Degustação do livro Digna Estrela

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Sinopse ... todos os instantes são instantes de recomeçar. Viver, amigo, é sempre um eterno recomeço. Vamos recomeçar? No fim da penúltima década do século XX, fomos um grupo de oito espíritos selecionados para estar em convívio mais extenso com a sempre meiga Maria de Nazaré, a doce mãe de Jesus. Ali, sabíamos de antemão que seriam tratados assuntos pertinentes aos processos da grande transição terrena, que se arrastariam por longo tempo. Ao final, suscitou-se a necessidade de deixar marcado esse acontecimento engrandecedor para todos nós, que lá estivemos. Precisaremos voltar a ser crianças, para que, com a meiguice da inocência plena, despidos de qualquer preconcepção e sustentados na alegria diária, possamos doar à Terra nossa participação nos momentos tão sérios que teremos pela frente. Para a grandiosidade dos desafios que enfrentaremos, só mesmo a simplicidade poderá nos conduzir a uma jornada amplamente vitoriosa.

Scheilla

Capítulo 5 Era outubro de um ano qualquer, mordiscado pelas chuvas de verão. A cidade silente e calma, a multidão a se esconder nas marquises molhadas, abrigando-se de uma chuvinha manhosa que sempre fingia passar e, de repente, surpreendia com o traiçoeiro engana-bobo, o conhecido jeitinho mineiro de chuviscar. Passa uma dama de sombrinha aberta, colhendo os respingos da chuva e os distribuindo, causando ainda mais molhação. A mocinha usava saia bordada e botinhas azuis de salto alto. Caminhava garbosa pelas poças, mineiramente elegante, ginga que a montanhesa tem ao caminhar. Um vento ligeiro a pega desprevenida. Logo segura a saia rodada; a sombrinha, revirada, fugiu. Era um ventinho que, distraído, passava assobiando, como se não soubesse que já ia longe o inverno e não era mais tempo de tanto frio. Um ônibus colorido estaciona logo defronte a ela e lança respingos e barro, lama agora misturada ao entulho de uma cidade suja. (...) Mas certa tarde, um som infernal provocou gritos, pânico e uma intensa correria, um barulho ensurdecedor. Um toldo de alumínio tombado no meio-fio, despedaçado, olhares assustados para todos os lados, sem que ninguém entendesse por que as pessoas corriam. Passada a confusão, defronte a uma galeria formou-se uma multidão comentando, estupefata. Uma figura humana ali hirta, morta, braços dilacerados, pernas desnudas e quebradas. No rosto, apenas um filete de sangue escorria em um dos cantos da boca. Era uma jovem adolescente de expressão sem igual, a mesma beleza das mineiras e das montanhesas, singela, morena, expressão de angústia e dor. O sangue ainda escorria aos borbotões pelas vísceras semiabertas e misturava-se à lama e ao barro. O cabelo negro e o escarlate misturados mantinham-lhe ainda o viço jovial. Era


uma jovem que não sei por que despencara do alto de um conjunto de prédios, precipitando-se no vazio. Quem sabe por querer voar sobre a cidade, naquela tarde, ou no vazio de si mesma. Como em toda aglomeração, iniciaram-se acalorados comentários diminutos e ferinos. — Deve ser uma das prostitutas que por aqui fazem morada. — É essa mocidade maluca, irresponsável, que se acha dona do mundo. — É droga, vai ver que estava com a cara cheia de maconha ou cocaína, saindo de alguma festinha de embalo. É isso que eu falo, esta juventude maluca que não quer saber de nada! Atalhou outro: — Vagabunda, prostituta, vai ver que se arrependeu e suicidou-se. — Suicida! — Irresponsável e sem uma vida digna, uma prostituta sem valor. A beata que passava fez o nome do pai, não sei se abençoando ou se esconjurando. Uma jovem de passagem olhou o corpo inerte e, apressando o passo, desceu chorando, orando. Multiplicaram-se os comentários: — Pulou do 17º andar. — Não, acho que foi do 15º. — Deve ter pulado de costas para ter coragem. — Não, esse tipo de gente é ruim de dar dó, deve ter vindo de frente mesmo. — Olha lá... eta! Resvalou na marquise. — Olha lá, veja, arrebentou o toldo! — Nossa! E o dono, coitado! — Quem paga? — Pela doideira dos filhos quem acaba pagando somos nós, os pais. — Nestes casos, quem paga é o prefeito. — Olha lá, a desavergonhada ainda trazia consigo uma cruz, uma correntinha, deve ser de lata. — Que nada, deve ter ganhado de um homem qualquer! Em meio à tamanha desolação, jazia ali a tristeza de uma vida inerte, de uma juventude agredida, oprimida, morta! Nem uma oração, um pensamento de amor, nenhum sustento ao equilíbrio, nada que pudesse gerar-lhe alívio ou que minorasse a intensa dor do suicídio. É o velho vício sustentando a prática da acusação. Procuram-se os defeitos, o imperfeito, opera-se sempre a crítica ácida e inoportuna, finalizando num julgamento extemporâneo, calcado, muitas vezes, na frigidez dos próprios sentimentos. São as vozes do vazio humano e, ao mesmo tempo, desumano. Daquele pranto incontido da mocinha que descia apressada, surgiu a oração, sublimando a alma no contato direto com as forças divinas...

