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G I R L P OW E R skateboard

THAINA NASCIMENTO

CONTA SUA TRAJETÓRIA NA FOTOGRAFIA COM SKATE

‘MEU NOME É BAGDA’ FILME É PREMIADO NO FESTIVAL DE BERLIM 2020

ESPORTE DE HOMEM?

COMO É SER MULHER SKATISTA NO BRASIL RUMO À OLIMPÍADA

EDIÇÃO 001- R$9,90 JUNHO DE 2020




SUMÁRIO 8 Batateiras Skate Girl 10 Entrevista com Thaína Nascimento 16 Coluna Respeito é Lei 18 Mulheres Movimentam e renovam as Pistas de Skate 28 Filme “Meu Nome é Bagdá” 32 Esporte de Homem? 30 Infográfico Feminicídio no Brasil

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EDITORIAL

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este momento conturbado de pandemia e quarentena, o melhor que podemos fazer é ficarmos unidos - não fisicamente, é claro - e aproveitar o tempo para conhecer e apoiar mulheres que estão se movimentando para mudar toda uma estrutura. É um pouco dificil pensar em skate em uma fase que a principal recomendação é não sair de casa, mas vamos manter o pensamento positivo que logo tudo isso vai passar e estaremos todos nomavemte invadindo as ruas e pistas da cidade. A CBSK compartilhou as recomendações para a segurança de todos os skatistas e nós da Girl Power Skateboard também deixamos aqui nosso pedido: SE CUIDEM!

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Amigos e amigas da comunidade do skate, a Confederação Brasileira de Skate (CBSk) lista abaixo algumas recomendações importantes em tempos de coronavírus: Isolamento social é a melhor prevenção. Agora não é hora de sair para andar de skate. Quem anda de skate sabe o risco de uma queda. Imagina precisar de um leito hospitalar nesse momento? Principalmente se você tiver mais de 60 anos ou integrar grupos de risco. Por favor, fique em casa! Se você é jovem e saudável, também pode se contaminar e transmitir o vírus para parentes e/ou amigos.

Esperamos que em breve tudo volte ao normal. Estamos juntos!

Todos devem ter a responsabilidade em colaborar para a menor disseminação da COVID-19. Redobre os cuidados de higiene ao sair às ruas, caso realmente precise sair de casa! Evite levar as mãos ao rosto. Elas são nosso principal veículo de contaminação. Evite beijos, abraços e apertos de mão. Nossa IRMANDADE está para além do contato físico.

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Publicada em: 20/03/2020 www.cbsk.com.br



COLUNA DE TAYNARA GOMES

BATATEIRAS SKATE GIRL

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riado em 2018 a partir do projeto Girl Skate Night da Vans, o Batateiras é um coletivo de garotas que tem como principal objetivo o empoderamento e a união de mulheres através do skate, juntas a quase dois anos elas organizam encontros e eventos, entre campeonatos, best tricks e rodas de conversas para skatistas de todas as idades e níveis. O projeto da Vans oferece aulas gratuitas de skate toda segunda-feira no Dabatata Skate House no Largo da Batata, as aulas contam com a orientação de duas professoras, Caren Bueno e Di Sousa e também com o empréstimo de skates e equipamentos de segurança para as alunas. Para participar das aulas é apenas necessário fazer uma inscrição e ter vontade de subir em um skate. O encontro semanal no Dabatata despertou em algumas garotas o interesse de fazer mais roles juntas e em outros locais, em um grupo de WhatsApp (que hoje conta com mais de 200 participantes) começaram a marcar de irem juntas para picos e pistas espalhadas por São Paulo. E assim nasceu o Batateiras Skate Girl. O esporte que sempre foi majoritariamente masculino tem sentido a força das mulheres dominando os espaços (que sempre foi delas por sinal), isso se deve muito aos coletivos que tem se formado pelo país todo, a união das garotas tem movido montanhas. Mas mesmo com toda movimentação feminina podemos enxergar claramente o machismo na cena, são muitos os campeonatos e best tricks que a premiação feminina é bem inferior que a masculina, isso quando se abre espaço para categoria. Essas questões de gênero deixam bem claro a importância de todos os coletivos femininos. O que me chama mais a atenção nas batateiras é o senso de união e incentivo que elas têm umas com as outras, não importa se você está subindo em um skate pela primeira vez ou tem anos de experiência, elas vão te dar a mão se precisar, vão vibrar junto com cada conquista que você tiver, independente se for conseguir remar sozinha ou mandar uma manobra super difícil, toda evolução por menor e mais simples que seja é uma evolução digna de comemoração.

