência de amor no coração de Simão, que julgava não ter pecado, nem acreditava no perdão de Jesus. Por outro lado, enaltece a delicadeza, a ótima acolhida da mulher que se reconhece pecadora, mas cujo coração está repleto de amor, de arrependimento e gratidão. O desfecho da atitude de Jesus é lindo. É o perdão, a paz e o reconhecimento da fé, concretizada no amor, que é o instrumento de salvação: “Teus pecados estão perdoados... Tua fé te salvou. Vai em paz”.]
Variedades [ Dicas de português
[ Não Tropece na Língua [ CR ASE COM NOMES PRÓ PRIOS GEOG RÁFICOS Quando se trata de saber se diante dos nomes de cidades, estados e países se usa a ou à, fica valendo o mesmo princípio da determinação, qual seja: se o nome é feminino e pode ser precedido pelo artigo definido a, existe a possibilidade do uso do a craseado.
Frango com brócolis Ingredientes 2kg de frango partido em pedaços; 1 maço de brócolis; 1 colher (chá) de sal; pimenta-do-reino a gosto; 2 xícaras de molho branco; 1 ½ xícara de queijo parmesão ralado.
Modo de Fazer Cozinhar os pedaços de frango. Lavar, cozinhar os brócolis em água com sal e escorrer. Preparar o molho branco. Acrescentar 1 xícara de queijo ralado. Num pirex grande e fundo, colocar os brócolis e temperar com sal e pimenta. Por cima dos brócolis, colocar os pedaços de frango e, por último, o molho branco. Salpicar com o queijo restante e levar ao forno para gratinar.]
Do livro
“Cozinhando sem Mistério”, de Léa Raemy Rangel & Maria Helena M. de Noronha Ed. O Lutador, Belo Horizonte, MG
Pedidos pelo NOVO NÚMERO
0800-940-2377
Cidades Como regra, não se usa o acento indicativo de crase diante dos nomes de cidades, porque eles repelem o artigo definido, como se pode observar: Salvador é uma festa. Venho de Florianópolis. Ele mora em Curitiba. Estivemos em Vitória. Assim sendo, nada de crase: – Bem-vindos a Salvador. Vamos a Blumenau. Refiro-me a Imperatriz, MA. Somente quando modificados por algum elemento restritivo ou qualificativo é que os nomes de cidade podem receber o artigo feminino e, portanto, a crase. São casos raros: – Bem-vindos à Florianópolis das 42 praias. Fomos à bela Blumenau. Refiro-me à Brasília dos excluídos, e não dos políticos endinheirados. Estados Em princípio, só dois estados brasileiros admitem a crase: a Bahia e a Paraíba. As demais unidades da Federação ou são nomes masculinos (o Amapá, o Acre, o Amazonas, o Ceará, o Espírito Santo, o Maranhão, o Mato Grosso do Sul, o Pará, o Paraná, o Piauí, o Rio de Janeiro, o Rio Grande do Norte, o Rio Grande do Sul, o Tocantins) ou não são determinados por artigo (Alagoas, Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais, Pernambuco, Rondônia, Santa Catarina, São Paulo, Roraima, Sergipe). Sendo assim:
– Bem-vindos à Bahia. Vamos à Paraíba e a Santa Catarina. Esse patrimônio incalculável pertence a Goiás. Refiro-me ao Rio Grande do Sul e ao Pará. Quanto a Mato Grosso, embora originalmente o artigo seja dispensável, há uma hesitação: quando não acompanhada da palavra “estado”, é comum (provavelmente por analogia com o Mato Grosso do Sul) a construção “o Mato Grosso, do Mato Grosso, no Mato Grosso”. Mas sempre se dirá “o Estado de Mato Grosso” – é a forma oficial. Países A presença da crase diante de um nome de país depende de ser esse nome determinado ou não pelo artigo feminino A. Entre os países que levam artigo – e que constituem a maioria – alguns são masculinos (o Canadá, os Estados Unidos, o Japão, o Chile), outros femininos (a Rússia, a Venezuela, a Índia). Existem países que rejeitam o artigo, como Portugal, Israel, Angola, Moçambique, São Salvador, Liechtenstein. E há nomes que se usam tanto com o artigo quanto sem ele, principalmente quando regidos de preposição – os brasileiros preferem com o artigo; os portugueses, sem ele: na França/em França; da Itália/de Itália; na Espanha/ em Espanha; da Inglaterra/de Inglaterra. O mesmo vale para o continente: da Europa/de Europa. Portanto, escrevemos: – Bem-vindos à Argentina. Quanto à Europa, refiro-me à França, à Áustria e à Alemanha. O presidente chegou à Inglaterra por volta do meio-dia, mas não foi a Londres. Enviamos saudações à Colômbia.]
