out/2014
OFICINA DE DECORAÇÃO AUTÔNOMA Faça Você Mesmo é o termo em português da expressão Do Ir Yourself, DIY ou FVM são também os projetos que, contra tudo e todos e sem grandes apoios financeiros, subsistem chegando a ter sucesso e alcançar seus objetivos. Este principio nos dias de hoje nos chega a partir do espirito autonomista e anarquista surgido na cena underground das bandas punks inglesas nos anos 70 e 80, apesar de muito injustamente ignorarmos as grandes experiências dos povos quilombolas e indígenas, bem como de comunidades camponesas e moradores de palafitas que sempre se viraram e buscaram qualidade de vida a partir
de seus
protagonismos. A grande diferença do FVM enquanto principio político é que sua atitude está diretamente ligada a uma crítica anticapitalista. Uma ética que questiona o suposto monopólio das técnicas, dominadas por especialistas, e estimula a capacidade de pessoas, não-especializadas a aprenderem a realizar coisas além do que tradicionalmente se julgam capazes igual a Bricolagem: conceito surgido nos Estados Unidos, na década de 1950, no pós II Guerra Mundial, devido ao encarecimento da mão de obra.
Origens Na década de 1900 existiu um movimento inglês chamado, Arts and Crafts: Movimento, que procurava reconectar as pessoas com atividades artesanais, como uma reação contra a crescente industrialização da Grã Bretanha vitoriana, acreditando na importância e no prazer de trabalhar. Assim, buscava-se uma reação contra os estilos que foram desenvolvidos pela máquina de produção, menosprezando a qualidade dos materiais utilizados. Dizia-se então que as máquinas foram responsáveis por muitos males sociais
No período de austeridade do pós-guerra na Grã-Bretanha. A recessão econômica e o desastre pós guerra, fez o povo ter que se virar para reorganizar a vida (como sempre foi desde a história da humanidade) a ideia de reconstrução traz consigo a possibilidade de acampar algo novo, questionar o que não deu certo e até mesmo atualizar o que já está consolidado. Pois bem, neste momento, a criatividade, a juventude e as novas músicas estavam começando a se combinar-se em uma espécie de revolução. Segundo o professor da Universidade de Salford, Georges McKay a música skiffle - uma espécie de mix de jazz popular/folk/blues fácil de tocar - foi um exemplo real dos primórdios da cultura musical do DIY, por causa dos instrumentos que as bandas de skiffle tocavam. Eram todos feitos por eles mesmos usando materiais da vida doméstica diária. A tábua de lavar e alguns dedais foram usados para percussão, uma caixa grande de madeira fina e um cabo de vassoura faziam um contrabaixo. Então você só precisava de uma guitarra barata, um par de acordes e muita atitude, e tinha um tipo de banda rock'n'roll caseira! Já 1976, existia uma geração sem privilégios, jovem demais para ser hippie, velha o bastante para querer seu próprio tumulto. Isso é produto do fato de que o punk no Reino Unido foi talvez mais bem-sucedido como um fenômeno de mídia e agitação social, afinal estas pessoas começaram a criar suas próprias artes, roupas, discos, sistema de distribuição e suas próprias publicações (revistinhas xerocadas chamadas fanzines) A principal razão para a explosão do punk foi o tédio. A ideia de fazer você mesmo aliada a um ponto de vista contestador, questionando a história, revindicando o vigor e pulsar da juventude e tendo como referência vários movimentos artísticos e políticos não só deixou sua marca na história cultural do século XX como influenciou toda uma sociedade de informação. Segundo o sociólogo Andre Lemos, a herança punk criou a microinformática nos anos 1970, o movimento de ficão ciberpunk nos anos 1980 e a atual geração de hackers, crackers, coders e geeks.
