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DESIGN AUTORAL
DESTAQUE DÉCOR autoral D E S I G N
Esse é o espaço de valorização do traço autoral determinante para a criação de produtos autênticos e repletos de significados. Reunimos nessa edição peças de designers talentosos do Brasil
“Um throwback há 335 milhões de anos inspira a coleção Pangëa.
O movimento divergente começa a acontecer no período que dá nome
à coleção, fazendo com que as placas tectônicas se afastem umas das outras,
formando fendas e rachaduras na crosta terrestre.
As mesas da coleção Pangëa são geometricamente pensadas
como resultante desse fenômeno.
Únicas, contemporâneas e exclusivamente em rochas brasileiras”.
jefersonbranco
O arquiteto Jeferson Branco apresenta ao mercado a coleção autoral Pangëa e, mais que desenhar e produzir com exclusividade mesas com tampos de pedras ornamentais, o arquiteto quer levantar o debate sobre a causa da exportação majoritária de exemplares de pedras exóticas brasileiras.
Um fenômeno que aconteceu há 335 milhões de anos inspira a coleção de mesas com tampos que trazem na concepção o questionamento sobre a atual agenda de exportação de riquezas naturais do Brasil. Contemporaneidade mesclando passado e um toque de futuro define como atemporais as peças desenvolvidas por Jeferson Branco que serão vendidas por encomenda. “Cada cliente poderá escolher a pedra preferida entre a mineira Red Fire ou a baiana Cocadablú, e então desenho a peça com exclusividade contando com as peculiaridades do desenho único de cada fragmento da rocha”, resume o arquiteto sobre o método de criação dos tampos que são geometricamente pensados como resultante do throwback que dividiu Pangëa nos continentes da Terra.
GAVETA DE SI, OFÍCIO DE SER
A função do mobiliário dentro de um espaço e a relação com o indivíduo são evidenciados em uma série de obras de grandes dimensões e em formatos distintos. “A ideia é subverter o objeto, dando personalidade a ele, ao mesmo tempo em que ele não perde a sua aparência física.”, pontua Francisco Nuk. Gaveta de si, ofício de ser é composta por 150 gavetas penduradas e orientadas por um fio e questiona a utilidade deste elemento ao retirar de dentro de um armário. Francisco cresceu no meio artístico e desde infância tem o estimulo para estudar diferentes manifestações artísticas, passando pelo Barroco ao contemporâneo, expressão produzida pelos pais. A criatividade crítica e o estimulo à produção mesclam a origem e experiências vividas.
A Designer Marta Manente criada entre os parreirais e as fábricas de móveis, carrega no DNA os valores que herdou dos antepassados italianos e a originalidade tipicamente brasileira, histórias que entrelaçam dois mundos, o design e o vinho. Essa essência e experiências sensoriais estão traduzidas na Leaf Collection, que assim como nos parreirais, as folhas das uvas que trazem nas diversas fases durante as quatro estações do ano apresentando mutações de cores, formas, dimensões e texturas estão representadas no projeto do conjunto de mesas de centro da nova coleção da designer. “Troque suas folhas, mas não perca as suas raízes”. Uma proposta que evidencia a composição de materiais e texturas que enaltecem o conforto e bem-estar, as peças são utilizadas separadamente ou em conjuntos criando centros de living com cenários surpreendentes e mutantes. Cada peça tem um detalhe marcante, assim como cada vinho que traz notas sensoriais na elaboração.
francisco.nuk
DO BARRO
INSPIRADA NAS MULHERES FORTES QUE PERPASSAM A VIDA, LENA EMEDIATO CRIA PEÇAS QUE EXALAM A ESSÊNCIA DE UM BRASIL PROFUNDO.
O barro multicolorido do Vale do Jequitinhonha, forjado pela aridez e batido pelas andanças de tropeiros, romeiros, agricultores, artesãos e tantos outros personagens, se mistura às lembranças mais acolhedoras da infância e a influência que as mulheres da família exercem sobre a vida presente. A designer Lena Emediato, à frente do Estúdio Leh, desenvolve o trabalho como quem constrói uma prosa poética, carregada de significados e mensagens nas entrelinhas, um dialeto único, mas ao mesmo tempo de compreensão universal.
