Na Fronteira da História: Um País Armado - Pelas fortalezas do Alentejo

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Alentejo

Na Fronteira da HistĂłria: Um paĂ­s armado Pelas fortalezas do Alentejo


ficha técnica Propriedade, edição e distribuição: Gomes & Canoso,lda. Rua São João, nº.39, Repeses 3500-727 Viseu

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Telefone: 232 407 544 Telemóvel: 969 474 853 Directora: Olinda Martins Redacção: Ana Margarida Gomes e Lino Ramos Colaboradores: Mariana Rodrigues Paginação: Filipa Pinto, João Barbosa e Tiago Canoso Publicidade e Marketing: Joaquim Gomes e Tiago Canoso

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Castelo de Reguengos de Monsaraz

Caros leitores, Na terceira parte deste roteiro pela fronteira portuguesa, entramos finalmente no Alentejo, famoso por ter algumas das mais belas fortalezas do país. Marvão é um bom exemplo disso, tal a imponência da vila e da paisagem que envolve o castelo. A viagem começa, no entanto, em Nisa, de onde os romanos levaram o ouro, seguindo por Castelo de Vide, terra do herói Salgueiro Maia, Portalegre, onde encontramos as famosas tapeçarias, e Campo Maior, intimamente ligada à história do café em Portugal. Elvas, essa, é um caso à parte: não é preferência, antes a constatação de que estamos perante algo único, ou não fosse esta a maior fortaleza abaluartada terreste do mundo. Em Vila Viçosa encontramos a

padroeira de Portugal, cuja coroa nunca mais foi usada por nenhum rei, e em Alandroal descobrimos que o castelo, da época cristã, foi feito por um muçulmano. Monsaraz tem mistérios na terra e no céu, Mourão guarda a memória de D. Sebastião, que ali pernoitou antes da batalha de Alcácer-Quibir, e mais adiante começamos a ouvir o barranquenho… Estamos a chegar ao fim da rota, mas ainda há tempo para conhecer a princesa moura, na vila com o mesmo nome, contemplar o imponente aqueduto de 19 arcos em Serpa e redescobrir Mértola, antiga capital de um emirado islâmico.

Boas leituras!

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FORMAÇÃO PARA A INCLUSÃO

VISEU- NOVEMBRO DE 2 01 8

Desempr egados, preferencialmente há mais de 1 ano, inscr itos no IEFP ou sem histórico de descontos

COMPETÊNCIAS PROFISSIONAIS: 150 HORAS

par a a Seg. Social nesse período. Beneficiários de RSI. Escolar idade infer ior ao nível secundário completo.

UFCD 3337: Serviço de Vinhos UFCD 8263: Serviço de Restaurante - Mise en place UFCD 8264: Serviço de Restaurante - Protocolo UFCD 8265: Serviço de Restaurante - Execução

Bols a d e for ma ç ã o: a té 14 7 ,4 6 €* Su bs í di o de a li m e nta ç ã o : 4 , 52 € / di a Su bsí di o de tr a ns p or te : a t é 3 0, 0 0€ / m ê s* * Estes apoios estão sujeitos a verificação de conformidade, relativamente aos mesmos, do/a formando/a.

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COMPETÊNCIAS PESSOAIS E SOCIAIS: 150 HORAS


Os romanos levaram o ouro

D. João I atribuiu a Nisa o título de “mui notável” vila. Texto: Lino Ramos Fotografias: Município de Nisa

Corria o ano de 1199 quando D. Sancho I doou a Herdade da Açafa, no Alentejo, à Ordem do Templo. O vasto território incluía parte dos actuais concelhos de Nisa e Castelo de Vide, e ainda uma parcela da actual Espanha, e nele os Templários construíram uma fortaleza que os defendesse dos mouros. Pouco depois chegaram colonos franceses, que se instalaram junto às muralhas, construindo casas e fundando aglomerados populacionais aos quais deram o nome das terras de origem. Assim terá surgido Nisa,

Porta da Vila

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possivelmente oriundo da cidade de Nice. A vila que hoje vemos não fica no mesmo sítio dessa antiga povoação. Os conflitos entre o rei D. Dinis e o seu irmão D. Afonso Sanches, senhor da vizinha Castelo de Vide, terão ditado a mudança. No final do século XIII, o monarca mandou levantar um forte castelo, com seis torres e portas. As muralhas, essas, demoraram mais tempo, ainda estavam em construção no reinado do seu filho, D. Afonso IV. A localização estratégica sempre justificou elevados investimentos nas fortificações de Nisa, à qual D. João I atribuiu o título de “mui notável” vila. Em plena Guerra da Restauração, o castelo foi reforçado com uma segunda cintura defensiva e outros acrescentos menores. Nada que impedisse a derrocada da fortaleza durante a Guerra da Sucessão de Espanha (1703 – 1713), na qual Portuga participava, quando foi ocupada por tropas francoespanholas. Restam hoje duas torres, alguns panos de muralha e duas portas de finais do século XIII, a da Vila e a de Montalvão, assim chamada por estar voltada para a

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Restos da Muralha de Nisa

povoação com o mesmo nome. O rumo da História é assim mesmo, implacável até com o que pareceu eterno a alguém, mas nunca consegue apagar tudo. Em Nisa há uma zona conhecida por Nossa Senhora da Graça que vale a pena visitar, pois guarda vários monumentos e vestígios arqueológicos, nomeadamente um cruzeiro de 1638, três ermidas, um castro pré-romano, diversas fontes, as ruínas da Igreja de Santiago, uma via romana calcetada e uma ponte do mesmo período, além de vários

fragmentos de cerâmica. Os romanos exploraram por aqui uma mina de ouro, no Conhal do Arneiro, junto às famosas Portas de Ródão. A água para lavar os sedimentos seria transportada desde a Serra de S. Miguel e da Ribeira de Nisa através de canais escavados para o efeito, conhecidos por “Vala dos Mouros”. Os seixos maiores eram retirados à mão e empilhados ao longo das margens do canal, em amontoados cónicos ou rectilíneos que marcam a paisagem desta região.