[ Humor Vaga nova a filha do dono da empresa entra na sala levando o maridão pela mão. – Papai, é verdade que seu sócio acabou de morrer? – É verdade. Infelizmente... – Por que o senhor não coloca o meu marido no lugar dele? – Por mim, tudo bem – respondeu o pai. Podem falar com o pessoal da funerária...
[ 42 • olutador [ maio ] 2016
Mensagens [ Poesia & Sabedoria... [ Poema para o mês de maio
Mãe-preta Rau l B o pp (1 8 9 8 -19 8 4)
– Mãe-preta, me conta uma história. – Então feche os olhos, filhinho: Longe muito longe era uma vez o rio Congo… Por toda parte o mato grande. Muito sol batia o chão. De noite chegavam os elefantes. Então o barulho do mato crescia. Quando o rio ficava brabo inchava.
Olhos da preta pararam. Acordaram-se as vozes do sangue, glu-glus de água engasgada naquele dia do nunca-mais. Era uma praia vazia com riscos brancos de areia e batelões carregando escravos. Começou então uma noite muito comprida. Era um mar que não acabava mais. … depois… – Ué, mãezinha, por que você não conta o resto da história?
FOTOS/reprodução
Brigava com as árvores. Carregava com tudo, águas abaixo, até chegar na boca do mar.
Depois…
[ Palavra
de sabedoria
❝A fé que nasce do sinal visível, a fé que se apóia somente sobre este sinal e não vai além dele, permanece no meio do caminho e é incapaz de chegar até a fé do ‘terceiro dia’. Não é uma fé que ressuscita.❞ d o m c l a u d e r a u lt
olutador [ maio ] 2016 • 43 ]
Sociedade [ Um pediatra, que preferiu permanecer anônimo, declarou: “Eu
cuidando dos filhos sozinhas, porque o pai simplesmente res
Microcefalia: a fuga dos pais
M
atéria publicada pelo jornal “Estado de São Paulo” [4/02/2016], assinada por Felipe Resk, relata que casamentos têm sido desfeitos em Pernambuco ainda durante a gravidez, ou após o nascimento de crianças com microcefalia, devido à recusa do pai em aceitar o filho. Como pano de fundo, sentimentos de culpa e de fracasso, ou a transferência da culpa para a esposa. Segundo a reportagem, em Pernambuco, o Estado que tem apresentado o maior número de notificações
de microcefalia, muitas mães têm sido abandonadas pelos companheiros após descobrir que o filho do casal é portador da má-formação. Médicos relatam que os casos são cada vez mais frequentes e afetam principalmente jovens em relações instáveis, mas acontece também em casamentos com mais tempo de duração. A maior dificuldade na aceitação da criança malformada ocorre justamente com o pai. Um pediatra, que preferiu permanecer anônimo, declarou: “Eu me surpreendi com a quantidade de mães que estão cuidando dos filhos sozinhas, por-
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O surgimento de casos de microcefalia tem sido motivo de separação para casais, quando maridos recusam a criança e abandonam as esposas. No entanto, essas crianças nos convocam para atitudes de solidariedade.
