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desporto cultura lazer

Histรณrias (re)vividas Julho de 2018


ficha técnica

Propriedade, edição e distribuição: Gomes & Canoso,lda. Rua São João, nº.39, Repeses 3500-727 Viseu Telefone: 232 407 544

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Telemóvel: 969 474 853 Directora: Olinda Martins Redacção: Ana Margarida Gomes e Lino Ramos Colaboradores: Mariana Rodrigues

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Paginação: Filipa Pinto, João Barbosa e Tiago Canoso Publicidade e Marketing: Joaquim Gomes e Tiago Canoso Fotografia de capa: Companhia Livre

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De Trajano a Pombal Boa gente que lê esta revista,

Se entre vós há noivos prontos a contrair matrimónio, ficai a saber que podeis fazê-lo em Santa Maria da Feira, durante a Viagem Medieval. A certidão de casamento é passada pelo rei D. Pedro, protagonista da mais célebre história de amor em Portugal. Se não é o caso, pouco importa, pois os seguintes artigos foram escritos a pensar em todos vós. Falam de recriações históricas e abarcam um largo período, que começa há cerca de 2 mil anos e termina no século XVIII. Assim, ide ler histórias de imperadores e gladiadores, reis e cali-

fas, nobres, marquesas, marialvas, lacaios e cocheiros. Ide assistir a batalhas pela independência com uma heroína improvável, bem como torneios medievais e demonstrações de armas. Ide cruzar-se com encantadores de serpentes, malabaristas, saltimbancos e bailarinas, algumas na dança do ventre. E, muito provavelmente, ide ficar com água na boca com as muitas iguarias que encontrareis. Não é tudo, pois claro, que preferimos deixar-vos algumas surpresas…

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Boas leituras!



Dos Romanos até nós – As recriações históricas

Espadas e coroas podem não ter muita utilidade nos dias modernos, mas nem por isso deixam de ter um fascínio próprio que só as recriações históricas sabem ressuscitar. Texto: Mariana Rodrigues Fotografia: Revista Descla

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As recriações históricas são porventura uns dos modos de turismo cultural mais empolgante e apelativo que há no nosso país. Constituem uma forma animada de regressar ao passado, convidando todos os tipos de público a emergir em épocas que de outro modo só existem na imaginação. Quando se pensa em determinadas eras, há palavras que despoletam logo cenários distantes e bizarros para o olho moderno. Dizemos “Idade Média” e logo imaginamos a confusão e sujidade dos mercados e os castelos de pedra cinzentos; quando surge

a palavra “Império Romano” vêm-nos logo à cabeça gladiadores de sandálias às tiras e imperadores de toga e coroa de louros. Ouvimos “Barroco” e eis que surgem os cortesãos e cortesãs nos seus fatos aprumados a divertirem-se em palacetes. As recriações históricas são autênticas máquinas do tempo que completam todos esses pequenos cenários, passando-os da mente para a realidade. Podemos recuar tão longe quanto aos tempos em que o Império Romano se alastrava até ao “país à beira mar plantado”, passando pela altura

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em que imperava a islâmica Al-Andalus, até ao esplendor oitocentista do Barroco. Tudo isso é a História que todos os portugueses partilham, mas nem sempre lembram. O esquecimento da memória popular é prejudicial a qualquer sociedade, e é por isso que as recriações históricas são uma lembrança que une o imaginário comum e reforça a herança da nossa cultura.

Máquinas do Tempo Se Portugal é cada vez um destino turístico de excelência, com uma reputação que chega aos quatro cantos do globo, é porque muito se deve ao seu longo passado. Graças ao mesclado de culturas distintas e a uma histórica rica e complexa, o país tornou-se um

modelo colorido cujas possibilidades de retrato são infinitas. É precisamente isto que as recriações históricas encorajam: a encenação de momentos distintos da História que atraem até os mais desinteressados. Com isto, conseguem fomentar a aprendizagem duma disciplina ao mesmo tempo que proporcionam momentos de lazer. As recriações históricas são por isso o testemunho da evolução que nos permite compreender o porquê de termos chegado aonde estamos na actualidade, aproveitando saltos temporais com diversão e entretenimento pelo meio. E porque é preciso conhecer o país para além das praias e das grandes metrópoles, as recriações históricas são uma alternativa que fomenta o

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Em 2013, o historiador Roberto Reis publicou o artigo “As recriações históricas em Portugal: perspectivas e impactos”, no qual definia a recriação histórica como “uma actividade que incorpora ferramentas históricas, atividades e trajes numa

apresentação interativa, fazendo com que os visitantes e os participantes tenham uma sensação de recuar no tempo”. Segundo Reis, “a História ao Vivo começou a dar os seus primeiros passos em Portugal, a partir da década de 80 do século XX”.

turismo fora dos locais habituais, conseguindo com isso promover as localidades mais pequenas e revitalizar o interior. São uma maneira diferente de gastar os dias da época alta, e entre si formam roteiros culturais capazes de movimentar pessoas e recursos de uma maneira que outras modalidades turísticas não conseguem.

Não há desculpas para não assinalar as recriações históricas na agenda, tal e qual como se marca as idas à praia. Porque Portugal está nos detalhes e porque somos herdeiros da História do nosso país, vale a pena recuar pelos séculos e passar estas férias a descobrir mais sobre nós próprios.