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“A Sintra do Alentejo” Castelo de Vide foi uma das mais importantes praças de guerra do Alentejo. Texto: Lino Ramos Fotografias: António Manso

Vide. Assim se chamava a vila onde entramos agora. Há quem a conheça por “Sintra do Alentejo”, pelos jardins, abundante vegetação, clima ameno e proximidade à serra de São Mamede. Não se sabe ao certo quando foi conquistada aos mouros. Em 1273, o rei entregou Vide ao filho D. Afonso Sanches, igualmente se-

nhor de Portalegre e Marvão, e terá sido a partir dessa data que começou a ser construído o castelo. Os anos seguintes foram de tensão: o novo rei, D. Dinis, tentou por diversas vezes retirar a vila ao seu meio-irmão. O infante contestou o direito do monarca a ocupar o trono e iniciou a fortificação da localidade,

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um claro sinal da importância estratégica de Vide e da sua superioridade militar em relação às vizinhas Marvão e Portalegre. A contenda só acabaria em finais do século, quando D. Dinis se apoderou da vila, e a partir de então terá começado a segunda fase das obras no castelo, que deu a esta terra o actual nome. As defesas foram reforçadas durante as Guerras da Restauração,

no século XVII. A praça passou a ter uma guarnição de 600 homens e três companhias de cavalaria, o que revela a sua importância. Possuía dois fortes, o do castelo e o de São Roque, de planta estrelada, amplos baluartes e desníveis de terrenos, interligados por uma extensa linha de muralhas que circundava a vila, a qual havia crescido muito desde o primitivo núcleo medieval. A fortaleza

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só foi desactivada após 1823, permanecendo desde então como um importante testemunho das muitas batalhas entre portugueses e espanhóis ao longo da História. Castelo de Vide é uma vila de guerra e heróis. O mais conhecido é Salgueiro Maia, o famoso “capitão de Abril”. “Há diversas modalidades de Estado: os estados socialistas, os estados corporativos e o estado

a que isto chegou! Ora, nesta noite solene, vamos acabar com o estado a que chegamos. De maneira que quem quiser, vem comigo para Lisboa e acabamos com isto. Quem é voluntário sai e forma. Quem não quiser vir não é obrigado e fica aqui”. Ao ouvirem estas palavras, 240 homens partiram para Lisboa e marcharam sobre a ditadura, naquele ano de 1974.

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Castelo Marvão

Antes quebrar que torcer Marvão é o “baluarte da liberdade do Alentejo”. Texto: Lino Ramos Fotografias: C.M Marvão

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A vila de Marvão é a mais alta do Alentejo. Fica no cimo de uma montanha com 843 metros, em tempos conhecida por Herminius Menor, numa referência aos Montes Hermínios da Serra da Estrela, onde habitavam as tribos lusitanas. Lá do alto avistamos toda a fronteira e, em dias de céu limpo, todo o território que

vai da Serra da Estrela ao Alentejo, bem como a Estremadura espanhola. Marvão foi, ao longo de séculos, uma fortaleza única e decisiva para os povos que a ocuparam. Os romanos construíram uma cidade no sopé do monte. Depois vieram os mouros, e é a um deles que a vila deve o seu nome. Ibn Marwan, considera-

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do o fundador de Badajoz, refugiou-se aqui quando se sentiu ameaçado naquela capital, em finais do século IX, reedificando as fortificações, pois o povoado romano já estava parcialmente soterrado. Não se sabe ao certo quando Marvão foi reconquistado, mas a vila recebeu foral em 1226, sendo uma das primeiras no Alentejo. O castelo terá começado a ser construído em finais do século XIII ou inícios do seguinte, por ordem de D. Dinis. Nunca foi difícil atrair gente para este concelho, que combina na perfeição zonas serranas, montados e estreitos vales férteis que o distinguem das secas planuras do Alentejo. A actividade agrícola vive em harmonia com habitats naturais ricos em flora e fauna, da qual se destaca a grande águia de bonelli. Os homens do Paleolítico terão sido os primeiros a fixar-se aqui, especialmente a norte, onde o rio Sever se alarga, abrindo caminho a tantos outros povos. O castelo tem dois níveis diferentes. No primeiro, mais pequeno, onde está o castelo, há uma entrada em cotovelo protegida directamente pela poderosa e quadrangular torre de menagem, bem como uma cisterna e uma

Vista do Castelo Marvão

porta de traição, que permitia a fuga em cercos mais longos. O recinto inferior é bem mais vasto e possui um amplo espaço para aquartelamento e movimentação de tropas. Detemo-nos no complexo sistema de entrada, com tripla porta protegida por outros tantos adarves e por várias torres. Marvão foi posta à prova na crise de 1383-85 e na Guerra da Restauração,

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no século XVIII, mas nunca capitulou, defendendo sempre o Alto Alentejo. Nessa época reforçou-se a fortaleza, com baluartes estrelados a proteger as principais portas. Quando se rendeu, foi sem luta – aconteceu após a queda de Castelo de Vide, em 1704, durante a guerra da Sucessão de Espanha. Ainda assim, o governador francês dos paisanos mandou aprisio-

nar a população, enforcar alguns populares e enviar outros para Castela. A praça acabaria reconquistada pelo exército português, comandado pelo Conde de São João. Já na época de oitocentos, os liberais tomaram a praça aos miguelistas, que haveriam de a cercar durante cerca de três meses, sem sucesso, o que valeu à vila o título de “baluarte da liberdade do Alentejo”.

