Revista O Lutador 3874 marco 2016

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Família [ Lugar privilegiado da educação ecológica...

Leigos no "Boa Nova", em Alta Floresta, MT, jan/2009

Ano lxxxviI / Nº 3874 março / 2016 olutador.org.br

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Leigo evangelizando leigo [ As células na evangelização... [ Os males do tabaco...


Nossa Senhora da Piedade é a Mãe Padroeira de todos os mineiros. Contribua com os trabalhos de revitalização e preservação de seu Santuário Ecológico, patrimônio religioso, cultural e artístico de Minas Gerais. Esperamos você em nossa grande família - a Campanha dos Devotos de Nossa Senhora da Piedade.

Foto: Iraci Laudares

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Espaço do Leitor [ Escreva, envie seu e-mail, com Religião [ Vida Consagrada: os jovens respondem...

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Resposta aos leitores

@ [ OS QUE MAIS SOFREM “Prezados. Paz e bem. O rompimento da barragem de Mariana continua a afetar o dia a dia dos moradores ao longo do Rio Doce. E como sempre, os Pobres e Idosos são os que mais sofrem. Escrevi um artigo focalizando, também, este problema. Se julgarem oportuna a publicação, agradeço.

Em atenção a vários leitores que nos ligaram, passamos a evitar os fundos escuros e letras pequenas afim de facilitar a leitura. Agradecemos as observações que nos ajudam a tornar a Revista O Lutador mais acessível a todos. Mande-nos sempre suas sugestões. Atenciosamente,

A Revista continua ótima. Parabéns.” (Trecho do artigo enviado)

A Redação.

[ As mudanças climáticas... [ Na crise da mineração...

“As populações ao longo do Rio Doce olham agora, aterrorizadas, para suas águas barrentas, na vã esperança de encontrar nelas sinais de vida. Nada. Os animais aquáticos desapareceram mortos e levados pela lama. Da fauna silvestre só ficaram os rastros. As garças com suas longas pernas e pescoços, figuras frequentes às margens do antes piscoso curso de águas mansas, bateram asas em busca de outras paragens. Já não mais se ouve o chilrear de pássaros em suas imediações. As cobras-d’água também pereceram. Aqui ou ali, um ou outro jacaré ainda olha para o que restou do Rio.

 [ BELEZA NA CAPA “Ao receber a nossa querida Revista O Lutador, fui tomada de grande emoção com a sua beleza estampada na capa. A Revista está ótima, com reportagens valiosas. Vamos orar pedindo a Deus para que aqueles que nela trabalham tragam para nós artigos que possam enriquecer, cada vez mais, a nossa cultura religiosa. O meu abraço a todos da Equipe O Lutador. Valeu a pena!”

O nosso querido Rio Doce finalmente chega às praias do Estado capixaba carregando sua carga negativa e transtornando, também, o litoral.

N ei va Fo n seca L a d e ir a

Belo Horizonte, MG

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Ano lxxxvii / nº 3874 mArço / 2016 olutador.org.br

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Revista digital

Para assinar: 0800-940-2377 assinaturas@olutador.org.br revista.olutador.org.br

Leigos no "Boa Nova", em Alta Floresta, MT, jan/2009

Ano lxxxVii / nº 3873 feVereiro / 2016 olutador.org.br

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mail, comente no site e no facebook... É o caos.

Como disse o Apóstolo São Paulo, devemos chorar com os que choram, e são muitos a derramarem lágrimas, principalmente os Pobres e Idosos, na ordem natural, os mais indefesos. Mas não basta chorar. Necessário que nos coloquemos a serviço dos fragilizados e incapazes de sozinhos enfrentarem as consequências, como fazem populações e entidades de outras regiões, na remessa de água e outras formas de ajuda.

Ao seu redor, alguém sofre na espera de presença caridosa que possa compartilhar e ajudá-lo neste momento de turbulência.” H eli o Pi nhei ro da C unha

Governador Valadares, MG

@ [ SURPRESA “A Revista O Lutador apresenta-se como uma grande surpresa a cada edição que recebo. A cada mês aprofundamos o nosso conhecimento sobre a Igreja, catequese e assuntos diversos. Parabéns pelo trabalho desenvolvido, que Deus os cumule de bênçãos e graça.” Geraldo Qui di gn o

Jales, SP

@ [ POEMAS “Paz e bem! Olá! Sou assinante do Jornal e ex-seminarista sacramentino. Envio alguns poemas de minha autoria como sugestão para publicar na Revista O lutador se for conveniente. De repente é possível escolher e colocar... Alguns poemas constam do meu primeiro livro que fiz aí na Gráfica O Lutador de Manhumirim (Caleidoscópio de Poesia). Desde já agradeço.” [ M a rco r é l io Fo rt in i d e And r a d e

- Volta Redonda, RJ

LIDERANÇA Cresce a procura de eficientes líderes reais Gente de caráter, capacitados e com disposição. O mundo carece de arquétipos e referenciais, Alguém de confiança, com habilidades para ação. Liderar é compromisso, aptidão e responsabilidade Aprimorar a perspicácia, a persuasão e a fineza Gerir o poder com legítima e prudente autoridade Ser rigoroso e firme, com simplicidade e delicadeza. Liderar pede abertura às contínuas novidades Empatia, criticidade e satisfatório conhecimento Desejo de crescer, perscrutar a história e a realidade Acompanhar progressos que emergem todo momento. Mas liderar não é algo simples, técnico e padrão Não é o mesmo que operar máquinas passíveis Mister faz-se aprender a equilibrar a emoção Formar a mente e a moral dos valores plausíveis. Fomentar a energia genuína e eloquente do amor Disposição humana e efetiva para qualquer relação Motor do desejo e da vontade para enfrentar o labor Desafios e sonhos diários da vida em constituição. Liderança se aprende a partir de princípios e virtudes Interpelações consistentes e qualificação sofisticada Exigência de disciplina, conduta autêntica e humilde Demonstrar autocontrole ou quiçá, paciência apurada. Enfim, ser líder é dar atenção e tratar com gentileza Cativar o outrem, ter altruísmo e respeito conquistar. Moldar a personalidade, melhorar e servir com presteza Ser honesto, comprometido e criativo na arte de liderar. [ M a rco r é l io Fo rt i ni d e An d rad e


Editorial

[ Expediente O LUTADOR é uma publicação mensal do Instituto dos Missionários Sacramentinos de Nossa Senhora O Lutador ISSN 97719-83-42920-0

Fundador Pe. Júlio Maria De Lombaerde

Superior Geral Pe. Aureliano de Moura Lima, sdn

Diretor-Editor Ir. Denilson Mariano da Silva, sdn

Jornalista Responsável Pe. Sebastião Sant’Ana, sdn (MG086063P)

Redatores e Noticiaristas Pe. Marcos A. Alencar Duarte, sdn Pe. Sebastião Sant’Ana, sdn Frt. Henrique Cristiano, cmm Frei Patrício Sciadini, ocd, Frei Vanildo Zugno Dom Paulo M. Peixoto, Antônio Carlos Santini Pe. Reginaldo Manzotti

Colaboradores Vários

Revisão Antônio Carlos Santini

Projeto gráfico e Diagramação Valdinei do Carmo

Assessoria de Comunicação Melt Comunicação

Assinaturas e Expedição Maurilson Teixeira de Oliveira

Impressão e Acabamento Gráfica e Editora O Lutador, Certificada FSC®, Praça, Pe. Júlio Maria, 01 - Planalto 31730-748 - Belo Horizonte, MG - Brasil

Telefax [31] 3439-8000 | 3490-3100

Site olutador.org.br - facebook.com/revistaolutador

Redação redator@olutador.org.br

Assinaturas R$80,00 / Brasil www.olutador.org.br assinaturas@olutador.org.br 0800-940-2377 - De 2ª a 6ª das 7 às 19 horas

Outros países R$80,00 + Porte

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Correspondência Comentários sobre o conteúdo de olutador, sugestões e críticas: redator@olutador.org.br Cartas: Praça Padre Júlio Maria, 01 - Planalto CEP 31730-748 - Belo Horizonte, MG - Brasil As matérias assinadas são deresponsabilidade de seus autores, não expressam, necessariamente, a opinião de olutador. ]

Os papéis desta revista são oriundos de empreendimentos florestais que seguem normas

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Leigo evangelizando leigo

A

palavra de Deus deixa claro que o batismo é a raiz básica da vocação, da missão de todos os membros do povo de Deus (cf. Ef 4,5). Em Cristo somos um só (cf. Gl 3,28). Fomos batizados no mesmo Espírito, para formarmos um só corpo (cf. 1Cor 12,13), que é a Igreja. Os leigos e leigas são consagrados, desde o batismo, para serem uma casa espiritual, um sacerdócio santo e, através de suas obras, oferecerem sacrifícios espirituais agradáveis a Deus (cf. 1Pd 2,4-10). Compreende-se assim a Igreja como um povo sacerdotal, um povo missionário. O Concílio Vaticano II, na Constituição “Lumen Gentium” [Luz dos povos], designa como leigos “todos os cristãos que não são membros da sagrada Ordem ou do estado religioso reconhecido pela Igreja, isto é, os fiéis que, incorporados em Cristo pelo Batismo, constituídos em Povo de Deus e tornados participantes, a seu modo, do múnus sacerdotal, profético e real de Cristo, exerçam pela parte que lhes toca, na Igreja e no mundo, a missão de todo o povo cristão”. (LG 31) Também o Documento 62 da CNBB, “Missão e ministério dos cristãos leigos e leigas”, explicita que “os leigos encontram-se na linha mais avançada da vida da Igreja; para eles a Igreja é o princípio vital da sociedade humana. Por isso, eles, e sobretudo eles, devem ter uma consciência, cada vez mais clara, não só de pertencerem a Igreja, mas de serem Igreja” (nº 9). Eles precisam de formação para que bem exerçam a sua missão. “Neste diálogo entre Deus que ama e a pessoa interpelada na sua responsabilidade, situa-se a possibilidade, antes, a necessidade de uma formação integral e permanente dos fiéis leigos a que os padres sinodais juntamente dedicaram grande parte do seu trabalho. [...] Claramente afirmaram que a formação dos fiéis leigos deverá figurar entre as prioridades da diocese e ser colocada nos programas de ação pastoral...” (57 § 5). Neste número, nossa Revista O Lutador, além de todo o conteúdo de informação e de formação bíblico pastoral, volta seu olhar para uma prática pastoral de leigo evangelizando leigo. Destaca a proposta do MOBON - Movimento da Boa Nova, surgido na Diocese de Caratinga, MG, que se preocupa fundamentalmente com a formação dos leigos, sempre na busca da fidelidade à Palavra de Deus e ao ensinamento da Igreja. Através dos cursos de base como Pré-Boa Nova e Boa Nova, busca a promoção dos leigos e seu maior engajamento na sua comunidade de fé. Leigos maduros e comprometidos são sinal de Igrejas particulares que levam a sério a nova evangelização (cf. DSD 103). Através dos cursos bíblicos da Campanha da Fraternidade e dos Cursos de Natal, o MOBON procura sempre desenvolver o espírito missionário e favorecer o engajamento dos leigos nas suas comunidades e paróquias de origem, tendo em vista o funcionamento da Pastoral de Conjunto. Neste período quaresmal, que esta prática possa despertar o potencial evangelizador dos nossos leigos e levar a uma maior conversão para a missão. Que tenhamos, cada vez mais, leigos e leigas “protagonistas”, mais conscientes, mais comprometidos e mais efetivamente atuantes na Igreja e no mundo, a serviço da vida e da esperança para todos. E isso é pra começo de conversa.] [ ir . D enilson M ariano, sdn


Sumário

[

olutador •

re v i s ta me ns al

A no L X X X VII

Nº 3 874

m ar ço

2016

[ Leigo evangelizando leigo 06 [ As células: uma metodologia para ajudar na evangelização 09 [ Em quê o Vaticano II mudou a Igreja 10 [ Buscar a felicidade 13 [ A exortação Dei Verbum 14 [ Família, lugar da educação ecológica 16 [ Formar um só corpo 18 [ Paz 20 [ Encontro Matrimonial 22 [ Família Julimariana 23 [ Todos iguais 24 [ Homilias chatas 25 [ Dois magistérios? 27 [ Crônica 28 [ Compaixão 30 [ Roteiros Pastorais 31 [ O Lutador Kids 36 [ ADCE e a Responsabilidade Social 48

[ Educação [ Um novo e arte olhar

11 12

[ O Evangelho intragável

26

[ Mais ricos, mais pobres

46

[ Os males do tabaco 44


Capa [ Queremos aqui, em linhas gerais, observar a força evangelizadora dos

F/ARQUIVOS DAS INSTITUIÇÕES

Leigo evangelizando le – uma força missionária n

Leigos reunidos no CENAC em Conselheiro Pena, MG - Set/2014 Ir . Denilson Mariano da Silva , SDN

A

Carta do Papa Francisco “A Alegria do Evangelho” nos recorda que “a imensa maioria do povo de Deus é constituída por leigos. [...] Cresceu a consciência da identidade e da missão dos leigos na Igreja. Embora não suficiente, pode-se contar com um numeroso laicado, dotado de um arraigado sentido de comunidade e uma grande fidelidade ao compromisso da caridade, da catequese, da celebração da fé”. (EG 102). Aqui queremos destacar o serviço evangelizador de uma pequena parcela de leigos, homens e mulheres, motivados pela dinâmica do Movimento da Boa Nova - MOBON, iniciado na Diocese de Caratinga, MG, no Pós Vaticano II, e empenhados na evangelização de outros leigos. Esse serviço acontece, sobretudo, em dois momentos fortes da Igreja do

Brasil: na preparação para a Campanha da Fraternidade e na preparação para o Mês da Bíblia. Lideranças leigas das comunidades se encontram com animadores do MOBON para um estudo preparatório de dois ou três dias e, depois, se organizam para repassar nas comunidades o estudo feito. Em algumas paróquias das Dioceses de Caratinga, de Governador Valadares, Mariana, e Leopoldina, em Minas Gerais, bem como na Diocese de Cachoeiro de Itapemirim, ES, e nas Dioceses de Sinop e Cáceres, no Mato Grosso, encontrarmos essa prática continuada de leigos fazendo um trabalho de formação e evangelização de outros leigos. Este trabalho é marcado pela simplicidade na linguagem e exemplos do cotidiano, a fim de ser acessível a todos, mesmo aos que tiveram pouca formação escolar. Com frequência, faz-se uso de imagens e comparações próprias do universo cultural de seus interlocuto[ 6 • olutador [ março ] 2016

res, e a Palavra de Deus é sempre a base a iluminar cada assunto a ser tratado. Deste modo, busca-se aprofundar o conteúdo indicado pela Igreja do Brasil através da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, quer nas Campanhas da Fraternidade, que tocam os problemas centrais da vida humana e do planeta, quer nos estudos do Mês da Bíblia, que permitem uma aproximação ainda maior com a Palavra de Deus. Se por ocasião da Campanha da Fraternidade os estudos voltam-se mais para as questões sociais, o estudo dos temas do Mês da Bíblia favorecem o abrir caminho para a animação bíblica de toda a pastoral. Queremos aqui, em linhas gerais, observar a força evangelizadora dos leigos, depois perceber a contribuição deste trabalho para a comunhão eclesial e para o despertar de novos missionários nos anseio do Papa por uma “Igreja em saída”: “Prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter


dora dos leigos...

o leigo a na Igreja

Leigos reunidos na casa do Mobon em Dom Cavati, MG - Set/2006

saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de se agarrar às próprias seguranças”. (EG 49) 1. Força evangelizadora dos leigos Ao se reunirem para o estudo preparatório, as lideranças passam por um processo de formação que as coloca mais sintonizadas com o pensamento da Igreja, suas urgências, suas preocupações e necessidades. Cria-se um ambiente favorável à reflexão e ao aprofundamento do tema estudado. O objetivo do estudo é apresentar a proposta que a Igreja tem para a Campanha da Fraternidade e para o mês da Bíblia daquele ano. Assim, acontece uma formação que visa a ajudar o povo das comunidades a caminhar com a Igreja, seguindo suas orientações e a caminhar como Igreja, descobrindo-se parte viva dela. Na medida em que os leigos participam deste estudo, ganham também maior segurança para expressarem o que sentem e o que pensam diante da realidade. Favorece a formação da consciência, o que contribui para maior envolvimento em nível eclesial e em nível social. Mas, além disso, ao voltarem com a missão de repassar o encontro em outras comunidades - pois, em geral, acontece um intercâmbio de duplas de uma comunidade com a outra -, são levados a retomar o estudo feito, aprofundando-o. E ainda, ao fazer o repasse, aprofundam-no ainda mais, pois ao transmitirem o conteúdo aos outros, são interpelados a assumir um compromisso de vida diante do tema apresentado. Ao fim desta etapa em três estágios – a. encontro de estudo; b. reelabora-

Leigos reunidos na casa SPA em Rio Branco, MT - Set/2010

ção em casa; c. repasse na comunidade –, temos leigos mais seguros, mais conscientes e também mais comprometidos e animados com a caminhada eclesial. Levando-se em conta que esta dinâmica é continuada ano a ano, temos um processo de acompanhamento e de envolvimento com a pro-

Vista aérea da Casa do Mobon Dom Cavati, MG

posta da Igreja. Isto também é um fator de fortalecimento da comunhão. 2. Fortalecimento da comunhão eclesial Os temas estudados são a proposta da Igreja para a Campanha da Fraternidade e para o Mês da Bíblia. Isto coloca os leigos em sintonia com o momento eclesial da Igreja e os leva, nas palavras de Santo Inácio, a “sentir com a Igreja”. Em alguns grupos, pastorais e, sobretudo, em alguns movimentos da Igreja, costuma-se passar ao largo destas propostas da CNBB. Em geral, voltam-se para o que é específico de seu grupo e acabam por enfraquecer a coolutador [ março ] 2016 • 7 ]

munhão eclesial. Isto é facilmente notado pela pouca importância dada às Campanhas da Fraternidade e pelo fato de não abraçar as iniciativas propostas pela Igreja. Recordando uma palavra do Papa Francisco: “Não quero uma Igreja preocupada com ser o centro, e que acaba presa num emaranhado de obsessões e procedimentos”. (EG 49) Este trabalho missionário de leigo evangelizando leigo favorece a comunhão eclesial tanto no seu sentido universal como em seu sentido particular. Ou seja, fortalece a comunhão com a Igreja enquanto instituição, conduzida por seus pastores, por procurar estudar, abraçar e dinamizar aquilo que é proposto pela Igreja do Brasil. Por outro lado, faz esta proposta chegar às várias comunidades de uma paróquia, reforçando a comunhão horizontal em cada comunidade, em cada paróquia e em cada diocese. Às vezes, em um único fim de semana, encontramos todas as comunidades de uma paróquia refletindo o mesmo assunto, aprofundando o mesmo tema, abrangendo até grande parte da diocese. Um exercício de comunhão que reforça o sentido de ser Igreja, na qual, “leigos e leigas devem crescer na consciência de vocacionados a “ser Igreja” e precisam dispor de espaço para atuarem na comunidade, assumindo sua participação na cons-

[▶


Capa [ Leigo evangelizando leigo... [▶trução da comunidade de comunida-

des”. (CNBB. Doc. 100, nº 104.) Ao ver que esta dinâmica atinge muitas paróquias de uma mesma diocese, temos o trabalho de formação e evangelização crescendo e fazendo a Igreja crescer. Eis também uma força para o despertar de novos missionários. 3. Despertar de novos missionários Quando um leigo tem a coragem de se colocar à frente dos outros e, superando suas dificuldades pessoais, e até aquelas decorrentes da falta de maiores estudos, sendo capaz de transmitir uma boa nova de modo simples e profundo, ele naturalmente desperta novos missionários. Funciona como um eco daquela voz interior que diz: “Se ele pode, eu também posso”. É o momento em que o exemplo e o testemunho falam por si. Assim, homens e mulheres, jovens, adultos e idosos, encontram-se animados neste serviço de evangelização. E foi assim, participando de um desses encontros na comunidade, que muitos se despertaram para assumir trabalhos na catequese, a participação maior em uma pastoral, e também despertaram para participar das preparações e se tornarem também multiplicares dos encontros. Hoje, é comum encontrarmos leigos que preparam outras lideranças leigas nos Cursos da Campanha da Fraternidade e do Mês da Bíblia. O trabalho tem uma sequência que influência positivamente na autonomia missionária do leigo. Ele não é um simples “repetidor” pontual. É um discípulo missionário que pensa e ajuda a comunidade a pensar em sintonia com a caminhada da Igreja. Outro fator muito significativo é que aqueles que entram nesta dinâmica, por toda parte aonde vão, mesmo que mudem de Paróquia ou passem para outra Diocese, levam consigo esse ardor, essa vontade de continuar contribuindo com o avanço e o crescimento da Igreja.

Neste sentido, João Resende, Missionário Sacramentino e um dos animadores do MOBON desde as suas origens, destaca: “Eles carregam uma inquietação missionária, como quem sabe esperar, mas não desistem. Este é o caso de resistência e perseverança encontrados nos leigos da Cidade Industrial, na Grande BH, em várias paróquias das dioceses de Cáceres e Sinop, MT, e em algumas localidades no Estado de Rondônia. Trata-se do empoderamento eclesial e cívico do leigo”. Ele ainda acrescenta: “Em 1978, num curso de formação missionária em Caxias do Sul, RS, diante da experiência do trabalho da Boa Nova, os peritos constataram que este trabalho de leigo evangelizando leigo faz a aproximação do leigo com a Palavra de Deus na vida. E quando isto acontece ninguém segura mais. É a autonomia do leigo, assumindo seu discipulado missionário.”1 Por uma Igreja toda missionária Esta dinâmica é acessível, não envolve grandes investimentos e favorece um grande fortalecimento da caminhada dos leigos e da animação das comunidades. Funciona como uma espécie de formação continuada, mas que não dá diploma ou certificado. Assim, evidencia o caráter de serviço na igualdade com os outros. Quem aplica os cursos não é mais importante que aquele que dele participa. Todos são servidores do Evangelho, servidores da Igreja. Esta dinâmica também favorece a comunhão com as propostas da Igreja e a comunhão entre as comunidades. E leva os leigos a um maior engajamento na vida eclesial e social. Com leigos evangelizando leigos, vemos a força da Palavra agindo no meio das comunidades e seguindo o apelo do Papa Francisco: “Não deixemos que nos roubem a força missionária!” (EG, 109)] * Mestre em Teologia pela FAJE-BH 1. Depoimento colhido através de trocas de e-mails em 04/02/2015.