Silenciosos e rápidos, têm 300 quilômetros de autonomia e não dependem da fiação aérea, que limitava trólebus. Chineses querem montar três fábricas no Brasil e nacionalizar 85% dos componentes. [ 44 • olutador [ maio ] 2016
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São Paulo testa ônibus a bateria
ou: “Eu me surpreendi com a quantidade de mães que estão te resolveu largar a família”... que o pai simplesmente resolveu largar a família”. Uma das mães, 32 anos de idade, 3 filhos, abandonada ainda na maternidade, declarou: “Ele me culpou por ela nascer assim. Disse que a menina era doente porque eu era uma pessoa ruim.” Acolher a vida O “Compêndio da Doutrina Social da Igreja”, publicado pelo Pontifício Conselho “Justiça e Paz” (Ed. Paulinas, 2005), traz a visão da Igreja sobre a situação das pessoas com deficiência: “As pessoas deficientes são sujeitos plenamente humanos, titulares de direitos e deveres. Apesar das limitações e dos sofrimentos inscritos no seu corpo e nas suas faculdades, põem mais em relevo a dignidade e a grandeza do homem. Dado que a pessoa deficiente é um sujeito com todos os seus direitos, ele deve ser ajudada a participar na vida familiar e social em todas as suas dimensões e em todos os níveis acessíveis às suas possibilidades”. (CDSI, 148.) E ainda: “É necessário promover, com medidas eficazes e apropriadas, os direitos da pessoa deficiente. Seria radicalmente indigno do homem e seria uma negação da humanidade comum admitir à vida da sociedade, e portanto ao trabalho, só os membros na plena posse das funções do seu ser,
M ar c o s de S o u s a
S
ão Paulo continua testando alguns ônibus elétricos movidos a bateria. Um deles foi fotografado em operação na linha Terminal Lapa-Praça Ramos. O veículo é silencioso, não emite fumaça e mantém a mesma velocidade dos ônibus diesel que circulavam pela avenida sob o elevado “Minhocão”. Os veículos são produzidos pela chinesa BYD, que espera investir US$ 400 milhões até 2017 em três unidades fabris, a primeira delas em Campinas, SP, já em operação. Dotado de piso baixo, o ônibus tem autonomia superior a 250 km, podendo chegar a 300
porque, procedendo desse modo, recair-se-ia numa forma grave de discriminação, a dos fortes e sãos contra os fracos e doentes.” A pessoa com deficiências, acrescenta o texto, “também ela precisa amar e ser amada, precisa de ternura, de proximidade, de intimidade, segundo as próprias possibilidades e no respeito da ordem moral, que é a mesma para os sãos e para os que têm uma deficiência”. Juntas para amar Enquanto os pais se ausentam, as mães de crianças com microcefalia começam a se organizar, formando grupos de ajuda mútua, trocando suas experiências e apoiando-se umas às outras. Também as instituições da sociedade manifestam os primeiros sinais de atenção para essas mães. A Agência Brasil informa que a cidade da Salvador, BA, conta com serviço de apoio a crianças com microcefalia. O Instituto Bahiano de Reabilitação – IBR, entidade filantrópica com 60 anos de atuação e especializada no atendimento às pessoas com deficiências neuromotoras, oferece ajuda a famílias que necessitam de acompanhamento. Um grupo de atenção às famílias de crianças com microcefalia foi criado no local. Professora do bairro Nor-
km, graças à tecnologia de frenagem regenerativa, segundo fontes da empresa. A recarga da bateria é feita na garagem, por um período de quatro horas. O cronograma da empresa prevê evolução do conteúdo nacional de seus produtos a partir deste ano até alcançar o índice de 80% a 85% em 2017, o que garantirá que os veículos da marca possam ser financiados pelo Finame. A companhia trabalha agora no desenvolvimento de fornecedores locais e garante ter bons resultados. “Tem sido mais fácil do que imaginamos”, conta Adalberto Maluf, diretor de marketing e relações governamentais da BYD no Brasil. Ele reconhece que há alguns olutador [ maio ] 2016 • 45 ]
deste de Amaralina, na periferia de Salvador, Sílvia diz que a orientação dos profissionais vai ajudá-la a estimular o desenvolvimento da filha. “Aqui tenho toda a assistência e começamos a participar do grupo com outras crianças. As expectativas são maravilhosas, sempre com muito otimismo, a certeza de que o bebê vai se desenvolver, e sabendo que as pessoas estão aqui para ajudar com isso”, diz a mãe da menina, que recebeu atendimento do Instituto antes mesmo da formação do grupo. No livro “Identidade e Estatuto do Embrião Humano” (CCFC/EDUSC, 2005), os autores Juan de Dios V. Correa e Elio Sgreccia comentam: “Não desejamos suprimir ou minimizar as dificuldades e ansiedades que uma vida malformada, a consciência de todo o sofrimento que ela trará consigo, provocarão para a mãe, os parentes e a família. Pois a geração e o nascimento de um bebê não só constituem um acontecimento que interessa à mãe e à família, mas têm também uma dimensão social e comunitária, que convoca a todos para uma atitude de solidariedade, em razão de sua existência e necessidade. Significa isso que uma nova vida que seja deficiente ou incapacitada é um apelo a uma solidariedade mais intensa e comprometida”. (ACS)]