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Sob o Império Romano

outra vez: Chaves volta ao tempo de Aqua Flaviae

Não é em Roma mas sim em Chaves que se é romano. A Festa dos Povos regressa em Agosto com os seus imperadores e gladiadores. Texto: Mariana Rodrigues Fotografia: Município de Chaves

Ovem-se sons de marcha e o barulho enérgico duma multidão: são as tropas romanas que voltam a invadir Chaves. De 17 a 19 de Agosto, a vila de Trás os Montes recua até ao tempo em que era um influente município do Império Romano. É a Vespasiano, primeiro César da Família Flavia, que se deveu a designação de Aquae Flaviae à actual

Chaves, e é essa era de prosperidade que se recria na 6ª edição da Festa dos Povos. Na Festa dos Povos está presente o mercado galaico-romano onde se pode saborear iguarias gastronómicas, manjares, e um festim de bebidas bem ao estilo romano. No plano da cultura, a Festa dos Povos acolhe recriações mitológicas, interpreta-

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ções musicais, bailados, e cortejos. A influência da cultura romana é assim recordada, numa celebração permanente do legado latino que chegou até à sociedade actual. Estarão também representados os povos galaicos, legionários, gladiadores, senadores, músicos, bailarinos, mendigos, escravos, falcoeiros e divindades, numa azáfama constante de episódios.

COM SANGUE NAS VEIAS Se há civilização que ficou imortalizada pelo seu temperamento bélico e

gosto por grandes combates, foi a romana. Todos se recordam dos filmes em que os romanos disputavam lutas de bigas (os carros puxados a cavalos) em arenas imponentes como o Circo Máximo. Os “romanos” modernos de Chaves não ficam para trás, e já é costume na Festa dos Povos haver lutas de gladiadores fervorosas. Mas as lutas à portuguesa não ficaram esquecidas: no festival, há lugar para as galhofas e os jogos com varapaus. Estas são formas de combate típicas de Trás os Montes, que caíram em desuso, e que voltam à vida na Festa dos Povos.

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AQUA FLAVIAE As legiões romanas chegaram ao território português há cerca de dois milénios. Em Chaves, distribuíram pequenas fortificações, edificaram a primeira muralha que envolveu o aglomerado populacional, construíram a ponte de Trajano, tiraram proveito das águas minerais, implantaram balneários termais, e exploraram filões auríferos e outros recursos. Chaves assumiu nessa altura um importante papel a nível nacional.

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Quando o Alentejo era um reino muçulmano

Marvão recorda os tempos em que o território português fazia parte do império islâmica Al Andaluzia com o festival Al Mossassa. Texto: Mariana Rodrigues Fotografia: Carlos Coxo/Câmara dos Ofícios

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Al Mossassa significa fundação. E essa palavra é o mote do festival homónimo que se desenrola em Marvão, recordando as raízes árabes da vila. O Castelo de Marvão, no pico da Serra de São Mamede, é o palco para os dias de animação que o festival garantidamente proporciona aos seus visitantes.

Assim, Marvão pinta-se com a cultura islâmica no Festival Al Mossassa. A 13ª edição do festival toma lugar de 5 a 7 de Outubro, fazendo a vila alentejana recuar até à era da sua fundação por Ibn-Maruán. O ambiente do século IX encontra aqui as suas expressões coloridas com encantadores de serpentes, bailarinas,

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cavaleiros berberes, aguadeiros, bufões, e vendilhões – sem sequer faltarem as cobras e os camelos! Os visitantes podem desfrutar do artesanato e iguarias típicas da cultura árabe de então. No “Mercado das 3 Culturas”, situado na parte alta da vila, vai ser reconstituído o ambiente de um mercado típico da época, com dezenas de pontos de venda. Aqui cruzam-se os legados islâmico, judaico e cristão, o visitante poderá encontrar um vasto leque de produtos e objectos relacionados com todas estas culturas, tomar o verdadeiro chá árabe e saborear as iguarias de outrora. A décima terceira edição da Al Mossassa terá uma animação itinerante e de palco, constante, ao longo dos três dias, com uma programação sedutora e fidedigna: recriações históricas, espetáculos de música, dança, fogo e artes circenses, demonstrações de falcoaria, encantadores de serpentes, e lutas de espadas. De manhã até à noite, Marvão volta a ser árabe com o Al Mossassa, fazendo do Alentejo um ponto de visita essencial para os amantes de história.

Ibn Maruán foi um líder militar e religioso sufista. É considerado o fundador de Marvão e de Badajoz, a partir do quais terá construído o seu reino independente, que se espalhava pelo Alentejo. Ibn Maruán mandou edificar o castelo de Marvão em 876, na altura conhecido por Fortaleza da Ammaia. Ficou conhecido pela sua astúcia e carácter aguerrido, tendo ao longo da sua vida política oscilado nas amizades entre cristãos e mouros. É esse espírito inter cultural e aguerrido que caracteriza o festival Al Mossassa.