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Um sítio alegre… mas de muita luta

Portalegre ajudou a defender a fronteira alto-alentejana. Texto: Lino Ramos Fotografias: C.M de Portalegre

Castelo de Portalegre

Portalegre. O nome virá de Portus Alacer, que significa um porto ou ponto de passagem alegre, talvez por ser uma zona verdejante, aprazível, com abundância de água e onde havia casas que davam abrigo e mantimentos a quem por aqui passasse. É incerta a

Famosas tapeçarias de Portalegre

fundação desta cidade. O foral foi atribuído em 1259 por D. Afonso III, que terá mandado construir as primeiras defesas da povoação. Coube ao rei seguinte, D. Dinis, erguer o castelo, que denota a importância estratégica da então vila na defesa da fronteira

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alto-alentejana. Prova disso é o que o monarca decidiu que o senhorio da vila não seria concedido “nem a infante, nem a homem rico, nem a rica-dona, mas ser d’ el-Rei e de seu filho primeiro herdeiro”. Na crise de 1383-85, o alcaide desta vila era Pedro Álvares Pereira, partidário de D. Leonor, o que levou a população a revoltar-se, cercando o castelo e

obrigando-o a fugir para o Crato, onde era prior. O antigo governador viria a morrer na Batalha de Aljubarrota, onde lutou contra o irmão, D. Nuno, o herói desse dia. O castelo, entretanto muito transformado, mantém a torre de menagem e a torre Norte. Também as muralhas são diferentes, mas nota-se o perímetro arredondado, irregular e longo, que curiosamente

Famosas tapeçarias de Portalegre

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envolve o próprio castelo. A vila tornou-se cada vez mais importante, de tal modo que em 1549 foi criada a Diocese de Portalegre. Um século depois, em 1550, nascia a cidade, que continuou a desenvolver-se com o volume das receitas do imposto sobre as judiarias. Portalegre era também um dos maiores centros da indústria têxtil do país, juntamente com Estremoz e Covilhã. O fabrico de panos de lã data da Idade Média, mas conheceu um grande desenvolvimento a partir do século XVIII, com a fundação da Real Fábrica de Lanifícios, por iniciativa do Marquês de Pombal. Tais negócios eram detidos, em grande parte, por famílias nobres e burguesas, que mandaram construir residências com uma certa imponência, daí que Portalegre tenha um dos melhores conjuntos de casas solarengas do país. Em 1947 surgiu a Manufactura de Tapeçarias, que pela originalidade e valor artístico dos seus trabalhos depressa se tornou no “ex-líbris“ da cidade. É um dos últimos centros de produção artística contemporânea de tapeçaria mural do mundo. Ao longo de mais

Famosas tapeçarias de Portalegre

Famosas tapeçarias de Portalegre

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de 70 anos trabalhou com mais de 200 artistas portugueses e estrangeiros, entre os quais Almada Negreiros, Vieira da Silva, Júlio Pomar, Burle Marx, Lourdes Castro, Álvaro Siza, Le Corbusier e Joana Vasconcelos. A candidatura a património da humanidade está para breve. Em 1640, Portalegre foi uma das primeiras localidades do país a reconhecer a independência de Portugal, sofrendo os embates dessa patriótica atitude durante as lutas da restauração. Construíram-se então os fortins de São Cristóvão, São Pedro e da Boavista, adiante das muralhas medievais mas ligando-se a elas, numa tentativa de modernizar e tornar mais eficaz todo o sistema. Seguiram-se conflitos e invasões humilhantes, como a de 1808, quando o general francês Loison, “O Maneta”, obrigou a cidade a pagar um pesado tributo. Como em todo o país, o castelo e as muralhas perderam utilidade, e o crescimento urbanístico levou à destruição e ruína do velho sistema medieval, só parcialmente recuperado no século XX. Ainda assim, restam algumas portas góticas, coladas a residências privadas.

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A forte

Arronches A vila do Alto Alentejo ajudou Portugal a defender-se de mouros e castelhanos. Texto: Lino Ramos Fotografias: C.M de Arronches

Fortaleza de Arronches

Chegamos à “forte Arronches”, de que Camões fala n’0s Lusíadas. Esta foi, de facto, uma importante praça de armas durante muitos séculos. A vila pertenceu a cristãos e mouros, até ser definitivamente integrada no território nacional, em 1242. Sabe-se que o castelo já existia em 1310, ano em que foi restaurado por ordem de D. Dinis. As mais antigas construções são precisamente dessa época, com destaque para a maciça torre quadrangular. Os restantes troços de muralha datam do século XVII, quando se reconverteu a estrutura numa fortaleza abaluartada, adaptada ao fogo de artilharia. Depois dos mouros vieram os castelhanos. Primeiro, na crise de suces-

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são de 1383-85, cabendo a D. Nuno Álvares Pereira expulsá-los. Depois em 1661 Arronches foi invadida pelas tropas de D. João da Áustria, que fugiram à aproximação do exército português. Já no século XVIII, Nuestros hermanos voltaram à carga, cercando a vila, mas renderam-se logo à primeira investida nacional. Não foi só Camões a reconhecer a importância de Arronches. D. Afonso IV e D. João I concederam notórios privilégios à vila, e em 1475 D. Afonso V reuniu aqui as cortes para tratar do seu casamento com a princesa espanhola D. Joana. Por seu lado, D. Pedro II concedeu-lhe no século XVII um “foral novíssimo”, algo raro naquela época. Arronches esteve sempre associado à pecuária e à agricultura, tendo como principais recursos o azeite, os cereais e os produtos hortícolas. Do subsolo extrai-se mármore rosa de excelente qualidade e bom barro para a indústria cerâmica. E já que andamos pela vila, não custa nada dar um salto à freguesia de Esperança, mesmo ao lado, que tem alguns dos mais notáveis conjuntos de pintura rupestre existentes em Portugal. Dentro das grutas descobrimos pinturas com cerca de 3 mil anos, de tons vermelhos, que representam figuras humanas, animais, astrais e geométricas.

Fortaleza de Arronches

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Campo Maior, “Vila Leal e Vitoriosa”

Guerras, cercos e uma tragédia marcam a história desta terra.