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ISSO É BATATEIRAS! 9


FOTÓGRAFA DA CENA Thainá Nascimento é a fotografa por trás do projeto NAS, desde de 2018 ela vem unindo as paixões por skate e fotografia que tem resultado em um trabalho incrível de mídia de divulgação do role feminino. Batemos um breve papo com a Thai pra saber um pouco dessa trajetória. Quando você começou a fotografar e de onde surgiu o interesse por fotografia? Comecei a fotografar em 2009, quando decidir fazer um curso de fotografia no ABRA (Academia Brasileira de Artes), daí meu interesse por fotografia só foi aumentando, em 2011 fiz faculdade de fotografia, e comecei a me envolver com foto publicitária. Tive uma pausa de 4 anos, e pelo skate voltei a fotografar.

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Porque skate e qual a sua relação com o esporte? Sempre gostei do lifestyle do skate, e em 2018 tive a oportunidade de aprender a andar (pelo projeto Girls Skate Night). E pelo apoio das minhas amigas voltei a fotografar, desde aí nunca mais parei. Criei o projeto Nas Skate, onde posto meus registros/arte de mulheres andando de skate, independente do nível. São 2 anos de projeto e ainda pra mim é um aprendizado, a cada sessão que faço.


Quais as suas principais referências? Para finalizar, qual sua visão sobre o skaAllan Carvalho, Anthony Acosta, Tauana te feminino? O que você acha que falta na Sofia e o projeto Pattí. cena e qual seu ponto forte? É um cena que ta crescendo muito, porém, O role de qual skatista (mina) você mais não temos o espaço que merecemos aincurte e porquê? da. A luta é diária, e eu acho que ainda preDifícil, mas escolho Maité Steenhoudt. O cisamos fazer muito barulho para ganhar role dela é o mais louco de todos, as ma- espaço. O que se torna mais rico, é ver as nobras são únicas, a personalidade dela é minas apoiando umas as outras, e isso da forte e única, fora que ela é um amor de um gás para continuar com o projeto. pessoa. Qual campeonato ou role você mais curtiu fotografar e quais experiência ele te trouxe? Sem dúvidas, foi Vans Park Series 2018, em São Paulo, tive oportunidade de fotografar esse evento mesmo com a credencial negada (quem tem amigo, tem tudo). Foram 5 dias, 3 dias de treino e 2 de campeonato, e claro, só registrei a categoria feminina, como não tinha nenhum compromisso com cliente, os registos foram livres, e a resposta disso foi ter um reconhecimento com a minha arte. Como a transmissão era pela Thrasher Magazine, o Tony Hawk foi um dos convidados para apresentar o campeonato, ele resolveu aparecer no treino feminino, e deu 3 voltas na pista. Numa dessas voltas, fiz só 2 registros dele, de tão nervosa que fiquei. Postei no meu perfil pessoal, e no mesmo dia recebi uma notificação dele, repostando a foto que fiz. Pra quem acompanha o trabalho dele, sabe que é muito difícil o Tony fazer isso. Foi um dos momentos mais importante da minha vida, pra mim naquele momento tinha zerado o jogo. Além de fotografar você também anda de skate? Sim, eu tento na real (risos). Já quebrei clavícula, posso dizer que ando de skate então.

“Skate acolhe, ensina, faz cair e ao mesmo tempo te da força para levantar e seguir em frente, sempre remando. ”

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APOSTA ALTA

Luiza Yoshida 12


Eduarda Costa 13


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COLUNA DE DANIELA ANGELO

“Respeito é lei, eu sei, também sempre respeitei aqui Brooklin meu lugar, enfim...” O refrão é de Mauro Mateus dos Santos, mais conhecido como Sabotage e se encaixa perfeitamente com a essência do skate, não é mesmo?! Tem quem prefira o bom e velho Rock ’n’ Roll para fazer seu role, eu particularmente já prefiro o rap. E ouvindo minha playlist de rap que fui para última sessão de skate antes da quarentena por conta do Covid-19 começar.

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15/03/2020 Local: ASRP (Prafinha) Fotรณgrafa: Tuca Gomes Nas fotos: Rafaela, Giovana, Daniela e Priscila.

