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Leo Almeida

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Claudia Zortea

Claudia Zortea

A MORTE ESTÁ DE PASSAGEM

Entediada com a vida urbana, a Morte e sua família resolveram mudar para o interior do país. “Enganam-se aqueles que pensam que a Morte não tem vida própria.” Quando chegaram à fronteira com Mato Grosso, ficou impressionada com a maquinaria agrícola e as promoções apresentadas pelo comércio. - Acho que vou comprar esta ceifadeira gigante que parece um trator. Vai dar para fazer meu trabalho em grande escala e terei tempo de descansar. Quem sabe poderei ir ao cinema. Faz tempo que não me divirto.

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Comprou então uma ceifadeira. Ficou feliz porque conseguia atuar em grande escala e se dedicar à família nos tempos vagos. Depois de alguns anos, sua máquina de morte enguiçou. Mesmo não sendo seu métier, a Morte passou a entender de agricultura, já que alugava a sua máquina aos fazendeiros de sua região de tempos em tempos.

Ao escutar e saber com a prática de seu trabalho o poder mortífero dos agrotóxicos, a Morte resolveu pegar um empréstimo no BNDES e plantar soja. Assim, lucraria duas vezes, ou mais, com sua vocação.

Leo Almeida

Escreveu a novela “Trilogia Mundana”, publicada pela editora Multifoco em 2016 e o livro de contos “Quiçaças e Agouros”, contemplado pelo prêmio Estevão de Mendonça e publicado em 2021 pela Carlini & Caniato, do qual faz parte o presente conto.

VENTANIA

quando a gente não tem absolutamente nada na cabeça a hora mais apropriada é essa.

sem papel caneta lápis ou computador à tiracolo é chegado o momento: bradar e empinar versos ao vento.

que se faça o poema e depois a implacável decisão: o que fazer com ele!

DOCE VIDA

tacho de cobre fumegando no fogão à lenha odores que se espalham aguçando narinas

colher de pau gigante rodopia e busca o ponto contracenando no crepitar da lenha

remotas recordações adocicam a memória infância a doce vida

Lorenzo Falcão

“Nasci inexplicavelmente para ser poeta”, reconhece Lorenzo Falcão na breve biografia que acompanha “mundo cerrado” (assim mesmo sem maiúsculas por opção do autor). “O cerrado é meu lar e a poesia, o meu mundão sem porteira”, conclui o jornalista, que nasceu em Niterói (RJ), mas cresceu em Mato Grosso, “entre barrancos, pedras e sombras”, e trabalha há muitos anos como jornalista na área de cultura.

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