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“Não teremos alternativa à rendição”

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Durante dez dias, a antiga capital do Reino do Algarve volta ao seu período áureo. A Feira Medieval de Silves é um dos maiores eventos do género em Portugal. Texto: Lino Ramos Fotografia: Município de Silves

Corria o ano de 1189 e o rei de Portugal, D. Sancho I, ambicionava conquistar a cidade de Silves, ocupada pelos muçulmanos. O monarca pediu auxílio a um contingente de cruzados que tinha aportado acidentalmente em Lisboa, juntou-lhe as suas tropas e seguiu para a batalha. Cercaram a cidade durante 45 dias, incapazes de ultrapassar a potente muralha. Treinaram a arte de bem cavalgar, ensaiaram golpes de espada e de lança, aperfeiçoaram máquinas de guerra, até que conseguiram derrubar a couraça, que garantia o de abastecimento de água, o que os obrigou a render-se. É este episódio, e todo o ambiente da época, que a Feira Medieval de Silves vai recriar entre os dias 11 e 19 de Agosto, tendo como base o tema desta edição e consequente

espectáculo concebido de propósito, “Silves, 1189. A conquista”. A antiga capital do Reino do Algarve/Al-Gharb volta assim ao seu período áureo, numa autêntica viagem no tempo em que os figurantes convivem directamente com o público, pois também ele pode vestir-se à moda antiga, alugando um fato por um valor simbólico, e participar numa das “experiências medievais”. Uma das propostas é viver o quotidiano de um nobre, trajando como ele, e ter todos os seus benefícios: andar sempre acompanhado, ser acolhido numa zona especial, ter um lugar de honra no torneio ou degustar manjares medievais. Seja qual for a personagem que se escolha, vive-se o espírito da Idade Média. Basta percorrer as ruas, cheias de artesãos, mercadores, místicos, músicos

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e dançarinos, vendedores de doçaria e kebab. E que melhor do que entrar numa taberna para provar um petisco, passando um bom serão com a família ou o grupo de amigos? Quem quiser, pode até trocar os euros pela moeda oficial da Feira Medieval de Silves, o xilb, e com ela fazer as suas compras. Enquanto isso, cavaleiros e combatentes apeados defrontam-se com grande mestria na liça, mostrando como seriam os combates de outros tempos – são os famosos torneios medievais, com duas sessões diárias. Os mais novos podem divertir-

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-se no Xilb dos Pequenos, na Praça Al-Um’tamid, onde os esperam actividades físicas, de expressão plástica e dramática, entre outras acções educativas e lúdicas. Durante dez dias, Silves vai regressar à época medieval com um evento que já é uma referência no país e que tem um “enorme impacto económico na economia local”, adianta o Gabinete de Informações e Relações Públicas do município, o qual organiza a feira. A autarquia espera superar os números do ano passado, quando atraiu perto de 145 mil visitantes.

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Um bom castigo No dia 29 de Julho vai ser recriada a lenda de Santa Marta de Penaguião, que terá dado nome à vila. Texto: Lino Ramos Fotografia: Município de Santa Marta de Penaguião

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Um tal Conde de Guillon, francês, invadiu a região e mandou queimar a capela de Santa Marta. De imediato teve uma aparição da santa, que como castigo o condenou a plantar uma vinha, ao que ele se recusou. Aos seus pés apareceu então um corvo, símbolo de mau agouro, e o gaulês achou melhor cumprir a pena. Mal sabia que o novo trabalho lhe traria grade felicidade, pois nunca tinha produzido nada na vida. O conde resolveu por isso oferecer as uvas à santa e no lugar de um corvo, aos seus pés apareceram pombas brancas e um cordeiro, símbolos de pureza – estava perdoado. Desde então a localidade passou a chamar-se Santa Marta de Pena (castigo) de Guillon. A lenda de Santa Marta de Penaguião, no distrito de Vila Real, vai ser recriada na noite de 29 de Julho, num grande espectáculo interdisciplinar que junta teatro, dança, música, vídeo, luz e fogo. O objectivo é contar uma história “através da emoção, da celebração e que cause, simultaneamente, algum tipo de reflexão nas pessoas envolvidas: intérpretes e público”, revela o encenador, Pedro Lamares. Para isso, vai haver um coro grego

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– as pessoas em palco representam a população. “Numa época tão individualista como a que vivemos é importante reencontrar essa voz comum, maior porque diz respeito a mais gente”, sublinha o artista. Até porque, diz, a lenda tem tudo a ver com esse trabalho em equipa: “uma santa que dá voz ao povo, até por vir ela própria do povo, que promove a integração entre classes sociais, que convida ao

trabalho como forma de criar união com a terra e com as gentes”. O coro é composto por quase 50 actores, que também vão assumindo papéis – Rui Spranger, por exemplo, interpreta uma personagem que se desdobra em duas de forma simbólica. A eles juntam-se dez bailarinos e vários momentos de video-mapping e desenho de luz. “Há muita gente envolvida e empenhada. Muita von-

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tade junta para a construção de um espectáculo que queremos que seja de todos e para todos”, garante Pedro Lamares sobre o espectáculo, que começa às 22 horas. A recriação da lenda integra o programa da Semana Cultural de Santa Marta de Penaguião, que este ano decorre entre 29 de Julho e 6 de Agosto e que anualmente homenageia a Santa Padroeira da Região Demarcada do Douro com uma série de actividades lúdicas e gastronómicas. O outro momento alto desse primeiro dia do evento é o cortejo etnográfico, a partir das 18:15, sob o tema “N2 e Santa Marta”, em referência à mítica estrada Nacional 2, que liga o norte ao sul do país, atravessando 35 municípios. Sobre o mesmo tema, vai ser inaugurada, no dia seguinte, a exposição “Carros de Outrora na N2”. Esta semana de nove dias vai ter muita música, com destaque para o concerto da banda Amor Electro, na noite 4 de Agosto, a partir das 23 horas, seguido de um espectáculo piromusical. O programa inclui ainda noites de cantares e folclore, uma prova de ciclismo, insufláveis e muita animação infantil. Quanto à gastronomia, entre bacalhau à Oásis, polvo ao molho verde e arroz de cabidela, o difícil será escolher…