[ 8 • olutador [ março ] 2016

D om E dson O riolo *

P

articipando de um curso sobre Leader and Professional Coach, no mês de março de 2015, com a presença de alguns líderes de diferentes denominações cristãs, escutei pela primeira vez, o termo “evangelização através de células”. Fiquei muito interessado em saber sobre esta maneira de evangelizar, extremamente missionária, que vem abrangendo várias denominações religiosas especialmente algumas correntes evangélicas. Por outro lado, algumas paróquias da nossa Igreja também vêm usando esta metodologia para evangelizar. Foi na Coréia, com um ministro evangélico Paul Cho, ligado à Assembleia de Deus, que nasceu uma fórmula extremamente missionária, um método de evangelização: a organização em células. Esta estratégia de reuniões nas casas dos membros fazia com que uma Igreja crescesse bastante, sendo um polo de crescimento, de encontro e evangelização. Um sacerdote americano, o Pe. Michael Eiveres, de alguma maneira catolicizou o método e, com êxito, importou-o à sua paróquia. Assim sendo, no ano de 1987, Pe. Pigi Perini, Pároco de S. Eustórgio, em Milão, foi conhecer a Paróquia de São Bonifácio, em Pembroke Pines, na Arquidiocese de Miami, e aderiu radicalmente a este método de evangelização. Nós católicos entendemos que este método tem como fonte a exortação apostólica de Paulo VI Evangelli Nuntiandi, cuja preocupação é dar uma consciência missionária a toda a ação da Igreja e fazer com que toda comunidade paroquial seja missionária. Para solidificar esta realidade podemos avaliar as intuições do Papa Francisco, quando era Arcebispo de Buenos Aires. Em uma entrevista, seu sucessor, o atual Arcebispo D. Mario Aurélio Poli, disse que o Papa Bergoglio é um homem de grande oração, amizade cordial e sincera, que nos faz sentir muito bem ao seu lado e desempenha uma importante obra pastoral. É um mestre pastor. Ele sempre teve uma grande preocupação e quis que


Igreja Hoje [ Todos que abraçaram a fé...

As células: uma metodologia para ajudar na evangelização, fazendo de nossas paróquias uma rede de comunidades

tica, levam-nos a vivenciar as Diretrizes Gerais da Ação Pastoral da Igreja no Brasil quando falam de “paróquia, comunidade de comunidades”. Para tanto, segundo ele, a “célula” precisa: a) Ser missionária; b) Ir ao encontro de todos para anunciar

a beleza do Evangelho; c) Tornar-se uma família na qual se en-

em cada paróquia houvesse dois ou três sacerdotes, para ter uma forte presença da Igreja entre as pessoas e lugares e para guiar também a piedade popular. O Bispo de Roma fala de “uma Igreja em saída de si mesma”. A Igreja “em saída” é uma Igreja com as portas abertas. Sair em direção aos outros para chegar às periferias humanas não significa correr pelo mundo sem direção nem sentido (cf. EG, 46). Na Igreja com as portas abertas “todos podem participar, de alguma forma, da vida eclesial, todos podem fazer parte da comunidade, e nem sequer as portas dos sacramentos se deveriam fechar por uma razão qualquer”. (EG, 47.)

Para que tudo isso possa acontecer, o próprio Papa Francisco afirma que os agentes pastorais estejam “em atitude de saída” (cf. EG, 27) e sejam ousados em tomar iniciativas (cf. EG, 24) e que contraiam o “cheiro das ovelhas”. São pistas, diretrizes, abertura de horizonte para a vida paroquial na constituição de células paroquiais. O Papa Francisco, em setembro de 2015, apontou pistas para entender nossa ação evangelizadora nesta perspectiva, fazendo um discurso aos membros das células paroquiais de evangelização. Na ocasião, trouxe alguns pontos que nos ajudam a entender sua eclesiologia de uma Igreja em Saída que, colocados em práolutador [ março ] 2016 • 9 ]

contra a rica e multiforme realidade da Igreja (cf. LG, 8); d) Realizar o encontro nas casas para compartilhar as alegrias e as expectativas que estão presentes no coração de cada pessoa; e) Aproximar-se de cada pessoa, pois é uma experiência genuína de evangelização que se assemelha muito ao que já acontecia nos primeiros tempos da Igreja; f) Conviver com as pessoas em simplicidade, acolhendo a todos; g) Fazer da Eucaristia o âmago da missão evangelizadora, de tal forma que cada célula seja uma comunidade eucarística, onde partir o pão equivale a reconhecer a presença real de Jesus Cristo no meio de nós; h) Dar sempre testemunho da ternura de Deus Pai e da sua proximidade a todos, principalmente a quantos são mais frágeis e sós. Assim, podemos afirmar que a estruturação da Igreja em células aproxima-a do primeiro retrato das comunidades cristãs apresentado por Lucas em de At 2,42.44-47: “Eram perseverantes em ouvir o ensinamento dos apóstolos, na comunhão fraterna, no partir do pão e nas orações. Todos que abraçaram a fé eram unidos e colocavam em comum todas as coisas. Diariamente, frequentavam o Templo e nas casas partiam o pão, tomando alimento com alegria e simplicidade de coração. Louvavam a Deus e eram estimados por todo o povo. E a cada dia o Senhor acrescentava à comunidade outras pessoas que iam aceitando a salvação”.] * Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte, MG


Igreja Hoje [ Em quê o Vaticano II mudou a Igreja [ 5 ]

De uma Igreja universalista A uma Igreja de Igrejas locais P e . Agenor B righenti

A concepção de Igreja “antes” do Vaticano II Com relação à concepção de Igreja, há um “antes” e um “depois” do Vaticano II. A eclesiologia pré-conciliar parte da existência de uma suposta Igreja Universal, que precede e acontece nas Igrejas Locais, da qual o Papa é o representante e o garante. Dado que as Dioceses são “parcelas” da Igreja universal, o Papa é uma espécie de “bispo dos bispos”, e estes, seus colaboradores. Não há relação e compromissos entre as Dioceses, apenas do Bispo com o Papa, através da visita ad limina a cada cinco anos. No seio da Diocese, concebida como “parcela” do Povo de Deus, com o advento do feudalismo medieval, darse-á a passagem de um cristianismo bem estruturado ao redor do Bispo no seio da Igreja Local, a um cristianismo fragmentado em Paróquias rurais distantes, organizado em torno ao pres-

F/arq., sdn

P

ara o teólogo alemão K. Rahner, perito do Concílio, a principal mudança do Vaticano II foi a superação de uma “Igreja universalista”, através do resgate da Igreja Local, ou seja, da Diocese como “porção” e não “parte” do povo de Deus (a porção contém o todo, a parte não). Com isso, o Concílio ressitua o Papa no seio do Colégio Apostólico, a Paróquia e os Movimentos no interior da Igreja Local, e esta, no âmbito de uma Igreja de Igrejas Locais, de Dioceses em comunhão entre si. Passados cinquenta anos desta arrojada mudança na concepção de Igreja, na eclesiologia, que exige profundas reformas, também nas estruturas, infelizmente, não se avançou muito.

bítero. O Bispo terá seu papel pastoral diminuído e sua função sociopolítica valorizada. Já o presbítero tenderá a ser bispo em sua paróquia. O Bispo terá muito da figura do príncipe, e o presbítero, do senhor feudal. Com a Diocese transformada em sucursal de Roma, a universalidade da Igreja irá se confundir com a particularidade romana, que se sobrepõe às demais particularidades. Católico é sinônimo de romano. A concepção de Igreja do Vaticano II Já na eclesiologia conciliar, a preexistência de uma suposta Igreja Universal, que precede e acontece nas Igrejas Locais, é uma abstração teológica, ou melhor, uma ficção eclesiológica. Não existe Igreja nem anterior, nem exterior às Igrejas Locais. Por um lado, em cada Diocese, enquanto “porção” do Povo de Deus e não “parcela”, está “a Igreja toda”, pois cada Igreja Local é depositária da totalidade do mistério de salvação: ‘’Na Igreja Local, se

[ 10 • olutador [ março ] 2016

encontra e opera verdadeiramente a Igreja de Cristo que é uma, santa, católica e apostólica’’ (CD 11). Por outro lado, dado que nenhuma Igreja Local esgota este mistério, na Diocese está a “Igreja toda”, mas ela não é “toda a Igreja”, dado que a universalidade da Igreja implica a comunhão das Dioceses entre si. Aqui se funda a solicitude do Bispo de uma Igreja Local pelas demais Igrejas, o exercício de seu ministério no seio do Colégio Apostólico e o ministério do Papa, que preside a comunhão das Igrejas, como um primus inter pares. Quanto à Paróquia, ela passa a ser concebida como “célula” da Diocese, em comunhão com as demais paróquias de sua Igreja Local, e o presbítero, membro de seu presbitério, presidido pelo Bispo. Consequências da reforma eclesiológica do Vaticano II A concepção de Igreja do Vaticano II tem consequências desafiantes para


A paróquia que se isola da Diocese e não está em comunhão com as demais Paróquias deixa de ser Igreja.

Assim como o padre que se isola de seu presbitério perde sua legitimidade. Por sua vez, a superação do universalismo dos Movimentos implica também sua inserção na Igreja Local. Como não existe Igreja nem anterior, nem exterior às Igrejas Locais, um Movimento só é de Igreja, na medida em que conceber e realizar sua missão a partir da realidade e das necessidades da Diocese onde seus membros vivem, em sintonia com o plano diocesano de pastoral.]

F/reprodução

o ser e o agir da Igreja. Em primeiro lugar, significa o fim do centralismo romano, o que implica a reforma da Cúria Romana e do próprio ministério petrino. Paulo VI havia começado o processo, mas não conseguiu levá-lo adiante. Na atualidade, o Papa Francisco está empreendendo esta ardorosa tarefa, que passa também pela redefinição do papel do Sínodo dos Bispos e das Conferências Episcopais, que, além de mais autonomia, precisam exercer também um papel magisterial. Em segundo lugar, o resgate da totalidade da Igreja na particularidade das Igrejas Locais implica a configuração da Diocese como uma Igreja autóctone, com rosto próprio, inculturada em seu próprio contexto. A Igreja, quanto mais encarnada em cada cultura, tanto mais ela é universal e católica. E, ao inverso, quanto mais encarnada numa única cultura e presente deste modo nas demais culturas, tanto menos católica e universal ela é. A terceira consequência da reforma eclesiológica do Vaticano II diz respeito à superação do paroquialismo e do universalismo dos Movimentos. A superação do paroquialismo pressupõe a inserção da Paróquia na pastoral de conjunto da Diocese, e do presbítero em seu presbitério.

Educação e arte S ilene T ere z a da S ilva

S

empre falamos que a educação é uma arte porque nela encontramos a arte do saber, do falar, do agir e da revelação de vários saberes. Ser professor hoje é ser um grande artista. É preciso saber lidar com as diferenças existentes dentro e fora da sala de aula, e muitas vezes não é fácil encarar tais situações, mas é preciso. No mundo da arte e da educação encontramos vários artistas que pintam seus quadros de várias formas, modelos e cores. Estes quadros são os alunos, cada um com seu jeito diferente, mas com o mesmo objetivo, que é aprender e ser destaque no mundo atual. Assim, cabe a nós, professores, pintar estes quadros da melhor maneira possível, dando-lhes bons acabamentos, lindas molduras e sempre os colocando como fator principal, e desse modo fazer a diferença. A educação é uma verdadeira arte. Assim como o oleiro transforma o barro, o professor faz do seu aluno um grande profissional, pois olutador [ março ] 2016 • 11 ]

a cada hora ele está sempre moldando, orientando e incentivando. O sucesso do aluno é o mérito do professor, e é através desse sucesso que o educador alcança objetivos e metas em sua carreira profissional. Ser mestre é saber moldar, é ajudar o outro a crescer como pessoa, é ir sempre em busca de algo que está a nossa frente. Todo mestre tem o grande desejo de ver seu aluno desenvolvendo projetos de vida, realizando algo tão desejado, que muitas vezes vem desde a infância, mas que só se concretiza depois de adulto, depois de ter e enfrentando os grandes desafios que a vida proporciona. Na vida educacional encontramos muitos desafios, tanto por parte do professor como por parte do aluno, mas que são superados através do modo como são trabalhados em sala de aula. Eis aí a arte de educar.] * Pedagoga, pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Caruaru, PE. Pós-Graduada em Gestão Escolar pela Faculdade de Administração e Negócios de Sergipe.


Religião [ À luz da Palavra...

N

uma roda de amigos, alguém mostrou uma fotografia em que se via um homem de rosto severo, com o dedo levantado, quase agredindo o público. Todos tiveram a impressão de que se tratava de uma pessoa antipática, inflexível, que não permitia intimidade. Parecia mesmo um homem mau. Nesse momento, chegou um rapaz, viu a fotografia e exclamou: ‘É meu pai!’ Os outros olharam para ele e, apontando a fotografia, comentaram: ‘Pai severo, hein?!’ Mas ele respondeu: ‘Não! Não é não! Ele é muito carinhoso. Meu pai é advogado. Esta fotografia foi tirada no tribunal, quando ele denunciava o crime de um homem poderoso, um latifundiário que queria despejar uma família pobre de um terreno baldio da prefeitura, onde ela estava morando havia vários anos. Meu pai ganhou a causa, e os pobres não foram despejados!’ Todos olharam de novo e disseram: ‘Que fotografia bonita! Que homem simpático!’ Como por um milagre, a foto se iluminou e tomou outro aspecto. Aquele rosto tão severo adquiriu traços de uma grande ternura! As palavras do filho mudaram tudo, sem mudar nada!” Frei Carlos Mesters conta essa história para falar da Bíblia. Ela nos mostra a fotografia de Deus e da vida do povo de Deus. Se a gente não conhece o contexto, o tempo em que foi escrita, quem escreveu e para quem foi escrita, podemos ter uma visão distorcida de Deus e da religião. É por isso que nós a lemos procurando ver além das palavras e além dos fatos. Vivendo ainda o contexto do Sínodo dos bispos sobre a família, a Igreja e, de um modo muito especial, o Papa Francisco, querem justamente assumir um olhar diferente. Nos depoimentos, no levantamento da realidade mundial, nos pronunciamentos do Pastor e de outros, sempre se destacam palavras que são essenciais: acolhimento, respeito, misericórdia, esperança, solidariedade. Sem esquecer a fidelidade, o compromisso, a sacralidade.

Um novo olhar F/reprodução

P e . J os é A nt ô nio de O liveira*

Esse novo olhar é fundamental para os tempos de hoje, tão mudados. Os contextos mudam. A maneira de ver e julgar precisa também mudar. Nas bodas de Caná, Jesus usa justamente do casamento pra falar da sua nova proposta. O que está vazio de sentido, o que já não é motivo de alegria, onde a lei substitui o amor e a misericórdia, ali a transformação é necessária e urgente. Jesus é quem melhor nos revela o verdadeiro rosto do Pai. Duro com os injustos e exploradores; cheio de ternura com os pobres e sofredores. Quando os antigos viam em Deus um Juiz severo, capaz de castigar gerações, e o viam apenas como o “Senhor Deus dos exércitos”, Jesus vem nos dizer que Deus caminha conosco, é papai, alguém que sabe dar o que há de melhor para os seus filhos e filhas. Um Deus justo e misericordioso, que nos ama com ternura de mãe, nos educa e dá a vida por nós. Sua vontade é que todos tenham vida e que ninguém se perca. Ele é capaz de entregar tudo para nos salvar do mal. “Deus amou tanto o mundo, que entregou seu Filho...”

[ 12 • olutador [ março ] 2016

Sem mudar nada, Ele muda tudo; nos ajuda a olhar a Bíblia, Deus e os irmãos com outros olhos. “Não vim abolir a Lei, mas darlhe pleno cumprimento.” Mostra como a lei está a serviço da pessoa e da vida, quando os mestres da lei a usavam contra os pequenos e pobres. Ensina-nos a olhar a Bíblia como caminho de vida e história de salvação. Ajuda-nos a ver nela o mapa que nos conduz pelos caminhos da justiça e da fraternidade, muito mais do que da condenação. À luz da Palavra e da vida de Jesus, encontramos na Sagrada Escritura o rosto materno de Deus; a fotografia do Pai que corrige e orienta, defende os órfãos e as viúvas, condena com severidade a injustiça, mas ama e perdoa a bons e maus. É a partir do jeito de Jesus que a Igreja, movida pelo Espírito que renova todas as coisas, conseguirá ser uma verdadeira mãe para todos, inclusive e sobretudo para aquelas famílias que enfrentam tantos desafios, tanto sofrimento e que, mais do que dedos apontados, carece de mãos estendidas e corações abertos.] * zeantonioliveira@hotmail.com


Religião [ Ser feliz e ter felicidade...

Buscar a felicidade é muito simples. Basta querer! P e . R eginaldo M an z otti*

sas, conflitivas, problemáticas e que quase não mostram relações saudáveis que possam servir de estímulos para a construção de uma relação verdadeira.

tes e façam tudo o que puderem para sempre reavivar a chama do sentimento que um dia fez com que quisessem passar a vida inteira juntos.

Perdoem-se sempre O perdão é o remédio para a cura espiritual do ser humano. O perdão liberta e nos devolve a paz. Ao se perdoarem sobre algo que os magoou e acertarem como devem agir a partir daí, não toquem mais no assunto.

Na vida de fé Devemos dar graças ao Senhor e confiar a Ele nossas preocupações por meio de nossas orações, conforme São Paulo recomenda: “Não vos inquieteis com nada! Em todas as circunstâncias, apresentai a Deus as vossas preocupações, mediante a oração, as súplicas e a ação de graças”. (Fl 4,6.) O Espírito Santo, que ensina a Igreja e a faz recordar de tudo o que Jesus disse, também educa para a vida de fé. Estas são apenas algumas orientações em algumas áreas importantes da vida que nos proporcionarão um ano melhor e uma vida mais feliz.]

Mantenham o respeito Busquem focar a atenção naquilo que os une, nos pontos comuns. Rezem um pelo outro e busquem seguir com o olhar para o mesmo horizonte. O sucesso ou o fracasso da relação depende de quem faz parte dela, ou seja, o casal. Não abandonem o barco antes de começarem a remar. Não desistam na primeira dificuldade. Sejam persisten-

* www.padrereginaldomanzotti.org.br fb.com/padrereginaldomanzotti

F/reprodução

É

tempo de renovar as esperanças, fazer novos planos, traçar metas em todas as áreas de nossa vida. Com certeza, Deus nos reserva muitas graças e nos quer felizes, mas pelo livre arbítrio que nos concedeu, tudo dependerá do nosso esforço pessoal e disciplina. Sempre é possível avançar mais rumo àquilo que Deus pensou para nós e Jesus veio revelar: uma vida plena e abundante. A Igreja sempre reconheceu e exaltou a importância da família para a construção de uma sociedade equilibrada, justa e fraterna. São João Paulo II a descrevia como a célula-mãe da sociedade e a conclamava a ser um santuário de amor, uma pequena Igreja doméstica. Atualmente, um dos grandes desafios que ronda as famílias é a influência negativa, especialmente pela mídia pejorativa, onde há muito empenho em mostrar situações desastro-

olutador [ março ] 2016 • 13 ]


Bíblia [ Inspiração divina da Sagrada Escritura e sua interpretação...

A exortação Dei Verbum grada Escritura, do final do século XIX até o Sínodo sobre a Palavra de Deus, do qual nasceu a Exortação Apostólica Pós-Sinodal Verbum Domini. No último artigo, começamos a falar sobre o contexto da Constituição Dogmática Dei Verbum, do Concílio Vaticano II.

O movimento bíblico e o movimento ecumênico, que ganharam corpo na Europa, especialmente em torno e depois da Segunda Guerra mundial, tiveram papel fundamental na construção da Dei Verbum. Para a Igreja do Brasil, por outro lado, aconteceu uma experiência ímpar: em Roma, F/arq., sdn

N

esta coluna, estamos tentando conhecer melhor os passos dados pela Igreja Católica no que diz respeito à compreensão da comunicação de Deus conosco e, de maneira especial, sobre a Sa-

D om Paulo Jackson N ó brega de S ousa *

[ 14 • olutador [ março ] 2016

Estudo Bíblico em Kavungo, Diocese de Luena, Angola - África


F/arq., sdn

durante as sessões do Concílio, os bispos do Brasil aproveitaram para se atualizar sobre as grandes discussões teológicas do momento, utilizando a contribuição dos próprios peritos que assessoravam o Concílio. Durante a primeira sessão do Concílio, houve muitos problemas na condução dos trabalhos. Nos meses antes da morte do Papa João XXIII, devido à sua fragilidade física, ficou claro o desejo de a Cúria Romana se sobrepor ao Papa e retroceder com o andamento do Concílio. O primeiro esquema sobre a Revelação, preparado pela Comissão Teológica, chamou-se “Sobre as fontes da Revelação”. Não conseguiu captar o espírito do Concílio como proposto por João XXIII. Por isso, foi fragorosamente rejeitado pelos bispos. Depois da morte de João XXIII, o clima do conclave, na verdade, era não somente para a escolha de um novo Papa, mas de decisão sobre os rumos futuros do Concílio. Foi eleito o Cardeal Montini, Arcebispo de Milão, o futuro Papa Paulo VI, que decide pela manutenção do cronograma do Concílio. No tocante ao documento sobre a Revelação, foi composta uma comissão mista para elaborar novo esquema (o segundo), chamado “Sobre a divina Revelação”. O projeto foi enviado aos bispos do mundo inteiro entre a primeira e a segunda sessão. Recebeu, também este, uma enxurrada de críticas. Praticamente, nem chegou a ser discutido na segunda sessão, por ter sido rejeitado pelos comentários escritos. Foi feita uma nova redação do esquema (a terceira) e enviada aos bispos, sendo discutida na Sala Conciliar na terceira sessão, em 1964. Finalmente, o texto foi corrigido e emendado, dando origem à Constituição Dogmática Dei Verbum (A Palavra de Deus), aprovada na quarta sessão, no dia 18/11/1965, com 2.344 votos a favor e 6 contra. Além de um proêmio e um epílogo, a Constituição Dogmática Dei

Verbum está estruturada em seis partes, da seguinte forma: 1) A revelação como tal; 2) A transmissão da divina revelação; 3) Inspiração divina da Sagrada Escritura e sua interpretação; 4) O Antigo Testamento; 5) O Novo Testamento; 6) A Sagrada Escritura na vida da Igreja. Podem ser percebidas algumas intuições teológicos subjacentes à Dei Verbum. Entre elas, destacam-se: 1) a relação entre a pregação de Cristo e sua transmissão pela Igreja; 2) a suficiência da Sagrada Escritura; 3) a Tradição como um processo vivo de uma compreensão progressiva da verdade revelada; 4) a consciência de que o Magistério não está acima da Palavra de Deus, mas deve interpretá-la autenticamente; 5) a discussão sobre a/as fonte/s da Revelação; 6) a relação entre exegese e teologia sistemática; 7) a necessidade de beber dos mananciais da Sagrada Escritura e da Patrística; 8) a Palavra de Deus como ponte do diálogo entre católicos e protestantes; 9) releituras dos conceitos de inspiração, inerrância e autoria;

10) a problemática da historicidade da Bíblia e o uso de gêneros literários.

