Cartilha Homenageados no Dia de Ogum Ed. 2019

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ATO SOLENE

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APRESENTAÇÃO

Foto: Carina Gomes

MOTUMBÁ, MUCUIU, KOLOFÉ, SARAVÁ!

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culto aos orixás faz parte da nossa história há muito tempo. As contos azuis, de nosso Pai Ogum, e vermelhas, de nossa mãe Iansã, nos acompanham sempre. Além do amor, do Leci em ato em respeito e da proteção que elas simbolizam, homenagem ao Dia de elas fazem parte da nossa identidade, Ogum, na Alesp, em 2018 da nossa existência. Elas carregam o simbolismo daquilo que de mais sagrado e essencial trazemos no corpo e na alma: a nossa ancestralidade. Elas não nos deixam esquecer quem somos, de onde viemos e para onde vamos. Quem acompanha nossa trajetória de vida sabe de nossa devoção ao nosso Pai Ogum e ao nosso São Jorge Guerreiro. Assim como todos aqui também devem saber do meu respeito pelas religiões de matriz africana. E se falar das religiões de matriz africana é um ato de reafirmação da nossa história, eu não poderia, como deputada, esquecer essa história. Por isso, em 2011, apresentamos o PL 1153/2011, aprovado em 2012 como Lei Estadual 14.905. O evento que está sendo realizado, um Ato Solene, foi idealizado como uma forma de reconhecimento público por parte do Estado brasileiro, aqui representado pela Assembleia Legislativa de São Paulo, acerca do papel histórico e das contribuições das lideranças das religiões afro-brasileiras e dos povos tradicionais de matriz africana na formação da identidade e dos saberes do povo brasileiro. Vivemos um momento de supressão de direitos e é necessário que este reconhecimento seja reafirmado sempre que possível, pois apesar de a nossa Constituição Federal de 1988 proibir a discriminação e garantir a liberdade de crença, estamos vendo e vivendo, cotidianamente, a violência e o racismo religioso que tem tido como alvo preferencial as religiões de matriz africana. Neste sentido, é urgente reconhecer e considerar a importância do papel desenvolvido por lideranças que estão sendo homenageadas neste ato solene, não só para o enfrentamento da discriminação e do preconceito histórico ao qual são submetidos, mas também para que a sua luta possa contribuir ainda mais com o nosso desenvolvimento humano. Ogunhê! Saravá Ogum!


DIA DE OGUM

SOMOS HUMANOS, NOS ENSINA ÒGÚN! POR JUAREZ TADEU DE PAULA XAVIER

No Brasil, a sociedade passou a reconhecer a dimensão humana da população negra há pouco mais de cem anos. Para ser exato, negras e negros passaram a ser reconhecidas e reconhecidos como seres humanos há 131 anos, formalmente, mas não efetivamente! Há poucos mais de três gerações, portanto! Antes desse período, por mais de quatro séculos, afrodescendentes não tinham, neste país, status humano. Eram, e para muitas e muitos ainda são, subumanos! O racismo, a discriminação e o preconceito, estimulados e pouco combatidos pelo Estado, lembram essa dolorosa lição cotidiana. Tiraram-lhes seu território, suas famílias, suas riquezas, suas histórias, suas ascendências e descendência. Tiraram-lhes tudo o que era tangível e material! Tudo? Não tudo! Não tiraram a essência profunda das suas ancestralidades: seus inkices, voduns e orisás. Não compreenderam, as mentes escravistas, que não se apaga a humanidade profunda dos povos africanos com uma mera conversão de nomes, “deuses”, práticas e costumes. As velhas africanas e africanos teceram, tecem e tecerão as memórias coletivas desses povos, com muitos sacrifícios, pessoais e coletivos, e legaram para as gerações vindouras as extraordinárias histórias orais dessas civilizações, que alimentaram a saga de mulheres, homens e crianças negras no enfrentamento à destruição de seus corpos e mentes. Entre essas memórias vivas, preservaram os mitos de Ògún, forja criativa civilizatória dos povos iorubás, espalhados pela África Ocidental, nas regiões da Nigéria, Togo e Benim. Ògún é vida! Memórias iguais foram preservadas vivas pelos diversos povos escravizados no país, entre 1550 e 1850: cerca de 4.8 milhões de seres humanos, dos 11 milhões escravizados pelo mundo afora. Oriki [evocações], Orin [cantigas], Adura [louvações] de Ògún narram os feitos de um herói civilizador, no sentido pleno dessa expressão, de humanização profundamente humana, em todos os sentidos, materiais e imateriais. Os nomes pelos quais Ògún é conhecido dão a dimensão da força pura representada por esse orisá: Ògún Onire [guerreiro da cidade de Ire], Ògún Ikola [aquele que marca com a navalha], Ògún Gbenagbena [o senhor de todas as artes], Ògún Alagbede