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Mulheres movimentam e renovam as pistas de skate Elas se reúnem em coletivos femininos, se divertem andando juntas pela cidade e, de quebra, desafiam os limites do esporte. Conheça as meninas que estão movimentando as pistas do país.

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azia alguns anos que a fotógrafa paulista Luciana Barreto, 21, não subia em um skate e ganhava as ruas. Quando era adolescente, costumava andar com uma amiga em São Caetano do Sul, onde nasceu, mas com o tempo ficou sem companhia e deixou de praticar. Ano passado, com a mudança para São Paulo, no primeiro rolê que deu com as novas amigas, falou: “Como pude parar com o skate? Todas as meninas têm essa mesma sensação quando voltam a andar”, conta ela. Luciana encontrou sua turma quando conheceu as integrantes do Britney’s Crew, coletivo de skate feminino criado há

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três anos no Rio de Janeiro, mas que reúne mulheres do Brasil inteiro. Só o grupo de WhatsApp tem cerca de 200 skatistas, que combinam os rolês e eventos pelo aplicativo. Quem mora na capital paulista geralmente se encontra no centro da cidade, mas não há regras. “Podemos ir à praça Roosevelt, ao Theatro Municipal, à Chácara do Jockey, a pistas como a da Mooca”, diz a baiana Dandara Novato, 30. Radicada em São Paulo, ajudou Airine Benetti a promover o coletivo Batateiras, que se originou em 2018 depois que a marca Vans promoveu o Girls Skate Night, clínica que, desde então, acontece toda segunda-


-feira no Largo da Batata. “A gente se vê todos os dias”, conta a estudante de psicologia Giulia Del Bel, 24, sobre as meninas convidadas para o ensaio de Marie Claire. Vão juntas para as sessões (nome que dão aos rolês) e frequentemente terminam a noite na Void, misto de loja e bar na região central que é point de skatistas, em alguma festa ou evento promovido por marcas, como a Bolovo. É comum também se reunirem na casa de uma delas para cozinhar juntas (pratos vegetarianos ou veganos), ouvir música, dançar, deixar a vida passar – recentemente, assistiram a Homecoming, o documentário da Beyoncé na Netflix. O estilo de vida que levam se reflete nas roupas que vestem. A maioria vai a brechós e compartilha sempre que descobre um lugar novo. “Gosto da moda que se recicla, levanto a bandeira do consumo sustentável. Não compro nada em loja, as marcas é que acabam mandando algumas peças”, diz Giulia. A skatista gaúcha Grazi Oliveira, 30, conta que sempre priorizou conforto ao estilo. “Prefiro usar alfaiataria para andar. Encontro calças legais em brechó ou sob medida. Não uso nenhuma marca específica, faço uma mescla.” Dandara Novato opta pela combinação de cores “porque deixa o rolê mais vivo”. “O skate é uma forma de expressão nas cidades, as roupas são bem características e externamos isso”, diz ela.

Nos últimos anos, o streetwear ganhou lugar cativo no universo da moda. Três anos atrás, a marca Miu Miu ligou seu nome ao skate feminino por meio do projeto Women’s Tales, de curtas-metragens dirigidos só por mulheres. A diretora norte-americana Crystal Moselle produziu That One Day, inspirado no coletivo nova-iorquino Skate Kitchen, e foi tão bem recebido que o projeto virou seu primeiro longa de ficção, Skate Kitchen, sobre as dificuldades e sonhos de uma garota sobre rodas, lançado no ano passado nos festivais de cinema no Brasil e no mundo. Fora das telas, a tendência streetwear, desde os anos 1990 tida quase como underground, conquistou o mundo fashion com hits como Off-White, de Virgil Abloh, Stussy e Supreme, hoje todas marcas-desejo que movimentam bilhões de dólares e têm seus itens disputados a

“Gosto da moda que se recicla, levanto a bandeira do consumo sustentável. Não compro nada em loja, as marcas é que acabam mandando algumas peças” 19


cada novo lançamento. Depois de ter seu lugar consolidado na moda, há três anos a cultura street alcançou um patamar nunca antes imaginado. Em 2016, o Comitê Olímpico Internacional anunciou a estreia do skate nos Jogos Olímpicos de Tóquio, que acontece em 2020 – serão duas modalidades, park e street. De acordo com uma pesquisa do Datafolha feita entre 2009 e 2015, subiu de 10% para 19% o número de mulheres skatistas no Brasil. Há cerca de 1,6 milhão em um total de 8,5 milhão. Embora o número de praticantes tenha crescido no país – há também outros coletivos, como o Minas no Skate, de Belo Horizonte, Dendê Crew, em Salvador, e Girls Skate Power, em Porto Alegre –, as mulheres ainda encontram barreiras para se profissionalizar, conseguir patrocínio