Eis algumas características globais do documento: 1) A Dei Verbum é um documento com forte teor cristocêntrico, pois Jesus Cristo é a plenitude da Revelação. Como ele é uma pessoa, a Revelação torna-se um diálogo pessoal entre Deus e o ser humano. 2) Há nítida tendência à unidade e à síntese: Tradição e Escritura; Palavra de Deus e Magistério; Magistério e povo; Palavra e Eucaristia; palavra divina e linguagem humana; etc. 3) Sua linguagem é menos dogmático-conceitual e mais histórica, bíblica e patrística. 4) Finalmente, uma das grandes marcas da Dei Verbum foi o forte interesse ecumênico, com a superação da postural apologética e das controvérsias confessionais.] * Bispo da Diocese de Garanhuns, PE, e Doutor em Teologia Bíblica

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Livro indicado [ Concílio Vaticano II ] – 2ª edição –

henrique cristiano josé mattos

A celebração dos 50 anos da Abertura do Concílio Vaticano II (11-101962), oferece uma oportunidade singular para conhecermos, em maior profundidade, sua história e seu riquíssimo legado. Mergulhar na herança do Vaticano II nos faz ser mais Igreja, tornando-nos homens e mulheres que querem ser verdadeiros discípulosmissionários, experimentando que exatamente nessa condição serão felizes e encontrarão o sentido pleno de sua existência. FORMATO: 17x24cm, 160p.

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Família [ Na família, cultivam-se os primeiros hábitos de amor e cuidado da v

Família,

lugar privilegiado da educação ecológica F/arq., sdn

P e . S ebasti ão S ant´A na S ilva , S D N *

É

admirável como o Papa Francisco conseguiu despertar, dentro e fora da Igreja, expectativas inesperadas, “rompendo a dinâmica em que vivemos estes últimos anos e criando um clima de esperança nas pessoas”. (J. A. Pagola)

O mundo acolheu, agradecido, a Encíclica “Laudato Si”, onde Francisco ofereceu, de maneira bem fundamentada, uma visão integral da ecologia, mostrando o que está acontecendo com a nossa “casa comum”. À luz do evangelho da Criação, apontou a raiz humana da crise [ 16 • olutador [ março ] 2016

ecológica, propôs uma ecologia integral, ofereceu algumas linhas de orientação e ação nessa área e, por fim, brindou-nos com sua rica visão sobre a educação e a espiritualidade ecológicas. Sua mensagem favoreceu entendermos melhor a proposta da Campanha


ado da vida... da Fraternidade 2016: “Casa comum, nossa responsabilidade”, com foco no saneamento básico e na justiça social. Assumir a conversão ecológica Segundo o Papa Francisco, a educação ambiental, no começo, estava muito centrada na informação científica e na conscientização e prevenção dos riscos ambientais; “agora, tende a incluir uma crítica dos ‘mitos’ da modernidade baseados na razão instrumental (individualismo, progresso ilimitado, concorrência, consumismo, mercado sem regras) e tende também a recuperar os distintos níveis de equilíbrio ecológico: o interior consigo mesmo, o solidário com os outros, o natural com todos os seres vivos, o espiritual com Deus”. (LS, 210) Não bastam leis e normas ou ter informações sobre a ecologia, mas é preciso que as pessoas, a partir de motivações adequadas, assumam verdadeira conversão ecológica. O Papa mostra que é muito nobre assumir o dever

A família é o lugar da formação integral de cuidar da Criação com pequenas ações diárias, e é maravilhoso que a educação seja capaz de motivar para elas até dar forma a um estilo de vida. Pequenos gestos que transformam Para começar, Francisco sugere partir de ações simples, bem concretas: Mostra que “a educação na responsabilidade ambiental pode incentivar vários comportamentos que têm incidência direta e importante no cuidado do meio ambiente, tais como evitar o uso de plástico e papel, reduzir o consumo de água, diferenciar o lixo, cozinhar apenas aquilo que razoavelmente se poderá comer, tratar com

desvelo os outros seres vivos, servir-se dos transportes públicos ou partilhar o mesmo veículo com várias pessoas, plantar árvores, apagar as luzes desnecessárias… Tudo isto faz parte duma criatividade generosa e dignificante, que põe a descoberto o melhor do ser humano. Voltar – com base em motivações profundas – a utilizar algo em vez de o desperdiçar rapidamente, pode ser um ato de amor que exprime a nossa dignidade”. (LS, 211) O Papa prossegue: “E não se pense que estes esforços são incapazes de mudar o mundo. Estas ações espalham, na sociedade, um bem que frutifica sempre para além do que é possível constatar; provocam, no seio desta terra, um bem que sempre tende a difundir-se, por vezes invisivelmente. Além disso, o exercício destes comportamentos restitui-nos o sentimento da nossa dignidade, leva-nos a uma maior profundidade existencial, permite-nos experimentar que vale a pena a nossa passagem por este mundo”. (LS, 212) Família e educação ecológica Após ressaltar os vários âmbitos educativos – a escola, os meios de comunicação, a catequese, e outros – Papa Francisco destaca “a importância central da família, porque é o lugar onde a vida, dom de Deus, pode ser convenientemente acolhida e protegida contra os múltiplos ataques a que está exposta, e pode desenvolver-se segundo as exigências de um crescimento humano autêntico. Contra a denominada cultura da morte, a família constitui a sede da cultura da vida. Na família, cultivam-se os primeiros hábitos de amor e cuidado da vida, como, por exemplo, o uso correto das coisas, a ordem e a limpeza, o respeito pelo ecossistema local e a proteção de todas as criaturas. A família é o lugar da formação integral, onde se desenvolvem os distintos aspectos, intimamente relacionados entre si, do amadurecimento pessoal. Na família, aprendese a pedir licença sem servilismo, a diolutador [ março ] 2016 • 17 ]

zer ‘obrigado’ como expressão duma sentida avaliação das coisas que recebemos, a dominar a agressividade ou a ganância, e a pedir desculpa quando fazemos algo de mal. Estes pequenos gestos de sincera cortesia ajudam a construir uma cultura da vida compartilhada e do respeito pelo que nos rodeia”. (LS, 213) Uma profunda conversão ecológica O Papa está convencido de que “a crise ecológica é um apelo a uma profunda conversão interior”. Constata, entretanto, “que alguns cristãos, até comprometidos e piedosos, com o pretexto do realismo pragmático, frequentemente se burlam das preocupações pelo meio ambiente. Outros são passivos, não se decidem a mudar os seus hábitos e tornam-se incoerentes. Falta-lhes, pois, uma conversão ecológica, que comporta deixar emergir, nas relações com o mundo que os rodeia, todas as consequências do encontro com Jesus. Viver a vocação de guardiões da obra de Deus não é algo de opcional nem um aspecto secundário da experiência cristã, mas parte essencial duma existência virtuosa”. (LS, 217) Francisco reconhece que, para se resolver uma situação tão complexa como esta que enfrenta o mundo atual, não basta que cada um seja melhor. “Os indivíduos isolados podem perder a capacidade e a liberdade de vencer a lógica da razão instrumental e acabam por sucumbir a um consumismo sem ética nem sentido social e ambiental. Aos problemas sociais responde-se, não com a mera soma de bens individuais, mas com redes comunitárias. Será necessária uma união de forças e uma unidade de contribuições”. Francisco passa-nos a convicção de que “a conversão ecológica, que se requer para criar um dinamismo de mudança duradoura, é também uma conversão comunitária”. (LS, 219)] * Pároco da Paróquia São Sebastião, de Espera Feliz, MG


Imagem Periodistadigital

Catequese [ Um só corpo...

Eucaristia

para formar um só corpo P e . Aureliano de M oura L ima , S D N *

“O cálice de bênção que abençoamos não é comunhão com o sangue de Cristo? O pão que partimos não é comunhão com o Corpo de Cristo? Já que há um único pão, nós, embora muitos, somos um só corpo, visto que todos participamos desse único pão.” (1Cor 10,16-17.)

[ 18 • olutador [ março ] 2016


A

O Sacramento da comunhão Eucaristia é o sacramento que faz a Igreja. Participar do cálice de bênção e do pão partido é tornar viva e dinâmica a presença de Jesus em nosso meio. Enquanto a comunidade participa e celebra a vida de Jesus, ela está continuando a sua missão. E a grande obra de Jesus foi a de revelar o rosto misericordioso do Pai, que não quer que ninguém se perca (cf. 1Tm 2,4). Conhecedor das intrigas, ciúmes e divisões presentes no coração humano, que retardam a concretização do Reino, Jesus rezou: “Que todos sejam um. Como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, que estejam em nós, para que o mundo creia”. (Jo 17,21.) Criar, gerar, promover comunhão na comunidade cristã não se faz como num passe de mágica, não é obra de um dia. É algo que deve ser constantemente construído. É preciso de ternura para perceber e acolher o outro na sua fraqueza e fragilidade; é preciso de sensibilidade e intuição para captar as necessidades, as luzes e sombras que surgem na comunidade; é preciso de muita humildade para acolher e aceitar as diferenças, bem como perceber a riqueza que elas podem trazer; é preciso de muita abertura para ouvir queixas, reclamações, opiniões discordantes; é preciso muito espírito de oração, de comunhão e intimidade com Deus para percebermos, cada vez mais, que a missão é d’Ele, que a comunidade é d’Ele, que a Igreja é d’Ele, que o trabalho que realizamos é missão que Ele nos confiou: “Evangelizar não é um título de glória para mim, mas uma necessidade que se me impõe”. (1Cor 9,16.) Tomado, partido, doado Estando à mesa com os seus discípulos, Jesus “tomou o pão, partiu e o deu aos seus discípulos”. Portanto, Eucaristia é pão, corpo tomado, partido, doado... é sangue derramado (cf. Lc 22,1920). Também o cristão que participa da mesa do Senhor deve sentir-se, no

seu dia a dia, tomado, isto é, consagrado por Deus no batismo para a missão; partido e repartido para os irmãos (nas dificuldades da missão, nas crises, nas lágrimas, no suor, na falta de reconhecimento, nas ingratidões, quando tem que abrir mão do que gosta...). E, finalmente, doado: dado por Deus ao

Precisamos dar passos para uma nova compreensão da Eucaristia povo. O cristão não existe para si mesmo, existe para os irmãos. Nesta construção da comunidade e da pessoa é que a Eucaristia vai transformando a sociedade. O cristão eucaristizado vai percebendo que a sociedade que mata, que rouba, que corrompe, que sonega impostos, que acumula, que explora, que destrói precisa ser modificada. Então, ele entende aquela recomendação que São João Crisóstomo, nos idos do século IV, fazia à comunidade: “Queres honrar o Corpo de Cristo? Então não o desprezes quando o vês em andrajos. Depois de tê-lo honrado na igreja em vestes de seda, não deixes que morra de frio fora, porque não tem com que vestirse. É, de fato, o mesmo Jesus que diz: ‘Isto é o meu Corpo’ e aquele que diz: ‘Tu me viste com fome e não me deste de comer; aquilo que recusaste ao menor de meus irmãos foi a mim que o recusaste’. O corpo de Cristo na Eucaristia exige almas puras, não ornamentos preciosos. Mas no pobre, Ele pede olutador [ março ] 2016 • 19 ]

todos os teus cuidados. Comportemonos como santos: honremos o Cristo como ele mesmo quer ser honrado: a homenagem mais agradável é sempre aquela que o homenageado deseja receber, não aquela que nós queremos fazer-lhe. Pedro pensava estar honrando seu Mestre não permitindo que o Senhor lhe lavasse os pés. Entretanto, fazia exatamente o contrário. Dailhe, pois, a honra que Ele mesmo pediu, doando ao pobre o vosso dinheiro. Ainda uma vez, aquilo que Deus quer não são cálices de ouro, mas almas de ouro”. Memorial que nos incorpora a Cristo Precisamos dar passos para uma nova compreensão da Eucaristia: não mais como hóstia para ser vista (2º milênio), mas como evento salvífico, memorial da Páscoa (1º milênio) que compromete nossa vida na entrega de Cristo. O Vaticano II e as posteriores reflexões em torno da Eucaristia buscam entendê -la como “refeição festiva do Pão e do Vinho em memória do mistério pascal de Cristo”. Podemos afirmar que a meta suprema da Eucaristia não é a transformação dos dons (pão e vinho); os dons são sinais do que deve acontecer conosco. A meta suprema é a transformação das pessoas, da comunidade no Corpo de Cristo; isto é expresso na oração, pedindo ao Espírito Santo que transforme a comunidade no Corpo de Cristo (2ª epiclese). Na Eucaristia somos, pois incorporados a Cristo, e não nas coisas. A intuição que teve nosso Fundador, o Servo de Deus Pe. Júlio Maria, da dimensão missionária da Eucaristia e sua estreita relação com Maria que nos introduz na intimidade do mistério eucarístico (Cf. “Maria e a Eucaristia”, p. 55), nos convoca a reviver o gesto de Jesus sendo uma presença eucarístico-mariana no meio do povo, contagiando-o com o ardor missionário.] * S uperior G eral do I nstituto dos M ission á rios S acramentinos de N ossa S enhora .


Juventude [ A juventude...

Paz, incógnita da juventude

ou “zoação” nas happies hours? F/Isabel de Oliveira

P e . Luis Paulo Fagundes , S D N *

quando não expressa pena - “Coitados! São jovens ainda. Têm muito que aprender!” -, expressa raiva, desconfiança - “São jovens. Não se pode confiar!” E assim, juventude torna-se sinônimo de desconforto pessoal, tempo de conflitos, ausência de paz.

A juventude busca a paz em meio à agitação que expressa seu estado de espírito, seu jeito de ser

N

a vida, a juventude é a fase mais rápida e cheia de mudanças; ela reflete o momento de sua época. Algumas descobertas foram feitas e um montão de outras ainda estão por vir. É tempo de decisão. É preciso descobrir que rumo dar à vida no sentido profissional. E como é difícil decidir por essa profissão, e não por aquela! Um ar de incertezas paira pelos ares. A vivência da sexualidade está em alta. Os hormônios afloram com toda impetuosidade. Tudo está transformado! Para muitos é começo de vida sexual ativa.

Tudo parece transitório Ainda. Com a transitoriedade de tudo, novos paradigmas são exaltados e valores vão despencando. Quem primeiro sofre com tudo isso é a juventude. Ela traz consigo a marca das mudanças temporais; dá vida ao que chega, incorporando as novidades. Assim, ao ser observada, nota-se cheia de conflitos, internos e externos, e com dificuldade em conviver com o que representa o antigo. Então, diante de tudo isso, os jovens parecem não ter paz. Estão sempre em guerra, ora consigo próprios, ora com aqueles com quem convivem. E o olhar dos adultos sobre eles

[ 20 • olutador [ março ] 2016

Paz, uma necessidade de todas as idades Mas a paz é uma necessidade humana que afeta todas as idades, não somente a juventude. As crianças precisam de paz para crescerem sadias e se adaptarem no novo mundo que agora habita no meio de nós. Os adolescentes necessitam de paz para serem felizes nas descobertas que fazem em si mesmos, descobrindo o mundo. Os adultos querem paz para reestruturar o que não anda bem e traçar novas metas, e os idosos carecem de paz, pois agora, mais do que nunca, são merecedores após terem uma vi-


Q

uando a comunidade se reúne para celebrar sua fé, sua caminhada, o convite é para todos. Sabemos que o Senhor é quem nos guia, Ele nos mostra aonde chegar. Cada passo dado deve ser celebrado, cada vitória é uma conquista que nos faz ir mais longe e nos fortalece diante das dificuldades. L.

e

21. Celebrar (Mi + Pop)

M.: J a k s o n M o r e i r a

de

A lm e i d a – P e g a B e m – T a r u m i r i m , M G

F Bb C Bb F 1. Venham todos, irmãos, vamos participar / Com amor e com fé, a Javé celebrar. F7 Bb Bbm F C7 F / Ele é nosso Deus, à nossa frente vai. / Somos filhos, amados de Deus Pai. Bb C Am Dm Celebrar nossa vida em missão, / povo unido sabe onde quer chegar. Bb C Bm F C7 / Celebrar cada passo que se põe a caminhar.

2. Cristo nosso irmão vem conosco ficar, / seu exemplo convida a evangelizar. / Como o sal e o fermento, como luz das nações. / O sabor e fulgor dos corações. 3. O Espírito Santo entre nós vem morar / E derrama seus dons para nos renovar. / Uma Igreja em saída é a nossa missão. / Na Trindade haverá celebração.

[ As músicas desta seção podem ser baixadas no nosso site: olutador.org.br V ouça isite no ss as m úsi a pági da C e fique sa cas, baix na na inte asa d e as o M bendo letr rnet, cate obon. Tu da progr as cifra qu da a Refle ese, litu do isso e mação s, rg xão, galeri ia, grup muito m ais: os a de foto de www s... .m

Cantando o Direito e a Justiça 60 Cânticos para obon .org.b Pe r Edi didos de celebrações litúrgicas toe livro raencontros s: O Pç

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da de dedicação e doação em meio à turbulência da vida. A juventude busca a paz em meio à agitação que expressa seu estado de espírito, seu jeito de ser. O certo é que a juventude tem os seus meios para viver em paz! Os jovens buscam a paz em meio à agitação a que expressa seu estado de espírito, seu jeito de ser, como a criatividade, a alegria, a abertura para o novo, a capacidade para criar e adaptar. Dizer que a juventude não tem paz é desconhecê-la totalmente, é observá-la de longe sem entrar em seu mundo, pois ao dizer que precisa de paz, se faz necessário entender seu estado emocional, o que está passando na vida para saber do que esteja de fato precisando, e não a julgar somente a partir de uma percepção. Não há dúvida de que a paz é a necessária busca e o desejo de todos, mas nesse mundo de mutação, onde a subjetividade é a marca maior, a paz deixa de ser uma busca do bem comum e passa ser subjetiva também, algo muito pessoal. Sendo assim, pode-se afirmar que o lugar onde a juventude mais procura viver em paz é nas happies hours, quando está em plena agitação. Mesmo na agitação, na “zoação”, tem paz! Algo que parece ser contraditório a muitos olhares adultos. Assim, mesmo sem entender, paz para você!]

Este Canto de Entrada, em cada estrofe destaca uma das pessoas da Santíssima Trindade e sua participação na nossa caminhada. Somos filhos amados de Deus Pai; sal, fermento e luz a exemplo de Jesus; somos chamados pelo Espírito a sair como Igreja em missão.]

oD e a J ireito ustiç a MOV

IMEN

Av. Joaquim M. Magalhães 84 B. Exposição CEP 35367-000 - Matipó/MG www.studiolaboratoriomusical.blogspot.com www.sonorplay.com.br - sonorplay@hotmail.com Fones: (31) 3873-1576 / 9871-1576

olutador [ março ] 2016 • 21 ]

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[Apoio: Sonorplay


Encontro Matrimonial [ Qualidades fundamentais...

2016 Ano do Convite

Um momento especial para casais [2 R eg i o n a l S u l I I I – S í n t e s e

P e . N ivaldo O liveira S ou z a

A

prender a utilizar argumentos diferentes para pessoas diferentes é a melhor forma que temos para obter sucesso ao convidar alguém para fazer o Fim de Semana FDS. Eis o que disse um grupo de vendedores profissionais de produtos de saúde e formadores para executivos: 1º - Conhecer o cliente. Antes do primeiro contato, obtenha informações do tipo: se tem filhos, onde trabalham, onde moram. 2º - Conhecer bem o “produto”. No caso do FDS, isto é fácil, pois quem convida já o fez. Recordar as ideias principais e tê-las na ponta da língua. 3º - Abordagem. De preferência, ir a casa fazer o convite. Tomem a iniciativa de ir como casal. Apresentem-se dizendo seus nomes. Falem da necessidade deles. Perguntem pelo tempo de casados, filhos, se já tiraram um tempo para ficarem sozinhos, se já fizeram algum encontro de casais... “A primeira impressão é a que fica”. Ajam com segurança, cordialidade e entusiasmo. Evitem exageros como: “vocês precisam”, “isto salvará o casamento”. Uma abordagem bem feita é sucesso garantido. 4º - Ganhar interesse. Falar com segurança que têm um presente a ofere-

cer e que não acham justo ficar com ele só para si, porque ele fez muito bem em suas vidas, e como gostam muito deles, querem compartilhar. Trata-se de um projeto que a Igreja tem e que quer beneficiar as famílias, fortalecer a relação de casais, melhorar o diálogo, aprender a curar mágoas do passado, matar os males pela raiz, auxiliar e aprofundar os que já vivem bem. 5ª - Apresentar o produto. Este Encontro chama-se “Encontro Matrimonial Mundial” e o temos aqui em nossa Diocese. Inicia-se numa sexta-feira à noite, na Casa de Retiro, e termina domingo à tarde. A gente volta totalmente renovado e a vida se torna muito mais leve consigo mesmo, com o seu esposo (a), com os colegas de trabalho, vizinhos, comunidade. 6º - Esclarecer dúvidas e contornar objeções. O objetivo é deixar o casal falar e perguntar as dúvidas possíveis: onde se realiza, custo, o que fazer com os filhos, o que fazer com o cachorro, não temos tempo, não temos problemas, nossa vida é muito corrida, vamos perder o jogo preferido, não gostamos de compromisso aos fins de semana, queremos passear em família... Todas estas dúvidas devem ser respondidas com segurança e muito amor, num tom agradável, mas apresentando soluções, motivando, deixando entender que o que vão ganhar é muito mais valioso e que contribuirá mais ainda para o bem-estar. 7º - Fechamento. Se chegar a este passo e a “venda” ainda não estiver concretizada, o ideal é reforçar todos os benefícios do FDS. O próximo Encontro

[ 22 • olutador [ março ] 2016

será dia .../.../... Caso quiserem participar desta linda experiência, oferecemos esta pequena divulgação (dar um folheto, se tiverem); e se puderem, deixem sem compromisso o telefone. Informaremos o dia da reunião para tirar dúvidas e preencher a ficha. Caso perceberem a convicção de ambos, já preencher a ficha na hora. Agradeçam pela oportunidade de poder oferecer o FDS, “que também nos foi oferecido, através de uma conversa como esta. Além de ganharmos vida e segurança em nosso relacionamento, nossa caminhada como casal tem sido muito mais leve e feliz”. Agradecimento e despedida. Mostrem-se muito contentes pelo tempo que dedicaram para escutá-los, dizendo que estão muito felizes em perceber que eles querem ser realmente mais felizes e esperam por este grande dia. “Desejamos um bom dia, torcendo para nos ver mais vezes.” 8º - “Pós-venda”. Depois de conquistado, ainda temos um período em que o casal deve ser acompanhado até que efetivamente compareça ao FDS na casa de retiro. Para isto o contato deve ser mantido semanalmente através de E-mail, whatsapp, torpedos, conversas, telefonemas, visita para que o casal se organize com os filhos, trabalho, casa etc. O nome desse casal poderá ser colocado numa rede de whatsapp junto com outros em igual situação, onde semanalmente se enviam mensagens de esperança e alegria, falando bem do Encontro. Feito isso, poderemos dizer com o Encontro Matrimonial: “Eu já convidei, e você?”]