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ATO SOLENE [o ferreiro sagrado e senhor da forja], Ògún Onigbajamo [o poeta, historiador e cantor de ijala e iremoje], Ògún Makinde [o guerreiro e caçador] e Ògún Alara [o sábio que transforma terra em riqueza]. Seus mitos traduzem as dimensões dessa sofisticada e complexa civilização: as forças da criação estão em processo permanente de mudança e transformação; não há pessoas ontologicamente superiores; aprendemos a aprender sempre com os exemplos de velhas e velhos, e todas escravizadas e escravizados são [somos] agentes das [nossas próprias] transformações. Num dos seus mitos, Ògún diz, antes de desaparecer ‘na terra’: “Quando vocês estiverem em perigo, chamem por mim, e virei lutar, em todos os campos de batalha, ao seu lado!” Foi vestido para o combate que Ògún convidou o seu egbe [sociedade] para dançar, beber, comer e lutar! Ògún está ao lado da mulher humilhada pelo racismo, e que, com sua altivez, diz não às violências físicas e simbólicas. Ògún está ao lado homem negro parado pela polícia, e que, com o orgulho dos seus ancestrais, não se dobra à brutalidade do sistema. Ògún está ao lado da criança negra que reage à violência escolar e que, com o exemplo das velhas e velhos, reverencia os saberes das rodas ancestrais do candomblé, da capoeira, do samba e, agora, do hip hop, entre todas as outras novas rodas de saberes afrodescendentes. Ògún esteve ao lado da população negra na luta contra o genocídio [a despeito dos esforços contrários, ainda estão (estamos) vivos e lutando], o etnocídio [o Brasil é um território negro, o segundo maior de população negra, e o primeiro fora da África], e o epistemicídio [os sabores africanos e afrodescendentes retroalimentam a alma criativa e disruptiva deste país]. Hoje, no dia consagrado à celebração de Ògún, é um bom momento para refletir e lembrar seu maior ensinamento: negras e negros são humanos e reivindicarão, radicalmente, sua natureza humana, sempre com Ógùn combatendo ao seu [nosso] lado! Ògún, nos proteja para que nada, nem a morte, nos tire de você! Ògún ye mo ye! Juarez Tadeu de Paula Xavier - Agbé D’Olá* Olosun – Ile Ase Iya Mi Muiywa Asogun – Ile Ase Iya Mi Agba *A forja transformou minha vida em prosperidade.


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HOMENAGEADAS EM 2019 MÃE CATITA (IN MEMORIAM)

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om mais de 80 anos de axé, Iracema Lira Leite, a Mãe Catita, gostava de ser chamada de “zeladora de santo”. Por este detalhe, é possível enxergar e entender o tamanho de sua humildade diante da religião. Vinda de Manaus (AM) ainda jovem, já trazia na bagagem uma história de superação. Filha de maçom, criada em meio à natureza das fazendas onde seu pai era capataz, teve seu primeiro contato com o preconceito. Foi tida como louca ao contar que vira uma mulher se jogando do alto da cachoeira. Descobriu, tempo depois, ser mamãe Oxum. A mediunidade incompreendida foi o estopim de sua fuga para o Rio de Janeiro. Sempre em busca de crescimento espiritual, foi para Aracaju onde foi iniciada aos 18 anos de idade. Mudou-se para o Guarujá em meados de 1942 à procura de parentes, mas não obteve sucesso. Entretanto, contou com a sorte de ser acolhida por desconhecidos, vivendo com eles até o ano de 1956, data da abertura de sua primeira casa de axé. E não parou por aí: fundou a Federação Espírita do Guarujá, criou a Festa de Iemanjá e foi nomeada Cidadã Guarujaense em reconhecimento a sua bondade para com os demais munícipes e sua participação ativa nos eventos culturais da cidade. Mãe Catita criou inúmeros filhos - de santo e de criação -, curou doentes, confortou corações sem nunca pedir nada em troca. Hoje quem mantém aceso o legado do axé de Mãe Catita é sua filha, cujos olhos são tão doces quanto os de sua mãe. Iracema da Oxum e sua filha Mayra Oyá de Deuá cuidam e seguem com muito amor e dedicação o legado de Catita.