Vila de Campo Maior

Texto: Lino Ramos Fotografias: Município de Campo Maior

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Segundo a lenda, a povoação de Campo Maior foi fundada por três chefes de família que viviam dispersas no campo e resolveram agrupar-se para se protegerem melhor.Descobrindo um espaço aberto, um diz para os outros: “Aqui o campo é maior”. Esta vila pertenceu aos castelhanos até 1297, quando D. Dinis assinou o Tratado de Alcalizes e a “trouxe” para Portugal,

juntamente com Ouguela e Olivença. O rei mandou construir o castelo em 1310, à semelhança do que fez noutros pontos do país nesta época para defender as fronteiras. No entanto, a ligação a Castela não acabou ali: durante a revolução de 1383-85, a guarnição militar e os habitantes da vila colocaram-se ao lado do rei espanhol, obrigando D. João I e D. Nuno

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Álvares Pereira a irem ao Alentejo com os seus exércitos para cercarem a praça durante mais de um mês e meio e a ocuparem pela força, em fins de 1388. Sente-se o aroma do café nas ruas brancas e limpas da vila. Campo Maior é conhecida pela excelência dos seus cafés, indústria que ocupa cerca de um terço da população activa e tem um peso de 70 por cento na economia local. Aqui fica o maior centro de torrefacção de Portugal e um dos maiores da Europa. O Centro de Ciência do Café dá a conhecer todo o processo de produção, do cultivo à torra, bem como alguns mitos, a história deste produto e a sua influência na literatura e nas artes. A vila teve sempre um papel decisivo na protecção da fronteira, por isso em finais do século XV João II mandou ampliar a fortificação com um novo conjunto de muralhas que albergasse todo o perímetro urbano, o qual se havia expandido consideravelmente para fora da cerca medieval. A defesa foi reforçada durante as Guerras da Restauração, com a construção de uma fortaleza abaluartada. Em 1712,

Castelo de Campo Maior

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o exército espanhol cercou o castelo durante 36 dias, lançou toneladas de bombas e metralha e conseguiu abrir uma brecha num dos baluartes. Mas, ao pretender entrar por lá, sofreu pesadas baixas que o obrigaram a levantar o cerco. Nada disso foi tão mau quanto a tragédia que aconteceu 20 anos depois: durante uma violenta trovoada, um raio atingiu o paiol que guardava 6000 arrobas de pólvora e 5000 munições, causando uma enorme explosão e um incêndio que matou cerca de dois terços da população. A Capela dos Ossos guarda os restos mortais das vítimas. D. João V mandou reconstruir o castelo e a vila reergueu-se lentamente das cinzas para de novo ocupar um lugar cimeiro nos momentos de guerra. Em 1811, os franceses cercaram a vila por um mês e obrigaram-na a capitular, mas a resistência foi tal que deu tempo para chegarem os reforços luso-britânicos sob o comando de Beresford – as tropas napoleónicas retiraram-se e Campo Maior ganhou o título de “Vila Leal e Vitoriosa”.

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Forte da Graça

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A Rainha da Fronteira

Elvas tem a maior fortaleza abaluartada

terrestre

do

mundo. Texto: Lino Ramos Fotografias: C.M Elvas

Elvas. Que imponência e respeito sentimos ao entrar na cidade. A guerra moldou a fisionomia deste lugar, defendido por quatro muralhas, dois fortes e três fortins, que fazem dele a maior fortaleza abaluartada terrestre de todo o mundo. As duas primeiras muralhas foram construídas pelos árabes, assim como o bonito castelo, palco de importantes acontecimentos da história do país, como tratados de paz, trocas de princesas e banquetes de casamentos reais.

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O primeiro monumento nacional À semelhança de outros, o castelo de Elvas foi perdendo importância e votado ao abandono com o passar dos séculos, mas a vontade de alguns habitantes da cidade e de diversos amantes do património foi mais forte, tornando-o no primeiro Monumento Nacional português, em 1906.

Forte da Graça

Pormenor da muralha seiscentista

D. Afonso Henriques tentou conquistar a vila, mas apenas o seu bisneto D. Sancho II haveria de o conseguir, em 1230. Elvas tornava-se, então, na mais importante povoação portuguesa na fronteira. A terceira muralha é do século XV, do tempo das guerras fernandinas – com um perímetro de 2.200 metros, envolvendo uma área de 30 hectares com casario e campos, tinha 22 torres e 11 portas. Foi precisamente na fronteira de Elvas que se assinou o Tratado de Paz, após alguns dias de cerco à vila. D. Manuel tornou-a cida-

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Um museu e uma cadeia O Forte de Santa Luzia foi adaptado a Museu Militar, onde o visitante pode conhecer a história militar da cidade, bem como vários artefactos de guerra que marcaram as diferentes épocas. Já no Forte da Graça foram criadas, no século XIX, uma companhia de correcção e uma cadeia, onde estiveram vários presos políticos desde a primeira República até 1974.

de e 1570, longe de saber o papel que esta viria a desempenhar quase um século depois, durante as guerras da Restauração: Elvas tornou-se numa verdadeira arma de guerra, com uma nova muralha, um forte e outras construções que a tornam invencível. A muralha de que se fala tem sete baluartes, quatro meios baluartes e um redente ligados entre si por cortinas, constituindo no total doze frentes de muralha. Para a construir foi preciso demolir a anterior quase na totalidade. A fortaleza, única no mundo e muito bem conservada, é um símbolo

Forte de Santa Luzia

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O Cemitério dos Ingleses O cemitério dos ingleses foi construído aquando das invasões napoleónicas para sepultar os ingleses que perderam a vida, dado que estes, sendo anglicanos, não poderiam ser enterrados nas igrejas da cidade. Uma placa de 2011 relembra os 60 mil homens dos exércitos britânico e português que morreram, ao lado dos aliados espanhóis, na Guerra Peninsular de 1808-1814.