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A convivência possível… “Cristãos, Muçulmanos e Judeus na Palmela Medieval” é o tema da quinta edição desta feira, que vai decorrer entre 28 e 30 de Setembro. Texto: Lino Ramos Fotografia: Câmara Municipal de Palmela

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Como é que há mais de 800 anos era possível a convivência, numa mesma terra, entre cristãos, muçulmanos e judeus? Assim aconteceu, de facto, em Portugal, em Palmela, por exemplo, onde de 28 a 30 de Setembro vai decorrer uma feira medieval para recordar precisamente essa época. Durante três dias, no centro histórico da vila vai haver desfiles, torneios, demonstrações de armas e muita animação, com música, dança, jograis, artes de rua, falcoaria e jogos tradicionais. Os visitantes são convidados a descobrir um mercado medieval e a provar a gastronomia daquele período, não só cristã mas também árabe. Após a segunda conquista cristã de Palmela, em 1165, era importante fixar população no território fronteiriço. O povoamento garantia uma melhor defesa contra eventuais ataques. Para o rei, D. Afonso Henriques, ainda que os muçulmanos fossem o inimigo, era importante mantê-los na vila e na região, de modo a assegurar a continuidade de várias actividades produtivas a que se dedicavam.

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Todos eram bem-vindos, não importava o credo, mas tinham que viver em comunidades próprias, com regras próprias. Por esse motivo, o monarca concedeu em 1770 a Carta de Segurança aos muçulmanos, não só de Palmela mas também de Lisboa, Almada e Alcácer. Houve lutas, claro. A primeira em 1147, quando as tropas cristãs conquistaram a vila, há vários séculos ocupada pelos mouros. Seguiram-se batalhas, vitórias para ambos os lados, até ao triunfo cristão em Navas de Tolosa, em 1212, que contribuiu decisivamente para o fim do domínio muçulmano da Península Ibérica.

Uma das maiores feiras do país É este ambiente que a Feira Medieval vai recriar. Entre a rotina do dia-a-dia e a adrenalina de um torneio, entre o imponente castelo e o seu miradouro somos levados a conhecer de perto como era a vida em Palmela nos séculos XII e XIII. O programa inclui ainda três cortejos temáticos de grande impacto, dois diurnos e um nocturno, com centenas de figurantes, a dança vertical na Torre de Menagem do Castelo e espectáculos de fogo. A Igreja de Santiago vai receber ateliers, música, danças tradicionais e canto. O município, que organiza o evento, es-

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pera entre 30 mil e 32 mil visitantes. A feira vai apenas na 5ª edição, mas é uma das maiores do país, com um grande impacto na economia local, especialmente no comércio, restauração e alojamento, “cujo volume de negócio aumenta durante os dias do evento”, garante a autarquia. A conquista de novos públicos é outro dos efeitos, pois se os visitantes gostarem da feira certamente vão partilhar a sua experiência. Segundo o município, o evento contribui ainda para o desenvolvimento cultural e artístico, através das “oportunidades de trabalho que oferece a diferentes grupos de animação, nas

áreas do teatro, da dança, da música e das artes de rua, entre outras”. Esse impacto é muito mais do que local, dado que as companhias convidadas e os seus respectivos artistas são nacionais e, por vezes, internacionais. De tal forma que a autarquia de Palmela antevê o aparecimento de “novas dinâmicas e áreas de negócio”, com a fixação de micro e pequenas empresas em áreas associadas à época medieval, à recuperação de artes e ofícios, à dinamização gastronómica, “entre outras vertentes criativas que se poderão instalar na vila, contribuindo para a criação de emprego e para a atracção de novas actividades”.

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Santa Maria da Feira faz de D. Pedro o seu rei na Viagem Medieval

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Todos os anos, a Viagem Medieval de Santa Maria da Feira elege um Rei como cabeça de cartaz. D. Pedro I é o governante escolhido este ano, e com ele traz histórias de amor e justiça àquela que é uma das feiras mais internacionais de Portugal. Texto: Mariana Rodrigues Fotografias: Viagem Medieval Santa Maria da Feira