AILTON GRAÇA

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ascido em São Paulo, Ailton Graça é ator, cenógrafo, coreógrafo e bailarino. A paixão pela arte cênica começou cedo, quando ele atuava em peças teatrais na época da escola. O ator conta que um dos momentos especiais de sua carreira ocorreu quando, ao passar em concurso

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ATO SOLENE para trabalhar em um hospital, teve a oportunidade de integrar um projeto de uma Escola de Artes Dramáticas onde fez várias peças que eram apresentadas no hospital. A cada dia a vontade de ser um ator profissional fazia com que Ailton Graça não desistisse de seus projetos. Sua história na televisão começa em 2003 – mesmo ano que estreia no cinema. Sua primeira participação na televisão foi em “A Diarista” em um especial de fim de ano. A partir de então vieram muitos papéis. Atuou nas novelas “América”, “Cobras & Lagartos”, “Sete Pecados”, “Malhação”, “Flor do Caribe”, “Império”, “Totalmente Demais” e muitas outras. Entre séries, minisséries e novelas o ator já conta mais de 20 trabalhos. No cinema fez parte do elenco de “Carandiru”, “Tapete Vermelho”, “Meu Tio Matou Um Cara”, “Nina”, “Trair e Coçar é Só Começar”, “Quanto Dura o Amor?”, “Família Vende Tudo”, “Todas As Manhãs do Mundo”, “Correndo Atrás” e muitos outros sucessos. Os trabalhos do ator no teatro são inúmeros com destaque para “A Vida que Pedi a Deus” e “Solidão”. Além de ser um ator renomado, Ailton tem uma vida ligada ao samba paulistano, tendo atuado como coreógrafo de Comissão de Frente e Mestre-Sala de escolas de samba como Gaviões da Fiel, União Independente da Zona Sul, Tradição da Ponte, X-9 Paulistana e Camisa 12.

EDNA ALMEIDA LOURENÇO

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ormalista de formação, Edna Lourenço é militante do Movimento Negro e fundadora e membro da coordenação do Grupo Força da Raça, que atua há 29 anos. Diretora do Instituto Cultural Babá Toloji, Edna também é membro da Organização da Lavagem da Escadaria da Catedral Metropolitana de Campinas e fundadora da Festa de São Jorge de Campinas. Organizadora do Catálogo Caminhos do Axé, ela idealizou e foi uma das organizadoras do Premio Mãe Criadeira – Ajibonã e teve a honra de estar entre os sete primeiros brasileiros a receberem a Comenda Senador Abdias Nascimento, no Senado Federal (Brasília-DF). Organizadora da Cartilha de Orientação para Legalização das Comunidades Tradicionais de Matriz Africana é autora do livro “Ruas de Histórias Negras”. Edna faz parte da família tradicional de matriz africana de Doné Oyacy, da comunidade de terreiro Yle Axé de Iansã, Quilombo Anastácia, de Araras. Ao longo de sua trajetória Edna já recebeu diversos prêmios e homenagens.


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PAI GILBERTO GAIGALAS

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os 52 anos de idade, o Comandante Chefe de Terreiro Pai Gilberto Gaigalas está há mais de 25 anos no trabalho caritativo e estudo de Umbanda. Incentivado e conduzido por seu pai carnal, Gilberto considera-se “filho de Umbanda” desde criança, quando frequentavam juntos um terreiro no bairro do Sacomã, em São Paulo, onde o pai já exercia a missão caritativa como médium da casa nos anos de 1970. Em 1993 foi apresentado à Tenda de Umbanda Caboclo Tubirixaba. Decidiu, além de frequentar a casa, ingressar como integrante e médium. Após 7 anos exercendo a função de cambono chefe, passou a compor o grupo de médiuns de linha dando passagem aos seus guias Caboclo Pena Vermelha e Pai José de Angola. Em 2005 foi coroado Pai Pequeno, daquela Tenda e, em 2011, assumiu o posto de Comandante Chefe de Terreiro. Em 2016 passou a integrar os trabalhos espirituais da Tupã Oca do Caboclo Arranca Toco. Em 2017 fundou o Templo Sete Linhas, na Vila Antonina, em SP.