Muralha seiscentista

do período em que a engenharia militar assumiu um papel determinante na arte das guerras de fogo. A algumas centenas de metros, o Forte de Santa Luzia, no cimo de um monte, possui quatro baluartes, várias casernas e duas cisternas, que abasteceriam 300 a 400 homens durante dois a três meses. A vitória das Linhas de Elvas, em 1659, impediu os espanhóis de marcharem até Lisboa e garantiu a independência de Portugal. No século seguinte foi construído o belo e grandioso Forte da Graça, que aumentou ainda mais o poderio militar da cidade, a qual chegou a ter mais de 15 mil militares. A fortaleza situa-se numa colina histórica: aqui ficava a ermida de Santa Maria da

Forte da Graça

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Graça, cuja reedificação se deveu à bisavó de Vasco da Gama. As obras começaram em 1763 e só terminaram em 1792. O sistema defensivo ficou completo com os três fortins, erguidos no início do século XIX, aquando das invasões napoleónicas. Acabaram as guerras, ficaram estes monumentos únicos, guardiões da memória colectiva. Há que saber preservá-los. Em 2002 a Unesco reconheceu a Cidade-Quartel Fronteiriça de Elvas e suas Fortificações como património mundial. Mesmo que não tivesse nada disto, a cidade seria sempre lembrada pelo enorme Aqueduto da Amoreira, que chega a superar os 30 metros de altura e tem mais de cinco quilómetros e meio de extensão…

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E nunca

mais os reis usaram a coroa

O castelo de Vila Viçosa é uma das jóias da arquitectura militar portuguesa. Texto: Lino Ramos Fotografias: Tiago Canoso

Vila Viçosa. O nome vem da fertilidade dos solos e do encanto desta terra, que, apesar de pequena, é uma das mais belas do Alentejo. Conquistada aos mouros em 1217, só em 1270 recebeu foral, tornando-se vila. O castelo, esse, foi construído no século XIII, já no reinado de D. Dinis, mas sofreu profundas remodelações ao longo dos tempos. A partir de 1520, o edifício foi transformado numa fortaleza de artilharia,

Castelo de Vila Viçosa

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Castelo de Vila Viçosa

de gosto e influência italianos, semelhante ao paço-castelo de Évora Monte. A planta quadrada, com dois torreões em ângulos opostos, e os mecanismos defensivos inovadores – galerias antiminas e canhoneiras fortificadas para fogo cruzado – fazem do castelo uma das jóias da nossa arquitectura militar. Dentro das muralhas encontramos o Santuário de Nossa Senhora da Conceição, no lugar de uma antiga capela gótica que terá sido fundada por D. Nuno Álvares Pereira após a vitória em Aljubarrota. O Santo Condestável ofereceu depois a imagem da santa como sinal da devoção de um povo. Mesmo ao lado fica o cemitério, onde estão os restos mortais a célebre poetisa Florbela Espanca, que levou bem longe o nome da sua

terra natal. Subimos estes muros medievais para contemplar o encanto da vila, com a Avenida Bento de Jesus Caraça e a Praça da República repletas de verdes laranjeiras, que espalham um fresco perfume. O monumento mais icónico de Vila Viçosa é, no entanto, o Paço Ducal, que começou a ser construído em 1501, quando esta terra se tornou sede do ducado de Bragança. A fachada tem 110 metros de comprimento e é totalmente revestida a mármore da região. Lá dentro, é fácil perdermo-nos nas mais de 50 salas abertas ao público, que guardam notáveis colecções de pintura, escultura, mobiliário, tapeçaria, cerâmica e ourivesaria. Aqui descobrimos a mais expressiva colecção particular de porcelana chinesa da Península

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Museu da Caça Na alcáçova do Castelo encontramos este museu, com espécies venatórias de origem europeia e asiática e diversos troféus de caça africanos. Da vasta colecção distingue-se igualmente o crânio de um elefante pigmeu, várias carabinas e cerca de 200 armas gentílicas oferecidas ao rei D. Carlos e a D. Luís Filipe, quando o príncipe do reino visitou Moçambique, em 1907. O monarca era um apaixonado pela arte de caçar, tendo mesmo usado a Tapada Real de Vila Viçosa, junto ao palácio, para satisfazer o vício.

Castelo de Vila Viçosa

Ibérica e vemos de perto os coches e as carruagens da família real. Em 1640, o duque de Bragança tornou-se rei de Portugal, como D. João IV, e o palácio perdeu alguma da sua importância. Contudo, o monarca não esqueceu Vila Viçosa nem Nossa Senhora da Conceição: como agradecimento pela vitória na Guerra da Restauração, coroou a imagem de Vila Viçosa como Rainha de Portugal nas cortes de 1646, tornando-a padroeira do país. Desde então nunca mais a coroa foi usada por nenhum rei. A imagem está coberta por ricas vestimentas, muitas delas oferecidas pelas rainhas e demais damas da Casa Real. O Paço haveria de recuperar prestígio no século XIX, como residência de verão da família real, no tempo de D. Luís e D. Carlos. Este último dormiu aqui na véspera do seu assassinato, em 1908. A implantação da República em 1910 levou ao encerramento do Paço Ducal de Vila Viçosa, que, por vontade expressa em testamento por D. Manuel II, reabriu portas nos anos 40 do século XX, após a criação da Fundação da Casa de Bragança.

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Um castelo cristão…feito por um muçulmano

Vista aréa do Castelo de Alandroal

A vila de Alandroal está intimamente ligada à guerra.

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Pormenor do Castelo de Alandroal

Pormenor do Castelo de Alandroal

Texto: Lino Ramos Fotografias: Município de Alandroal

Descemos até ao Alandroal e logo nos deparamos com o seu notável castelo, ladeado por imponentes muralhas. É uma típica fortificação gótica, com torre de menagem adossada à cerca e porta principal, que está protegida por duas torres quadrangulares, ligeiramente avan-

çadas para permitir um maior raio de tiro vertical sobre a entrada. O edifício foi construído em apenas quatro anos, entre 1294 e 1298, como provam as duas inscrições que comemoram o arranque e a conclusão das obras. Estamos diante de um belo

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Pormenor da fortaleza abaluartada de Juromenha

exemplo do grande investimento que a Ordem de Avis fez, por estes anos, em castelos no Alentejo. Uma terceira inscrição tem o nome do responsável pela obra, “Eu, Mouro Galvo”, um muçulmano…Tal facto poderá surpreender, mas estávamos num tempo em que os inimigos principais já não eram os mouros. Uma das marcas da influência árabe no castelo é a janela de arco em ferradura, localizada numa das torres, de gosto mudéjar.