A admiração pelas mulheres, o gosto pelo feito à mão e a literatura, as infinitas tessituras despertaram em Lena a vontade genuína de criar peças que exaltam a arte brasileira. Desta forma, a artista trocou a carreira na arquitetura e recomeçou desenvolvendo esculturas para a casa e joias para o corpo. A produção das peças acontece pela exaltação de uma matéria-prima muito especial: esferas de barro moldadas a mão por artesãs do Vale do Jequitinhonha, madeira e pedras.
O processo começa lá no Vale do Jequitinhonha, Minas Gerais, quando o barro é colhido e depois moído. Do pó resultante deste processo, as artesãs moldam e pintam as esferas uma a uma, e após a queima, a matéria viaja para São Paulo, onde ganha um novo significado nas mãos da designer. Com as contas de cerâmica, madeira e cristais, Lena Emediato constrói a narrativa das peças. Todos os elementos que compõem as joias e as esculturas passam por um estudo minucioso até o desenvolvimento final: a cadência do fio que influenciará no equilíbrio e sustentação da peça na parede; a elaboração do estilo da composição; a escolha das cores dos elementos; a seleção do cristal e, por fim, a eleição do suporte ideal que são desenhados por Lena e esculpidos em madeira maciça. Estes elementos possuem cantos arredondados que estimulam o toque e vincos por onde passam os fios de buriti ou linhas de pesca. As pedras são adquiridas de fornecedores nacionais certificados, assim como toda a madeira que é usada nas joias.
à arte
A produção tem objetos escultóricos únicos para paredes e mesas, além de tiragens sazonais de colares para o corpo. Cada peça traz à tona a delicadeza do trabalho da artista, a força do barro, que carrega em si a identidade de um Brasil forjado pelas mãos e pela luta contra a escassez, junto à suavidade ao toque da madeira e as boas energias dos cristais. O desejo da designer, além de trazer beleza e boas energias para a casa através de esculturas e objetos, é valorizar o trabalho das artesãs mineiras por meio de suas peças e trazer visibilidade para o talento das mulheres da região, contribuindo para que elas possam continuar a mudar as próprias vidas através da renda e do reconhecimento da cultura e assim, conseguindo transformar o ofício do barro colorido do Jequitinhonha em poesia repleta de feminilidade, acolhimento e doçura.
Hand made
OBRAS DE ARTE À MODELOS EM ESCALA REAL TRANSFORMAM UMA PAIXÃO EM DECORAÇÃO. AS PEÇAS SOBRE VELOCIDADE DESPERTAM UM NOVO OLHAR PARA O DESIGN EXCLUSIVO E PERSONALIZADO.
Acelerar na criatividade. A emoção das pistas de corrida da Fórmula 1 dentro da casa com as obras de arte dos carros dos melhores pilotos é conquistar o Podium para os amantes da velocidade. A transformação dessa paixão em peças únicas é a essência da Race K Design. Os objetos exclusivos e os modelos em escala real vão além de simples produtos e invadem um espaço de protagonismo na decoração de casas numa proposta de um quadro hiper-realista, compondo também diversos ambientes de personalidades e famosos.
Muito além de um objeto de desejo e uma réplica, as peças criam vínculo histórico e trazem fluidez e modernidade para os ambientes. “A atração do brasileiro por tudo que envolve velocidade é inegável, e peças como essa na decoração são uma tendência atualmente. Os apaixonados facilmente entendem que é perfeitamente natural admirar uma peça assim, é um novo conceito de decoração. Uma poltrona agradável e com design único é o lugar onde o homem moderno quer descansar quando chega em casa”, pontua Kassin Willian Borges Correa, criador da marca. As peças reproduzem a personalidade e validam o conceito das obras de arte.
As réplicas estáticas (“mock-ups”) e uma série de produtos inspirados em modelos clássicos ou de Fórmula 1, como poltronas “Egg” decoradas para lembrar pilotos e equipes do automobilismo, além de Quadros da Fórmula 1 3D, Capacetes 3D recriam o espírito de equipe, memórias e vitórias em formas, cores e alto nível de design. “O sonho de todo homem em ter um carro de fórmula 1 em sua parede é uma realidade”, pontua Willian Borges Correa, fundador da Race K. As peças sobre velocidade remetem aos pilotos trazem paixãoe vitória.
As histórias de superação relacionadas à velocidade e, consequentemente, ao cenário da Fórmula 1 surgem no contexto da produção de peças como Quadros da Fórmula 1 3D, Capacetes 3D, Poltronas personalizadas, Carros escala 1:2 e tamanho real A Race K Design utiliza grafismos detalhados e pintura/verniz automotivo para trazer mais realismo para as obras, além de um delicado processo de polimento. Os produtos são moldados em polímero e compostos plásticos e a base revestida com acabamento em fibra de carbono, garantindo a segurança e um produto vitalício.