gargalos, entre eles a oferta de sistemas de tração, de cabos de média e alta voltagem, de células de bateria, além de controladores e inversores. O executivo diz que o projeto da empresa para a fábrica brasileira de ônibus não foi abalado pela crise. “Há um grande potencial para ônibus elétricos nas grandes cidades. Fizemos um planejamento de dez anos que leva isso em conta”, defende, lembrando a legislação de São Paulo, SP, que determina o fim do uso de combustíveis fósseis no transporte coletivo da cidade, iniciativa que deve puxar ações semelhantes no resto do país.] Fonte: Mobilize Brasil, apud Outros Quinhentos
Mundo [ Com frequência, essa manipulação dos nú
P
“
ercebi que estava grampeado, que sabiam exatamente o que eu receitava”, indigna-se um
médico instalado em Paris. “Fui ingênuo, não fazia ideia. Um dia, uma representante comercial me disse: “Você não prescreve muito!” Eu me perguntei: “Como ela pode saber disso?” Essa prática de vigilância, que choca muitos profissionais, é articulada pelos serviços comerciais dos laboratórios. Para aumentar ou manter sua fatia do mercado, os grandes grupos farmacêuticos implementam artifícios de engenhosidade mirabolante. Não hesitam, por exemplo, em alterar as indicações de seus medicamentos para conquistar novos clientes. Considerado por certos médicos como “o Rolls Royce dos antibióticos dermatológicos”, a Pyostacyne (no Brasil, Pristinamicina), fabricado pela Sanofi – um dos primeiros grupos farmacêuticos do mundo em volume de negócios (33 bilhões de euros em 2013) – conheceu tal destino. Durante muito tempo de uso dermatológico, o antibiótico viveu uma “virada respiratória”: é agora utilizado maciçamente em casos de infecção broncopulmonar e de ouvido, nariz e garganta. Este último uso, criticado por numerosos médicos e depois denunciado pelo poder público, podia conduzir a um superconsumo de antibióticos, sendo assim parte do problema mais amplo do fortalecimento das resistências bacterianas – um grande desafio de saúde pública, responsável por setecentas mil mortes por ano em todo o mundo. Para compreender a natureza versátil da mercadoria da indústria farmacêutica, acompanhamos a vida desse medicamento ordinário, desde os laboratórios de pesquisa até os visitantes comerciais, passando pela fábrica de produção do princípio
ativo. A cada etapa, a mercadoria muda de nome: os biólogos falam da bactéria Pristinae Spiralis;os químicos, da pristinamicina fabricada pela bactéria; os representantes alardeiam os méritos da “Pyol” aos médicos; os trabalhadores denominam-na afetuosamente “a Pristina”. Ao longo dessa cadeia, o antagonismo entre as necessidades do doente e os lucros do industrial, entre o valor de uso e o valor de troca nunca param de se manifestar. [...] Médicos ou vendedores? Nem todos os médicos interessam aos laboratórios na mesma medida. Aqueles que têm um importante “potencial de prescrição” tornam-se objeto de atenção particular. Para identificá-los, os laboratórios utilizam os serviços do Grupo de Elaboração e Realização de Estatísticas (GERS), que dispõe das cifras das vendas aos distribuidores e das vendas diretas em farmácias; ou do Centro de gestão, de documentação de informática e de marketing (Cegedim), que fornece dados do software das prescrições dos médicos. A essas fontes oficiais, somam-se as redes de inteligência informais, como as enquetes dos visitantes médicos com farmacêuticos e seus colegas. Para os serviços de marketing, toda informação relativa às práticas dos médicos interessa, pois permite estabelecer uma “segmentação de clientes” em potencial. [...] Na França, em 2014, havia dezesseis mil empregados de empresas farmacêuticas, que passavam o tempo todo em reuniões com os médicos. À taxa de duzentos e treze dias de trabalho por ano e seis visitas por dia, são mais de vinte milhões de conversas travadas anualmente com os médicos. [...] Ou então, os médicos se tornam cada vez mais críticos, a ponto de fechar suas portas para os visitantes médicos, cujo número caiu depois de dez anos. Esta resistência
crescente empurra a empresa a encontrar outras formas de lobbying, mais científicas e menos perceptíveis, particularmente ao dirigir-se a formadores de opinião (chamados KOL, key opinion leaders/líderes-chave de opinião) – ouvidos e respeitados por milhares de prescritores. Assim, a Sanofi procura influenciar docentes de universidades,
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Q u ent i n Ravell i
por vezes percebidos como responsáveis pelo espírito crítico de jovens médicos. [...] Quando se perde o sono A fábrica em que é fabricado o princípio ativo da Pristinomicina, a partir de bactérias colocadas para fermentar, encontra-se perto de uma volta do Rio Sena, ao sul de Rouen (França), onde são espalhadas diversas indústrias, como as da Total ou da ASK Químicos. Quando se entra pela primeira vez, um odor contrai as narinas: é dos dejetos agrícolas que as bactérias em fermentação consomem em quantidade, antes de secretar os princípios ativos. O perfume inebriante de melaço de açúcar de beterraba, que chega na fábrica pelos carros-pipa, domina a atmosfera.