Em 1384, durante a crise de sucessão, os partidários de Castela tentaram conquistar Alandroal, mas Pero Rodrigues, alcaide da terra, resistiu e saiu vitorioso. A povoação voltou a ter um papel militar durante as Guerras da Restauração, quando a fronteira foi reforçada com tropas e cavalaria – dessa época, é referida a importância das águas do Alandroal, tão necessárias nos Verões rigorosos. No mesmo período, e para reforçar a defesa nesta região, foi construída a

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fortaleza abaluartada de Juromenha, povoação conhecida por “sentinela do Guadiana”. A nova estrutura era adaptada à nova artilharia,tendo duas cinturas de muralha. Ainda decorriam as obras quando, em 1659, explodiu o paiol de pólvora, danificando boa parte das estruturas. Várias pessoas morreram, a maioria estudantes universitários de Évora que estavam a substituir o exército envolvido na Batalha das Linhas de Elvas. Passaram-se os séculos, foram-

se as lutas e os inimigos, alterou-se a fronteira do Alandroal com Espanha, com a construção da barragem do Alqueva. O Grande Lago, como lhe chamam, é o maior reservatório artificial de água da Europa Ocidental. Do lado aposto fica a Serra d’Ossa, o pulmão desta zona do Alentejo, onde existem grutas artificiais do tempo dos monges eremitas. Entre uma e outra crescem os loendros, planta que deu nome à vila e cuja madeira ainda é usada no artesanato local.

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Monsaraz, a beleza na terra e no céu

O grande lado Alqueva

A vila medieval é uma das mais antigas do país. 42 ...by Descla | Na fronteira da história : Um país armado


Texto: Lino Ramos Fotografias: Município de Reguengos de Monsaraz

O Grande Lago. É ele que nos acompanha agora, desde que entrámos no Alandroal. Subimos ao castelo de Monsaraz e avistamos o imenso espelho de água do Alqueva, bem como a fronteira, que se estende por infinitos campos verdes. Um quadro natural arrebatador. Estamos no topo de um monte rodeado de muralhas que protegem a vila medieval, uma das mais antigas do país. Ocupada desde a pré-história, como provam os inúmeros monumentos megalíticos, esta terra acolheu vários povos, entre romanos, visigodos e muçulmanos, até ser conquistada por Geraldo Sem Pavor, em 1167. De novo caiu nas mãos dos árabes e de novo os portugueses a dominaram. D. Afonso III atribuiu-lhe o foral em 1276 e nos anos seguintes foi construído o

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Pormenor do Castelo de Monsaraz

Vista do Castelo de Monsaraz

Visa do Castelo de Monsaraz

núcleo primitivo do castelo, incluindo a torre de menagem, a matriz e o tribunal gótico, cujo interior alberga o fresco de O Bom e o Mau Juiz. A imensa fortaleza que hoje vemos foi construída aquando das Guerras da Restauração, envolvendo a vila com muralhas adaptadas aos tiros de artilharia. Para entrar há quatro portas de granito, duas de arco gótico e duas de arco plano. Ao passarmos

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a Porta da Vila, entramos o quotidiano de uma população que se servia da “vara” e do “côvado” para uniformizar as suas práticas comerciais e aferir as medidas dos negociantes de panos que entravam na vila. Muito mudou desde então: Monsaraz já não é sede de concelho nem tem a função de vigiar a fronteira e defendê-la; a antiga praça de armas foi transformada em praça de touros.

Permanece o encanto da vila,e os mistérios do céu, que sempre teve um papel fulcral na história, nos mitos e na busca insaciável do Homem pela compreensão do mundo – isso é visível no património megalítico do concelho de Reguengos de Monsaraz. Nesta zona do Alentejo, o céu tem características únicas à noite, que facilitam a observação do cosmo e das estrelas. Chamam-lhe astroturismo. A Reserva Dark Sky Alqueva, que integra os municípios de Reguengos de Monsaraz, Portel, Alandroal, Mourão, Moura e Barrancos, foi a Unesco e pela Organização Mundial do Turismo. Associada a esta, foi criada a Rota Dark Sky ® Alqueva, que permite contemplar os corpos celestes através de telescópios e passear à noite a pé, a cavalo ou de canoa, entre outras actividades. Na aldeia de São Pedro do Corval, mantém-se a tradição da olaria, também ela com origem na pré-história. No maior centro oleiro do país, ainda podemos ver os mestres a trabalhar na sua roda para criar canecas, pratos decorados com temas rurais ou potes que chegam a ter a altura de um homem.

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Onde está D. Sebastião?

A vila de Mourão, uma das mais belas de Portugal, foi sucessivamente atacada ao longo de séculos. Texto: Lino Ramos Fotografias: Tiago Canoso

Reza a lenda que os primeiros habitantes de Mourão instalaram-se junto ao rio, de onde foram obrigados a fugir devido aos ataques de formigas, que chegavam a matar os recém-nascidos. É verdade que a primeira povoação, a chamada Vila Velha, era junto ao Guadiana, mas a falta de defesas terá ditado a mudança para um lugar mais elevado. Na

Castelo de Mourão

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Idade Média, esta terra pertenceu ora a Portugal ora a Castela, dada a indefinição de fronteiras entre os vários reinos surgidos após a reconquista cristã. O castelo foi construído no século XIV, pouco antes de a vila ser posta à prova na crise de 1383-85. A praça de Mourão aderiu à causa do Mestre de Avis, e sofreu devastadoras incur-

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Vista do castelo de Mourão

sões castelhanas. A posição estratégica da vila justificou os mais de 2 mil reais que o rei D. Manuel gastou em restauros e remodelações, no século XVI. Os mais velhos contam que o rei D. Sebastião pernoitou aqui a caminho de Alcácer-Quibir, tendo assistido a uma tourada e pedido protecção à Senhora das Candeias. Os espanhóis voltariam a atacar a praça em diver-

sas ocasiões, principalmente durante as Guerras da Restauração. O velho castelo foi então reforçado com uma dupla cintura de muralhas adaptadas ao tiro horizontal, com revelins pontiagudos, baluartes, fosso, alçapões e atalaias, dos quais sobram poucos vestígios. A fortaleza impõe-se sobre a antiga vila medieval. Para lá dos muros con-