O conceito de retratar a evolução e evidenciar a fluidez e modernidade representam a determinação e dinamismo das relações entre pessoas, expectativas e sonhos. “Mais do que obras primorosas de design, e reproduções fiéis com alto índice de acabamento e riqueza em detalhes, as peças trazem conexão direta e percepção com fatores como movimento, dinamismo, força e velocidade”, destaca Kassim. É a representação de um sentimento traduzido em arte e criando força dentro de ambientes residenciais e empresariais.
rosecon.com.br
Home office no quintal
O MOVIMENTO ‘WORK IN NATURE’ CRESCE ENTRE PROFISSIONAIS QUE UTILIZAM MEIOS DIGITAIS E INFLUENCIA MERCADO IMOBILIÁRIO BRASILEIRO.
Num mundo globalizado as pessoas têm buscado lugares mais distantes dos ruídos e estresse de grandes centros urbanos e apostado em construções sustentáveis. Um espaço agradável e com boa infraestrutura para trabalhar em casa são requisitos cada vez mais essenciais nos novos empreendimentos, especialmente com a disseminação do home office. Em 2020, cerca de 8,2 milhões (11%) de pessoas trabalharam remotamente de acordo com estudo da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) Covid-19, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Além do espaço para trabalhar, a busca está na possibilidade de exercer as atividades profissionais próximo à natureza, no quintal de casa ou ainda à beira da piscina. Chamado movimento ‘Work in Nature’ (trabalhe na natureza), esse desejo já provoca um êxodo de grandes cidades e influencia o mercado imobiliário. O CEO da construtora PZ Empreendimentos, Filipe Pitz, reconhecida pelo design biofílico da arquitetura das obras explica a essência desta transformação no mercado de trabalho e os impactos para o setor imobiliário.
Quais são os principais fatores que determinam o movimento “Work in Nature’?
Esse é um movimento internacional e que podemos observar inclusive em outras grandes cidades como Nova Iorque e São Paulo. Há uma valorização do subúrbio e da experiência em jardins, quintais ou ambientes em meio à natureza.
Atualmente, esse movimento é mais observado no topo da pirâmide, em condomínios de luxo no campo ou ainda em imóveis de alto luxo à beira-mar?
Segundo a Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), as vendas de imóveis de médio e alto padrão em 2020 tiveram os melhores resultados desde 2014. Porém, no litoral norte de Santa Catarina, que possui altos índices de valorização imobiliária, especialmente em municípios com grande concentração de pessoas, como é o caso de Balneário Camboriú, Itapema, Itajaí esse movimento também deve se tornar tendência.
Essa é uma vertente explorada na região do litoral norte catarinense?
É o caso de Itajaí, que possui o segundo maior PIB do Estado e já pode ser considerada metropolitana – também pela concentração de pessoas, por ser uma região industrial e portuária e proximidade entre municípios. Nesse caso, e em outras regiões turísticas, por exemplo, que possuem trânsito, vida noturna e oferecem toda infraestrutura de uma cidade grande, muitas pessoas também têm planos de viver em áreas mais rurais ou próximas do mato, de parques e da natureza.
Como atender a demanda de pessoas que prezam por espaço mais confortável, adequado à realidade do home office e próximo à natureza?
Nosso propósito é apresentar um luxo mais acessível, porque a concepção de luxo mudou. Estamos proporcionando experiências, planejando o futuro e questionando valores da sociedade. Vamos propor um novo jeito de morar, com uma experiência completa em termos de contato com a natureza e a conexão com a arte. Será um espaço ligado a um parque privativo com trilhas, hortas, composteira, pista de corrida, ambientes para camping e museus a céu aberto, porém, com toda a infraestrutura, incluindo espaço coworking com dois estúdios de gravação para lives. Um local ideal para pessoas que desejam qualidade de vida, sem abrir mão da sustentabilidade. Além disso, estará próximo às cidades de Balneário Camboriú, cerca de 9 minutos de bicicleta do mar, e de Itajaí.
Quais são os principais elementos que determinam essa proposta sustentável com o maior jardim vertical de Santa Catarina? A ideia é utilizar elementos e processos na obra, como tijolos ecológicos e um design biofílico, arquitetura que prega uma ligação dos seres humanos com a natureza?