Família Julimariana [ Povo de Deus...

F/arq., sns

Sou missionária, povo de Deus, em Alvarães

pela energia de uma população jovem e que luta pela vida. Somos três Irmãs: Maria Aparecida Fázio, Julimar da Silva Leonardo e Maria Lopes. Nossa casa é um espaço de acolhida, oração, encontro, escuta, diálogo e planejamento. Nossa Paróquia tem a proteção de São Joaquim. Os festejos dos Padroeiros são oportunidades para as manifestações populares de fé, conforme os costumes amazonenses. Aqui está um povo de cultura indígena, contemplativo, possuidor de dons musicais e artísticos. Apreciam muito as celebrações alegres, com cantos, música e dança. Nestes três anos de missão, muitas experiências nos tocaram. Destacamos aqui o 4° Encontro das CEBs na Prelazia de Tefé, de 4 a 8 de março de 2015, em Carauari, AM, com o tema: “Família, guardiã da Palavra a serviço da vida” e o lema: “Família, imagem de Deus, casa do amor”. Pelo Rio Solimões navegaram seis barcos com mais de 600 representantes e delegados das 14 Paróquias da Prelazia de Tefé, que tem uma extensão de 264.000 km² e aproximadamente 243.000 mil habitantes. olutador [ março ] 2016 • 23 ]

Comunidade Missionária Sacramentina

F/arq., sns

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u quero a Amazônia” – dizia o Servo de Deus, o Padre Júlio Maria De Lombaerde, fundador da Congregação das Irmãs Sacramentinas de Nossa Senhora. Assim ele se expressou quando foi enviado para o Brasil em 1912, para a missão em Macapá. Esta voz profética nos estimulou a optar para assumir a missão em Alvarães, MT, Prelazia de Tefé, no Amazonas. Chegamos no dia 27 de julho de 2012. Definimos nossa atuação junto das Equipes de Liturgia, Catequese, Pastoral da Juventude, “AJURI” (mutirão) da Palavra de Deus, Formação de Lideranças da cidade e Comunidades Ribeirinhas e, nas atividades sociais, tendo em vista o apoio aos Direitos Humanos. Planejamos, para 2016, atuar na Pastoral da Saúde, apoiar a Pastoral da Criança e outros Projetos em andamento. Estamos ao lado do povo em suas buscas e anseios. As Comunidades Ribeirinhas são distantes. São horas e horas de viagem. O barco nos conduz nas águas abundantes do Rio Solimões. Tudo se torna festa, somos envolvidas

Depois de três a quatro dias navegando o Rio Solimões, pessoas de diversas idades, cheias de animação, entusiasmo e disposição iam-se encontrando com a Comunidade de Carauari. Emocionante estar junto destas lideranças que enfrentam as distâncias sem perderem a alegria de serem evangelizadoras. Todos foram hospedados pelas famílias locais que, com carinho e alegria, colocaram o melhor que tinham à disposição de quem chegava. Quatro dias de muito estudo, partilha e dinamismo. Somos gratas a Deus por esta oportunidade. Alguns jovens expressam o desejo de abraçar a vocação sacerdotal e a vida religiosa. Há o que investir e cuidar destas sementes vocacionais, pois “uma Igreja sem os jovens é uma Igreja sem presente e sem futuro”. (DGAEIB, 76). Algumas jovens sonham ser sacramentinas. Isto muito nos alegra! A elas estamos oferecendo tempos de reflexão, acompanhamento, presença. A vida em Alvarães exige dedicação, coragem, perseverança e capacidade de viver nesta região quente. A vida e a pastoral tem alto custo. As ofertas de trabalho são poucas, e aqui está um povo numeroso. As crianças e jovens, alegres e saudáveis, nos falam de um futuro esperançoso. Deus abençoe o bom povo da região amazônica e nos envie muitos missionários/as para a messe do Senhor. “Sou missionário, sou povo de Deus. Sou índio, caboclo, mestiço fazendo da vida missão. Aqui nesta grande tapera da Igreja Amazônica sou mensageiro de um Deus que é irmão.” (Manoel Nerys)]


Espiritualidade [ As relações...

Ele nos acolhe nos pobres e no serviço prestado a eles. O projeto de Deus inclui e une. O mundo tem facilidade para separar ricos de pobres, melhores de piores, fortes de fracos, brancos de negros, urbanos de rurais etc. Somos desiguais quando privilegiamos alguns e desprezamos outros, causando uma sociedade de desiguais, ou até de inimigos, de um agredindo outros com práticas violentas. É lamentável conviver com preconceitos humanos, com barreiras que impedem a convivência e fragilizam a vivência do amor fraterno. No cume de toda diferença está

Todos iguais D om Paulo M endes P ei xoto - A r c e bis p o d e U b e raba , M G

F/periodistadigital

A

o olhar para a identidade das pessoas, podemos descobrir que a existência humana apresenta formas diversas de ser. Dizemos que, perante Deus, somos iguais, todos criados à sua imagem e semelhança. Essa realidade só tem sentido na visão do cumprimento do direito e da justiça. Mas a visão, que vem do mundo, é outra. As relações são de poder entre desiguais, que afeta cada pessoa na convivência social. Não é fácil realizar um projeto baseado totalmente na justiça e no direito, que evite violência e desarmonia nas relações fundamentais entre os “desiguais”. O capricho do egoísmo é massacrante e distancia as pessoas, cria isolamento e individualismo. O fechamento impede o indivíduo de enxergar as necessidades vividas pelos impossibilitados de relações fraternas, e os nivela por baixo. Os projetos humanos não deveriam ser diferentes dos que são de Deus. Os fundamentos da Palavra de Deus remetem para o serviço aos mais necessitados. Esse é o caminho que nos torna semelhantes ao Criador, porque indo ao encontro dos mais fragilizados da sociedade, estaremos indo na direção de Deus.

a briga pelo poder e pela “prosperidade” econômica. A desonestidade passa a ser a alma da desigualdade, porque tira a possibilidade de condições de vida digna para muita gente. O vírus do poder consegue infectar muitos privilegiados. É uma tentação constante e contínua. Is[ 24 • olutador [ março ] 2016

so seria saudável se houvesse também o vírus da fraternidade e da preocupação com a justiça social. Pelo menos criaria possibilidade de igualdade entre as pessoas. Seria até bom pensarmos, quais são os nossos preconceitos que geram desigualdade?]


Caderno de Cidadania

ANO 13 * Nยบ 276 * MARร O * 2016 * BELO HORIZONTE * MG

Novos Tempos


❝ A realidade é sempre dinâmica e sempre maior... ❞

❝ N OVO S T E M P O S ❞ UANDO mudam as perguntas, temos de encontrar novas respostas. A realidade é sempre dinâmica e sempre maior, mais complexa que a ideia que dela fazemos. Por isso a necessidade de estarmos sempre buscando formas de melhor responder aos desafios que se colocam à nossa frente. Desafios novos exigem novas atitudes, novas posturas, novos enfrentamentos. Num momento de crise, isto se torna ainda mais urgente. Os recursos são poucos, as exigências maiores. Nessa hora é preciso ter criatividade e ousadia para alargar os poucos recursos que ainda nos restam e encontrar formas alternativas, parcerias, meios de somar forças para que a realidade social não se agrave ainda mais. O Terceiro Setor lida diretamente com pessoas em situação de risco ou de vulnerabilidade social. Fechar um equipamento, deixar de atender a um usuário, acabar com uma oficina ou deixar de executar um programa ou projeto, afeta diretamente as pessoas que deles necessitam. E estas pessoas, na maioria das vezes, não têm como recorrer a outro lugar ou outra instância; na verdade, ficam privadas desse atendimento. Isto nos leva a ver quão importantes são as ações desenvolvidas pelo Terceiro Setor. E quão necessário é lutar para que suas atividades sejam mantidas, ampliadas e levadas mais a sério. Aqui vale destacar que grande parte dos serviços são desenvolvidos pelas entidades que, na maioria dos casos, encontram muita dificuldade de subvenção dos órgãos públicos. Certos profissionais da assistência parecem olhar para as entidades mais como concorrentes do que como parceiros no serviço da assistência social. Fica, na prática uma pergunta: Somos parceiros, ou não? Visando melhor o atendimento, vislumbramos novos tempos com os esforços de reordenamentos, com novas iniciativas, com busca de parcerias. Tudo isso na certeza de que a realidade é sempre maior que a ideia que dela fazemos. Fica aqui um apelo para que os órgãos governamentais de assistência e seus profissionais encarem as entidades verdadeiramente como parceiras do serviço social e lhes favoreçam os meios e convênios justos para a execução de sua missão. Assim, mesmo na crise, os assistidos poderão continuar a ser atendidos...* denilson mariano [2

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olutador [ março ] 2016 [ Caderno de Cidadania ]


Novos tempos:

FUCAM – a caminho da sétima década

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A E LT O N A L E I X O – J O R N A L I S TA

ESSENTA E OITO ANOS já se passaram com muitas histórias de vida transformadas, mais de oitenta mil alunos atendidos e muito fôlego para avançar ainda mais na educação, cultura, assistência social e profissionalização. Esta é a Fundação Educacional Caio Martins – FUCAM, que passou por um “reordenamento” para atender às novas diretrizes da Secretaria de Estado de Trabalho e Desenvolvimento Social-

SEDESE, onde está inserida, e ficar em sintonia com o Estatuto da Criança e do Adolescente e o Sistema Único de Assistência Social. Seguindo a orientação do Secretário de estado de trabalho e desenvolvimento social, o deputado estadual André Quintão, a presidenta e ex-professora da FUCAM Maria Tereza Lara, acompanhada pelo vice-presidente e ex-aluno Gildázio Alves dos Santos, em conjunto com a Diretoria de Educação e Assistência- DEA, para fazer um diagnóstico completo da Fundação, com o intuito de saber quem são os assistidos da fundação, como me-

Não deixe o mosquito nascer! O vírus Zika é transmitido por meio da picada do mosquito Aedes aegypti. A principal ação de combate ao mosquito é evitar sua reprodução. O Aedes aegypti prolifera nos locais onde se acumula água. Por isso é importante não deixar recipientes expostos à chuva, além de tampar caixas d’água e piscinas. Recomenda-se também a instalação de telas de proteção em janelas e portas e o uso de repelentes. Os sintomas da doença são febre, coceira, dor de cabeça, dor atrás dos olhos, dor no corpo e nas juntas e manchas vermelhas pelo corpo. Outra grande incerteza é se o vírus provoca microcefalia e, se for o caso, em qual proporção. O Brasil registrou 4.783 possíveis casos de microcefalia até 30 de janeiro, segundo dados divulgados pelo Ministério da Saúde em 2 de fevereiro. Faça sua parte! olutador [ março ] 2016 [ Caderno de Cidadania ]

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lhorar e ampliar os serviços prestados, aliados à nova filosofia do Governo de Minas Gerais de “ouvir para governar”. Reordenamento da FUCAM Concomitantemente foi criada uma “Comissão de reordenamento da FUCAM”, através de Resolução conjunta SEDESE/ SEE/FUCAM nº 19/2015 de 19 de maio de 2015, publicada no jornal “Minas Gerais” em 20/05/2015, que se reuniu para delimitar as novas ações. O trabalho da Comissão foi realizado a partir de reuniões setoriais com a Secretaria de Estado de Cultura- SEC, Secretaria de Esta-

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A cultura é destaque na FUCAM

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do de Educação - SEE, Subsecretaria de Trabalho e Emprego - SUBTER e a Subsecretaria de Assistência Social- SUBAS. Foi realizado um seminário para socializar os resultados obtidos pelo reordenamento. A diretora de educação e assistência Deborah Akerman apresentou os dados compilados durante o seminário. O diagnóstico e estudos de casos foram feitos meticulosamente nos seis centros educacionais, localizados nas cidades de Buritizeiro, Esmeraldas, Januária, Juvenília, Riachinho e São Francisco. Ao todo foram feitos duzentos e quarenta e três estudos de casos, que permitiram uma visão detalhada dos assistidos pela FUCAM. Segundo o secretário André Quintão, nos últimos anos da FUCAM houve uma perda de identidade; não havia definição de qual era o verdadeiro papel da Fundação: “Acertei com o governador Fernando Pimentel e vamos fazer um diagnóstico para saber qual é a nova missão e assim transformá-la em uma referência em educação e profissionalização”, ressaltou.

Nova articulação O vice-presidente Gidázio Alves dos Santos disse da sua expectativa sobre os novos tempos da FUCAM e da abertura de novos espaços para formação e melhorias nos serviços já existentes. “Não somos mais uma instituição fechada dentro do governo. Somos, a partir de agora, articulados com as políticas de educação, cultura, assistência social e profissionalização. Neste caminho vamos nos voltar ainda mais para a juventude em especial aos mais vulneráveis”, enfatizou. A presidenta Maria Tereza Lara disse que, na história da fundação, o Coronel Manoel José de Almeida teve a intenção de criar um espaço para que os jovens das áreas rurais pudessem estudar e se capacitar profissionalmente, mas a legislação vigente obriga que haja mudanças: “Temos uma história de sessenta e oito anos de fundação e milhares de alunos assistidos, mas o atual momento social requer novos rumos. O Estatuto da Criança e do Ado[4

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lescente e as novas normativas do Sistema Único de Assistência Social tornaram o reordenamento essencial. Estamos cumprindo uma determinação do secretário da SEDESE, André Quintão, e da Secretária-Adjunta Rosilene Rocha, que nos delegaram a missão de fazer um diagnóstico profundo e situar a FUCAM em uma nova realidade, adequando à história as novas demandas”, ressaltou. A secretária de educação Macaé Evaristo também participou do Seminário de Reordenamento e falou do projeto educacional do Governo do Estado de Minas e como a FUCAM se enquadra neste contexto: “Queremos uma educação de qualidade e uma mesma matriz de atendimento e trabalho. Estamos construindo uma nova perspectiva coletiva que busca um horizonte desejável. Temos de trabalhar para que nossas crianças possam ficar próximas às suas famílias em qualquer lugar do nosso Estado com boa infraestrutura e com

olutador [ março ] 2016 [ Caderno de Cidadania ]


FOTOS/ARQUIVO FUCAM

Prédio Histórico no Centro Educacional de Buritizeiro

Protagonismo Jovem Seminário de Reordenamento da FUCAM

Nossos endereços acesso a diferentes campos do conhecimento”, pontuou. Nova fase da FUCAM Nesta nova fase da FUCAM, grandes avanços vão acontecer como frutos do “reordenamento”. Um deles é a criação dos Polos de Educação Integral nas cidades de Buritizeiro, Esmeraldas, Januária, Juvenília, Riachinho e São Francisco. Os jovens terão a oportunidade de ampliar as oportunidades educativas no ensino fundamental com novos conhecimentos, através de oficinas extras e maior permanência na escola. Até aqui vários profissionais bem sucedidos foram formados na FUCAM, e muitos outros ainda virão. São agentes de segurança pública, advogados, mecânicos, médicos, engenheiros e uma infinidade de cidadãos que ajudam na construção de uma sociedade melhor, promovendo o bem e realizando o sonho do saudoso fundador, o Coronel Manoel José de Almeida que, entre outras coisas, queria dar chances e tornar o jovem um protagonista da história.*

FUNDAÇÃO EDUCACIONAL CAIO MARTINS – GOVERNO DE MINAS Rod. Prefeito Américo Gianetti, 4001- Prédio Minas Bairro Serra Verde- Belo Horizonte, MG- CEP: 31630-901 Fone: (31) 3916-7787- www.fucam.mg.gov.br - E-mail: comunicacaofucam@gmail.com CENTRO EDUCACIONAL DE ESMERALDAS Fazenda Santa Tereza, s/n°- Esmeraldas, MG- CEP: 35740-000 Fone : (31) 3059-1206- E-mail: coodenacaocee@fucam.mg.gov.br CENTRO EDUCACIONAL DE BURITIZEIRO Praça Coronel José Geraldo, s/nº- Buritizeiro, MG- CEP 39280-000 Fone: (38) 3742-1166- E-mail: coordenacaoceb@fucam.mg.gov.br CENTRO EDUCACIONAL DO CARINHANHA Rua Professora Helena Antipoff, 163- Juvenília, MG- CEP 39467-000 Fone: (38) 3614-9146- E-mail: coordenacaocec@fucam.mg.gov.br CENTRO EDUCACIONAL DE JANUÁRIA Alameda Coronel Manuel José de Almeida, s/nº- Januária, MG - CEP: 39480-000 Fone: (38) 3621.1200- E-mail: coordenacaocej@fucam.mg.gov.br CENTRO EDUCACIONAL DE SÃO FRANCISCO Avenida Presidente Juscelino, s/nº- São Francisco, MG- CEP: 39300-000 Fone: (38) 3631.1255- E-mail: coordenacaocesf@fucam.mg.gov.br CENTRO EDUCACIONAL DO URUCUIA Rua Bandeirantes- Vila Conceição,s/nº - Riachinho, MG- CEP: 38640-000 Fone: (38) 3681.1057- E-mail: coordenacaoceu@fucam.mg.gov.br

olutador [ março ] 2016 [ Caderno de Cidadania ]

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Secretaria Municipal Adjunta de Assistência Social

Antes só, agora bem acompanhado! ONTRIBUIR socialmente com as próximas gerações é um compromisso assumido por orientadores sociais voluntários, cidadãos que dedicam um pouco de seu tempo e sua experiência de vida em prol de jovens que, por algum motivo, se envolveram em atos infracionais e receberam a medida socioeducativa de Liberdade Assistida. Para esses meninos e meninas, na faixa etária de 12 a 18 anos, ter uma referência e contar com pessoas dispostas a apostarem confiança em sua mudança de postura pode significar um caminho novo e promissor. Como o próprio nome sugere, esse voluntário tem a função de orientar eticamente os adolescentes que acompanha. A iniciativa consiste na promoção de passeios, encontros e muito diálogo entre adolescentes e orientadores. O trabalho é acompanhado por assistentes sociais e psicólogos, técnicos da Prefeitura de Belo Horizonte, atuantes na Secretaria Municipal Adjunta de Assistência Social, que atendem tanto aos adolescentes e suas famílias, como também aos orientadores sociais voluntários, dando suporte em todo o processo. Esse tipo de voluntariado ocorre na PBH desde 1998 e já recebeu 1.100 cidadãos que fizeram sua parte por uma sociedade mais justa e segura. É o caso do o servidor público Lindeberg Calixto, que, após ter tido objetos furtados por um adolescente, foi atraído pela proposta de contribuir de alguma maneira com outros jovens em conflito com lei. No ano de 2007, ele participou da iniciativa que marcou sua história de vida. O primeiro adolescente que acompanhou foi Jonathan Mangabeiras.

F/INSTITUCIONAL

C

Voluntários apóiam adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa de liberdade assistida

O menino, que na época vivia nas ruas de Belo Horizonte, com medo de confiar nas pessoas, é hoje é um jovem decidido e cheio de planos. “Tornamos-nos bons amigos! O marco da nossa relação foi quando ele falou que queria voltar para a casa da mãe”, lembra-se Calixto. Essas e outras recordações marcaram a vida de ambos. Lindeberg e Jonathan se encontravam quase todas as semanas durante um ano e meio. O principal ponto de encontro era a Praça da Estação, no centro da Capital. Por meio do seu orientador social, o adolescente conheceu museus, parques, foi a teatros, cinemas, e pôde descobrir uma nova cidade. Atualmente ele vive com a companheira e atua na área de audiovisual, profissão que descobriu durante o cumprimento da medida. Depois de Jonathan, Lindeberg orientou outros dois adolescentes e continua [6

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como voluntário do Serviço. “Acredito que todos temos que contribuir. É muito fácil ficar em uma posição confortável, reclamando da violência; temos que nos perguntar o que cada um de nós tem com isso”, reflete. Segundo o orientador, o que norteia o acompanhamento é a “busca por um caminho novo para eles (os adolescentes)”. Para a gerente de coordenação das Medidas Socioeducativas Márcia Passeado, “o trabalho como orientador social voluntário possibilita o envolvimento da sociedade civil no âmbito das políticas públicas, além de propiciar a formação de uma rede solidária que contribui para a mudança de uma concepção acerca do adolescente em conflito com a lei”, pondera. A técnica de referência da Central para Orientadores Sociais Carolina Flecha explica que em nenhuma circunstância o voluntário substitui o técnico do serviço, mas que agrega de forma substancial como no caso de Jonathan. “O orientador social auxilia o adolescente a construir novas formas de convivência na cidade, assumindo um lugar de referência ética. Ao caminhar pela cidade acompanhado por um orientador, o adolescente pode rever seus percursos e vislumbrar novos horizontes para sua vida”, destaca Flecha. Critérios Para se cadastrar para o trabalho, o interessado precisa ter mais de 21 anos, ser morador de Belo Horizonte e se disponibilizar a ser uma referência na vida do adolescente e a acompanhá-lo por aproximadamente duas horas semanais. Como participar Basta ligar para o telefone: 3277-4420!*

olutador [ março ] 2016 [ Caderno de Cidadania ]


O esporte inspira a vitória e a educação ensina a vencer Iniciativas da LBV contribuem para a proteção de crianças e adolescentes

M

das doações ocorre no início do ano. Em 2016, 15 mil kits chegarão às mãos de estudantes das escolas da LBV, de meninas e meninos que participam dos programas nos Centros Comunitários de Assistência Social da Instituição e de atendidos por organizações parceiras dela. O esporte inspira a vitória e a educação ensina a vencer. Juntos, transformam vidas e ajudam a construir uma

F/LBV

ESMO tendo alcançado vários dos oito Objetivos de Desenvolvimento do Milênio — estabelecidos pela Organização das Nações Unidas- ONU, em setembro de 2000 —, o Brasil ainda tem grandes desafios sociais a serem vencidos. Um deles é o combate ao trabalho infantil, que afeta mais de 3 milhões e 300 mil meninas e meninos no país. Visando a defender os direitos de crianças e de adolescentes, afastá-los dos inúmeros perigos das ruas e do isolamento, bem como protegê-los de toda forma de exploração, a Legião da Boa Vontade - LBV promove diariamente programas socioeducacionais em favor desse público. Por meio da realização de atividades esportivas, culturais, artísticas e educativas, além do oferecimento de alimentação balanceada, de ambientes seguros em suas unidades de atendimento e de acompanhamento de profissionais de diversas áreas, a Instituição possibilita que a garotada consiga superar dificuldades e vislumbrar um futuro com melhores oportunidades para si e para a própria família. A Legião da Boa Vontade mantém outras ações permanentes, entre as quais a campanha Criança Nota 10 — Proteger a infância é acreditar no futuro! Por intermédio dessa iniciativa, a LBV beneficia com kits de material pedagógico e conjuntos completos de uniformes crianças, adolescentes e jovens de famílias de baixa renda em todo o Brasil. A entrega

olutador [ março ] 2016 [ Caderno de Cidadania ]

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sociedade justa, solidária e, portanto, melhor. Você pode contribuir para a campanha Criança Nota 10 — Proteger a infância é acreditar no futuro!, acessando o site: www.lbv.org/nota10 ou ligando para 0800 055 50 99. Siga a LBV no Facebook (LBVBrasil), no Twitter (@LBVBrasil) e no Instagram (@LBVBrasil)


Cidadania na realidade carcerária...