PAI ALEXANDRE BALBERDE DE TOLEDO

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niciou sua caminhada em 1999, no templo de Umbanda de uma tia, na zona norte de São Paulo, permanecendo lá até 2012, quando saiu para abrir o Projeto Social e Cultural Estela Guia, instituição religiosa e social sem fins lucrativos. Neste Projeto, os voluntários atuam em várias áreas para arrecadação e distribuição do que é arrecadado. Iniciaram com a campanha de alimentação e vestuário, onde centenas de pessoas foram beneficiadas com a distribuição de quase 2.000 peças de roupas para uso pessoal e para serem comercializadas em bazares. Mensalmente algumas famílias são assistidas com cestas de alimentos recebidas em doações. O Lar São Vicente de Paulo, em Piracaia, é uma das entidades adotada. O Projeto se faz presente lá todos os meses para levar doações, uma palavra e muito carinho aos idosos.

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ATO SOLENE Os membros desse Projeto acreditam que o trabalho social dentro de todas as religiões, é também uma excelente forma de ajudar a transformar o mundo num lugar melhor. celente forma de ajudar a transformar o mundo num lugar melhor.

PAI EDSON IZIDRO DOS ANJOS

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omeçou sua vida religiosa na Tenda de Umbanda Mãe Yemanjá, em 1975, começando como cambono do Caboclo Acarajé, cujo médium era Pai Dimitri Augusto Domingues, também conhecido como Pai Demétrio, um dos responsáveis pela implantação da imagem de Iemanjá na cidade de Praia Grande (SP). Foi o coordenador geral da Associação Paulista de Umbanda até 2007, acumulando também os cargos de tesoureiro, diretor espiritual e chefe de terreiro, dirigindo a linha de desenvolvimento dos médiuns da Tenda. Com a morte do Pai Demétrio em 2007, passou a ser responsável direto pela Tenda e vice-presidente da Associação Paulista de Umbanda. Com o afastamento do presidente em exercício da Associação, em 2013, foi conduzido ao cargo de Presidente da instituição. No mesmo ano, passou a ser também o vice-presidente do Santuário Vale dos Orixás, em Juquitiba, cargo que ocupa até o momento. Participa ativamente de ações e atividades contra a intolerância religiosa e em defesa das religiões de matriz africana.

DÀDA VODUNO AGONJAÍ LEONARDO DE TOY DOÇU

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eonardo Tadeu Alves iniciou na Umbanda ainda criança, na Tenda de Umbanda Caboclo 7 Quedas e Pai Joaquim de Aruanda, na Vila Guarani, em São Paulo, onde por muitos anos foi pai pequeno. Em 1987 abriu a Tenda de Umbanda Ogum Estrela do Mar e Baiano Zeferino, que teve como sede a Es-


DIA DE OGUM trada do Montanhão, em Santo André, onde conduziu seus trabalhos espirituais por um ano. Em 1988 conheceu o Toy Vodunnon Francelino de Shapanan e o Tambor de Mina maranhense, encantando-se com esse culto. Após frequentar por algum tempo, recebeu o convite para ingressar na Casa das Minas de Thoya Jarina, em São Paulo. Um ano depois, sua Tenda de Umbanda passou a ter o nome Bou Hou Mina Jeje/Nagô Vodum Toy Agadjá Doçu, onde trabalha até hoje. Ao longo dos anos, tem participado e organizado várias atividades religiosas como coordenador geral da Federação Fucabrad. Participa também efetivamente do intercâmbio entre Casas de Tambor de Mina, em todo o Brasil.

CARLOS ADRIANO DE AYRÁ

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abaloxisà, ou seja, zelador de orisàs e pessoas, de uma casa no Jardim Nakamura, no extremo sul de São Paulo, Pai Carlos é filho e neto de umbandistas e acredita que onde o descaso do Estado acomete a vida, a sobrevivência e o emocional das pessoas, um babalorixá precisa fazer mais do que cuidar dos oris e dos santos. “Aqui precisamos viver em solidariedade e compaixão com o outro. Essa tem sido a estratégia que há gerações utilizamos para a continuidade do asè e da casa”, explica. Além de babalorixá, Carlos Adriano é funcionário público de uma escola estadual onde é um dos idealizadores da mostra cultural Zumbi Somos Nós, que tem como objetivo manter viva a ideia de quilombo e da ancestralidade negra e africana na formação da periferia. Também conduz com outros babalorixás e povo de terreiro o Fórum de Religiões de Matriz Africana da zona sul de SP que tem realizado importantes atividades para manutenção da cultura, fé e beleza do povo de terreiro.