D. Pedro: o rei que ficou para a posterioridade pelo seu sentido de justiça e o seu amor a Inês de Castro. É ele o protagonista da Viagem Medieval 2018 de Santa Maria da Feira. A 22ª Edição da Viagem Medieval regressa ao concelho de 1 a 12 de Agosto para dar a conhecer a vida do Rei conhecido como O Justiceiro e do seu povo. Mais do dramatizar a vivência geral da época, a Viagem Medieval destaca-se pelas recriações de episódios marcantes da História. São 33 hectares de pura história. No exterior do castelo, são dramatizadas partes importantes da vida do monarca: A Vingança (dias 2 e 3) e A Coroação (dias 7 e 8) mostram como D. Pedro castigou os executores da morte de D. Inês e como

a corou após a morte; O Sonho (dias 10 e 11) deixar adivinhar o futuro dos filhos de D. Pedro. Pelos oito pórticos da Viagem Medieval deambulam alcoviteiras, pedintes, lavadeiras, vendedores, e almotacés. Há percursos nocturnos cheios de mistério no Castelo, jogos de aventura para os mais guerreiros, espaços de falcoaria com demonstração de voos de aves, e até Banhos de S. Jorge que recordam as práticas de termalismo ancestrais. Visitas guiadas, oficinas e experiências temáticas convidam os participantes a submergir no imaginário do reinado. Para os adeptos mais fervorosos de recriações, é possível adquirir os Bilhetes Experiência e sentir-se na

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pele de uma personagem histórica. Os mais pequenos podem ser Cavaleiro por um Dia ou Inês por um Dia; já os graúdos podem optar pelo Da realeza ao Povoado, Guerreiro por um Dia, Merenda no Povoado, ou Repasto no Povoado. Em 2018 a organização ampliou os espaços de modo a receber mais visitantes. Assim, junto ao anfiteatro onde decorrem os espectáculos, existe uma nova bancada com capacidade para 500 pessoas; no exterior do Castelo também haverá uma bancada com 250 lugares sentado para maior conforto durante os espectáculos diários “A Vingança”, “A Coroação” e “O Sonho”. Também as áreas do Povoado e das praças

alimentares forma alargadas e uniformizadas. Não é preciso ter receio de levar bebés: a Viagem Medieval dispõe do Recanto dos Infantes, no qual se pode fazer a higiene, alimentação e amamentação. A Viagem Medieval Santa Maria da Feira é um dos mais reconhecidos festivais históricos portugueses, tendo já arrecadado títulos como o 1º Prémio de Best Cultural Event nos Global Eventex Awards de 2017 e o Certificado de Excelência 2015 Trip Advisor. Anualmente, abre as suas portas a meio milhão de visitantes. Este ano, a Viagem Medieval garante 140 horas de animação com 67 espectáculos distribuídos ao longo de 12 dias.

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CASAR E NAMORAR AO ESTILO DE D.PEDRO E INÊS A paixão de D. Pedro e Inês de Castro está mais viva do que nunca na Viagem Medieval de Santa Maria da Feira… e quem quiser, pode fazer dela a sua própria história de amor! Pela primeira vez, a Viagem Medieval vai celebrar o amor eterno. Todos os casais podem trocar as suas juras e votos no povoado junto ao rio. A cerimónia decorrer à noite e é o próprio D. Pedro I que passa a Certidão de Casamento! (sem validade legal, claro). O casamento custa 150 euros por casal, e inclui lugar de estacionamento VIP, acesso gratuito, trajes medievais completos e caracterização. Inclui ainda uma sessão fotográfica para eternizar as memórias de um dia tão especial para a eternidade.

Mesmo que não queira dar o nó, pode ususfruir das Noites dos Enamorados.Para além dos vários espectáculos durante os 12 dias do festival focados apenas em D. Pedro e Inês de Castro, o Museu Convento dos Lóios acolhe uma exposição sobre o casal, cuja entrada é gratuita. A mais famosa história de amor portuguesa é também assinalada com uma linha de joalharia produzida exclusivamente para esta edição: três peças de autor, inspiradas nas jóias da época, estão disponíveis para venda na Loja Oficial da Viagem Medieval. O romance é apenas uma das muitas razões para viver e sentir a Viagem Medieval de Santa Maria da Feira.

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UM REI PARA A HISTÓRIA

Vingativo ou justiceiro, qual era a afinal o verdadeiro D. Pedro? O certo é que o oitavo Rei de Portugal era implacável nas suas decisões. O seu reinado foi curto, de apenas uma década, mas suficientemente marcante para ser considerado um dos mais sólidos da História nacional. D. Pedro nasceu em Coimbra no ano 1320, filho de D. Afonso IV e de D. Beatriz de Castela. Coroado rei aos 37 anos, era célebre pela sua obsessão com a justiça, daí que tenha sido cognominado O Justiceiro ou O Cruel. Gozou de franca popularidade pela sua atitude neutral nas lutas ibéricas; foi ainda responsável por regular os prazos dos despachos administrativos e judiciais. Uma das suas medidas mais importantes foi a promulgação do beneplácito régio, que proibia a divulgação no reino de quaisquer documentos pontifícios sem a prévia autorização do rei. Juntamente com D. Inês de Castro, é ele o protagonista da mais famosa história de amor portuguesa. D. Inês de Castro era uma das aias da Rainha D. Constança, e desde logo a sua ligação ao Rei foi rodeada de críticas e tensões. D. Afonso, pai de D. Pedro, mandou executar a galega para sos-

segar os ânimos políticos. Em contrapartida, a ira de D. Pedro agravou-se, e só foi acalmada com o acordo de paz estabelecido entre ele o seu pai em Agosto de 1355. Nem por isso deixou de mandar executar os assassinos de D. Inês de Castro, aos quais havia prometido perdão. Apesar do seu amor ter sido conturbado, D. Pedro e D. Inês estão hoje unidos pelos seus túmulos, situados frente a frente no Mosteiro de Alcobaça. Mas não basta saber isto. Entrevistámos Alferes Pereira, o D. Pedro I da Viagem Medieval de Santa Maria da Feira.