Viagem ao mundo do medicamento-mercadoria. A pe O trabalho infernal, nos laboratórios. A eficácia da
Nos subterrâneos da [ 46 • olutador [ maio ] 2016
os números conduz a... Na oficina de fermentação, o barulho atinge, como hélices de avião em marcha lenta, as longas lâminas de dezenas de fermentadores de duzentos e vinte metros cúbicos, movimentadas continuamente. [...] Segundo os trabalhadores, o trabalho em si mesmo é interessante e frequentemente imprevisível, pois envolve organismos vivos. Mas as condições são particularmente duras. Os operários trabalham em regime 5 X 8. Significa que são divididos em cinco equipes, que trabalham dois dias das 5h às 12h, em seguida, dois dias das 12h às 20h, e finalmente dois dias das 20h às 5h. [...] Quem segue esse ritmo não dorme, jamais, três vezes seguidas no mesmo horário. “O cérebro não é mais capaz de retomar os ritmos de vigília e sono”, diz o Sr. Etienne Warheit, que está no 34º ano de 5 X 8. “Dois anos atrás, perdi o sono e não conseguia mais fazer seis horas por noite. Ficava cansado às 22 horas, mas estava acordado à meia-noite e não havia maneira para dormir antes de 2h00. E vice-versa… chegava ao trabalho, estava cansado, e por isso tomava café. Você torna-se incapaz de fazer o trabalho. Precisa repeti-lo novamente três vezes, porque tem medo de esquecer as coisas, ter cometido um erro, você perde a confiança em si mesmo.” [...] Para justificar esse ritmo infernal, a direção esconde-se atrás de uma espécie de determinismo tecnológico: os ritmos da fermentação bioquímica e extração de bactérias tornariam inevitável o sistema 5 X 8. “É óbvio que, numa fábrica como esta, a partir do momento em que a produção é contínua e só pode ser contínua, não é possível fazer de outra forma”, diz o médico da fábrica. [...] Testes sob suspeita Hoje, os testes clínicos sobre os antibióticos desenvolvem-se em condições opacas, sobre um fundo de divisão seletivo e mes-
mo com manipulações de dados. Um teste sobre a utilização da Pristinamicina nos casos de pneumonia ilustra o problema. Havia sete fracassos do tratamento para o grupo de pacientes tratados com a droga, e somente quatro no grupo de controle. Segundo o especialista, que partilha a opinião da diretora médica do laboratório, teriam sido incluídos doentes em situações a tal ponto severas, que requereriam outro tratamento diferente. “Portanto, a conclusão a que cheguei sobre isso é que se trata do fracasso não do antibiótico, e sim da estratégia.” Um argumento surpreendente do ponto de vista lógico: como julgar a eficácia de um medicamento se os pacientes que ele não cura não são imediatamente desqualificados, se se parte do princípio de que ele só é eficaz quando é eficaz? Com frequência, essa manipulação dos números conduz a falsificações. Em 2007, o caso do Ketek suscitou várias mortes de pacientes por causa de problemas hepáticos e levou um dos responsáveis pelos testes a purgar uma pena de prisão de dois anos nos Estados Unidos, por ter “inventado” pacientes para inflar artificialmente a eficácia do medicamento. Longe de ignorar o problema, certos dirigentes científicos lembram, vários anos após o escândalo, que para esse medicamento “havia cadáveres nos armários”. Essa expressão, utilizada por uma das diretoras médicas do grupo, testemunha certo cinismo no interior da empresa, cujos altos executivos interiorizaram profundamente os códigos. Para eles, os interesses do grupo vêm antes da saúde dos pacientes, sempre que surge, entre estes dois sistemas de valores, um conflito. De maneira geral, nos escritórios do serviço médico e nos do marketing reina uma forma de amnésia seletiva do medicamento. A história dos efeitos colaterais imprevistos,