BABALORIXÁ ODESI

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anoel Domingues, Babalorixá Odesi, nasceu em Santos. Coordenador de articulação política do Fonsanpotma de Embu Guaçu e de

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ATO SOLENE São Paulo. Membro do PUPTMA Carapicuíba, compõe o Fórum de Matrizes Africanas de Campo Limpo e o Fórum de Povos Tradicionais de Osasco. É membro do GT Nacional Sócio Cultural da região Sudeste, é membro do Coral Integração Embu Guaçu e da Corporação Musical Ary Domingues Mandu Embu Guaçu. É vice-presidente da Associação Cultural e Musical Bertinho Mandu Embu Guaçu e faz parte do Coletivo Omonile. Presidente e Babalorixá do Ilê Asè Omi Orun Efon desde 1977, Babalorixá Odesi é palestrante, agente cultural, ativista político e percussionista. Ele também é o Maneco Domingues, da rádio comunitária em Santos, o Manoelzinho da dona Floriza (Mãe Miúda) e o filho de Vivaldo de Logun Edé (Ode Ikutiê).

DELTON D’OXÓSSI

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acerdote no candomblé há mais de 30 anos , Delton D ‘Oxóssi é sociólogo e foi presidente do Compir - Conselho de Igualdade Racial de Itaquaquecetuba. Desenvolveu no município temáticas que abordam a intolerância religiosa como uma face do racismo . Desenvolveu na Secretaria Municipal de Educação de Itaquaquecetuba, uma capacitação para coordenadores pedagógicos e alunos da rede pública com temática da história afro-brasileira e sua influência na construção da identidade brasileira com contexto cultural, étnico e político, com o objetivo de desconstruir o racismo e a intolerância religiosa nos ambientes escolares. Realiza rodas de diálogos em espaços religiosos para minimizar os diversos conflitos étnicos e culturais e pontuar os grandes ataques às religiões afro-brasileiras em nosso país.

IMAGENS BAHIA

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ão 85 anos de muita história! Esta é a bagagem que a Casa de Velas Santa Rita, situada no centro de São Paulo, traz em sua memória. Fundada em 1934 pelo Sr. Gaspar e seus filhos Nelson e Valter, que inauguraram um pequeno comércio ao lado da Igreja Santa Cruz das Almas dos Enforcados. Vendiam basicamente dois produtos:


DIA DE OGUM velas (que na época eram feitas de sebo animal), porque a loja era vizinha à Igreja, e leite a granel, pois naquela época não havia geladeira para sua conservação. Após a 2ª Guerra, as velas de sebo animal começaram a ser substituídas pelas de parafina. Surgiram então pequenas fábricas que produziam velas brancas. Usando seu prestígio, o Sr. Gaspar conseguiu com alguns fabricantes que estes fizessem também velas coloridas, usadas nas representações dos Orixás. Nesse período, começou um aumento na procura de imagens religiosas. Nasce aí, em 1956, a fábrica IMAGENS BAHIA LTDA, na Avenida Aricanduva, zona leste de São Paulo, que produz artesanalmente grande variedade de peças católicas e afro-brasileiras. Em contato com líderes religiosos da época, como o radialista Hercílio Sanches, Pai Demétrio Domingues, Pai Jamil Rachid, Pai Caio Aranha, Babá Messias, entre muitos outros, a Imagens da Bahia sempre contribuiu para defesa dos que sofrem perseguições e discriminações por suas crenças religiosas. Hoje, muito mais do que uma simples fábrica, a Imagens da Bahia serve, prestigia e acompanha a evolução não só da Umbanda, como de todas as religiões.

MADRINHA NADIR BATISTA PAULINO

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uando criança estudou em colégio de freiras. Tinha muitas visões pavorosas para uma criança e, ao comentar com as religiosas, era constantemente colocada de castigo, em um quarto escuro, e muitas vezes foi chamada de delirante. Demorou muito anos para descobrir que tudo o que passou e viveu na infância e adolescência era mediunidade. Calmamente, as entidades espirituais foram se aproximando, respeitando o tempo da jovem Nadir, que não parava de ouvi-los falarem do que ia acontecer e que fizesse ou deixasse de fazer isso ou aquilo, além dos recados que recebia para as pessoas. Em 1970, a mediunidade atingiu seu auge e foi solicitado que abrisse um cantinho para atender os mais necessitados. Eram tempos assustadores de ditadura, de polícia percorrendo cada canto dos bairros, prendendo sacerdotes por qualquer barulho dos atabaques, e um número muito maior de pessoas procurando ajuda espiritual para sanar seus problemas espirituais e pessoais, o que levou Nadir a procurar mais uma vez outro local que se adaptasse