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ou simplesmente andar sem serem incomodadas. No dia deste ensaio, na pista do Mooca Skate Park, clube municipal na zona leste, mais de dez meninos reivindicavam o uso do local, reservado por algumas horas para as fotos. Mesmo depois de liberar um espaço para eles, deixaram suas manobras de lado e formaram um paredão para olhar – e intimidar – as meninas. “Para que precisam da pista se não sabem andar?”, ouvimos de um deles. Há 15 anos testemunhando a pouca visibilidade das mulheres, a jornalista Grazi Oliveira criou o canal de YouTube Go Channel. “Não ter espaço na mídia foi o que me moveu a fazer uma plataforma com foco no skate feminino. Isso nos uniu. A menina também quer viver do skate”, enfatiza a gaúcha que vive em São Paulo. “Sem-


pre fomos diminuídas por estarmos em um espaço masculino. Agora, ninguém vai nos parar mais”, diz. Em 2016, vendo que a cena do skate estava parada no Rio de Janeiro, a carioca Thayná Gonçalves, 23, começou a postar os vídeos das sessões que fazia com a amiga capixaba Rayane Oliveira, 22. Conforme promoviam eventos e campeonatos, atraíam cada vez mais meninas e, assim, fundaram o Britney’s Crew. “É inacreditável como o coletivo conectou tanta gente. Tem outra energia andar entre meninas, nos entendemos”, diz Thayná, que sempre vem a São Paulo encontrar as amigas e batalhar por espaço no meio. Estudante de biologia, ela trancou a faculdade para se dedicar ao coletivo. “Skate é lifestyle, uma válvula para trazer coisas boas. Em cima do skate me sinto livre, forte, mais empoderada”, finaliza.

CAROL SGANZERLA 20 MAI 2019

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COLUNA DE TAYNARA GOMES

PAIXÃO EM COMUM

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las são de bairros bem distantes uns dos outros, tem rotinas, profissões e um estilo de vida que não se cruzam, exeto pelo fato de terem a mesma paixão. Foi através do skate que mulheres completamente diferentes encontraram algo em comum e se tornaram amigas.

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Nome: Rafaela de Lima Souza Idade: 21 anos Profissão/Graduação: Cursando Arquitetura e Urbanismo Bairro/Cidade: Capão Redondo - São Paulo. Tempo de skate: 1 ano, comecei junto com o projeto da Vans no Dabatata. Por qual motivo começou e continuou a andar de skate? Uma amiga me contou sobre o projeto e como sempre tive vontade de aprender a andar foi conhecer. As meninas me motivaram muito e continuam fazendo isso, sensação de união e liberdade é simplesmente incrível.

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Nome: Jéssica Vieira Haro Idade: 28 anos Profissão/Graduação: Cirurgiã Dentista Bairro/Cidade: Osasco Tempo de skate: Com 13 anos eu já estava andando de skate mas não posso dizer que ando há 15 anos, porque de lá pra cá teve longos intervalos sem andar de skate, principalmente durante a faculdade. Mas em junho de 2018 eu voltei a andar e não parei mais. Por qual motivo começou e continuou a andar de skate? Comecei por diversão e continuo pelo mesmo motivo. Me sinto muito feliz andando de skate. Skate é para sempre!

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Carolina Paris Uehara Idade: 22 anos Profissão/Graduação: Jornalista Bairro/Cidade: Aricanduva - SP Tempo de skate: Pra valer mesmo faz 1 ano, mas já sabia andar desde os 15. Por qual motivo começou e continuou a andar de skate? Comecei a andar de skate por uma questão de superação, queria me desafiar, sentir adrenalina. Então subi no skate do meu irmão, um esporte mais acessível financeiramente. Mas só comecei a me motivar mesmo anos depois, quando conheci mulheres que também vivem desse lifestyle.

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Filme brasileiro ‘Meu nome É Bagdá’ é premiado no Festival de Berlim Longa recebeu prêmio do júri na mostra Generation; Brasil ainda concorre ao Urso de Ouro.

