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DO LADO DE CÁ

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V A NI CAPELINA O G E POR

Não existe um ambiente neutro, todo e qualquer espaço criado pelo homem ou pela natureza, proporcionará sentimentos e sensações para os ocupantes que vivenciarem este local. A superespecialista em NeuroArquitetura, arquiteta, professora, autora e palestrante Andréa de Paiva, nos apresenta um artigo fascinante sobre esse tema que ganha cada vez mais espaço entre os profissionais da área de arquitetura, designer e engenharia, que almejam criar projetos cada vez mais completos e inovadores.

CONTRIBUIÇÕES DA NEUROARQUITETURA PARA UMA NOVA FORMA DE PROJETAR

Projetar um ambiente é uma tarefa complexa, que envolve uma abordagem multidisciplinar e multissensorial. Para um único projeto, o arquiteto/ designer pode ter que considerar aspectos orçamento, estrutura, topografia, clima local e incidência de luz solar, iluminação interna, layout, mobiliário, acabamentos, entre outros, sempre atendendo ao programa de necessidades discutido com o cliente. Resumidamente, o projeto tem que ser funcional e, ao mesmo tempo, esteticamente agradável. Mas será que isso é tudo?

Gostar ou não gostar de um ambiente é um dos efeitos que ele pode gerar em seus usuários. E, de certa forma, pode-se dizer que é bastante subjetivo. Um mesmo projeto pode ser amado por alguns e odiados por outros. Mas existem outros efeitos que o ambiente pode gerar nos seus usuários. Efeitos bem menos subjetivos e que vêm ganhando cada vez mais destaque nas discussões entre arquitetos, designers e clientes. Tais efeitos são contemplados pela NeuroArquitetura.

A NeuroArquitetura se propõe a discutir e entender de maneira mais completa a relação indivíduo-ambiente. Combinando os insights trazidos por estudos em neurociência, ciência cognitiva e psicologia, a NeuroArquitetura busca um entendimento mais aprofundado dos diferentes impactos que as várias características multissensoriais do espaço podem gerar em seus usuários. Esse entendimento possibilita uma mudança na forma de projetar por parte de arquitetos e designers, que passam a considerar uma perspectiva com foco na experiência humana e embasada em evidências científicas.

Nesse contexto, que outros efeitos o ambiente físico pode gerar naqueles que o ocupam? Para começar, talvez um dos mais significativos seja o efeito gerado pela iluminação do ambiente, que vai muito além do conforto visual. Nosso organismo sincroniza atividades internas com os ciclos de luz e escuridão do ambiente onde está. Logo, tanto a luz natural como a artificial têm o potencial de interferir nos ritmos das nossas atividades internas. Mas o que isso significa na prática? Nosso pico de energia e produtividade durante o dia, assim como a qualidade do sono de noite são influenciados pela luz dos ambientes que ocupamos ao longo do dia. Inclusive, estudos apontam que não é só o excesso de luz no nosso quarto que pode prejudicar a qualidade do sono: a iluminação dos ambientes que ocupamos ao longo do dia também pode. Mais especificamente, existe uma relação importante entre a quantidade de luz natural a que somos expostos durante o dia e a qualidade do sono de noite. Quanto mais luz natural, melhor. Sendo assim, espaços como edifícios corporativos e home offices, por exemplo, têm o potencial de alterar a qualidade do nosso sono, além de interferir na sensação de energia e na produtividade durante o dia.

Os efeitos do maior contato com a luz natural não param por aí. Ela também é importante para estimular a produção de uma substância conhecida como serotonina, que está diretamente relacionada à sensação de bemestar e felicidade. A falta de serotonina, por sua vez, está associada a aumento nos riscos de depressão. Essa é uma das razões pelas quais o número de pessoas com depressão cresce durante o inverno em alguns países com invernos mais rígidos, quando os dias são mais curtos e as pessoas ficam menos tempo em ambientes externos por conta do frio. Pesquisas em escritórios confirmam essa relação, apontando que o número de colaboradores insatisfeitos ou com depressão é maior para aqueles que ocupam baias mais distantes de janelas, ou de outras entradas de luz natural. Será que os diferentes espaços que criamos estão oferecendo às pessoas a quantidade de luz natural adequada para que elas tenham mais qualidade de vida? O layout, a distribuição de usos, o projeto de iluminação artificial, as entradas de luz natural e as oportunidades de ocupar espaços externos são exemplos de alguns elementos do ambiente que podem ser pensados para favorecer o acesso à luz natural.

A iluminação não é a única característica do ambiente com potencial de gerar efeitos de curto e de longo prazo no nosso organismo. Temas como o design biofílico também fazem parte do escopo da NeuroArquitetura. São vários os estudos apontando que a presença de natureza no ambiente pode diminuir a percepção de dor, acelerar a recuperação de pacientes em hospitais, diminuir os níveis de stress e restaurar a cognição. Estudos realizados em escolas e escritórios apontam que ambientes mais naturais podem ser restauradores, melhorando os níveis de atenção, a produtividade e o aprendizado. Além disso, ao diminuir os níveis de stress, tais ambientes afetam os relacionamentos e a saúde daqueles que os ocupam. Colaboradores menos estressados consequentemente colaboram mais. Uma família menos estressada vai se desentender menos. Até mesmo estudos feitos com prisioneiros nos EUA apontam que ter mais contato com a natureza (ou uma simulação dela, como imagens ou vídeos de natureza) diminuem comportamentos agressivos.

Além disso, ambientes que proporcionem uma atmosfera mais próxima da natureza também podem nos afetar positivamente no longo prazo. Isso porque ao estimular maior relaxamento, os níveis de stress crônico diminuem. Estudos apontam que o stress crônico não apenas danifica veias e artérias, elevando os riscos de infarto e AVC, mas também prejudica a saúde do cérebro, fazendo com que este perca células nervosas, ficando menos eficiente e menos resiliente. Soluções como janelas com vista para paisagens naturais, representações da natureza (imagens, pinturas, projeções), plantas, materiais naturais, cores inspiradas em paisagens naturais, formas fortemente presentes na natureza, como os fractais, entre outros, são exemplos de elementos que ajudam a criar uma atmosfera mais natural. Sendo assim, espaços que incorporam essas ou outras aplicações do design biofílico podem ajudar a diminuir os níveis de stress crônico de seus ocupantes e, consequentemente, favorecer seu bem-estar no curto e no longo prazo.

Para cada estímulo do ambiente - como seus sons, cheiros, formas, proporções, iluminação, cores, materiais, entre outros – existem estudos investigando seus efeitos nos usuários. A altura do pé-direito pode afetar a criatividade e atenção; os sons podem afetar os níveis de stress, a imaginação e a atenção; os cheiros podem resgatar memórias afetivas; as cores podem criar atmosferas que afetam nossa percepção daquilo que vivenciamos em cada espaço, entre tantos outros. É muito significativa a interferência que arquitetos, urbanistas e designers têm em nossas vidas ao criar os espaços que ocupamos no nosso dia a dia. Por tudo isso, é importante incorporar a NeuroArquitetura na hora de projetar, dado que ela possibilita decisões mais embasadas e conscientes. Mais do que isso, ela ajuda tais profissionais a terem uma dimensão mais realista do seu papel na sociedade, das suas interferências na nossa performance, nos nossos relacionamentos, nas nossas percepções e, claro, na nossa saúde física e mental.

ANDRÉA DE PAIVA

Arquiteta, professora, autora e palestrante  neuro_au

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