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templamos a infinita planície, os verdes campos, os olivais e as vinhas, a estepe cerealífera de São Leonardo, que se prolonga pelo país vizinho e, claro,o belo e imponente Alqueva. Pensamos na aldeia da Luz, que foi submersa para se poder construir a barragem do Alqueva, em 2002. Sou da aldeia da Luz/A que vai ser alagada/Calhou-nos esta cruz/Mas que cruz tão pesada, escreveu o poeta popular João Chilrito Farias. Criou-se uma nova aldeia, mas a população nunca se habituou a ela, mais moderna, com novas casas e ruas mais largas, mas também por isso sem a identidade da antiga. Há gente que ainda não é dona do próprio quintal, devido a problemas no registo de propriedade, e as promessas de construir uma marina e uma praia fluvial não passaram disso mesmo. Junto à antiga aldeia fica o Castelo de Lousa, construído pelos romanos entre os séculos II e I a.C., igualmente submerso. Aquando da construção da barragem, envolveu-se a fortaleza, totalmente em xisto, com sacos de areia, cobertos com uma camada especial de cimento, de modo a evitar o desgaste provocado pela água.

Castelo de Mourão

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Mais para lá do que para cá Não se fala nem português, nem espanhol. Espanha é mais próxima de Barrancos e por isso aqui ouve-se falar o barranquês. Castelo de Noudar

Barrancos é quase espanhola. Não é por mania da contradição; de facto, esta vila raiana está mais perto da fronteira com Espanha do que da próxima localidade portuguesa (Barrancos fica a 9 quilómetros de Encinasola e a 21 quilómetros de Santo Aleixo da Restauração). Com cerca de dois milhares de habitantes e a mais de 100 quilómetros de Beja e de Évora, Barracos é o que se pode chamar um reduto. Daí que a influência castelhana esteja mais presente na cultura de Barrancos do que propriamente a portuguesa – a vila distingue-se por nela se falar o Barranquenho, um dialeto com traços espanhóis que carece de reconhecimento por lei. A par com Reguengos de Monsaraz, este é um

Texto: Mariana Rodrigues Fotografias: Município de Barrancos

dos dois locais aonde, por regime de excepção, ainda se pratica a tourada com os touros de morte. É em Barrancos que fica o Castelo de Noudar. Romanizado, islamizado e cristianizado, este é um castelo que já passou pelas mãos de muitos senhores. Sabe-se que a povoação de Noudar foi conquistada aos árabes por Gonçalo Mendes da Maia, por volta de 1167. Depressa voltou ao comando muçulmano, apenas para ser tomada por Castela mais tarde. Como uma bola num jogo de pingue-pongue inconstante, Noudar foi saltando de mão em mão, vítima das atribulações políticas. Noudar só se tornou portuguesa em 1238, quando Afonso Sábio doou a terra à sua filha

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Castelo de Noudar

Beatriz. Passado um século, D. Diego Fernandez, um nobre castelhano da Ordem de Santiago, cerca e toma o castelo. Em 1372, pelo casamento de D. Fernando com D. Leonor Teles, o castelo é devolvido a Portugal; mas em 1385 volta à posse de Castela. No ano seguinte, a assinatura do Tratado de Monção determina que as Praças de Noudar, Mértola, Castelo Mendo, e Castelo Melhor regressam a Portugal em troca de Olivença e Tui. Menos de um centénio depois, Noudar é novamente sujeita às forças espanholas.

O castelo foi ocupado em 1707, só tendo sido restituído a Portugal em 1715. Foi feito um projecto de uma enorme fortaleza para o substituir, na sequência deste conflito. Esta fortificação, que se situava na colina a sul, nunca chegou a ser executada, embora D. João V tenha ordenado o seu projecto. Foi no século XVIII que se deu a transferência da sede de concelho para Barrancos, sendo que a população abandonou gradualmente a terra, até Noudar deixar de ser concelho em 1836.

Vista do Castelo de Noudar

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Moura era a Princesa… … e Moura ficou a cidade. Do amor trágico de Salúquia é que vem o nome deste pedaço do Alentejo. Texto: Mariana Rodrigues Fotografias: C.M Moura

Castelo de Moura

Dantes chamava-se Arucci. Depois passou a ser Al-Manijah. Só quando nela deixou de viver a última moura é que a vila se passou a chamar… Moura. Assim diz a História sobre a lenda de Salúquia, a princesa muçulmana a quem se deve o nome da cidade alentejana. Nos tempos longínquos da reconquista cristã, a antiga Moura pertencia ao governador Abu Hassan, cuja filha – a bela Salúquia – estava noiva do

jovem alcaide do castelo. O jovem estava ausente em combate contra os portugueses, pelo que Salúquia aguardava o seu retorno debruçada do alto da torre. Mas, os portugueses conseguiram avançar sobre a povoação e fizeram uma emboscada ao jovem mouro matando-o juntamente com os seus companheiros. Depois, apropriaram-se das suas roupas e foram disfarçados até ao castelo, conseguindo

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com que as portas se abrissem. Depressa espalharam o terror e apoderaram-se do castelo. Salúquia, desesperada quer pela morte do amado, quer pelos caos provocado pelos embusteiros, negou-se a ser feita cativa e atirou-se da torre em direcção à morte. É desta sua lealdade que advém o nome de Moura – e é Salúquia, caída no chão por amor, quem figura no brasão da cidade. O castelo esse, assistiu a muitas mais histórias: crê-se que a sua ocupação remonta à Idade do Ferro. O domínio cristão efetivou-se em 1232, sendo que Moura recebeu Carta de Foral em 1295. Em 1512 D. João III atribui à terra o título de Notável Vila de Moura. Tal veio reforçar o que

o tempo já tinha comprovado: que Moura detinha uma importância geoestratégica no período da Reconquista Cristã fulcral, ao ponto de ter sido nela que se construiu o primeiro convento da Ordem dos Carmelitas em Portugal e em toda a Península Ibérica. Uma originalidade do Castelo que se mantém até à actualidade são as duas nascentes de água que se situam no seu interior e que abastecem a fonte das Três Bicas e a fonte de Santa Comba. Estas nascentes permitiram a construção de uma unidade termal e das instalações da Água Castello (cuja unidade fabril manteve-se no espaço do castelo até ao final da década de 30).