Se você já sentiu que essa história é de tirar o fôlego, continue lendo o livro “Digna Estrela”.


Digna Estrela “Também eu não estava falando do mundo, minha querida amiga, falava, na verdade, é do seu mundo. Conversava, mesmo, com seu interior, sabendo que os processos de mudança são pessoais e intransferíveis. Eu não lhe disse logo que nos encontrávamos no reverso do inverso de onde você podia morar? Nosso mundo é pessoal e nossas mudanças também fazem parte de um processo íntimo, existente no cadinho doméstico de cada um. Então, a resposta que procura só você poderá lhe dar!” Mudar é urgente “— Não temos outra solução que não seja acelerar o processo. Planejamento é planejamento, e não se pode perder o passo. Minha sugestão é que, devido ao atraso, iniciemos agora a transmigração das almas recalcitrantes aos exílios em outros mundos! Todos lá passaram a suar frio, enregelaram-se, pois era um momento difícil. Haveria de se multiplicar os prantos, redobrar-se-iam os lamentos e as hostes resistentes seriam expurgadas. Haveria, por certo, tempos de intensa dor e extrema confusão...” ... “Minha Bendita Mãe, farol dos que transitam na ignorância, pelo prenúncio das dores e sofrimentos atrozes, pela proximidade das lágrimas e dos lamentos vindouros, não tenho outra escolha, Mãe querida! Nenhuma opção que me permita agir de forma diferente! O rumo mais sábio para este período é soberanamente o da Tua misericórdia!” Brisa Mansa, a Águia e o Coqueirinho “Diante da tempestade, o melhor é ceder, repartindo, atendendo o solo seco com a umidade das pastagens e a energia em razão da própria vida! Quem muito retém implode ou explode e não ajuda ninguém. Eu te pergunto, Brisa Mansa, o que é a vida senão uma proposta terna de doação?” ... “Não perdemos e não nos despedimos de ninguém. A vida é luta segura e contínua, onde não cabe a amargura, nem mesmo o pranto. Deus existe e a tudo preside. Nas alturas, sempre disposto, misericordioso a nos amar.”


A Estrelinha e a Evangelização “Infelizmente, esgotou-se o tempo naquele ambiente superlotado, com catorze crianças, quatro evangelizadores, vinte e dois espíritos protetores, oito espíritos obsessores, doze inimigos gratuitos das famílias, quarenta e sete espíritos em processo de regressão para futuro renascimento, seis dirigentes espirituais da casa, sete dirigentes espirituais da tarefa, vinte e dois colaboradores espirituais espontâneos, quarenta e dois amigos espirituais vinculados às tarefas de visitação aos lares ligados à evangelização. Foi registrada a falta de três crianças, em razão da irresponsabilidade dos pais, e uma evangelizadora imatura, que ainda não despertara para a importância da sua missão. Com toda aquela brincadeira, mesmo com a algazarra durante a evangelização, o Lucinho foi operado de um quisto maligno na região medular, que a seis meses iria, possivelmente, ceifar-lhe a vida... Paulinha de Tal L. “Pais, é importante refletir sobre nossa responsabilidade maior nos processos dos aceites, da instrução e condução dos filhos de Deus que aportam em nossos lares. Evangelizadores, reflitamos com atenção sobre os compromissos assumidos nessa tarefa de amor, inseridos que estamos na lida com os projetos de Jesus. Dirigentes, não se furtem ao incentivo da tarefa e à sua dinamização no interior das casas de Jesus, tudo fazendo para crescê-la, propiciando o florescimento constante do trabalho. A Evangelização Infantil é uma tarefa de rara nobreza, de inigualável valor e preciosa em sua utilidade, muito especial para o momento evolutivo que atravessamos. Os espíritos precisam ser doutrinados com urgência para que se possa semear o bálsamo do entendimento nessa fase extremamente difícil no conserto da humanidade! Tivesse cada um o cuidado e o afinco para com seus compromissos e responsabilidades na seara de Jesus, as dores lancinantes que testemunhamos hoje teriam sido perfeitamente dispensáveis.”

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