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Entrevista a D. Pedro I, Rei de Portugal e do Algarve

Descla (D) – O seu pai esteve presente na edição da Viagem Medieval do ano passado. Qual é a sensação de lhe suceder no trono? D. Pedro I (DPI) – É sempre uma alegria um filho suceder ao seu pai – é a ordem natural das coisas! Meu pai esforçou-se para ser recordado como um bom Rei. Reconheço-lhe essa intenção e que Deus lhe dê paz à sua alma. Caiu-lhe no manto real a grande nódoa do assassinato da minha amada Inês, a minha musa. O meu reinado fará justiça à memória de Inês e legitimará os nossos três filhos: João, Dinis e Beatriz.Recordo com saudade a senhora minha mãe, D. Beatriz. D – D. Pedro, de si costuma-se dizer que é implacável na aplicação da justiça, ao ponto de ser vingativo. O que tem a dizer perante esta afirmação? DPI – Não entendo porque me achais vingativo, quando da justiça se trata… Sou implacável, sim! Implacável com todos, independentemente da ordem social, pois o poder que Deus

D. Pedro I, Rei de Portugal e do Algarve (Alferes Pereira)

me deu para avaliar e sentenciar deve ser administrado de igual forma a todos os meus súbditos. A justiça é uma virtude indispensável do Rei, e por consequência do seu povo, porque tendo o rei a virtude de justiça, fará leis para que todos vivam “direitamente” e em paz!

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D – Vai ser protagonista no filme “A Trança de Inês”, de António Ferreira. Que tal é ver o seu retrato na 7ª Arte? DPI – Acho fascinante, essa nova arte inventada, chamada de… cinema! Deixo a avaliação para os outros, pois julgar em causa própria pode não levar ao melhor dos juízos. A excelência da representação merece sempre o meu aplauso e há quem a trate verdadeiramente bem. E prefiro o velhinho teatro, nas suas mais diversas formas, escolas e derivações. Aliás, toda a nossa festa medieval assenta na mais nobre arte de representar, o teatro, e dada a magnificência dos artistas do meu reino, teremos 12 dias (ou 10 anos, se preferireis) de admiráveis actuações! D – Têm circulado rumores de que Inês de Castro vai marcar presença na Viagem Medieval. A sua esposa, D. Constança, já se pronunciou sobre isto? DPI – Como gostaria de estar novamente com a minha amada, mas tal não é possível… A nossa Viagem inicia-se precisamente no post mortem de Inês, para grande tristeza e destroço do meu coração.

Trocava o meu reino pelos braços da formosa Inês, a mulher da minha vida! O seu espírito marcará presença constante, pois a sua memória nunca deixarei de lembrar e fazer comemorar. Tereis de marcar presença na nossa Viagem para o constatar, mas é bem possível que a minha amada tenha finalmente o seu momento de resplendor, ocupando assim o lugar que lhe é merecido e devido. Tereis de marcar presença para o testemunhar… E D. Constança, senhora minha mulher, também Deus já a levou. Era uma boa senhora, que descanse em paz… D – Em jeito de convite, tem uma palavra de incentivo a deixar ao povo que vai vê-lo a Santa Maria da Feira? DPI – Não vos peço que gabeis a Viagem, não vos peço que louveis a Viagem, não vos peço que enalteçais a Viagem… Quero, isso sim, que sintais a Viagem Medieval! A Viagem também sois vós! Já mandei buscar os melhores músicos e as mais bonitas “bailadeiras” - quero que seja uma grande festa! Porque seremos 140 mil Rainhas e Reis para vos receber no nosso território, na nossa História!!!

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“Que sejam dias de folgar, comer e mercar”

Aljubarrota Medieval vai decorrer entre 11 e 15 de Agosto, tendo como pano de fundo a batalha de há 633 anos, que garantiu a independência de Portugal. Texto: Lino Ramos Fotografias: Companhia Livre e Câmara Municipal Alcobaça

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14 de Agosto de 1385. Os castelhanos chegam ao campo de batalha pela hora de almoço, debaixo de um sol escaldante. Os portugueses aguardam numa colina. Sabem estar em inferioridade, mas permanecem calmos. O exército está disposto num quadrado: a vanguarda tem 600 lanças e é comandada por D. Nuno Álvares Pereira, na ala direita, com 200, estão os jovens fidalgos e por isso chamam-lhe a “ala dos namorados”. À esquerda estão portugueses e ingleses e, na retaguarda, el-rei com 700 lanças. O resto são homens de pé, besteiros e peões.