O ato de educar é sustentado pela necessidade de articular as diferenças

E não nos deixeis cair em tentação

A

educação não é algo que se conforma, mas é algo que se cria. O verdadeiro aprendizado ocorre a partir das vivências. Freud disse: “Faça sempre o que você acredita que é melhor, sempre sabendo que você está fazendo errado”. Educador é todo aquele que acredita que erro não é erro, é a possibilidade de recomeço. Para a pedagoga da Penitenciária Professor Jason Soares Albergaria, Maria da Pompéia Carneiro, a função da educação no sistema prisional é propor mudanças e ficar à espera do inesperado.

SAMUEL ALEX ANDRE - 30 ANOS

“E

DISSE O SENHOR: ‘E não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal’. Nem sempre conseguimos perceber os processos da vida, e só assim a vida nos mostra quando caímos em tentações. Ficamos vulneráveis às tentações da vida quando desprezamos os ensinamentos da família, nos afastamos dos valores morais, espirituais e éticos. As escolhas pessoais, quando feitas desprovidas de orientações e conselhos das pessoas que se preocupam com nosso bem-estar, nos afastam do caminho do bem e nos lançam na marginalidade. A prisão é uma das consequências das más escolhas. Na prisão, sem nossa família, somos como uma ave pequenina fora do ninho. Longe de nossas famílias, passamos por momentos de tristeza, de cólera, abandono e desesperança para a chegada do instante ansiado para tão sonhada liberdade, para beijar e abraçar com toda saudade do mundo a família que nos ama como Deus ama cada filho Dele. A família é o alicerce da vida como o alicerce de uma casa. É força, amor, alegria, tristeza, saudade e serenidade. Família, bonito dizer, na organização da vida ou na moradia da alma, saudades, sim, de um ser preso, mas esquecimento nunca.*

PEDAGOGA MARIA DA POMPÉIA CARNEIRO

A Penitenciária Professor Jason Soares Albergaria desenvolveu, junto à SEDS – Secretaria de Defesa Social, um concurso de redação com o tema: “A importância da família no sistema prisional”. Muitos detentos se interessaram pela proposta e se empenharam. Foram selecionadas três produções que, dentro dos critérios de classificação predeterminados pela equipe organizadora, cumpriram o que foi pedido. A Unidade ficou satisfeita com a participação dos detentos e pretende promover novas propostas com o objetivo de reduzir os impactos do cárcere para os detentos que se interessarem.*

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As matérias assinadas são de responsabilidade de seus autores.

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olutador [ março ] 2016 [ Caderno de Cidadania ]


Liturgia [ Semear no cimento...

Para evitar as “homilias chatas”

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través de uma carta com conselhos práticos dirigida aos sacerdotes e diáconos, o Arcebispo de Detroit, EUA, Dom Allen H. Vigneron, descreveu os tipos de pessoas que assistem à missa e qual é a melhor maneira de pregar para elas. O primeiro conselho: o Pregador

é Servo da Palavra de Deus. Recordar que “a chave não está em oferecer comentários, mas em ajudar as pessoas que estão nos bancos a entenderem o que acontece no texto e, desta maneira, compreenderem o que está acontecendo agora e responderem com sua fé”. Em vez de permitir que as leituras fiquem no nível da teoria, ele indica que os pregadores devem aplicá-las a uma “situação concreta” da comunidade e oferecer sugestões para que os fiéis possam colocá-las em prática. Para isto é necessária uma preparação adequada e antecipada da homilia. Tristemente, lamenta Dom Vigneron, muitas pessoas nos bancos já ou-

viram a frase “Deus te ama”, mas não a interiorizaram. “As últimas estatísticas revelam que muitos católicos nem sequer acreditam na possibilidade de ter uma amizade com Deus, por isso não sabem que são amados infinita e apaixonadamente por Aquele que tudo criou. E este amor, o conhecimento deste amor, o encontro com este amor, é o que transforma a vida, é o que nos leva a responder ao seguimento daquele que entregou sua vida por nós.” E explica que, assim como o aço deve ser esquentado antes que possa ser moldado ou dobrado, o coração humano deve ser esquentado pelo amor de Deus com o fim de superar o medo e ser moldado pela verdade do Evangelho. Sem um encontro com o amor de Cristo, “a fé simplesmente se vê como um conjunto de normas e regulamentos”.

Em última instância, os sacerdotes e diáconos fomentam um encontro com Deus quando pregam um Cristo crucificado: “a Cruz é a maior prova de amor nunca antes vista. Por isso, ajudem-nos a entender, a compreender que Deus não nos diz somente que nos ama, mas também nos demonstra isso”. Semear no cimento “Muitas pessoas foram ‘sacramentadas’ mas nunca evangelizadas”, sustenta Dom Vigneron. Embora se encontrem com Cristo através dos sacramentos, têm pouco conhecimento destes, portanto, sabem coisas de Deus, mas não O conhecem. olutador [ março ] 2016 • 25 ]

“Infelizmente, devemos admitir nossa parte de responsabilidade nisto” - continua o Arcebispo - afirmando que ao pregar o Evangelho a este grupo de pessoas, que pode ser uma maioria durante uma missa dominical, parece que “tentamos plantar sementes no cimento: nada crescerá”. Portanto, a chave está em uma evangelização que promova um encontro com Cristo. Outro grupo de pessoas presentes à missa são os “ateus práticos”, explica Dom Vigneron. Estas pessoas não rejeitam diretamente a Deus, mas separam sua fé da sua vida cotidiana e passam a maior parte do tempo em um “mundo do consumo secular”, isto é, vivem como se Deus não existisse ou como se não tivesse significado em suas vidas. Apesar disso, atualmente muitas pessoas se consideram espirituais. Têm grande fome de “uma paz interior que as ajude de algum modo a obter seus projetos na vida”. Outras pessoas vêm à missa com ideias adquiridas pelos meios de comunicação, pelo entretenimento e pelo mundo acadêmico, que lhes dizem que a fé é incompatível com a razão. Também estão presentes os “que parecem mortos”, ou seja, que chegam tarde e vão embora cedo da missa, que não prestam atenção, não participam e parecem não querer estar ali, assim como “os chateados e os desinteressados”, aqueles que somente viram uma versão “reduzida” de Cristo e do Evangelho. Mas no fundo, diz Dom Vigneron, todos aqueles que participam da missa querem a mesma coisa: um encontro com Cristo. E esta é responsabilidade do sacerdote: ajudar neste encontro através da sua pregação.] Fonte: Acidigital


Atualidade [ A mensagem nos ensina...

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O Evangelho intragável

A nt ô nio C arlos S antini

– “Esta eu não engulo!” – gritava o revoltado.

U

m dos sentidos do verbo “engolir”, segundo o Aurélio, é “sofrer em segredo, ou sem protesto”. E o mundo está cheio de gente que “não engole”. Uma rápida incursão pelas redes sociais registra a onda de revolta, de denúncias, de expressões marcadas pelo ódio, pela cobrança de punições e represálias. No polo oposto, o Evangelho de Jesus Cristo, quando o Mestre ensina aos discípulos: “Não resistais ao mau”. (Mt 5,39.) E não se trata do “mal” abstrato, mas de sua encarnação no “mau” [no grego original, um adjetivo: “ponerô”]. A Bíblia de Jerusalém traduz: “Não resistais ao homem mau”. André Chouraqui traduz: “Não se oponha ao criminoso”. Ouço ao longe um clamor que me acusa de defender a impunidade. Será? Ou a turba que clama pela vingança manifesta seu desespero diante do

homem mau, duvidando da possibilidade de sua remissão? Bem sei que o Evangelho é intragável! Sei que o preceito de oferecer a se-

Sua mensagem ensina que não se pode obter o bem por meio do mal gunda face provoca rugidos ferozes. Tal como a sugestão de entregar o manto a quem nos rouba a túnica, ou de abençoar aqueles que nos maldizem. Mas é este o Evangelho, livremente proposto aos homens de boa vontade... Estamos diante da não-resistência evangélica. Assuma-a quem quiser... [ 26 • olutador [ março ] 2016

Como observa Lev Gillet, “a escolha não está entre combater e não combater, mas entre combater e sofrer – e, pelo sofrimento, vencer. Os combates buscam vitórias aparentes, as quais não são mais que vaidade e ilusão, pois Jesus é a realidade suprema. O sofrimento do não-resistente proclama esta realidade suprema de Jesus. Assim, ela é a verdadeira vitória”. Claro que os discípulos não tinham compreendido a lição do Mestre. Daí, a espada de Simão Pedro, que decepou a orelha de Malco no momento da prisão de Jesus. E exatamente ao ser aprisionado, Jesus reimplanta a orelha do ferido, isto é, não só impede a reação violenta dos apóstolos, mas transforma em bem o mal praticado. Ora, não será um belo gesto defender o Mestre de seus inimigos? A situação não justifica a agressão? Não é uma forma de impedir a injustiça? Jesus diz que não... Sua mensagem ensina que não se pode obter o bem por meio do mal. Como avalia Gillet, “a não-resistência de que Jesus nos dá o exemplo não é concordância com o mal ou pura passividade. Ela é uma reação positiva. É a resposta que o amor – este amor que Jesus encarna – opõe às realizações dos malvados. O resultado imediato parece ser a vitória do mal, mas, a longo prazo, o poder desse amor é o mais forte. A Ressurreição seguiu-se à Paixão. A não-resistência dos mártires cansou e fascinou os próprios perseguidores. Foi este sangue derramado que garantiu a difusão do Evangelho”. Pode parecer um frágil pacifismo. Pode. Mas séculos de reação, condenações e vinganças apenas geraram mais conflitos e sedimentaram ódios. O remédio acentuou a doença. Afinal, parece que o ódio já faz parte de nós...]


[ Missa de domingo...

Dois magistérios? C arlos S cheid

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issa de domingo. Chego bem cedo e tenho tempo de examinar o folheto distribuído aos fiéis. É o 10º domingo do tempo comum. O Evangelho do dia (Mc 3,20-35) mostra os parentes de Jesus preocupados com o seu equilíbrio mental, ao vê-lo seguido por grande multidão. Com a assinatura de um sacerdote, uma “catequese bíblica” acompanha os textos da liturgia da Igreja. E o autor comenta: “Jesus devia mesmo estar ‘fora de si ou louco’, na concepção geral da época, ao abolir e quebrar a estrutura familiar de seu tempo”. Ora, mesmo separando esta observação do contexto geral da matéria, é evidente que se trata de mera opinião do comentarista. Pior: não corresponde ao magistério da Igreja nem ao registro dos evangelistas. Em nenhum dos evangelhos encontro alguma proposta de abolição da família ou de fratura das relações familiares. Em São Lucas, por exemplo, lemos que Jesus era “submisso” a seus pais. “Jesus desceu, então, com seus pais para Nazaré e era obediente a eles.” (Lc 2,51.) Como judeu praticante, Jesus não deixaria de obedecer ao 4º mandamento: “Honrarás teu pai e tua mãe”. Em sua breve Exortação apostólica sobre São José - a Redemptoris Custos -, o Papa João Paulo II propõe que as famílias se espelhem na família de Nazaré. E afirma que a paternidade de José “expressou-se concretamente [...] em ter usado da autoridade legal, que lhe competia em relação à Sagrada Família”. Ou seja, nada que possa lembrar alguma “quebra da estrutura familiar de seu tempo”.

Na mesma Exortação (RC, 21), o Papa lembrava que, ao assumir nossa humanidade, o Verbo assumia também “tudo aquilo que é humano e, em particular, a família, primeira dimensão da sua existência na terra”. Assim, ao afirmar que “sua mãe e seus irmãos” eram aqueles que fazem a vontade de Deus (cf. Mc 10,34), de modo algum Jesus excluía Maria e José de sua família; antes, foi em Maria e José que Jesus contemplou, em primeiro lugar, o pleno cumprimento da vontade divina. O episcopado latino-americano, reunido em Santo Domingo, seguiria na mesma linha doutrinária: “Por sua [de Jesus] Encarnação e por sua vida em família por Maria e José no lar de Nazaré se constitui um modelo de toda família”. (SD, 213.) Um fiel “comum”, depois de ler o comentário anexo ao folheto de missa, pode ter voltado para casa com a impressão de que Jesus tinha para nos propor algo melhor que a estrutura faolutador [ março ] 2016 • 27 ]

miliar em que ele nasceu e cresceu: o pequeno mistério do amor do pai e da mãe que acolhem seu filho. E não se trata disso... Na verdade, essa antiga “estrutura” familiar foi o caldo de cultura para o exercício da fé. Na Encíclica Redemptoris Mater [A Mãe do Redentor], João Paulo II recordava Maria, que “acredita dia a dia, no meio de todas as provações e contrariedades do período da infância de Jesus e, depois, durante os anos da sua vida oculta em Nazaré, quando ‘lhes era submisso’ (Lc 2,51): submisso a Maria e também a José, porque José, diante dos homens, fazia para ele as vezes de pai; e era por isso que o Filho de Maria era tido pela gente do lugar como ‘o filho do carpinteiro’ (Mt 13,55)”. É recorrente a tentativa de mostrar Jesus como um revolucionário de seu tempo. Só que não corresponde à verdade. Os revolucionários estão sempre dispostos a matar. E Jesus – ao contrário – se dispôs a morrer por nós...]


Crônica [ Maria “Esta crônica é para todos os meus leitores, especialmente para um, de Belo Horizonte, Pedro Francisco dos Santos, que me dirigiu palavras muito gentis.”

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Mulata-da-sala

lorzinha danada de dura! Nasce em qualquer cantinho seco, em qualquer quebradinho de parede... Meus canteiros, tão singelos, estão pesadinhos das mimosas flores: brancas, sem batom na boquinha – outras, para realçar a alvura da pele, usam um

batom vermelhinho no sorriso de flor... Há, ainda, as mais moderninhas, de vestido cor-de-rosa-cheguei... Ah! Mas ninguém deixa de dar uma paradinha na sua correria, só para admirar uma mulata-da-sala menos modesta, sempre vestida de vermelho vivo, não importa a hora: noite e dia, lá está

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a florzinha, em toalete soirée - como se estivesse bailando em um salão. Estão sempre frescas, sorridentes, como se tivessem tomado um banho de orvalho. Então, o batom é mais forte, combinando com o vestidinho de menina-flor. E tem outra: ninguém as plantou! Nascem pelo puro prazer de enfeitar o


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olhar dos passantes. Não pedem água, não exigem adubos nem reclamam das ervas que teimam em lhes tomar o lugar... Elas querem, apenas, enfeitar um canto qualquer. Elas, apenas, querem suavizar o caminho corrido de todos... Olho para elas e penso que o mundo seria bem mais bonito se a gente vivesse como uma dessas florezinhas... Ah! Se a gente pudesse transformar-se em flor!... Cada um escolheria seu modelo de mulata-da-sala e arranjaria um cantinho para morar, suavizando, com um sorriso de flor, o caminho de quem passasse por nós, espalhando amor pelas ruas cheias de gente apressada.

Eu tive uma madrinha assim, que foi sempre mulata-da-sala por onde passava. Alegre, singela, tinha um nome tão aristocrático – VERALDINA – que nunca foi usado, a não ser em documentos formais. Também, pensando melhor, VERALDINA não se parecia com ela. Seu apelido pequeno, delicado, é que se parecia com sua dona: MULATINHA. Penso que alguma fada viu a menininha recém-nascida e pensou: “essa princesa tem cara de flor, uma flor bem pequena, bem alegre... E foi assim que seu nome foi trocado pelo nominho de minhas flores... Ligeirinha, esperta, dava amor a todos que estivessem por perto, sem exigir nada, um amor tão natural como o das minhas florezinhas. Como foi importante para mim, ter uma Madrinha-Flor! Por isso, todas as vezes que meu olhar alcança uma mulata-da-sala, lembrome da minha madrinha, sorrindo, alegrando, dando a mão a quem precisasse. Bela vida teve a minha madrinha: escreveu sua história de uma maneira tão singela, que bem poderia se chamar: história de uma flor. Cada um escolhe um jeito de perpetuar seu nome na história da vida: fazendo versos, pintando quadros lindos, compondo músicas geniais... Madrinha Mulatinha eternizou seu nome apenas pelo gesto nobre de irradiar bondade para todos que se colocassem ao seu lado, apenas sendo uma florzinha singela... E é assim que vou tentando, pela vida a fora, ser uma outra mulata-dasala, que nasce em qualquer cantinho, que vive em qualquer quebradinho de muro.E é assim que vou tentar viver o ano-novo que começou – 2016! Nele, quero escrever uma história de vida bem igual à história da minha Madrinha Mulatinha, bem igual à história das florezinhas que enfeitam a vida, sem esperar recompensas nem agradecimentos... Para isso, preciso apenas de um cantinho de parede, de um quebradinho de muro para crescer...] olutador [ março ] 2016 • 29 ]

Livro indicado [ Uma bela Obra, as crônicas de 'Maria', publicadas em olutador ]

maria

O livro de crônicas de MARIA [Maria das Dores Caetano Guimarães]. Em cada página, a arte da cronista que extrai do cotidiano o lampejo de uma descoberta. Em cada crônica, o passado recuperado com o olhar da infância. Em um só volume, as páginas saborosas publicadas em O Lutador. FORMATO: 15,5x22,5cm, 320p.

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Páginas que não passam [ Esperança...

Compaixão C hristian de C herg é *

(A todos aqueles e todas aquelas cujo coração parece feito para sangrar...)

T

u serás sempre um ser dilacerado, pois a espada ocupa o lugar que abre o filho e atravessa a mãe. Enquanto houver uma dor a ser partilhada no mundo, tu estarás ali, companheira da noite e da dúvida, da vigília e das lágrimas. A aurora se levantará para os outros; para ti, ela ainda será prematura enquanto houver uma criança mergulhada no coma, e pais desmoronados para quem o tempo se deteve na cabeceira de um ser já ausente. Tu serás sempre essa mulher sem idade, os olhos devorados de prantos na encruzilhada de todas as paixões, pronta para toda compaixão. Para ti, chove sobre a estrada do sol, e tu és aquele cego que os carros enlameiam na calçada. O caminho da felicidade, é preciso atravessá-lo bem depressa, sob o risco de ser jogado ao chão pelos loucos da vida, tu que só tens olhos para o moribundo abandonado à beira da estrada, do outro lado do caminho que leva de Jerusalém a Jericó. E se alguém te pergunta a razão da esperança que te apressa a agir assim,

tomas a criança morta que estão descendo da cruz e tu lhe abres o túmulo de teus braços para que ali, bem aper-

tado em teu seio, ela descanse e desperte e reviva em tuas entranhas. É que diante de ti está essa hora de tristeza, quando será preciso dar à luz de novo. Tu consentiste nisso, mãe das dores, que não cessas de pôr no mundo do Pai esse grande corpo de sofrimentos do Filho Primogênito. Consentiste nisto, e aí está a tua glória que já estremece dentro de ti mesma e libera sobre o mundo o teu “Magnificat” na hora exata das trevas, quando é preciso ainda que experimentes a ingratidão e o ódio e a solidão por onde deverão passar aqueles que te são confiados, para que tudo seja consumado daquele primeiríssimo “Fiat”, a única palavra-mãe, aquela que perdura quando a terra passa. Para ti, não há beatitude plena antes da consumação dos séculos. Está escrito! É preciso ainda que, de Nazaré ao Gólgota, carregues todas as gerações até o Dia da eterna natividade, quando elas se levantarão e nem uma só delas deixará de te proclamar Bem -aventurada!]

* CHRISTIAN DE CHERGÉ foi um dos sete monges trapistas do mosteiro Nossa Senhora do Atlas (Argélia), degolados por ativistas do GIA – Grupo Islâmico Armado em 23 de maio de 1996, após um sequestro de dois meses. Christian nasceu em Paris, em 18 de janeiro de 1937, segundo de oito irmãos. Seminarista, foi convocado para a guerra da Argélia, onde passou 18 meses. Foi ordenado padre em pleno Vaticano II (março/1964) e cinco anos depois entrou para a Ordem Cisterciense. Em Roma, por dois anos, aprofundou seus conhecimentos do árabe e do Islã, regressando a N. Sra. do Atlas, em Tibhirine, onde fundou um grupo de reflexão que reunião monges, leigos e muçulmanos. Há filmes e vários livros sobre ele e sua herança espiritual, entre os quais a obra de Bruno Chenu “L’Invincible Espérance” (Ed. Bayard).

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Roteiros Pastorais Leitura Orante 32 • Tudo em Família 33 Dinâmica para Grupo de Jovens 33 • Catequese 34 O Lutador Kids 36 • Homilética 37 olutador [ março ] 2016 • 31 ]


Leitura Orante [ Páscoa...