dos testes clínicos deturpados e dos escândalos sanitários não é memorizada, e o fracasso clínico não tem o mesmo status do sucesso. Toca-se aqui num dos problemas de fundo da indústria farmacêutica: o fato de os testes clínicos, ou seja, a prova da eficácia dos medicamentos, serem estabelecidos por aqueles que produzem esses mesmos medicamentos. Alguns chamaram esse fenômeno de dependência de “captura regulamentar” do Estado pelas empresas. Essa engrenagem ressurge a cada novo escândalo: Stalinon (1957), Talidomida (1962), Distilbène (1977), Prozac (1994), Cerivastatina (2001), Vioxx (2004)… A cada onda daquilo que os tribunais chamam de “homicídios involuntários”, a questão
Toca-se aqui num dos problemas de fundo da indústria farmacêutica da independência dos testes clínicos volta à tona, mas nunca as reformas que se seguem questionam o regime de propriedade comercial do medicamento. O problema está profundamente enraizado no sistema econômico, que não é mais moral para o medicamento que para o petróleo ou os cosméticos. Não somente porque são os mesmos acionistas que se encontram nos comandos – a L’Oréal continua sendo a principal acionista da Sanofi, desde a recente saída da Total –, mas também porque a possibilidade de lucrar com os medicamentos aguça os velhos antagonismos entre o valor de uso e o valor de troca. (Tradução: Inês Castilho)] Fonte: Le Monde Diplomatique, apud Outras Palavras
A pesquisa submissa ao marketing. a das drogas atestada em estudos fraudados.
indústria farmacêutica olutador [ maio ] 2016 • 47 ]
ADCE [ Alerta ao consumismo, individualismo...
Dirigentes cristãos de empresa publicam trabalho de reflexão sobre a Encíclica Laudato Si’, do Papa Francisco Publicação da União Internacional de Associações de Dirigentes Cristãos de Empresa – UNIAPAC Internacional – traz uma breve reflexão da entidade sobre a Encíclica do Papa Francisco, que alerta quanto ao consumismo, critica o individualismo e a globalização da indiferença, entre outros temas
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Associação de Dirigentes Cristãos de Empresa, ADCE Brasil e a União Internacional de Associações de Dirigentes Cristãos de Empresa, UNIAPAC América Latina e Internacional, lançam o estudo intitulado “Comentários da UNIAPAC a respeito da Encíclica Laudato Si’, do Papa Francisco”. O documento é fruto do trabalho colaborativo de dirigentes cristãos de empresa engajados neste movimento de diferentes regiões do mundo, especificamente da Alemanha, Argentina, Brasil, Chile, Equador, Itália, México, Paraguai e Uruguai, conferindo uma visão diversificada sobre o tema de elevado interesse para a nossa e para as futuras gerações. O estudo traz uma reflexão da entidade internacional a respeito da Encíclica do Papa Francisco, Laudato Si’, que alerta quanto ao consumismo, o desenvolvimento irresponsável que exclui seres humanos e causa graves impactos ao meio ambiente e ao clima, critica o individualismo e a globalização da indiferença, lança o quarto pilar da sustentabilidade, a ecologia cultural, e faz forte apelo à unificação de todos os países no esforço para vencer este que é um enorme desafio global dos tempos modernos. “Com esta publicação, a UNIAPAC Internacional acrescenta mais uma contribuição à reflexão e a vivência empresarial, que se junta ao livro ‘Rentabilidade dos Valores’ ao ‘Protocolo de Responsabilidade Social Centrada na Pessoa Humana’, e ao programa ‘Empresa com Valores’, um movimento nacional de conhecimento, partilha, multiplicação e prática de todos estes ensinamentos e valores, que propiciam mais riqueza econômica, social e ambiental”, explica o presidente da ADCE Brasil e da UNIAPAC Latino América, Sérgio Cavalieri. A Laudato Si’ é de fato uma contribuição relevante da Igreja para os dirigentes cristãos tomarem consciência de sua responsabilidade em relação aos problemas que afetam toda a humanidade. Ela convida todos a contribuírem apontando caminhos e sugestões para a solução dos problemas ambien-
tais e sociais que afetam a todos”, complementa o presidente da ADCE Minas, Sérgio Frade. Para ler a declaração completa da UNIAPAC a respeito da Encíclica Laudato Si’, do Papa Francisco, acesse: www. adcemg.org.br/ W e s le y F i g u e i r ed o
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