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filme “Meu Nome É Bagdá” ganhou nesta sexta-feira (28) o prêmio do júri de melhor longa na mostra Generation, dedicada a obras que retratam a juventude, do Festival de Cinema de Berlim, a Berlinale. Dirigido por Caru Alves de Souza, o filme retrata o cotidiano da jovem skatista Bagdá, interpretada por Grace Orsato, na cidade de São Paulo. O júri afirmou que foi unânime na escolha do vencedor. Ao argumentar a decisão, o júri disse ser impossível “não ser conquistado pela protagonista e sua comunidade e, da mesma maneira, era impossível esquecer o auge glorioso e poderoso deste filme”. “É uma prova de que a vida pode não nos proporcionar milagres, mas podemos superar todos os obstáculos se seguirmos nossa paixão”, acrescentou. De acordo com a diretora do longa, “Meu Nome É Bagdá” “é um filme sobre solidariedade entre mulheres e sobre as dificuldades que elas enfrentam no dia a dia”. Inspirada no livro “Bagdá — O Skatista”, de Toni Brandão, o filme não conquistou somente o júri em Berlim. Em sua estreia no festival, o longa arrancou longos aplausos da plateia. Esse foi o primeiro prêmio brasileiro na atual edição da Berlinale. O Brasil disputa ainda o Urso de Ouro com “Todos os Mortos”, de Caetano Gotardo e Marco Dutra. Coprodução entre Brasil e França, o longa discute a herança da escravidão na virada do século 19.

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Nesta edição, o Brasil veio forte também na mostra Panorama, a segunda mais importante do festival, representado pelos filmes “Cidade Pássaro”, de Matias Mariani; “Nardjes A.”, de Karim Aïnouz; “O Reflexo do Lago”, de Fernando Segtowick; e “Vento Seco”, de Daniel Nolasco. Participou ainda da mostra a coprodução entre Brasil, Argentina e Suíça “Un Crimen Común”, dirigida pelo argentino Francisco Márquez. Na mostra Generation, além de “Meu Nome É Bagdá”, o Brasil esteve presente com “Rã”, de Ana Flavia Cavalcanti e Julia Zakia; “Alice Júnior”, de Gil Baroni; e “Irmã”, de Luciana Mazeto e Vínicius Lopes. Também participou na seção Fórum, mais experimental, com dois títulos. Neste ano, um brasileiro também foi escolhido para fazer parte do júri internacional do festival. O cineasta pernambucano Kleber Mendonça Filho, autor de filmes aclamados pela crítica como “Aquarius” (2016) e “Bacurau” (2019), faz parte da equipe presidida pelo ator britânico Jeremy Irons. Além de Mendonça Filho, compõem o grupo a diretora palestina Annemarie Jacir, a atriz argentina Bérénice Bejo, a produtora alemã Bettina Brokemper, o cineasta americano Kenneth Lonergan e o ator italiano Luca Marinelli.

28.fev.2020 www1.folha.uol.com.br


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ESPORTE DE HOMEM? COMO É SER MULHER SKATISTA NO BRASIL RUMO À OLIMPÍADA

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344 dias da estreia do skate como modalidade olímpica nos Jogos de Tóquio-2020, a seleção brasileira feminina vive grande fase, com representantes entre as melhores colocadas no ranking da World Skate, a federação internacional responsável. Nos últimos anos, o esporte deixou de ser visto como algo apenas para homens, ganhou mais regras para se encaixar nas Olimpíadas e tem cada vez mais visibilidade. Em julho, Rayssa Leal, conhecida como “Fadinha”, fez história ao se tornar a mais jovem skatista do mundo a conquistar uma etapa da Street League Skateboarding, o Mundial de skate street. Com 11 anos, a maranhense conseguiu levantar o troféu em sua terceira participação no maior

campeonato da modalidade, que conta pontos na disputa para a vaga olímpica Em entrevista para o UOL Esporte, ela contou: “No momento, sou a segunda do ranking olímpico, mas ainda tem muita coisa para acontecer. Espero me manter em uma boa colocação até fechar a segunda janela”. Apesar da pouca idade, Rayssa já consegue ver avanços para as mulheres na modalidade, tanto com patrocinadores como nos campeonatos do esporte. “Hoje as marcas já apoiam as meninas, têm projetos. A maior liga de skate abriu as portas para o feminino, vários eventos igualaram a premiação do feminino ao masculino. Então, está melhorando a cada dia”. Vinda de uma geração que não mais