Pelas seis da tarde, o inimigo decide atacar, mesmo não estando completamente instalado. Avança a cavalaria a toda a brida, mas sem sucesso: o campo é estreito e os castelhanos não se apercebem das armadilhas deixadas pelos portugueses, as célebres “covas de lobo”, onde caem muitos cavalos, o que provoca grande confusão, agravada pela chuva de dardos, setas e pedras. O inimigo é massacrado mesmo antes de entrar em combate. Ao pôr-do-sol a batalha está ganha. Portugal assegura a independência. A Batalha de Aljubarrota é um dos episódios mais importantes da histó-

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O “forte Nuno” Nos inícios do século XV, quem percorresse as ruas de Lisboa e visse aquele homem a pedir esmola, não saberia tratar-se do maior general português de todos os tempos. Assim é considerado Nuno Álvares Pereira, o herói que venceu os castelhanos com um exército muito inferior na célebre Batalha de Aljubarrota, em 1385. Portugal, ajudado pelos ingleses, lutava com cerca de 6.500 homens, Castela, com o apoio de França, tinha 31 mil. A derrota parecia inevitável, mas o condestável, recorrendo a tácticas militares inovadoras, conduziu as suas tropas à vitória e garantiu a independência do reino. Camões referiu-se a ele como o “forte Nuno”, n’Os Lusíadas, acrescentando

“Ditosa Pátria que tal filho teve”. O general participou na conquista de Ceuta, em 1415, e foi convidado pelo rei a comandar a guarnição que lá iria ficar, tendo recusado, pois desejava abandonar a vida militar e dedicar-se à religião: tornou-se frei carmelita no Convento do Carmo, em Lisboa, para onde levou um grande caldeirão que os seus homens usaram durante as campanhas militares – nele se faziam as refeições para os pobres. Por tais acções, o povo começou a chamá-lo de Santo Condestável. O Papa Bento XV beatificou-o em 1918, a canonização chegou em 2009, por Bento XVI.

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ria do país e dá o mote para um evento marcante na vila que há 633 anos ficou célebre. Aljubarrota Medieval é uma lição de história ao vivo, onde é possível ver de perto figuras como o Mestre de Avis, o Santo Condestável ou a Padeira, a famosa Brites de Almeida, que, diz a lenda, matou com a pá sete castelhanos que se haviam escondido no seu forno.

Provar o queijo da padeira A elas juntam-se os comuns súbditos, mercadores e almocreves, viandeiros e estalajadeiros, músicos e malabaristas. Também há homens de luta, prontos a disputar torneios de armas e de honra ou a mostrar como era um acampamento militar. Um dos grandes momentos promete ser a recriação da

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batalha, no dia 12 de Agosto, seguida do cortejo de vitória pelas ruas da vila. Ao andar por essas ruas, será impossível resistir ao cheiro que vem do mercado: o afamado queijo da padeira, os enchidos e as carnes de caça, os doces, o mel e as compotas. Nada melhor do que entrar numa taberna medieval e saborear os deliciosos repastos acompanhados de um bom licor, antes de voltar ao corrupio – rábulas, música, teatro, animação de rua, dança e jogos de alegria animam a vila.

Os visitantes, ainda que acanhados, são chamados a participar. E há três outros momentos que vão fazer as delícias de quem gosta desta época histórica: as Noites da Padeira e de D. Nuno Álvares Pereira e o Casamento Medieval, nos dias 13, 14 e 15 de Agosto, respectivamente. Acima de tudo, Aljubarrota Medieval vai mostrar como há 633 anos as gentes de um pequeno reino exibiram toda a sua valentia, derrotando um adversário temível, e iniciaram o período mais glorioso da sua história.

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Chegou Cristóvão Colombo, e com ele trouxe o Festival

Porto Santo, local icónico na vida do navegador mais famoso da História, celebra em grande o Festival Colombo.

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Texto: Mariana Rodrigues Fotografia: Associação de Promoção da Madeira

Há cerca de meio milénio, um explorador italiano pisou as praias do Funchal pela primeira vez. Era Cristóvão Colombo, o primeiro europeu a descobrir a América. O famoso navegador é celebrado no Festival Colombo pela sua relação com a Madeira, o arquipélago onde passou parte da sua vida e onde fez escala na sua terceira viagem ao chamado “Novo Mundo”. Os primeiros contactos de Colombo com a Madeira ocorreram em

1478, altura em que o comércio de açúcar prosperava no Funchal. Do matrimónio com a filha do capitão de Porto Santo nasceu o seu filho Diogo. O Festival Colombo tem lugar na ilha de Porto Santo e assenta na recriação histórica das suas vivências na Madeira, aproveitando também para celebrar a epopeia dos Descobrimentos Portugueses. Este ano o evento decorre de 13 a 15 de Setembro, e contempla música, expo-

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sições, animação de rua, e várias encenações. No festival são recriados o Desembarque de Colombo (com uma réplica da caravela Santa Maria) e o Cortejo Histórico. Pelo cair da noite, a Caravela de Santa Maria rasga o horizonte, trazendo a bordo o navegador genovês e a sua comitiva. Assim que a tripulação chega à praia, é-lhe preparada uma recepção de cortesia. Pessoas das mais variadas classes socias unem-se no cortejo pelas principais ruas do bur-

go, para tornar pública a permanência de Colombo na ilha. Para além disso, está presente um mercado quinhentista com gastronomia, artesanato, arruadas, artes circenses, jogos de destreza, treino de armas, malabarismos, música e danças exóticas. O ambiente de animação e alvoroço é completado por recriações de pelejas entre mercadores e comerciantes, julgamentos de hereges e infratores, e arraiais populares e à desgarrada.

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Como se namorava no século XVIII?

A resposta a esta e outras questões vai estar na Feira Setecentista de Queluz, de 06 a 09 de Setembro.