Brasil Quando bandas punk começaram em São Paulo/ABC, com bandas como Olho Seco, Cólera, Ratos de Porão etc, não havia literalmente nenhuma outra saída para quem queria fazer música punk, divulgar seus Lps, tocar em casas de espetáculo senão fosse feito por conta própria. Não havia como fazer o jornalismo cultural da época dar a devida atenção à cena punk. Por isso tudo teve de ser feito com fazines e shows organizados e custeados pelos próprios punks, na rua se fosse preciso. Em segundo lugar, a postura do `Faça Você
Mesmo` dá força ao movimento, pois quando você tira a bunda da cadeira e começa a fazer as coisas por sua própria conta, você percebe que não há nenhuma `fórmula mágica` para fazer o que as gravadoras, as revistas, os estilistas e os músicos fazem. Basta criar coragem e fazê-lo. Obviamente, esta postura acabou influênciando pessoas para além do movimento punk. No Brasil e em vários países da América Latina, o movimento autonomista está na produção de cervejas, comidas, publicações, mídia alternativa, construção de uma educação que esteja além desta propícia a aperfeiçoar o capitalismo, medicina com coisas sobre saúde da mulher, bem estar, fitoterapia, construção e outros tantos campos. Durante a ditadura a Empresa Brasileira de Extenção Rural, realizou para fins militares, uma grande pesquisa país a fora catalogando as mais diversas criações tecnológicas de comunidades ribeirinhas, quilombolas e indígenas, neste material, ainda não tão acessível, é possível encontrar desde técnicas de construção até receitas, e certificar que por todos os empreendimentos vistos nestes fascículos a possibilidade de viver com energia e alimentos, com boa condição de saúde, lazer e moradia não associada à escravidão da vida urbana cotidiana, não é algo nada utópico.
FVM Liberal: assimilação capitalista da autonomia Hoje o FVM é uma espécie de versão consumista da visão que se tem sobre os anos 1960 ou 1970, porém se algumas gerações mais novas são capazes de recorrer a aspectos mais radicais dessas décadas, abordando ao mesmo tempo as suas próprias questões urgentes com criatividade e energia, isto representaria um avanço para o questionalmento capitalista atual. Podemos ver que os chamados "hipsters" de hoje têm uma queda por fazer suas próprias coisas, pois a originalidade e unicidade tem um grande valor de mercado. A estética FVM é atraente e o sucesso dos grupos por fora da grande rede corporativa capitalista agregou valor para que ela fosse reconhecida como descolada e assim, o capitalismo pode fazer disso rentável, para que não gere questionamentos a sua estrutura mas sim crie novas demandas de mercado. Você não tem que ser um situacionista para reconhecer que a mercantilização da rebeldia e atitude vende. É o que o The Clash cantou, em 1977: "Huh, you think it’s funny / turning rebellion into Money" ("Huh, você acha que é engraçado / transformar rebeldia em dinheiro") Isso tem a ver, em parte, com uma reação contra a cultura de massa, a mídia do espetáculo e das celebridades e a disseminação do consumo tecnológico. O FVM tem a ver com a cooperação, autonomia, anticonsumo e compartilhamento de conhecimentos e não a exploração ou a cultura de lucro, que se baseia em princípios contrários do que exemplificamos acima.
Podemos ver que os chamados "hipsters" de hoje têm uma queda por fazer suas próprias coisas, pois a originalidade e unicidade tem um grande valor de mercado. A estética FVM é atraente e o sucesso dos grupos que venceram por fora da grande rede corporativa capitalista agregou valor para que ela fosse reconhecida como descolada e assim, o capitalismo pode fazer disso rentável, para que não gere questionamentos a sua estrutura mas sim crie novas demandas de mercado. Você não tem que ser um situacionista para reconhecer que a mercantilização da rebeldia e atitude vende. É o que o The Clash cantou, em 1977: "Huh, you think it’s funny / turning rebellion into Money" ("Huh, você acha que é engraçado / transformar rebeldia em dinheiro") Isso tem a ver, em parte, com uma reação contra a cultura de massa, a mídia do espetáculo e das celebridades e a disseminação do consumo tecnológico. O FVM tem a ver com a cooperação, autonomia, anticonsumo e compartilhamento de conhecimentos e não a exploração ou a cultura de lucro, que se baseia em princípios contrários do que exemplificamos acima.
COLETIVA VEGETARIANA ARTESANAL
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