Busca da intimidade com Deus Procure um ambiente tranquilo, silencie, invoque a Santíssima Trindade, peça as luzes e faça a oração ao Divino Espírito Santo. Pode cantar um refrão para ajudar no recolhimento. Sugestão:

– O Senhor ressurgiu! Aleluia! Aleluia! (2x). A. Situando o texto A Páscoa é tempo da novidade maior. Tempo da surpresa de Deus que faz a vida vencer a morte. Quando parecia que tudo estava acabado, quando os maus e opressores pareciam ter calado a voz de Jesus, quando os discípulos e os pobres já curvavam a cabeça, desanimados e desorientados com os acontecimentos da cruz, quando parecia já não haver esperança, eis uma grande novidade... Vamos, com calma e atenção, ouvir o que o Senhor nos vem falar. B. O que o texto diz em si Ler na Bíblia: João 20,1-23. Chave de Leitura: O que os discípulos vêm no túmulo? Qual a reação deles? Quando Maria Madalena reconhece o ressuscitado? Ao se encontrar com os discípulos, o que Jesus diz e faz? Em que momento de sua vida você experimentou mais de perto a força da ressurreição? C. O que o texto diz para nós O relato bíblico é cheio de detalhes, e estes são fundamentais para captarmos a importância da ressurreição na vida da comunidade cristã e na nossa

vida. João é o “Evangelho dos sinais”. E sinal não é apenas o que eu vejo, mas é aquilo que me faz ver. O discípulo que chega primeiro, não entra, mas ele vê os panos dobrados e acredita. Ele vê o sinal e acredita (v.8). Este é o apelo para nós. Devemos ser capazes de ver os sinais do ressuscitado em nossa vida, em nossa história. Em cada situação que a vida vence a morte, Jesus ressuscitado está presente. E sempre que nos empenhamos em defender e socorrer a vida, o Ressuscitado está ao nosso lado.

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“Vi o Senhor” D. O que o texto nos faz dizer a Deus? a) Senhor, que saibamos reconhecer vossa presença redentora em toda ação que defende a vida. Rezemos: – Senhor, dai-nos vossa paz!

Cantando: Jesus Cristo é o Senhor, / o Senhor, o Senhor. / Jesus Cristo é o Senhor. / Glória a ti, Senhor!

b) Senhor, que a celebração da Páscoa renove em nós a força missionária. Rezemos:

Maria Madalena, a primeira testemunha da ressurreição, procurava o Senhor desde antes do amanhecer. Pela sua amizade com o Senhor, talvez ela esperasse que tudo aquilo pudesse ter sido diferente. E sua esperança não foi em vão. Mas ela só reconhece o Senhor quando ele a chama pelo nome (v.16). O Senhor nos conhece pelo nome e tem amizade por nós. Quando Maria reconhece Jesus, ela o abraça, sinal de sua amizade e carinho. Também nós devemos fazer esta experiência de nos sentirmos abraçados pelo ressuscitado. Ele está sempre ao nosso lado. Ele não nos abandona. Não estamos sozinhos... O Senhor quer que sejamos seus missionários: “Vá a meus irmãos...” (v.17) Ele nos comunica a paz e nos fortalece com o Espírito Santo (v. 20-22), para que sejamos também capazes de perdoar e ajudar o mundo a ser melhor.

c) Senhor, ajudai-nos a não desanimar, confiando na presença do Espírito Santo que sempre nos sustenta. Rezemos:

Rezando: Da minha vida Ele é o Senhor (3x) / Glória a ti, Senhor!

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E. O que o texto sugere para nossos dias? Ao aparecer aos discípulos, Jesus comunica sua paz e sopra sobre eles o Espírito Santo. Temo-nos deixado guiar mais pelo Espírito de Deus ou por nossos desejos particulares? Por quê? F. Tarefa concreta Viver com intensidade o período pascal. Tempo de alegria, de entusiasmo missionário e de levar a sério as propostas que abraçamos durante a Quaresma. Encerramento Recolher-se no silêncio, procurando perceber a presença de Jesus ressuscitado em sua vida, na vida de sua família e de sua comunidade. Pai-Nosso e pedido de bênção a Deus.]


Tudo em Família [ 27 – Pensar juntos...

Ou ela ou eu... 1. Coisas que acontecem O pai de Norma faleceu e a mãe já era bem idosa, com sintomas de Alzheimer. O único irmão morava no exterior e Norma decidiu levar a mãe para casa. Alexandre, o marido de Norma, ouviu a proposta e silenciou. Quem cala consente? O quartinho da TV foi rearranjado para Dona Guiomar, com uma cama patente e o armarinho dos remédios. Claro, a vida da família mudou bastante. Alexandre e os dois filhos sentiram-se pouco à vontade com a chegada de Dona Guiomar, que exigia a presença de Norma e lhe tomava o tempo. Era a filha quem lhe dava banho, controlava os horários dos medicamentos, cuidava de sua roupa e de sua alimentação. Em suma, os outros membros da família já não podiam contar com a onipresença de Norma, à qual estavam acostumados.

A gota d’água foi o dia em que, durante o almoço, Dona Guiomar esbarrou no prato, que caiu ao chão e se quebrou. Assustada, ela começou a chorar convulsivamente. Alexandre e os filhos se levantaram e interromperam a refeição. À noite, o marido disse à mulher: - “Não aguento mais esta situação... Ou ela ou eu...”

2. Pensando juntos “Não pode ser transcurado pela Igreja o momento da velhice, com todos os seus conteúdos positivos e negativos: de possível aprofundamento do amor conjugal sempre mais purificado e enobrecido pela longa e sempre contínua fidelidade; de disponibilidade a pôr a serviço dos outros, em forma nova, a bondade e a sabedoria acumuladas e as energias que permanecem; de dura solidão, mais frequentemente psicoló-

gica e afetiva que física, por um abandono eventual ou por uma atenção insuficiente dos filhos e dos parentes; de sofrimento pela doença, pelo progressivo declínio das forças, a humilhação de ter que depender de outros, a amargura de se sentir talvez um peso para os seus próprios entes queridos.” (Familiaris Consortio, 77)

3. Para uma reunião de casais - Você já teve a experiência de acolher em seu lar um parente idoso? Como foi isto? - Conhece algum casal que passou por esta experiência? Enquanto observador, como você avaliou a situação? - Acha justo o ultimato de Alexandre: “Ou ela ou eu?” Como você, esposa, reagiria? - Que faria você se estivesse no lugar de Alexandre? - Conhece casais que se separaram devido à chegada de um filho ou parente deficiente? - Como você encara a perspectiva da própria velhice e de suas dificuldades?]

Jornal Falado — Dinâmicas para Grupo de Jovens [ 25 Objetivos 1. Organizar informações sobre um determinado assunto. 2. Desenvolver a expressão oral, o raciocínio, o espírito de cooperação e socialização.

4. Transmitir idéias com pronúncia adequada e correta. Passos: 1. Formar pequenos grupos. 2. O coordenador apresenta o tema para estudo, pesquisa. [ Por exemplo: Campanha da Fraternidade; Corrupção; Combate ao mosquito da dengue; Violência...]

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3. Sintetizar idéias e fatos.

3. Cada grupo pesquisa e estuda o tema. 4. Cada grupo sintetiza as idéias do tema.

Avaliação: 1. Quais os momentos que mais nos agradaram?

5. Elaboração das notícias para apresentação, de forma bastante criativa.

2. Que ensinamentos podemos tirar para o grupo?]

6. Apresentação do jornal ao grupão.

Fonte: PJ Brasil

olutador [ março ] 2016 • 33 ]


FOTOS/reprodução

Catequese / Roteiros [ 3 encontros seguindo 1. Eu também não te condeno (5º Dom. Quaresma)

Objetivo: Perceber a presença e a importância de Jesus na nossa vida. Material: Bíblia, etiquetas (cartões) com várias palavras (ver dinâmica). 1 – Ver (a realidade) Dinâmica: Escrever em cartões ou etiquetas várias palavras como: amor, perdão, misericórdia, pecado, culpa, pedra, erro, compaixão, arrependimento. Colocar dentro de uma caixinha e passar de mão em mão. Ao sinal do (a) catequista, quem está com a caixa abre, tira um cartão e comenta sobre o assunto. Experiência de vida Comentar o que sentiram quando tiveram que falar sobre os assuntos. Temos coragem de falar o que pensamos? Temos facilidade ou dificuldade em perdoar? 2 – Iluminar (Ensinamentos de Jesus) Canto: para aclamar a Palavra

Para refletir Jesus pregava nas cidades e vilas. Muita gente oprimida chegava até ele em busca de vida plena. Ali onde Jesus estava, reuniam-se sofredores que buscavam libertação. Para essas pessoas, Jesus ia-se revelando quem ele era. Há, no meio do grupo, gente que quer desmoralizar esse jeito de Jesus viver. Querem forçar a barra para dizer que Jesus não segue a Lei. Por isso trazem o caso dessa mulher que, segundo a Lei, devia ser apedrejada até a morte. Jesus mostra que o amor é a plenitude da lei. Na verdade, todos somos pecadores e devemos aprender a perdoar como Jesus, como Deus perdoa. O perdão vence o erro, vence o ódio. Guardar no coração: – “Eu também não te condeno...” 3 – Celebrar Oração: Fazer um instante de silêncio. Depois convidar a todos para pedir perdão pelas vezes em que magoamos ou prejudicamos uns aos outros. Terminar convidando a dar um abraço em quem está perto, dizendo um para o outro: “É perdoando que nós somos perdoados”.

Cantar a oração de São Francisco: – “Senhor, fazei-me um instrumento de vossa paz...”

Leitura: João 8,1-11. Perguntar:

2. Isto é o meu corpo. (Domingo de Ramos)

Objetivo: Auxiliar as crianças no crescimento da fé e do amor a Jesus na Eucaristia. Material: Bíblia, um ou dois pãezinhos, cartaz ou faixa: “Isto é o meu corpo, que é dado por vós”. Para a dinâmica: separar as palavras da frase. 1 – Ver (a realidade) Dinâmica: O (a) catequista passa o pão para que cada um tire o seu pedaço e coma. Distribui as palavras para que seja feita a montagem da frase: “Isto é o meu corpo que é dado por vós”. Com a frase pronta, comentar. Experiência de Vida Comentar sobre a importância do pão, do alimento para o sustento da vida. Dialogar: O que é a vida? (a cada sugestão de pergunta deixar que as crianças falem). De onde vem a vida? Para que vivemos? Jesus quer que tenhamos vida plena, isto é, repleta de felicidade, amor, paz e fraternidade. Para que tenhamos vida, Ele se entregou por nós. A Eucaristia é o Pão da Vida. É o pão que nos dá força para amar, fazer o bem e ser feliz.

4 – Agir (a realidade nos convoca para...) 2 – Iluminar (Ensinamentos de Jesus)

a) O que as pessoas queriam fazer com a mulher?

Compromisso: Descobrir as atividades da Semana Santa de sua comunidade.

Leitura: Lucas 22,14-22.

b) Qual foi a atitude de Jesus? c) O que Jesus disse à mulher? d) O que Jesus espera de nós, hoje?

Canto de aclamação:

Final Rezar o Pai-Nosso e a Ave-Maria. Terminar o encontro com um canto alegre.]

[ 34 • olutador [ março ] 2016

Perguntar: a) Quais as primeiras palavras de Jesus à mesa com os discípulos?

os


ndo

os Evangelhos dos domingos 13, 20 e 27 de março ] b) O que Jesus diz ao pegar o pão?

c) O que ela disse aos discípulos?

c) O que ele diz sobre o cálice? 3. Jesus Ressuscitou (Domingo de Páscoa)

d) Para que as pessoas buscam a comunhão na Igreja? Para refletir Jesus desejou ardentemente celebrar com seus discípulos. A Eucaristia nasce desse desejo do coração de Jesus. A Eucaristia é um gesto do grande amor de Jesus por todos nós. Porque Ele nos ama, Ele aceita enfrentar o sofrimento, a cruz e morte para que nós possamos ter mais vida. Jesus entrega sua vida para defender a vida. Seu corpo machucado e seu sangue derramado denunciam a violência dos maus que exploravam o povo. Jesus é injustamente condenado à morte. Todos os que são a favor da vida, estão do lado de Jesus. Guardar no coração: – “Fazei isto em memória de mim!” 3 – Celebrar Oração: (de joelhos diante do crucifixo) Eis-me aqui, meu bom e doce Jesus! Humildemente prostrado em vossa presença, vos peço e suplico com todo o fervor de minha alma, que vos digneis gravar no meu coração os mais vivos sentimentos de fé, esperança e caridade e de verdadeiro arrependimento de meus pecados, e o firme propósito de emendar-me. Rezar o Pai-Nosso e a Ave-Maria.

Objetivo: Motivar a fé na ressurreição de Jesus. Material: Bíblia, velas, banco com lençol branco, caixa grande (para dinâmica) algo para partilhar (doces ou bolachas). 1 – Ver (a realidade) Dinâmica: Sem que o grupo saiba, preparar uma caixa como se fosse um presente. (Pode-se optar por outra maneira, como esconder-se debaixo de uma mesa com toalha etc.). Dentro da caixa fica um participante. Nas vestes do participante há tiras de papel com as palavras: vida, paz, esperança, fé, partilha, ressurreição, alegria, luz, amor etc. Motivar o grupo para abrir a caixa. Quem está dentro salta fora da caixa com alegria e abraça a todos. Distribui as palavras que traz consigo. Experiência de Vida Dialogar com o grupo sobre momentos de alegria e felicidade. Cada um relata o seu momento de grande felicidade. Hoje é o dia de maior alegria para os cristãos: a Páscoa. Jesus ressuscitou, venceu a morte e está vivo entre nós! Como foi isso? 2 – Iluminar (Ensinamentos de Jesus)

4 – Agir Compromisso: Participar das celebrações da Semana Santa e convidar também os pais e familiares a participarem. Final Canto apropriado: “Vem, Senhor, / vem nos salvar. / Com teu povo vem caminhar.”]

Canto de aclamação Leitura: João 20,1-9. Perguntar: a) O que aconteceu no primeiro dia da semana, depois da morte de Jesus? b) Quando Madalena viu o túmulo, o que ela fez? olutador [ março ] 2016 • 35 ]

d) O que fizeram Pedro e João ao receberem a notícia? Para refletir Jesus ressuscitou. Ele está vivo, venceu a morte por amor. Os dois discípulos correram em busca de Cristo vivo ressuscitado e creram naquilo que aconteceu. Assim nós devemos correr ao encontro de Jesus ressuscitado, que nos quer dar a vida nova. Ele quer que ressuscitemos cada dia, pois ressuscitar é sair de situações difíceis. Sair da maldade e caminhar para a luz que é Cristo. É passar para uma vida melhor, ter paz no coração, amar a todos. Isto acontece com a força viva do Ressuscitado que está dentro de nós. Para os cristãos que amam e têm fé, inicia-se com a ressurreição uma nova Criação, uma nova vida, nascida da morte e ressurreição de Jesus. Guardar no coração: – “Cristo ressuscitou, venceu a morte com amor.” 3 – Celebrar Oração: Todos ao redor do banco coberto com lençol branco, com velas acesas. Motivar, falando que Jesus não está morto. O túmulo está vazio. Jesus está vivo no meio do povo, iluminando a vida das pessoas, dando forças para viver como cristãos. Pode-se rever os sinais de ressurreição nas palavras da dinâmica do início do encontro e acrescentar outros sinais. 4 – Agir (a realidade nos convoca para...) Compromisso: Escolher uma frase do Evangelho para viver durante a semana em família. Final Encerrar o encontro com o Pai-Nosso, a Ave Maria e um canto de Páscoa animado.]


Um espaço descontraído e os alegre que leva ertar pequenos ao desp ento ntam da fé e ao enca com Jesus

O Lutador Kids [ Fraternidade... P Á S

Cruzadinha da Fraternidade 1. Período do sofrimento de Cristo 2. Dia que antecede a Páscoa 3. Ele morreu para nos... 4. Estavam reunidos de portas fechadas 5. Quando Jesus apareceu, ele não estava com os outros 6. Jesus na forma de pão

P a ra co lo r i r e ap r en d er . . .

Os Símbolos da Páscoa

C O A

Ler na Bíblia: João 20,19-23 e colorir o desenho

2. Para colorir e aprender...

Ler na Bíblia: João 20,19-23 e colorir o desenho

respostas: 1. Paixão, 2. Sábado, 3. Salvar, 4. Discípulos, 5. Tomé, 6. Eucaristia

[ 36 • olutador [ março ] 2016


Homilética [ 20•03•2016

Leituras: Is 50,4-7; Sl 21[22]; Fl 2, 6-11; Lc 22,14-23,56 1. O Servo sofredor. Este é o 3º cântico do Servo sofredor. Quem é este personagem misterioso? Poderia ser o povo de Israel, uma pessoa anônima, talvez até mesmo o profeta, ou quem sabe, simbolizaria o Israel messiânico, o Messias futuro. O certo é que o Novo Testamento vê, claramente em Jesus, a realização perfeita dos quatro cânticos do Servo de Javé. Jesus é o Servo humilhado pelos homens e exaltado por Deus. A missão do Servo é “mostrar à custa das ofensas recebidas que o amor de Jesus é perene. Os exilados não precisam lamentar o aparente abandono de Javé, pois seu amor é eterno”. Javé dá ao Servo a capacidade de falar para levar o conforto ao povo. Abre-lhe os ouvidos, para que, aprendendo como discípulo, possa transmitir ao povo os ensinamentos de Deus. A atitude do Servo fiel é de impressionante humildade, resignação e entrega total. Não oferece resistência àqueles que o torturam (dá as costas); submete-se à profunda humilhação, entregando seu rosto aos ultrajes e cuspidas. A ignomínia não derruba o Servo. Ele conserva o rosto duro: para manter sua função de fiel discípulo e cumpridor de sua missão, ele não leva em conta as numerosas ofensas recebidas. Ele tem certeza de que o Senhor lhe presta auxílio e não sairá frustrado. Diante de tudo o que aconteceu com Jesus, nossa certeza e nossa esperança são inabaláveis. São estes os seus sentimentos de cristão diante do sofrimento? 2. O Filho glorificado. Este hino sintetiza a história de Jesus: o mistério de sua encarnação, morte e glorificação. Vemos primeiro um movimento descendente (vv. 6-8). É o gesto radical do Filho, seu mer-

[Lc 23,37]

[ dia 21: Is 42,1-7; Sl 26[27],1-3.13-14; Jo 12,1-11 [ dia 22: Is 49,1-6; Sl 70[71],1-4a.5-6ab.15.17; Jo 13,21-33.36-38 [ dia 23: Is 50,4-9a; Sl 68[69],8-10.21bcd-22.31.33-34; Mt 26,14-25 [ dia 24: Ex 12,1-8.11-14; Sl 115[116B],12-13.15-16bc.17-18; 1Cor 11,23-26; Jo 13,1-15 [ dia 25: Is 52,13 - 53,12; Sl 30[31],2.6.12-13.15-17.25; Hb 4,14-16; 5,7-9; Jo 18,1–19,42 [ dia 26: Gn 1,1 – 2,2; Ex 14,15 – 15,1; Is 55,1-11; Rm 6,3-11;

Sl 117[118],1-2.16ab-17.22-23; Lc 24,1-12

gulho nas águas sujas da miséria humana. Jesus assumiu a condição dos mais excluídos: deixou sua condição divina, seu modo glorioso de vida (v. 6) e, praticamente, tornou-se um nada (aniquilou-se a si mesmo). É o mistério da encarnação. Por solidariedade com os mais excluídos, assumiu a condição de Servo, homem a serviço, homem sofredor (v. 7), obediente até à morte e morte violenta, injusta, assassina (v.8).

F/reprodução

Domingo de Ramos e Paixão

Leituras da semana

“Se és o rei dos judeus, salva-te a ti mesmo!”