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ATO SOLENE às necessidades. Achou um espaço maior, legalizou-se e fundou, em 1973, o Núcleo Espiritual de Umbanda Pai Oxalá e São Salomão, no Alto de Vila Maria, onde passou a trabalhar de portas abertas. Atendeu muita gente, inclusive um vice-Presidente da República, que chegava bem mais tarde para não ser visto ou reconhecido. Já muito cansada da correria diária, conversou com seu guiachefe e resolveu parar e encerrar as atividades espirituais, mudandose para a cidade de Praia Grande. Alguns anos depois, após a morte do marido Américo, retorna a São Paulo, e até hoje, aos 83 anos, ainda atende as crianças com os tradicionais benzimentos.

TAÁTA KATUVANJESI (WALMIR DAMASCENO)

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aáta Kwa Nkisi Katuvanjesi é dirigente tradicional-espiritual-ancestral de Candomblé de matriz Kongo-Angola. Nascido no sul da Bahia, é graduado em Jornalismo pela Escola de Comunicação e Artes da Universidade Federal da Bahia (UFBA), tendo passado por redações de jornais, revistas e rádios de Salvador, Ilhéus e Itabuna. Iniciado no candomblé em 1974, é filho-de-santo de Nengwa Kwa Nkisi Lembamuxi, herdeira e sucessora do Terreiro Tumbenci de Maria Neném, Beirú, de Salvador (BA). Em Ipiaú (BA) funda, em 1985, seu terreiro de candomblé, o Nzo Tumbansi Twa Nzaambi Ngana Kavungu (Casa Pedaço de Terra do Deus Senhor dos Mistérios), de variante Bantu-Kongo e, consequentemente, o Instituto Latino Americano de Tradições Bantu (ILABANTU), associação civil pública sem fins lucrativos, tornando-a entidade mantenedora e conservadora do Nzo Tumbansi. Em 1987, migra para São Paulo, onde passa a militar em movimento de moradia popular, de matriz africana e no movimento negro. Nesta mesma ocasião transfere o Nzo Tumbansi para SP. Na capital paulista cursou mais duas faculdades, formando-se em Direito e Letras. Atualmente dedica-se a organizar e presidir conferências, encontros, seminários e palestras, nacionais e internacionais, para promoção da igualdade racial e valorização da história e da cultura africana e afro-brasileira. Pai de cinco filhos e três netos, é Cidadão Paulistano, titulo este concedido pela Câmara Municipal de São Paulo em 2018.


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MÃE ROSI DE SÀNGÓ

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osimeire Santos de Oliveira, mais conhecida como Mãe Rosi de Sàngó, nasceu no Recôncavo Baiano, vindo ainda criança para São Paulo, onde se estabeleceu na região de Itaquera. Sua infância foi marcada pela presença dos orixás, pois acompanhava sua prima, que já era iniciada no Ilé Alákétu Asè Airá, do grande Tata Pércio. Iniciada em 1972 com o paoio de sua família. Após 10 anos de iniciada e com apoio de seu Babalòrìsà, já conhecida e respeitada como Egbomi Rosi de Sàngó, por seu temperamento forte, defendendo o que é certo, mulher qye ama seus filhos e indica o caminho certo, ensinando conforme seu aprendizado no respeitado asé de seu Pai Tatta Pércio, vindo a abrir seu barracãoem Itaquera, iniciando assim sua luta pela preservação e cultio à ancestralidade na religião de matriz africana. Em 1994 mudou-se para Mogi das Cruzes, onde continua ensinando aos mais novos com amor e humildade tudo o que aprendeu para o fortalecimento do candomblé e da nação ketu.