Como sabemos, a construção civil é uma das indústrias que mais gera resíduos, cerca de 80 milhões de toneladas/ ano de acordo com o Conselho Brasileiro de Construção Sustentável. Sabemos que ser sustentável não é remediar. Nossa intenção é questionar o consumo em si, projetando áreas que contribuam também para a economia de recursos naturais. Por isso, o desenho das torres aumenta a ventilação, diminuindo a umidade, e possui corredores abertos com sacadas de áreas verdes.
DESTAQUE DÉCOR TRAÇO
A ENERGIA MANUAL DE JANA GARCIA DEDICADA NO PROCESSO DE CRIAÇÃO DEVOLVE O CONTROLE SOBRE O TEMPO E FAZ UM CONTRAPONTO A ESTA ÉPOCA SUPERFICIAL, DE PRESENÇAS EFÊMERAS E RITMOS ACELERADOS.
A tradição e o amor pelos fazeres manuais passados de geração em geração é marca particular do trabalho de Jana Neves Garcia. Nascida em Indaial, no Vale do Itajaí, região com forte colonização alemã, herdou a forma de conexão com as linhas e tintas. Desde criança o universo dos pincéis faz parte da trajetória da artista, que no ateliê de pintura da mãe já sabia que seus caminhos seriam guiados pela arte. Na década de 1990, decidiu aprimorar essa herança e mudou para Curitiba, onde formou-se em Desenho Industrial pela PUC e em Pintura pela Escola de Música e Belas Artes.
A produção artística,de Jana é marcada pelo olhar feminino, fundada em gestos, afetos e memórias familiares e disciplinada tanto pelo design quanto pela aplicação na indústria têxtil. A atuação profissional como designer permitiu que símbolos e outros elementos gráficos fossem aos poucos se associando àquele repertório visual familiar tradicionalmente artesanal e, como resultado, o trabalho artístico com telas e tintas ganhou sofisticação: as pinturas aproximadas do universo têxtil e, com a
morte da avó, toalhas de crochê, aviamentos, retalhos e bordados representativos dessa herança afetiva são incorporados naturalmente às superfícies, dando volume e expressividade inéditos.
Essa tradição ancestral de técnicas comuns a tantas mulheres no decorrer da história foi, curiosamente, imprimindo a marca particular na produção de Jana Neves Garcia. O gestual característico das prendas domésticas é trazido para um contexto contemporâneo, mas também como um resgate da história e da essência pessoal. As pinturas, bordados e trabalhos de técnicas mistas integram acervos particulares e institucionais (como da Assembleia Legislativa de Santa Catarina) e têm sido expostos não só no Brasil (em galerias e salões de Santa Catarina, Paraná e São Paulo), mas também na Hungria, na Holanda e em Portugal, onde são representados por uma galeria.
A precisão do traço vem do design: as linhas são fortes e decididas, mas resolvidas com leveza e simplicidade. Corpo, cabeça ou olhar são materializados com desenho conciso e o mínimo de gestos, todos essenciais à definição da forma, todos característicos de um estilo despojado, mas bastante peculiar, inconfundível à medida que se conhece a obra da artista.
Parte significativa dessa cumplicidade com o público é dada pelo despojamento dos materiais utilizados: linhas e fios de diferentes materiais, rendas, bordados e retalhos estampados, lonas de caminhão e outros tecidos usados servindo como suporte dão a cada trabalho uma aura de inconfundível familiaridade, uma concretude rica em texturas, em apelos visuais atraentes não só ao olhar, mas também ao tato, presença física que sugere proximidade, semelhança, conexão com aquilo que cada um de nós conhece e já viveu.
A impressão não é apenas simbólica, mas real: grande parte dos materiais utilizados provém, de fato, dos resgates e guardados que Jana Garcia mantém das costuras da família, das peças de tecidos que um dia sobraram das roupas, das toalhas e dos revestimentos da casa, de doações e dos resíduos têxteis manipulados, fragmentos de uso e descarte, lembranças de uma vida útil abreviada ou levada às últimas consequências seja como objeto funcional, seja como obra de arte. Os temas mais comuns à arte de Jana emergem com sutileza do emaranhado de linhas, formas e texturas, que são esboçadas nos corpos estilizados que, na maior parte das vezes, remetem à feminilidade, aos signos e gestos da mulher e que, somados aos outros elementos de composição sugerem uma narrativa vaga e fugidia que pedem complemento do sentido do espectador.