Texto: Lino Ramos Fotografias: Carlos Coxo/Câmara dos Ofícios e Revista Descla

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“Século das luzes”. Há palavras novas no ar, liberdade, igualdade, individualismo, progresso, ideias e ideais que partiram de França e circulam pela Europa. Chegam a Portugal um pouco mais tarde, mas parecem não assustar as classes privilegiadas, as que mais teriam a perder se os iluministas conseguissem tudo o que propunham. A Corte mantém a sua vida faustosa, divertindo-se em festas e banquetes no Palácio de Queluz, residência de Verão dos reis. De 06 a 09 de Setembro, a Feira Setecentista de Queluz vai recriar

esse ambiente numa viagem até ao século XVIII e ao palácio que muitos chamam de “Versalhes português”. Durante quatro dias vamos poder assistir às diferentes formas de namorar, fazer um penteado à moda de então, saber dos últimos rumores e novidades da corte e aprender uma dança da época. Tudo isto na companhia de ilustres nobres, marqueses de longas cabeleiras ou marialvas com tricórnios emplumados. Enquanto a Corte se entretinha no jardim, uma pequena multidão composta por criados, lacaios, cocheiros

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e povo das redondezas reunia-se no exterior do palácio para fazer a festa à sua maneira, com danças, música, malabarismos e vários divertimentos. Assim vai ser, novamente, mas agora todos vão estar mais próximos, pois o evento decorre inteiramente no largo fronteiro do monumento. A edição deste ano tem como tema os Jardins, como forma de celebrar a vitória do projecto de reabilitação do Jardim Botânico de Queluz, concluído em 2017, que recebeu o Prémio da União Europeia para o Património Cultural/Prémios Europa Nostra 2018, na categoria Conservação. Assim, vamos ver personagens relacionadas com os jardins e a sua construção, entre outras figuras daquele período. Já não veremos, infelizmente, as galinhas da Índia e Angola e outros animais que povoavam o jardim. À entrada da feira vai ser montado um espaço com várias carroças

e carros de bois com as espécies botânicas destinadas ao jardim, ferramentas de trabalho, assim como um painel com várias gravuras da Enciclopédia Diderot e D'Alembert relativas à construção de jardins e agricultura. “Este elemento cenográfico funcionará como espaço de transição entre a feira e o palácio e também como convite ao público a visitar os Jardins do Palácio Nacional de Queluz”, revela Carlos Coxo, da empresa Câmara dos Ofícios, que produz o evento, organizado pelo município de Sintra. Cerca de 130 vendedores, vindos de todo o país e do estrangeiro, vão dar a conhecer os sabores e saberes das suas regiões naquela época, com destaque para as iguarias, conventuais ou não. Os visitantes, como sempre, hão-de ser muitos – 20 mil, estima a organização –, até porque a entrada é livre.

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ANA MOURA 18 AGO • MARIA RITA 25 AGO • RUI VELOSO 01 SET • XUTOS & PONTAPÉS 15 SET • MICKAEL CARREIRA 15 AGO • AMOR ELECTRO 10 AGO • ANSELMO RALPH 24 AGO • DIOGO PIÇARRA 08 SET • D.A.M.A 22 AGO • QUINTA DO BILL 29 AGO • ORELHA NEGRA 05 SET • RICHIE CAMPBELL 17 AGO • CALEMA 31 AGO • PAULO SOUSA 13 AGO • RAQUEL TAVARES 11 AGO • ESPETÁCULOS • DIVERSÕES • GASTRONOMIA • COMÉRCIO • CULTURA

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Braga é

coração do Barroco

A elegância e megalomania da era barroca voltam a Braga, num autêntico retrato em ponto grande. Texto: Mariana Rodrigues Fotografias: Município de Braga

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CAPITAL POR EXCELÊNCIA DO BARROCO

Braga teve o privilégio de ser o berço de criação de arquitetos e escultores que fariam dela a cidade do Barroco por excelência. Alguns exemplos de monumentos que comprovam isso mesmo são o Arco da Porta Nova, o Escadório do Bom Jesus do Monte, o Palácio do Raio, e a Igreja de Santa Cruz. Não é portanto de admirar que Braga tenha sido apelidada de “Roma Portuguesa”, já que a magnificência do seu património é ímpar no território nacional. Por isso, a cidade é o cenário ideal para um festival onde imperam a cultura e os costumes barrocos.

Já se ouvem os cravos a entoar as melodias de Bach em Braga! A cidade minhota, conhecida por “Roma Portuguesa”, foi o núcleo da cultura Barroca em Portugal. No século XVI, Braga, por influência do arcebispo D. Diogo de Sousa e dos arquitectos André Soares e Carlos Amarante, conheceu um protagonismo que é recriado nos dias de hoje pelo Braga Barroca. E por isso o festival o seu regresso triunfal, de 19 a 23 de Setembro. O Braga Barroca nasceu em 2014, e desde então tem transporta-

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do os visitantes até ao século XVIII, prometendo muitos saraus culturais. A música é a grande senhora do festival, enchendo a cidade com concertos e danças requintados. A exuberância do Barroco pode ser vivida ao pormenor com visitas guiadas e encenações. Braga Barroca assume-se como um evento imperdível não só para os apaixonados por história e música clássica, mas igualmente para todos os que gostam de recriações em grande estilo, com a devida pompa e circunstância.

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