VICENTE PAULO DA SILVA

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icente Paulo da Silva, ou Vicentinho, como é conhecido, está em seu quinto mandato de deputado federal pelo Estado de São Paulo. Filiado ao Partido dos Trabalhadores, é formado em Direito e pós-graduado em Economia do Trabalho e Sindicalismo pela UNICAMP. Professor Acadêmico no Curso de Direito da FAPAN, em São Bernardo do Campo, foi trabalhador rural e minerador. Em 1977 trabalhou como metalúrgico nas empresas TAMET e Mercedes Benz, onde iniciou sua trajetória de luta. Se destacou como liderança sindical nos anos 1980, ocasião em que foi eleito presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. Foi um dos fundadores da CUT, entidade que presidiu entre 1994 e 2000. Em sua atuação parlamentar em Brasília, apresentou mais de 124 projetos de lei, defendendo a pauta das mulheres, dos negros,

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ATO SOLENE dos religiosos, dos direitos humanos e da classe trabalhadora em suas mais diversas demandas sociais e profissionais. Tem defendido em várias frentes a revogação da Reforma Trabalhista e da PEC 241 (PEC do Teto dos Gastos), que congela investimentos em todas as áreas de interesse social pelos próximos 20 anos. Luta contra os desmontes e os retrocessos dos direitos contra o nosso povo. Na Câmara, é membro da Comissão Permanente em Defesa da Mulher; da Comissão dos Direitos Humanos; Coordenador da Frente Parlamentar Mista em Defesa da Classe Trabalhadora e Presidente da Frente Parlamentar pela Saúde e Segurança no Trabalho, entre outras. Tem trabalhado fortemente para a aprovação do PL 3551/2015 que institui o Dia Nacional das Tradições das Raízes de Matrizes Africanas e Nações do Candomblé. É de iniciativa de Vicentinho a proposta que determina que as Nações do Candomblé e da Umbanda se tornem patrimônio imaterial da cultura brasileira.

AFOXÉ AMIGOS DE KATENDÊ

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ara ampliar e manter viva a cultura do afoxé, Mestre Moa fundou, em 1994, na Praça da República, Centro da capital paulista, o Amigos de Katendê. O local reunia, na época, mestres de capoeira, músicos, artesãos e artistas populares e, neste cenário, o grupo teve presença marcante aos domingos, durante dois anos consecutivos, realizando no local o cortejo de Afoxé Amigos de Katendê. Em 1996 o Afoxé participou do carnaval de Salvador (BA), sendo convidado para inaugurar o palco Gilberto Gil. O Afoxé Amigos de Katendê constitui um marco de resistência dessa manifestação cultural afro-brasileira nas ruas da cidade de São Paulo. Sua importância cultural é reconhecida, contando com o apoio de diversas entidades, como grupos de capoeira, MNU (Movimento Negro Unificado) e Grupo Soweto, e personalidades importantes da cultura brasileira como Caetano Veloso e Gilberto Gil. Hoje o Afoxé Amigos de Katendê participa de feiras culturais, eventos de capoeira e datas comemorativas, conquistando espaço em outros estados como Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Bahia e Santa Catarina. Desde sua fundação, o Afoxé Amigos de Katendê sai pelas rua de São Paulo promovendo a cosmologia das culturas afro-brasileiras.


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BLOCO AFRO É DI SANTO

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Bloco Afro É Di Santo constitui-se como grupo de musicalidade afro-percussiva que celebra as tradições negras com os tambores, as danças, os cantos, a religiosidade e ancestralidade negras. A musicalidade afro-percussiva presente é conectada com outros ritmos e músicas que existem na cultura afro-brasileira, como samba-reggae, samba afro, samba de roda, ijexá, congo de ouro, cabula, funk e criações próprias. O bloco é composto por 22 pessoas. No repertório estão músicas compostas, ritmos, convenções e variações criadas pelo Bloco, assim como músicas de blocos afro tradicionais da Bahia. O grupo se apresenta em locais diversos e faz cortejos cênicos e intervenções artísticas. A direção musical é de Mestre Rabi. Compõem o bloco: Cintia, Andreia Souza, Shirley, Priscila Marques, Sara, Jel, Thomas, Norma, Robson, Regiane, Roberta, Andreia Criola, Luiz Spinola, Renildo Timbaleiro Negro, Isac Negreiro, Isabela, Orlando, Débora Marçal, Renato, Tatiane, Rose Eloy e Raimundo Negreiro.

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LECI deputada estadual

BRANDÃO

Esta é uma publicação do mandato da deputada estadual Leci Brandão (PCdoB - SP) Março/ 2019 Tiragem: 5 mil Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo Av. Pedro Álvares Cabral, 201 - 3º andar salas 3021/ 3024, Ibirapuera, São Paulo - SP Telefone: (11) 3886-6790


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