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Pablo Rezende
RETÓRICA
O que sei eu da vida? O que sei eu das coisas? O que sei eu da vida e das coisas? A mim (o) nada me cabe o que não for meu A mim me cabe a angústia A mim me cabe a ausência A mim cabe a saudade (A angústia do que poderia ter sido A ausência do que se perdeu A saudade do que foi).
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A mim me cabe as coisas pequenas Um livro na estante Um calendário sobre a mesa A mim me cabe a confusão dos olhares O peso da pena A chama da chuva A mim me cabe o que nunca foi dito (muito mais do que palavras).
Apaga os versos destes poemas Esqueça o que foi dito Não diga nada As palavras são flores de papeis Em chuvas de granizo. As palavras são o que podem ser Pedra, papel e tesoura São ilusões que eu mesmo plantei em meus olhos. Olhos que se veem (e não se tocam) Olhos que se cansam (e não se vão) Olhos que se chocam (e não se distraem) Olhos que se fecham (e não desatam) Olhos.
Todas as perguntas são versos Sementes de um solo poemático Semeadas no marmore, cultivadas no deserto Sob a vida presente, sob o tempo presente.
Não apague a luz, não tranque a porta Troque os móveis de lugar, abra a janela O que sei da vida e das coisas Estão aqui Em meu gesto que chora Em meu verso que sangra Em meu poema que arde De angústia. De ausência. De saudade.
Pablo Rezende
É filho de dona Ilda, poeta e professor de Língua Portuguesa, Literatura e Redação da Rede Pública do Estado do Mato Grosso. É graduado em Letras – Português/ Inglês pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM) e Mestrando em Estudos Literários pela Universidade do Estado do Mato Grosso (UNEMAT). É autor do livro O dever e o haver, publicado pela Literata, em 2011. Têm poemas publicados em várias antologias poéticas nacionais e internacionais.