Depois, um movimento ascendente. O Pai exalta o Filho, glorifica-o, dálhe o Nome que está acima de todo o nome, restitui-lhe a condição divina e glorifica também sua humanidade (v. 9). A ele, todos devem a honra e a adoração; os que estão nas alturas celestes, os que estão sobre a terra e os que estão debaixo da terra. Todos os seres criados estão submetidos ao nome de Jesus (v. 10). Jesus, glorificado pelo Pai, tornou-se Senhor de tudo e de todos. Por isso toda a língua, quer dizer, todo mundo deve confessar o senhorio de Jesus (v. 11). Paulo nos convida a ter os mesmos sentimentos de Jesus (v. 5): desapego, humildade, obediência e entrega total a serviço dos excluídos. olutador [ março ] 2016 • 37 ]

3. Para a salvação de todos. Em Jesus se realiza a profecia do Servo sofredor, o aniquilamento total do Filho de Deus (Fl 2,6-8). O alto do Calvário é o ponto mais baixo que Jesus alcançou em seu mergulho na miséria humana. É seu encontro solidário com os mais excluídos. Depois do Calvário começa o movimento ascendente (Fl 2,8-11) daquele que desceu para resgatar os excluídos. Seu êxodo termina na casa do Pai como Senhor glorificado. A paixão começa com a Eucaristia (vv. 14ss), quando Jesus se doa antecipadamente no pão e no vinho consagrados. Ali, Jesus ensina que o maior é aquele que serve, que faz o que Ele está fazendo, capaz de doar a própria vida (Fl 2,7-8). Jesus tem consciência de sua morte na cruz (vv. 35ss). Em seguida Jesus se dirige para o Monte das Oliveiras e se põe a rezar, mas está pronto a realizar a vontade do Pai. Jesus estava angustiado. Ele começa a realizar em pormenores a profecia do Servo Sofredor. Pela manhã, foi levado ao tribunal judeu (Sinédrio), onde se revela o Filho de Deus (vv. 63-71). Depois é conduzido a Pilatos, onde o enchem de acusações e, em seguida, a Herodes, mas ali permanece em silêncio (23,1-12). É reenviado a Pilatos, que o declara inocente, mas os judeus pedem a sua morte e Pilatos acaba cedendo (23,13-25). Jesus leva sua cruz ao Calvário e é crucificado. Às quinze horas, Jesus morre para a salvação de todos. Representando os povos pagãos, um oficial romano reconhece que Jesus era justo. Por fim, Jesus é sepultado por José de Arimateia. Eis o drama do Servo Sofredor e Redentor dos homens.] [Comentários de: dom emanuel messias de oliveira Bispo Diocesano de Caratinga Fone Cúria: (33) 3321-4600 curiadiocesanacaratinga@hotmail.com]


Homilética [ 25•03•2016

“Tudo está consumado.” [Jo 19,30]

Paixão e Morte de Nosso Senhor

1. Do sofrimento à glória. Javé convida o povo a olhar a figura do Servo sofredor. Mas pede que o povo olhe mais longe, além das aparências. Muitos ficaram aterrorizados ao verem o estado subumano a que o servo foi reduzido, mas Deus o exaltará. Um grupo não entende o significado da paixão dolorosa do Servo (53,1-10), olha apenas a aparência do Servo, homem de dores, a tal ponto que ninguém fazia caso dele. Ele sofre inocentemente. Sofre por causa das enfermidades, culpas e pecados do povo. Seu sofrimento, aceito com humildade e sem reclamações, traz a salvação para o povo. O leitor está convidado a comparar a vida dolorosa do Servo com a paixão de Jesus. Fica claro que a Comunidade Cristã primitiva viu em Jesus a realização plena desse personagem misterioso do servo de Javé. Javé glorificará o servo (53,11-12). Muitas vezes desprezamos os desfigurados, empobrecidos e marginalizados, mas Deus, embora não pareça, está mais junto deles do que de nós. Eles são uma instância crítica da nossa solidariedade, justiça e caridade. 2. Jesus, vítima e sacerdote. A primeira parte do texto quer mostrar Jesus como sumo sacerdote que intercede por nós, não como os outros da Antiga Lei, através do sacrifício de animais. Ele é mais capaz do que os outros de se compadecer de nossas fraquezas, pois ele mesmo foi provado em tudo como nós, com exceção do pecado. Ele mesmo foi a vítima oferecida por nós. O tema principal da Carta aos Hebreus é o Sacerdócio de Cristo. A Car-

ta aos Hebreus insiste em que Jesus era um ser humano totalmente semelhante a nós e experimentou profundamente nossa condição humana, menos o pecado, pois Jesus não deixou de ser Deus ao fazer-se homem. Podemos afirmar que Jesus experimentou todas as consequências do pecado sem nunca ter pecado. Jesus rezou ao Pai “com clamor e lágrimas para que o Pai o salvasse da morte”. É uma referência à agonia de Jesus no Jardim das Oliveiras. E ele foi atendido por causa do seu profundo respeito ao Pai. No fundo, ele reconheceu que a vontade do Pai é que deveria realizar-se, e não a sua. “Mesmo sendo filho, aprendeu a obediência pelo sofrimento”. Muitas vezes

F/reprodução

Leituras: Is 52,13-53,12; Sl 30[31],2.6.12-13.15-17.25; Hb 4,14-16;5,7-9; Jo 18, 1-19,42

pensamos que não devemos sofrer, pois somos bons, somos filhos de Deus, somos religiosos, de comunhão diária! E Deus não salvou Jesus da morte, mas o salvou na morte, através da morte, com a ressurreição. Pois Jesus de fato morreu, mas Deus o ressuscitou. 3. Vida que nasce da morte. Um grupo armado vai ao jardim, onde Jesus rezava, e o prende. Quando Jesus se identifica: “Sou eu”, os soldados caem por terra. A expressão “sou eu” relembra que Jesus é Deus. Foi assim que Javé se apresentou a Moisés no Sinai. Jesus repreende a violência de Pedro e aceita o cálice que o Pai lhe deu.

[ 38 • olutador [ março ] 2016

Jesus é levado a Anás e a Caifás, chefe dos sacerdotes. Depois, Jesus é levado ao palácio do governador Pilatos; já de manhã. Continua o interrogatório, e Jesus confirma ser o rei, mas não deste mundo. Os chefes dos sacerdotes aderem ao sistema político que mata Jesus. Eles pertencem a César, não a Deus. Pilatos, para manter seu status, entrega Jesus à morte, mesmo sabendo que ele é inocente. Jesus carrega a cruz até o Calvário, onde é crucificado entre dois ladrões. O letreiro afirmava que Jesus era o rei dos judeus. Lá estavam algumas mulheres, a mãe de Jesus e o discípulo que Jesus amava. Jesus declara Maria como mãe da Igreja, representada pelo discípulo que Jesus amava. A hora da morte e da glória chegou. Inclinando a cabeça, Jesus entrega seu espírito à Igreja. Morre Jesus, nasce a Igreja. Aqui, com a expressão “entregou o seu Espírito”, o evangelista parece usar um duplo sentido: a morte e o Pentecostes. Jesus morre no dia da preparação para a Páscoa, quando os judeus matavam o cordeiro pascal. O verdadeiro Cordeiro Pascal, que tira o pecado do mundo, é Jesus. Ele substitui assim todos os sacrifícios do Antigo Testamento. Os soldados atravessaram seu lado com a lança e saiu sangue e água, símbolos dos sacramentos da Igreja: Eucaristia e Batismo. É Jesus com sua morte a gerar vida para a Igreja. José de Arimateia e Nicodemos se encarregaram de tirar o corpo de Jesus da cruz e o colocaram num túmulo novo. O “jardim” é lembrado no início e no fim. É uma alusão ao Jardim do Éden. Lá, o ser humano rejeitou a vontade de Deus, buscando egoisticamente a vida, e encontrou a morte. Aqui, Jesus, atendendo à vontade de Deus, entregou-se caridosamente à morte, gerando vida.]


Homilética [ 26•03•2016

“Não está aqui. Ressuscitou!” [Lc 24,6]

Sábado Santo – Vigília Pascal Leituras: Gn 1,1.26-31a; Ex 14,15-15,1; Is 55,1-11; Sl 117[118]; Rm 6,3-11; Lc 24,1-12

Para isso é preciso apenas escutar a sua voz, e buscá-lo através de uma mudança de vida, pois Deus é generoso no perdão. Seus pensamentos, seus caminhos e misericórdia são totalmente diferentes dos pensamentos, caminhos e misericórdia do homem.

1. Tudo era bom. Aqui temos a Criação do céu, da terra, do homem e da mulher. Deus criou o homem e a mulher à sua imagem e semelhança, ou seja, com traços divinos. Deu-lhes com sua benção o poder da fecundidade, o poder de multiplicar-se e administrar a criação. E o que Deus fez era muito bom. 2. Da escravidão à liberdade. Este trecho narra a libertação do povo da escravidão egípcia, através da passagem do Mar Vermelho. É Deus vindo ao encontro do seu povo escravizado e trazendo-lhe a libertação através de Moisés. Os egípcios reconhecem a ação de Deus nesta frase: “Vamos fugir de Israel, pois o Senhor combate a favor deles, contra os egípcios”. Tudo isto prefigura a vitória de Cristo sobre a escravidão do pecado, trazendo libertação e vida para todos os que crêem. 3. A vida, dom de Deus. O povo, de novo, se afastou de Deus com seu pecado. Mas só em Deus o povo encontra abundância de vida. O profeta anuncia aqui a vida gratuita oferecida por Deus.

F/reprodução

Vamos dar uma idéia geral das leituras de hoje. A quantidade não permite aprofundamento. As leituras de hoje querem mostrar a caminhada de Deus com seu povo, trazendo libertação e vida.

Sua palavra fecunda e salvadora é comparada com a chuva e a neve que fecundam a terra. A Palavra de Deus sempre cumpre a sua missão. 4. A vida nova no batismo. O apóstolo Paulo explica o significado da vida nova através do batismo. O batismo, mergulho na água, simboliza a morte para o pecado. Se com Cristo fomos sepultados na morte, com ele também devemos ressuscitar para uma vida nova. O sair da água, simboliza a ressurreição, a vida nova. Batizar jogando água sobre a cabeça da criança não deixa transparecer com tanta clareza este aspecto fundamental do batismo-mergulho, que olutador [ março ] 2016 • 39 ]

é a entrada na água (morte) e a saída da água (vida nova). A libertação que Cristo alcançou para nós através da cruz, nós a acolhemos através do batismo. 5. O túmulo vazio. Dia de Domingo. As mulheres vão ao túmulo preparar o corpo de Jesus ungindo-o com perfumes e bálsamos, que prepararam na 6a feira (cf. Lc 23,56), pois o corpo de Jesus havia sido sepultado às pressas. Estamos percebendo muito amor, mas pouca fé, pois Jesus havia anunciado sua ressurreição ao 3o dia. De fato não encontraram o corpo do Senhor e ficaram sem saber o que estava acontecendo. Dois anjos aparecem e anunciamlhes que Jesus está vivo, ressuscitou, segundo o que ele mesmo havia anunciado na Galileia. Elas anunciam esta “boa nova” aos onze apóstolos e a todos os outros discípulos, mas eles não acreditam nelas. Pedro, porém, na mesma hora foi ao túmulo. Viu apenas os lençóis de linho. Isto significa que o corpo de Jesus não fora roubado. “Então Pedro voltou para casa, admirado com o que havia acontecido”. Pedro ficou admirado, mas o texto não fala que ele tenha acreditado. É claro que ele acredita depois que Jesus aparece a ele sozinho (v. 34) e junto com os outros apóstolos (vv. 35ss), quando Jesus até mesmo comeu um pedaço de peixe com eles (v. 43). Todo Domingo celebramos a Ressurreição do Senhor. Qual é a vibração da sua fé?] [Comentários de: dom emanuel messias de oliveira Bispo Diocesano de Caratinga


Homilética [ 27•03•2016

“Entrou também, viu e creu.” [Jo 20,8]

Leituras da semana

Leituras: - At 10,34a.37-43; Sl 117[118]; Cl 3,1-4; Jo 20,1-9 1. A abertura aos pagãos. A Igreja de Jerusalém corria o risco de esclerosarse, fechada em Jerusalém e bitolada ao judaísmo. Havia necessidade urgente de abertura. Pedro rompe com o esquema, abrindo a Boa Nova aos pagãos. O texto da liturgia de hoje salienta parte do sermão de Pedro: seu anúncio sobre Jesus Cristo aos pagãos. Em resumo, anuncia a atividade de Jesus de Nazaré a partir do batismo pregado por João. Pedro apresenta o itinerário de Jesus que, depois do batismo de João, partiu da Galileia e percorreu toda a Judeia. Deus ungiu Jesus com o Espírito Santo e com poder. O v. 38 sintetiza sua vida: “Ele andou por toda a parte, e curando a todos os que estavam dominados pelo diabo, porque Deus estava com Jesus”. Que significa curar os que estavam dominados pelo diabo? Se levarmos em conta que o diabo está diretamente relacionado com tudo o que divide, discrimina, oprime, com tudo o que é mentira, erro e pecado, com todo tipo de doença, física e mental, então começamos a entender toda a atividade de Jesus. O que Jesus queria era uma sociedade justa e fraterna com homens livres, respeitosos da dignidade uns dos outros. Pedro e os apóstolos testemunham três atividades: a de Jesus a favor do povo; a dos judeus contra Jesus; a de Deus em favor de Jesus. A ação de Jesus foi mencionada acima. Os judeus mataram Jesus, suspendendo-o numa cruz, mas Deus o ressuscitou ao terceiro dia e lhe concedeu aparecer às suas testemunhas e tomar refeições com elas. Em seguida, Pedro fala sobre a missão que Jesus deu aos apóstolos: pregar e tes-

dia 28: At 2,14.22-33; Sl 15[16],1-2a.5.7-11; Mt 28,8-15 dia 29: At 2,36-41; Sl 32[33],4-5.18-20.22; Jo 20,11-18 dia 30: At 3,1-10; Sl 104[105],1-4.6-9; Lc 24,13-35 dia 31: At 3,11-26; Sl 8,2a.5-9; Lc 24,35-48 dia 1º: At 4,1-12; Sl 117[118],1-2.4.22-27a; Jo 21,1-14 dia 2: At 4,13-21; Sl 117[118],1.14-21; Mc 16,9-15

temunhar que Deus o constituiu juiz dos vivos e dos mortos. E termina anunciando o que todos os pregadores (= profetas) testemunham: a necessidade da fé em Jesus, para receber o perdão dos pecados. O que Jesus quer da sua Igreja hoje? Expulsão de demônios, no sentido literal, como fazem diversas seitas, ou a luta pela implantação do Reino com a expulsão do demônio da opressão, da injustiça, da alienação, da exclusão, enfim, de toda a forma de pecado? 2. Ressuscitados com Cristo. No capítulo 2º, Paulo falou do batismo, pelo qual o cristão participa da morte e ressurreição de Cristo. Como Cristo morreu e foi

F/reprodução

Domingo da Ressurreição

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sepultado, também o cristão, coberto pela água do batismo, morre para o mundo do pecado. Como Cristo ressuscitou para uma vida nova, também o cristão ressuscita para uma vida nova com Cristo. Aqui, Paulo conclui o seu raciocínio. Se os cristãos ressuscitaram com Cristo, não pertencem mais a este mundo de pecado. Eles têm agora um compromisso novo; não pecar nem buscar mais as coisas da terra, mas as coisas do céu, de onde Cristo reina. A vida do cristão é Cristo; sua vida está escondida em Cristo no céu. Para as coisas do mundo, o cristão já está morto. A vida do cristão só aparecerá gloriosa quando Cristo, que é sua vida, aparecer na sua glória. [ 40 • olutador [ março ] 2016

Que cristão é este, que tem a obrigação de viver como se já estivesse ressuscitado? Esse cristão é você, sou eu, somos todos nós. Que estamos esperando para viver em profundidade o sentido do nosso batismo? 3. O túmulo vazio. No 1o dia da semana, o domingo – dia da nova Criação, Madalena vai ao túmulo para visitar o cadáver de Jesus. Ela simboliza a comunidade sem fé, caminhando ainda no escuro. E acha que roubaram o corpo de Jesus. Quem não tem fé busca explicações racionais para tudo: houve um roubo. É isso que ela transmite a Pedro e ao discípulo que Jesus amava. Por falta de fé, a comunidade não estava reunida. Os dois discípulos correm ao túmulo. O discípulo que Jesus amava chega primeiro, não apenas porque é mais jovem, mas por causa do amor. Quem ama chega rápido, entende mais, acolhe mais, aceita mais. Por respeito, João não entra, apenas se inclina e vê os panos de linho estendidos. Simbolicamente, o túmulo é para João a cama nupcial, não um lugar de morte, mas de encontro com o Senhor da vida, com a comunidade-esposa. Pedro chega, olha e vê tudo: os panos de linho estendidos, o sudário dobrado à parte. Ladrões não teriam este cuidado de deixar as coisas arrumadinhas. O corpo de Jesus, portanto, não foi roubado. Mas Pedro não chega a conclusões maiores. Nesse momento, como Maria Madalena, ele representa a comunidade ainda incrédula. Então, o outro discípulo entrou também. Ele viu e acreditou. Quem ama tem intenções profundas e vai mais longe. O discípulo que Jesus amava percebeu claramente que Jesus tinha ressuscitado.] [Comentários de: dom emanuel messias de oliveira Bispo Diocesano de Caratinga


Homilética [ 03•04•2016

“A paz esteja convosco!” [Jo 20,19c]

Leituras da semana

Leituras: At 5,12-16; Sl 117[118], 2-4.22-27a; Ap 1,9-11a.12-13.17-19; Jo 20,19-31 1. A comunidade ideal. No texto de hoje, Lucas mostra, a partir dos fatos, o ideal da comunidade. Eles se reuniam em grupo. Hoje temos diversos grupos, grupos da liturgia eucarística, inúmeros grupos de oração e reflexão da Palavra de Deus e as diversas pastorais. O importante é a união. Lucas fala da oração e da partilha do pão e comunhão entre eles (cf. 2,42ss). O testemunho suscita adesão em massa. A comunidade não se fechava. Vemos, aqui, um modelo alternativo de comunidade em contraposição à sociedade egoísta (Ananias e Safira) e competitiva. Do lado de fora, ou para fora, os apóstolos realizam sinais e prodígios. A comunidade é elogiada pelos de fora, mas alguns de fora reagem e perseguem a comunidade. O povo trazia doentes para as praças em esteiras e camas em busca de milagres. Como no deserto, Deus protegia o povo com sua sombra. Aqui até a sombra de Pedro realiza prodígios. Até doentes e endemoninhados de cidades vizinhas procuravam os apóstolos e eram curados. Percebemos que a Igreja continua, na pessoa dos apóstolos, a atividade de Jesus. A Igreja se tornou vida para os excluídos. O que a Igreja faz de maravilhoso para o povo, principalmente, para os excluídos? 2. Jesus, Senhor da história. O autor se considera irmão e companheiro, participante da mesma Igreja sofredora, perseguida. Encontra-se exilado na Ilha de Patmos, porque anunciou a Palavra de resistência à opressão e ao mal e deu testemunho de Jesus. O autor relata a experiência que ele teve no dia do Senhor, isto é, no dia de

dia 4: Is 7,10-14; 8,10; Sl 39[40],7-11; Hb 10,4-10; Lc 1,26-38 dia 5: At 4,32-37; Sl 92[93],1ab.1c.2.5; Jo 3,7b-15 dia 6: At 5,17-26; Sl 33[34],2-9; Jo 3,16-21 dia 7: At 5,27-33; Sl 33[34],2.9.17-20; Jo 3,31-36 dia 8: At 5,34-42; Sl 26[27],1.4.13-14; Jo 6,1-15 dia 9: At 6,1-7; Sl 32[33],1-2.4-5.18-19; Jo 6,16-21

Domingo (v. 10). Seu escrito deve ser lido pela Igreja na sua universalidade. “Sete”, aqui, significa todas as comunidades cristãs. O autor vê sete candelabros de ouro, que representam a Igreja, preciosa aos olhos de Deus. O Filho do Homem está agindo no meio dos candelabros. Isto significa que Jesus está atuando dentro da Igreja. Ele não se esqueceu dos que sofrem. Os vv. 13ss descrevem, simbolicamente, Jesus ressuscitado. Ele é o rei que carrega, antecipadamente, a vitória sobre os exércitos do mal. Como rei, ele exerce também o julgamento sobre as potências contrárias ao Reino. João reage caindo aos pés da divindade, mas Jesus o conforta e encoraja. Quem tem fé não precisa ter medo, pois Jesus é

F/reprodução

2º Domingo da Páscoa

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o Senhor da história (o primeiro e o último). Ele é o Vivente, que ressuscitou para viver para sempre e exercer o domínio sobre a mansão dos mortos. A experiência que você tem de Jesus o encoraja na luta por um mundo melhor? 3. A missão continua. Com sua vitória sobre a morte, Jesus inaugura uma nova era. Percebe-se um contexto de celebração eucarística. É o 1o dia da semana, o Domingo. “Ao anoitecer” lembra o costume dos cristãos celebrarem a eucaristia na tarde de Domingo. A presença de Jesus no meio da comunidade alude à presença eucarística. Os discípulos ainda estão com medo, por isso as portas estão fechadas. Com olutador [ março ] 2016 • 41 ]

seu corpo ressuscitado, Jesus entra assim mesmo e tranquiliza os discípulos, trazendo-lhes a paz daquele que é o Senhor da vida. Os discípulos recobram a alegria ao verem Jesus. Nos vv. 21-23 temos o envio missionário. Os discípulos devem continuar a missão de Jesus sob a garantia do Espírito Santo. Para isso Jesus faz uma nova Criação. O sopro de Jesus relembra o sopro de Deus ao criar o homem. Sopro significa ar, vento, espírito, hálito vital. É o Pentecostes acontecendo no Evangelho de João. Os discípulos recebem o Espírito Santo. O projeto de Deus iniciado por Jesus deve ser continuado. Eis a síntese do projeto de Jesus: Os pecados daqueles a quem vocês perdoarem serão perdoados. Para João, pecado, no singular, significa aderir à sociedade injusta que matou Jesus e continua excluindo e oprimindo os filhos de Deus. “Pecados”, no plural, são atos concretos daqueles que estão no pecado de uma opção por um modo injusto de viver, contrário ao projeto de Deus. Quem quiser aderir ao projeto de Jesus pode receber, através dos apóstolos e seus sucessores, o perdão dos pecados. Infelizmente não é todo mundo que topa. Estes permanecem no seu pecado. O episódio de Tomé ensina que ver Jesus pessoalmente não é o mais importante, pois muitos viram e não acreditaram. Importante é a fé. As testemunhas oculares não estão num plano superior, em relação aos que não viram Jesus pessoalmente. Feliz não é quem viu, mas quem, aqui e agora, acredita em Jesus e adere ao seu projeto de vida, que inclui todos os excluídos.] [Comentários de: dom emanuel messias de oliveira Bispo Diocesano de Caratinga


Variedades [ Dicas de português

[ Não Tropece na Língua [ SEMPRE OS PORQ UÊS Inúmeros leitores têm perguntado a respeito do uso graficamente correto dos porquês brasileiros. Digo “brasileiros” pelo fato de no Brasil termos uma grafia um pouco diferente da de Portugal nesse ponto. Vamos então rever o esquema de uso dos porquês em nosso país.

Bolo inguês Ingredientes 250g de margarina; 2 xícaras de açúcar; 5 ovos; 3 xícaras de farinha de trigo; 1 colher (sopa) de fermento; 1 colher (café) de sal; 1 xícara de passas polvilhadas em farinha de trigo.

Modo de Fazer Bater demoradamente a margarina e o açúcar. Juntar 5 ovos, um a um. Acrescentar a farinha, o fermento, o sal e, por último, as passas. Levar ao forno em forma untada e polvilhada.]

Do livro

“Cozinhando sem Mistério”, de Léa Raemy Rangel & Maria Helena M. de Noronha Ed. O Lutador, Belo Horizonte, MG

1) Usa-se POR QUE (preposição + pronome relativo) em perguntas diretas e indiretas; observe-se o acento circunflexo no “que” antes do ponto de interrogação: – Você pode nos dizer por que não devemos tirar proveito da boa pontuação? – Por que as mulheres ocupam tão poucos cargos políticos? – Brizola não aceitou o cargo por quê? – Por que quando se fala em inclusão social feminina se fala também em acesso ao mundo digital? – Nós, sim, temos o dever de perguntar por que não lhes deram opção de vida.

*** 2) Usa-se POR QUE em frases afirmativas/negativas, como complemento (objeto direto) de verbos como mostrar, justificar, saber, explicar, entender e outros: – Ninguém explica por que os preços não caem. – Joseph Stiglitz, Prêmio Nobel de Economia, encantou plateias e mostrou por que provoca calafrios nos burocratas de Washington. – Não entendo por que os eletricitários vão entrar em greve. – Este mês a revista Motor revela por que vale a pena comprar um carro 1.6. – Gostaria de saber por que seu filho faltou à aula ontem.

***

Pedidos pelo NOVO NÚMERO

0800-940-2377

3) Usa-se POR QUE como complemento das expressões EIS, DAÍ, NÃO HÁ: – Eis por que resolvemos fazer a paralisação. – Não pude me preparar, daí por que desisti do concurso.