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distingue gêneros para subir em um skate, a garota não teve apoio de todos quando começou. “Tirando meu pai e minha mãe, o resto da minha família era totalmente contra eu andar de skate. Acho, que agora todos estão felizes”. Nos Jogos do Japão do ano que vem, o Brasil poderá contar com até 12 skatistas, sendo três no street feminino, três no masculino, três no park feminino e mais três na no masculino. A classificação, no entanto, depende do desempenho ao longo das duas janelas classificatórias. A primeira começou em 1º de janeiro deste ano e vai até o dia 15 de setembro, e o segundo ciclo tem início em 16 de setembro e vai até 31 de maio de 2020. Os 20 primeiros de cada categoria garantem a vaga. Terceira brasileira mais bem colocação no ranking na modalidade Park, a paulistana Dora Varella, de 18 anos, vê com bons olhos a evolução desde a oficialização do esporte como olímpico. “Estamos tendo

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muito mais suporte, seja financeiro, com equipamentos e com mais pistas de skate. As marcas estão apoiando mais o esporte, e a visibilidade está cada vez maior”. Além das oportunidades profissionais, a parte social do skate também tem evoluído para mulheres na visão de Dora. “Quando comecei, era muito raro encontrar meninas nas pistas. Sempre andei com os homens e nunca me importei. Aos poucos, esse cenário foi mudando, e hoje vemos meninas andando por todos os lugares. Quando você gosta de estar em cima do skate, não há diferença de raça, gênero ou idade que te impeça de se divertir”. Competidora da categoria street, Virgínia Fortes Águas, de 13 anos, já começou inserida em um ambiente com outra mentalidade. “Eu sou muito nova e não percebi essa mudança, mas eu converso com as mulheres que andam há mais tempo, e todas me falam que sofreram na pele. Vejo que tudo está mudando. Hoje,


o skate está se desenvolvendo bastante, e vejo que a maioria das pessoas vê uma menina andando e acha legal”. Em setembro, a cidade de São Paulo será sede do Mundial de Park, que acontece entre os dias 10 e 15, e do Mundial de Street, entre os dias 18 e 22. Os eventos são os que mais contam pontos na disputa para os Jogos de Tóquio. Além de Rayssa e Virgínia, outra novata no esporte é Isadora Pacheco, de 14 anos, que também compete pela categoria Park. “Acho que tenho boas chances de ir, embora o nível das meninas esteja muito alto. Me considero nova, estamos nos adaptando a esse novo cenário do skate como esporte olímpico, então sei que vou fazer meu melhor para estar lá. Caso algo não saia como planejado, terei outras chances”. A catarinense também falou sobre as mudanças que o skate passou: “Eu sou de uma geração que já chegou com a mudança acontecendo muito lentamen-

te. No início, nossas representantes no Brasil tiveram que enfrentar muitos obstáculos; andavam e competiam com os meninos por não ter meninas suficientes, e muitas vezes não eram bem-vindas nos rolês. Quando eu comecei, foi com uma molecada que já estava inserida nas competições; fazíamos aulinhas juntos, e os meninos me incentivavam e me inspiravam para aprender manobras”. Ainda assim, ela contou: “Já vivi situação em que uma menina comentou que eu praticava esporte de menino, mas a liberdade de andar de skate e sentir o vento no rosto, conhecer várias pessoas pelo mundo, culturas diferentes, andar com meus ídolos, tudo isso supera qualquer forma de preconceito”.

14/08/2019 Debora Luvizotto Do UOL, em São Paulo


COLUNA DE DANIELA ANGELO

SESSÃO DAS MINAS

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encontro aos finais de semana das skatista tem local certo, é na CavePool. Todo sábado a pista localizada no Butatã/SP fica liberada durante a tarde inteira para elas fazerem seu role. O projeto que visa incentivar o skate feminino acontece a um pouco mais de um ano e conta com a presença de mulheres de todas as idades e regiões de São Paulo.

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EXPEDIENTE

EDUARDO JR EDITOR

TAYNARA GOMES COLUNISTA

GABRIEL BAPTISTA DIRETOR DE ARTE

DANIELA ANGELO COLUNISTA

CAMILA BORGES

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SKATE FEMININO É UNIÃO

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