Edíficio dos Quarteis

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A Sem Defesa

Muralha de Serpa

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Aqueduto Para Uma Família Só

Serpa, com o seu belo aqueduto e muralhas, foi uma das zonas de Portugal onde mais conflitos se deram ao longo da História. Texto: Mariana Rodrigues Fotografias: C.M Serpa

Com o seu aqueduto e muralhas, parece intransponível. Assim é Serpa, a vila bejense à qual os romanos emprestaram a sua grandiosidade, e à qual os mouros deram a sua primeira fortificação. Em 1166, foi conquistada por D. Afonso Henriques, mas não definitivamente: Serpa foi perdida e ganha um número sofrível de vezes. Se há terra portuguesa que muito penitenciou com conflitos bélicos, essa terra foi Serpa… Por isso, foi ordenada em 1295 uma remodelação dos panos de muralha em grande escala por D. Dinis.

Em Serpa há um aqueduto de características únicas: ele foi criado não para servir uma comunidade, mas sim para atender às necessidades de consumo do Solar dos Condes de Ficalho. Erguido no século XVII a pedido de D. Francisco Melo, alcaide-mor de Serpa, possui ainda a particularidade de ter dezanove arcos que assentam diretamente na muralha do Castelo, criando assim uma construção arquitectónica invulgar. Servia para receber 16 mil litros de água, que eram despejados a mais de 10 metros de altura. Mais do que um capricho daquela que era uma das famílias mais poderosas do Alentejo, é uma construção incomum em todo o país.

Muralha de Serpa

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Pormenor da muralha de Serpa

D. Manuel, antigo senhor da zona, quando subiu ao trono português, concedeu Carta de Foral a Serpa. Aquando da crise de 1383-1385 que pôs o país em alvoroço por causa da sucessão ao trono, a vila pôs-se do lado do Mestre de Avis, servindo assim como base de operações para as tropas portuguesas que se aven-

turavam no território castelhano. Cansada e desanimada pelos constantes conflitos que assolavam Serpa, a população pediu a D. Afonso V nas Cortes de 1455 que concedesse aos futuros moradores o privilégio da isenção de serviços militares e municipais. Durante a Crise de sucessão de 1580, Serpa e seu castelo

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caíram diante das tropas espanholas comandadas Sancho d’Ávila. Em meados do século XVII, no decurso da Guerra da Restauração, foi concebido um projecto da autoria de Nicolau de Langres destinado a reforçar os limites da fortificação ao modo de baluarte. Foi nesta altura que se ergueu o Forte de S. Pedro.

Ironicamente, foi precisamente na sequência da Guerra da restauração que as muralhas foram arruinadas: estava-se em 1701 quando o Duque de Ossuna atacou a vila. Como se não bastasse, a muralha e as torres ruíram no século XIX – ficaram de tal modo fragilizadas que, até hoje, estão sujeitas a desmoronamentos.

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Cidade de Mértola

Martulah, Capital Islâmica Mértola, bafejada pela sorte, conheceu outrora uma enorme prosperidade trazida por vários povos. Tal era a sua riqueza que chegou a ser capital de um emirado islâmico. Texto: Mariana Rodrigues Fotografias:

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Quem diria que a vila de Mértola, do alto de um monte cortado pelo rio Guadiana, já foi capital de um emirado islâmico? Não é fruto do acaso, mas sim da vantagem geográfica que esta zona sempre teve e que tantos povos a si chamou, fazendo das terras em redor de Mértola pontos incontornáveis de várias rotas comerciais. Por aqui já houve abundância vinda de vários cantos do mundo: Iberos, Romanos Fenícios, Gregos e Cartagineses

passaram por Mértola. Mas a história de prosperidade da actual vila alentejana começou com os muçulmanos. Com a invasão dos povos do Norte de África, liderados por Tarik em 711, Mértola reafirmou a sua função comercial. Graças à sua posição geográfica excepcional no último troço navegável do Guadiana, reforçou a sua condição de porto mais Ocidental do Mediterrâneo. É nas décadas 30 a 40 do século XI que Mértola (ou Martulah, como

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Museu Islâmico

era então designada) elevou-se até se tornar capital de um pequeno emirado islâmico independente - a taifa de Mértola. A cidade cresceu de tal modo durante o seu período islâmico que, sob o antigo Forúm romano, foi edificado um bairro onde escavações modernas descobriram habitações, pátios e ruas de arquitectura dessa era. É por isso que Mértola possui

no Museu de Mértola um núcleo de Arte Islâmica. Fora das portas do Museu, um dos legados maiores da presença islâmica aqui é a Mesquita de Mértola, cuja alvura leitosa reflecte os raios de sol abrasador do Alentejo. Erguida no século XII, a sua construção preservou pormenores da era romana, e, depois da reconquista, também os elementos muçulmanos foram conservados.

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Castelo de Mértola

Mas a era dourada de Mértola findou para dar lugar à conquista cristã. Foi Paio Peres Correia, comendador da Ordem dos Cavaleiros de Santiago, quem ficou encarregue de tomar a região, que mais tarde foi doada à Ordem. Uma oferta recebida de bom grado, dada a importância militar do local pela sua ligação ao Algarve, e que por isso mesmo fez com que os Espatários

escolhessem a cidade como sede da Ordem em Portugal (estatuto que manteve até 1316). O comércio de Mértola começou aqui a perder alguma da sua velha vitalidade; foi preciso chegar ao século XVI para D. Manuel conceder o Foral à vila, que, lentamente, começou a ganhar fulgor graças à exportação de cereais para as ocupações portuguesas no Norte de África.

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