[ 42 • olutador [ março ] 2016

– “Não há por que temer mudanças. Esse Brasil já tem regras”, disse o presidente da Valisère. Nesses três casos está sempre implícita a palavra motivo: – Por que (motivo) as mulheres ocupam tão poucos cargos políticos? – Não entendo por que (motivo) os eletricitários entrarão em greve. – Gostaria de saber por que (motivo) seu filho faltou à aula. – Eis por que (motivo) resolvemos fazer a paralisação. *** 4) Usa-se PORQUE para iniciar orações explicativas e causais; em tais afirmações e respostas temos uma conjunção, que equivale a POIS (já que, uma vez que, pelo fato de que, como): – É preciso alfabetizar as pessoas digitalmente junto com a superação do analfabetismo básico, porque não dá tempo de fazer uma coisa antes da outra. – Hoje, a comunidade se assenta em torno do desmatamento porque essa é a única oportunidade de emprego e de renda. – Muitas crianças simplesmente não conseguem aprender porque estão subnutridas. – A agenda social é a praia das mulheres, porque são elas que têm filhos e cuidam da família.

Nos casos em que se aplica a regra do item 4 pode-se colocar uma vírgula antes do “porque”, a indicar o início de uma oração. Já no tocante aos itens 1, 2 e 3 a colocação da vírgula é totalmente imprópria, para não dizer impossível.]


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Palavra de sabedoria

Mensagens [ Poesia & Sabedoria...

“Um homem não pode defender a verdade o tempo todo; é preciso que também haja um tempo para que possa alimentar-se dela.” c. s. lewis

FOTOS/reprodução

[ Poema para o mês de março A mão enorme J orge de L ima

Dentro da noite, da tempestade, a nau misteriosa lá vai. o tempo passa, a maré cresce, o vento uiva. A nau misteriosa lá vai. Acima dela que mão é essa maior que o mar? Mão de piloto? Mão de quem é? A nau mergulha, o mar é escuro, o tempo passa. Acima da nau a mão enorme sangrando está. A nau lá vai. O mar transborda, as terras somem, caem estrelas. A nau lá vai. acima dela a mão eterna lá está. olutador [ março ] 2016 • 43 ]


Sociedade [ Entre diversos males, leva à predisposição ao suicídio...

No rastro de uma planta cultivada com volumes brutais e suicidas. Há esperança: parte dos agricultores descobre

J oão P eres e M oriti N eto

D

ifícil acreditar que o solo de onde antes só brotava fumo, hoje dê morangos tão saborosos. Nem é necessário açúcar: basta colher e experimentar o fruto saído direto da terra. Isso é apenas parte do trabalho liderado por um rapaz de 20 anos – e que aparenta ter menos idade. O nome é Anderson Rodrigo, membro da família Richter. A ascendência é alemã, algo que fica expresso no sotaque. Os antepassados chegaram ao Brasil durante o grande fluxo imigratório de alemães no século XIX, caso da maioria das pessoas que mora na região do Vale do Rio Pardo, no interior do Rio Grande do Sul, especialmente nos municípios de Santa Cruz do Sul e Venâncio Aires. Os dois são uma espécie de capital informal da produção de fumo do Brasil, sede das principais empresas do setor. Venâncio, com pelo menos 3,7 mil famílias envolvidas na cultura, segundo estimativas da prefeitura da cidade, é conhecido também por ser a capital da erva-mate e carrega ainda o incômodo posto de ser um dos líderes de suicídios no país. [...] Anderson não escapou a essa herança. Conta que, quando se deu por gente, estava cercado por tabaco. “Nem vi acontecer. Quando eu nasci, já era assim fazia muito”, conta. E foi com a presença intensa desse monocultivo que ele cresceu. Ao lado dos pais, Heitor e Marilei, auxiliou no plantio até os 14 anos, em 2009. Foi então que começou a virada. Naquele ano, começou os estudos de agroecologia na Escola Família Agrícola de Santa Cruz do Sul - EFASC, on-

de se formou, em 2011. Atualmente estudante do curso superior de Tecnologia em Agroecologia na Horticultura, na Universidade do Estado do Rio Grande do Sul - UERGS, o rapaz fez uma aposta para escapar à cultura do tabaco e aos agrotóxicos. [...] “Lembro de olhar em volta quando era pequeno e só ver folhas de fumo. Não só na propriedade da minha família, mas nas que estão no entorno. Tinha uma sensação de opressão por isso”, explica Anderson. Hoje, as terras dos Richter não têm um só pé de fumo. Os jovens produzem morango, hortaliças, temperos. Entregam em feiras e para iniciativas de compras públicas, como o Programa Nacional de Alimentação Escolar - PNAE. Na busca por diversificar receitas, também vendem a professores da UERGS. O esterco de suas vacas e porcos é a fonte para o adubo, em que aplicam um composto que reduz a presença de metais pesados. “O começo foi duro, mas a gente se libertou com isso. Tiramos os agrotóxicos das nossas vidas e das vidas das pessoas que compram nossos produtos. E saímos da cultura do fumo, que tira a autonomia do agricultor, desconsidera o saber dele. A empresa fumageira que faz contrato com ele decide tudo. O agricultor não é dono do processo que pratica na própria terra. Ele é só mão de obra”, critica Anderson Rodrigo. [...] Anderson se refere à figura do orientador das fumageiras, que, na realidade, é quem dita as regras de como o plantio tem de ser durante todo o ciclo produtivo. “É esse cara que chega e diz ao agricultor: ‘Por que você vai plantar horta, se você pode plantar fumo naquele pe-

[ 44 • olutador [ março ] 2016

F/reprodução

Os males ignorados

daço de terra?’ E aí, quando você vê, já não faz nada de diferente do que a empresa manda fazer e outras culturas são abandonadas”, comenta. [...] Para mudar de verdade, são fundamentais a paciência e a persistência, o que garantiria uma boa transição. “Claro que não é fácil, tem que modificar hábitos, aperfeiçoar a terra, mas dá para melhorar a qualidade de vida e também, com o tempo, ganhar melhor do que com o fumo, posso garantir. As pessoas que plantam no sistema oferecido pelas fumageiras são acostumadas a trabalhar com o corpo e não com a mente. A empresa traz tudo pronto. Quer sair? Então, o agricultor tem que pensar sua produção”, argumenta Anderson. A doença do suicídio

Delicada de tocar, faltava abordar uma questão com os Richter. Eles teriam informações dos suicídios de agricultores em Venâncio Aires? A resposta vem demolidora, nas palavras de Anderson: “Meu bisavô se suicidou em junho, aqui


o...

volumes brutais de agrotóxicos, uma multidão de lesados agricultores descobre a agricultura org â nica de frutas .

ignorados do tabaco pertinho, nas terras dele”. Waldemar Richter plantou fumo praticamente a vida toda. Fazia tempo, era vítima da depressão. Matou-se por enforcamento, aos 85 anos. Anderson crê que o suicídio do bisavô se deu por dois motivos: dívidas e uma longa vida lidando com agrotóxicos. “O veneno te leva para o precipício e o endividamento te dá o ultimo chute”, diz, encerrando com um alerta: “Na comunidade, tem outros casos de suicídio, também com plantadores de tabaco”. O Rio Grande do Sul é um dos estados que reúnem os melhores indicadores sociais no Brasil. Na contramão disso, está à frente também em suicídios, causa de tragédias familiares e debates efervescentes entre pesquisadores. As estatísticas do povo gaúcho atingem o dobro da média nacional. Entre 2007 e 2011, o Estado teve 10,2 mortes por suicídio a cada 100 mil habitantes. Dados do Ministério da Saúde mostram que nove das vinte cidades acima de 50 mil habitantes que tiveram mais casos proporcionais estavam no Rio Grande do Sul. A maioria, no Vale do Rio Pardo. Apesar de estar entre os municípios mais ricos do Estado, Venâncio Aires, com 69 mil habitantes, teve 79 casos em cinco anos, o que equivale a 23,1 para cada 100 mil habitantes, na média extraída do período pesquisado pelo ministério. Isso deixa a cidade numa preocupante e mórbida segunda colocação na contagem dos suicídios no país e na primeira em solo gaúcho. [...] “Em 2013, o tabaco representou 1,3% do total das exportações brasileiras, com US$ 3,27 bilhões embarcados. Da produção de mais de 700 mil toneladas, mais de 85% foram destinados ao

mercado externo. Para o Sul do país, a cultura é uma das atividades agroindustriais mais significativas. No Rio Grande do Sul, a participação do tabaco representou 9,3% no total das exportações; em Santa Catarina, 10,2%.” O Brasil é o maior exportador de fumo, posto disputado palmo a palmo com a Índia há duas décadas. Quase 90% da produção é enviada a uma centena de países, China à frente. [...] O engenheiro agrônomo e florestal Sebastião Pinheiro, hoje aposentado do cargo de professor da UFGRS, mas ainda ativo no Núcleo de Economia Alternativa da universidade foi um dos responsáveis pela pesquisa, divulgada em 1996, que já avaliava a relação entre o índice de suicídios, o cultivo de fumo em Venâncio Aires e os agrotóxicos. Pinheiro diz que novos estudos não chegaram a nenhuma conclusão porque “destoam da realidade”. O pesquisador diz que a causa do aumento de casos de suicídio e depressão na região é clara: “As pessoas, adultas ou não, colhem fumo com as mãos e carregam as folhas embaixo dos braços, o veneno entra no corpo e provoca depressão. Depois, a doença se agrava e vêm os suicídios”. Após essa pesquisa, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq financiou um novo estudo, com médicos e pesquisadores, mas Pinheiro não participou. Alguns levantamentos foram feitos, mas restaram inconclusivos. “Suicídio não tem uma origem única e direta. Pode ter uma série de fatores. Assim, um grupo de médicos não tem condições de analisar alterações no campo eletromagnético (pequenos campos magnéticos que dão estabilidade e equilíbrio às moléculas do olutador [ março ] 2016 • 45 ]

corpo humano) de pessoas expostas a praguicidas ou agrotóxicos e, se eles não têm capacidade de avaliar isso, o resultado do trabalho destoa da realidade”, sentencia Sebastião Pinheiro. De acordo com o engenheiro, a maioria dos agrotóxicos é responsável por alterações no comportamento das pessoas, o que, entre diversos males, leva à predisposição ao suicídio. [...] Nas andanças pela região, Sebastião descobriu também que crianças em idade escolar, no município vizinho de Santa Cruz do Sul, onde se concentram as sedes das fumageiras, chegaram, nos anos 1990, a tomar medicamentos fornecidos pela prefeitura para conter os efeitos da depressão. “Como as lavouras envolvem toda a família na produção, porque o cultivo é muito trabalhoso, as crianças também participam e ficam expostas”, explica o agrônomo. Segundo Pinheiro, o trabalho com o fumo é algo que necessita de muito esmero do agricultor. “O agricultor que cultiva o fumo tem uma mão de obra muito qualificada, mas é mal remunerado e fica exposto a doenças terríveis. Autor do livro “Fumo: servidão moderna e violação de direitos humanos” (Terra de Direitos, 2005). [...] Sebastião Pinheiro lembra que o grau de toxidade dos agrotóxicos utilizados no país não é medido corretamente. “A classificação é enganosa para atender aos interesses da indústria do veneno. Assim, a periculosidade e a insalubridade a que estão expostos os agricultores não têm tamanho no Brasil, literalmente. E os mais vulneráveis são os que não podem mecanizar a produção, como os que trabalham com as folhas de tabaco”, enfatiza.] Fonte: Pública, apud Outras Palavras


Mundo [ Mais ricos, mais pob

Suécia ensaia a jornada de 6 horas de trabalho

F/reprodução

Tapa na cara de quem acredita em “austeridade” e “sacrifícios”: até empresas concluem que trabalhar menos, mantendo o salário, amplia as horas de ócio sem reduzir a produtividade A ntonio M artins

S

ímbolos, nos anos 1960 a 80, do Estado de Bem-Estar Social em sua versão mais igualitária, os países do Norte da Europa regrediram muito, neste século. A Suécia tem um governo conservador que colabora estreitamente com os EUA no esforço para manter Julian Assange encarcerado na minúscula embaixada do Equador em Londres. A Finlândia figurou, junto com a Alemanha, na linha de frente dos Estados que impuseram à Grécia, há meses, um recuo humilhante na negociação com seus credores. E, no entanto, algo da antiga tradição distributivista e anti-aristocrática resiste. Um sinal são os crescentes acordos que estão reduzindo substancialmente, na Suécia, as jornadas de trabalho. Não se trata de mudanças cosméticas: as reduções do tempo laboral para 30 horas semanais (apenas 6 horas trabalhadas, de segunda a sexta) estão se tornando frequentes. Surpresa reveladora: em muitos casos, as empresas aceitam de bom grado a mudança. Ao fazê-lo, revelam na prática como são atrasadas as concepções segundo as quais é preciso “sacrificar-se” em tempos de crise. Uma matéria publicada no “Independent” inglês explica a lógica. Tomando por base três empresas — uma

transnacional da indústria com sede em Tóquio e planta em Estocolmo [Toyota], uma desenvolvedora de aplicativos para Internet [Filimundus] e a administradora de uma casa de repouso para idosos [Svartedalens] -, o texto revela que as reduções de jornada estão se espalhando por todos os setores da economia sueca. As mudanças comportamentais decorrentes são notáveis e diversas. Mas uma conclusão geral se impõe: a ideia calvinista de que trabalhar mais horas resulta em maior bem -estar tornou-se, hoje, totalmente falsa. Na “Filimundus”, inserida no setor emergente da Tecnologia de Informação, o próprio presidente, Linus Feldt, reconhece: “Queremos passar mais tempo com nossas famílias, aprender coisas novas ou nos exercitar mais. […] Acho que a jornada de 8 horas não é tão efetiva quanto pensávamos”. A redução do tempo diário de trabalho, que foi adotada sem mexer nos salários, teve outro tipo de contrapartida. Recomendou-se, com sucesso (porém sem imposições), que os trabalhadores dispersassem menos tempo nas redes sociais. “Minha impressão é de que é mais fácil focar-se de modo mais intenso no trabalho se você sabe que terá energia quando sair da empresa”, diz Feldt. Na filial sueca da Toyota, a jornada de 6 horas diárias já completou 13 anos. Os próprios administradores admitem [ 46 • olutador [ março ] 2016

que os trabalhadores estão mais felizes, há muito menos perdas com demissões e a empresa tornou-se capaz de atrair os jovens suecos mais habilidosos. O exemplo da Svartedalens com o cuidado de idosos parece igualmente notável. Ele já inspirou empreendimentos similares — um hospital ortopédico na Universidade de Gotemburgo e a enfermaria de dois hospitais no norte do país — a reduzir em duas horas o tempo diário de trabalho. As experiências relatadas pelo Independent limitam-se às relações capitalistas. Em todos os casos, empresas cujo objetivo central é o lucro — e não a satisfação dos desejos humanos — ganharam quando se afastaram da ortodoxia que comanda o sistema, onde ele é mais primitivo. Vale perguntar: até onde será possível chegar, se formos capazes de mudar de lógica, substituindo a expectativa banal do lucro pela busca, compartilhada e consciente, de novas formas de estar no mundo e transformá-lo?] Fonte: Outros Quinhentos


mais pobres...

C

om a desigualdade cada vez maior nos Estados Unidos, a pobreza infantil cresce junto. Enquanto a riqueza do país aumentou 60% nos últimos seis anos, acima de 30 trilhões de dólares, o número de crianças sem teto também cresceu 60% no mesmo período. A cada ano, 2,5 milhões de crianças – uma em 30 – vão dormir sem um lar para chamar de seu na nação mais rica do mundo. Estão abrigadas temporariamente em abrigos, igrejas ou motéis. Segundo um relatório recente da organização “Crianças Sem Teto da América”, as razões para haver tanta criança sem moradia por lá são, basicamente: a alta taxa de pobreza; a falta de habitação a preços acessíveis; os impactos contínuos da grande recessão; as disparidades raciais; os desafios para as mulheres de criarem filhos sozinhas; e as experiências traumáticas, especialmente a violência doméstica. O número de crianças sem-teto cresceu em 31 estados e há meninos e meninas nesta situação em cada cidade. Em todo o país, o crescimento foi de 8% apenas entre 2012 e 2013. “Crianças que experimentam a vida sem um lar são mais frequentemente famintas, doentes e preocupadas sobre onde serão sua próxima refeição e ca-

ma; elas se perguntam se terão um teto à noite e o que acontecerá com suas famílias. As crianças nestas condições desenvolvem-se mais lentamente. Muitas têm problemas na escola, têm faltas, repetem o ano e até mesmo abandonam a escola completamente”, diz o relatório. Símbolo-mor do “sucesso” do capitalismo e tida como a “terra das oportunidades”, os EUA têm atualmente um dos maiores índices relativos de pobreza infantil do mundo desenvolvido. No último informe do Unicef sobre bem -estar infantil, de 2013, os Estados Unidos apareciam em 26º lugar em uma lista de 29 países. Só ganhavam da Lituânia, Letônia e Romênia. A Holanda aparecia em primeiro lugar, ao lado de quatro países nórdicos. Aproximadamente metade de todos os vales-refeição [food stamps] concedidos pelo governo dos EUA são para crianças. Em 2007, 12 entre 100 crianças estavam vivendo de vales-refeição. Hoje são 20 entre 100. O fotógrafo Craig Blankenhorn dedica-se a fotografar famílias sem teto EUA afora. As imagens são melancólicas e desoladoras, sobretudo quando se sabe que não se trata de um país do “terceiro mundo”, mas da maior economia do planeta. Em janeiro deste ano, 138 mil crianças estavam casa. É o mesmo número de famílias que aumentaram suas fortunas em 10 milhões de dólares por ano

desde a recessão. O país também patina na pré-escola. Enquanto numerosos estudos demonstram que a pré-escola ajuda as crianças a aprender e a fazer de forma mais tranquila a transição para a fase adulta, os EUA estão indo na direção oposta de outros países desenvolvidos e cortando recursos para o setor. O mais chocante é descobrir que somente duas nações do mundo deixaram de ratificar a convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança: Sudão do Sul e Estados Unidos. Significa. F/reprodução

C ynara M ene z es

O que será que a direita propõe para acabar com a pobreza infantil no país mais rico do mundo? Meritocracia? Se eles defendem que um menino de 16 anos pode ir para a cadeia junto com adultos, com que idade acham que podem começar a trabalhar?] Fonte: Outros Quinhentos

EUA: quanto mais ricos, mais pobres Retrato de um país cada vez mais segregado. Riqueza nacional cresceu 60% em seis anos; número de crianças sem-teto, também. Uma em cinco vive de vale-refeição olutador [ março ] 2016 • 47 ]


Responsabilidade [ Social Empresarial

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Associação de Dirigentes Cristãos de Empresa – ADCE MG recebeu associados e demais convidados para a cerimônia de entrega da quarta edição do Prêmio ADCE de Responsabilidade Social Empresarial. O agraciado foi o engenheiro Milton Vianna Dias, fundador do Grupo Precon. O evento foi realizado no PIC Cidade, em Belo Horizonte, com um jantar de Confraternização. Nascido em Santa Bárbara, Sul de Minas Gerais, “Sr. Milton”, como é carinhosamente chamado por seus colaboradores, formou-se em Engenharia Civil pela Universidade Federal de Minas Gerais. Fundou em 1963 a Precon Industrial S.A, produzindo as primeiras peças pré-fabricadas em concreto protendido do Estado. A empresa tornou-se um renomado Grupo que atua nacionalmente, do qual fazem parte as empresas Precon Material de Construção e Precon Engenharia. Em 2001, Milton entregou a presidência do Grupo para seu filho Bruno Simões Dias. “Foi um processo natural, uma vez que o Bruno acompanhou todo o crescimento e desenvolvimento da empresa, desde os quatro anos”, explica. De acordo com Milton, essa transição foi importante para dar ainda mais força e reconhecimento à marca. Para Milton, a homenagem concedida pela ADCE reforça o compromisso social da Precon com as comunidades onde atua. “Me sinto envaidecido por receber um reconhecimento como este. Esta premiação é o maior atestado de que fazemos a diferença e que realizamos um trabalho social justo e, também, intenso na promoção da cultura e educação. Em mais de 50 anos de mercado, crescemos e nos tornamos

referência no nosso segmento, e Pedro Leopoldo é parte fundamental da nossa história. Investir em projetos que incentivam a formação dos jovens desta cidade é apostar num futuro melhor para toda a comunidade”, afirma Dias.

Atualmente, a empresa está engajada no projeto de incentivo à leitura “Encontro Marcado com Fernando Sabino”, que leva às crianças mineiras, matriculadas na rede escolar pública de Pedro Leopoldo, a vida e a obra do escritor mineiro, e no programa “Novas Linguagens no Cine Marajá”, realizado por meio da Lei Estadual de Incentivo à Cultura. A iniciativa reforça a importância do cinema como meio de pensar e de se expressar, utilizando a diversidade das produções cinematográficas contemporâneas. O Prêmio ADCE Minas, criado em 2012, é uma homenagem que visa a prestar um tributo aos dirigentes de empresas que enaltecem os valores da ADCE e que dignificam as relações empresariais em todos os níveis; sempre preocupados com a centralidade do ser humano, como protagonista da sociedade. Para o presidente da ADCE Minas, Sérgio Frade, o 4º Prêmio ADCE Minas de Responsabilidade Social [ 48 • olutador [ março ] 2016

FOTOS: Wagner Diló Costa

4º Prêmio ADCE de Responsabilidade Social Empresarial premiou em 2015 o fundador do Grupo Precon

Sérgio Cavalieri, Eliana Maria Simões Dias, Milton Vianna Dias e Sérgio Frade

Eliana Maria Simões Dias, Milton Vianna e Sérgio Frade

Empresarial não poderia estar em melhores mãos, pelo renovado trabalho e ativo compromisso empresarial e social do executivo Milton Viana Dias. “As boas decisões nos negócios, quando se pautam pelos princípios éticos, com respeito ao ser humano e à sua dignidade, se traduzem em uma visão da empresa como uma comunidade de pessoas a serviço do bem comum. Acreditamos firmemente que os líderes empresariais que se guiam pelos princípios ético-sociais, vividos através de virtudes e pelos fundamentos cristãos, se tornam bem sucedidos nos negócios, e se transformam em agentes multiplicadores das boas práticas de gestão e da valorização da pessoa humana”, destaca Frade.] We s ley Figu eir edo A s s e s s o r ia de I mp r e n s a

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